Se eu fosse…
…um trítio, hoje eu teria apenas 17,5% de chance de ainda existir.
…uma promoção enganosa de uma companhia telefônica, estaria vencendo.
…Tesla, estaria desenvolvendo minha famosa bobina.
…um Ursus arctos horribilis, estaria estatisticamente nos meus últimos suspiros.
…Asimov, estaria lançando o primeiro volume d’A Fundação.
…um canal de TV, seria famoso por programas de auditório.
…um país independente, seria Belize.
…Einstein, estaria calculando a existência do fenômeno de lente gravitacional.
…um fotão das letras luminosas do Departamento de Reclamações de Eadrax, os habitantes de Pólux estariam lendo hoje “vá lamber sabão”.
…Douglas Adams, estaria lançando meu dicionário de verbetes inéditos e programando meu primeiro jogo de computador.
No entanto, como eu sou nada disso, estou aqui escrevendo um blogue que, caso esteja sendo transmitido ao espaço, estaria agora chegando em Alfa Centauro.
E que, se fosse um isótopo de germânio-68, estaria nos seus últimos 2,4%.
Mas ainda bem que não é.
Solução do enigma ligeiramente físico.
Isto é uma resposta. Se você ainda não leu o enigma, vá lá e depois volte aqui.
—
A solução mais segura é a seguinte: dobre a cordas em três pedaços iguais e corte em uma das dobras. Agora você terá duas cordas, uma com 75 e outra com 150 metros.
Amarre a ponta da menor no primeiro gancho. Com a ponta livre, faça um laço com espaço suficiente para acomodar a segunda corda com folga.
Puxe a corda maior para dentro do laço até a metade. Agora você terá um pedaço inteiro com aproximadamente 75 e um pedaço de 150 dobrado ao meio, dando mais 75. Somando os dois, você terá uma corda com quase 150, o que é suficiente para que você chegue ao segundo gancho (mesmo que você tenha perdido um metro inteiro nesse arranjo, a não ser que você tenha menos de um metro de altura com os braços esticados, isso não será problema).
Chegando ao segundo gancho, puxe a corda de 150 metros até o fim, amarre uma das pontas no suporte e desça.
Pronto. Agora vá tratar dos seus calos.
Essa é a resposta mais matematicamente correta, como Vinicius Makoto Mori e Pedro descobriram primeiro. Os leitores, porém, acharam algumas outras formas de se salvar (ou tentar se salvar, o que vier primeiro). Eis algumas:
Leonardo – “Enquanto as lentes dos óculos por meio da convergência dos raios solares, cortam lentamente a corda na altura do 1º guancho, desço repidamente até o segundo gancho e espero a corda terminar de ser cortada. Aí é só amarrar a corda no segundo gancho e descer até o térreo.”
Maria – “Um… Amarre a corda no tamanco, bote o óculos, amarre a meia na cabeça (?), se arme com o canivete e mete a pancada nos zumbis! Se sobreviver, é só pegar o elevador e ir pro térreo…”
Angel Pena – “Numa posição apropriada, por exemplo a 50 m do topo, utilizando os oculos, o canivete (encostado e fechado na corda) e os tamancos, todos eles presos pela media, desceria até o segundo gancho (sem corda) e ataria a extremidade da única corda. Me segurando do segundo gancho com corda, faria a corda girar para conseguir um movimento de rotação do contrapeso (tamancos) em torno à corda (que esta em contato com a lamina do canivete). O giro e o atrito com a lâmina cortará a corda caindo até o chão. Dai é só descer.”
Herdeiro do Vigário – “Desculpe a persistência, mas gostaria de fazer outra pergunta… O aviso poderia ser recortado de modo a formar uma frase oferecendo recompensa a quem subir levando uma corda de 300m?”
A resposta é sim, como demonstra este anagrama:
“SOCORRO, MANDEM UM HELICOPTERO
ESTOU PRESO NO TELHADO
ZUMBIS NA ESCADA NÃO ME DEIXAM ESCAPAR
CORDA INSUFICIENTE
PAGO ATE 50 CONTO OU DOU ALGO ALEM
MANDA-ME FERA
50º ANDAR
AFANAR FRANÇA
ÇA VÀ
QED”
Girino – “cubro a mão com a meia pra não “queimar” com o atrito da corda, pulo do prédio com a corda na mão e “miro” na direção do segundo gancho. quando passar pelo gancho, acerto a corda no gancho e uso a meia pra frear a queda. amarro a ponta da corda nela mesma no ponto onde eu consegui freiar de forma que o restante da corda chegue até o chão (se não chegar no chão, subo alguns metros pela corda pra fazer isso). desço até no chão, enfio os dois tamancos no rabo do primeiro zumbi que aparecer, coloco os óculos, faço pose com o celular e vou pra galera!”
Ranieri Severiano – “Mataria os zumbis com tamancadas e os jogaria do alto do prédio. Como no filme 300, seria formada uma montanha de zumbis da altura do prédio por onde se poderia descer.”
Mas, a melhor de todas, foi outra de Girino – “Faço um carretel de corda enrolando ela no celular. tiro o celular do meio do carretel e amarro os tamancos na ponta da corda que ficou no centro do carretel (mas eles tem de ficar soltos, pra fora do carretel pois vão funcionar como freio inercial). cubro o gancho com a meia, só por precaução, encaixo o carretel de corda no gancho.amarro a corda na minha cintura, deixando uma ponta relativamente grande para fazer um laço. pulo do prédio. a corda vai desenrolar mas o tamanco, ao girar, vai diminuir a velocidade de rotação do conjunto (freio inercial) permitindo que a descida não seja excessivamente rápida.”
Outros tantos decidiram pular enquanto amarrados à corda. A isso só tenho uma observação: ai!
Notei também que vocês tiveram muitos usos para os tamancos. Vocês são estranhos…
Enigma físico (ou quase, é mais um problema de lógica)
Cena A: você está no topo de um edifício bem alto e, sabendo o número de pavimentos (noventa e nove andares + pilotis) você supõe que o prédio tem trezentos metros de altura.
Cena B: a saída, por algum motivo, está bloqueada (zumbis, digamos) e, como se trata de uma situação real (fora os zumbis), você não pode simplesmente pular dali. Nem mesmo para outro prédio vizinho, visto que um edifício de cem andares deve, por lei, ter uma área de terreno consideravelmente grande. A não ser que você tenha asas (o que eu seriamente duvido), é impossível chegar em qualquer outro telhado sem se espatifar terminalmente contra o chão.

Eu disse que a lateral do prédio é lisa?
Cena 3: você nota uma corda com uma etiqueta dizendo “contém 225m” e um gancho na beirada da edificação, provavelmente deixados por um conjunto convoluto de situações improváveis envolvendo um representante de equipamentos para rapel e um limpador de janelas desleixado (provavelmente por causa do aviso prévio recebido na manhã anterior), completamente não-relacionados mas deus-ex-machinamente necessários para o resto do enigma.
Cena 4: Ao lado da porta que dá para a horda maligna de mortos-vivos você vê um aviso que lê: “ATENÇÃO AVENTUREIROS – O 50° ANDAR CONTA COM UM GANCHO SEMELHANTE AO ABANDONADO PELA FIRMA DE LIMPEZA, SENDO QUE DE OUTRA MARCA MAS IGUALMENTE FIXADO À PAREDE COM CINCO PARAFUSOS REFORÇADOS”
Cena IV: obviamente, você carrega consigo um óculos, um canivete, um pé-de-meia extra e um telefone celular sem carga (de bateria, não de créditos). Por alguma razão que não me diz respeito, você está usando tamancos holandeses de madeira tradicionais.
Questão 1: em tal situação, usando o que lhe está disponível, o que você faria para chegar com vida ao térreo?
(Nota: o andar térreo, ao contrário do telhado, está livre dos infectados. Uma vez na rua, você estará a salvo.)
Seres humanos semi-nus e o senso de humor – uma homenagem
Em homenagem ao meu amigo e ídolo intelectual Karl Guimarães d’Montaigne e às suas comentaristas ^feministas^ (aspas irônicas), apresento aqui uma propaganda australiana de roupa de baixo que muito provavelmente não fere a dignidade humana mas que quase certamente magoa algumas sensibilidades mais frágeis e afronta contra os distorcidos princípios enviesados de pseudo-humanistas que gostam de sujar o nome das boas (e bons) feministas.
Aproveitem.

Estes são objetos de verdade.
Bônus: eis aqui o link para o Dispersando sobre a morte do humor.
Que, sinceramente, é de uma total inutilidade para pessoas secas e de coração murcho, que não irão entender sequer o significado do título pelo mesmo motivo que os persas jamais entenderiam o termo “dinheiro de plástico”; ignorância conceitual.
P.S. Ainda um outro link, para um vídeo propagandeando cuecas e que em nada machuca a dignidade masculina (termo que uso aqui por minha própria conta e risco, visto que algumas pessoas não acreditam na ideia de que homens têm permissão para ostentar algo tão nobre quanto dignidade).
Mas evite assistir a ele no trabalho.
Você se daria bem num mundo pós-apocalíptico?
[Texto originalmente publicado no Papo de Homem que estou reciclando para a Blogagem Coletiva Apocalíptica]
– Sabia que caju é uma fruta?
– Sim! Toda amêndoa é fruta!
– Não, não é da castanha que estou falando. Ela vem junto com uma fruta suculenta, que pode ser tanto amarela quanto vermelha.
– Sério?
– Deixe-me achar uma foto aqui para mostrar… Isso é a fruta do caju. O que vocês comem é essa parte aqui, a castanha.
– Que coisa estranha! Que gosto tem?
Se esse diálogo parece estranho é porque aconteceu do outro lado do mundo, quando eu morava na Austrália.
Amêndoas em geral são bastante apreciadas por lá como lanche e castanha de caju (conhecidas apenas por cashew) é uma das mais populares, facilmente encontradas em qualquer supermercado ou loja de conveniência, geralmente em duas versões:
– crua, que obviamente não é crua mesmo, apenas levemente tostada e esbranquiçada, e;
– assada, que é tostada até ficar dourada.
Sempre já descascadas e separadas em duas partes.
Os australianos não sabem que não estão comendo castanhas cruas, mas eles também desconhecem que uma iguaria dentre as suas favoritas é apenas parte de um conjunto (a parte macia, doce e suculenta é na verdade um pseudofruto, mas era mais fácil chamar de fruta e acabar logo com a conversa enquanto eu estava por cima).
“Tá. E daí?”
E daí, caro leitor, que eles não sabem o que estão comendo. Não sabem o que aquilo é, não sabem como é preparado, não sabem de onde vem, nunca viram um in natura nem sabem que gosto tem um caju.
Só sabem que a castanha é gostosa e vai bem com cerveja.
Um órgão regulador do comércio dum país de primeiro mundo deixa que um produto seja abertamente vendido com raw (cru) escrito na embalagem, mesmo ele sendo assado (não recomendo que façam, mas um experimento interessante é morder uma castanha natural e ver o que acontece quando o ácido anacárdico que ela contém começar a escorrer pelos seus lábios), então eu imagino quantos outros nós eles não estariam levando de coisas bem mais sofisticadas.
(Não estou criticando práticas comerciais internacionais. O que eu disse aí em cima vai fazer sentido num minuto.)
Os australianos (a maioria) pensam que podem achar no meio do mato um arbusto que dá cashews como amendoins e que é só colher e comer, como amoras.
Não sabem que para chegar ao produto embalado elas precisam primeiro ser colhidas, separadas do caju, assadas sobre fogo intenso (a fumaça resultante é terrível e só sai das roupas quando você compra novas), descascadas (parte mais difícil do processo), separadas e polidas.
Pascoal, um morador da vila de pescadores de Genipabu, sabe o que comer castanhas envolve. E por isso só o faz uma ou duas vezes ao ano.
Não vou supor que ele plantou um cajueiro porque não precisa; a máxima de Caminha “em se plantando, tudo dá” é 100% adequada à Genipabu (desde que “tudo” seja um eufemismo para “cajueiro”), mas eu sei que ele tem uma lata de leite especial, onde foi pregada uma ripa de madeira para servir de cabo, e que serve de assadeira de castanhas.
O fogareiro eu não sei se ainda existe pois ele precisou dos tijolos para um reparo na parede do quarto mês passado, mas imagino que não seja difícil montar outro rapidamente.
O mesmo pé de caju pode fornecer a lenha, enquanto sua mulher e filhas fornecem o trabalho manual de descascar dezenas de castanhas ainda quentes porque “é mais fácil enquanto ainda tá pegando fogo“, segundo me garantiu a esposa Zefinha, mulher de belas unhas (que cria galinhas no quintal de casa alimentando-as com o milho que ela mesma planta).
Ah, Pascoal também sabe manobrar uma jangada sobre correnteza de maré em completa escuridão, “ler” suas imediações para saber não só onde está mas onde os peixes estão, arremessar tarrafas que foram tecidas (e posteriormente remendadas) por ele, tratar um peixe em alto-mar usando um facão de doze polegadas (sob a luz das estrelas) e retornar são e salvo para terra firme no quebrar da barra.
Só não sabe vender (ele é meio careiro), mas cada um com sua especialidade.
O que me possibilita fazer uma transição perfeitamente suave e perguntar: qual a sua especialidade?
O que você sabe fazer? Não tenho dúvida (talvez só um pouquinho) de que você é um membro ativo e importante da sociedade e uma peça fundamental na engrenagem social contemporânea, mas o que você sabe fazer?
Vamos supor que falte energia em toda a cidade agora (ou pelo menos pouco depois de você ler a próxima pergunta). O que você pode fazer em sua casa/trabalho, das coisas que você faz costumeiramente, sem eletricidade? Melhor ainda, tente lembrar do apagão do dia 11/11/09 (caso não tenha sofrido um bloqueio mental por trauma psicológico extremo) que estatisticamente afetou a sua vizinhança. O que exatamente você fez enquanto a energia não voltou?
A única coisa em que eu consigo pensar é tomar banho, já que eu sempre tomo banho frio (a resistência do meu chuveiro queimou em 2007 e eu nunca lembro de comprar outra), e lavar a louça.
Na minha terceira visita à geladeira, seu estoque já começará a esquentar / derreter / apodrecer / criar crostas lodais / juntar água / reviver / talhar.
Meu tocador portátil de MP3 não durará muito pois eu sempre esqueço de deixar carregando tempo suficiente e meu laptop seria inútil sem Internet pois jogar Soldat sozinho não tem graça e eu já zerei Lego Star Wars duas vezes (eu não possuo um televisor, então não sentiria falta de uma caixa mágica piscante, mas entendo que isso constitua um problema para alguns).
Também não posso ir caminhar, pois o elevador não está funcionando e eu não sou louco de descer pela escada porque corro o risco de ter que subir por ela na volta. Uma coisa é me exercitar, outra bem diferente é ser otário.
Escada… pff.
Ou seja, meu dia sem eletricidade se resumiria a eu sentado numa cadeira defronte à pia, vendo água escorrer pela torneira, numa fútil tentativa de me confortar em saber que pelo menos algum aspecto da minha vida moderna ainda funciona.
E como eu tenho quase certeza de que todos os outros moradores da cidade estariam fazendo exatamente a mesma coisa, a água acumulada acabaria rapidamente, pois sem eletricidade não há como bombear água cano acima até as caixas d’água.
Agora, num mundo sem energia elétrica (computadores) e sem água corrente (descarga), volto a perguntar: o quê você sabe fazer? Isso é, fora ligar e pedir uma pizza pois os telefones e fornos a lenha ainda funcionam (pelo menos temporariamente, enquanto o gerador da companhia telefônica e o forno da pizzaria tiverem o que queimar).
Dependendo da época do ano e do nível de poluição em sua cidade, o sol vai desaparecer bem rápido e as noites serão muito longas e escuras.
O que você faria com apenas doze horas de luz? Lembre-se; não há energia em lugar algum, então todas as cervejas estão quentes (o que tira a razão de ser dos alimentos fritos e dos churrasquinhos de rua), logo todos os bares estão fechados.
Se você mora num lugar quente, não pode contar com ventiladores. Se mora num lugar frio, não pode ligar o aquecedor.
Em breve, o gás também acabará, levando consigo a feijoada (feita com produtos salgados que não precisam de refrigeração), que nesse ponto nada mais é que forro para a cachaça, única bebida conhecida que pode ser tomada em temperatura ambiente.
“Ah, mas ainda restam as frutas!”
Ao que eu pergunto: quem é o índio que ainda come frutas?
Tudo bem, algumas pessoas (hippies) realmente ingerem alimentos não-fritos.
Mas se você, leitor, for uma dessas pessoas (um hippie), você tem uma fruteira em casa?
E não me refiro ao móvel com rodinhas onde bananas de supermercado são deixadas até apodrecer nem ao receptáculo semiesferóide que fica sobre a mesa cheio de peças disformes de cera pintada, mas sim às árvores de onde nascem frutas. Tem uma dessas na sua casa?
Porque se você mora num apartamento eu sei que não tem (bonsai não conta, não insista).
Vou conceder (fantasiosamente) que exista um pé-de-X no seu quintal. Com qual frequência você pode colher Xs maduros durante o ano? E qual a quantidade absoluta de Xs maduros que sua árvore produz por dia? E por quanto tempo você aguentaria comer nada além de Xs?
Ah, mas seu terreno é grande e tem um pé-de-Y também! Ótimo, agora você pode alternar Xs e Ys até abusar dos dois ou até passar a época da floração, o que vier primeiro!
Eu estou propositalmente deixando de citar as de supermercado, pois qualé o motorista de caminhão que vai gastar o restinho da sua preciosa gasolina indo buscar e deixar frutas (ou “rango de hippie”, como são conhecidas na profissão) ao redor do país? Porque a região onde dá jabuticaba não é a mesma onde nasce mamão.
Ademais, sem energia não há adutoras nem irrigação agressiva e voltamos ao tempo das cavernas, quando precisávamos esperar até março para comer pitombas e jambos só davam entre outubro e novembro.
Nesse ponto, o pico inicial de desespero já voltou ao nível normal de constante pessimismo e falta de perspectiva e o episódio de assar o cachorro usando as cadeiras da sala como lenha já volta a parecer um ato bárbaro e não mais um momento “ou ele, ou eu” de necessidade, causado pela visão anuviada pela fome e as alucinações causadas pela falta de banho e rádio.
Se você precisar, você sabe arranjar comida? E com “arranjar” não estou fazendo referência a roubar, mas a produzir comida a partir de, bom, a partir de seja lá o que produz comida.
E todos os dias, para o resto da sua vida, pois sem eletricidade não há refrigeração e a conservação desse alimento produzido diariamente será grandemente prejudicada por isso.
Mas pelo menos você estaria comendo alimentos frescos todos os dias.
E quanto à água? Pois ela acabou alguns parágrafos acima e já se passaram alguns meses na linha do tempo deste texto.
Já descobriu como obter água potável ou morreu junto com o cachorro/churrasco?
Falando nisso, se sua casa pegar fogo, você sabe usar um extintor? Tem certeza?
Uma coisa básica, fácil e intuitiva como tirar um lacre, puxar um pino e espremer uma válvula é um conceito totalmente alienígena para algumas pessoas (constatei isso pessoalmente no Dia do Grande Esguicho, como ficou conhecido no meu prédio o dia em que alguns vândalos esvaziaram alguns extintores nos corredores, não sem muita dificuldade).
Imagino o quão difícil serias tarefas ordens de magnitude mais complexas, como destilar água ou acender uma fogueira (que, em caso de perda de controle, consumiria todo um quarteirão antes de alguns indivíduos conseguirem entender que a mangueira de um extintor é flexível e precisa estar apontando para a base da chama).
Recentemente eu fiquei 24 horas sem Internet e sofri bastante. Passei pelo menos dezoito dessas vinte e quatro sentado defronte ao monitor, esperando algo acontecer. Planejava apenas ler meus emails e ir lavar a louça, mas enquanto a rede não retornava, minha mente também não funcionava. É como se minha casa só existisse virtualmente e, sem conexão, não posso sequer varrer a sala e limpar o banheiro.
Não é péssimo quando perdemos algo com o qual nos acostumamos? A Internet só tem uns quinze anos, a Web 2.0 uns cinco ou seis, mas quem conseguiria, voluntariamente, deixar de usar Orkut, MSN, Twitter, Facebook, etc?
O mundo funcionou perfeitamente bem durante décadas sem um telefone em cada bolso, mas imagine passar uma semana sem celular.
Só imagine. O terror é por conta da casa.
Imagine agora que não há mais veículos motorizados e você tem que ir numa bicicleta (ou pior, caminhando!) para onde quer que seja o local onde você recolhe sua comida/água. Qual a melhor estratégia a adotar quando seu lar e sua fonte de alimentação não habitam o mesmo fuso horário?
E não estou falando de quinze graus de curvatura geóide, porque isso, para quem está a pé, é como daqui até Marte. Me refiro à distância que, sob certas circunstâncias, deixa de ser contada em passos ou quilômetros e passa a ser medida em horas ou luas.
Boa sorte voltando para casa no mesmo dia em que saiu para catar comida.
Voltando à estratégia, é melhor caramujar (levar sua casa consigo) ou fidipedesar (correr 42 quilômetros indo e 42 voltando)?
No caso de um apocalipse tecnológico, além de passar o dia chorando com saudades do meu GReader (na época em que este texto foi escrito, o Google ainda não tinha dado o tiro no pé de acabar com o Reader), eu acho que não me importaria em dormir no mato de vez em quando, desde que estivesse sempre perto de uma fonte de água bebível e comida abundante.
E como saber se aquele líquido pode ser consumido seguramente?
O método ideal envolve transformá-lo em cerveja, mas nem sempre isso é possível (ou desejável; lembre-se que não existem mais geladeiras).
Então, #comôfas?
Sem tecnologia, eu não sei. E nesse mundo pós-apocalíptico não posso usar o Google para descobrir. Poderia usá-lo agora e decorar a informação, mas isso dá muito trabalho e eu posso fazer mais tarde.
Chegando nos finalmentes: estamos sem energia, sem água tratada corrente, sem alimentos e sem perspectiva de melhorar.
“Sem perspectiva? Mas o espírito humano é inquebrantável, caro amigo!”
Concordo. O otimismo é a doença mental mais difundida no mundo, beirando proporções pandêmicas, mas pensamento positivo não vai trazer o Viva a Noite de volta. Não é?
Vivemos num mundo quase 100% especializado, onde cada indivíduo é exatamente isso: individual e especialista.
Eu, por exemplo, sou formado em Engenharia de Áudio com especialização em Gravação e Edição. Sem um computador possante, sou tão firme quanto um prego na areia e apenas estou fazendo peso na Terra.
Se você for um biólogo pode até entender bastante do Mundo Natural, mas eu aposto que sua função atual se resume a um laboratório cheio de coisas com nomes contendo o sufixo “eletrônico”.
E se trabalhar num escritório (como eu atualmente) é certeza que depende totalmente de um computador, que depende de eletricidade. Se esta acabar, você está na rua, sem função.
Se for advogado você ainda pode manter seu trabalho temporariamente (até o mundo abraçar a anarquia generalizada com as pernas), mas imagine preparar uma peça com uma caneta. E se precisar copiar um processo?
Neste nosso mundo ocidental refinadamente tecnológico temos todo o conforto do mundo. Desde que elétrons corram livres por fios de cobre, para lá e para cá, sessenta vezes por segundo.
Acabou energia, acabou civilização. Todos correremos loucos pelas ruas, destruindo tudo que for inteiro e ateando fogo a tudo que for inflamável, até morrermos de sede.
Se perdermos nosso estilo de vida, nunca mais o teremos de volta, pois não existem mais (ou se existem são extintamente escassos) inventores alquimistas renacentistas que sabem, em casa, transformar areia em tecnologia.
Se alguém quiser construir um carro, jamais o fará sozinho. Mesmo depois de extrair e purificar minério, derreter e preparar metal, desenvolver e montar peças móveis e fixas, preparar e executar um plano e, finalmente, construir um carro, ainda é necessário produzir combustível, óleos, sistemas hidráulicos e vulcanização de borracha. Que precisará ser extraída por você.
Sem nossas máquinas automatizadas, fazer um parafuso que seja é a coisa mais difícil do mundo! Imagine um eixo de roda verdadeiramente reto.
Viveríamos em caos total, pois sem máquinas somos inúteis e sem tecnologia somos muito frágeis. Não teríamos a mínima chance. Morreríamos à míngua, totalemente desamparados.
Enquanto isso, Pascoal e Zefinha, que moram perto de um poço artesiano, continuam suas vidas normais de pescador (obtendo a própria comida) e dona-de-casa (remendando as próprias roupas), assando castanhas uma vez ao ano.
Seu reveião nunca mais será exatamente diferente dos últimos dois
Obviamente estou supondo que vocês, meus leitores, não subscrevem às correntes religiosas que sorridentemente condenam ao inferno todo e qualquer infiél tolo o bastante para estar perto de garrafas de champanhe no período compreendido entre o momento em que primeiro estouram até a ocasião quando suas rolhas e respectivas gaiolas de arame são cuidadosamente recolhidas, atenciosamente agrupadas e ponderadamente descartadas no lixo comum junto com cascas de melão, guardanapos preenchidos com as inalcançáveis resoluções para o ano recém-principiado, copos e talheres descartáveis, jujubas azuis e, eventualmente, um ou dois brincos das mais alcoolicamente desleixadas.
Penso que aos sacerdotes de tais agremiações anatematizadoras falta o auto-controle presente no resto dos seres humanos terráqueos que são capazes brindar o início de um ciclo arbitrário no calendário sem perder seu intrínseco senso de moral, não recorrendo, por exemplo, ao expediente de preparar um sarapatel com os restos viscerais de um lactente para em seguida servi-lo no osso parietal do infante aos sofridos pais deste. Não sei quão escatológica é a aversão daqueles líderes ou a qual desejo eles tanto temem sucumbir ao consumir quantidades moderadas de álcool, mas suas imprecações contra os que negam se submeter são como se o grave som seco e torácico produzido pelo estalo de uma rápida despressurização carbônica seguido do excitado fervilhar entornante e fluido (e, de quando em vez, um “ai, meu olho!”) de um espumante sendo mecânica e metodicamente preparado para o consumo fosse uma espécie de convite, sem necessidade de RSVP, personalizado e caligrafado pela própria mão de Lúcifer com os dizeres “na minha casa, às oito, sem falta”. Eu não entendo.
Contudo, novamente, estou supondo. Pessoas comumente bem ajustadas podem, devido a eventos traumáticos, apenas não gostar de permanecer nas cercanias de recortes de cortiça artificialmente acelerados e aleatoriamente direcionados que podem dar início a dolorosas circunstâncias, como o incidente do trauma ocular acima aludido.
De toda forma…
Em 2009 eu mostrei como criar (mais ou menos, com o mínimo de explicações possível) uma tartaruguinha e nas últimos horas de 2010 eu diminui ainda mais o meu trabalho e apenas colei uma foto de uma cadeirinha, ambas mini-esculturas feitas apenas com o arame que segura a rolha de uma garrafa de champanhe espumante (o nome formal é “gaiola”) e a plaquinha de metal de propaganda segurança e usando somente meus dedos.
Abaixo, uma tartaruga e uma cadeira que fiz exclusivamente para este especial de fim de ano:
Agora, mantendo a tradição (“criando”, na verdade. Ainda estou no terceiro ano e não sei se minha imaginação vai durar tanto assim), uma escultura pós-ano que preparei antes: O Bluesman (ou O Guitarrista de Axé, caso você esteja festejando num hotel em Natal).

I woke up this morning... on a new year's day...
Novamente, vou explicar muito pouco porque realmente não vejo propósito. Se sua capacidade de projeção e visualização espacial não for suficiente para fazer sentido de uma foto, instruções não vão ajudar muito.
Vou só dizer que a plaquinha foi amassada ao redor da parte que forma o espaldar da cadeira (visível na outra foto) para formar a guitarra e que esta está precariamente encaixada no corpo do boneco (ou seja, são duas peças separadas).
E vocês? Conseguem criar alguma figurinha para animar (ainda mais) nossas festas de fim de ano? Para ajudar a criatividade, vamos nos impor duas restrições: 1) usar apenas a gaiola de arame, o disco metálico de segurança e a rolha em si, e; 2) considerando que estamos inseridos numa festa sem as nossas fiéis ferramentas, podemos usar somente nossos dedos ou alavancas improvisadas, como chaves (que carregamos nos bolsos) ou outras tampas (de cerveja, por exemplo) encontradas no recinto. Que tal?
—
P.S. sabe aquela sensação opressiva que alguns dizem ter no começo da noite do domingo? Já há algum tempo que não sinto aquilo, mas no primeiro dia do ano é tiro e queda. Para mim, dia primeiro de janeiro tem um peso diferente.
Será que é a gravidade que muda? Porque eu sempre passo boa parte daquele dia nas ruas, que sempre estão inevitavelmente vazias…
Não. O que eu sinto é um peso a mais. Se eu estivesse notando a mudança de gravidade deveria me sentir mais leve.
Destá, foi um lapso.
UTILIDADE PÚBLICA – Cuidado com os ESPELHOS, ops, SPAMS!
Gabriel mandou essa belezura para mim (eu já conhecia mas nunca tinha tido saco de escrever a respeito) e resolvi repassar aqui porque é realmente um assunto muito importante: a irresponsabilida de quem perpetua spams.
Por respeito aos meus leitores, a mensagem foi reproduzida aqui sem cores e com uniformidade de fontes.
Meus comentários estão intercalados ao spam. Acho que não será difícil reconhecer qual é qual.
VOCÊ SABE SE O ESPELHO EM LOCAL PÚBLICO EM QUE VOCÊ ESTÁ SE VENDO É O VERDADEIRO?
Se você está “se vendo”, provavelmente você está olhando para um espelho que, se fosse falso, não refleteria e, portanto, não seria chamado “espelho” mas “parede”.
ESPELHO DE 2 DIREÇÕES: COMO DETECTAR?
#comôfas?
INFORMAÇÃO POLICIAL
Mesmo que seja verdade, o que provavelmente não é o caso, seria uma informação policial de outro país, visto que o email é uma tradução.
Quando forem curtir um hotel, lojas de departamentos, pousada ou mesmo banheiro público, prestem atenção nos espelhos.
Especialmente se você for desengonçado, estiver carregando artigos pesados e pontudos e tiver a pele frágil. Eu me cortei num pedaço de espelho quebrado um dia desses e não foi nada divertido.
Vocês podem estar sendo observadas, por isso não custa nada fazer o teste abaixo.
O famoso “mas não custa nada”. Esses spammeiros sempre deixam de fora a dignidade, que nos é muito cara.
Serviço de Utilidade Pública em Prol da Integridade Feminina:
Todo Em Inicias Maiúsculas De Modo A Parecer Algo Oficial.
Não é para assustar, mas para alertar.
Igual ^alertar^ “FOGO! FOGO!” num cinema.
Quando as mulheres vão à toaletes, banheiros, quartos de hotel, vestiários de mudar de roupa, academias, etc., quantas podem estar certas de que o espelho, aparentemente comum, pendurado na parede é um espelho de verdade ou um espelho de duas direções? (daqueles em que você vê sua imagem refletida, mas alguém pode te ver do outro lado do vidro como os da Casa dos Artistas, A Fazenda e Big Brother).
Tirando o mal uso da crase (a prostituta da gramática), o idiota “vestiários de mudar roupa” (diferente daqueles vestiários onde já entramos nus) e a menção aos espetáculos televisivos da escória humana, eu posso responder à pergunta usando elementos dela mesma. Se o espelho está “pendurado na parede”, ele é um espelho comum.
Espelhos de observação não são pendurados, da mesma forma que janelas não são penduradas, mas instaladas dentro da parede. E uma forma de se pensar em tais espelhos é que eles são janelas refletivas (aliás, durante uma noite particularmente preta, acenda as luzes da sua casa e olhe pelo vidro de uma janela fechada e se surpreenda ao ver sua própria cara assustada, olhando de volta). O ambiente que estiver mais iluminado vai aparecer mais, independente de qual lado você esteja.
Tem havido muitos casos de pessoas instalando espelhos de duas direções em locais freqüentados por mulheres, para filmar, fotografar ou simplesmente ficar olhando.
A boa e velha informação vaga. Esse “tem havido” é do mesmo time de “dizem que comer capim faz crescer a orelha, vide os burros”. Como assim “tem havido”? Dá para ser mais impreciso que isso?
É muito difícil identificar positivamente o tipo de espelho apenas olhando para ele.
Ou, como se trata de espelhos, olhando para você mesmo.
Então, como podemos determinar com boa dose de precisão que tipo de espelho é o que estamos vendo?
Encostando o rosto no vidro e colocando as mãos acima dos seus olhos para cobrir o reflexo da luz, mais ou menos assim:

A cara de abestalhamento é opcional
Porque o vidro espelhado continua sendo um vidro translúcido (lembre-se do exemplo da janela) e, do jeito que a luz funciona, parte da iluminação do seu lado necessariamente vaza para o outro, mais escuro. Usando a técnica da imagem acima é possível “desmascarar essa quadrilha”, se é que existe uma.
É MUITO SIMPLES:
Concordo. Até já disse como fazer.
Faça apenas este teste: Toque na superfície refletida com a ponta da unha.
É. Faça apenas o teste sugerido e saia como entrou: totalmente ignorante quanto ao modelo do espelho.
Se existir um ESPAÇO entre a sua unha e a imagem refletida, o espelho é GENUÍNO.
E, se não existir reflexo, o espelho é falso. Você está encostando sua unha num muro.
O espaço é equivalente à espessura do espelho, pois a parte que reflete é a parte do FUNDO do vidro, não a parte da frente.
Isso nos espelhos cuja superfície refletiva fica atrás, e não na frente do vidro, que são a maioria. Mesmo porque o que reflete é uma fina camada metálica facilmente desgastável por pontas de unhas daqueles que são dementes o suficiente a ponto de acreditar inquestionavelmente em informações recebidas via email colorido. Um espelho bom e resistente com camada refletiva anterior é bastante caro e as lojas de departamento que esse pessoal frequenta jamais gastaria dinheiro com isso.
Entretanto, se a unha TOCA DIRETAMENTE na imagem, NÃO havendo um espaço CUIDADO COM ELE (…)
CUIDADO!!! SEU DEDO TOCOU DIRETAMENTE UMA IMAGEM!!! CORRAM!!!
(…) POIS É UM ESPELHO DE DUAS DIREÇÕES.
OU UMA BANDEJA DE PRATA!!!!
Ou qualquer outra superfície refletiva. Incluindo um espelho perfeitamente normal e extremamente caro. Não o quebre.
A parte reflexiva é a parte da frente, não a do fundo do vidro.
Então, lembre-se a cada vez que você vir um espelho, faça o “TESTE DA UNHA”, tem que haver um espaço!
Teste da Unha® – para os obsessivos compulsivos entre nós.
Aproveite para chamar a polícia, pois trata-se de crime previsto em lei.
Que lei, exatamente? O melhor que eu achei foi o artigo 227 do Código Penal, que diz: “Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem”. Mas brechar não é induzir, então como fica?
Novamente, essa mensagem foi traduzida. Talvez voyeurismo seja crime no país de origem do mito, mas não o é (pelo menos explicitamente) no Brasil.
Acreditar em estorinhas e espalhar spams é sinal de uma mente pouco crítica e é exatamente disto que menos precisamos.
Vamos aprender a pensar e deixar de preguiça. Cinco segundos no Google (considerando que você está lendo emails, ou seja, com acesso instantâneo ao resto da Internet) mostraria como isso aí é falso e, ao contrário do que promete, só serve para espalhar o pânico. Imagine a quantidade de chamadas inúteis que a polícia receberia em virtude de um ridículo “teste da unha” feito por pessoas ingênuas, inexperientes e já crédulas nessa besteira de que estão sendo observadas. Além de burrice isso seria uma irresponsabilidade (fora que chamar a polícia para motivos fúteis ou falsos é crime sim, de acordo com o artigo 340)
Novamente, vou usar um lembrete do próprio spam e que se adequa aqui:
Mulheres, ensinem isto para suas amigas!
Homens, ensinem isto para suas esposas, filhas, namoradas, amigas.
(Fora que ainda nos deixa com a sexista mensagem “Os homens que se danem! Neste mundo só se brecha mulher!”. Que absurdo.)
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Mais spams destruídos:
Motivos para não incluí-los em meus textos;
Spam da Doença de Chagas em feijão;
Spam do camarão e da vitamina C;
A falsa cura do câncer desmentida mais rapidamente que eu já vi;