Ser otimista é saudável?

Romance protagonizado por "Pollyanna", uma menina cuja filosofia de vida é sempre encontrar algo para ficar contente

“Pense positivo”, “vai dar tudo certo, você vai ver”, “isso não vai acontecer com a gente, a probablidade é muito pequena”. Estes exemplos são familiares para você? Já ouviu isso de alguém hoje (ou ontem)? É cotidiano observar a capacidade que muitos de nós possuem de ser extremamente otimista, mesmo quando existem evidências claras de que deveriamos estar mais preocupados com o que está por vir.

Seja em relação ao contágio de doenças, ao furto de bens ou à acidentes graves, o ser humano parece tender a ver tais riscos como distantes de si e improváveis. Ser otimista já foi relacionado em alguns estudos com uma série de efeitos psicológicos benéficos, como menor ansiedade e melhor bem-estar. Este excesso de confiança, todavia, pode nos tornar ainda mais vulneráveis do que já somos, exatamente por pensarmos que não corremos certos riscos e não tomarmos ações necessárias de precaução.

O otimismo pode ser entendido tanto como uma superestimação de eventos futuros positivos quanto uma subestimação de eventos negativos futuros [1]. O que alguns estudos recentes tem indicado é que nós somos propensos a apresentar um otimismo exagerado, “irrealista”, em relação à eventos futuros [1,2]. Na psicologia social, uma propensão similar à esta já havia sido identificada nos anos 1970 e batizada de crença em um mundo justo [3]. Obviamente, esta crença (a de que o mundo é inerentmente justo) é bem otimista em relação à realidade cruel que salta aos nossos olhos diariamente, quando lemos ou ouvimos um noticiário. De acordo com esta ideia, as pessoas acreditam que o mundo é fundamentalmente justo e que coisas ruins acontecem com pessoas ruins – todos passam pelo que merecem [4].

Continue lendo…

Como Lidar com a Morte?


Eu tive o infortúnio de perder dois familiares recentemente – uma tia não resistiu a um câncer agressivo e uma prima que teve complicações durante uma cirurgia. Minha falta de proximidade e convivência com as mesmas atenuou a terrível sensação de perda que deve atormentar tantas pessoas que tiveram entes queridos tomados de si repentinamente. Entretanto, estes acontecimentos me relembraram que eu também irei morrer um dia. Muitos de nós normalmente se acostumam com esse conhecimento e vivemos nossas vidas como se sempre pudessemos contar com o amanhã, mas mortes de pessoas próximas podem nos lembrar que um dia, certamente, o amanhã não existira mais para nós. A morte ocupa um espaço particular em nossa compreensão do mundo, já que é um dos poucos eventos que podemos prever desde a infância e com grande nível de certeza que ocorrerá conosco, mesmo que outros eventos no nosso futuro ainda sejam obscuros. A pintura que inicia o texto de Gidoret, pintor francês que viveu entre os séculos XVIII e XIX, representa esta sina humana – a de ser obrigado a abandonar as pessoas que aprendeu a amar durante suas vidas nos braços da morte.

Continue lendo…

A vida é um grande experimento de priming…

Fonte: We’re Only Human
Autor: Wray Herbert
Tradução: André Rabelo

Uma das idéias mais robustas advindas da psicologia cognitiva em anos recentes é o priming (para entender o que é o priming, leia “aqui” e “aqui“). Cientistas têm demonstrado inúmeras vezes que conseguem influenciar de forma sútil as mentes inconscientes das pessoas  através de pistas, para pensar e agir de determinadas maneiras. Estas pistas podem ser conceitos – como frio, ou rápido ou  velhice – ou metas, como sucesso profissional; de qualquer forma, estes estímulos moldam nosso comportamento, frequentemente sem que tenhamos qualquer consciência de que estamos sendo influenciados.

Isso é desconcertante, especialmente quando você pensa sobre as implicações disso para as nossas crenças e ações cotidianas. Os experimentos de priming são feitos em laboratórios, usando estímulos escolhidos de forma deliberada, mas na verdade o nosso mundo está cheio de pistas que atuam em nossas mentes o tempo todo, para o bem ou para o mal. De fato, muitas das nossas ações são reações à estímulos aleatórios fora da nossa consciência, significando que as vidas que vivemos são muito mais automatizadas do que gostamos de reconhecer.

Mas quão automatizadas? Estamos realmente impotentes diante dessas pistas onipresentes? Ou temos algum poder para reconhecer e sobrepor estas forças? Existe alguma forma de nos protejer – nossas metas e intenções – da sinalização aleatória do mundo, especialmente destas influências intrusivas que minariam nossas vidas e valores? Continue lendo…

Enterrados por Más Decisões

A espécie humana se encontra hoje em uma situação grave em relação ao seu ambiente. São problemas sérios a serem enfrentados e que oferecem riscos para a nossa sobrevivência, como o aquecimento global, a expansão populacional, a escassez de recursos naturais e a destruição de florestas.

Mesmo com uma capacidade de raciocínio lógico tão suprema no reino animal, não fomos capazes até aqui de cuidar do nosso ambiente de forma sustentável, mesmo que soubessemos o que deveriamos fazer já há algum tempo. Nossas péssimas decisões no passado poderão ter consequências drásticas para a vida da nossa espécie na Terra.

ResearchBlogging.org

O psicólogo social Daniel Gilbert da Universidade de Harvard explica em um recente artigo publicado na revista Nature que possuimos cérebros otimizados para buscar comida e parceiros na savana africana, mas não tão bons para estimar consequências de longo prazo ou o impacto do consumo excessivo de recursos (Gilbert, 2011). Somos “pré-programados” para tomar decisões baseadas em necessidades de curto prazo. Continue lendo…

Semeando o Mundo com Heróis

Tudo que é necessário para o triunfo do mal é que homens de bem não façam nada.
– Sir Edmund Burke

A revista Science publicou um artigo recentemente (Miller, 2011) que traz o relato de um dos mais novos projetos do psicólogo social Phillip Zimbardo. Ele se tornou um dos psicólogos mais famosos no mundo por ter conduzido o famoso experimento da prisão de Stanford (comentado anteriormente aqui) e por ter sido o apresentador da série de divulgação científica Discovering Psychology.

Zimbardo particpou em 2004 do julgamento de Ivan “Chip” Frederick, um dos sargentos acusados de envolvimento em episódios de abuso e tortura na prisão de Abu Ghraib, no Iraque. O caso fez Zimbardo retomar questões envolvidas no seu famoso experimento e deu a inspiração para o seu próximo grande experimento –  o Projeto Imaginação Heróica – que tem como objetivo usar os resultados de pesquisas em psicologia social para ensinar as pessoas a reconhecerem as influências sociais às quais elas estão sujeitas no seu dia-a-dia e encorajar essas pessoas a praticarem “atos de heroísmo cotidiano” em situações que envolvam, por exemplo, bullying escolar, discriminação racial, discriminação sexual, violência doméstica, tortura ou abuso sexual.

O projeto planeja encorajar e dar o suporte para pesquisas sobre o tema, organizar cursos em escolas, incentivar a criação de jogos, programas, sites e grupos de ação conjunta. Além disso, pessoas do mundo todo podem enviar vídeos para serem publicados no site do projeto sobre os seus atos de heroismo realizados. Continue lendo…

Instintos, Sociedade e as Causas da Violência

Autores: Felipe Carvalho e André Rabelo

Texto também publicado no blog NERDWORKING

A doutrina da Tábula Rasa se espalha por todos os assuntos que nos remetem ao ser humano. Com isso, seus adeptos tem a esperança de que os males da sociedade sejam resolvidos; através de crenças que nos dizem que todo tipo de comportamento é aprendido. A violência, palavra que sintetiza com sucesso um dos grandes medos atuais de todo homem que caminha por esse planeta, também recebe explicações politicamente corretas, mas que não servem para perscrutar o fenômeno cientificamente nem descobrir suas reais causas. A falta de sucesso em resolver o problema da violência é a evidência mais forte de que confundir ideologia e política com ciência não é algo produtivo. Continue lendo…

Prevalência Percebida de Ateus Diminui o Preconceito

O fenômeno religioso tem chamado cada vez mais a atenção de psicólogos e antropólgos nos últimos anos, muitos buscando explicações para a existência quase universal da religião em diferentes culturas, como já comentado aqui no blog. Mas pouco se tem estudado sobre as pessoas que não se enquadram dentro dessa tendência humana – os ateus.

Sendo uma minoria em muitos países, os ateus por vezes sofrem discriminação e possuem uma imagem excessivamente negativa em muitas culturas. Recentes levantamentos de opinião tem apontado os ateus como o grupo de pessoas em quem as pessoas menos confiariam, votariam para presidente do seu país ou gostariam que seus filhos se casassem (Edgell et al, 2006).

Buscando uma melhor compreensão deste fenômeno, alguns psicólogos têm se debruçado sobre a questão e avaliado estratégias para reduzir o preconceito. Um artigo publicado recentemente pelo psicólogo social Gervais (2011) relata 4 estudos indicando que a prevalência percebida de ateus pode diminuir o preconceito contra ateus por parte de religiosos. Continue lendo…

A Temperatura de um Copo Pode Influenciar Nossas Decisões?

Um estudo publicado em 2008 na Science (periódico de grande impacto mundialmente) obteve os seguintes resultados: pessoas que seguraram brevemente um copo de café quente perceberam uma pessoa alvo como significativamente mais calorosa (warmer) do que pessoas que seguraram um copo de café gelado; e pessoas que seguraram uma bolsa “terapêutica” quente responderam de forma mais prosocial em uma tarefa de tomada de decisão do que participantes que seguraram uma bolsa fria. Em suma, experiências com calor e frio parecem influenciar nossas percepções e até tomadas de decisões. Continue lendo…

Qual é o Boneco Bom, o Branco ou o Negro?

Segue um vídeo curto sobre um estudo clássico de preconceito em crianças onde são feitas perguntas a elas acerca de dois bonecos – um negro e um branco. Os resultados desse tipo de estudo sistematicamente apontam para um padrão – os bonecos negros são maus, feios e menos preferíveis, enquanto os bonecos brancos são bons, bonitos e mais preferíveis.

Esses resultados são encontrados para crianças brancas e, infelizmente, para crianças negras também. Os resultados indicam um determinado padrão de internalização de um esteriótipo negativo em relação aos negros desde cedo, quando comparado ao esteriótipo de brancos. Que tipo de consequências será que esse pareamento tem para essas crianças no futuro? Veja o vídeo abaixo. Continue lendo…

Comportamento Prosocial

Da década de 60 pra cá houve uma retomada crescente da pesquisa sobre o comportamento prosocial, que hoje se estabeleceu como uma linha de pesquisa rica e foco de atenção de profissionais de diferentes áreas como a biologia, antropologia, sociologia, psicologia e neurociências.

O assassinato de Kitty Genovese no início do anos 60 foi um grande destaque na mídia. Voltando para casa após o expediente, no bairro de Queens, em Nova York, ela foi atacada e brutalmente assassinada. O assassinato durou cerca de 45 minutos e ocorreu ao lado de um prédio, onde mais tarde 38 moradores admitiram ter ido à janela por ouvir os gritos de socorro, mas nada fizeram para ajudá-la. Continue lendo…