Ser otimista é saudável?

Romance protagonizado por "Pollyanna", uma menina cuja filosofia de vida é sempre encontrar algo para ficar contente

“Pense positivo”, “vai dar tudo certo, você vai ver”, “isso não vai acontecer com a gente, a probablidade é muito pequena”. Estes exemplos são familiares para você? Já ouviu isso de alguém hoje (ou ontem)? É cotidiano observar a capacidade que muitos de nós possuem de ser extremamente otimista, mesmo quando existem evidências claras de que deveriamos estar mais preocupados com o que está por vir.

Seja em relação ao contágio de doenças, ao furto de bens ou à acidentes graves, o ser humano parece tender a ver tais riscos como distantes de si e improváveis. Ser otimista já foi relacionado em alguns estudos com uma série de efeitos psicológicos benéficos, como menor ansiedade e melhor bem-estar. Este excesso de confiança, todavia, pode nos tornar ainda mais vulneráveis do que já somos, exatamente por pensarmos que não corremos certos riscos e não tomarmos ações necessárias de precaução.

O otimismo pode ser entendido tanto como uma superestimação de eventos futuros positivos quanto uma subestimação de eventos negativos futuros [1]. O que alguns estudos recentes tem indicado é que nós somos propensos a apresentar um otimismo exagerado, “irrealista”, em relação à eventos futuros [1,2]. Na psicologia social, uma propensão similar à esta já havia sido identificada nos anos 1970 e batizada de crença em um mundo justo [3]. Obviamente, esta crença (a de que o mundo é inerentmente justo) é bem otimista em relação à realidade cruel que salta aos nossos olhos diariamente, quando lemos ou ouvimos um noticiário. De acordo com esta ideia, as pessoas acreditam que o mundo é fundamentalmente justo e que coisas ruins acontecem com pessoas ruins – todos passam pelo que merecem [4].

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Ciência Cognitiva da Religião

Fonte: Bule Voador

Autores: Daniel Gontijo e André Rabelo

A Ciência Cognitiva da Religião (CCR) baseia-se nas ciências cognitivas e nas abordagens evolucionistas, trazendo a proposta de explicar o pensamento e o comportamento religioso a partir de teorias que gerem hipóteses testáveis. O psicólogo Justin L. Barrett (2011), entusiasta da CCR, explica que “características universais da mente humana, interagindo com seus ambientes social e natural, informam e restringem o pensamento e o comportamento religiosos”. “Adicionalmente”, prossegue Barrett, “a CCR considera de que forma fatores religiosos, culturais e ambientais particulares estendem ou modificam tendências cognitivas naturais”.

A vida é um grande experimento de priming…

Fonte: We’re Only Human
Autor: Wray Herbert
Tradução: André Rabelo

Uma das idéias mais robustas advindas da psicologia cognitiva em anos recentes é o priming (para entender o que é o priming, leia “aqui” e “aqui“). Cientistas têm demonstrado inúmeras vezes que conseguem influenciar de forma sútil as mentes inconscientes das pessoas  através de pistas, para pensar e agir de determinadas maneiras. Estas pistas podem ser conceitos – como frio, ou rápido ou  velhice – ou metas, como sucesso profissional; de qualquer forma, estes estímulos moldam nosso comportamento, frequentemente sem que tenhamos qualquer consciência de que estamos sendo influenciados.

Isso é desconcertante, especialmente quando você pensa sobre as implicações disso para as nossas crenças e ações cotidianas. Os experimentos de priming são feitos em laboratórios, usando estímulos escolhidos de forma deliberada, mas na verdade o nosso mundo está cheio de pistas que atuam em nossas mentes o tempo todo, para o bem ou para o mal. De fato, muitas das nossas ações são reações à estímulos aleatórios fora da nossa consciência, significando que as vidas que vivemos são muito mais automatizadas do que gostamos de reconhecer.

Mas quão automatizadas? Estamos realmente impotentes diante dessas pistas onipresentes? Ou temos algum poder para reconhecer e sobrepor estas forças? Existe alguma forma de nos protejer – nossas metas e intenções – da sinalização aleatória do mundo, especialmente destas influências intrusivas que minariam nossas vidas e valores? Continue lendo…

Programa Fronteiras da Ciência – Episódios “Mitos do Cérebro” e “O Caso Sokal”

O programa Fronteiras da Ciência da rádio da UFRGS exibiu dois episódios muito interessantes recentemente: um tratando do mito popular de que “usamos apenas 10% do nosso cérebro” e outro discutindo o famoso caso Sokal e o pós-modernismo. O primeiro pode ser ouvido “aqui” e o segundo, “aqui”.

Enterrados por Más Decisões

A espécie humana se encontra hoje em uma situação grave em relação ao seu ambiente. São problemas sérios a serem enfrentados e que oferecem riscos para a nossa sobrevivência, como o aquecimento global, a expansão populacional, a escassez de recursos naturais e a destruição de florestas.

Mesmo com uma capacidade de raciocínio lógico tão suprema no reino animal, não fomos capazes até aqui de cuidar do nosso ambiente de forma sustentável, mesmo que soubessemos o que deveriamos fazer já há algum tempo. Nossas péssimas decisões no passado poderão ter consequências drásticas para a vida da nossa espécie na Terra.

ResearchBlogging.org

O psicólogo social Daniel Gilbert da Universidade de Harvard explica em um recente artigo publicado na revista Nature que possuimos cérebros otimizados para buscar comida e parceiros na savana africana, mas não tão bons para estimar consequências de longo prazo ou o impacto do consumo excessivo de recursos (Gilbert, 2011). Somos “pré-programados” para tomar decisões baseadas em necessidades de curto prazo. Continue lendo…

Uma Conversa com Vinícius Ferreira sobre Psicologia Cognitiva

Vinicius Thomé Ferreira é doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRGS) e atualmente é professor da Escola de Psicologia da Faculdade Meridional (IMED). Tem experiência em intervenção terapêutica, atuando principalmente nos seguintes temas: saúde, bioética, psicopatologia, psicologia evolucionista, psicologia cognitiva, avaliação psicológica e psicoterapia.

Além disso, mantém um ótimo blog de divulgação científica, o Psicologia Cognitiva. A seguir vocês poderão ler uma entrevista concedida gentilmente por ele para o blog Ciência – Uma Vela no Escuro, explorando uma série de aspectos acerca da psicologia cognitiva, da ciência cognitiva e da terapia cognitiva.

Vinicius, o que é a psicologia cognitiva?

A psicologia cognitiva é uma área da psicologia que se ocupa de estudar os fenômenos mentais, especialmente aqueles que envolvem as informações que temos sobre o mundo (recepção, organização, armazenamento, processamento e expressão). Esses fenômenos são chamados de processos cognitivos, pois permitem que tenhamos algum tipo de representação, um conhecimento do mundo e de nós mesmos.

Qual a importância da psicologia cognitiva hoje no panorama mundial da psicologia?

Ela é uma das correntes psicológicas mais influentes na atualidade. Ela cresceu muito com a necessidade de termos na psicologia um referencial teórico que conseguisse lidar com o pensamento tão bem como o behaviorismo lida com o comportamento. Talvez o grande mérito da psicologia cognitiva seja o esforço de analisar com experimentação controlada os fenômenos mentais como o pensamento, a percepção, a memória e a linguagem, estabelecendo de forma robusta o conhecimento sobre estes fenômenos. Além disso, possui uma aplicação prática na educação, auxiliando no desenvolvimento de materiais educacionais de melhor qualidade, e na psicoterapia. No campo organizacional, permite a compreensão mais afinada dos processos de comunicação, além de ser um recurso que pode aumentar a eficiência e a eficácia do trabalho. Continue lendo…

Corpos Sem Almas

Fonte: Project Syndicate

Autor: Paul Bloom

Tradução: Rodrigo VérasAndré Rabelo

O principal estudioso da inteligência artificial do mundo, uma vez descreveu as pessoas como máquinas feitas de carne. Isso capta muito bem o consenso nas áreas de psicologia e neurociência, que nos diz que nossas vidas mentais são produtos dos nossos cérebros físicos, e que esses cérebros são moldados não por um criador divino, mas pelo processo cego de seleção natural.

Mas, com exceção de uma pequena minoria de filósofos e cientistas, ninguém leva essa visão a sério. É ofensiva. Ela viola as doutrinas de toda religião e  entra em conflito com o senso comum. Nós não sentimos, afinal, que somos apenas corpos materiais, pura carne. Ao contrário, ocupamos nossos corpos. Nós os possuímos. Somos espontaneamente atraídos para a visão defendida por René Descartes: Nós nascemos naturalmente dualistas, assim, vemos corpos e almas de forma separada.

Esse dualismo tem consequências significativas para a forma como pensamos, agimos e sentimos. O filósofo Peter Singer discute a noção de um círculo moral – o círculo de coisas que são importantes para nós, que têm um significado moral. Este círculo pode ser muito pequeno, incluindo apenas os seus parentes e aqueles com os quais você interage diariamente, ou pode ser muito amplo, incluindo todos os seres humanos, mas também fetos, animais, plantas e até mesmo o próprio planeta terra. Para a maioria de nós, o círculo é de tamanho médio, e destrinchar seus limites precisos – Será que inclui as células-tronco, por exemplo? – pode ser uma fonte de angústia e conflitos. Continue lendo…

A Neurologia das Experiências de Quase Morte

Eu e Rodrigo Véras traduzimos o texto a seguir, que foi publicado recentemente no Ceticismo Aberto.

Artigo de Alex Likerman, publicado em Happiness in this World
Traduzido por colaboração de Rodrigo Véras e André Rabelo


Eu nunca tive um paciente que confessasse ter tido uma experiência de quase morte (EQM), mas recentemente me deparei com um livro fascinante chamado O Portal Espiritual no Cérebro (The Spiritual Doorway in the Brain) de Kevin Nelson, que relata que cerca de 18 milhões de americanos podem ter tido uma. Se for verdade, as chances não são apenas que alguns dos meus pacientes estejam entre eles, mas também alguns dos meus amigos. O que me levou a pensar: o que exatamente a ciência tem a nos dizer sobre a sua causa? Continue lendo…

O que é a consciência?

Eu e Rodrigo Véras traduzimos um texto que foi publicado hoje no Bule Voador. Deem uma olhada!

Fonte: Psychology Today

Autor: Paul Thagard*

Tradução: Rodrigo VérasAndré Rabelo

 

im100Pessoas experimentam percepções como azul, sensações como dor, emoções como ­felicidade, e pensamentos como acreditar que a primavera finalmente chegou. Será que a psicologia e a neurociência serão um dia capazes de explicar como as pessoas têm esses tipos de consciência?

A psicologia e a neurociência têm feito grandes progressos na explicação de muitos processos mentais, como resolução de problemas, aprendizagem e uso da língua. Mas muitas pessoas ainda têm a intuição de que, não importa o quanto a ciência cognitiva progrida, ela ainda será incapaz de lidar com o mistério da consciência. Nesta visão, todos nós temos uma compreensão básica da experiência consciente através de nossos próprios episódios de percepção, sensação, emoção e reflexão. Mas existe um abismo explanatório intransponível que impede a ciência de trazer a consciência para dentro do seu âmbito.

A ciência seria de fato incapaz de explicar a consciência se as experiências mentais fossem propriedades de almas imateriais, cujas operações permaneceriam totalmente misteriosas a partir da perspectiva dos mecanismos que os físicos, químicos, biólogos e psicólogos utilizam para explicar o que acontece. Mas existem insuficientes evidências que sustentem a visão de que mentes são qualquer coisa além de cérebros, desta maneira a perspectiva não-materialista não parece gerar uma barreira para a explicação da consciência. Continue lendo…

Bebês Gêmeos Tagarelas

ResearchBlogging.org É no mínimo desconcertante assistir o vídeo em que dois bebês gêmeos com menos de 17 meses de idade conversam e gesticulam como se estivessem estabelecendo uma comunicação inteligível entre eles. O vídeo em questão vem fazendo tanto sucesso que ja possui mais de 9 milhões de visualizações.

Os bebês tem sido muito estudados por psicólogos do desenvolvimento mas também por psicólogos evolucionistas e cognitivos, que hoje em dia se sobrepõem muitas vezes no estudo do ser humano visto que seus conhecimentos têm sido fundamentalmente complementares. Continue lendo…