A Extinção, a Ressurreição e o Oriente Médio

Por Elton Luiz Valente

Recentemente vi uma excelente matéria na TV sobre animais extintos. Alguns sabidamente extintos com a colaboração direta do homem, como o Dodô (Raphus cucullatus). O repórter perguntou sobre a possibilidade de “ressurreição” de algumas destas espécies. A pesquisadora entrevistada argumentou que não fazia sentido ressuscitar espécies extintas, mesmo aquelas extintas pela ação do homem, uma vez que, entre outras coisas, os ambientes onde elas viviam estão atualmente bastante modificados e, na maioria dos casos, a própria natureza já havia criado as condições para a extinção.

É bom que se diga que a extinção de espécies é uma regra da natureza, está longe de ser uma exceção. Mais cedo ou mais tarde todas as espécies, ou pelo menos a maioria delas, serão extintas, por morte ou modificações genéticas, dando lugar a novas espécies. O próprio Dodô era descendente de pombos migratórios que se instalaram em algumas ilhas da costa leste africana. Particularmente acredito que a ciência ressuscitará uma ou outra espécie, como o Mamute, para fins de conhecimento científico e, é claro, brincar de Deus. Afinal, são desafios dessa magnitude que movem a humanidade.

Mas a discussão sobre o fato de não fazer sentido ressuscitar espécies extintas é um argumento bastante plausível e interessante. É fácil imaginar os distúrbios ambientais causados pela reintrodução de animais extintos, uma vez que a natureza já selou os seus destinos e, além disso, as relações ecológicas e as condições ambientais dos seus locais de origem não são mais as mesmas. Como é recorrente nessa minha cabeça inquieta, fico buscando paralelos entre a dinâmica da natureza e o processo evolutivo das civilizações. Ora, direis: isso é tolice, no mínimo maluquice de um cronista amador! Eu vos direi, no entanto: mirem-se no exemplo do Oriente Médio! Observem que “os distúrbios” naquela região se agravaram muito desde que o Império Ocidental fincou ali sua bandeira em 1948, data da “ressurreição oficial” do Estado de Israel!

Vejam que a natureza dinâmica dos fatos históricos já havia extinguido o Estado Judeu desde priscas eras, que remontam os tempos bíblicos, tempos em que o Dodô nem sonhava com sua extinção, ocorrida há cerca 400 anos, em decorrência da chegada dos portugueses à costa leste da África.

O fato é que “ressuscitaram” o Estado Hebreu, a Nação de Davi. Vejam no que deu. As novas relações que surgiram daí provocaram profundos distúrbios em uma “ordem local” que já era frágil por natureza, que se equilibrava sob tensão na insustentável leveza geopolítica do Oriente Médio. E eis que ressurge o Estado de Israel, com toda a parafernália hi-tech-neobélica do Império Ocidental, invertendo os papéis entre Davi e Golias. Todos sabem que Israel só se mantém como estado porque recebe uma avalanche de recursos econômicos e políticos vindos do ocidente. Daí pra frente todo mundo conhece o enredo desse xaxado do cangaceiro doido. No sítio geográfico onde estão fincados os pilares do Estado Judeu, ele está rodeado de adversários, para não dizer inimigos ou predadores, prontos para dar o bote, o golpe final, o xeque-mate, ao primeiro descuido.

Não sei se é possível tirar daí alguma lição, mas que é uma boa referência ninguém há de negar.

Os Dinossauros e Deus

Por Elton Luiz Valente

 

A ciência vive de idéias e fatos, a cultura universal vive de idéias e fatos. O problema surge quando os fatos são manipulados e as idéias viram dogmas. Na seqüência, vem o encabrestamento dos homens e de sua capacidade de pensar e questionar o mundo que os cerca. Quem discorda das convenções sempre enfrenta o Tribunal do Santo Ofício.

Tudo bem que se acredite no Criacionismo. O absurdo é tentar impor sua aplicação como disciplina nas escolas. Pior, às vezes ele vem como plataforma política. Vide o governo Bush (2001-2009), seus simpatizantes e alguns outros exemplos mundo afora. Para os criacionistas Deus criou o mundo e tudo o que nele há. O relato absoluto desta epopéia é a Bíblia, escrita pelos homens, mas por inspiração e ordem expressas do Criador. Contando-se as gerações regressivas de Cristo até Adão, chega-se ao surpreendente cálculo de que o mundo, ou o universo, foi criado por Deus cerca de 5.000 a 6.000 anos atrás – estes são números oficiais. Alguns “criacionistas modernos” tentam empurrar “a data da criação” para cerca de 10.000 anos. Mas o fato é que antes disso não havia nada. “No princípio era o abismo e a escuridão” (Gênesis: 1).

Aos criacionistas uma questão simples e objetiva: por que a Bíblia não fala dos dinossauros? Ela não traz o relato absoluto, fiel e acabado da obra do Criador?

Existe uma resposta lapidar para esta questão. A pergunta e a resposta não são minhas. Tomei-as emprestadas de dois grandes amigos meus que pediram para permanecerem anônimos. Certa vez, não faz muito tempo, estávamos na casa de um deles em uma festa de fim de ano. Havíamos bebido alguma cerveja, é bom que se diga. Lá pelas tantas, um deles, o mais religioso, diga-se, questionou: – Por que a Bíblia não fala dos dinossauros, ela não deveria falar de tudo o que existe no mundo? O outro respondeu: – É porque os dinossauros são de antes de Deus!

Uma sábia resposta para uma oportuna pergunta! Gostei tanto que guardei-as em minhas anotações. E agora, “com o advento do Geófagos”, apresento-as à Comunidade Geofágica.

É curioso como muitas vezes é difícil enxergar o óbvio. O homem criou Deus no momento em que começou a pensar nele, criando assim o conceito de divindade. A Bíblia foi escrita depois, e muito antes do homem tomar conhecimento da existência dos Dinos, portanto eles não poderiam estar lá. Observe que você encontra na Bíblia o trigo, a uva, a oliveira, a ovelha, o camelo, a base da economia do Oriente Médio bíblico, mas não encontra o milho, a batata, o cacau, o amendoim e a lhama, produtos típicos do Novo Mundo, da América Pré-Colombiana no período equivalente. É simples, Deus na Bíblia só sabe daquilo que o homem sabia.

Enxergar o óbvio quando se trata de religião é ainda pior, fomos criados por nossos pais, pelo menos a maioria de nós, com Deus sempre presente, à espreita, vigiando, ameaçando, “vendo fazer tudo que se faz dentro do banheiro” (Raul Seixas em Paranóia), aí fica difícil para muita gente imaginar-se sem Deus, imaginar o mundo sem Deus. O medo às vezes é tanto que alguns nem cogitam pensar no assunto. E assim caminha a humanidade, em círculos, na velha caverna de Platão.

 

Aos evolucionistas e interessados.

Acessando hoje o blog do Luiz Bento descobri que a primeira Nature de 2009 trouxe uma surpresa agradável. Uma compilação de importantes “jóias da evolução” em um artigo. Para saber mais acesse o Discutindo Ecologia aqui. O link do artigo se encontra aqui.
PS: Vale a pena ler a discussão do Luiz no Discutindo Ecologia. Portanto, além do artigo leiam também o post.

Um desafio – Parte II

Conforme prometido segue abaixo a segunda parte do documentário do canal 4 britânico sobre a suposta Farsa do Aquecimento Global (é verdade que com alguns dias de atraso, mas, antes tarde do que nunca). Já antecipo que continuo achando o vídeo extremamente radical. O oposto do movimento ambientalista. Algo como Dawkins vs Criacionistas. Os comentários virão posteriormente ao vídeo.

Como já disse anteriormente não sou especialista na área. Uma análise técnica do vídeo pode ser encontrada aqui. Porém, arriscarei algumas opiniões pessoais a respeito de dados apresentados. Procurarei fazê-lo enfocando aspectos diferentes aos aboradados no último link.
Esse segundo vídeo inicia-se com uma, ao meu ver, propaganda favorável à sociedade industrial. Diga-se de passagem um vídeo bem próximo daqueles institucionais apresentados durante visitas técnicas em grandes empresas, por exemplo.
O próprio vídeo diz que, pela teoria do aquecimento global antropogênico, o crescimento industrial deveria causar elevação da temperatura. Relação óbvia entre aumento de emissão dos gases do efeito estufa x elevação da temperatura. Para contestar essa hipótese o vídeo apresenta um intervalo entre 1940 e 1980 (aproximadamente) onde a temperatura global aparentemente decresce. Contraditoriamente esse é um período de crescimento industrial (pelo menos parte dele). Mas algumas considerações devem ser feitas. A primeira delas é relativa à seleção do intervalo de tempo. Quando avalia-se os dados apresentados no vídeo logo percebe-se que a temperatura aumenta significativamente após o período industrial, marcado principalmente por seu início a partir das duas revoluções industriais, entre os séculos XVIII e XIX. Sabe-se também que essas revoluções foram baseadas em combustíveis “sujos”, principalmente o carvão mineral. E sabe-se também que houve uma mudança significativa nos meios produtivos principalmente a partir da segunda revolução, entre 1860 e 1900. Portanto, o gráfico, ao contrário do que é dito no vídeo, apresenta sim uma relação, ao meu ver, clara entre industrialização e elevação da temperatura. A não ser que por uma incrível ação do destino algo, como elevação da atividade solar, apresentou comportamento muito próximo à elevação da atividade industrial.
gráfico
Fonte: http://i157.photobucket.com/albums/t63/izzy_bizzy_photo/capture.jpg
Os baixos níveis de emissão registrados por carros e aviões (veículos automotivos) também e citado como um dos aspectos que não se “encaixariam” com a elevação da temperatura no período anterior à guerra. Ora, ora, só “esqueceram”, mais uma vez, de dizer que esse período (entre a segunda revolução industrial e a segunda guerra mundial) foi marcado pela definitiva mudança nos meios produtivos. Foi aí que as máquinas (movidas à carvão inicialmente) definitivamente se tornaram a base dos meios produtivos. 
Como cientista e adorador da ciência, obviamente, não posso descartar a influência de fatores naturais, entretanto, o efeito antropogênico também deve ser levado em consideração. Quanto ao período de declínio da temperatura, os modelos atuais já mostram que ele pode não ter sido tão expressivo. Outros trabalhos ainda mostram que o efeito de aerossóis de sulfato podem ser os responsáveis pelo mesmo. Além disso, tem que se lembrar que o berço da revolução industrial (europa) passava, principalmente entre os anos 40 e 50 por um período difícil, se recuperando da II Guerra Mundial, que ocorreu entre 1939 e 1945. Obviamente, esses fatos tiveram efeito sobre as taxas de crescimento industrial no velho continente.
A simplificação do fenômeno do aquecimento global também é um erro. O documentário frisa demais a relação CO2 temperatura, esquecendo que a teoria é muito mais complexa que isso. Além de outros gases do efeito estufa estarem relacionados com o aquecimento, ainda existem fatores naturais influindo. Existem também, no sentido contrário, outros fatores que podem causar arrefecimento, como os já citados aerossóis de sulfato. É óbvio que o aquecimento é função da interação de todos esses fatores. Descaracterizar um ou outro, visando benefícios duvidosos, na singela opinião desse que aqui vos escreve, é algo sem sentido. Pelo menos isso é esperado no campo científico.
semttulokl2
Em vermelho (Temperatura)
Em azul (níveis de CO2 atmosféricos)
Fonte: http://img529.imageshack.us/img529/4963/semttulokl2.jpg
Em parte do vídeo, um dos entrevistados também deixa a entender que a preocupação com o CO2  pode ser contestada pela quantidade ínfima em que ele está presente na atmosfera. Ora, mas o efeito estufa, tido como um dos pilares para existência de vida na terra, é atribuído à uma assembléia de gases atmosféricos. Vapor d´água, CO2, CH4, etc. Não entendo como não atribuir ao aumento de tais gases uma possível elevação nas temperaturas médias do planeta. Filosoficamente isso é possível. Basta agora saber se cientificamente isso se comprova. Para tal, é necessário que ambos os lados existam, os que acreditam e os que não acreditam na teoria do aquecimento global antropogênico. É necessário confrontar-se os dados. Para tal, é necessário primeiro gerar-se os dados. Portanto, ambos são importantes. Mais ainda, a descaracterização de um pelo outro não levará a ciência a lugar nenhum. Ações como essas me fazem pensar em interesses “ocultos”. A boa e velha teoria da conspiração.
O vídeo é encerrado com uma discussão sobre a teoria (e vejam que eu disse teoria)  que aborda que, na troposfera, as temperaturas em elevadas altitudes deveriam ser maiores que em altitudes menores. A discussão continua na terceira parte do documentário e, devido a isso, abordarei tal tema na próxima postagem.
Enfim, essas são minhas opiniões. Continuando nossa discussão espero a opinião dos leitores.
Até a próxima.
Carlos Pacheco

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