Você será necessário após o fim da civilização?

Esta é a segunda parte de um texto que começou segunda-feira. Caso não tenha ainda lido o começo, clique aqui.

CONTINUAÇÃO

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Já tendo metade do seu dia ocupado no processo de purificação de água, e a comida?
Quantas vezes você precisou caçar ou pescar para sobreviver?
Pescar é uma atividade estonteamente entediante e desprovida de atrativos, mas eu já cacei alguns animais pequenos, mas nunca porque precisava.
É tudo muito bom quando “pegar um peixe” é seguido por “para mostrar pra mãe”, mas a estória é outra quando se depende disso para viver. E a não ser que você more num sítio ou num interior idílico, dificilmente você encontrará fruteiras suficientes para lhe prover alimentação.

Você sabe identificar uma cenoura enquanto ela ainda está plantanda? E um pé de batata? Você sabe plantar batatas? Ou arroz?
Considerando que você aprenda a caçar e a distinguir um pé-de-batata de um mói-de-mato e consiga plantar arroz, agora você precisa de fogo (batata crua é ruim para o estômago e arroz cru péssimo para os dentes).
Você sabe fazer fogo? Isqueiros e fósforos eventualmente vão acabar e manter uma fogueira acesa para sempre é muito dispendioso, pois gasta móveis preciosos queimando-os à toa mesmo quando não é necessário para assar a comida ou destilar água (fica a dica).

Digamos que a sua aldeia consiga se estabelecer perto de um riacho e vocês agora tenham água boa, comida suficiente e abrigo (novamente, casas desocupadas são a melhor solução, mas mesmo que não exista nenhuma por perto, barracos são muito fáceis de se construir). E agora? O que cada um sabe fazer e com o quê cada um pode contribuir?

Olhe ao seu redor: se você está trabalhando enquanto lê isto, quem dessas pessoas na sua imediata vizinhança você gostaria que o acompanhasse? O que eles sabem fazer que você não sabe mas que lhe seria útil e complementar às suas próprias habilidades?
(Se você está sozinho em casa, olhe ao seu redor figurativamente e pense nos seus vizinhos, amigos, conhecidos, etc.)

Quantos Contadores você acha necessário para o seu Novo Mundo? E quantas Secretárias Executivas?
E que Novo Mundo será esse? Apenas uma assembleia de esfarrapados que não tomam banho para poder beber mais água enquanto um solitário desesperado tenta a todo custo fermentar o próprio cuspe numa tentativa vã de produzir vodca? Ou uma comunidade forte e focada com o intuito de reconstruir a civilização humana a partir de praticamente nada? Pois tudo que existe e que nos é precioso no presente não funciona ou nem existe mais no futuro.
Será possível reparar a humanidade com o grupo de pessoas que sobrar?

Estatisticamente, a grande maioria dos sobreviventes será constituída de Advogados, Donas de Casa e Operários em geral. Mas sem leis para estudar, casas para cuidar e máquinas para manobrar, qual uso eles viriam a ter?
Um Físico Teórico (que sobreviveu ao apocalipse por não sair jamais de casa e, tendo conseguido evitar por completo contato com a sociedade por vinte e cinco anos, só ficou sabendo que o mundo entrou em colapso quando seu Stereo Hi-Fi Double Deck parou de funcionar e o telefone da assistência técnica estava mudo) pode ser Ph.D. o que for, será tão ou mais inútil que um Analista de Sistemas.
Especialidade aqui é irrelevante, principalmente se for em alguma ocupação primariamente contemporânea.

Um Engenheiro Mecatrônico saberia montar uma armadilha para animais melhor que um Astrônomo?
Um Pianista talvez saiba trançar palha para fazer cordas melhor que um Guarda de Trânsito, mas talvez não.
Preferiria ter ao meu lado uma Enfermeira a um Cirurgião Plástico.
Um Pedreiro seria muito mais útil que um Engenheiro Civil.
Eu trocaria dois Despachantes, seis Cabelereiros, um Taxista, sete Publicitários e oito Webdesigners por um Padeiro.
Ou trinta e seis mil Homeopatas por um Mecânico (não-diluído). E entre um Chef Francês e um Açogueiro, ficaria com o último.

Essa nova sociedade precisa de pessoas que saibam mexer com coisas que poucos sabem ou que ninguém quer. Todos querem comer, mas ninguém quer se sujar de sangue ou de terra.
Todos querem um teto, mas ninguém quer cavar barro e suar ao lado de fornos de olaria.
Especializações modernas não servem de muita coisa nesse literal fim de mundo.

Você sabe fazer sabão? Melhor ainda, você sabe ao menos quais os ingredientes necessários para se fazer sabão? Conhece alguém que saiba? Talvez um Engenheiro Químico saiba uma fórmula, mas ele seria por demais acostumado a usar produtos processados, prontos para misturar, e não teria muita idéia de onde conseguir matéria-prima.

Você pode muito bem saber fazer um bolo, mas sabe criar vacas, galinhas, plantar trigo, cana-de-açúcar e construir fornos? Sabe tirar leite, fazer manteiga, farinha ou açúcar?

Você faz a mínima ideia de como uma geladeira funciona e quais os seus componentes essenciais?
Sabe extrair sal?
Sabe tirar coco?
Sabe montar uma pilha para uma lanterna? Sabe fazer uma lanterna?
E repelente de mosquitos, sabe alguma coisa sobre?

Pois é, nesse apocalipse por mim previsto, ou você é Renascentista, ou é parasita. E em tempos de dificuldade, os parasitas (sociais) são os primeiros a sofrer.

Mas mesmo as profissões que eu listei como mais úteis, seriam realmente úteis?
A Enfermeira certamente sabe dar pontos, parar sangramentos e dar remédios, mas saberia fabricar um antibiótico ou insulina?
De que me serveria um pedreiro num mundo sem sacos de cimento e fábricas de tijolos?
Será que o padeiro sabe fazer farinha a partir de plantas ou apenas sempre trabalhou com mistura pronta?
E o Mecânico? Sabe construir um motor-gerador com peças avulsas ou sempre trabalhou com computadores na concessionária?
O Açogueiro certamente sabe separar uma picanha de um contra-filé de boi, mas saberia qual o melhor pedaço de um cachorro (ou rato) para se comer? E saberia assar esse pedaço?
(Por favor, notem que não acho que eu, um digitador/blogueiro/músico que come mais que dois atletas me sairia muito bem nessa situação.)

Num planeta sem as conveniências modernas que esperamos encontrar em cada esquina, uma dor de cabeça pode significar o fim de seus dias. Você não pode mais caçar, plantar ou sequer se defender. Nada que uma aspirina não resolva em duas ou três horas, mas e quando elas acabarem?
Lembre-se que o quadro que estou pintando é permanente, não há volta daqui. Quem sabe fabricar aspirina? Você sabe? Se sim, excelente! O único problema agora é achar a matéria-prima. Existem salgueiros perto de onde você está? Você sabe diferenciar um salgueiro de uma jurema? Sabia que aspirinas são derivadas de casca de salgueiro?
A menos que você já esteja dentro da mata certa, sem combustível para o transporte suas chances são nulas.
E se de repente surge uma dor abdominal intensa em alguém? Sem radiografia ou remédios, qual o procedimento?

Para o final dessa mininovela, aguarde até sexta-feira (link para o final)!

Agora o mundo acaba!

O mundo acabou. E agora?
Inspirado em parte por esse comentário, movido pela necessidade de criar meu próprio pânico em massa (todo mundo está fazendo, quero ser popular) e tendo estudado bastante psicohistória, cheguei à inevitável conclusão de que os sobreviventes morrerão à míngua.

(Não precisando explicar, pois é óbvio, mas explicando de todo jeito, claramente me refiro aos sobreviventes da peste maligna submissão ao Mulo colisão com o planeta Nibiru explosão de um supervulcão Skynet SkyLab ameaça extraterrestre síndrome respiratória aguda grave previsão do calendário maia 2012 frota Vogon queda de um asteróide vingança de Cthulhu epidemia zumbi gripe espanhola do frango suína.)

Quando 80% da população mundial estiver devidamente morta em decorrência da inevitável letalidade desta nova pandemia pandemônica panterritorial, os que sobrarem vão penar.
Nos primeiros dias, após o Estado de Sítio cessar por falta de quem o preserve, não teremos mais energia elétrica corrente e abundante.
Afinal, quem estaria cuidando das instalações das nossas hidreléticas, garantindo seu correto funcionamento?

Daqueles vinte por cento restantes, outros sete décimos pereceriam devido ao choque causado pela falta de TV, condicionadores de ar e enfeites natalinos luminosos.

Mais alguns certamente seriam pegos de surpresa ao notar que a Internet não mais existe num mundo sem linhas telefônicas, mesmo com energia suficiente para algumas horas de navegação ainda armazenadas em seus celulares e dispositivos similares da moda.
Poucos morreriam aqui, pois a inanição – resultante da inação causada pela incrível concentração com que certas pessoas fitam o monitor até o momento em que seus computadores façam o que se é esperado deles – que acompanha o tranco de se ver sem conexão vem ao decorrer de alguns dias. Baterias duram apenas poucas horas.

Tendo a produção de energia cessado, bombas de combustíveis não mais funcionariam, causando mais algumas mortes por excesso de exercício físico em alguns indivíduos (já severamente fragilizados pela falta de televisores) durante a árdua e extenuante tentativa de caminhar (a pé! Que disparate!) cem metros até a esquina para comprar pão.
E mesmo que você ainda consiga salvar muita gasolina das fogueiras de veículos abandonados, seria impraticável dirigir em ruas apinhadas de corpos (sim, pois os responsáveis pela coleta de cadáveres estão também mortos, talvez até contribuindo pessoalmente para o mórbido empilhamento das ruas).

Em seguida, o fornecimento de água também deixaria de existir para aqueles que moram acima do nível de rios e lagoas de abastecimento. Ou seja; todos.
Água não fica mais dominantemente em caixas comunitárias como antigamente, pois isso é pouco prático.
Em cidades com milhões de habitantes, os reservatórios teriam que ser tão grandes que a estrutura física requerida para mantê-los acima de todos os prédios teria um custo proibitivo. Bem mais fácil, prático e barato usar bombas que forçam água ladeira acima, diretamente das estações de tratamentos (ou similares).

Milhares de mortes mais aqui nesta etapa, pois se até a esquina já era um esforço tremendo, que dirá até um rio ou lagoa em um bairro circunvizinho.
Notem que a praga já eliminou 95% da população planetária (80% diretamente + 15% indiretamente).
Mas claro, isso é apenas um cálculo aproximado. O número de vítimas diretas é apenas inferido (tendendo para menos) e o de indiretas está sendo grosseiramente subestimado (por exemplo: muitas cabeças explodirão pela pressão causada pelo acúmulo de idiotices a qual era dado vazão adequada via telefone e Internet. Apresentadores de telejornais matutinos serão particularmente propícios a esse tipo de acidente).
Até o momento, a população, antes em sete bilhões, já baixou para trezentos e cinquenta milhões e continua caindo pela simples falta de conveniência e conforto modernos que eletricidade nos traz (obrigado Tesla!), queda que é tanto mais intensa quanto mais avançada for a sociedade em foco.

Nesse ponto, os Txucarramães, os Zulus e os Amish perderão apenas 80% de seus participantes (mortes diretamente relacionadas ao evento catastrófico) enquanto EUA e Coréia do Sul já não mais existirão (mortes indiretas, por falta de privilégios eletrônicos).
Um situação Senhor das Moscas se instauraria. Quem iria comandar as coisas agora que não existe mais governo?
(Não posso falar por outros países, mas aqui no Brasil eu acho que essa tragédia seria a gota d’água – por assim dizer – para qualquer sobrevivente que visse um Senador da República degustando uma Evian ou uma Fuji impunemente.)

Sem governo, até que me provem o contrário (e duvido que consigam pelos exemplos que já abundam), é cada um por si/lei da selva/sobrevivência do mais apto a desviar de balas.
Com a cooperação, que nos é imposta por leis, já devidamente morta, estraçalhada e enterrada num canto úmido de um terreno abandonado e cheio de mato, os mais preparados passariam a defender seus territórios e, eventualmente, a desbravar e conquistar novos espaços para continuar sobrevivendo.

Não gosta da sua casa? Vá para a do vizinho. Há 1 chance em 1,05 de que ela esteja vazia pois seus antigos ocupantes estão mortos.
Uma área que contenha um supermercado valerá infinitamente mais que uma contendo vários bancos, pois dinheiro já não vale mais um centavo.
Um frigorífico só terá valor nas primeiras semanas, mas salsichinhas aperitivo, biscoitos recheados e salgadinhos crocantes de milho serão prezados por meses ou até anos (décadas, no caso dos salgadinhos).

Mesmo aqui, um país sem lojas de armas, lutas ferozes e sangrentas irromperão, pois quem tem tiver a maior ripa com mais pregos na ponta será constantemente desafiado pela posse do cacete, enquanto insistentemente combaterá outros mais fracos por território.
Não havendo água corrente nas torneiras das casas (e 10 entre 10 pessoas se recusando a beber água das privadas, mesmo sendo perfeitamente potável), galões e garrafas de água mineral rapidamente virarão prêmios a se ter a qualquer custo. Depois disso virão os refrigerantes e as tubaínas. Por fim, em casos de desespero (do tipo que leva pessoas ao canibalismo e urinofagia), as cervejas sem álcool e Schin Cola.
Bebidas alcoólicas serão as primeiras a desaparecer, antes mesmo das caixas d’água secarem.
Considerando, no entanto, que os sobreviventes sejam gente boa e gostem de companhia, haverão aqueles que se agruparão e formarão pequenas colônias longe dos territórios dos Supremos Mestres dos Arrabaldes do Carrefour.

Então, a melhor opção é voltar ao mato, você e sua recém-formada “tchurminha”.
Depois de um tempo, apenas água natural restará, naqueles rios e lagoas aludidos anteriormente.
Mas a água é segura para o consumo? Ela não passa antes por estações de tratamento?
Como saber se ela pode ser bebida? Esperar alguém testar antes é pouco prático, pois doenças aquáticas podem levar até semanas para se desenvolver e causar óbito e esse tempo é mais que suficiente para levar alguém a morrer de sede.
Sem métodos eficientes para teste, só resta purificar antes de beber.
Você já purificou água alguma vez na vida? Sabe como proceder para obter um líquido seguro para consumo?
Se a sua resposta é “sim”, eu queria apenas frisar que peneira não é um equipamento adequado, nem muito menos o é uma meia velha.
E ferver lama não lhe garante água potável. É certo que ela agora estaria limpa de micro-organismos, mas sílica, mercúrio, chumbo e ácidos provenientes de decomposição de matéria orgânica ainda são um problema sério para o nosso frágil corpo rosado.

Em caso da resposta ainda não ter mudado, saiba que agora você deverá purificar água em grande escala (doença não se pega só bebendo, pois às vezes contato já é suficiente), todos os dias.

Para sempre.

Este texto continua quarta-feira (eis o link). Não percam!.

Rapidinha: dos spams

Só para deixar claro, sempre que eu falar de um spam terrorista (como o texto logo abaixo) vou deixar de lado o texto original (usando no máximo algumas frases e citações) para evitar confundir as pessoas com as barbaridades que por aí circulam e não criar uma falsa memória de confirmação do tipo “lembro de ter lido num blog de ciência que X cura câncer 100% confirmado!”.
Amanhã tem mais (se meu fisioterapêuta deixar eu digitar).

Outros spams destruídos:
Como reconhecer um spam;
Spam da Doença de Chagas em feijão;
Spam sazonal da gripe suína;
Spam dos batons com chumbo;
Spam do camarão e da vitamina C;
A falsa cura do câncer desmentida mais rapidamente que eu já vi;
Spam dos absorvente internos que causam câncer;
Spam do benzeno em condicionadores de ar de automóveis.

Quer perder peso? Pergunte-me como.

COM UMA NECROSE NO FÍGADO! Que tal?
Garantido lhe deixar de cama por alguns meses numa dieta extremamente controlada que é tiro-e-queda para lhe fazer perder peso.
Essa é, por enquanto, a única garantia real que a companhia Herbalife pode lhe dar.[1]

Segundo uma pesquisa de suíços e israelenses, culminando numa publicação no Journal of Hepatology, os produtos “naturais” que a Herbalife vende sem testes prévios de toxicidade são tão naturais quanto cianeto e urtiga.
Num estudo anterior realizado em Israel pelo seu equivalente ao nosso Ministério da Saúde (Association between consumption of Herbalife nutritional supplements and acute hepatotoxicity) ao se constatar que quatro usuários de Herbalife estavam com hepatite, doze pessoas com lesões no fígado, causadas por um agente desconhecido, foram observadas enquanto lhes era dado os sumplementos daquela empresa.
Resultados: onze meses depois do início da pesquisa, um dos pacientes quase morreu (o termo “lesão fulminante” aparece em referência ao caso) e precisou de um transplante de fígado enquanto todos os outros apresentaram hepatite.
Após a descontinuação do uso do Herbalife, todos melhoraram e tiveram suas enzimas normalizadas. Três, no entanto, voltaram a tomar o suplemento e, pasmem, voltaram a ter hepatite.

Mas não é só isso! Você pode também perder peso fazendo a famosa Dieta do Liso (ou “do Quebrado”, dependendo do idioma da sua região), que é aquela dieta que o faz emagrecer por faltar-lhe dinheiro para comprar comida.
Porque Herbalife é vendido da seguinte forma:alguém, geralmente com cara de desespero, aborda você dizendo que a sua chance de ficar rico sem trabalhar é aquela.

Provavelmente vão lhe mostrar um cheque de uns trocados e dizer coisas como “você não precisa trabalhar, as gordinhas vêm até você!” e explicar o seguinte sistema: você compraria mercadoria dele e revenderia para quantos quisesse, ficando com um lucro.
O nome disso é marketing multinível, pois alguém no topo vende para quem está abaixo dele, por um preço X. A segunda pessoa repassa para uma terceira por X + comissão de venda.
O terceiro trouxa vendedor faz o mesmo, repassando a um preço um pouco maior para tirar algum lucro, e assim por diante.

Os dois maiores problemas nisso são:
1 – Ninguém usa os produtos. Eles apenas são comprados e quem o faz tenta a todo custo repassar para um subvendedor. Ninguém compra para usar, apenas para passar a frente. Como dinheiro falso.
2 – A cada etapa, o preço sobe mais e mais e o número de vendedores cresce exponencialmente, saturando o mercado que (esfericamente, no vácuo) chega a um ponto onde só existem pessoas tentando vender para quem já está tentando vender.
(Um número 3 seria a insegurança, pois não há contrato. Seu subvendedor pode pedir vinte caixas de pó -a Herbalife é uma empresa que trabalha vendendo pó- e desistir depois, deixando você com a mercadoria e a dívida com o seu superior. Mais disso, lá na frente.)

O que impede que um vendedor (ou até mesmo um consumidor) no quinto degrau passe por cima da cabeça do seu superior imediato e passe a comprar, por um preço menor, direto do chefão (que é quem vende mais barato)?
Competição agressiva, eu acho.
A primeira vez que fui abordado foi por um conhecido, grande fazedor de piadas que havia conhecido na faculdade e a quem cinco quilos não fariam falta.
O vi num shopping, incrivelmente mais magro mas também sem a menor indicação de que já havia feito uma brincadeira na vida, com os olhos sem brilho e a pose murcha, como quem está caminhando em direção a uma cadeira elétrica.
Alternativamente, ele se movia com muita rapidez. Isso era evidente.
Via qualquer pessoa que talvez um dia houvesse conhecido e corria para discursar ao seu lado, mostrando um cheque de mil reais e dizendo que não precisava mais trabalhar, que estava ganhando muito dinheiro com aquilo e perguntando a todos se eles não queriam também ficar com um amarrotado cheque de mil reais na carteira o dia todo abordando semi-conhecidos.
Quando ele veio falar comigo, eu imediatamente perguntei o motivo daquele cheque estar na carteira dele e não sendo depositado e transformado em dinheiro.
Ele não tinha resposta, apenas olhou para mim e piscou vaziamente os olhos.
Estava notadamente abatido e poderia incluir “desesperado” em sua descrição sem me afastar demais da realidade da situação.

Eu sei porque o cheque estava lá, certamente.
Aquele dinheiro não era dele, mas do seu superior imediato, a quem ele devia provavelmente mais do que o valor ali contido.
Apenas andava com ele por mais algumas horas, antes do banco fechar, para tentar atrair outros para lhe salvar a pele do bolso.
Ele me conhecia através de um amigo comum e nunca nos falamos muito, mas ele veio charlar como se fossemos excelentes companheiros de outrora.
Esse tipo de desalento me assusta.

Nesse dia eu notei que Herbalife é mais que marketing multinível. É um bom e velho Esquema de Pirâmide, onde todo mundo tem tudo mas ninguém tem nada.
Dinheiro sobe das camadas inferiores na forma de pagamentos de dívidas até o topo, que é quem realmente fatura. Sem que seja necessário produto algum circulando.
Os pedidos são feitos, bem como as dívidas. Se alguém quebrar a linha, quem estiver imediatamente acima vai ter que arcar com os “custos” (pois não há de fato custo algum, visto que ainda não foi produzido uma só unidade do que quer que seja), e a melhor maneira de fazer isso é “contratar” mais pessoas para “trabalhar” para si.
Muito dinheiro circula para pagar por uma encomenda imaginária.

Pois bem, alguns dizem que Igreja é pior que governo, pois além do seu dinheiro, quer a sua alma. A Herbalife não quer só o seu dinheiro, quer também que você morra!

E agora, com vocês, os consumidores:

Quando comprei o produto com a revendedora ela me informou que todos os produtos eram naturais e qualquer pessoa poderia tomar inclusive diabéticos, cardíacos, crianças porém em momento algum me disse que quem tivesse problema de tireoide não poderia. O que aconteceu foi que n emagreci e ainda engordei mais por causa da disfunção da Tireoide.

Retirado de Herbalife só me fez mal, do ReclameAqui.com.br
LINK – http://www.reclameaqui.com.br/48651/herbalife/herbalife-so-me-fez-mal/
[1] É quase certeza que você, como vendedor, vai acabar perdendo todo o seu dinheiro para eles também, mas não é tão garantido assim porque sempre há a possibilidade de se cansar de ser enganado e desistir dessa vida miserável.

P.S. Agradecimentos ao Atila e à Lúcia Rodrigues pelo material.
P.P.S. Dia desses eu reencontrei aquele sujeito do shopping, que aparentava estar muito bem de vida; saudável, falante e animado. Perguntei: “Continua vendendo aquele esquema lá?” e obtive como resposta: “P… nenhuma! Saí daquela vida! Hahahaha!”
=¦¤þ

Coisas que não sei – respiração boca-a-boca

A primeira coisa que não sei quanto a isso é se devo ou não usar hífens, mas por enquanto isso é irrelevante.
Quando eu era pequeno e assistia a S.O.S. Malibu e (inevitavelmente) presenciava uma ressuscitação cardio-pulmonar, sempre pensava que a razão em soprar para dentro da traquéia de outra pessoa era para fazerem os pulmões pegarem no tranco. A caixa torácica enchia e, como um balão, tinha a tendência a encolher novamente, o que expelia a água.
Uma vez sem nada dentro e secos como sacos vazios, os pulmões voltavam espontaneamente a se encher, desta vez com ar fresco.
Meio vasos comunicantes, meio motor de Belina.
Já abandonei a idéia do pulmão elasto-pendular.
Mas, minha dúvida real é esta: se eu soprar ar dos meus pulmões para os pulmões de outrem, não estaria enchendo estes de gás carbônico?
Qual a porcentagem de CO2 numa exalação? Quão rápida é a troca de gases nos meus alvéolos?
Apesar de ser treinado em primeiros socorros eu nunca precisei me dar ao trabalho de salvar uma vida alheia dessa maneira, então não sei exatamente o quanto isso ajuda, mas sempre acreditei nos benefícios (melhor umas duas costelas quebradas que um coração parado, certo?).
Outra, que sempre foi uma dúvida de procedimento: soprar só com a boca garante aeração suficiente?

Coisas que não sei – limite de velocidade

Essa de hoje é mais bom-senso que ciência.
Digamos que estou em uma ponte com duas pistas e acabo de cruzar uma placa que diz 80 km (porque em placas, pelo menos aqui em Natal, velocidade é dada como sendo uma distância).
Por ter acabado de ultrapassar um carro que estava a sessenta, me encontro na faixa de velocidade, dirigindo no limite imposto pela sinalização.
Eis então que vejo crescer no meu retrovisor um outro carro, vindo abusivamente acima daquele limite, usando seus faróis para me deixar saber, em código morse, que o motorista quer porque quer passar de mim, que já estou andando em velocidade máxima.
Estando eu, naquele momento, impedido de mudar de faixa e dar passagem, devo acelerar o carro acima do limite para que o motorista atrás de mim consiga aliviar seu intestino o quanto antes?
E se eu tiver toda a faixa da direita livre? Devo voltar a ela, deixando que um colega de tráfego infrinja uma lei de trânsito ou mando-o às favas, pois estou no meu direito de ficar ali, naquela velocidade?

Experiência caseira – ovo sem casca

Eu passo boa parte do meu tempo livre mexendo em coisas.
Ontem, ao concluir a construção de um veículo motorizado autopropulsionado reduzido (carrinho movido a pilha) feito de isopor, madeira e restos de um vídeo cassete, eu estava começando a ficar entediado, quando lembrei do meu ovo.
“Meu” porque veio numa embalagem com mais cinco ovos que eu comprei no supermercado e que, por direito, me pertencia.
“Lembrei” porque não estava com ele imediatamente na minha memória de acesso rápido, pois o havia deixado pelas últimas 96 horas imerso em vinagre.
ovo1.jpgA casca (feita principalmente de carbonato de cálcio) e o vinagre (constituído quase completamente por ácido acético) foram mutuamente cancelados, resultando numa poça salobra de um líquido espumoso e acre, de gosto bastante repulsivo (mais ainda que seu aspecto, pena que não tirei fotos).
ovo sem casca2.jpgO ovo em si estava macio ao toque e inchado, como um balão cheio de água, e havia aumentado de volume consideravelmente (como uma barriga grávida, talvez?) e parecia estar prestes a romper.
Antes que isso acontecesse, eu intervim da melhor maneira que sei em situações como essa: com um palito, uma faca e uma câmera.
Cliquem no read on para ver o vídeo e mais fotos:

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Mídia moderna, jornalismo antiquado

O diário natalense Tribuna do Norte, agora a pouco, atingiu a marca de 600 seguidores no Twitter.
De quando em quando, alguém cuja função anterior ainda não consegui apurar, tuíta uma chamada curta (passível de ser facilmente repetida sem a necessidade de cortes) e um link para uma notícia na página do jornal.
Para quem ainda não conhece, o Twitter é um meio para informar pequenas coisas a quem quer que os siga, em tempo real (ou no espaço de tempo necessário para que suas mensagens sejam lidas), e vice-versa, possibilitando que se leia qualquer mensagem mandada por outrem.
O “pequenas coisas” se deve ao fato de, cada mensagem, ou twit, poder conter no máximo 140 caracteres, ou exatamente o conteúdo desta linha.
As mensagens mandadas pela Tribuna não dizem coisa alguma, são apenas as manchetes das notícias que eles querem que todos leiam em sua página na Internet.
Isso é equivalente a Sherlock Holmes embarcar num avião supersônico para chegar mais rápido à cena de um crime munido apenas de lupa.
Meios de ponta para métodos há muito ultrapassados.
Isso me ocorreu mais fortemente ontem quando eu sai do trabalho para almoçar e encontrei a rua impedida e o tráfego nela parado.
Passei mais de vinte minutos num trecho que em condições normais me tomaria apenas cinco.
A equipe de jornalismo da Tribuna do Norte sabia disso e tuitou: “Acidente entre ônibus e carros congestiona trânsito no Centro” e incluiu um link que não abre na minha neolítica máquina computacional.
A maneira twitter de dar a notícia seria “evitem a Rio Branco, ela está parada” e um link para a notícia. Quem pudesse, como eu, evitaria essa rua.
Mas preferiram pensar com os pés e colocar um meninote na esquina, gritando EXTRA, EXTRA!
Eles não estão nessa para prestar serviços mas sim para propagandear o próprio sítio.
E é por essa mentalidade que eu acho é pouco que diploma de jornalista agora só serve para esconder infiltração.
Custa acompanhar as mudanças?
P.S.
Parabéns aos agentes da STTU pela ação rápida de coordenação do tráfego.
O telefone de lá é 156 ou 3232-9095 e eles atendem 24 horas por dia. Se vocês virem algum carro parado em local indevido ou um sinal sem funcionar, liguem e me ajudem a não morrer de raiva antes dos 35.
Pode demorar pois eles têm poucos carros, mas eles eventualmente chegam.
P.S.2
Já que hoje é dia de política aqui no SbBr, a imbecil excelentíssima prefeita Micarla de Souza vai mais uma vez mudar o nome da secretaria, que passará a se chamar SEMOB.
Eu sei disso porque conversei bastante com dois “amarelinhos” uma noite dessas.

Coisas que não sei – Homo sapiens sapiens

Sendo nós, seres criadores e usuários de calçados com fecho de velcro, os únicos membros não-extintos do gênero Homo e já havendo a espécie sapiens, qual o motivo de existir uma subespécie classificatória?
Se hoje em dia só existe um “homo” e “sapiens” servindo perfeitamente para nos diferenciar dos nossos “primos” não mais existentes, existe uma necessidade real de sermos Homo sapiens sapiens?
Pergunta Bônus: exatamente em que ponto da nossa contínua evolução poderíamos afirmar existir uma nova subespécie, um Homo sapiens superioris, digamos?
E o quanto de mudança seria preciso para um Homo novis, uma completamente nova espécie?
A diferença entre um lobo e um cachorro é um familiaris.
Nota: eu sei que a classificação de Lineu está um tanto ultrapassada, com cladística e tal, mas a pergunta continua: quanto de mudança genética é necessária para abrir uma nova vaga?
Como complemento para a pergunta, consultem esse artigo do Blogueiro X (me recuso a chamá-lo de “cretinas”)

Argumento de autoridade (ou de ignorância?)

Quando eu penso que não, leio um negócio que me impressiona pela falta de cuidado.
Estou aqui lendo o tão aclamado e seguido Guia Quatro Rodas – Rio Grande do Norte, da Editora Abril.
Apesar da excelente falta de indicação (que só pode ser fruto de um esforço consciente para esconder a data da publicação), tenho quase certeza que esta versão que tenho em mãos saiu em 2007.
Na página 117, na seção dedicada à praia de Touros, há um quadro de destaque com uma foto do Farol do Calcanhar e o seguinte texto:

O mais alto
O farol do Calcanhar tem 62 metros e 298 degraus. É o maior do Brasil e o segundo do mundo, só perdendo para o fabuloso Farol de Alexandria, que já foi uma das sete maravilhas do planeta. A visitação é só externa. Informações pelo tel. 3502-5402.

Natal já teve a maior loja de colchões do mundo e no município vizinho de Nísia Floresta encontra-se o maior cajueiro do mundo, mas o segundo maior farol?
Indo por partes: eu aprendi no colégio que a única das “sete maravilhas” ainda de pé são as Pirâmides e que o Farol de Alexandria foi destruído por terremotos (mesmo destino da biblioteca de lá) há muito tempo.
“Muito tempo” aqui significa 529 anos.
O tal “maior farol” deixou de existir e deu lugar a um forte vinte anos antes do Brasil ser abordado por europeus.
Então quer dizer que o farol em Touros é o maior do mundo já que seu concorrente direto perdeu a coroa quatrocentos e sessenta e três anos anos daquele ser construído?
Hummm…
Não.
O maior farol do mundo é o da Marina de Yokohama, no Japão, que é 70% mais alto, com 106 metros.
Voltamos ao segundo lugar.
Bem, nem tanto.
Sequer o mais alto das das Américas.
Um tal de Cabo de Hatteras, na Carolina do Norte, EUA, tem 64 metros.
Uh, na trave!
Eu consigo cuspir mais longe que a diferença de altura entre os dois, mas “mais alto” é “mais alto”.
Que pena.
Pelo menos temos o terceiro farol mais alto do mundo.
Mas seria o terceiro mesmo?
É, é o terceiro mesmo. Só quis criar mais tensão.
O erro ‘foi’ e ‘não foi’ do Guia.
‘Não foi’ porque eles se confiaram numa fonte aparentemente confiável, não tendo sido o primeiro lugar a dizer isso e ‘foi’ porque eles não se preocuparam em falsear a informação, procurando por estruturas maiores (e falharam completamente em lembrar das aulas de História Geral).
O motivo da confusão pode ter sido causado por linguagem específica e falta de atenção, já que na página do Serviço de Sinalização Náutica do Nordeste consta a frase “segundo maior do mundo em altura focal”, que não é o mesmo que altura da base ao topo.
Mas, como dizem os Pet Shop Boys: “se a vida é…

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