Dia da Terra – Como estão as negociações sobre o clima?
Charge disponível em: http://www.nature.com/nature/journal/v455/n7214/full/455737a.html
+ No Brasil, há grandes discussões sobre REDD (Redução das Emissões de Desmatamento e Degradação ambiental), ou seja, uma política de incentivos para redução de emissões de gases do efeito estufa provenientes de desmatamento e degradação ambiental em países em desenvolvimento que fazem correta conservação, manejo sustentável e aumento dos estoques de CO2 em florestas. [Deve-se lembrar que o Brasil está planejando a adoção de uma matriz energética movida a combustíveis fósseis (termelétricas), aumentando a intensidade de carbono da economia, fragilizando nossas posições na UNFCCC].
Basicamente, enquanto os delegados dos mais de 192 países membros da UNFCCC discutem se querem trabalhar com um plano de mitigação, adaptação e vulnerabilidade com base em uma perspectiva de um aumento de 2 ou 4 graus Celsius, o Brasil insiste na política da responsabilidade histórica e os países do G-20 fingem que a crise ambiental merece menos atenção do que a crise econômica, o Planeta Terra esquenta, e a fulana do Tucson dirige por aí sem nenhuma responsabilidade por suas ações pessoais e o aquecimento global faz suas vítimas.
EUA e as ciências das mudanças climáticas
Já falei aqui sobre o Protocolo de Kyoto, mas valem alguns lembretes:
1) O Protocolo é um acordo de cavalheiros que diz: “Vamos diminuir nossas emissões de gases do efeito estufa.”
Aí, você de casa se pergunta: “E se alguém não cumprir o acordo?”.
E eu te respondo: “Fica por isso mesmo. Ninguém é multado, nem ganha um chapeuzinho de burro e fica de castigo no canto da sala. Talvez – mas isso é uma característica que ainda pode ser renegociada – o país que não atingir suas metas fica devendo para o próximo protocolo.”
2) O Protocolon de Kyoto entrou em vigor em 2005 e vale até 2012.
3) O Protocolo de Kyoto não é ratificado pelos EUA. Os Estados Unidos tem uma das maiores emissões de gases do efeito estufa per capita do planeta, que em 2004 era equivalente a 20,4 toneladas de carbono equivalente (em um ano). Para se ter uma idéia, no mesmo ano, cada brasileiro era responsável por emitir 1,8 toneladas de carbono equivalente.
Pois bem. Os EUA não parecem se preocupar muito com as mudanças climáticas – ou, na verdade, parecem se preocupar muito com a sua economia, visto que reduzir emissões de gases do efeito estufa custa caro (há que se investir em tecnologias limpas, trocar as antigas em grandes indústrias, optar por energia limpa, optar por comércio justo e tantas outras coisas que, custam dinheiro).
Mas, quando se trata de querer ser O MELHOR em determinada coisa, os caras não querem nem saber. Por exemplo – hoje fiquei horas (isto mesmo, horas) tentando procurar a referência original para o relatório citado neste artigo.
O artigo é assustador, fala sobre o aumento muito mais acelerado de derretimento de calotas polares, elevação do nível do mar e secas prolongadas no sudoeste dos EUA do que o aumento previsto anteriormente. Critica, ainda, as projeções conservadoras que vêm sendo feitas e alerta para a falta de conhecimento que temos sobre os riscos potenciais que as sociedades humanas poderão sofrem com os riscos de mudanças climáticas abruptas.
Aí, como detesto quando alguém dá uma notícia destas sem citar fontes (porque cobram isso de mim quando blogo), fui atrás dos originais. E nestas que eu passei horas. Primeiro, fui até a AGU (American Geophysical Union). Fiquei lá, encontrei o programa do Meeting onde esse relatório foi lido, encontrei o cara que leu, mas nada do artigo. Aí fui no Google. E, depois de passear pelo ScienceDaily, pelo Oregon State University e pelo EurekAlert!, finalmente cheguei no U.S. Climate Change Science Program (vejam bem: é o SCIENCE PROGRAM, não o POLICES PROGRAM, ou o ECONOMIC PLAN, ou qualquer similar).
E lá, me deparei com nada mais, nada menos que quatro livros (todos on line), com algo que promete ser mais completo que os relatórios do IPCC. Os livros tratam de:
+ Trends in emissions of ozone-depleting substances, ozone layer recovery, and implications for ultraviolet radiation exposure
+ Decision support experiments and evaluations using seasonal to interannual forecasts and observational data
+ Reanalysis of Historical Climate Data for Key Atmospheric Features: Implications for Attribution of Causes of Observed Change
E, finalmente, o relatório que eu estava buscando, de, nada mais nada menos que, 459 páginas.
+ Abrupt Climate Change.
Acho que vou demorar um tempo pra ler esses documentos, então, se sua curiosidade for maior do que a minha, esteja à vontade.
P.S. Mas que os caras são muito sacanas em não destinarem um centavo para políticas públicas de mitigação ou estudos de vulnerabilidade mas gastarem fortunas com um estudo que já está praticamente pronto (e que foi provavelmente feito com os mesmos grupos de cientistas), isso eu acho que é.
Bora, Obama, assinar esse Protocolo e parar com #mimimi?
P.S.2 – E depois dizem que blogar é fácil. Ou pior, vêm aqui e levam o post para um blog chupim… Humph!