Evolução em Mente para Enfrentar a Crise Climática neste Darwin Day 2025

Feliz Dia de Darwin para todos os seres vivos que já existiram e, por enquanto, ainda existem na Terra. Hoje, dia 12 de fevereiro de 2025 celebramos o aniversário de 216 anos de ninguém mais ninguém menos do que Charles Robert Darwin. Ele foi o cientista que revolucionou a Biologia e outras áreas do conhecimento costurando inúmeros fatos em sua Teoria da Evolução Biológica por descendência comum, seleção natural e sexual, gradualismo e multiplicação das espécies. O Darwin Day é a comemoração internacional para honrar as contribuições de Charles Darwin para a ciência e refletir sobre como o evolucionismo continua a iluminar nossa compreensão do mundo e nos ajudar a enfrentar os desafios que enfrentamos.

No MARCO EVOLUTIVO comemoramos anualmente o Dia de Darwin desde 2008, passando pelo Bicentenário de Darwin e 150 anos do ‘Origem da Espécies’ em 2009, e por 20102011201220132014201520162017, pela Década de Darwin Days no Blog em 201820192020pelo sesquicentenário do “A Descendência do Homem a Seleção Sexual’ em 2021, pelo sesquicentenário do ‘A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais’ em 20222023 e 2024.

Da mesma forma que em 2021 abordamos aspectos evolutivos do enfrentamento da pandemia de COVID-19, este ano de 2025 abordaremos a questão ambiental. Não dá mais para ignorar os graves problemas ambientais e climáticos que nós humanos geramos. Quer dizer, mais especialmente a emergência climática e ecológica gerada em grande parte pelas corporações petroleiras e pelos países e seus indivíduos mais ricos nas últimas 6 décadas.

Sim, desde as décadas de 1960-70-80 grandes empresas de petróleo, como a Exxon e a Chevron, já sabiam dos sérios riscos do aquecimento global por efeito estufa causado pela queima de combustíveis fósseis, como diesel e gasolina, mas optaram por negar e desinformar o público e continuar a expandir seus negócios visando o lucro a curto prazo custe o que custar. Em alguns países elas estão começando a ser responsabilizadas juridicamente pelos problemas ambientais e suas severas consequências, mas ainda é muito pouco pois a indústria do petróleo precisa sumir do mapa o quanto antes.

As mudanças climáticas, impulsionadas pela ação humana, ameaçam ecossistemas, economias e o próprio futuro da vida no planeta. Mas, e se a mente e o comportamento humano causaram esse problemão será que entendendo a própria evolução da mente humana pode nos oferecer ideias para enfrentar esse problema? O presente evolutivo desde ano será a contribuição da Psicologia Evolucionista para enfrentarmos os graves problemas ecoclimáticos atuais. Veremos como nossos instintos evoluídos contribuíram para a crise climática e como podemos usá-los a nosso favor para construir um futuro mais sustentável.

A crise climática é um problema complexo e multifacetado do qual já se sabe as causas e consequências há várias décadas. As causas são o crescimento populacional, consumo insustentável, desigualdade socioeconômica, exploração excessiva dos recursos naturais e despejo excessivo de dejetos tóxicos e não-biodegradáveis. Anualmente, já estamos consumindo recursos e serviços naturais equivalentes a 1,75 vezes (quase o dobro) do que o planeta Terra consegue regenerar em um ano.

O aquecimento global, impulsionado pelo aumento das emissões de gases do efeito estufa, tem levado a extremos climáticos, como secas, inundações, furacões e muitas ondas de calor. Após o ano de 2024 ser o mais quente da história registrada, o mês de janeiro de 2025 já é considerado o mais quente registrado até então. A poluição do ar, da água e do solo, aliada à degradação de habitats, tem trazido prejuízo à saúde e acelerado a perda de biodiversidade. Já estamos diante do sexto evento de extinções em massa em nosso planeta e as mudanças climáticas podem intensificar epidemias e pandemias. Além disso, a escassez de recursos naturais, como água potável, tem gerado conflitos e migrações em massa aumentando a vulnerabilidade social. Para evitarmos que a situação piore mais ainda temos que promover mudança de comportamento o quanto antes.

A Psicologia Evolucionista nos mostra que muitas de nossas propensões comportamentais foram moldadas seletivamente por resolver problemas adaptativos do passado caçador-coletor pleistocênico pré-agricultura. Porém, no modo de vida contemporâneo urbanizado, industrializado e massificado as inclinações evoluídas podem ser mal-adaptativas. Dado o contexto socioeconômico atual, várias capacidades evoluídas infelizmente estão contribuindo para aumentar os problemas ambientais. Já sabemos há décadas que não basta apenas avisar ou ‘conscientizar’ sobre os problemas ecológicos, pois não somos tabula rasa ou agentes ultra para mudarmos completamente nosso padrão comportamental mediante a necessidades modernas. Temos uma bagagem psicológica vertebrada, mamífera, primata e hominínea e um vasto repertório comportamental evoluído que precisa ser levado em conta para atenuarmos as causas comportamentais e promovermos soluções efetivas para emergência climática e ecológica.

A competição por recursos e status, os quais nos ambientes ancestrais eram limitados pelo modo de vida simples, hoje contribuem para a acumulação excessiva e consumismo de ostentação, os quais tem alta pegada ecológica. O autointeresse e altruísmo local que fortaleciam a tribo ancestral cheia de parentes, hoje no mundo globalizado nos faz priorizar nossas necessidades imediatas e as de nosso grupo próximo e a ignorar problemas globais, como a crise climática. O mesmo tribalismo e a imitação social que aumentava as identidades de grupo ancestrais, hoje geram resistência política a mudanças de atitude e negacionismo. O desconto temporal, que nos faz valorizar mais o presente do que o futuro, dificulta ações que beneficiariam as gerações futuras, como reduzir emissões de carbono ou conservar recursos naturais. E ainda, somos mais sensíveis a ameaças imediatas e tangíveis, como predadores ou doenças, do que a riscos lentos, distantes, invisíveis ou abstratos, como o das mudanças climáticas e da poluição.

Porém, a natureza humana nos limita, mas não nos aprisiona, do mesmo jeito que as teclas do piano limitam, mas não aprisionam o compositor. Tanto é que conseguimos superar limitações naturais ao dar um jeito de até levantar vôo! Evoluímos para ser flexíveis e adaptáveis, capazes de aprender a reutilizar nossas capacidades para fazer coisas novas. Só conseguimos fazer coisas novas por estarem ancoradas em capacidades psicológicas evoluídas. Assim, podemos usar nossos traços evoluídos a nosso favor, promovendo ações sustentáveis de maneira eficaz. Podemos alinhar o autointeresse com a sustentabilidade, destacando os benefícios pessoais de escolhas ecológicas, como isolar termicamente a casa para economizar energia de ventilador e ar condicionado.

Podemos usar nosso altruísmo local e cuidado parental para despertar atitudes e comportamentos sustentáveis ao enfatizarmos os benefícios da sustentabilidade para nosso filhos, sobrinhos e netos nas próximas gerações. Podemos usar a busca por status para promover produtos e comportamentos sustentáveis como símbolos de prestígio e reputação. Podemos usar a imitação social para que influenciadores e normas sociais disseminar práticas sustentáveis como ter menos filhos, andar menos de avião, comer menos carne vermelha e usar mais bicicleta e transporte público. Podemos usar os riscos ancestrais ao apelar para emoções como o nojo para reduzir o consumo de carne vermelha. Podemos mostrar que pessoas de comportamento mais pró-ambiental são tidas como mais altruístas e, assim, vistas como mais atraentes romanticamente para relacionamentos de curto e de longo-prazo.

A crise climática é um problema grave, mas não intransponível. As mudanças comportamentais são parte das soluções são globais como descarbonização e transição energética, economia circular e sustentável, restauração ecossistêmica, manejo sustentável de recursos naturais, regulação internacional de países e mercados, e fim do lobby petroleiro. Integrando abordagens políticas, econômicas, jurídicas, tecnológicas e comportamentais, podemos reduzir seus impactos e construir um futuro mais sustentável. A abordagem evolutiva aplicada à mente humana tem um papel crucial nesse processo, ajudando-nos a entender e a trabalhar de forma alinhada com nossa natureza humana, ao invés de irmos contra ela. Veja estes artigos científicos mostrando a importância da Psicologia Evolucionista para atenuarmos os problemas ambientais (Griskevicius, Cantú & Van Vugt, 2012; Palomo-Vélez & van Vugt, 2021; Van Vugt, Griskevicius & Schultz, 2014).

Neste Dia de Darwin 2025, celebramos não apenas a ciência, o pensamento crítico e o evolucionismo, mas também a capacidade humana de aprender, adaptar-se e evoluir usando o conhecimento científico evolutivo. Não dá para desconsiderar as propensões psicológicas evoluída se quisermos promover sustentabilidade. Espero que possamos usar essa capacidade para enfrentar os desafios ambientais e garantir um planeta sustentável e saudável para esta e as futuras gerações de todos os seres vivos atuais. E como sempre participe dos vários eventos pelo país comemorando o Darwin Day, como os 20 anos de Darwin Day no Museu de Zoologia da USP, ou o Darwin Day da Sociedade Brasileira de Genética e da recém-criada Sociedade Brasileira de Biologia Evolutiva está com uma programação fantástica também. Aproveitem!

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