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Bastidores de eventos: é nosso dever convidar palestrantes mulheres

Peço empatia ao ler este texto – seja dos homens, das mulheres ou de como a pessoa prefere ser “definida”. A questão de igualdade de gênero é uma bandeira que levanto virtualmente desde 2008, quando criei meu blog “Xis-xis”. O nome dele não foi mera coincidência. Pensei mesmo em ressaltar que os textos eram de uma pessoa com cromossomos femininos que admira, rá, a ciência.

Sempre tentei abordar a questão, ao menos no blog, de maneira brincalhona, sarcástica e, ao mesmo tempo, leve. Infelizmente, nem todos entendiam os tons de brincadeira – mas o de provocação, sim – e, por isso, já sofri alguns xingamentos por e-mail.

Faz parte. Hoje, evito o sarcasmo e a ironia, tenho me inspirado na comunicação não violenta e ambos podem gerar ruídos, só que mesmo sendo mulher preciso me policiar durante o meu trabalho. Como, por exemplo, quando organizo os eventos via Iniciativa Verde, ONG na qual trabalho que busca a mitigação do aquecimento global e o aumento da qualidade de vida da população em geral com a recuperação de matas nativas.

Semana passada, realizamos por meio do Observatório do Código Florestal e do movimento Mais Floresta PRA São Paulo o evento “Código Florestal em São Paulo: impasses e oportunidades”, que debateu como está a regularização da lei no estado em questão no mês em que ela completou cinco anos. É o terceiro ano em que organizamos este evento em si – sem contar outros. E, todo ano, a todo evento na verdade, a conversa se repete: quais serão as representações femininas nas mesas? Logo nós, organização do terceiro setor, área marcada pela iniciativa feminina.

Infelizmente, em pleno século XXI, pós fins do mundo (só eu passei por uns quatro alertas de fim de mundo durante a minha vida), temos que pensar em termos representações femininas na programação dos eventos.

Claro que temos outras questões a resolver nos eventos Brasil afora como contar com a representação afrodescendente, a indígena, a homossexual… Mas, por enquanto, levanto a bandeira que consigo. E, mesmo assim, não deixa de ser uma contenda. Como pode a área ambiental do terceiro setor não ter representantes femininas que falem com propriedade? É claro que temos. Temos excelentes jornalistas que cobrem meio ambiente. Excelentes gestoras de organizações. Excelentes pesquisadoras. Excelentes profissionais com cargos públicos. Empresárias do agronegócio. Proprietárias rurais. Eu poderia listar aqui inúmeros nomes. Nem melhor e nem pior que os homens. Apenas profissionais tão qualificadas quanto. Para saber quem são algumas delas, sugiro checar os eventos que organizamos.

Mas ter que “lembrar” de chamar mulheres para as mesas não seria um problema?

Tenho uma amiga jornalista que, a partir deste ano, só media debates em que tenha ao menos uma mulher palestrando. E, durante o evento da semana passada, uma das convidadas a falar me contou que também se vigia a chamar mulheres para ministrar palestras nos eventos que coordena. Nós mesmas temos que nos lembrar de darmos voz a nós (repito). E isto não é “tirar a vaga” de um homem ou outro representante. É uma maneira de deixar as discussões com uma visão mais ampla de uma “minoria” – que, na verdade, é a maioria da população. E, acima de tudo, de dar chance para nós compartilharmos o nosso conhecimento que também é ótimo. Afinal, somos frequentemente desclassificadas apenas por sermos mulheres. Acredite nisto que acabei de escrever. Parece mentira, espero um dia ser.

Hoje, nos fiscalizamos para chamar as mulheres à frente. Espero que um dia isto seja completamente natural e que estas adequações façam com que mais mulheres tenham a oportunidade de compartilhar o seu conhecimento. E que essa ação incentive mais mulheres a alcançarem essa excelência. Além disso, se nós, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estudamos mais, não seria natural ocuparmos essas cadeiras? Se nós somos mais empreendedoras, idem. Deixo, neste texto, essa questão para refletir.

E que essas pequenas ações sejam a mudança que nós queremos ver no mundo.

De oportunidades ao menos semelhantes para todas (os).

Grávida: você já ouviu falar sobre fisioterapia para o períneo?

Olá! Faz tempo que não apareço por aqui. Quero voltar a escrever mais para o Xis-xis, sinto uma necessidade absurda de trocar ideias, mas ando muito dedicada ao trabalho e, nas horas vagas, à minha bebê (passa tãaao rápido)! Por isso, convido a acompanhar os textos e atividades publicados lá no site da ONG Iniciativa Verde, onde cuido da comunicação. Tem coisa muito bacana que se relaciona com ciência, meio ambiente e, acima de tudo, à busca em melhorar a qualidade de vida de todos. Eventualmente, também publico algum texto mais profissional no LinkeIn. Passe lá também, se possível.

Agora, voltando à programação, o assunto de hoje é… bebê! Quer dizer, saúde feminina durante a gestação. Quando engravidei, minha vontade era de ter um parto vaginal, com menos interferência médica desnecessária possível. Tive a sorte e o privilégio de já me consultar com uma ginecologista e obstetra honesta que me ajudou a realizar esse sonho do parto normal. Desde o pré-natal, me indicava ações e cuidados para que eu tivesse um parto mais tranquilo possível. Uma das indicações foi a fisioterapia perineal.

Eu estava por volta das 20 e poucas semanas de gestação e, como de costume, já havia lido muito sobre a gravidez em si. Em umas dessas leituras e conversas em um grupo de ioga para grávidas, tinha me deparado com a tal da fisioterapia perineal. A obstetra foi incisiva: “Se quer ter um parto normal, você tem que fazer essa fisioterapia”. Curiosa como eu, não precisava dessa praticamente ordem para me convencer. Eu já queria mesmo. Bastava saber a data mais indicada para começar.

Foi, assim, que conheci a Dra. Carla Dellabarba Petricelli, fisioterapeuta especializada em Uroginecologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM) e mestre em Ciências da Saúde pelo Departamento de Obstetrícia (Unifesp/EPM). A obstetra a indicou. Delicada, calma e paciente, na primeira sessão de fisioterapia Petricelli fez uma entrevista, explicou como seriam os exercícios e uma análise de como eu me encontrava.

Pode até parecer constrangedor no primeiro momento, visto que é uma fisioterapia que engloba a região genital. Mas, confesso, depois da segunda sessão, eu me divertia contando para amigas e parentes sobre os exercícios para o períneo. Devido a essa curiosidade que a fisioterapia perineal desperta e à importância dela, convidei a fisioterapeuta para esclarecer algumas dúvidas sobre o seu trabalho aqui no Xis-xis.

Carregando a bebê, mas fora da barriga. Uma foto de um bom momento para ilustrar.
Carregando a bebê, mas fora da barriga. Uma foto de um bom momento para ilustrar.

Para a minha gestação e parto, o trabalho da Dra. Carla foi fundamental. Graças a ela, eu já sabia o que esperar na hora do expulsivo, a maneira mais indicada de agir em cada etapa do trabalho de parto, conheci melhor o meu corpo grávido, minha musculatura perineal e abdominal voltou ao lugar rapidamente após o parto, tive poucas dores musculares na parte de baixo barriga durante a gravidez, psicologicamente estava mais segura para o parto e até para o pós-parto no que diz respeito ao meu corpo. Sou muito grata por ter tido essa oportunidade.

Leia a entrevista abaixo! O que melhor ser fazer: perguntar. Espero que seja útil a você também! E, para a Carla, só tenho que agradecer e desejar um futuro mais brilhante! <3

Isis Rosa Nóbile Diniz – O que é a fisioterapia perineal? Que músculos ela trabalha?
Dra. Carla Dellabarba Petricelli – A fisioterapia é uma ciência da saúde que estuda, avalia, previne e trata disfunções acerca do movimento humano. A fisioterapia tem diversas áreas de atuação, as mais conhecidas são: fisioterapia ortopédica, cardio-respiratória, neurológica, esportiva. Na saúde da mulher, a fisioterapia uroginecológica e/ou fisioterapia pélvica trabalha nas disfunções dos músculos do assoalho pélvico ou também conhecido como períneo. Esses músculos tem funções muito importantes para a mulher, pois além de sustentar os órgãos pélvicos (bexiga, útero, intestino) no seus devidos lugares, auxilia na continência urinária e fecal, melhora a resposta orgásmica, e além disso, tem a capacidade de se alongar para o nascimento do bebê. Quando esses músculos estão fracos, a mulher pode ter problemas de incontinência urinária ou fecal, podem sofrer de disfunções sexuais ou ter a descida dos órgãos citados acima.

Isis – Quem é o fisioterapeuta perineal? Quais profissionais pode passar exercícios? Existem diferentes técnicas como o uso do epi-no ou outros métodos? Qual a principal indicação de cada?Dra. Carla – O profissional que deve atuar nesse área é o fisioterapeuta (pois é ele quem estuda e entende todas as disfunções acerca da musculatura perineal). Então, é o fisioterapeuta especializado em assoalho pélvico (que estudou uroginecologia, saúde da mulher ou fisioterapia pélvica) que pode prescrever exercícios perineais, pois a paciente passará por uma avaliação específica para saber o grau de força muscular dessa região e, a partir daí, o profissional irá montar um protocolo de exercícios individual para aquele paciente, focando no fortalecimento muscular.

Dependendo do grau de fraqueza muscular, não trabalhamos apenas com exercícios, utilizamos recursos específicos para auxiliar no ganho de força muscular como a eletroestimulação perineal (recurso usado em outras fases da vida da mulher, quando o músculo não consegue contrair voluntariamente, esse equipamento ajuda o músculo a ganhar força “passivamente”), cones vaginais (são pesos que quando colocados na vagina incrementam o ganho de força) entre outros. Apesar de trabalharmos muito com o fortalecimento muscular para tratar disfunções, também podemos atuar no final da gestação, com o alongamento perineal. Nesse caso, usamos um equipamento conhecido com Epi-no, que foi desenvolvido por uma empresa alemã, com o intuito de treinar essa região para as demandas do parto.

Isis – Uma pergunta envergonhada: qual a diferença da fisioterapia para o pompoarismo?
Dra. Carla – O pompoarismo é oriundo da cultura indiana em que as mulheres são ensinadas a contrair os seus músculos perineais voluntariamente durante a relação sexual a fim de adquirir maior prazer sexual. Não existe diferença no movimento realizado, existe diferença no foco do tratamento. O fisioterapeuta irá trabalhar os músculos com intuito de reabilitar a função muscular e até tratar disfunções sexuais com o mesmo exercício.

Isis – Por que ela é importante para o parto? Ela evita a “bexiga caída”? Evita a laceração ou que se faça a episiotomia?
Dra. Carla – Vamos lá, os exercícios perineais com o intuito de fortalecimento muscular são importantes na gestação para prevenir o enfraquecimento desses músculos e impedir as incontinências urinária e fecal, que muitas vezes começam a surgir na gestação e não apenas no pós-parto. Então, é de extrema importância esse treino muscular, para evitar sim a “descida” dos órgãos pélvicos, até aproximadamente 32 semanas de gestação.

Depois desse período, deve-se manter o treinamento de força muscular, mas começamos a mudar o foco e fazemos o alongamento perineal com o Epi-no. Esse equipamento é um exercitador que foi criado para treinar o período expulsivo com a paciente. Nele, a mulher sente os músculos do períneo sendo alongados até a sua capacidade máxima e depois ela treina a forma como deve expulsar o balão inflado. É claro que esse alongamento deve ser feito com o auxílio de um fisioterapeuta e, dessa forma, a mulher melhora esse alongamento até o momento do nascimento do bebê.

Existem vários artigos científicos que falam de uma grande chance do períneo permanecer íntegro, ou seja, sem que a paciente tenha laceração (quando o músculo se rasga durante a passagem do bebê) ou precisar de episiotomia (corte na vagina para facilitar a passagem do bebê). Os estudos são muito recentes e ainda tem muito a ser estudado, mas para que se tenha sucesso nesse treinamento, o paciente deve procurar um fisioterapeuta para entender como realizar o treinamento, porque existem particularidades no posicionamento do aparelho e como proceder durante toda a sessão.

Isis – E para o pós-parto, qual a sua relevância?
Dra. Carla – No pós-parto, o mais importante é fortalecer os músculos para que a paciente não tenha nenhuma disfunção desse grupo muscular. Esse treino já pode ser feito após oito horas de parto vaginal ou cesárea.

Isis – Aliás, outra curiosidade: homem também pode fazer? Em quais situações é indicada?
Dra. Carla – Geralmente, os homens apresentam queixa nessa região após cirurgia de retirada de próstata, em que ficam incontinentes. Precisa de um fisioterapeuta para avaliar a força muscular e reabilitar essa musculatura para melhorar o quadro de incontinência urinária.

Isis – Acredita que com o aumento de parto humanizado e valorização do parto normal, existe uma procura maior por esse tipo de fisioterapia? As pessoas têm vergonha de dizer que fazem? Como escolher um profissional adequado?
Dra. Carla – Sim, na verdade atualmente as mulheres estão tendo mais informações sobre o parto normal e enfrentando os seus medos acerca da dor que sentirão ou do tempo de trabalho de parto e outros fantasmas. E as informações obtidas têm facilitado a procura da fisioterapia. E isso tem sido libertador, porque muitas pacientes tem ajudado a divulgar o trabalho que a fisioterapia realiza, não sinto que as mesmas tenham vergonha ao falar desse serviço. Para escolher um profissional adequado é preciso saber a sua formação e a sua experiência profissional. Colegas de outras profissões acabam indicando como obstetras e/ou enfermeiros.

Isis – Antigamente, as mulheres faziam mais trabalhos físicos, caminhavam mais, eram mais fisicamente ativas. Acredita que, por isso, elas pariam com maior facilidade?
Dra. Carla – Já existem alguns estudos que falam que mulheres ativas apresentam partos mais rápidos e sua recuperação é melhor comparadas às sedentárias. Por isso que estimulamos a atividade física na gestação, mesmo quando a paciente é sedentária orientamos que inicie alguma atividade. A fisioterapia pélvica pode complementar a atividade já realizada com exercícios globais mais direcionados que auxiliarão no trabalho de parto e no período expulsivo.

 

Ser é existir

Neste Dia das Mulheres, meu desejo é que todas nós possamos SER. Ser, acima de tudo. Porque não, hoje nós AINDA não podemos. Que nós possamos ser diretoras de empresas e, por isso, que nossos maridos assumam mais tempo com nossos filhos, sim – não “fizemos” sozinhas. Que nós possamos ser gordinhas – e isso não justifica perder algo. Que nós possamos ser alguém caminhando pelas ruas despreocupadamente, seja durante o dia ou durante a noite. Que nós possamos ser mulheres que gostamos de ciência, mas, ao mesmo tempo, também de maquiagem – uma atitude não invalida a outra. Que possamos ser “bonitas” sem sermos julgadas “burras”. Que nós possamos ser excelentes motoristas, sim. Que possamos ser preocupadas com o meio ambiente – ignorante é aquele que ignora o seu próprio futuro. Que possamos ser “mulher de fases”. Aceitem: temos hormônios e nossos humores variam de acordo com eles. Sempre foi assim e isso não significa que, se um dia estamos irritadas, é porque estamos de TPM. Que possamos ser menininhas. Mulheronas. Lésbicas. Bissexuais. Heterossexuais. Ou qualquer outra opção sexual – a “escolha” é nossa, ninguém vai “arrumar” nada. Que tenhamos o direito de não sermos vaidosas. Que possamos ser “gostosas” para nós mesmas. Que possamos ser equiparadas com relação ao salário – aliás, que possamos ganhar mais por termos estudado mais. Que possamos ser simpáticas sem sermos taxadas de “bobinhas”. Ou ser “bobas” quando quisermos. Ser mães que amamentam após o bebê completar dois anos de idade. Ser mães do nosso jeito. Que nós possamos optar não por ser nada. Ou ter direito de não querer ser. Apenas, nos deixem ser.

22 dicas sobre o parto e pós-parto que quero contar para minhas amigas

img_7528Vejo minhas amigas grávidas pela primeira vez e lembro-me das minhas dúvidas quando eu era gestante e, principalmente, da inquietação relacionada ao desconhecido parto. A gente acha que parir é parecido ao retratado em um filme roliudiano. Você começa a ter contração, sente muita dor, corre logo para o hospital, dá uns gritos e a criança nasce. Pode ser assim, mas geralmente não é nada disso. Parir é mais visceral, animalesco e muito íntimo. É uma volta ao seu interior.

Durante o parto da minha bebê, eu cheguei ao hospital toda querendo ser phyna. Fazer xixi de porta aberta? Surtei. Como assim? Meu marido ia me ver sentada no vaso sanitário? Expulsei ele do banheiro da sala de parto e até hoje recordo da expressão tranquila, de acolhimento, de aceitação e atenta dele preocupado em cuidar de nós duas. Cheguei ao hospital com cinco centímetros de dilatação e fiquei presa entre esses e os sete por um tempo. Creio que por três horas e pouco.

Quando me entreguei ao desconhecido, ao que eu queria fazer, gemer e, principalmente, quando me interiorizei, o parto evoluiu mais rápido (cheguei ao hospital cerca de 11h30 da noite e antes das 5h da manhã a bebê nascia). A dor diminuiu, soube lidar melhor com ela e me corpo indicava o que era melhor para nós. Sem gritar (guardei a energia para usá-la durante o expulsivo).

Por exemplo, acredite se quiser. Depois da anestesia é comum as contrações diminuírem ou ficarem irregulares. Também há uma preocupação especial com os batimentos cardíacos do bebê, que podem diminuir devido ao remédio. Nestes casos, os médicos podem injetar ocitocina para que as contrações continuem ritmadas e intensas.

Debati com a obstetra porque eu queria a menor interferência médica possível no parto, de jeito algum abrindo mão de algumas facilidades da medicina contemporânea, e ela já sabia disso. Como as contrações estavam muito zuadas (perdão a palavra, mas as ondas viraram gráficos bizarros como os econômicos) e os batimentos da bebê caíram algumas vezes, a médica falou que daria “só um pouco de nada de ocitocina”. Concordei.

Bom, depois da anestesia, sem dor, minha vontade era apenas de meditar. Meditei por mais de 45 minutos. Entrei em uma paz, calma, felicidade indescritíveis. Sei lá para onde minha mente foi levada. O curioso é que, toda vez que uma enfermeira, a obstetra ou o Santos anestesista (ele era uma graça, vale um post a parte, me acalmou após ficarmos hora conversando sobre a história da medicina durante o trabalho de parto) entrava na sala para falar comigo, as contrações desandavam. Quando eu voltava a meditar, elas voltavam a ter ritmo. Nem precisei de mais ocitocina.

Sou muito, mas muito grata a todos os envolvidos porque foi um parto mágico. Foi o segundo dia mais importante da minha vida – o primeiro, quando nasci. Minha obstetra me auxiliou perfeitamente, com palavras certas nos momentos corretos. Eu li tanto que ninguém mais aguentava minhas citações. Fiz ioga com uma parteira maravilhosa. E conversei com muitas amigas já mães, mentoras até hoje. Graças a todo esse conhecimento, o desconhecido foi fácil de ser levado. Por isso, após todo meu blábláblá acima, quero compartilhar aqui informações que podem te acalmar. Espero ser útil e que tenha um lindo parto!

O que esperar do parto normal e do pós-parto imediato?

  1. O mais importante: o parto é único. Como cada gravidez, o parto e o pós-parto são diferentes para cada mulher. Portanto, a sequência pode ser a mesma, mas a intensidade, o modo que você irá lidar com cada passo dele, é diferente. Leia, mas não se prenda ao passo-a-passo;
  2. Os pródomos, sinais que indicam que o trabalho de parto está próximo, podem começar dias antes ou horas antes. Leia sobre eles para saber identificar – lembrando que algumas mulheres não têm nada! No meu caso, no dia anterior, estava com muitas contrações irregulares. Foi um dia com contração a toda hora. Ainda sem dor, mas eram tantas que estranhei;
  3. O parto da primeira gravidez pode demorar “muito”, a média é de cerca de 13 horas, e quem manda é a natureza. Desista de lutar contra ela. Se entregue e tenha ciência de que é impossível controlar tudo. Aliás, depois, a maternidade vai jogar na sua cara várias vezes que não podemos ter o domínio de tudo na vida. Tente aproveitar essa beleza;
  4. Você pode começar a ter contração de treinamento com cinco meses e ter dilatação com sete meses. Fique atenta, mas saiba que é normal. Na dúvida, consulte quem fará seu parto. Ah, o que é contração de treinamento? Quando a barriga fica dura por um tempo e, depois, fica relaxada. Curta, é maravilhoso;
  5. O trabalho de parto é dividido em três fases: quando o colo do útero está dilatando, a expulsão e a saída da placenta. A primeira fase é a mais demorada. A de expulsão, quando fazemos força para tirar o bebê, dura de minutos até cerca de uma hora e meia. A última é rapidinha, não se preocupe muito com esta. É comum os obstetras fazerem uma massagem de leve para ajudar a soltar a placenta;
  6. Dói muito? Depende e depende de como você encara essa dor. Generalizando, dói mesmo, para valer, por volta dos sete centímetros. Depois, o trabalho de parto costuma evoluir rápido e em pouco tempo você estará com o bebê no colo. Pode ser que doa muito para você desde os dois centímetros de dilatação, pode ser que você só sinta dor no expulsivo, pode ser que só doa muito por volta dos sete centímetros de dilatação (foi o mais comum relatado pelas minhas amigas e o que aconteceu comigo). Pode ser que não sinta dor;
  7. Como é a dor? É de partir, rs. No meu caso, quando começou a doer a valer, eu sentia uma dor de leve nas costas que “abraçava” a barriga. Esta ficava dura e, aí sim, eu sentia a dor de partir. Parece que vem de cima do tronco para baixo, até a pélvis. Depois, passava e viriam outras a cada dois minutos;
  8. Não pense na dor no intervalo das contrações. Apenas relaxe ou faça o que der vontade. A banheira ajuda a tirar a dor, mas acelera as contrações. O chuveiro também. Abraçar o acompanhante de pé, apoiando o peso nele com o corpo para frente é uma boa;
  9. Você vai sangrar muito durante o trabalho de parto e no pós-parto. Após o parto e por dias, vão sair umas “gosmas” de sangue. Fique tranquila. Agora, se achar que está saindo sangue vivo e por muito tempo e frequência, vá ao médico. Se é sedentária, também pode ficar dolorida devido à força feita para parir. Você pode ter dor no quadril e na região do cóccix antes e depois do parto, estas partes “alargam” e amolecem para a passagem do bebê;
  10. Esqueça aquela história de “barriga está baixa, vai nascer logo”. Não dá para saber se o bebê está encaixado só de um leigo olhar. Por exemplo, todos diziam que minha barriga estava baixa. Eu pari com 40 semanas em ponto, data do ultrassom. A bebê só encaixou durante o trabalho de parto e quando eu estava com oito centímetros de dilatação. Como ela estava “alta”, a equipe médica acreditava que o parto iria demorar. Nada. Após encaixar, ela nasceu em, no máximo, 20 minutos. Foi uma correria boa até a equipe chegar ao quarto. Em seguida, fiz três forças completas e ela saiu. Mal deu tempo do pediatra jovem com kit galã feio (hahaha, ele era gente boa) explicar os procedimentos – que eu já sabia. Eu queria bater nele porque estava atrapalhando meu expulsivo, rs. Minha vontade era de empurrar e ele ficava falando! Fofo, mas falando;
  11. E se a bolsa estourar? Sai um líquido amarelado-claro e bem quentinho. Lembra o xixi. Mas você vai perceber, espero, que é a bolsa estourada. Calma, você pode ter tempo até ir para o local do parto. Ou não – conheço casos de parto em hora! E outros de 24 horas após estouro da bolsa. E se entrar em trabalho de parto antes de estourar? Sem problemas. Durante o parto pode estourar, ser estourada se necessário ou o bebê sair dentro dela. Fofura total.
  12. A placenta parece uma geleia. Peça para ver e coloque a mão. É muito interessante!
  13. Se tomar anestesia, é possível que não te deixem levantar em seguida do parto ou tomar banho. Se você estiver bem, peça para tomar banho acompanhada por uma enfermeira;
  14. Coma bem! Você estará com fome! E antes do parto também! Prefira alimentos saudáveis com carboidratos, fibras e proteínas;
  15. É comum ter hemorroidas durante a gravidez (devido ao peso da barriga ou de prisão de ventre) ou no pós-parto por causa da força feita. Dica natureba: compre própolis sem álcool e passe duas vezes por dia na região. Vai curar;
  16. Outra dica natureba: óleo de calêndula ajuda a cicatrizar a dilaceração ou episiotomia. Passe duas vezes ao dia. Dá uma aflição, a região fica dolorida no pós-parto;
  17. Fazer exercícios para o períneo antes da gravidez, durante e logo após parir ajuda na elasticidade do canal do parto e da região pélvica. Também facilita na volta da musculatura. Procure um fisioterapeuta especializado ou busque por “exercícios de Kegel” na internet;
  18. Amamente o quanto antes, logo após o bebê nascer. Eles já costumam nascer fazendo um biquinho-de-passarinho-coisa-mais-linda-do-mundo procurando o “mamá”. Quanto antes amamentar, mais fácil será a amamentação. Tem gente que recomenda passar lanolina no bico do seio para não machucar. Só indico passar se sentir machucado e não antes. Na sala de parto, peça auxílio para a enfermeira na primeira amamentação. E, nas consultas com o obstetra, deixe claro que quer amamentar logo após o parto;
  19. Amamentar dá contração. Ela libera hormônios que ajudam o útero a voltar ao tamanho de antes da gravidez. Completamente normal, curta a sensação. Ah, e tome quatro litros de água por dia. Você precisa de muita água para ter leite. Em seguida, de se alimentar corretamente e tentar não se cansar ou se estressar muito (também não se cobre ficar relax, ok?);
  20. Dias após o parto, os hormônios despencam. É comum a mulher se sentir deprimida, querer ficar quietinha, não fazer nada. Respeite seu corpo. É até sábio, afinal, o bebê tem pouca imunidade para curtir baladas. Se a tristeza permanecer por mais de 30 dias, consulte seu obstetra ou um médico. Aliás, até o pediatra pode te ajudar caso a tristeza permaneça. Se você trabalha, pode ser que quando acabar a licença maternidade volte a se sentir bem. Coma corretamente, tente fazer exercícios físicos quando o médico liberar e dormir sempre (ouviu, sempre) que o bebê dorme para permanecer descansada. Aliás, você nunca saberá quando ele vai dormir de novo… Aproveite a chance;
  21. E a barriga? Ela volta ao normal se você manter uma alimentação equilibrada e se se exercitar um pouco. Não há dados científicos sobre isso (não encontrei) e profissionais da saúde não recomendaram, mas usei cinta modeladora e deu certo;
  22. E a vagina? Volta ao normal? Se tudo ocorrer de acordo com o esperado (se o obstetra não fizer episiotomia desnecessária e der pontos errados), volta. Claro que o corpo já terá a memória daquele alongamento feito durante o parto – por isso, os próximos partos costumam ser mais rápidos. Continue com os exercícios para a região do períneo (você ficará craque) e não encane. A natureza é sábia.

Aproveite cada segundo daquele bebezinho que tem uma feição nova a cada dia! Ele apenas será recém-nascido por 28 dias. Curta o parto, o pós-parto, o carinho de amigos e de familiares, o companheiro (a) se você tiver, a natureza da vida. Os dias com um bebê demoram para passar, mas os anos voam. Parir é um milagre. Aliás, o que é a vida se não um fenômeno desconhecido? Aproveite a viagem!

*Na foto acima, estava com minha bebê no primeiro dia de vida dela no mundo aéreo <3.

Por que esperar 39 semanas para fazer cesárea

Por que é ideal esperar no mínimo 39 semanas de gestação para marcar a cesárea eletiva, conforme resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM)? Do fundo do meu coração, creio que gravei este vídeo pensando nas mães que gostariam de ter um parto normal, mas não conseguiram porque estavam sendo acompanhadas ou foram atendidas por um médico cesarista. Também lembrando daqueles casos de mulheres que escolhem o dia para marcar a cesárea, antes das 39 semanas ou de entrar em trabalho de parto, de acordo com o signo que quer para a criança, uma efeméride ou um dia que gosta mais.

Essa resolução do CFM evitará que as mães e os bebês da primeira situação citada acima (conheço vários casos assim) sejam expostos a mais riscos desnecessários ao serem obrigados a ter a cirurgia marcada antes de entrar em trabalho de parto. No segundo caso, a norma ajudará a impedir que esses pais, ignorantes no sentido literal da palavra, tirem o bebê antes dele estar pronto para nascer. Protegerá as mães e os bebês dos médicos que os colocaram em risco ao permitir e realizar uma cirurgia antes delas entrarem em trabalho de parto (claro que há exceções e estas deixei de fora do vídeo e deste post).

Vale ressaltar que no Brasil, até então, um feto com 37 semanas era considerado a termo, ou seja, pronto para nascer. Por isso muitos médicos marcavam cesárea antes das 39 semanas. Mas os Estados Unidos e outros países já adotavam as 39 semanas como o mínimo da data ideal para o nascimento. Isso porque diversas pesquisas apontavam que, antes desse tempo, o bebê ainda era prematuro.

Bom, espero ter ajudado mais mamães e futuros papais. E aguardem novos vídeos da série! Meu intuito é melhorar ainda mais a edição e voltar a ficar mais à vontade em frente à câmera. Um beijo.

Será que somos mais parecidas com nossas avós maternas?

Para mim, a maternidade trouxe uma maior conexão comigo. Ela me fez voltar ao meu passado, aos meus antepassados, à minha infância. Dias após parir, tive momentos depressivos, devido à baixa nos hormônios e à mudança radical no meu estilo de vida. Antes, eu (espírito livre) saía por aí para encontrar pessoas queridas, para passear, para trabalhar, sem a responsabilidade de ter que cuidar de alguém. Que, aliás, dependia de mim para sua sobreviência no sentido mais animalesco da palavra: eu carregava no meu corpo o alimento dessa pessoa. Para suprir essa inquietação e na busca em ser uma boa mãe, comecei a ler muito, a estudar ainda mais sobre maternidade (a questão biológica, psicológica, comportamental). E decidi que esta é mais uma chance que a vida oferece para me conhecer mais, me aceitar e usar isso para me tornar uma pessoa melhor – não sei se já consegui ou se vou conseguir, mas procuro o caminho.

Nessa viagem espiritual, me deparei com um texto em espanhol que poetizava a questão do óvulo (pena que perdi o link). Eu sabia que nós nascemos com os óvulos que darão origem aos nossos filhos. Mas nunca parei para pensar no significado dessa condição. O que a nossa avó comeu, sentiu, viveu enquanto gerava a nossa mãe influenciou diretamente a nossa genética. Coincidentemente, após ler esse texto, cheguei a uma pesquisa apontado que algumas condições psicológicas das avós são mais vistas ou ainda observadas em netos do que nas próprias filhas (se eu achar o link para pesquisa, posto aqui). Como, por exemplo, traumas. Incrível, não?

E, desde a gravidez, tenho vontade de compartilhar esse meu conhecimento. Algumas amigas minhas, que ficaram grávidas logo depois, até brincavam comigo dizendo que eu era a doula delas. Tirei muitas dúvidas e dei muitas dicas que, literalmente, mudaram a minha gravidez e o parto para melhor. Dicas nem sempre facilmente encontradas. Eu gostaria de compartilhá-las com mais pessoas, colocar mais questões e filosofar mais sobre o tema. Quem sabe possam ser úteis para outras também? Após meses gestando a ideia, quando a bebê dormiu, resolvi gravar o primeiro vídeo da pretendida série “Ciência da Maternidade”. Gravei sem roteiro, de supetão, como diz minha mãe. Editei na madrugada, durante o sono da criança. Este é um piloto. Aceito dúvidas, sugestões, críticas e elogios (claro!). E, com esses vídeos, quero criar uma corrente do bem. Neste mundo árido para as mães e aos criadores em geral, quero deixar muito amor e palavras de conforto para acalentar os corações. <3 Bem-vinda a mais um primeiro filho!

Diversidade representada na 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres

Veja como foi o segundo dia da 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (4aCNPM), contado pela Cládice Nóbile Diniz, delegada pelo Rio de Janeiro e relatora.

Hoje, fiquei para relatar um grupo que tratou das propostas de dois eixos: o de políticas públicas para as mulheres e o de sistema de políticas públicas para as mulheres. O primeiro tinha 88 propostas enviadas pelas conferências municipais e estaduais, sendo 32 a ter que se selecionar as dez mais prioritárias. O segundo tinha 30, onde se devia selecionar cinco. No eixo das políticas, eram propostas e as dez tiradas foram consideradas como desafios. No sistema nacional de políticas para mulheres, as seis propostas foram selecionadas como recomendações (as propostas e monções devem entrar no site do evento).

O ambiente no grupo foi muito rico. Vale ressaltar que um grupo de interesse somente tinha suas reivindicações compreendidas e acatadas se ao menos houvesse uma interessada presente. Por exemplo, as índias iam ficar com suas reivindicações encaminhadas em um “sacolão” geral, mas sendo informadas disso por uma militante negra, apareceram e passaram a atuar bem articuladas conseguindo garantir o que elas achavam o mais importante hoje: a demarcação das terras indígenas e quilombolas. Eram do Mato Grosso e denunciaram o assassinato no ano passado de um líder e a mutilação de outro, que ficou em cadeira de rodas.
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Uma moça com um carrinho de bebê era uma presidiária em liberdade condicional que trazia reivindicações para as presidiárias e às em liberdade condicional. Curiosamente, no grupo havia uma liderança das agentes penitenciárias, sendo ela responsável por um grupo em liberdade condicional. Ela confirmou as denúncias da jovem, ratificando a necessidade de políticas afirmativas de proteção. Um caso que ambas comentaram como exemplo é o da necessidade de escolta de emergência de saúde para as presas que adoecem. A polícia não providencia e elas ficam sofrendo sem socorro.

Houve muitos outros casos interessantes relatados por outras mulheres (os homens que aparecem na foto estão trabalhando no evento). Aliás, essa foi a primeira conferência com representação das mulheres ciganas. Eram um grande grupo muito colorido, lindo. Na volta em frente ao hotel encontramos com os que vinham da manifestação. A tristeza e a desolação me lembraram as pinturas do Portinari.

Patagônia austral: posts sobre o Fim do Mundo

IMG_3201Acabei de voltar de uma viagem pelo tempo. Uma viagem sobretudo geológica, glaciológica, paleontológica e antropológica. Fui para a Patagônia austral chilena e argentina! Um sonho realizado! Lá é o último lugar da Terra, exceto pela Antártida, onde o homem chegou. Isso há 15 mil anos. Uma data recente se você pensar que o planeta tem mais de quatro bilhões de anos. Engraçado que, ano passado, fui para a África do Sul, lugar onde o homo sapiens “apareceu” cerca de 200 mil anos atrás. Um ciclo fechado! Como deu para perceber, tenho muuuuita história para contar.

 

Nem acabei de publicar todos os posts que queria sobre a África (ao menos alguns vídeos vou colocar no ar) e já quero partir para a Patagônia. Achei que fosse “apenas” contemplar paisagens deslumbrantes, caminhar muito, comer e beber bem, mas, no Fim do Mundo, consegui caçar muita informação sobre os primeiros habitantes daquela inóspita região. Sem contar a paleontologia do nosso continente que consegui entender melhor – mas eu já imaginava que veria dados sobre os extintos animais como dinossauros e grandes mamíferos graças ao livro “A Viagem do Beagle”, do mestre Darwin. Recomendo!

 

Enfim, estando no Fim do Mundo deu para perceber porque Darwin conseguiu coletar tanta informação sobre geologia e como aquelas terras incríveis o ajudaram a formular a famosa Teoria da Evolução. Se você pode, não deixe de ir à Patagônia (me mande e-mail se precisar de dicas e informações). Ela me ajudou a entender mais sobre o nosso planeta, sobre o nosso continente, sobre os nossos vizinhos e sobre eu mesma. Uma viagem ao passado e ao nosso futuro.

 

IMG_3070Apesar desse não ser um blog de turismo, vou compartilhar algumas dicas ao fim de cada post (seria um dever meu, porque há pouca informação em português sobre como conhecer a região). Dica de museu para quem curte antropologia: Museo Yámana, em Ushuaia. Para quem gosta de palentologia, Centro de Interpretación Histórica Calafate; e para quem quer entender sobre glaciologia, Glaciarium, ambos em El Calafate.

 

Outras dicas básicas. A Aerolineas Argentinas pode cancelar voos de última hora ou adiantar o voo sem avisar. Portanto, chegue com folga ao aeroporto. Apesar de a Argentina e o Chile serem vizinhos, o transporte entre eles é complicado fora de temporada (depois quero fazer um post sobre o ranço entre ambos). A maioria dos passeios duram o dia todo, vá com tempo e reserve com antecedência. Leve roupas sintéticas para o frio, eu (sou muito friorenta) peguei -15 ºC sem reclamar. Roupas ideais: segunda pele de tecido polar, blusa de tecido polar, corta vento e impermeável. A calça deve ser segunda pele de tecido polar e calça corta vento. Tênis impermeável de caminhada. E aproveite o frio do mundo!

 

Cadê o aquecimento global com esse frio?

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O aquecimento global pode parecer um bicho-papão que vai te pegar se você não se comportar bem. E é mais ou menos por aí, ao menos, segundo pesquisas científicas. Pesquisas científicas, aquecimento global, quanta coisa difícil! Mas vamos com calma tentar explicar que raios é isso e se ele já está em ação, apesar de ter nevado em Curitiba (PR) – suspiro, tão perto de Sampa… Já se falou tanto em aquecimento global que ele deve fazer parte do inconsciente coletivo.

 

Resumindo a história, o nosso azul planeta Terra já passou por muitos aquecimentos e resfriamentos ao longo dos seus 4,6 bilhões de anos. Como sabemos disso? Devido a algumas evidências contidas, por exemplo, no gelo! De modo geral, quanto mais carbono há na atmosfera, mais isso indica que foram tempos quentes. Uma das maneiras de ver como era o clima da Terra é analisando as bolhinhas de ar contidas nos glaciares – depósitos de gelo. Os cientistas calculam a idade do gelo (muitas vezes, quanto mais profundo, mais antigo) e verificam quanto de carbono tinha naquela época.

 

E o que o carbono tem a ver com o clima do planeta? Ele é um dos gases causadores do efeito estufa (a famosa sigla GEE, gases de efeito estufa). O efeito estufa, de certa maneira, é ótimo. Ele impede que o calor do Sol saia da nossa atmosfera terrestre. Graças a ele, temos um planeta com clima gostosinho para viver. Sem esse fenômeno, talvez, nós nem existiríamos. Tome nota: o problema é que, como era de se imaginar, quanto mais carbono na atmosfera, maior será o resultado do efeito estufa.

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Ao longo dos 4,6 bilhões de anos, ações naturais como as grandes erupções vulcânicas fizeram a Terra esfriar porque impediram a entrada dos raios do Sol no planeta. Alguns pesquisadores acreditam que elas foram as responsáveis pela extinção, inclusive, dos dinossauros! Como as coisas parecem ser cíclicas neste planetinha perdido no universo, o clima da Terra voltou a esquentar. E, assim, a Terra seguiu vivendo.

 

Como eu disse acima, parece que o calor na Terra tem relação direta com o nível de carbono na atmosfera. Uso a palavra “parece” porque, em ciência, conforme os pesquisadores vão estudando, mais peças acham para montar o quebra-cabeça da vida. Já faz um tempo (mais de três décadas) que os pesquisadores têm notado, com base em medições, que a temperatura de alguns lugares ficou mais quente. Por quê?

 

Vamos juntar as peças. Principalmente, desde a Segunda Revolução Industrial, quando o petróleo foi “descoberto” como fonte de energia, o planeta tem aquecido mais. Antes dessa exploração, o petróleo estava quietinho lá nas profundezas da Terra (às vezes, nem tão fundo assim, apenas poucos metros da superfície do solo). A gente aprende na escola que o petróleo foi, um dia, os dinossauros. Sabe-se que ele é de origem orgânica e composto por moléculas de carbono (rá) e de hidrogênio.

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Agora, nós, seres humanos, mandamos ver em queimar petróleo. Queimamos para fazer indústrias funcionarem, para carros andarem, para aviões voarem. Essas moléculas de carbono vão para a atmosfera. Para piorar, a gente tem desmatado sem dó as nossas maravilhosas florestas. As árvores retém carbono, principalmente, durante o seu crescimento. Uma árvore da Mata Atlântica absorve 190 quilos de carbono, aproximadamente. Quando a gente desmata e, pior, queima essas árvores, aumenta a concentração de carbono na atmosfera. Lembra-se que, quanto maior a concentração de carbono na atmosfera, mais o planeta era quente? Matada a charada! Com base em estudos, estudos e mais estudos, os pesquisadores do famoso Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) projetam quanto o clima do planeta ficará mais quente.

 

Aí, é aquela bola sem neve. Quanto mais aumentar o clima do planeta, mais os gelos nas regiões frias da Terra vão derreter. Essa água correrá para o mar, que ficará mais alto. Mais alto, ele alagará cidades litorâneas (onde vive a maior parte da população do Brasil, se não me engano) e acabará com ilhas. Milhões de pessoas ficarão sem casa. Os fenômenos como furacões serão mais frequentes e mais fortes. É tipo a anunciação do fim do mundo. Fim do mundo para nós e para outros seres vivos. Porque a Terra, meu bem, esta seguirá seu movimento de translação em volta do Sol normalmente. Talvez, o eixo de rotação seja alterado, como aconteceu quando houve o terremoto que atingiu o Japão em 2011.

 

Bom, agora, voltando à pergunta do título. Sim, São Paulo teve o dia mais frio dos últimos 50 anos. Apesar da friaca nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, os últimos invernos têm tido as temperaturas altas mais altas das últimas décadas. Portanto, está frio, mas o aquecimento global bate a porta. E, muita gente me pergunta: as chuvas fortes do verão, os ciclones, os furacões que acontecem agora são culpa do aquecimento global? Minha resposta sempre a deixa desanimada: “Não podemos afirmar”. Científicamente ainda não podemos dizer que os eventos extremos que acontecem neste momento são culpa do aquecimento global. Pode ser que sim, pode ser que não. O fato é que fenômenos naturais são inevitáveis, mas as tragédias que eles causam podem ser evitadas. Pense nisso.

Dica: O excelente fotógrafo James Balog, especializado em natureza, reparou que alguns glaciares pareciam encolher. Aí, o cara teve a genial ideia de fotografar cada minuto de geleiras nos Estados Unidos, Groenlândia, entre outros lugares durante três anos. A saga rendeu o documentário “Chasing Ice“. Ele conseguiu captar a maior ruptura de gelo já filmada. Um bloco do tamanho de Manhattan, em Nova Iorque, se desprendeu fazendo um barulho ensurdecedor. O documentário poderia ser melhor, peca por se centrar muito na figura do fotógrafo e não no aquecimento global em si, deixando de explorar dados colocados interessantes e imagens maravilhosas. Mas, se você se interessa pelo tema, vale a pena. VEJA OS INCRÍVEIS VÍDEOS DOS GLACIARES AQUI.

Obs.: As fotos foram tiradas, respectivamente, na África do Sul, no Chile e na divisa de São Paulo com Minas Gerais.

Direitos iguais e diferenças respeitadas

Sucintamente, é isso que desejo para nós, mulheres. Somos fisicamente, quimicamente, biologicamente, quase-tudo-mente diferentes dos homens, mas essas particularidades não podem ser usadas como desculpa para que não tenhamos os mesmos direitos que eles. Ao contrário, as diferenças devem ser respeitadas. E, se você acha que somos, é uma sortuda que vive em um meio onde isso é possível (existe algum lugar assim no Brasil?) ou você não é mulher. Eu sou mulher.

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Quero ter TPM. Quero ter hormônios. Quero ter menopausa. Quero ter o direito de escolha sobre conceber ou não o filho. Quero ter equiparação salarial. Quero andar de minissaia. Quero ter acesso à educação e à saúde. Quero ficar com quem eu quiser. Quero andar de bicicleta pela rua. Quero poder ser bonita e inteligente ao mesmo tempo. Quero dividir as tarefas do lar. Quero ser gordinha ou magra sem ser discriminada. Quero fazer topless. Quero ser dona do meu corpo. Quero chegar ao cargo de gerência. Quero ser feminina. Quero poder expor as minhas ideias.

Recomendo para mulheres, homens e aqueles que estão acima das questões do gênero, a palestra no TED (organização sem fins lucrativos devotada a “Ideias Que Merecem Ser Espalhadas”) da escritora chilena Isabel Allende – vi o vídeo por meio da indicação da minha professora de canto e fono, Renata Bee. É imperdível. Você não perderá 18 minutos, e sim ganhará ensinamentos para o resto da vida.

 

Feliz Dia da Mulher para nós, objetos de pesquisas e pesquisadoras da vida.