Desafio #ten23 – overdose homeopática: vídeo-diário
Ontem, às 10:23h, eu ingeri 200 pílulas de arsênico homeopático numa diluição de 30CH, o que, segundo os homeopatas, deveria ter me matado em poucos minutos.
Mas isso eles disseram antes do ato, quando ainda estavam na fase das ameaças veladas e tentando criar medo. Depois, quando eles perceberam que os participantes sabiam da nulidade de efeitos negativos e iriam em frente de todo jeito, eles mudaram de ideia e disseram que temos que dar mais dinheiro para a indústria homeopática tomando as preparações por muitos e muitos anos para termos sucesso no nosso suicídio.
De superdosagem de vida, aparentamente.
Fica cada dia mais claro que homeopatia, além de matar, também emburrifica.
Eu e Jairo, do Um deus em minha Garagem, tomamos a suposta medicação enquanto o processo era filmado. O vídeo pode ser visto neste link.
Em seguida, ainda no shopping, iniciei um vídeo-diário para registrar qualquer efeito colateral causado pela extraordinariamente imensa quantidade de nada que eu tomei. Abaixo vocês podem acompanhar minha saga, em nove vídeos (mas calma, nenhum tem mais de cinquenta segundos).
Desafio #ten23 – overdose homeopática. Ou, ‘o dia em que eu não morri’
Atenção: todas as aspas usadas neste texto são irônicas.
Estou neste momento preparando um diário dos “efeitos colaterais” da “overdose” homeopática que tomei hoje, dia 5 de fevereiro de 2011, e que deverá ser postado amanhã (eu não “morrendo” daqui pra lá, obviamente) com direito a fotos e vídeos.
No entanto, agora, assistam ao momento em que “me matei” homeopaticamente:
Se você não sabe do que estou falando, leia isto.
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Atualização: assistam ao meu vídeo-diário com as provações sofridas por mim ao longo das vinte e quatro horas subsequentes à overdose clicando no seguinte link: Desafio #ten23 – overdose homeopática: vídeo-diário
Vejam o acontecido por um outro ângulo, através da câmera de Jairo, meu colega de “overdose”:
E leiam seu texto sobre o ocorrido em Um deus em minha Garagem.
Médicos, CFM, homeopatia e imoralidades
Antes de qualquer outra coisa, eu gostaria de deixar claro que homeopatia não é medicina fitoterápica ou herbácea.
Homeopatia, tradicionalmente, é apenas solvente (água ou álcool) e um espessante (farinha ou açúcar).
Homeopatia é baseada em três conceitos demonstrativamente falsos:
1º – uma doença pode ser curada pela sua própria causa (envenenamento por mercúrio pode ser curado tomando-se ainda mais mercúrio);
2º – quanto mais diluída uma substância, mais potente ela se torna (além de serem situações totalmente contraditórias, como que por mágica, a potencialização ocorre apenas para a substância que o homeopata quer, desconsiderando milhares de outras coisas que possam estar diluídas na mesma água), e;
3º – para essa potencialização ocorrer, a diluição precisa ser agitada um certo número de vezes (esse número é fixo para cada tipo de diluição e o frasco agitador deve se chocar com uma superfície firme porém macia. Como uma Bíblia encadernada em couro, por exemplo).
Por ter sido idealizada no século 18, é de se desculpar preceitos tão absurdamente ingênuos (pelo menos para nós, do cientificamente avançado século 21) e sem sentido.
Tenho certeza de que o criador da homeopatia tinha a melhor das intenções (leia mais sobre isso neste link), mas também as tinham os xamãs que achavam que cuspe e fumaça curavam febre.
A Ciência evolui. Coisas como homeopatia e florais que se mantêm imutáveis à luz de evidências de ineficácia não são Ciência. Longe disso.
A página da Associação Médica Homeopática Brasileira, na seção risivelmente intitulada “A ética da ciência“, demonstra claramente o desdém que a homeopatia em geral tem com a ciência médica.
Notem que no quarto parágrafo é dito abertamente que evidências não importam tanto(sic): “Não é o mérito terapêutico em si, que estamos analisando neste momento, pois isto, fundamentalmente, o tempo e as experiências nos darão melhores respostas“.
O que importa mesmo é o argumento de autoridade: “Queremos mesmo é destacar a importância de tal declaração [do presidente do Conselho Regional de Medicina do estado de Mato Grosso do Sul]”.
E o trecho acima diz respeito a uma declaração sobre o uso de “medicamentos” (aspas irônicas do mesmo tipo que são usadas no texto da AMHB quando falam de cientistas) homeopáticos para o tratamento e prevenção de gripe.
(Outro detalhe bastante perceptível é a necessidade que o autor do texto sente em notar há quanto tempo a homeopatia é praticada e reconhecida no Brasil. É até ligeiramente constrangedor.)
O resto do texto tenta ridicularizar cientistas da Organização Mundial da Saúde que se opõem ao criminoso (aos meus olhos) método de receitar água e açúcar para curar AIDS na África, levantando pontos como “nós sabemos o que é terceiro mundo” e “homeopatia não faz parte da ciência imperialista que contaminou os países africanos com aquelas doenças” (apesar de Malária ser uma doença endêmica da região… mas vamos ignorar esse pequeno fato, já que outros tão maiores também o estão sendo).
O que me leva adequadamente ao tema que pretendo expor aqui: imoralidades.
Eu, enquanto varria o chão do meu lar e exercitava minha capacidade cognitiva lógico-numérica, consegui enumerar quatro tipos de imoralidade acerca da homeopatia como especialidade médica.
São elas: pessoal, profissional, científica e institucional.
Imoralidade pessoal
O ser humano é, intrinsecamente, moral.
Simplificando: temos uma capacidade de reconhecer os outros como seres independentes e uma disposição inata para evitar causar-lhes dano.
Se um de nós vê outro em dificuldade (pense nas vítimas das enchentes recentes que tivemos) e sabe que possui a capacidade de ajudar (neste cenário, podemos ajudar doando roupas, comida e remédios), esse um é tomado por um desconforto emocional, fruto do reconhecimento da dor alheia, que faz a maioria dos seres humanos querer dar suporte aos outros que dele necessitam.
Logo, negar conscientemente esse apoio é, do ponto de vista deste argumento, imoral.
Uma pessoa com um grau de conhecimento suficiente para ser aprovado num vestibular genérico e se formar num dos cursos mais puxados do nosso sistema de ensino sabe, ou deveria saber, que expor outrem a riscos desnecessários é, para a maioria dos fins, errado.
Portanto, se você vê uma pessoa usando um tratamento completamente ineficaz (além do efeito de placebo, que pode ser conseguido gratuitamente por outros métodos) e que, ao desviar recursos monetários (homeopatia é um negócio caro, muito caro) e desperdiçar tempo (quem está se tratando com homeopatia geralmente não procura medicina real e pode ter sua condição piorada pelo tempo perdido), está comprometendo a própria saúde (e em muitos casos a saúde de seus filhos) e permite que isso ocorra sem, no mínimo, explicar o outro lado, você está sendo pessoalmente imoral.
Imoralidade profissional
Se você é médico, me arrisco a dizer que entrou nessa vida sabendo mais ou menos do que se tratava.
É certo que existem aqueles que querem virar médicos por status ou por salário, mas a faculdade cuida da maioria desses casos. A maioria entra (e, mais importante, sai) sabendo que o papel da Medicina na sociedade é ajudar os outros.
O foco maior da Medicina é a vida. Seja para salvá-la ou para fazê-la o mais suportável possível em outros casos. O médico é o agente que faz daquele objetivo uma ação; o Profissional da Saúde.
Ao exercer essa profissão, lhe cabe usar de todos os meios possíveis e razoáveis para que seus pacientes, se valendo da ciência médica, adquiram, recuperem ou mantenham sua saúde.
Os princípios homeopáticos (mostrados acima) são, ao mesmo tempo, impossíveis e desarrazoados, cabendo apenas ao mundo da ficção ideológica ou do pensamento mágico, onde tudo é possível.
Receitar pílulas de açúcar para tratar Tuberculose não é prestar um serviço de saúde mas apenas adequar-se a uma corrente de pensamento ultrapassada e desacreditada com quase dois séculos de imutabilidade dogmática.
O mesmo estilo mental que não enxerga cientificamente o quão implausível homeopatia é pode confortavelmente considerar olho-gordo como doença e receitar uma simpatia como tratamento.
Se você é médico e não se importa em manter-se atualizado com tratamentos modernos comprovadamente cada vez mais efetivos e prefere render-se ao curandeirismo de um século pré-científico receitando mágica para seus pacientes, você está sendo profissionalmente imoral.
Imoralidade científica
Estendendo o tema acima: se você é um agente de uma modalidade que deve se moldar aos achados contemporâneos dos avanços científicos, sejam eles quais forem (interrupção do uso de eletrochoque em doentes mentais; uso de medicamentos como alternativa para drenagem de líquido sinovial do joelho; redução de casos de extração previamente indiscriminada de amídalas; substituição de leprosários por antibióticos, entre outros) e não cumpre o que tal modalidade exige preferindo se manter fiel a ideias, por favor, cancele seu CRM e rasgue seu diploma. Você não merece a denominação de “Médico” e todo o peso associado ao termo.
Pinte a cara, compre um cachimbo, se mude para uma tenda no meio do mato e vire curandeiro.
A Ciência (ou o Método Científico, mais especificamente) tem um mecanismo embutido de auto-correção. Eu dei quatro exemplos no parágrafo acima de maneiras comuns de se tratar (pelo menos) quatro problemas de saúde que foram, se não completamente abandonados, pelo menos melhor pensados.
Isso não caiu do céu. Muita gente estudou por muito tempo para que avanços fossem possíveis e negar todo esse esforço isso em favor de uma ideologia é, em primeiro lugar, extrema arrogância (de achar que sua opinião vale mais que todas as evidências coletadas por tantas pessoas ao longo de tantos anos) e, em segundo, pseudociência.
Se você é médico, profissional da Saúde, e prefere negar todo o corpo científico-literário da sua profissão em prol de uma crença, você está sendo cientificamente imoral.
Imoralidade institucional
(Agora, a parte onde eu posso de verdade me dar mal.)
O Conselho Federal de Medicina aprovou e reconheceu o uso da homeopatia em 1980, quando o “presidente” da nossa querida nação era o General João Figueiredo. Não sou muito bom de política mas, durante uma ditadura militar, que poderes reais uma autarquia “(…) fiscalizada e tutelada pelo Estado” [Dicionário Houaiss Eletrônico 3.0] como o CFM tem de fato?
Se, na época, o primo de algum governador apontado pela presidência quisesse mudar a definição de “unicórnio”, ele conseguiria facilmente fazê-lo. Independente do bicho existir ou não.
O que é um pedaço de papel? E o que é um pedaço de papel com algo escrito que não vai afetar você diretamente?
Antes corrigir o que o pedaço de papel diz do que ter sua carreira apagada pela mão autoritária de algum ideólogo poderoso.
Deixando claro o que eu tentei esconder no parágrafo sem sentido acima: não tenho dúvida alguma de que a homeopatia virou especialidade médica porque algum poderoso quis que fosse assim e pronto. Em 1980, vivíamos num mundo onde isso era completamente possível (não que não seja também hoje em dia, que o diga Tiririca e seus recém-adquiridos 61,8%).
O que não cabe na minha cabeça (por maior que ela seja, e ela é enorme – vide foto) é que hoje, 2011, continuemos com esse joguinho. Eu entendo que o CFM é uma organização política, mas a vontade de agradar a todos (ou, mais certamente, não desagradar a ninguém) não pode ser colocada acima da responsabilidade institucional de criar um ambiente saudável para a população em geral.
O Conselho é uma organização reguladora, além de administrativa, e essa aparente carta-branca para pseudociência (que inclui acupuntura) pesa sobremaneira. É uma declaração aberta de apoio a práticas que não têm como comprovar seu valor e, sinceramente, um tapa na cara da Ciência Médica.
Não é possível manter esse tipo de atitude; tradição não é resposta. Manter homeopatia em seus quadros porque ela “sempre esteve lá” não é correto. Ao deixar que homeopatia permaneça como especialidade médica, o CFM está ignorando tudo que a ciência mostra ser correto para o benefício de nada. Porque homeopatia é exatamente isso; nada.
Os conselheiros que formam a instituição precisam escapar da politicagem que os mantêm calados (conheço pessoalmente vários deles e estou supondo que todos são excelentes praticantes da medicina baseada em evidência e só não se pronunciam contra esse abuso por força política), caso contrário o CFM acabará sendo só mais uma agência política. E desse tipo já temos suficiente.
Se você é conselheiro federal e deixa que a política fale mais alto que a ciência num órgão que deveria ser regida por esta com a finalidade de proteger a sociedade, eu sinto muito, mas você está sendo institucionalmente imoral.
E apenas mais um nisso.
E como eu sei que vão pedir que eu prove a negativa, vou logo adiantando: a alegação extraordinária que requer provas extraordinárias é dos homeopatas, que precisam que todas as leis conhecidas da Física, Química e Biologia sejam inválidas para que a homeopatia funcione como eles dizem.
Fora isso, eu sei que homeopatia não funciona porque meu dragão invisível indetectável que flutua silenciosamente e cospe fogo sem temperatura que mora na minha garagem me disse. Sintam-se à vontade para provar que ele não existe e não é onisciente.
Homeopatia é feita de nada. Tanto que dia 5 agora eu tomarei uma “overdose” homeopática num local público. Se “remédios” homeopáticos funcionam, devem seguir a função dose-resposta que diz que a magnitude da resposta está relacionada com a dose (quanto mais eu tomo, mais eu sinto), até que se chegue num nível tóxico.
Mas a não ser que eu seja alérgico a açúcar (não sou, a não ser que ele esteja muito quente), nada acontecerá comigo.
Se você mora em Natal e quer testemunhar (já que não posso convidar ninguém a participar), entre em contato comigo para saber onde estarei.
Saiba mais sobre os outros corajosos (homeopatia é inofensiva, mas não posso garantir que não tenha um homeopata doido por aí querendo nos pegar) ao redor do mundo que farão o mesmo como parte da campanha mundial 10:23 acessando http://1023.haaan.com/.
Rapidinha: 2011, um primor de número
2011, além de ser um número primo em si, pode também ser o resultado da soma de onze (outro primo) números primos consecutivos: 157 + 163 + 167 + 173 + 179 + 181 + 191 + 193 + 197 + 199 + 211.
Ao mesmo tempo, é também o resultado da soma de outros três (idem primo) primos consecutivos: 661 + 673 + 677.
E antes que perguntem (espero que tenha dado tempo), o próximo ano com essa propriedade (primo, expresso como soma de primos) será 2027, resultado da soma de vinte e cinco primos.
25 não é primo, mas a soma de seus dígitos, 2+5, bem como a soma dos dígitos do ano, 2+0+2+7, são.
Mas 2011 é mais legal.
Douglas Adams: frases aleatórias
Como escreveu Stephen Fry no prefácio de The Salmon of Doubt, é necessário pensar bastante e por um bom tempo antes de citar exemplos aleatórios.
Nesse espírito, vez por outra citarei uma frase de Douglas Adams aqui no 42. porque.., bom, por nenhum motivo em especial.
—
“Eu sempre prefiro o deslumbre do entendimento ao deslumbre da ignorância.”
D.N.A
Seu reveião nunca mais será o mesmo. Novamente.
Não sei se vocês lembram (pergunta retórica, pois como poderiam esquecer?) que eu já revolucionei a passagem de ano uma vez.
Mas isso não me impedirá de revolucionar novamente.
Ano passado eu descobri que minha festa de começo de ano poderia ficar bem melhor com uma tartaruguinha de arame de espumante:
Desta vez, meu alvo será uma cadeirinha (a foto não é minha pois ainda não tive oportunidade):
Tudo dando certo, atualizo esta entrada com fotos próprias.
Porém, só em fevereiro. Amanhã eu entro de férias da minha vida por 30 dias. Se alguém precisar de mim, me procure no mato mais próximo.
Mas por favor, não me procurem.
Divirtam-se em suas festas e voltem de táxi para casa.
Designar um motorista da rodada hoje é sacanagem.
E do poeminha do ano passado, lembram?
Pois bem, resolvi me esforçar um pouquinho e trazer um novo para 2011.
Aos meus leitores,
Que seus desejos se tornem realidade
Frutos de esforço e trabalho de verdade,
Que o convívio com pessoas detestáveis
Seja reduzido a níveis aceitáveis,
Que dinheiro suficiente venha lhes encontrar
Porém não mais que o necessário, para não estragar,
E que todos vocês sejam bastante felizes
Sabendo que são nada mais que eternos aprendizes.
Festa! \o/
Florais de Bach – tocata e fuga de uma ideia sem cabimento
Hoje temos vídeos no 42.
Aproveitem esta rara oportunidade.
Você se acalmou após assistir ao vídeo acima? Não? Então a culpa é sua, pois você deveria estar agora mais calmo que uma encosta pré-deslizamento.
Afinal, a flor acima é uma tal de Impatiens que, segundo os proponentes dos Florais de Bach, cura impaciência.
Isso mesmo. Cura impaciência.
Mas o que são Florais de Bach exatamente, você pergunta? Eu não vou me meter a responder. Vou deixar isso para os especialistas. Porque quem melhor para responder isso que os especialistas, não é mesmo?
Segundo a página FloraisdeBach.org (sic):
Criados por um médico inglês nos anos 30, os Florais de Bach são 38 essências de plantas e florais que podem ajudá-lo a administrar as pressões emocionais do dia-a-dia. Cada floral é indicado a uma emoção específica. Pode ser tomando individualmente ou misturado de acordo com o que estiver sentindo.
Agora, com calma, vamos analisar o trecho acima (retirado daqui):
“Criados por um médico inglês nos anos 30…” <= E jamais reformulados ou atualizados para se adequar às novas descobertas, estudos e pesquisas do campo da Medicina porque, pelo visto, já nasceu perfeito. E é assim que o mundo funciona, né?
Continuando: “…os Florais de Bach são 38 essências de plantas e florais que podem ajudá-lo a administrar as pressões emocionais do dia-a-dia. Cada floral é indicado a uma emoção específica.”
Ou seja, os seres humanos possuem uma gama de somente 38 emoções. Ou então a terapia está devendo em eficácia para certas emoções, como por exemplo a sensação de desconforto e intimidade que algumas pessoas têm ao sentar numa cadeira recém desocupada por outrem e que ainda retém um pouquinho de calor de bunda alheia.
Mas calma, na mesmíssima página eles também afirmam que “Os Florais de Bach são completamente naturais e podem ser utilizados por toda a família, ou até em plantas e animais, pois sua ação é suave.”
Então, exceto fungos, bactérias e minerais, só existem trinta e oito estados emocionais distribuídos por todo o planeta?
Tem dia que eu cuspo mais que isso.
Sabe o que mais é completamente natural? Cabelo.
Mas eu creio que você não comeria molho de soja feito de cabelos, não é?
Voltando um pouco: algumas da “38 emoções” são, de fato, situações da vida. Estar “sobrecarregado por obrigações que a vida lhe impõe“ por exemplo, não é uma emoção.
No entanto, flor de olmo curaria esse problema. Talvez fazendo hora extra enquanto você dorme?
Outra “emoção” descrita é “Sofre com a solidão, necessita ser ouvido por alguém” que, apesar de ser uma situação que envolve terceiros, pode ser curada tomando-se flores de urze.
Nunca conversamos pessoalmente, mas não tenho dúvidas de que ela é excelente companhia. Se não fosse, por que seria receitada como cura para solidão?
Agora, vamos para a apresentação do produto.
Antes de pesquisar para este texto, eu achava que “florais de Bach” era uma espécie de aromaterapia, que nada mais é que uma técnica de relaxamento para o tratamento de uma doença muito comum hoje em dia: excesso de dinheiro.
Todavia, fiquei bastante surpreso ao aprender que os tais florais são diluídos em álcool e água a ponto de perder suas propriedades aromáticas.
Da página Native Remedies:
Notem que esse é mais um link para uma página de especialistas. Eu não estou inventando nada disso nem pegando de fontes céticas.
Hoje eu estou deixando que eles atirem no próprio pé.
Outra coisa bem interessante que achei foi o Manual Básico de Florais de Bach, onde se recomenda: “Não misturar [o tratamento] com bebida alcoólica”.
Talvez para evitar o coma alcóolico, visto que os florais contêm mais ou menos 50% conhaque.
Bom conselho.
Resumindo a besteira até aqui: Florais de Bach são preparações homeopáticas de aromaterapia.
Traduzindo: um grande nada reforçando um placebo vagabundo.
Apesar disso, uma consulta pode facilmente custar setenta e cinco reais ou até mais e cada vidrinho de 50ml (estimado pelo tamanho do conta-gotas na foto, pois o site FloraisdeBach.org não divulga a quantidade do produto, que eu acho ser contra o Código do Consumidor, como talvez no Artigo 66, mas…) custa, no mínimo, mais quarenta reais.
Então até agora temos aproximadamente vinte e cinco mililitros de àgua mais vinte e cinco de álcool que não fazem coisa alguma por você ou pelas suas emoções, por quarenta reais.
Fora a consulta de setenta e cinco que eu suponho não ser obrigatória. O que seria contra o Código de Ética Médica (Artigo 99, link em PDF), caso essa fosse uma modalidade de saúde, o que não é o caso.
(Eu continuo citando FloraisdeBach.org porque eles garantem que “Somente a Assinatura Bach garante que você adquiriu os Florais de Bach Originais, elaborados como sempre foram desde os tempos de Dr. Bach, com tinturas produzidas exclusivamente no The Bach Centre em Mount Vermon” [grifo meu para evidenciar a imutável mentalidade arcaica desses pseudocientistas].
Novamente, hoje eu estou deixando a munição toda com eles. Leiam a sessão “Como Tomar os Florais de Bach” para uma aula de contradições que, de certa forma, sugere que o vídeo lá em cima pode também fazer efeito.)
Agora, para descontrair um pouco, um vídeo de uma interpretação da obra de outro Bach (este mais do tipo “Johann Sebastian”): Tocata e Fuga em Ré Menor, tocado em Harpa de Copos, por Robert Tiso.
Enquanto apreciam, tentem descobrir qual a relação que o vídeo abaixo tem com o texto acima.
E aí? Alguma ideia?
Antes de entregar, vou dar uma última chance para pensar.
Retirado do PubMed, temos um estudo com grupo de controle, duplo-cego, randomizado (amém) e com cruzamento parcial sobre a eficácia do tratamento em ansiedade relativa a testes.
We conclude that Bach-flower remedies are an effective placebo for test anxiety and do not have a specific effect (em português: “concluimos que florais de Bach são um placebo efetivo para ansiedade relacionada a testes e não causam um efeito específico”).
Mas só se você não souber disso. O que acabou de deixar de ser verdade, então eu arruinei o efeito placebo dos florais (que é em grande parte causado pela ação do terapeuta mais do que pela substância em si) para você. Ainda mais um motivo para parar de pagar caríssimo por essa enganação.
De nada.
ATENÇÃO: Se você, amigo floreiro de Bach, conseguir achar um outro estudo publicado num periódico respeitado e que contenha, ao mesmo tempo (detalhe importantíssimo), as palavras “controle”, “duplo-cego” e “randomizado” e que comprove a eficácia do tratamento, eu gostaria muito de lê-lo.
Morderei minha língua com prazer.
Agora, finalmente voltando para o vídeo: a Harpa de Copos é um instrumento que usa pouco mais que água e promessas para criar uma ilusão montada pelo seu praticante.
A diferença é que Tocata e Fuga pode realmente acalmar as pessoas.
Vidente Tara é uma criminosa?
Eu não sei se a mensagem a seguir constitui um crime ou não, mas acho que a exploração barata da fé alheia não deveria ser deixado de lado e encarado com algo normal ou inofensivo.
Clique na imagem para ver a página completa.
Mesmo ignorando os erros de concordância e de grafia, não dá para ler a página completa (link na imagem acima) sem sentir um gosto ruim no fundo da garganta.
Porque tirar proveito da inocência dos outros com esse tipo de seboseira comprovadamente falsa faz mal sim!
“Má sorte” é nada mais que estatística levada para o lado pessoal.
Alguém com problemas financeiros que consulta uma irresponsável do calibre dessa Vidente Tara (que provavelmente nem existe, não passando de um nome de fantasia de alguma empresa) vai apenas ter sua crença reforçada e fará muito pouco para realmente sair do buraco, esperando que sua “sorte” mude ou usando algum método ridículo (simpatias, por exemplos) para facilitar o processo de “reversão da adversidade”.
Isso me dá nojo. De verdade.
Recado
“Não só não somos o centro do universo e somos feito de praticamente nada como também começamos nossa existência numa espécie de gosma e chegamos onde estamos sendo macacos.”
Tenham todos uma boa semana!
Como se chapar sem drogas
Apareceu por aí um textinho interessante sobre como sentir sensações estranhas sem o uso de substâncias ilícitas (ou modificadoras do estado normal de consciência).
Eu gostei e achei que deveria não só espalhar como adicionar algumas coisas à lista.
(O título diz “como se chapar com segurança sem drogas”, mas eu não garanto a segurança de nada aqui porque tudo isso pode ser tornar vício que, de certa forma, é sempre uma coisa perigosa.)
1 – Hipotensão postural ou “levantar rápido demais”.
Uma forma bem comum de se sentir mal que é razoavelmente parecido com estar bêbado por alguns segundos.
Para atingir esse estado de desorientação, diminua rapidamente a pressão sanguínea dentro do seu crânio. A melhor maneira de fazer isso é se deitar no chão com as pernas para cima, respirar aceleradamente por alguns segundos e levantar o mais rápido possível.
Cuidado: você pode desmaiar e bater com a cabeça no chão no processo, causando outro tipo de alteração de consciência, mas de forma bem mais grave e permanente.
Efeito momentâneo comum: desorientação.
2 – Hiperventilação ou “nirvana acelerado”.
Alguns monges gostam de passar dias sentados contabilizando o ar que entra e sai de seus narizes para alcançar um “estado de consciência mais elevado”, o que quer que isso signifique (i.e. nada), mas uma forma de se chegar lá sem perder horas da sua vida é respirar fundo o mais rápido possível por alguns minutos para aumentar a quantidade de oxigênio no seu sangue (eu não acho que a mistura gasosa realmente mude tanto assim, mas o efeito é real de todo jeito).
Cuidado: isso cansa bastante, então certifique-se de que seu sistema circulatório aguenta o esforço. Você não quer sofrer um derrame, né?
Efeito momentâneo comum: euforia.
3 – Alucinação hipnogógica ou “paralisia do sono”.
Eu tive isso naturalmente e foi um dos eventos mais aterrorizantes da minha vida (clique aqui para ler o relato). Talvez forçar o acontecimento seja mais interessante, ainda não testei.
Segundo a lista (que pode ser lida em inglês no primeiro link deste texto), basta deitar-se completamente imóvel, resistindo ao máximo o impulso de se mexer até que seu cérebro se engana (o que não é raro, vides ilusões de ótica) e acha que você já está pronto para sonhar. Coisas bizarras se seguem.
Cuidado: você pode ficar traumatizado para sempre e passar a acreditar em fantasmas e afins.
Efeito momentâneo comum: o abandono completo da razão e pensamento crítico. Você realmente vai acreditar que uma força maligna e sobrenatural está agindo sobre seu corpo.
4 – Euforia do corredor ou “overdose de endorfina”.
Tendo sido, durante boa parte da minha vida, um atleta, eu garanto a existência deste. Faça o seguinte: se exercite (correr é uma maneira boa, mas nem todo mundo sabe correr atleticamente) moderadamente até além da sua capacidade perceptível. Você vai sentir um cansaço incrível e uma vontade irresistível de se deitar num lugar ventilado pelos próximos vinte e cinco dias, mas não pare. Logo após esse ponto, você cruza um limiar e seu cérebro, com pena do seu corpo, libera uma quantidade incrível de endorfina, proporcionando um prazer imensurável, indescritível e inefável e que também é viciante. No entanto, você provavelmente vai passar os próximos cinco dias sentindo todos os músculos que possui reclamando vociferozmente, o que vai impedir que você de fato se vicie nisso.
Mas vale a pena enquanto dura.
Cuidado: novamente, tenha certeza de que seu coração não vai explodir com o esforço e que você está respirando o suficiente para não desmaiar em alta velocidade.
Efeito momentâneo comum: muito prazer, seguido de imensa exaustão.
A lista acaba aqui, mas eu ainda posso citar alguns métodos de se drogar usando somente seu próprio corpo.
5 – Alucinação auditiva hipnogógica ou “ei, você aí dormindo”.
O que acontece aqui é muito estranho, mas você só tem seu cérebro a culpar. Quando estiver quase dormindo, comece a pensar no seu próprio nome, no equivalente mental a “em alto e bom som”. Você pode até apimentar um pouco com alguns vocativos tipo “ei, [seu nome]!”.
Quando você começar a dormir, vai achar que está acordado ainda e que há alguém ao seu lado, em alto e bom som (desta vez fisicamente), chamando sua atenção.
Talvez você não consiga dormir por algum tempo depois disso por causa do susto, mas é interessante.
Cuidado: tenha certeza de que você não vai ficar achando depois que foi alguma alma penada puxando seu pé enquanto você dormia, especialmente se, no outro dia, você souber que alguém que você conhece morreu durante a noite.
Efeito momentâneo comum: medo do escuro.
6 – Embriaguez psicológica ou “ebriedade pavloviana”.
Esta só funciona se você já bebe e sabe como é se embriagar (clique aqui para um relato mais dramático).
O método é o seguinte: vá para onde você geralmente vai para beber e com as mesmas pessoas com quem você geralmente se embriaga. Passe o tempo que você passaria normalmente mas, e aqui está o segredo, não beba uma só gota de álcool.
O ambiente e as companhias terão, depois de várias sessões, condicionado você de tal maneira que, mesmo sem beber, você se sentirá embriagado.
Cuidado: nenhum. Sempre que você lembrar que não está bebendo, ficará sóbrio instantaneamente.
Efeito momentâneo comum: embriaguez.
7 – Alucinação do prisioneiro ou “vendo estrelas”.
Este aqui ocorre geralmente como efeito do primeiro desta lista (hipotensão postural), mas pode ser ativado sem aquele contexto.
Se tranque num quarto completamente escuro (que é uma coisa bastante difícil, mas você precisa estar com os olhos abertos e sem enxergar coisa alguma para que funcione) e espere uns vinte minutos. Seus olhos vão tentar se adaptar aumentando a sensibilidade da retina até que você veja alguma coisa, real ou não. Em algumas pessoas o resultado é tão intenso que chega a parecer com uma tela de televisor fora do ar, mas o mais comum são apenas algumas “faíscas fantasmas” passando pelos seus olhos.
Isso também ocorre comigo quando eu olho por muito tempo para um céu sem nuvens. Depois de alguns minutos, eu começo a ver as faíscas cinzentas cruzando minha visão através do campo azul do céu aberto, porém praticamente nada quando comparado com o que acontece na escuridão total.
Infelizmente a maioria de nós vive em locais onde a maior escuridão é, na verdade, uma penumbra, suficiente para tornar nossa visão monocromática mas não para ativar essa reação exagerada da retina. Mas lembre-se: guarda-roupas são geralmente bem escuros de noite.
Cuidado: se alguém acender uma luz onde você estiver, seus olhos vão doer bastante.
Efeito momentâneo comum: alucinação visual intensa.
8 – Desaparecimento ou “ponto cego”.
Nem tanto uma alteração de consciência, apenas uma curiosidade. Para enxergar, nossos olhos precisam se mover constantemente. Fixar o olhar em um ponto faz com que ele desapareça até que os olhos (ou o ponto) se movam.
É um pouco difícil conseguir isso olhando para um monitor (que não é estático, mas pisca várias vezes por segundo) mas bastante fácil num papel.
Desenhe um ponto num papel e olhe fixamente para ele por alguns segundos (tentando não mexer os olhos) e, pasme, o ponto desaparece!
É por isso que quando olhamos para um foco forte de luz, aquele ponto negro na vista desaparece e só volta a aparecer quando as condições mudam (ou seja, quando piscamos). A queimadura temporária na nossa retina (sim, queimadura) está fixa num ponto, então depois de algum tempo deixamos de percebe-la.
Cuidado: nada quanto à técnica, mas evite olhar para o sol porque sua retina pode ficar irremediavelmente danificada e desenvolver para sempre um ponto cego no seu campo visual.
Efeito momentâneo comum: alegria da descoberta.
Relate sua experiência nos comentários ou adicione mais algum tipo à lista.