Atrasado mas ainda em tempo: um pequeno manifesto contra o corte no orçamento do MCT!

Essa semana a ciência brasileira sofreu um duro golpe. Nada mais, nada menos que 18 % do orçamento elaborado pela União foram “foiçados” pelo congresso Nacional. Ainda não sentiu o drama? Isso equivale a cerca de 1,2 bilhões de reais. Isso mesmo, 1,2 bilhões de reais (comparado a países desnvolvidos isso é pouco, mas para a ciência brasileira…)! Esse valor é 10 % maior que toda a receita a agência financiadora estadual mais bem provida financeiramente do país, a Fapesp (Fundação de Amparo a Pesquisa de São Paulo), segundo publicou a Folha Online em sua edição do dia 22/01/2009.
O estapafúrdio ato foi elaborado pelo senador petista Delcídio Amaral (MS), aquele mesmo presidente da CPMI dos correios. Alguém poderia, por obséquio, avisar o senhor relator que, só os benefícios que ele pode receber mensalmente, pagam algo em torno de 5 bolsas de doutorado (cerca de R$ 1800,00). Se multiplicarmos os benefícios (veja que não estou falando de salários e sim de benefícios) de “vossas excelências” (que podem chegar a cerca de R$ 10000,00) pelo número de Deputados Federais e Senadores (513+27 = 540) chega-se à quantia de R$ 5400000,00. Dividindo isso pelos citados R$ 1800,00, chegaríamos a cerca de 3000 bolsas de doutorado mensais. Se cortes têm realmente que serem feitos, por que não começar com as mordomias de “nossos representantes”?
Acho que é desnecessário tecer comentários a respeito da relação custo-benefício de pagar-se bolsas de doutorado (ou mestrado) quando comparadas aos “mimos” pagos à vossas-excelências, né? Além disso, o Brasil segue no rumo oposto das grandes economias mundiais. Enquanto eles investem em ciência e tecnologia para sair da difícil situação, aqui corta-se verbas dessa mesma área.
Essa notícia me fez lembrar a “dark age” do intelectual sociólogo e de seu discípulo, ministro da educação Paulo Renato de Souza. Quem não se lembra da política de “arrochamento” adotada para com as Instituições Federais de Ensino? Bolsistas da época sabem bem do que estou falando, afinal de contas foram 8 anos de congelamento. 
Ademais, será que teremos que voltar à era de peregrinação aos laboratórios em busca de reagentes e equimpamentos, a boa e velha “saga em busca do ácido clorídrico”? E os recém aprovados Institutos Nacionais de Tecnologia, como ficam? Será que, como disse o próprio ministro Sérgio Rezende, bolsistas realmente serão “demitidos”? São perguntas ainda sem resposta e que, dependem sobretudo, da força política do presidente Lula. Afinal, não é ele o ícone petista?
Espero, sinceramente, que as melhorias advindas da política para com a educação federal do atual governo e praticadas desde 2002 não sejam jogadas ralo abaixo agora. Pro-Unis, Reunis, reajustes salariais e de bolsas de nada adiantam sem verbas, infra-estrutura, equipamentos e matéria prima suficientes para condução dos trabalhos. O momento EXIGE pesado investimento em tecnologia. É hora do presidente honrar o seu discurso na WEC 2008 (World Engineers Convention), realizada em Brasília. “Esta crise internaciolnal obriga a todos nós, de forma profunda, a desenvolver uma capacidade imensa de melhor aproveitar os recursos e propor soluções. É momento da retomada do desenvolvimento”, foram as palavras de Lula. Em suma, o governo pretende investir em tecnologia e, para tal, deve articular-se politicamente para revogar a infeliz decisão do Congresso Nacional.
Carlos Pacheco

Um desafio – Parte final: Aquecimento global antropogênico ou não? Uma questão ainda sem resposta.

Por motivos pessoais e profissionais precisei me afastar do Geófagos nos últimos dias. O tempo foi bom pois pude aprofundar um pouco mais nas questões referentes ao aquecimento global antropogênico. Os estudos foram bem proveitosos, entretanto, as conclusões que tirei foram um tanto quanto desanimadoras. Além de ver novamente o documentário que deu origem a essa série de posts, pude ler o “A fraude do esfeito estufa” de Kurt G. Bluchel, alguns artigos e também alguns capítulos de livros textos sobre Geologia e Climatologia. Resolvi encerrar logo esse assunto. Colocarei aqui minhas opiniões sobre argumentos de ambos os lados, favoráveis e contra a teoria.
Para início de conversa os links do documentário são esse, esse, esse, esse, esse, esse e esse. Estou colocando somente os links do vídeo por dois motivos, quais sejam: (1) para não sobrecarregar o post e; (2) porque fui alertado sobre os riscos de inserir vídeos produzidos por grandes canais sem autorização dos mesmos.
Confesso que alguns dados me impressionaram. Deixando de lado algumas convicções pessoais e assumindo verdadeiros os dados apresentados nas fontes consultadas, observei claramente a forte influência da forçante natural no aquecimento global. Observando as curvas de CO2 x temperatura e Atividade Solar x temperatura, exibidas no documentário, isso fica evidente. As segundas se correlacionam de maneira muito mais satisfatória do que as primeiras. Essas curvas, mostradas na figura 1, exibem dados relativos ao último século. A curva com dados simulados dos últimos 600000 anos, como pode ser visto na terceira parte do documentário, também apresenta uma boa correlação.
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Figura 1: Curvas CO2 x temperatura e Atividade solar x temperatura.
O argumento que fenômenos de aquecimento e resfriamento globais estão constantemente ocorrendo também é verdadeiro. A suposta entrada do globo em uma era natural de aquecimento também o é. Observe na figura 2 que o comportamento do clima ao longo do tempo geológico é cíclico e está relacionado à formação e desagregação de supercontinentes. O período de separação e amalgamação é quente, enquanto que períodos de junção e de estabilidade do supercontinente são marcados por eras glaciais. O final dos períodos quentes são acompanhados de uma queda brusca na temperatura e uma mini-glaciação e posterior elevação da temperatura durante um curto período de tempo. As causas desse comportamento ainda são desconhecidas e antecedem a era glacial propriamente dita (um elevado período de frio intenso). Caso o clima esteja seguindo seu curso normal, de acordo com o modelo proposto pelo geólogo australiano J. J. Veevers, estamos na ascenção, quase inicial, da curva que representa uma era interglacial quente. Esse período quente, segundo previsões, deve durar alguns milhares ou dezenas de milhares de anos. A nova era glacial é esperada para algo por volta de oitenta milhões de anos. É importante frisar que cada ciclo dura aproximadamente 400 milhões de anos e, a figura 2, refere-se aos três últimos ciclos correspondentes aos supercontinentes Rodínia (1 bilhão de anos), Pannótia (600 milhões de anos) e Pangea (250 milhões de anos), conforme mostrado na figura 3.
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Figura 2: Modelo proposto por Veevers para explicar a variação climática ao longo dos últimos 1,1 bilhão de anos. Fonte: Decifrando a Terra.
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Figura 3: Três últimos supercontinentes ao longo da evolução do planeta. Fonte: Decifrando a Terra.
Por outro lado, parece-me que os adeptos ao aquecimento global não antropogênico por vezes “esquecem” que o clima é resultado da combinação de diversos fatores e não apenas da atividade solar ou de outros fatores isolados. Além de variações na atividade solar, a composição da atmosfera (gases estufa por exemplo), alterações nas posição e níveis de continentes e oceanos, níveis dos mares e causas extra-terrenas, entre outros, também influem sobremaneira. Por exemplo, de nada adianta um elevado aporte de radiação de onda curta solar se não houver gases estufa suficientes para reter as radiações longas (infravermelhas) refletidas pela superfície do planeta.
Outras afirmações, como a temperatura deveria ser mais alta na alta troposfera do que na baixa troposfera entram em conflito com colocações dos próprios cientistas entrevistados. Eles criticam o IPCC por basear seus relatórios na simulação por modelos. Mas essas afirmações também são baseadas em modelagem. Logo, por uma questão de coerência, ela não deveria ser levada em consideração por eles.
Quanto ao CO2 aumentando posteriormente à temperatura, é uma questão válida, mas não fundamental. Em uma rápida corrida de olho nos gráficos, observei alguns períodos cuja temperatura eleva-se antes dos níveis de CO2 e outros que esses últimos antecedem a temperatura. É uma questão óbvia, uma vez que são fenômenos intimamente interligados. Por exemplo, um aumento na temperatura significa menor difusão de CO2 no grande reservatório dele, os mares. Consequentemente, maiores teores de CO2 serão liberados para a atmosfera. Além disso, também maiores níveis de decomposição de matéria orgânica podem ser alcançados, elevando o aporte atmosférico de dióxido de carbono. Já o efeito estufa, eleva a temperatura por meio da maior absorção de raios infravermelhos por gases estufa.
Já algumas outras afirmações dos não adeptos à teoria podem ser classificadas, minimamente, como esdrúxulas. Imaginem que pérolas como o elevado aporte de CO2 pode ser a solução para a fome mundial pois favorece a fotossíntese ou não haverá extinção de espécies devido ao aquecimento global e sim, favorecimento das mesmas, foram encontradas por mim durante a pesquisa. Fato é que, se as condições permanecerem ótimas, a fotossíntese realmente é favorecida por incrementos nos níveis de CO2. No entanto, o processo é mais complexo que isso e dependente de outros fatores. Por exemplo, quando pensamos em produção vegetal para fins agrícolas, também devemos lembrar da necessidade de nutrientes, disponibilidade hídrica, controle de pragas, entre outras. E grande parte dessas questões estão ligadas ao clima, portanto, tem que se considerar também quais as mudanças deido ao aumento dos níveis de gases estufa. Quanto à não existência de extinção de espécies, é melhor nem comentar.
Por outro lado, os defensores do aquecimento global antropogênico devem ser menos dogmáticos. Tratar quem critica a teoria como se fossem pecadores julgados por tribunais de inquisição católicos só trará malefícios à ciência. A discussão é saudável e, quase sempre, leva a conhecimentos mais avançados do que os iniciais. Filosoficamente, é plenamente possível que o efeito estufa realmente leve a significativas elevações das temperaturas médias mundiais, com as significativas mudanças por ele provocado. Entretanto, não acredito que tenhamos dados significativos para provar a real significância de tal efeito. O que é evidente, pois nos outros ciclos climáticos ao longo do tempo geológico não tinhamos o fator homem para verificarmos sua parcela de culpa. Modelos são sim falhos e refletem os dados de entrada, isso é óbvio. Antes de utilizar-se modelos de previsão, é necessário ter dados suficientes para suportá-los e calibra-los. Ou seja, a discussão deve continuar para esclarecer quais os efeitos da ação antrópica sobre o clima e, mais que isso, qual a intensidade dos fenômenos que virão.
Entretanto, acredito que a discussão pura e simples, sem ações prévias, é perda de tempo. O consenso quanto ao aquecimento global e seus efeitos existe. Veja que eu disse consenso quanto ao aquecimento global, não especificando a origem do mesmo. O que não há é um consenso sobre a origem desse aquecimento, se é antrópica ou natural. Acredito na combinação de ambos. Admitindo o consenso, não seria mais óbvio reduzir a vulnerabilidade da população aos efeitos advindos das mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, discutir-se a origem e intensidade dos fenômenos que virão? Além disso, a discussão, se as emissões são ou não antropogênicas, principalmente levando-a para sentidos duvidosos como a defesa da sociedade industrial, é desnecessária. Afinal, se ainda não tem-se uma conclusão concreta sobre a participação dos “gases estufa” sobre o aquecimento do planeta, já tem-se informações suficientes sobre aspectos toxicológicos relacionados à poluição atmosféricas. Não obstante, invocar aspectos como a pobreza dos países africanos para justificar a continuidade dos meios de produção atuais me parece uma falta de ética e de humanidade tremenda. Não foi durante a própria sociedade industrial que as desigualdades mundiais aumentaram? Pergunte a um etíope, queniano ou somaliano comum se o século de desenvolvimento industrial trouxe benefícios. A resposta nem precisa ser dada.
Agora para aqueles que ainda duvidam da capacidade da vida em ocasionar grandes mudanças no planeta, sugiro estudarem um pouco o tempo geológico e as mudanças ao longo dele. Por exemplo, a modificação proporcionada pela fotossíntese, transformando uma atmosfera tipicamente redutora em outra fortemente oxidante e as consequências de tudo isso. O oxigênio é, inclusive, tido por alguns autores como o primeiro grande poluente devido às mudanças que ele proporcionou e às extinções ocorridas. E do surgimento da fotossíntese já se foram 2,7 bilhões de anos. Sugiro também ver o tempo geológico em um ano, proposto por Gradstein & Ogg (1996) e exibido em sua versão “aportuguesada” no livro Decifrando a Terra, de Teixeira et al. (2003). Para ter-se idéia da magnitude das mudanças proporcionadas pela sociedade, se transportarmos os acontecimentos ao longo do tempo geológico, toda a sociedade industrial cabe no último segundo do fictício ano.
Enfim, independente da origem devemos combater aspectos que tornam a sociedade atual mais vulneráveis aos efeitos do aquecimento global. A discussão deve continuar e ser levada em termos científicos e não na defesa de interesses, sejam eles ambientalistas ou industriais.
Carlos Pacheco

Estou voltando

Leitores e amigos, não pensem que os abandonei. Como alguns devem lembrar, deixei o pós-doutorado em Recife para assumir o cargo de pesquisador na Embrapa Hortaliças, em Brasília-DF. Estou neste complicado período inicial, ainda sem casa, embora pretenda resolver isto esta semana mesmo, familiarizando-me com o ambiente, com as pessoas e com o emprego. De toda forma, creio que fiz um bom negócio. Pretendo voltar a escrever regularmente o mais breve possível – por enquanto ainda estou sem computador, então fica difícil. O Elton Valente e o Carlos Pacheco, no entanto, tem feito um ótimo trabalho aqui no Geófagos, mantendo a regularidade na postagem e postando excelentes textos, pelo que fico mais tranquilo. Um bom 2009 para nós todos.

A esperança, a ilusão e os atrasos da humanidade

Por Elton Luiz Valente

Nota: O título destas linhas poderia muito bem ser Um Pouco de Semântica (o que diz respeito ao significado dos signos, das palavras), ou Para Falar de Semântica e Advérbios (de que, segundo Reinaldo Azevedo, Umberto Eco tanto gostava em O Nome da Rosa), mas eu prefiro este título que foi usado porque ele é imperativo. Alguém pode observar que esperança e ilusão não são advérbios, muito pelo contrário, são substantivos. Correto! Mas são palavras muito ligadas “ao modo” como a humanidade conduz as coisas. E o modo é a seara dos advérbios. Por isso, talvez, Umberto Eco gostasse tanto deles. É na subjetividade (adverbial) que se desvenda a essência da humanidade.

Enfim! Existem algumas coisas da essência humana que tornam este mundo pior. Eu as considero como subprodutos, ou efeitos colaterais da inteligência humana. Um exemplo? A ilusão! Ilusão somada à esperança é então um veneno. A ilusão de que existe vida após a morte e um paraíso a ser conquistado, e regido por Deus, já rendeu muitas epopéias homéricas, a grande maioria delas sanguinárias, com guerras, destruições, martírios, caça às bruxas, execuções sumárias e genocídios.

A esperança, sozinha, é muitas vezes benéfica. Exemplos? Para ficar apenas naqueles assistidos por minha geração: tínhamos a esperança de ver o Muro de Berlim ruir. Ruiu! Ou seja, na queda o Comunismo (histórico) foi junto. Não tínhamos a ilusão de que o mundo seria maravilhoso depois da queda do muro, não! O mundo, por assim dizer, apenas voltaria à sua “pulsação” normal, à sua “velocidade de cruzeiro”. O muro era apenas um obstáculo (sobretudo simbólico, adverbial), um efeito retardador.

Antes disso, muitos acreditaram (olha aí a ilusão) que o Comunismo pudesse deixar o mundo mais justo e igualitário. Inclusive combatiam as religiões, tratando-as como “ilusões burguesas” (no Brasil produziu-se uma excrescência híbrida chamada Teologia da Libertação). Enfim! Na seqüência surgiram ditadores comunistas iguais ou muito piores do que os outros. Para explicar de outro modo, observem um detalhe: a esperança quando acaba se dá, geralmente, sob um processo brando, às vezes nostálgico. A ilusão quando acaba, é em razão de um processo traumático, ou desencadeia um processo traumático. Pois a esperança não é definitiva, ao contrário, é diplomática, maleável. A ilusão é definitiva, e tem efeito psicotrópico, opiáceo. A esperança pode ser praticada sozinha, sem ser “assaltada” pela ilusão. O verbo acreditar, usado no início deste parágrafo, é o oposto, está a um passo da ilusão, principalmente quando conjugado no presente do indicativo, aí a receita é quase infalível. Por isso Tomé, o apóstolo, precisa ser respeitado, porque era um sábio e não um incrédulo simplesmente.

Outro exemplo, mais contemporâneo ainda: muitos acreditaram (a ilusão de novo) que o Partido dos Trabalhadores (PT) fosse resgatar a Ética e a Moralidade “como nunca antes na história desse país“. O que se viu foi um escárnio despudorado, público e notório, como nunca antes na história deste país, inclusive com lances absurdos, inacreditáveis, de uma promiscuidade nojenta e autofágica entre os Três Poderes da República. Leiam A Revolução dos Bichos, de George Orwell, está tudo lá! E olha que o original do livro foi publicado na Inglaterra em 1945.

Uma questão de hoje: Os EUA, e o mundo, tinham a esperança (I have a dream, M. L. King, 1963), de ver um negro na Casa Branca. Ele chegou! O problema é que junto dessa esperança vem a ilusão de que tudo vá mudar para melhor. Ilusão!

Outra esperança umbilicalmente unida e ungida na ilusão é a de que um dia haverá paz no Oriente Médio. Para se vislumbrar uma remotíssima possibilidade (o que é uma utopia das grandes) seria preciso de início restaurar o mapa do Oriente Médio, restaurar as fronteiras anteriores ao domínio franco-britânico do acordo Sykes-Picot (1916), ou seja, o mapa do Império Otomano. Fazer com que judeus e palestinos esqueçam essa bobagem de cada um ter um país próprio, assim como o povo do sul do Brasil esqueceu a República dos Pampas, e convivam, numa adversidade branda e respeitosa, como paulistas e sulistas. Sabe a probabilidade de acontecer isso? É nula! O porquê eu já disse no início deste parágrafo. A esperança ungida na ilusão!

Quero dizer, com essa história toda, que a humanidade é refém de suas próprias crenças e ilusões. Dando pouco valor à lucidez e à racionalidade (ferramentas da ciência). E estas, podem sim, fazer par com a esperança em alguns momentos. E são elas, a lucidez e a racionalidade, que poderiam nos tirar da Caverna (de Platão). Poderiam, mas não podem! Não podem porque a ilusão não deixa!

Nota de Rodapé

Por Elton Luiz Valente

Uma das principais regras para um bom colunista, ou cronista, é não fazer previsões e vaticínios. Tendo em vista que não me considero um bom cronista, vou fazer uma previsão que, para alguns, não é previsão, é apenas o óbvio.

Já afirmei aqui no Geófagos o que penso sobre a eleição de Barack Obama. Ele assume seu governo na próxima semana, toma posse do dia 20, se não me engano. Sabe o que vai mudar? Nada! Tudo vai continuar na mesma toada de sempre. Sabe por quê? É simples. Porque políticos são políticos! Não importa a origem, a etnia, o partido, o credo, o contexto histórico. Não importa nada. A lógica que os move é só uma. E eles valsam no ritmo da orquestra. Ora, direis: e o povo? Eu vos direi, no entanto: depois da eleição o povo é só o povo!

A Extinção, a Ressurreição e o Oriente Médio

Por Elton Luiz Valente

Recentemente vi uma excelente matéria na TV sobre animais extintos. Alguns sabidamente extintos com a colaboração direta do homem, como o Dodô (Raphus cucullatus). O repórter perguntou sobre a possibilidade de “ressurreição” de algumas destas espécies. A pesquisadora entrevistada argumentou que não fazia sentido ressuscitar espécies extintas, mesmo aquelas extintas pela ação do homem, uma vez que, entre outras coisas, os ambientes onde elas viviam estão atualmente bastante modificados e, na maioria dos casos, a própria natureza já havia criado as condições para a extinção.

É bom que se diga que a extinção de espécies é uma regra da natureza, está longe de ser uma exceção. Mais cedo ou mais tarde todas as espécies, ou pelo menos a maioria delas, serão extintas, por morte ou modificações genéticas, dando lugar a novas espécies. O próprio Dodô era descendente de pombos migratórios que se instalaram em algumas ilhas da costa leste africana. Particularmente acredito que a ciência ressuscitará uma ou outra espécie, como o Mamute, para fins de conhecimento científico e, é claro, brincar de Deus. Afinal, são desafios dessa magnitude que movem a humanidade.

Mas a discussão sobre o fato de não fazer sentido ressuscitar espécies extintas é um argumento bastante plausível e interessante. É fácil imaginar os distúrbios ambientais causados pela reintrodução de animais extintos, uma vez que a natureza já selou os seus destinos e, além disso, as relações ecológicas e as condições ambientais dos seus locais de origem não são mais as mesmas. Como é recorrente nessa minha cabeça inquieta, fico buscando paralelos entre a dinâmica da natureza e o processo evolutivo das civilizações. Ora, direis: isso é tolice, no mínimo maluquice de um cronista amador! Eu vos direi, no entanto: mirem-se no exemplo do Oriente Médio! Observem que “os distúrbios” naquela região se agravaram muito desde que o Império Ocidental fincou ali sua bandeira em 1948, data da “ressurreição oficial” do Estado de Israel!

Vejam que a natureza dinâmica dos fatos históricos já havia extinguido o Estado Judeu desde priscas eras, que remontam os tempos bíblicos, tempos em que o Dodô nem sonhava com sua extinção, ocorrida há cerca 400 anos, em decorrência da chegada dos portugueses à costa leste da África.

O fato é que “ressuscitaram” o Estado Hebreu, a Nação de Davi. Vejam no que deu. As novas relações que surgiram daí provocaram profundos distúrbios em uma “ordem local” que já era frágil por natureza, que se equilibrava sob tensão na insustentável leveza geopolítica do Oriente Médio. E eis que ressurge o Estado de Israel, com toda a parafernália hi-tech-neobélica do Império Ocidental, invertendo os papéis entre Davi e Golias. Todos sabem que Israel só se mantém como estado porque recebe uma avalanche de recursos econômicos e políticos vindos do ocidente. Daí pra frente todo mundo conhece o enredo desse xaxado do cangaceiro doido. No sítio geográfico onde estão fincados os pilares do Estado Judeu, ele está rodeado de adversários, para não dizer inimigos ou predadores, prontos para dar o bote, o golpe final, o xeque-mate, ao primeiro descuido.

Não sei se é possível tirar daí alguma lição, mas que é uma boa referência ninguém há de negar.

Os Dinossauros e Deus

Por Elton Luiz Valente

 

A ciência vive de idéias e fatos, a cultura universal vive de idéias e fatos. O problema surge quando os fatos são manipulados e as idéias viram dogmas. Na seqüência, vem o encabrestamento dos homens e de sua capacidade de pensar e questionar o mundo que os cerca. Quem discorda das convenções sempre enfrenta o Tribunal do Santo Ofício.

Tudo bem que se acredite no Criacionismo. O absurdo é tentar impor sua aplicação como disciplina nas escolas. Pior, às vezes ele vem como plataforma política. Vide o governo Bush (2001-2009), seus simpatizantes e alguns outros exemplos mundo afora. Para os criacionistas Deus criou o mundo e tudo o que nele há. O relato absoluto desta epopéia é a Bíblia, escrita pelos homens, mas por inspiração e ordem expressas do Criador. Contando-se as gerações regressivas de Cristo até Adão, chega-se ao surpreendente cálculo de que o mundo, ou o universo, foi criado por Deus cerca de 5.000 a 6.000 anos atrás – estes são números oficiais. Alguns “criacionistas modernos” tentam empurrar “a data da criação” para cerca de 10.000 anos. Mas o fato é que antes disso não havia nada. “No princípio era o abismo e a escuridão” (Gênesis: 1).

Aos criacionistas uma questão simples e objetiva: por que a Bíblia não fala dos dinossauros? Ela não traz o relato absoluto, fiel e acabado da obra do Criador?

Existe uma resposta lapidar para esta questão. A pergunta e a resposta não são minhas. Tomei-as emprestadas de dois grandes amigos meus que pediram para permanecerem anônimos. Certa vez, não faz muito tempo, estávamos na casa de um deles em uma festa de fim de ano. Havíamos bebido alguma cerveja, é bom que se diga. Lá pelas tantas, um deles, o mais religioso, diga-se, questionou: – Por que a Bíblia não fala dos dinossauros, ela não deveria falar de tudo o que existe no mundo? O outro respondeu: – É porque os dinossauros são de antes de Deus!

Uma sábia resposta para uma oportuna pergunta! Gostei tanto que guardei-as em minhas anotações. E agora, “com o advento do Geófagos”, apresento-as à Comunidade Geofágica.

É curioso como muitas vezes é difícil enxergar o óbvio. O homem criou Deus no momento em que começou a pensar nele, criando assim o conceito de divindade. A Bíblia foi escrita depois, e muito antes do homem tomar conhecimento da existência dos Dinos, portanto eles não poderiam estar lá. Observe que você encontra na Bíblia o trigo, a uva, a oliveira, a ovelha, o camelo, a base da economia do Oriente Médio bíblico, mas não encontra o milho, a batata, o cacau, o amendoim e a lhama, produtos típicos do Novo Mundo, da América Pré-Colombiana no período equivalente. É simples, Deus na Bíblia só sabe daquilo que o homem sabia.

Enxergar o óbvio quando se trata de religião é ainda pior, fomos criados por nossos pais, pelo menos a maioria de nós, com Deus sempre presente, à espreita, vigiando, ameaçando, “vendo fazer tudo que se faz dentro do banheiro” (Raul Seixas em Paranóia), aí fica difícil para muita gente imaginar-se sem Deus, imaginar o mundo sem Deus. O medo às vezes é tanto que alguns nem cogitam pensar no assunto. E assim caminha a humanidade, em círculos, na velha caverna de Platão.

 

Aos evolucionistas e interessados.

Acessando hoje o blog do Luiz Bento descobri que a primeira Nature de 2009 trouxe uma surpresa agradável. Uma compilação de importantes “jóias da evolução” em um artigo. Para saber mais acesse o Discutindo Ecologia aqui. O link do artigo se encontra aqui.
PS: Vale a pena ler a discussão do Luiz no Discutindo Ecologia. Portanto, além do artigo leiam também o post.

Um desafio – Parte II

Conforme prometido segue abaixo a segunda parte do documentário do canal 4 britânico sobre a suposta Farsa do Aquecimento Global (é verdade que com alguns dias de atraso, mas, antes tarde do que nunca). Já antecipo que continuo achando o vídeo extremamente radical. O oposto do movimento ambientalista. Algo como Dawkins vs Criacionistas. Os comentários virão posteriormente ao vídeo.

Como já disse anteriormente não sou especialista na área. Uma análise técnica do vídeo pode ser encontrada aqui. Porém, arriscarei algumas opiniões pessoais a respeito de dados apresentados. Procurarei fazê-lo enfocando aspectos diferentes aos aboradados no último link.
Esse segundo vídeo inicia-se com uma, ao meu ver, propaganda favorável à sociedade industrial. Diga-se de passagem um vídeo bem próximo daqueles institucionais apresentados durante visitas técnicas em grandes empresas, por exemplo.
O próprio vídeo diz que, pela teoria do aquecimento global antropogênico, o crescimento industrial deveria causar elevação da temperatura. Relação óbvia entre aumento de emissão dos gases do efeito estufa x elevação da temperatura. Para contestar essa hipótese o vídeo apresenta um intervalo entre 1940 e 1980 (aproximadamente) onde a temperatura global aparentemente decresce. Contraditoriamente esse é um período de crescimento industrial (pelo menos parte dele). Mas algumas considerações devem ser feitas. A primeira delas é relativa à seleção do intervalo de tempo. Quando avalia-se os dados apresentados no vídeo logo percebe-se que a temperatura aumenta significativamente após o período industrial, marcado principalmente por seu início a partir das duas revoluções industriais, entre os séculos XVIII e XIX. Sabe-se também que essas revoluções foram baseadas em combustíveis “sujos”, principalmente o carvão mineral. E sabe-se também que houve uma mudança significativa nos meios produtivos principalmente a partir da segunda revolução, entre 1860 e 1900. Portanto, o gráfico, ao contrário do que é dito no vídeo, apresenta sim uma relação, ao meu ver, clara entre industrialização e elevação da temperatura. A não ser que por uma incrível ação do destino algo, como elevação da atividade solar, apresentou comportamento muito próximo à elevação da atividade industrial.
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Fonte: http://i157.photobucket.com/albums/t63/izzy_bizzy_photo/capture.jpg
Os baixos níveis de emissão registrados por carros e aviões (veículos automotivos) também e citado como um dos aspectos que não se “encaixariam” com a elevação da temperatura no período anterior à guerra. Ora, ora, só “esqueceram”, mais uma vez, de dizer que esse período (entre a segunda revolução industrial e a segunda guerra mundial) foi marcado pela definitiva mudança nos meios produtivos. Foi aí que as máquinas (movidas à carvão inicialmente) definitivamente se tornaram a base dos meios produtivos. 
Como cientista e adorador da ciência, obviamente, não posso descartar a influência de fatores naturais, entretanto, o efeito antropogênico também deve ser levado em consideração. Quanto ao período de declínio da temperatura, os modelos atuais já mostram que ele pode não ter sido tão expressivo. Outros trabalhos ainda mostram que o efeito de aerossóis de sulfato podem ser os responsáveis pelo mesmo. Além disso, tem que se lembrar que o berço da revolução industrial (europa) passava, principalmente entre os anos 40 e 50 por um período difícil, se recuperando da II Guerra Mundial, que ocorreu entre 1939 e 1945. Obviamente, esses fatos tiveram efeito sobre as taxas de crescimento industrial no velho continente.
A simplificação do fenômeno do aquecimento global também é um erro. O documentário frisa demais a relação CO2 temperatura, esquecendo que a teoria é muito mais complexa que isso. Além de outros gases do efeito estufa estarem relacionados com o aquecimento, ainda existem fatores naturais influindo. Existem também, no sentido contrário, outros fatores que podem causar arrefecimento, como os já citados aerossóis de sulfato. É óbvio que o aquecimento é função da interação de todos esses fatores. Descaracterizar um ou outro, visando benefícios duvidosos, na singela opinião desse que aqui vos escreve, é algo sem sentido. Pelo menos isso é esperado no campo científico.
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Em vermelho (Temperatura)
Em azul (níveis de CO2 atmosféricos)
Fonte: http://img529.imageshack.us/img529/4963/semttulokl2.jpg
Em parte do vídeo, um dos entrevistados também deixa a entender que a preocupação com o CO2  pode ser contestada pela quantidade ínfima em que ele está presente na atmosfera. Ora, mas o efeito estufa, tido como um dos pilares para existência de vida na terra, é atribuído à uma assembléia de gases atmosféricos. Vapor d´água, CO2, CH4, etc. Não entendo como não atribuir ao aumento de tais gases uma possível elevação nas temperaturas médias do planeta. Filosoficamente isso é possível. Basta agora saber se cientificamente isso se comprova. Para tal, é necessário que ambos os lados existam, os que acreditam e os que não acreditam na teoria do aquecimento global antropogênico. É necessário confrontar-se os dados. Para tal, é necessário primeiro gerar-se os dados. Portanto, ambos são importantes. Mais ainda, a descaracterização de um pelo outro não levará a ciência a lugar nenhum. Ações como essas me fazem pensar em interesses “ocultos”. A boa e velha teoria da conspiração.
O vídeo é encerrado com uma discussão sobre a teoria (e vejam que eu disse teoria)  que aborda que, na troposfera, as temperaturas em elevadas altitudes deveriam ser maiores que em altitudes menores. A discussão continua na terceira parte do documentário e, devido a isso, abordarei tal tema na próxima postagem.
Enfim, essas são minhas opiniões. Continuando nossa discussão espero a opinião dos leitores.
Até a próxima.
Carlos Pacheco

Feliz 2009 para todos!

Gostaria de desejar à toda comunidade Geofágica (by Elton Valente) um excelente 2009. Que aproveitemos esse momento de crise para repensar nossas atitudes e que os ensinamentos passados sejam efetivamente aproveitados para conduzir-nos à um futuro melhor.
PS: A segunda parte do vídeo sobre a suposta Farsa do Aquecimento Global ficará para sexta-feira, 2 de janeiro de 2009. As razões para tal são as festas de fim de ano e a baixa “audiência” nesse período. Espero que todos compreendam.
Carlos Pacheco

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