Sustentabilidade, adubos e bosta urbana

No filme Waterworld, com o ator americano Kevin Costner como protagonista, a maior parte das terras emersas desapareceu (possivelmente por descongelamento de geleiras polares em uma Terra mais quente) a ausência de terras agricultáveis força os humanos a reciclarem seus mortos visando a reutilização dos nutrientes neles armazenados. Embora não ache a idéia de modo algum absurda, não creio que precisemos de atitudes como esta tão cedo.
Penso, no entanto, que a humanidade se defrontará com desafios semelhantes em um futuro próximo e soluções inovadoras serão necessárias. Para produzir alimentos para uma população crescente e manter os preços destes alimentos em níveis acessíveis, tem sido necessário fazer agricultura em grande escala. Para se conseguir produzir grandes quantidades de alimentos de origem vegetal a preços razoavelmente acessíveis, uma tarefa na verdade difícil, os agricultores tem feito uso de métodos que homogeneizem ao máximo os campos agrícolas, tornando o ambiente físico e químico o mais apropriado possível para que as espécies cultivadas expressem todo ou quase todo potencial genético. Entre outras técnicas, a adubação usando-se fertilizantes químicos de alta solubilidade se tornou o método mais usual de se disponibilizar nutrientes em quantidades adequadas aos cultivos.
Os adubos, ou fertilizantes, garantem a nutrição mineral das plantas cultivadas e a necessidade de seu uso advém do fato de que os solos possuem um estoque finito de nutrientes minerais. Uma vez exauridos estes estoques, faz-se necessária a aplicação de fertilizantes concentrados para a manutenção da produção agrícola. Os nutrientes minerais são absorvidos pelas raízes e então distribuídos para as várias partes do corpo da planta. Quando se colhe uma cultura agrícola, embora alguma parte da vegetação possa permanecer no campo de cultivo, e o ideal é que permaneça, devolvendo ao solo parte dos nutrientes absorvidos, através da decomposição do material orgânico, uma fração considerável, e em alguns casos majoritária, é retirada da área de cultivo e os nutrientes nestes produtos são irreversivelmente “exportados”.
O fato de estes nutrientes exportados não serem recuperados para as terras produtoras é uma das causas maiores da necessidade do uso de fertilizantes. Mas qual o problema de se usar adubos? Alguém mais ou menos familiarizado com o assunto pensaria logo na poluição das águas subterrâneas e estaria certo. Este problema, porém, pode ser contornado ou resolvido pela adoção de práticas adequadas de manejo da adubação. O grande problema é que as fontes de adubo são finitas e estão escasseando rapidamente. O cloreto de potássio, por exemplo, maior fonte de adubos potássicos, vem de depósitos minerais de evaporitos em países como China e Rússia, embora também haja alguma coisa no Brasil. As principais fontes de rocha fosfatada estão no norte da África e já se exaurem. Mesmo a uréia, produzida a partir do nitrogênio atmosférico, depende do petróleo para sua fabricação.
Utilizando uma frase querida aos eco-catastrofistas, este modelo é claramente insustentável. E quais as soluções para isso? Apesar de ver grande potencial na utilização de práticas como a rotação de culturas, o uso de adubos verdes, a agricultura de precisão, as técnicas de produção integrada, o plantio direto, a agricultura orgânica, acho que as alternativas do tipo Waterworld podem vir a ter algum papel no futuro.
Adotando um tom ironicamente profético, acredito que chegará um tempo, e não está longe, em que serão necessários cálculos para se retornar os nutrientes exportados aos campos de cultivo, talvez na forma de fezes tratadas e desidratadas ou, melhor ainda, compostadas, com ou sem calcário, uso de biossólidos (lodos de esgoto urbano e industrial) e outras. Quase toda a cenoura produzida na pequena cidade mineira de Rio Paranaíba, por exemplo, é vendida em São Paulo ou na distante Fortaleza. Dentro das cenouras vão preciosos nutrientes que jamais verão os solos de Rio Paranaíba novamente. Isto não pode continuar desta forma, definitivamente, não há sustentabilidade neste modelo. Se os moradores das grandes cidades, preocupados com o meio ambiente, confortáveis em encontrar um bode expiatório para a degradação no mundo, querem contribuir para uma agricultura sustentável, que nos devolvam a bosta! É necessário começar a pensar, ousadamente.

“Consumidores de luxo” de potássio

Por Flávia Alcântara
O último texto do Juscimar me lembrou uma questão que tenho vivido na prática, desde que comecei a trabalhar como pesquisadora e passei a me envolver efetivamente com fertilidade do solo. Digo “efetivamente” porque uma coisa é a academia e outra é a realidade do campo e da pesquisa. Acho muito bom que tenhamos uma nova reserva de potássio em nosso território e concordo plenamente com o fato de que só há vantagens em acabar a cartelização do KCl (ou de qualquer coisa!). Obviamente tenho minhas preocupações ambientais e sociais no que diz respeito à extração nessas reservas, mas isto é outro ponto.
O assunto sobre o qual quero tratar aqui perpassa o fato de termos uma nova reserva e, ao mesmo tempo, pode ser modificado por esse fato – se para pior vai depender de quem trabalha na área. Essa assunto é a utilização excessiva de potássio que, me parece, ocorre hoje na agricultura brasileira. Grande parte do potássio extraído das reservas mundiais é utilizada para a obtenção dos formulados comerciais (fertilizantes com proporções definidas de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) – os famosos NPK). Outra parte é utilizada como fertilizante simples, o próprio KCl, principalmente nas adubações de cobertura (adubações realizadas durante o ciclo das plantas para complementar a adubação de plantio, em que se fornece N, K e, em alguns casos, micronutrientes). Bom, a utilização excessiva de K sobre a qual falo é causada pela utilização excessiva de formulados. Explico. Os formulados mais utilizados comercialmente são o NPK 4-14-8 e o NPK 4-30-16. Estas fórmulas significam o seguinte, tomando como exemplo a primeira: em 100 quilos do produto estão presente 4 quilos de N, 14 quilos de P-P2O5 e 8 quilos de K-K2O. Portanto, fornecem os três nutrientes, ao mesmo tempo, em proporções diferentes.
O que acontece nos solos brasileiros é que a necessidade de adubação fosfatada é muito maior do que a necessidade de adubação potássica, mesmo que esses dois elementos estejam presentes em teores proporcionalmente baixos no solo. Isto ocorre devido à alta capacidade de fixação do P dos nossos solos altamente intemperizados, nos quais, a grosso modo, as plantas só absorvem o P após ter sido praticamente saturada toda a capacidade de fixação desse elemento no solo – é como se elas ficassem com a raspa do taxo. Assim, são necessárias, em geral, altas doses de P (aplicado na forma de P2O5) para que se obtenha teores adequados ao crescimento e desenvolvimento das culturas (para sobrar uma raspa generosa!). Caso a dose recomendada de P-P2O5 seja alta, é extremamente difícil, com a utilização de um desses formulados, que se consiga suprir essa necessidade sem ultrapassar as doses recomendadas de N e K, mesmo que estas sejam também altas – numericamente nunca serão tão altas quanto a de fósforo, basta olhar os boletins de recomendação. Na prática o que ocorre é a utilização de formulados (ex.: 3 ou 4 ton./ha) sem levar em consideração a análise química do solo, que muitas vezes nem é realizada.
A utilização dessas doses de formulados é uma decisão tomada por produtores e ou engenheiros agrônomos com base em vários critérios que não discutirei aqui, mas que vão desde a facilidade de aplicação (para se utilizar fertilizantes simples, ou seja, um que forneça N, outro que forneça P e outro que forneça K, é preciso fazer mistura, o que requer mais tempo e mão-de-obra) até a sugestão do vendedor ou do vizinho ou agrônomo da fazenda ao lado. A facilidade de aplicação é compreensível, mas a displicência não. O que comecei a notar no meu trabalho como responsável por um laboratório de fertilidade do solo e pelas minhas andanças por aí é que, apesar de os teores de P no solo continuarem baixos ou médios, os teores de K estão quase sempre altos ou muito altos. É a utilização dos formulados. Quero deixar claro que não sou contra os formulados, mas saliento que, na maioria dos casos, eles devem ser utilizados juntamente com fertilizantes simples. Podemos suprir todo ou quase todo o N e o K numa adubação de plantio com um formulado e complementar a dose de P requerida com um fertilizante simples fosfatado. Isto é pura matemática. É bom senso.
E qual é o problema do excesso de K nos solos? Como disse o Juscimar não se conhece sintomatologia de excesso de K, mas como cátion que é, o K em excesso poderá causar desequilíbrios em relação ao Ca e ao Mg (também cátions) por ser absorvido preferencialmente pelas plantas. Já vi casos de deficiência de Ca no meio do ciclo (em tomateiro) por causa do excesso de K e ouvi vários relatos similares. Nesses casos, ocorre o “consumo de luxo” de K – a planta o absorve mas não o utiliza. Além, disso, e aí entram as reservas de potássio do Brasil (e do mundo), estamos desperdiçando potássio! Mesmo com uma nova reserva no Brasil, mesmo com dezenas de novas reservas que apareçam pelo mundo, estamos desperdiçando potássio! Esta não é uma era de desperdício e é preciso que todos entendam isso. Esta é uma era de sustentabilidade. Portanto, que comecemos a pensar sobre a necessidade de consumo interno de potássio. Qual é o real “tamanho” dessa necessidade? E que façamos bom uso da nossa nova reserva, com reserva.

Nova reserva de potássio pode deixar o Brasil auto-suficiente

O Ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, anunciou na última semana que o Brasil possui atualmente a terceira maior reserva de potássio do mundo, ficando atrás apenas da Rússia e do Canadá. Esta nova reserva está localizada no norte do país, estendendo-se até o Pará, ao longo do Rio Amazonas. Há ainda indícios da existência de outras duas próximas a uma área já explorada pela Vale do Rio Doce para obtenção do insumo. A expectativa do governo é que a exploração destas últimas eleve a produção dos 9% para 25% da necessidade de consumo interno. Em 2008, os produtores importaram 91% do cloreto de potássio consumido, gastando US$ 5 bilhões. (matéria publicada na Gazeta Mercantil, versão on-line).
Em primeira instância essa notícia figura-se como ótimo presente de Páscoa, haja vista a preocupação dos produtores e fornecedores quanto à manutenção do suprimento desse insumo. Embora o potássio esteja entre os dez elementos mais abundantes na crosta terrestre, suas reservas no mundo são pontuais e acredita-se que as jazidas existentes não sejam suficientes para atender a sua demanda mundial. Obviamente, existem outras fontes alternativas para extração desse fertilizante, porém essas fontes apresentam limitações que inviabilizam sua comercialização, tais como concentração mínima e solubilidade. Abrindo um parêntese, a legislação brasileira prevê que para comercialização de um produto como fonte de potássio, ele deve ter em torno de 60 % de K2O solúvel em água. Em geral as fontes alternativas possuem menos de 20 % (teores totais) de K2O “seqüestrados” em estruturas minerais bem mais estáveis, como os feldspatos. Assim, o primeiro desafio seria deixar esse potássio mais solúvel e depois concentrá-lo.
Apenas para recordar, o potássio é um nutriente essencial para as plantas, o que significa que na sua ausência ou fornecimento inadequado a produção é comprometida. Sua função nas plantas é de regulador osmótico necessário à atividade enzimática e à síntese protéica, sendo um nutriente móvel. Não se conhece sintomatologia para o seu excesso. A carência de potássio provoca um crescimento vegetal muito reduzido, clorose matizada da folha, manchas necróticas, folhas recurvadas e enroladas sobre a face superior e encurtamento de entrenós. Inicialmente, os sintomas acentuam-se nas zonas mais velhas das plantas.
Encarando essa notícia com certo ceticismo, a minha dúvida é qual será o real impacto dessa descoberta para os nossos produtores. Ela implicará somente na queda da importação do KCl, o que já seria muito bom porque estaríamos livres da cartelização desse produto ou os agricultores poderão sonhar com redução ou até mesmo congelamento do preço desse insumo? Particularmente, eu não apostaria na ultima opção, veja, por exemplo, os preços que pagamos por nossos combustíveis (e.g. gasolina). Somos praticamente auto-suficientes, mas o preço que pagamos é um dos mais elevados do mercado mundial.
De qualquer maneira, é bom saber que em breve poderemos nos tornar auto-suficientes também na produção desse fertilizante, o mais importado, percentualmente, pelos produtores brasileiros. Com isso ficaremos livres da cartelização do KCl que deixa o Brasil bastante vulnerável às flutuações de preço, acarretando em custos muito altos de produção.

Ciência do Solo: Muito além de uma Ciência Agrária.

Em recente discussão, nós, autores do Geófagos, decidimos por uma “volta à fazenda”, conforme proposto pelo Ítalo. Trocando em miúdos, resolvemos voltar o foco para nossa origem, a Ciência do Solo. Para selar essa volta, acredito eu, não há nada melhor que um texto que introduza o leitor ao assunto, mostrando o quão abrangente é essa ciência e que, ao contrário do que costumeiramente se vê e entende, ela abrange uma gama de assuntos que se estendem muito além das Ciências Agrárias.
Piaget diz que a multidisciplinaridade se faz presente quando “a solução de um problema torna necessário obter informação de duas ou mais ciências ou setores do conhecimento sem que as disciplinas envolvidas no processo sejam elas mesmas modificadas ou enriquecidas”. Pois bem, acredito que a ciência do solo se enquadra bem nesse conceito.
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Foto de um perfil de solo – LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico húmico do Parque Nacional do Caparaó (MG)
Ao contrário da visão tradicional e da “neoclássica” de Ciência do Solo, acredito que ela possui sim uma multidisciplinaridade nata, bastante evidente em uma análise crítica bem fundamentada. Tal multidisciplinaridade fica também evidente quando recorre-se aos primórdios dela, quando Dokuchaev descreveu o solo como um corpo natural dinâmico, cuja dinâmica depende de uma interação de fatores como relevo, ação da biota, clima e tempo. Desses, alguns são fatores ativos, passivos e controladores que são representados, respectivamente, pela biota e clima, tempo e relevo.
A ciência do solo é uma Geociência, principalmente, quando do campo da Pedologia. Afinal, estudar um corpo formado ao longo de centenas ou milhares de anos não nos remete ao estudo do Tempo Geológico e das muitas modificações sofridas pela esferas terrestre ao longo de sua evolução? Estudar os depósitos minerais lateríticos não nos remete à Geologia Econômica? Existem processos sedimentares sem antes haver intemperismo e pedogênese? Enfim, as respostas são claras.
Ela também é uma Ciência Agrária. O exemplos mais claros são, sem dúvida, as interações solo-planta e suas consequências. É o aspecto que tem ficado mais evidente ao longo do tempo, principalmente, devido ao viés agrícola predominante ao longo de sua evolução. Esse já foi deixado subentendido por Heródoto, Teofrasto, Crescentius, etc… Essa íntima relação e a evolução da Ciência do Solo, como um todo, é que permite a exploração agrícola de terras antes consideradas inapatas ao uso agrícola, como o cerrado brasileiro, por exemplo.
Ciências básicas como Química, Física e Biologia também fornecem importantes ferramentas para a evolução desse jovem ramo da ciência. Outras não tão básicas, como a Mineralogia, por exemplo, também o fazem. O equilíbrio químico e as relações da macro, meso e microfauna do solo são bases para estudos do intemperismo e da pedogênese, sobretudo em regiões tropicais úmidas.  A resistência mecânica das rochas é importante fator naquelas áridas e também nas geladas. A resistência de um solo aos processos erosivos está intimamente relacionada com suas características físicas e também com a mineralogia de suas argilas. A fertilidade ou toxicidade de um solo dependem não somente dos teores de nutrientes presentes, mas também de sua especiação. A mineralogia também está frequentemente ligada à maior ou menor disponibilidade de nutrientes, elementos e substâncias tóxicas. A qualidade e a quantidade de recursos hídricos subterrâneos também são fortemente dependentes da qualidade do solo, ou seja, do conjunto de fatores químicos, físicos, biológicos e mineralógicos dos solos.
Obviamente, esses exemplos não esgotam a multidisciplinaridade dessa ciência. Entretanto, eles representam bem como a Ciência do Solo vai muito além de uma Ciência Agrária. O viés agrícola foi sem dúvida o que deu sustentação ao crescimento desta como ciência, sua importância é inquestionável, mas a visão estritamente agrária dessa ciência não mais é a sua realidade.
A expansão e o amadurecimento da Ciência do Solo podem ser vistos em trabalhos recentes. Questões relacionadas à gênese, uso e a ocupação do solo têm sido atualmente reconhecidos como importantes vertentes econômicas, como importantes reservatórios e sequestradores de carbono, como fundamentais para a vida em ambientes hostis como Antártica (por exemplo, pelo transporte através de correntes marinhas do fósforo adsorvido em óxidos férricos Australianos), meio de suporte para crescimento de matérias primas energéticas, como as dos biocombustíveis, entre outras. Mas muito além disso, não tem-se perdido o foco de questões sempre presentes nas discussões, entre elas e, talvez a mais importante, a segurança alimentar (aqui incluídos aspectos qualitativos e quantitativos da produção de alimentos).
Carlos Pacheco

E o futuro da agricultura?

Por Elton Luiz Valente

Analisando alguns dados sobre as condições ambientais das partes elevadas da Serra do Cipó, na Cordilheira do Espinhaço, frutos de um estudo que trata das relações entre o solo e a vegetação naquele ambiente, surgiram algumas reflexões. Aliás, da Serra do Cipó já temos algumas publicações no Geófagos, como estas aqui e aqui.

Naquele ecossistema, o gradiente de vegetação, de Campo Rupestre para Floresta, acompanha o gradiente de solo. A vegetação vai se tornando mais elevada e densa na medida em que o solo torna-se mais profundo. Os solos são todos ácidos, extremamente pobres quimicamente e ricos em alumínio trocável. A principal estratégia da vegetação, segundo algumas de nossas conclusões, é a ciclagem biogeoquímica. Mais Bio do que Geo, diga-se.

No entanto, a vegetação florestal é robusta. São disjunções de Floresta Ombrófila ocorrendo a mais de 1.200 metros de altitude. Não há evidências de desnutrição na fitomassa. Ocorrem indivíduos com até 30 metros de altura estimada e mais de 200 cm de circunferência de tronco. Isso revela, de acordo com nossas conclusões, uma alta eficiência dessas espécies em utilizar os poucos recursos disponíveis e, com eles, sintetizar altas taxas de carbono. Em outras palavras, estas espécies sintetizam muito carbono, na forma de fitomassa, com pouquíssimos recursos minerais. Isso me fez refletir sobre algumas questões, entre elas, o futuro da agricultura e os possíveis caminhos que podem ser percorridos pelas ciências agrícolas. Ciência do Solo e Fitotecnia, por exemplo.

Os maiores avanços obtidos na agricultura, desde que o homem (ou a mulher) domesticou algumas espécies, tiveram como foco a produtividade. No último século, esses avanços foram espantosos. Ao aliar o melhoramento genético com a modificação, ou ajuste, de ambientes antes negligenciados, como o Cerrado no Brasil, produziu-se uma verdadeira revolução nos modelos e processos de produção agrícola. O Brasil é um excelente exemplo disso.

Muitos entusiastas desse novo modelo de produção agrícola chegaram a dizer que a Teoria Malthusiana (Thomas Robert Malthus, 1766-1834) estava equivocada. Será? Algumas questões nesse enredo não são novas, mas como estão se tornando cada vez mais pertinentes, vale repetir pelo menos uma delas: Os sistemas agrícolas vão suportar a pressão do agronegócio por longo prazo?

E aqui podem entrar outras questões: Qual será o futuro da agricultura? Qual será a demanda para o Engenheiro Agrônomo e para a Ciência do Solo? Será que com nossa visão eminentemente mecanicista do mundo nós estaremos preparados para elas?

Em resumo, o modelo de agricultura do agronegócio promoveu a produtividade, sem se preocupar com as necessidades de consumo das culturas. Essas espécies (ou cultivares) necessitam de um ambiente “ajustado” às suas necessidades. Necessitam de altas doses de nutrientes para manter suas altas taxas de produtividade e fechar os seus ciclos produtivos com a eficiência desejada. Estas culturas apresentam ainda aquilo que nós chamamos de “consumo de luxo”, em que o aumento na absorção do nutriente e sua concentração nos tecidos não são acompanhados por aumento no crescimento ou produção.

Por outro lado, as espécies nativas, em condições naturais, possuem alta eficiência na absorção de nutrientes (utilizam estratégias como associações simbióticas e exsudatos radiculares para “ajustar” a rizosfera); possuem alta eficiência na síntese de carboidratos sob condições adversas e apresentam menor demanda nutricional e, claro, menor produtividade quando comparadas às espécies “melhoradas”.

E aqui entram algumas questões que me ocorreram: Qual é a taxa mínima de disponibilidade de nutrientes que estas espécies nativas conseguem suportar? Qual será o comportamento delas mediante uma melhora na CTC do substrato, aumento do pH do meio e um aumento nas doses de nutrientes disponíveis? Elas responderão positiva- ou negativamente a essas mudanças? Qual a importância dessa alta eficiência na utilização dos poucos recursos disponíveis, mediante a uma agricultura que promoveu a produtividade sem se importar muito com os impactos de modificações do meio (o solo), nem com as exigências nutricionais das culturas?

Utilizando o comportamento das espécies nativas como balizador, será possível, num futuro próximo, conciliar estes dois extremos? Ou seja, será possível desenvolver adaptações, ou modificações genéticas, nas espécies cultivadas para que elas forneçam produtividades economicamente viáveis, exigindo baixos teores de nutrientes e poucas alterações no substrato (o solo)?

Quem sabe não está aí uma importante e promissora linha de pesquisa para a próxima década?

O fascínio da Ciência (ou Desaprendendo para ensinar)

Entre os que defendem a visão científica do mundo como a forma mais eficaz para realmente explicar o universo e todo o resto, é comum utilizarmos como argumento o fato de o conhecimento científico não ser estático, dogmático, ao contrário de outras formas de interpretação da realidade. Em meu próprio campo de estudo, acabo de esbarrar, esta é a palavra mais apropriada, com algo do tipo. Entre minhas atribuições como bolsista PRODOC-Capes está a de ministrar aulas. Estou atualmente responsável pela disciplina de Matéria Orgânica do Solo na pós-graduação e, previsivelmente, preciso ler muito para oferecer o que há de mais atual na literatura científica sobre o assunto. Quando estudei comecei a me familiarizar com as pesquisas sobre decomposição da matéria orgânica do solo, lá pelos idos do começo do milênio, foi-me ensinado que uma das variáveis mais importantes no controle da decomposição era a razão entre conteúdo de carbono e conteúdo de nitrogênio de um composto orgânico, conhecida como relação C/N: quanto maior esta relação, mais carbono em relação a nitrogênio, mais difícil de se decompor o material, maior a imobilização de nitrogênio pelas células microbianas, o que poderia afetar negativamente a nutrição vegetal. Melhor do que a relação C/N como indicadora de qualidade do material orgânico, aprendi então, era a relação lignina/N: a relação C/N era muito geral e não indicava exatamente quais compostos carbonáceos eram mais resistente à decomposição, a relação lignina/N já refinava a coisa, ao considerar que os compostos ricos em lignina eram os mais resistentes, afetando mais diretamente a capacidade decompositora dos microrganismos. Estava eu ontem me preparando para uma aula sobre nitrogênio no solo a ser dada amanhã, quando encontro este recente trecho de um texto sobre o assunto, de autoria do cientista do IAC, Heitor Cantarella: “A relação lignina/N também tem sido usada como um indicador para a mineralização de substratos orgânicos, porém a relação C/N tem se mostrado mais útil para tal” e cita uma quantidade de artigos recente apoiando a afirmação. As implicações desta mudança de visão não são pequenas: é necessário reavaliar-se práticas de manejo do solo visando não só a nutrição de plantas como o sequestro de carbono em solos tropicais. Senti-me irremediavelmente ultrapassado, mas não. Isto é a ciência em funcionamento, saudável funcionamento: fatos mais recentes e conclusivos desdizem o que antes se acreditava, oferecendo uma perspectiva mais confiável, possivelmente, dos processos naturais. Que outra forma de interpretação do mundo permite isso? O dogmatismo religioso, talvez?

Elementos-traço: enriquecimento do solo e valores orientadores I

 

A agência de fomento à pesquisa, CNPq, lançou recentemente edital para apoiar projetos cujo objetivo seja avaliar o uso eficiente e fontes alternativas de nutrientes para agricultura. A princípio pode parecer uma iniciativa inovadora para sanar um problema pontual, porém pesquisas visando à utilização de subprodutos na agricultura já vem sendo desenvolvida a algumas décadas, inclusive muitas delas financiadas pela propria agência. De qualquer maneira, como é de conhecimento geral, dentre os grandes desafios da agricultura nacional estão a busca pela diminuição dos custos de produção, tendo em vista os autos preços dos fertilizantes, e a obteção de fontes alternativas de fertilizantes e condicionadores de solos- corretivos da acidez, uma vez que as fontes atuais são finitas. Conforme enfatizado no edital, será dada preferência para projetos que abordem o uso de rochas “nacionais”, entretanto, a idéia central nos pareceu ser a reciclagem de resíduos na agricultura, tema já abordado aqui no Geofágos. É sabido que diferentes materiais podem ser utilizados para esse propósito. Contudo, o que não pode ser negligenciado é a ocorrência também de agentes poluidores que podem causar passivos ambientais.
Conforme já bem enfatizado em postagens anteriores, estes agentes poluidores existem, na maior parte, naturalmente, mas as atividades antrópicas podem concentrá-los em quantidades potencialmente prejudiciais. Assim, o uso continuado de determinado resíduo ou subproduto industrial (ex.: escória de aciaria, lodo de esgoto, etc.) ou material natural (ex.:pós de basalto, carbonatitos, etc.), como condicionantes de solo ou fertilizantes, pode resultar no aumento dos teores de elemetos-traço no solo. Uma vez que o teor de um determinado elemento exceda a aqueles de ocorrência natural ele será considerado poluente, conforme definição apresentada no post Metais pesados em solos: Metais como poluentes ambientais.
Lembremos que os atuais insumos agrícolas utilizados com finalidade corretiva ou nutricional, já representam uma provável fonte de contaminação, em especial os fertilizantes fosfatados e seus derivados que, em geral, contém diversos elementos-traço (Co, Cu, Fe, Mn, Mo, Zn e Ni), fluoretos e elementos tóxicos (As, Al, Cd, Pb e Hg), conforme a origem do material. Um estudo conduzido pela Agencia de Proteção Ambiental dos Estados Unidos- USEPA revelou que a adição anual máxima ao solo (também chamada de carga máxima anual) permitida para elementos-traço provenientes de insumos agrícolas poderia ser superada pelo uso de alguns fertilizantes fornecedores de micronutrientes e subprodutos utilizados como corretivo de acidez.
É altamente salutar lembrarmos ou alertar a todos que no Brasil não há legislação estabelecendo quais são esses teores de ocorrência natural de elementos-traço em solos. Assim, para evitar que o uso das potenciais fontes alternativas de fertilizantes não seja promovida de maneira aleatória, é de fundamental importância pesquisas direcionadas também para obtenção de valores orientadores (também denominados de valores de “background”) de elementos-traço em solos para elaboração de um banco de dados, que por sua vez possam ser utilizados como referência pelos órgãos de fiscalização ambiental.
Como o Brasil, pelas suas dimensões continentais, repousa sobre uma infinidade de tipos de rochas, a ação dos fatores formadores de solo ao longo do tempo originará um grande número de solos diferentes. Estas condições são ideais, para a avaliação da presença dos elementos-traço e da influência dos ambientes edáficos e extra-edáficos no comportamento destes elementos ao longo do perfil do solo. Também, aspectos da interação dos elementos-traço com as matrizes minerais e orgânicas dos solos podem ser convenientemente avaliados nestas condições.
A boa notícia! Atento a esta carência de informações, o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA está preparando um documento que determinará que todos os estados do território nacional possuam seus próprios valores orientadores de elementos-traço. E, uma vez implementada, pode-se vislumbrar a aproximação dos órgãos ambientais com os centros de pesquisa e, ou, as universidades para celebração de convênios e parcerias, abrindo mais oportunidades inclusive para pesquisadores em início de carreira que buscam se engajar numa linha de pesquisa de interesse bastante relevante.

Continua…

Juscimar Silva

 

 

Também temos o que ensinar!

O texto escrito por Jeffrey D. Sachs, economista e diretor do Earth Institute da Columbia University publicado na Scientific American Brasil (Junho, Ano 6, no. 73) intitulado ‘A Revolução Verde Africana’ atraiu minha atenção nos seguintes aspectos: de acordo com as informações contidas no texto, a produtividade alimentícia no continente africano é de aproximadamente 1 tonelada métrica de grão por hectare de terra cultiva, o que corresponde a um terço da produtividade alcançada por outros continentes. Este insucesso creditado às mudanças climáticas e a depleção dos nutrientes do solo já atingiu proporções críticas nessas regiões. Assim, estes fatores aumetam a vulnerabilidade da África à insegurança alimentar, haja visto que os preços ascendentes de alimentos no mundo impuseram uma carga paralisante ao continente, na qualidade de importadora de alimentos. Ainda no início do texto, o autor cita que para o continente africano “já está na hora de uma benção agrícola como a que impulsionou as perpectivas da Ásia” e foi está frase que me fez indagar: por que a Ásia e não o Brasil? Indubitavelemente, concordo com o autor que postula o uso de sementes de alta produtividade, fertilizantes e manejo adequado da irrigação como sendo primordiais para aceleração da produtividade agrícola, entretando, isso é “chover no molhado”. Ao invés de incitar a aquisição de insumos, que embora importante só interessa às grandes multinacionais, mais interessante seria explorar as experiências vencedoras da Revolução Verde em outros países.
É salutar lembrarmos que nas décadas de 60 e 70, o Brasil iniciou tal processo e hoje acumula experiência de sobra para superar qualquer modelo asiático financiado por agências americanas. Desenvolvemos tecnologias próprias, tanto em instituições privadas quanto em agências governamentais, como a Embrapa e as universidades. Em menos de 30 anos, o Brasil saiu de uma agricultura familiar e se firmou como um dos maiores produtores agrícolas do mundo. Exemplo mais claro é a tecnologia da fixação biologica do nitrogênio (processo pelo qual o N2 fixado da atmosfera por bactérias diazotróficas, Rhizóbios, em simbiose com as raíses de plantas é convertido em compostos nitrogenados, amônio ou nitrato, usados em diversos processos químico-biológicos do solo, especialmente importantes para a nutrição de plantas) que foi o motor propulsor que levou nosso país a ser o principal produtor de soja do mundo. Tal tecnologia também é utilizada na cultura da cana-de-açucar, pivô de ciúmes internacionais devido ao grande potencial para obter a partir dela o ethanol (combustivel limpo que atua duplamente e de forma positiva na luta contra o aquecimento global – sequetro e redução da emissão de CO2 principal gás causador do efeito estufa). Além do mais, se considerarmos a relativa “similaridade pedológica” entre Brasil e África, a experiência brasileira no que tange ao uso eficiente de fertilizantes, manejo de solos, plantio direto (somos o segundo no mundo em área plantada), uso de sementes adaptadas e de alta produtividade, uso adequado da água, dentre outros fatores associados à carência tecnológica do continente africano, temos informações e conhecimentos adquiridos (também com os erros porquê não!) suficientes para serem partilhados.
Então por que uma quantidade limitada de textos, opiniões, artigos, etc. internacionais citam o Brasil como exemplo de sucesso a ser seguido. Essa talvez seja uma das perguntas que deviriamos nos fazer! Em conversa informal entre a equipe Geófagos, nós temos a convicção de que as informações obtidas ao serem publicadas em periódicos nacionais (Revista Brasileira de Ciência do Solo, a principal do país na área das Ciências Agrárias) é um dos principais entraves à divulgação científica, uma vez que poucos países falam a lingua portuguesa. Entretanto, numa iniciativa bem pensada, de uns anos para cá a Revista Brasileira de Ciência do Solo passou a aceitar artigos científicos escritos na lingua inglesa o que aumentarrá em muito a inserção internacional dos produtos obtidos aqui. Contudo, devemos ser mais ágeis nesse sentido porque corremos o risco de não sermos lembrados uma vez que não estamos sendo vistos.

Intemperismo químico de rochas e salinização de solos do semi-árido

Em certo trecho no último post comentei sobre a inadequação do uso de águas subterrâneas na irrigação em solos do semi-árido desenvolvidos sobre rochas que chamei de cristalinas. Este assunto, parece-me, merece um pouco mais de explicação. As rochas do mundo dividem-se em três grandes grupos: rochas ígneas, rochas sedimentares e rochas metamórficas. As rochas ígneas são aquelas que se originam do resfriamento do magma, quer no interior de câmaras magmáticas, quer no ambiente externo, como exemplos de rochas ígneas pode-se citar os granitos e os basaltos. Rochas sedimentares são aquelas originadas a partir da litificação (“petrificação”) de sedimentos. Os sedimentos podem originar-se da intemperização de outras rochas, da precipitação de compostos, como o carbonato de cálcio, ou de restos de organismos vivos. Os exemplos são o arenito, o calcário e os diatomitos. As rochas metamórficas, por sua vez, formam-se em ambientes de elevadas pressão e temperatura. As metamórficas podem ter origem tanto em rochas ígneas quanto em sedimentares: o gnaisse pode vir tanto de um granito quanto de um argilito. O que eu chamei de rochas cristalinas, muito comuns no semi-árido nordestino, são basicamente rochas ígneas e metamórficas dos grupos do granito e do gnaisse. Estes materiais são compostos predominantemente dos minerais quartzo, micas (biotita e muscovita) e vários feldspatos. Assim como já foi diversas vezes discutido aqui, a ação dos agentes intempéricos (água, vento, temperatura, organismos vivos…) causa a decomposição da rocha, o intemperismo. O intemperismo físico é resumidamente a quebra da rocha em pedaços menores. O intemperismo químico abrange tanto a perda de elementos químicos como a formação de minerais novos, chamados minerais secundários, em contraste com os minerais primários que compunham as rochas. Em regiões úmidas, a água, principal agente intemperizador químico, dissolve e carrega os elementos químicos em profundidade e superficialmente. É por isso que solos de regiões quentes e úmidas são nutricionalmente pobres. Em regiões semi-áridas, os solos costumam ser mais férteis porque o intemperismo tanto de rochas quanto de solos é muito menos intenso. Por esta mesma razão, as águas subterrâneas das áreas sobre material geológico cristalino têm teores de sais (medidos em termos de condutividade elétrica) mais alto. Além de o intemperismo ser incipiente, a alta evaporação muitas vezes faz com que haja ascensão de água subsuperficial por um processo chamado capilaridade. Esta água é rica em sais e, quando evapora, deixa o excesso de sal na superfície dos solos. Quando se irrigam as culturas com água de alta salinidade, é também a evaporação seguida de precipitação dos sais nos solos que causam a salinização. Além dos efeitos deletérios para as espécies vegetais, o excesso de sais pode comprometer também a estrutura dos solos, por causar dispersão de argilas e colóides orgânicos, destruindo os agregados, diminuindo a porosidade, aumentando a densidade do solo e agravando o problema já grave da erosão ao diminuir a infiltração de água nos solos. Assim, tanto a pobreza nutricional de solos de regiões tropicais úmidas, a profundidade do saprolito nestas áreas, quanto a riqueza nutricional de alguns solos do semi-árido e sua predisposição à salinização, dependem da intensidade da ação do intemperismo. 

Evolução humana e pedologia II

Bem, em recente post discuti a respeito da influência pedológica e geomorfológica no sucesso da evolução do homem primitivo. Agora discutirei acerca da influência dos solos na evolução do homem moderno. Para início de conversa é necessário entendermos um pouco mais sobre algumas características de grupos antigos e recentes. No início o gênero “homo” era nômade e vivia basicamente da caça e de frutos nativos. A fixação do homem em um determinado espaço com o consequente desenvolvimento da feição social hoje existente só foi possível graças ao aprendizado de como cultivar a terra. A essência agrícola do homem perdurou até o desenvolvimento de técnicas industriais. O próprio sucesso das sociedades feudais só foi possível porque existiam quem abastecesse os feudos com produtos essenciais para a sobrevivência da população. Com a advento das técnicas industriais e sobretudo após as duas revoluções industriais no século XIX ocorre uma elevada migração de pessoas para os então denominados centros urbanos. Esse fato agrava a necessidade de produção de alimentos em larga escala. O problema é que com a expansão de tais centros urbanos, cada vez mais tinha-se menos pessoas para produzir e mais pessoas para consumir os alimentos. Além disso, começa-se a limitar a disponibilidade de novas fronteiras agrícolas para implantação de campos de produção de alimentos. Para ter-se uma idéia de como a população vem crescendo vertiginosamente, segundo a wikipédia em 1912 eram necessários cerca de 123 anos para acrescentar um bilhão de habitantes à população mundial. Já em 1987 as estimativas apontavam para a necessidade de cerca de 12 anos para que o mesmo incremento ocorresse. Estimativas também apontam que na década de 30 a população mundial atingiu a marca de 2 bilhões de habitantes, sendo o primeiro bilhão atingido no século XIX. Já ao final da década de 90 do século XX a população mundial já atingia a marca dos 6 bilhões de habitantes, ou seja, um incremento de 4 bilhões de habitantes em cerca de 70 anos. Se analisarmos, por exemplo a população brasileira, segundo o último censo do IBGE, realizado no ano 2000, cerca de 137953959 brasileiros eram residentes em áreas urbanas. Já a mão de obra produtora de alimentos, aqueles habitantes residentes em área rural, constituíam um total de 31 845 211. Isso representa que cerca de 81% da população brasileira vive em zonas urbanas e apenas 19% vivem na zona rural, ou seja, são potenciais produtores de alimentos. Essa realidade pode tranquilamente ser extrapolada para uma escala global. Claro que excessões locais ou regionais existem, porém, a regra é semelhante à realidade brasileira. Com menos gente produzindo alimentos e com fronteiras agrícolas cada vez mais escassas a solução para que a sociedade moderna não entrasse em um “colapso alimentício” foi a utilização de técnicas de cultivos cada vez mais eficientes. Tais técnicas sempre foram puxadas pelo conhecimento do comportamento do compartimento solo frente à diferentes situações. Entender a fundo a interação solo-planta foi, sem dúvida, o “input” para que uma agricultura eficiente se instalasse. Dessa forma, menores áreas e menos pessoas seriam requeridas para a produção alimentícia. A consequência disso é que mais pessoas poderiam residir em cidades, aumentando a disponibilidade de mão de obra industrial, intelectual e comercial. Assim sendo, o surgimento de novas tecnologias em todos os setores ficou facilitado pela disponibilidade maior de mão de obra, mão de obra essa que agora não mais precisaria passar parte do seu tempo preocupado em como conseguir alimento, vestimenta ou abrigo. Não mais haveria de se preocupar porque era por essa mão de obra sabido que o alimento seria obtido na venda da esquina, a roupa na loja da tiazinha ao lado e o abrigo estaria lá, construído. Claro que a situação é muito mais complexa do que como colocada aqui, apresentando todas as complicações e implicações sociais conhecidas nos dias de hoje. Desigualdade social e todos os problemas dela advindos são exemplos claros de como o modo atual de vida pode ser também maléfico à determinadas classes. Os problemas ambientais também são exemplos claros das complicações do atual modelo de desenvolvimento. Porém, não existe dúvida de que a qualidade de vida da população mundial vem melhorando. Basta perguntar à maioria das pessoas que vivem em zonas urbanas se eles gostariam de morar no campo, produzindo seu próprio alimento e sem as facilidades e conforto do dia a dia. Outro aspecto positivo é o aumento da longevidade (expectativa de vida) das pessoas. Assim, podemos sim inferir que o desenvolvimento da pedologia e também de outras ciências agrárias foram fatores de impulso e responsáveis pelo sucesso do atual modo de vida da população mundial.

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