E “A Tirania do Petróleo” vai para…

Vamos por partes.

Como fiz o sorteio: euzinha aqui, copiei e colei o nome de todos os comentaristas no espaço reservado para isso no site Random.org.

Por que essa estratégia e não usar, simplesmente, o número que o blog já deixa do lado de cada comentário? Por que lá existem comentários meus, e também alguns comentaristas voltaram para discutir mais. Então, para me eliminar e para não dar mais chances para uns do que para outros, a estratégia de recortar e colar nome por nome dos comentaristas e eliminar os repetidos foi a escolhida.

Número 1: Adicionar os nomes

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Nome adicionados (são 20): expectativa, expectativa!!!!

Número 2: Random!

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And the Oscar goes to…..

Olha… eu detesto aqueles caras que fazem sorteio e ficam “cozinhando” o resultado até que saia para um amigo/amiga. D-E-T-E-S-T-O. Mas, que parece que esse sorteio foi marmelada, isso parece.

Número 3: O resultado

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Randomizei com todos os nomes para que, caso haja desistência do prêmio, o segundo, terceiro, e até encontrarmos um vencedor, possam ser contactados.

Parabéns a todos! E principalmente, parabéns à Ediouro por ter tido a coragem de traduzir e publicar esse documento fantástico!
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A Tirania do Petróleo é da Ediouro e foi uma cortesia para este blog. Um segundo exemplar do livro também foi cedido como cortesia pela editora para que fosse sorteado entre os comentaristas do post Resenha: A Tirania do Petróleo.

A reconstrução do tempo

Há vários dias quero escrever sobre como anda minha percepção do tempo – principalmente nas grandes cidades – nos dias atuais. Tudo começou com uma reflexão em um feriado qualquer: ir ou não a um aniversário na quinta feira a noite do outro lado da cidade. Aniversário, boca livre, encontro com a família estavam de um lado. Caos, trânsito, estresse de congestionamento pré-feriado, do outro.

Ganhou, claro, o “vou ficar em casa”. Poxa vida… marcar aniversário numa quinta-feira a noite pré-feriado é muito ruim e muita sacanagem. E, depois da reflexão, votei que era um desrespeito enorme com as pessoas. Todas. As convidadas e as anfitriãs. 

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Relógio astronômico de Praga. Flicrk, crédito de simpologist.

Em outro feriado qualquer, festa em outra cidade. Quando? No domingo à noite, volta de outro feriado. Trânsito, trânsito. Caos. Litros de combustível queimados para ficar parado. Estresse. Nem preciso dizer que ganhou, de novo, o “vou ficar em casa”, né? Gente… não dá. Temos que nos readaptar às novas realidades do mundo. Temos um mol de carros das ruas, não vamos acabar com todos eles amanhã, o IPI continua baixo, o que só significará mais carros nas ruas. No caos das preparações pré e pós-feriado, até os transportes públicos são caóticos. E, nas duas condições acima, ir de bicicleta, a pé, de patins, estava absolutamente fora de cogitação.

Dia de semana. Reunião de trabalho. Nada mais justo, necessário e digno sair para uma reunião de trabalho. Hora marcada: 17:00 hs. Eu fico mesmo pensando se temos o direito de entrar em contato com quem marcou a reunião e dizer: “Amigo, pelamordedeus, não dá pra ser mais cedo? Sabe, é que, se locomover em São Paulo às 17:00 horas é um caos. E as 18:30 horas, estimado para o fim da reunião, é pior ainda.” 

Óbvio, que não pude me aguentar e entrei em contato. Vai que… né? Ainda bem que eram pessoas que entendem a lógica do trânsito e toparam adequar o horário. Aperta agenda daqui, aperta dali. Remarca um telefonema internacional, pede licençinha pra atender um telefonema durante a reunião. Nada disso, mesmo, me incomoda mais do que ficar horas no trânsito. Nada.

Sinto, de verdade, que o aniversário, a festa, a reunião, e tantos outros eventos que convidamos e somos conviados diariamente, não são marcados para “sacanear” com as pessoas. Definitivamente não são. Mas, me intriga o fato de ainda não termos nos dado conta – eu inclusive – de que alguns horários não são mais praticáveis, não são mais saudáveis.

Vai ser difícil se adequar aos limites temporais dos próximos tempos? Sem dúvidas. Mas eu vou tentar.

Resenha: A Tirania do Petróleo

Rastro de Carbono adverte: este post pode causar azia e má digestão.

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Há um tempo recebi o livro A Tirania do Petróleo – a mais poderosa indústria do mundo e o que pode ser feito para detê-la, Antonia Juhasz, 2009, Editora Ediouro. Digo “há um tempo” mas o que quero dizer é “há muito, muito, muito tempo”. A Tirania do Petróleo não é um livro para qualquer um, nem para qualquer estado de espírito. Mais do que um livro, A Tirania do Petróleo é um documento completíssimo sobre essa indústria que, é mais do que uma indústria. É governo sem ser governo. É opinião pública sem ser pública. É guerra e paz. É meio e fim.

Pouca gente se dá conta, mas não temos petróleo desde sempre (e nem o teremos para sempre). A primeira grande descoberta de petróleo nos Estados Unidos, por exemplo, deu-se no dia 27 de agosto de 1859. Antes disso, pasmem, usávamos óleo de baleia como combustível para velas e lamparinas. De 1859 para cá, o consumo de petróleo aumentou vertiginosamente. Para se ter uma ideia, em 1900 existiam 8 mil carros trafegando. Em 1915, eram 2 milhões e 500 mil. Cinco anos depois, em 1920, 9 milhões e 200 mil automóveis trafegavam. Viva Henry Ford e o modelo de produção em série! A indústria do automóvel alavancou de vez a era do petróleo e quem alavancou de vez a indústria do petróleo foi Rockefeller

Rockefeller era o tipo de cara sem escrúpulos para os negócios. Dê-se conta de um cara de 7 anos que sai, compra balas, divide em porções e vende, com lucro, para os irmãos. Dê-se conta de cara que aos 22 compra um “substituto” para ocupar seu lugar no exército e faz uma fortuna vendendo suprimentos para o governo federal. Dê-se conta de um cara que aos 24 começa a comprar refinarias, e depois matéria-prima para barris de petróleo, carros-tanque e navios de transporte, depósitos e aos poucos é dono de toda uma cadeia de produção. Rockefeller construiu a indústria do petróleo e a guiou com mãos de ferro. Derrotou os pequenos proprietários que se recusaram a vender suas empresas familiares porque tinha o poder de ditar o preço do óleo, ou o poder de ditar o preço do transporte. O cara sem escrúpulos doou todos os seus talentos para a indústria petrolífera. Conhecer Rockefeller é conhecer a indústria do petróleo.

A indústria de petróleo tinha poder demais nas mãos. A percepção desse fato começou em alguns Estados e depois alcançou a esfera nacional, com fortes campanhas antitruste. Aos poucos, o grande monopólio de Rockefeller, a Standard Oil, se fragmenta em sete, que passam a trabalhar sob uma conduta: um cartel. Conhecemos essas empresas pelos nomes de agora, Exxon, Mobil, Chevron, Texaco, Amoco, BP, Conoco, Marathon, entre tantas outras. E sabemos que várias dessas já nem existem mais e foram favorecidas por processos de fusão e compra, numa “volta ao passado”, numa cartada espetacular, com objetivos comuns de manipular a oferta do petróleo, aumentar preços, derrubar governos, comprar votos, financiar guerras, intimidar pessoas.

“O preço do petróleo ainda está desalinhado dos fundamentos normais da oferta e da procura” Phil Flynn, 2008, in: A Tirania do Petróleo p. 135.

Considere uma indústria tão poderosa que pode financiar candidaturas de pessoas de confiança. Considere agora que, formar uma dúzia de pessoas unidas por interesses alinhados aos da empresa não é uma tarefa fácil, nem rápida. Considere então que, se há dinheiro, há possibilidade de financiar candidaturas de qualquer pessoa, por tanto tempo, que essa pessoa passa a se sentir responsável por atender a seus interesses. Pronto. Agora você tem a imagem do caos, e é capaz de entender porque certas leis se perpetuam, porque certos favorecimentos acontecem, porque o que parece absolutamente errado, torna-se, inexplicavelmente, regra.

Pegue o exemplo do Clean Air Act, de 1970, nos EUA, que introduz nova legislação para tornar refinarias de petróleo menos poluentes. Fantástico? Saiba que a legislação só opera sobre refinarias construídas APÓS 1970. OK. Não precisa ser muito sem escrúpulos para imaginar o que uma pessoa sedenta por lucros faria. Não há novas refinarias, nem projetos de refinarias, nos EUA, desde 1976. Isso as torna cada vez mais obsoletas, antiquadas e perigosas. Refinarias velhas, utilizando-se de processos antigos de refino de petróleo, emitem muito mais poluentes do que o realmente necessário para sua operação. Sem contar no perigo causado não só para quem mora nas redondezas de uma, mas para os trabalhadores, frequentemente submetidos a explosões e vazamentos.

“As reduções de emissões e um meio ambiente melhor beneficiam a sociedade de diversas maneiras. No entanto, a magnitude e a incerteza das exigências ambientais e sua aplicação aumentam os custos e afetam negativamente o investimento doméstico em refinarias.” National Petroleum Council, in “A Tirania do Petróleo p. 199.

Mas dá pra dizer que a indústria do petróleo não investe em tecnologias emergentes de energia? Não dá. Segundo John Felmy, economista-chefe do American Petroleum Institute, “nosso setor nos [últimos] cinco anos, investiu quase 100 bilhões de dólares – mais de duas vezes e meia do investimento conjunto do governo federal e todas as outras empresas dos Estados Unidos” . Pena que “tecnologias emergentes de energia” não são pra indústria petrolífera o que é para nós. Não se trata de energia eólica, solar, biocombustíveis. Trata-se de areias betuminosas, xisto petrolífero e liquefação de gases – claro!

Por esses exemplos e trechos, perceba que “A Tirania do Petróleo” é mais do que um documento sobre meio ambiente e políticas públicas. É um documento sobre a história dessa indústria poderosa, sobre os homens e mulheres que  construiram essa indústria e que fazem de tudo para mantê-la viva. É a história do poder acima das leis, acima das fronteiras, acima dos governos. É a história de contratos, acordos, posses – de terras, de países. Entenda um pouco mais do porquê das Guerras do Golfo, da tomada do Iraque e a morte do então coadjuvante nesse jogo de cartas, Saddam Hussein. Entenda mais sobre os governos Bush (pai e filho), saiba quem é quem no poder durante o período de seus governos e deixe-se envolver por esse documento que é um passeio na história da humanidade e ainda explicará muito das tomadas de decisões que estão por vir.

Saiba mais sobre esse livro da própria autora, Antonia Juhasz nesse vídeo (em inglês):

 

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A Tirania do Petróleo é da Ediouro e foi uma cortesia para este blog. Um exemplar do livro será sorteado entre as pessoas que deixarem comentários nesse post até o dia 30 de novembro de 2009.

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Também resenhou esse livro no SBB:

+ Discutindo Ecologia

Wildlife Photographer of the Year 2009 – minhas escolhas

Estou um mês atrasada. Mas, como eu não me importo com isso e coisa bonita não envelhece… aí vão minhas 5 escolhas do Wildlife Photographer of the Year 2009!

Coloco numa não-ordem. Dessa vez não saberia escolher qual eu mais gostei entre as cinco.  

1. Porque pegadas surpreendem a todos, de carbono ou não.

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2. Porque a vida deve ser simples assim.
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3. Porque ser simples também significa ir a luta.

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4. Porque precisamos sempre nos lembrar que a natureza é grande.
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5. Porque parecer frágil, não significa necessariamente, ser frágil.

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Quem mais escolheu suas favoritas:

Ainda não flopou, mas eu voto que vai flopar*

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Fonte: http://nypost-se.com/news/world_news/flopenhagen-could-things-go-rotten-in-the-state-of-denmark/

*Flopar é um aportuguesamento (?) do verbo inglês to flop que significa mudar, falhar, ou melhor, miar.

* O termo “Flopenhague” tem sido usado mundo afora. No Brasil, por Claudio Angelo, no Laboratório.

A regra é clara: o Protocolo de Kyoto vale só até 2012. O Protocolo de Kyoto cumpriu seu papel na medida em que trouxe um monte de novidades: a inauguração de uma era onde pensar no meio ambiente tornou-se chave em diversos setores, a possibilidade de mudança de uma estratégia energética e econômica baseada em consumo de recursos para estratégias baseadas em recursos renováveis, a possibilidade de mudanças no estilo de vida de cada um, de modo que cada um pensasse mais no meio ambiente.

Fato é que, sem punições para os países que não cumprem com suas metas, o Protocolo de Kyoto fica meio “frouxo”. Eu entendo que, de repente, é óbvio que, nossos camaradas governantes, têm o DEVER SOCIAL, POLÍTICO E AMBIENTAL de cumprir com as metas – e por isso não precisavam de uma “punição”, porque, afinal, o descumprimento parecia, simplesmente, burrice. Estamos falando que, no caso de um descumprimento, as chances de tornar a vida na Terra um tanto mais insuportável são grandes. Veja. Tornar a vida insuportável pode significar extinção gradativa ou diminuição considerável na riqueza de centenas, milhares, de espécies animais e vegetais. Inclusive uma tal de Homo sapiens, que no momento, me parece pouco “sapiens”.

Então tá. Como bons “sapiens” que somos, já entendemos que o prazo de validade do Protocolo de Kyoto está chegando ao fim. Também parece óbvio que tenhamos que substituí-lo por alguma coisa, outro acordo mundial, outro compromisso com redução de gases do efeito estufa, outro compromisso com energia renovável, investimento tecnológico, crescimento baseado em eco-economia, respeito às comunidades mais vulneráveis, respeito à vida e à saúde da  população do mundo. Óbvio? Nem tanto. 

A COP-15 acontece o mês que vem, há exatos 20 dias (acompanhe o countdown aqui). Há um ano ela era a esperança da manutenção de um acordo mundial sem precedentes na história. Hoje, já duvido. Yvo de Boer, secretário-executivo da Convenção do Clima, disse oficialmente que os representantes dos países presentes na COP-15 devem chegar lá com decisões claras, de modo a garantir que essa reunião seja o marco de um novo tratado entre os países signatários de Kyoto (leia mais aqui). A ver pelo Brasil, tenho dúvidas de que “decisões claras” sejam de fato o que os representantes levarão. Atualmente voto mais num “eu só faço se o fulano fizer”, “só diminuo se meu vizinho diminuir”, “só proponho metas se os países emergentes também reduzirem”. Quer apostar? Eu espero perder.

Minha bola de cristal diz que China e EUA vão mijar no pé e chegar lá de mãos abanando. Os países emergentes, que tanto fizeram e significaram para a confecção do acordo de 1997, perderam totalmente as rédeas da liderança e agora só pensam em como tirar proveito do resto. Vide o Brasil, que não tem metas de redução baseadas nas emissões de 1994 (diferente do universo, as “reduções” brasileiras adotam critérios de “estimativas de emissões previstas para 2020” – ridículo), dificilmente adotará alguma meta decente e só quer saber de cobrar os outros. Conta os metros quadrados de não-desmatamento da Amazônia mas assiste de camarote a savanização do Cerrado e a transformação do nosso maior bioma em pasto – ou monocultura, depende de quem chegar primeiro. Discute de portas fechadas o novo código florestal e aos poucos torna mais enxutas nossas unidades de conservação.

Nosso Ministério do Meio Ambiente? Esse, sinto muito, perde qualquer discussão para o forte e poderoso Ministério da Agricultura, independente dos ministros que ocupem as casas. Com a Agricultura não tem tempo quente. Tem que ter produção. E pra produzir precisa espaço. E se aquela “mata feia” não dá dinheiro, arranca fora que tem o que nos dê. E assunto encerrado.

Mas uma vez, estou esperando ver essa COP-15 naufragar. Não vejo esforços dentro da nossa casa, não vejo esforços no exterior. E como acordos mundiais do porte de Kyoto dependem de boa vontade dos governantes, sinto que não teremos boas notícias em 20 dias. Uma pena. Mais uma vez o lucro e o dito “desenvolvimento a qualquer custo” vão vencer. 

Saiba mais:

+ Anfitrião de Copenhague e EUA já falam em adiar acordo sobre clima 

+ Prazo do Código Florestal não deve ser prorrogado, diz ministro

+ Brasil, UE e emergentes vão pressionar China e EUA para meta de CO2, diz Minc

Livro grátis sobre mudanças climáticas

O Instituto de Estudos Avançados da USP lança, apenas em formato digital, o livro Public Policy, Mitigation and Adaptation to Climate Change in South America, que encontra-se disponível para download gratuito – basta clicar no nome do livro acima para ter acesso. O livro reúne contribuições de especialistas em mudanças climáticas que estiveram na 3 Conferência sobre Mudanças Climáticas – América do Sul, em 2007.
O livro busca explicar a dinâmica do clima, suas alterações e variações em resposta às atividades humanas em quatro perspectivas: políticas públicas e relações internacionais, mitigação, adaptação e consequências aos sistemas naturais.
Saiba mais: Agência FAPESP

Trafigura e a importação de lixo tóxico

É capaz de você já ter ouvido ou lido por aí sobre o mais novo escândalo do momento: a importação de lixo tóxico pela empresa Trafigura. É… é isso mesmo. Importação de lixo tóxico, você não leu mal.

Agradeça às mídias sociais por esse escândalo ter vindo à tona. O jornal britânico Guardian, pela primeira vez na sua história e contrariando os direitos de expressão dispostos em lei na Inglaterra desde 1688, foi proibido de falar sobre o caso. Foram pressões vindas de mídias sociais, como o Twitter – na qual #trafigura figurou entre os Trending Topics – que fizeram o bloqueio a censura cair, permitindo que os jornais britânicos seguissem com as denúncias.

O caso é o seguinte: Trafigura, com sede em Londres, é uma imensa comercializadora de óleo e commodities. A empresa é responsável pela morte e danos a mais de 30.000 africanos contaminados com lixo tóxico no que é chamado o pior desastre relacionado a poluição da atualidade.

Na semana passada, denuncias sobre o escândalo chegaram ao parlamento britânico em forma de uma pergunta sutil e de um relatório (conhecido como Minton report) – e foi aí que o jornal Guardian foi impedido de falar sobre o caso. O relatório dizia como o lixo tóxico de enxofre foi parar na região de Abidjan

Como aconteceu

O óleo de petróleo, comprado pela Trafigura no México, foi transportado pelo navio Probo Koala, e processado de modo, “porco” e barato – envolvia a chamada “lavagem cáustica” – nos tanques do próprio navio. Esse procedimento faz as impurezas do óleo de petróleo barato mexicano, basicamente derivados de enxofre, separarem-se do óleo tornando-o mais “puro” (e mais caro). Os resíduos de enxofre ficaram dessa maneira acumulados no fundo do tanque do navio e o óleo, pode ser comercializado a preços maiores.

Os resíduos que sobraram no fundo, após a retirada do óleo comercializável,  geraram uma forma de lixo tóxico, que após ser analisado em Amsterdan, recebeu uma proposta cara de manejo – não era o lixo tóxico habitual, era muito pior. Descontente com a proposta, o navio foi ordenado a buscar outros portos e seguiu para a África. 

Dia 19 de agosto de 2006 o lixo foi deixado em Abidjan. Assim que foi deixado, vários moradores locais começaram uma prática comum a eles: reviraram o lixo em busca de algo com valor suficiente para ser vendido.

O terrível cheiro tomou conta da região. Adultos e crianças morreram vítimas da intoxicação. Outras tantas ainda sofrem as consequências, como perda de seus bebês recém-nascidos. Rios foram contaminados, peixes morreram. Tudo isso para satisfazer a ganância por mais lucros da empresa Trafigura.

O que a empresa diz: Cheira, mas não é perigoso! 

Entretanto, em entrevista para a Newsnight, em 2007, o co-fundador da Trafigura, Eric de Turckheim não fica muito confortável com as peguntas: “Por que vocês mandaram o lixo para a África?” ou “Por que vocês mandaram para a África um resíduo que custaria meio milhão de euros para ficar seguro na Holanda?”

As respostas de Turckheim são vagas, e passam por “os resíduos eram apenas água, soda cástica e gasolina, não eram perigosos” ou “Ivory Coast é um ponto de comércio e tem autorização para lidar com os resíduos”. 

A entrevista vale a pena ser assistida se você entende inglês ou não, só para ver o desconforto do entrevistado – é o terceiro vídeo, nesse endereço.

Saiba mais

BBC News – Dirty tricks and toxic waste in Ivory Coast

Guardian – How UK oil company Trafigura tried to cover up African pollution disaster

Wikileaks – Minton report: Trafigura toxic dumping along the Ivory Coast broke EU regulations, 14 Sep 2006

O GP de F1 e a Braskem

Hoje aconteceu o GP de Fórmula 1 aqui no Brasil. Grandes expectativas giravam em torno de Rubens Barrichello mas, de novo, não foi dessa vez. Mesmo com toda a festinha de “secar” o Button, os acidentes das primeiras voltas, o safety car, o pneu furado do Rubinho e seu famoso azar do cão, fizeram do britânico campeão da temporada antes mesmo da temporada acabar.

Só que quem levou pra casa o troféu do GP Brasil foram Webber, Kubica e Hamilton.

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Imagem de Rede Notícia.

Diferente dos troféus que são vistos por aí, cheios de pompa e riqueza, o troféu brasileiro foi ousado, moderno e deu para o mundo um exemplo de é possível transformar lixo em arte e beleza.

Ousadia e modernidade na forma de plástico reciclado – uma pequena parte das prováveis toneladas de lixo produzidos durante os três dias de GP. Arte e beleza na forma de Oscar Niemeyer, um grande arquiteto moderno reconhecido aqui e no exterior, mesmo design do ano passado, com novo material.

O troféu foi produzido bem ali, no autódromo, por técnicos especiaizados da Braskem.

A Braskem é uma petroquímica brasileira formada em 2002 pela fusão da Copene, Trikem, OPP, Proppet, Polialden e Nitrocarbono (empresas dos grupos Odebrecht e Mariani). Em 2007, mais uma fusão, dessa vez com a Ipiranga Petroquímica num negócio de bilhões de dólares envolvendo a Petrobras e a Ultrapar.

A empresa produz polietileno, polipropileno, benzeno, butadieno, tolueno, xileno e isopreno, ou seja, não é nada “green”. Mas, tenta minimizar suas intervenções ao meio ambiente. Tenta investindo dinheiro em pesquisa e desenvolvimento para a produção de etileno a partir do etanol produzido pela cana-de-açúcar. Tenta participando de promoções como essa do GP brasileiro de F1 ou produzindo briquedos feitos com o plástico verde (o tal do etileno de cana-de-açúcar).

Vale a pena ficar de olho nessa empresa – vale a pena pesquisar o que de fato é verde e o que não passa de green washing por exemplo. Vale lembrar que, de cana-de-açúcar ou não, etileno é etileno e vai poluir do mesmo jeito, causando os mesmos problemas que o plástico de petróleo se não for adequadamente descartado e manejado. Ainda assim, parabéns ao Brasil pela ousadia de fazer um troféu que vai enfeitar de modo especial as estantes já cheias desses pilotos de F1. Tomara que a ideia se propague por aí. Quem sabe na Copa ou nas Olimpíadas, continuamos transformando lixo em prêmios?

Blog Action Day 2009 – Multipost

Todo ano é a mesma coisa. Eu fico pensando sobre mil assuntos que poderia tratar sobre o tema do ano do Blog Action Day. Aí eu escrevo um post, que até fica legal, mas sempre fica aquela dúvida: “Será que se eu tivesse feito um texto sobre aquele outro assunto, ia ser melhor?”

Enfim, esse ano resolvi fazer um multipost. Esse ano, não exatamente. Acabei de resolver. Estava numa dúvida tão grande sobre o que escrever que resolvi fazer um mix e escrever um pouquinho de tudo. O resultado? Não sei ainda. Só sei que se eu gostar, vou repetir nos próximos anos.

O tema desse ano do Blog Action Day é: mudanças climáticas. Esse blog nasceu para falar sobre esse tema. Ele, na verdade, só fala sobre esse tema, de um jeito um pouco disfarçado às vezes, para não cansar a autora e os leitores. Fala de como ações pessoais podem ser úteis para as mudanças do clima, fala sobre como os cientistas lidam com o tema, ou como os políticos, em geral, não lidam. Fala sobre livros que falam sobre isso e sobre minhas próprias ações, pequenas e para muitos irrisórias, porém, minhas ações.

Se esse post fosse feito só de um desses assuntos, eu não me sentiria feliz. Então vamos ao mix.

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Sobre ações pessoais

Segundo o relatório para tomadores de decisão do IPCC de 2007, WG III, as maiores emissões de gases do efeito estufa, medidos em carbono equivalente, são provenientes de gás carbônico liberado na queima de combustíveis fósseis. 

Sim, sim. E, além dos motores dos automóveis nos quais você deve estar pensando, some nessa conta combustíveis fósseis usados em usinas termelétricas a carvão para produção de energia para casas e indústrias, muito comuns em países como a China ou os EUA, ou no asfalto usado em rodovias de todo o mundo. Pense também em todos os derivados de petróleo que temos por aí, na composição de materiais de construção, garrafas e recipientes plásticos e muitos outros.

Sendo assim, mudanças pessoais no estilo de vida e consumo podem sim ser relevantes. Faça a sua parte diminuindo a quantidade de energia elétrica consumida (nos horários de pico, cidades como São Paulo são “ajudadas” com termelétricas a carvão), opte pelo transporte público invés de seu carro, diminua seu consumo de alimentos excessivamente embalados, use sacolas de pano ou de ráfia, que podem ser reutilizadas inúmeras vezes, diminua seu consumo de copos plásticos levando sempre uma caneca.

Por falar em transporte público, hoje passei pela região do Parque do Povo e descobri que o horário da faixa exclusiva para bicicletas aos domingos agora vai até as 14 horas, e não mais só até as 12 horas como antes. De duas em duas horas, conquistamos o domingo todo, a semana toda, o ano todo!

Sobre Ciência

Fiquei espantada com a notícia dessa semana, publicada hoje por Peter Griffiths, na Reuters, (com tradução aqui) sobre a velocidade do derretimento do Ártico. Segundo o artigo, o professor Peter Wadhams, da Universidade de Cambridge, afirma que em 20 anos uma nova rota marítima poderá ser traçada durante os meses de verão, ao norte da Rússia, hoje completamente tomado pelo gelo do Ártico. Pior do que isso, o derretimento no gelo no verão poderá deixar mais fácil a extração do petróleo que há na região.

Sobre políticas públicas

Chorei com outra notícia que eu ouvi hoje – essa de tirar o chapéu. O governo da Finlândia resolveu estimular uma meta de redução de 80% de suas emissões de gases do efeito estufa até 2050, tomando como base o ano de 1990 – ao qual o Protocolo de Kyoto também se refere – o que significa que, para os padrões de emissão atuais, é muito mais do que 80%. As reduções serão concentradas principalmente sobre o consumo de energia em novos e antigos prédios e uso de tecnologias para produção de energia renovável.

Triste mesmo é comparar essa notícia com outra que eu ouvi hoje cedo na CBN sobre os gastos com poltronas de couro no congresso nacional. Ridículo.

Sobre livros

Interessantíssimo o livro que atualmente estou lendo sobre petróleo e a indústria de petróleo, principalmente norte-americana. Como ela interfere nas decisões políticas, como investe em futuros parlamentares e como obtém benefícios do governo. É impressionante e assim que eu terminar, obviamente vai sair uma resenha de “A Tirania do Petróleo” da Ediouro. O livro foi gentilmente enviado a mim pela Agência Frog.

Sobre mim

Hoje cai da escada. Foi feio. Feio mesmo. Estou com um hematoma gigantesco na perna, obviamente já sendo cuidados com compressas frias – e, se não melhorar até amanhã, com compressas quentes e frias.

Cai da escada que dá acesso a Estação Cidade Universitária, estação de trem. Tava chovendo, a escada que é provisória é lisa, eu me esborrachei. Graças aos céus nada de grave aconteceu, só o hematoma mesmo.

Aí fiquei pensando sobre o uso de transporte público, sobre as condições que o governo deve dar para as pessoas, sobre o custo do transporte em São Paulo, sobre as péssimas condições da escada provisória da estação e sobre como seria fácil, fácil o governo deixar sua população mais feliz e colocar de uma vez uma cobertura provisória na passagem provisória. Poxa vida… a gente cobra tanto que as pessoas realizem ações pessoais para melhorar a vida do planeta, então temos que cobrar dos governos ações para melhorar a vida das pessoas. Só pessoas felizes vão dedicar mais tempo para cuidar dos outros invés de cuidar de seu próprio umbigo.

Sobre o dia dos professores

Professores: o salário é baixo. Ameaças existem. Bullying não é exclusividade entre os alunos. Mas são vocês que devem iniciar pensamentos críticos sobre o meio ambiente e sobre essa nossa casa provisória chamada Terra. A casa fica para nossos filhos, netos, e netos dos nossos netos, e deve estar limpa para recebê-los, né? Professores, estimulem seus alunos com atividades sobre o tema, com textos e palestras, campanhas. É na escola que amadurece o pensamento crítico para esses e outros temas.

Feliz dia do Professor! Vocês são nossos mestres, nós, apenas aprendizes.

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Esse post é minha participação no Blog Action Day 2009

O Nobel da Paz vai para o Obama, mas o de literatura…

Hoje de manhã já escrevi sobre minha opinião sobre o Obama ter ganhado o prêmio Nobel da Paz – vale a pena chegar os comentários. Estão excelentes!
Para completar, acabo de receber essa tirinha. Acho que ela ilustra bem o meu sentimento sobre premiar alguém pela intenção e não pelo feito.
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By Little Gamers
O Comitê do Nobel anunciou hoje que o Prêmio Nobel da Paz é de Barack Obama.
Em notícia relacionada, Andrew Andrews, que a seis meses atrás teve a ideia de tentar escrever um livro e, desde então, mantém essa ideia, fala sobre isso mas ainda não escreveu uma só palavra…
ganhou o Prêmio Nobel de Literatura.