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Chifre de rinoceronte é afrodisíaco?

Não importa. Se quiser ter mais disposição para o sexo consulte um psicólogo, um médico, faça exercícios físicos, se alimente bem… Mas não ingira pó de chifre de rinoceronte. Segundo o site HowStuffWorks, o chifre tem grandes quantidades de cálcio e de fósforo que podem gerar fraqueza e fadiga quando estão em falta em nosso organismo. Se esse é o problema, procure um nutricionista. Sabe por quê?

Enquanto dirigíamos entre as reservas de animais próximas à cidade de Port Elizabeth, na África do Sul, vimos alguns helicópteros sobrevoar a área durante o dia. Perguntei a um funcionário de uma reserva o que eles faziam sobre a região: “São caçadores em busca de rinocerontes”.

O rapaz explicou que traficantes sobrevoam as reservas, principalmente, particulares – porque a polícia tem conseguido combater o crime nos parques governamentais. No helicóptero, os traficantes estão com armas de longo alcance. Lá de cima atiram nos animais. Durante a noite ou fim de tarde, passam pelas cercas elétricas e cortam os chifres dos rinocerontes machucados ou mortos. Sem o chifre, o animal que ainda estava vivo pode morrer de hemorragia ou perde um membro de defesa.

O material retirado é traficado para a China e para outros países asiáticos onde é vendido como afrodisíaco – segundo matéria publicada no site Terra, o quilo custa US$ 66 mil dólares (o que explica o gasto com o helicóptero e com as armas)! Desse modo, o crime passa a ser perigoso até para turistas desavisados tentando ver o animal – vivo – de perto. Afinal, você pode encontrar um traficante tentando arrancar o chifre do bicho.

Conclusão? Três das quatro espécies de rinocerontes correm sério risco de extinção, de acordo com a International Union for Conservation of Nature (IUCN). Claro que o tráfico não é a única causa. O desmatamento do habitat natural também prejudicou as espécies. Atualmente, a maioria dos rinocerontes da África do Sul se encontram em reservas (de acordo com informações de alguns livros que li por lá) e, mesmo assim, têm risco de serem caçados ilegalmente. Triste.

Abaixo, eu feliz perto do bicho vivinho.

 

Zebras e girafas são vistas da estrada

Enquanto dirigimos nas rodovias do Brasil vemos vacas pastando e, eventualmente, sentimos o cheiro de criação de porco. Na África do Sul, dependendo da região também observamos vacas (holandesas) e criações de carneiros. Meigo. Agora, já imaginou ver zebras, girafas, antílopes, elefantes e até leões separados da rodovia por uma mera cerca elétrica? Essa é a visão do céu – e sinal de que estamos na África. Á-FRI-CA. Ai, é emocionante!

“Não entre, LEÕES”, dizem algumas placas presas às cercas elétricas na região de Port Elizabeth. A regra é clara: se a cerca tem eletricidade, provavelmente, a reserva possui animais que podem se alimentar da carne humana. Nós dirigíamos com atenção redobrada sempre que passávamos de carro pelas estradas de terra ou rodovias que tinham cercas elétricas dividindo a reserva do asfalto ou da terra. A chance de ver um animal silvestre era gigante!

Em uma breve pesquisa que fiz, parece que a economia da África do Sul está baseada na exploração de minérios e na exportação agrícola. Mas, graças ao turismo (reforçado ainda mais com a Copa do Mundo cediada por eles, os animais endêmicos da região que correm risco de extinção conseguiram certa proteção. As reservas garantem seu habitat, sua alimentação, sua exploração econômica com o turismo e, assim, sua existência. É o caso desta espécie de zebra – existem três, uma outra parente já foi extinta.

Além de garantir a sobrevivência dos animais, criar reservas particulares e governamentais é uma maneira de proteger os habitantes locais das espécies que oferecem riscos à população como leões e elefantes – estes são fofos, mas podem ser violentos. Não seria uma inspiração para o Brasil? Existem reservas semelhantes no Pantanal, mas soube de muitos problemas relacionados a ataques de onças-pintadas – leia, no link, matéria da jornalista Juliana Arini.

Bom, tenho muitas histórias para postar aqui sobre a minha viagem para a Mama África. Esperto ter tempo para escrver os causos e compartilhá-los com você.

África do Sul: como preservar a natureza usando o turismo

Saudades, leitor! Fiquei o mês de agosto fora, de férias na África do Sul. Foi uma viagem de tirar o fôlego! Estou cheia de novidades. Tentei focar a viagem em passar mais tempo próxima à natureza e em conhecer um pouco a história local. Apesar de o país passar por alguns visíveis problemas, podemos aprender com algumas ações que parecem terem dado certo por lá.

Há menos de 20 anos a África do Sul quase entrava em guerra civil… Segundo o que me contaram, boa parte das vegetações originais tinham sido desmatadas até então. Hoje, existem incontáveis reservas públicas e privadas espalhadas pelo país. E, claro, eles usam o turismo para mantê-las de pé. Como?

Quem não quer fazer um safári? Ou ver baleias de perto? Então… Boa parte das reservas resgataram as vegetações endêmicas para receberem os animais – parece que as reservas públicas foram mais cuidadosas em inserir (com alguns rigores científicos) espécies de bichos que originalmente viviam naquele ecossistema.

É possível dormir dentro das reservas – tanto nas públicas quanto nas privadas. Por exemplo, existe um parque marinho chamado Tsitsikamma. Ele preserva a vegetação e animais costeiros e, claro, espécies marinhas. Lá não há leões, girafas ou elefantes, mas você pode fazer trilhas para ver paisagens de tirar o fôlego, remar e até nadar com as focas.

Se preferir, pode dormir no Addo Elephant. Como o nome sinaliza, é um parque que possui um grande número de… elefantes. Nesse lugar, é possível fazer safári com o próprio carro. Lá há mais de 30 espécies de animais – entre eles os temidos leões e leopardos.

Ou, se quiser, pode pousar no maravilhoso De Hoop (sinônimo de dunas, baleias, florestas e mar transparente) perto das zebras e dos antílopes. Como não há animais que atacam os homens, pode fazer trilhas a pé e de bicicleta. Detalhe: sua reserva marinha é famosa pelas baleias. Eu contei 15 juntas – incluindo bebês. <3

Nesses locais há restaurantes, cozinhas, passeios guiados e acomodações para diversos bolsos. São super seguros – tanto com relação ao ataque de bichos como à violência “humana”. Enquanto esse tipo de uso das reservas e dos parques gera dinheiro para a manutenção dos próprios, os visitantes também acabam sendo mais olhos para ajudar na preservação do lugar. Vi raras ações depredatórias.

Portanto, a natureza, lá, não é apenas para ser admirada e intocada. Ela pode ser respirada, sentida, vivida. Não seria um bom exemplo a se seguir?

Obs.: Para conhecer todos os parques e as reservas públicas da África, clique aqui.

Veja pequeno documentário sobre a história da rua Augusta

Tenho um carinho muito grande pela rua Augusta, via da cidade de São Paulo, por vários motivos pessoais. Um deles diz respeito ao documentário “Augusta a 120/h”, realizado em 2003. Somado à monografia, o vídeo é o resultado do nosso – meu e de mais três amigas – trabalho de final de curso (faculdade de Jornalismo) quando, na ocasião, a cidade de São Paulo completava 450 anos. Foi a nossa homenagem para a querida Terra da Garoa.

 

Na época, o “Baixo Augusta” estava lotado de puteiros e “saunas”. Ratos passavam pelos nossos pés, mendigos nos ameaçavam, seguranças de portas de teatro nos impediam de gravar a via pública. Os porteiros das “casas de diversão” nos conheciam e nos cumprimentavam – passávamos o dia inteiro caminhando em busca de personagens e boas tomadas. Bons tempos.

 

Frequentamos todas as principais bibliotecas da cidade em busca do passado da rua. Assim, descobrimos que nosso trabalho era o primeiro a abordar apenas a rua Augusta. Uma pesquisa inédita e feita antes de mudar o perfil dos frequentadores do local. Apenas dois anos depois (em 2005), seria inaugurada a primeira casa noturna, o Vegas, que ajudou na mudança de perfil da região.

 

Divirta-se com o primeiro documentário realizado com o intuito de buscar a história da famosa rua – focamos nos anos 1960 quando os “brotos” saíam para paquerar na rua. O vídeo tem, apenas, cerca de 15 minutos. Boa sessão!
Obs.: O documentário tem menos de dez anos, mas repare como ele parece bem mais antigo! Na época, não existia Google Maps, por exemplo. Gravamos um mapa impresso. Incrível como a cidade e a tecnologia mudaram em tão pouco tempo.

Aprenda com o passado da Ilha de Páscoa

A dica de hoje é o Museo de Arqueología e Historia Francisco Fonck, na litorânea cidade com ar-condicionado natural Viña del Mar, no Chile. Ele primeiro atrai a atenção por expor um grande moai (aquelas estátuas da Ilha de Páscoa) com mais de dois metros em seu jardim – este, aliás, era o meu interesse inicial, pois queria novamente a euforia sentida ao ver um moai no British Museum. Pesquisando sobre o museu, vi que ele tinha, além de uma área destinada à história natural, mais peças da polinésia chilena. Já me deu coceira. Tenho loucura por essas ilhas do Oceano Pacífico. Aliás, já que estou toda cultureba, se você também gosta da cultura polinésia veja o filme ” Tabu, a Story of the South Seas” (1931), dos cineastas Robert Flaherty e Friedrich Wilhelm Murnau – a obra é a vanguarda muda e em preto e branco dos documentários atuais.

Viajando de volta ao Chile, o museu expõe muitos textos sobre a Ilha da Páscoa. Além da já sabida (geralmente sem detalhes) história de que os próprios moradores da ilha, o povo Rapa Nui, a desmatou inteira, lá descobri que sua cultura é bem diferente das outras civilizações polinésias ou indígenas contemporâneas (antes do século XVII). Entre as informações que chamaram a atenção: ninguém até hoje sabe sua origem exata, cada moai tem um nome (quem lembrar dos dados do que está exposto no Museu Fonck e no British Museum deixe nos comentários deste post), eles eram mais guerreiros que o povo do Hawaii e do Tahiti (brigaram à beça entre os próprios povos e para que os europeus fossem embora da ilha) e praticavam a horticultura. Esta está diretamente relacionada ao desflorestamento do local.

Os rapanui pescavam, mas a horticultura era a base da sua subsistência – alguns indígenas brasileiros são coletores (vivem de colher frutos e afins da natureza, sem plantar). Eles cortavam e queimavam árvores para abrir lugar aos cultivos principalmente de: batatas, taro (“batata dos trópicos”) e inhame. Para produzir o fogo, friccionavam um pedaço de madeira dura sobre o tronco de uma planta chamada hau hau. Nas festas, cozinhavam a comida em grandes fornos cobertos por folhas e húmus. Os tocos de árvores também eram usados em fornos de residências, nas cremações, nos cerimoniais. Porém, o uso indiscriminado da madeira ao longo do tempo causou a falta de matéria-prima, dificultando a construção de embarcações, o que impedia migrações.

Enquanto isso, a população crescia na ilha. Consequentemente, cada vez mais, o espaço livre diminuía e os conflitos entre grupos rivais aumentavam. Havia aristocracia, sacerdotes, guerreiros, gente “comum”. Segundo o museu, a batalha do Poike entre dois grupos foi o momento culminante da crise na ilha no fim do século XVII. Depois dessa guerra, os habitantes tiveram que se virar com os recursos naturais e pessoais que sobraram. As plantações foram protegidas com jardins de pedras para conservar a umidade. Os cadáveres deixaram de ser cremados: seus ossos eram guardados limpos dentro de câmaras debaixo de altares. As cerimônias asseguradas eram para proteger a fertilidade e para saber administrar com destreza os recursos para a subsistência.

Além de várias histórias, como essas informações, o museu também conta com algumas peças do período precolombiano (inclusive uma múmia). Como o principal museu de arte precolombiana do mundo estava fechado para reformas de expansão, o Museo Chileno de Arte Precolombino, me contentei com o pouco que se mostrou muito. E fui feliz aprendendo com uma cultura que ainda vou conhecer mais de perto ao visitar sua terra natal. Sonhar é preciso. Boa viagem!

O Pablo e o mar

Aqui estão duas, hoje e amanhã, breves dicas para quem aproveita o carnaval para programar viagem ainda sem destino ou ao hermano Chile. A primeira delas é o museu Isla Negra, localizado na cidade litorânea El Quisco – apesar do nome, ele não está instalado em uma ilha. Fiquei emocionada ao visitá-lo por ser uma das casas do poeta Pablo Neruda e por sentir pertinho a proximidade do escritor com o mar. Relação que já conhecia por meio de seus livros, mas pessoalmente se revelando uma surpresa marejada.

Pablo Neruda amava o mar e sentia por ele um grande respeito. Brandava ser um marinheiro em terra firme. No quintal de sua casa encravada em uma praia pedregosa, com o constante estrondoso barulho das ondas se chocando contra elas, colocou um velho barco comprado em certa ocasião. Nunca levou-o de volta às águas, dizia que não precisava. Gostava de beber com os amigos sentado em seus bancos e, ao levantar, já saía mareado da embarcação.

Dentro de todos os cômodos da “casa-barco” repleta de personalidade, reutilizava diversos objetos principalmente remetentes, claro, ao mar como as esculturas inseridas na frente das embarcações – não lembro o nome dado a elas em português, em espanhol se chamam “mascarón de proa”. Vou me segurar nos detalhes sobre a decoração para evitar estragar as surpresas. Apenas ressaltar que, para Neruda, as residências deveriam ser lúdicas. E destacar sua consciência ambiental já naquela época, antes da década de 1970.

Certa vez, ao observar um dia agitado do mar, o poeta viu um objeto boiando próximo às pedras. Pediu a Matilde, sua última esposa, ajuda para retirar o que se relevou um pedaço maciço de madeira. “O mar me deu de presente o tampo de uma mesa”, disse. Depois de muito esforço, o casal levou para dentro de casa a peça a ser instalada em seu escritório caseiro.

Essas são poucas – e descritas neste post de maneira muito simples para um poeta tão grandioso – de muitas impressões e histórias guardadas em minha memória após visitar o abrigo de Neruda e ler as suas obras. Sua vida é um exemplo de respeito ao meio ambiente, amor às artes e compaixão ao próximo. Se tiver oportunidade de visitar sua residência que hoje é o museu Isla Negra, agarre-a firmemente.

Enquanto isso, do meu “apartamento-barco”, esta simples mortal que agora, mais ainda, se sente parte de uma versão feminina do poeta – alguém que me entende -, resiste a mostrar para outros os poemas que escreveu relacionados ao tema e deixa um registro do legado de Neruda para você se marear com ou sem o balanço das ondas:

El mar

 

Necesito del mar porque me enseña:
no sé si aprendo música o conciencia:
no sé si es ola sola o ser profundo
o sólo ronca voz o deslumbrante
suposición de peces y navios.
El hecho es que hasta cuando estoy dormido
de algún modo magnético circulo
en la universidad del oleaje.
No son sólo las conchas trituradas
como si algún planeta tembloroso
participara paulatina muerte,
no, del fragmento reconstruyo el día,
de una racha de sal la estalactita
y de una cucharada el dios inmenso.

 

Lo que antes me enseñó lo guardo! Es aire,
incesante viento, agua y arena.

 

Parece poco para el hombre joven
que aquí llegó a vivir con sus incendios,
y sin embargo el pulso que subía
y bajaba a su abismo,
el frío del azul que crepitaba,
el desmoronamiento de la estrella,
el tierno desplegarse de la ola
despilfarrando nieve con la espuma,
el poder quieto, allí, determinado
como un trono de piedra en lo profundo,
substituyó el recinto en que crecían
tristeza terca, amontonando olvido,
y cambió bruscamente mi existencia:
di mi adhesión al puro movimiento.

Estacionamento para bikes parece “as europas”

Noites e manhãs frias em pleno dezembro de verão, casas com arquitetura alemã, pinheiros plantados em passeios públicos, florestas circundado a cidade e estacionamento para bicicletas no centro comercial. A descrição não parece de uma cidade brasileira, não é mesmo? Deixando o gosto duvidoso da arquitetura e da introdução de espécies exóticas de lado, ter um lugar para parar as magrelas no principal centro comercial turístico de Campos do Jordão, no interior de São Paulo, é um mínimo apoio aos ciclistas (foto). Acho civilizado. E o povo usa. Quem vai trabalhar. Quem vai comer ou comprar. Quem é turista. É para todos. As quatro bicicletas da foto tiraram quatro carros das entupidas ruas do badalado “centrinho”. Melhor se exercitar do que ficar dentro do possante meia hora dirigindo a 5 km/h até encontrar uma vaga na rua ou no estacionamento – e dirigir por no máximo 6 quilômetros para chegar ao tal centro, distância da maioria dos hotéis. Todas as cidades brasileiras deveriam ter um lugar destinado às bicicletas nos centros comerciais. Isso, sim, é ser “phyno”.

Obs.: Conhece mais cidades tupiniquins com estacionamento para bikes? Conte aí!

A cidade de São Paulo está mais interiorana?

No interior do Paraná, lá em Telêmaco Borba, fazia “miséria” com uma bicicleta durante as minhas férias na adolescência. Em minutos, passava de casa em casa almoçando com um e tomando café da tarde com outro parente. Saía cedo e voltava no fim do dia. Adorava essa simplicidade. De volta a São Paulo, sentia falta da liberdade de ir e vir sobre duas rodas, mas nunca lamentei. Isso porque eu jamais imaginava, em uma cidade tão grande e onde carro é prioridade, que seria possível reproduzir os passeios interioranos. Até que ontem me senti transportada para aquele tempo – mesma época em que não precisava ser convidada com semanas de antecedência para ir à casa de um amigo ou passar o tempo com ele despretensiosamente sem ter que negociar antes o que iremos fazer.

No último domingo, chamei alguns amigos para andar de bicicleta – parece convite de criança… E, sem querer, reproduzimos a liberdade que sentia quando estava em Tebê – apelido carinhoso da cidade natal. Minha amiga @pollymir saiu do centro via Minhocão, me encontrou na Zona Oeste, de lá fomos para a ciclorota (ruas indicadas como rota para ciclistas pela Companhia de Engenharia de Tráfego) que nos levou até a ciclofaixa (parte de via fechada para ciclistas aos domingos) e seguindo seu trajeto chegamos à Zona Sul. Decidimos, sem compromisso e sem ter combinado anteriormente, passar na casa de um conhecido, descansar no Parque Ibirapuera e de lá resolvi seguir com meu respectivo para a casa de parentes. Para voltar para nosso apê, pegamos o metrô com a bicicleta, depois pedalamos por uma ciclovia e por ruas. Foram 12 maravilhosas horas passeando livremente sobre duas rodas pela cidade de pedra – e 25 quilômetros pedalados.
Era como se tivesse voltado para a adolescência, quando passava o dia nas ruas do bairro pedalando em busca de lugarezinhos desconhecidos para desbravar e jogando conversa fora com amigos e familiares. Ou quando passeava horas no interior do Paraná de bairro em bairro explorando cada canteiro central, rua recém asfaltada ou vielas de paralelepípedos. Tudo com a sensação do vento gelado batendo no rosto. E do sol bronzeando os ombros e as costas. Pedalar por cima do rio Pinheiros, por avenidas movimentadíssimas em horários comerciais e por bairros sossegados repletos de casas da Terra da Garoa não tem preço. Incrível. Como um sonho.
Apenas vale ressaltar que o mundo das bicicletas é poético, mas reproduz o “mundo real”. Na ciclofaixa abarrotada de ciclistas passeando ao meio dia do domingo ensolarado tem gente – com magrelas que custam o preço de um carro popular usado – cortando o “trânsito”. Colando na traseira alheia para este sair da frente. Brigando com quem ainda não tem segurança para pedalar. Existem outros atrapalhando quem quer ultrapassar. Desligados. Crianças com pais em um ritmo mais lento. Conclusão: não dá para treinar para competições durante a tarde na ciclofaixa. Quem tem essa intenção, melhor procurar uma rodovia. Agora, palmas para a organização da ciclofaixa. A sinalização é objetiva e há monitores tirando dúvidas e organizando o trânsito de bicicletas.

 

Outro importante detalhe sobre bicicleta versus São Paulo diz respeito a andar de Metrô com a bicicleta. A ideia é para lá de genial, mas a sua realização precisava ser pensada. Supõe-se que quem pedala tem força para carregar a sua bike escada acima e abaixo. Ok. E quem está com o filho? E quem não consegue levantá-la? Uma ideia simples seria fazer uma canaleta ao lado dos degraus para empurrarmos a magrela. Afinal, o Metrô proíbe usar os elevadores ou as escadas rolantes das estações para chegarmos até a plataforma. Ou melhor, proibia. A partir do próximo sábado, poderemos subir com a bike pelas escadas rolantes. Viva a metamorfose ambulante!
Obs.: Mais uma boa notícia para quem gosta de pedalar e da sensação de morar no interior. O bairro Santo Amaro deve ser todo interligado por espaços destinados às bicicletas.

Conheça o Minhocão, em São Paulo

Estou muito encantada por usar a bicicleta como meio de transporte e lazer. Era um sonho antigo que agora virou realidade. E andar no Minhocão (viaduto no centro de Sâo Paulo), seja de bicicleta ou a pé, era outro. A construção bizarra – são cerca de 3,5 km de via elevada – corta ruas importantes para a história da cidade, está rodeada de edifícios interessantes como o Castelinho da rua Apa e a sua própria implementação revela que a cidade é pensada para a circulação de carros e não para as pessoas em transportes públicos. Andar de bicicleta nele, fazer o uso do concreto como um parque, traz a sensação de reivindicar o que é deveria ser de todos (clique na imagem para ver o vídeo post).

Saguis: bonitinhos, mas ordinários

Quem passeou de bondinho no Rio de Janeiro, pelo Pão-de-Açúcar, já deve ter visto aqueles macaquinhos engraçadinhos que ficam nos encarando com cara de pidão: os saguis. Eles encantam pela fisionomia e pelo jeito, porém causam um problemão por serem quando são uma espécie invasora no estado do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Esses saguis são originários da Mata Atlântica (não do Sudeste), mas de uma parte do bioma do Nordeste – leia mais sobre os saguis. Aqui, no Sudeste, eles foram introduzidos pelo homem. As más línguas dizem que as pessoas compravam os saguis como bicho de estimação. Porém, como o macaquinho é inquieto, acabavam abandonando em matas da cidade.

 

Não vou nem falar sobre a prática de ter em casa um bicho de estimação sem permissão legal e, tão péssimo quanto, largá-lo depois. Há um outro problema. Os saguis souberam se virar por aqui. Eles se alimentam de frutas, de insetos e de ovos de passarinho.

 

Há alguns anos, quando estive no Parque Estadual da Ilha Anchieta, em Ubatuba (litoral norte de São Paulo), um responsável pelo local me contou que os saguis estavam causando um desequilíbrio no ecossistema da ilha. Os saguis, por se alimentarem de ovos, diminuem a população de pássaros nativos que não conseguem defender sua cria. E agora, José?

 

Curiosidade: lá no Morro da Urca, vi um sagui passando seu filhotinho lindo para outro sagui. Achei estranho devido à nossa proximidade (humanos) deles e porque sempre, em documentários, vi a mãe macaca carregar o bichinho – clique na imagem ao lado para ver o filhotinho. A Maria Guimarães, do Ciência e Ideias, me contou que o macho sagui ajuda a fêmea a carregar o filhote. Afinal, levar um bebê pesadinho o dia todo junto ao corpo cansa.
Correções: Leia os comentários abaixo feitos pelo veterinário especializado em animais silvestres e fotógrafo Samuel Betkowski. “Existem SIM espécies de saguis originárias da região sudeste do Brasil. (…) Não existe problema nenhum nisso. Ainda, algumas espécies nativas do sudeste estão ameaçadas de extinção como é o caso do Sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita)”, explica.