Douglas Futuyma na UNICAMP

Na última semana de maio – semana que vem, o Prof. Douglas Futuyma (Distinguished Professor de Ecologia e Evolução, State University of New York), um dos mais destacados pesquisadores em Biologia Evolutiva, visitará a Unicamp para 3 palestras gratuitas, de 3a. (27/5) a 5a (29/5).

Esse ciclo de palestras evolutivas foi organizado pelo Seminários do Instituto de Biologia – uma iniciativa da Pós-Graduação em Ecologia com o apoio da Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular da Unicamp.

Futuyma é autor, entre outros, de “Biologia Evolutiva” (traduzido pela Soc. Bras. Genética; última edição, Funpec 2002) – o lendário e famigerado livro de Evolução de muitos Biólogos.

O tema das palestras é bem interessante e atual, vale a pena ir e prestigiar.

As palestras:
  • 3a. feira 27/5 (16h, Sala de Defesa de Tese, Prédio PG/IB): A Biologia Evolutiva, 150 anos após a publicação da “Origem das Espécies”. Um balanço geral do avanço e novos desafios desta área fundamental para a Biologia atual. Descubra mais detalhes sobre essa data tão importante pra Biologia em: 2009 o “ANO DA BIOLOGIA” e em 2009 Ano da Astronomia ou da Biologia?
  • 4a. feira 28/5 (16h, Auditório IB-02, IB): Evolução e o Ataque à Ciência. Futuyma foi importante no primeiro grande embate da ciência com os criacionistas americanos na década de 80 (escreveu um livro sobre isto, “Science on Trial”), e continua ativo nestes confrontos, como recente presidente do American Institute of Biological Sciences.
  • 5a. feira 29/5 (14h, Sala de Defesa de Tese, Prédio PG/IB): A Evolução de Associações entre Insetos e Plantas Hospedeiras. Trabalhos recentes e em andamento no grupo de pesquisas de Futuyma.

Para mais informações ou contatos com Douglas Futuyma:Thomas Lewinsohn (ramal 16333)Secretaria PG Ecologia / Célia (ramal 16381)

Vídeos: Evolução da Sexualidade Humana II


Para finalizar o Festival de Vídeos sobre a Evolução da Sexualidade Humana veremos o documentário The Nature of Sex .

São seis vídeos que buscam pistas para nossa própria sexualidade em nossos parentes próximos e no passado distante. Assim como o documentário passado este é ricamente ilustrado e elucidativo, além de ser bem abrangente.
No primeiro vídeo, de quase 10 minutos, veremos o Homo Habilis, as pressões que ele enfrentou na savana e faremos comparações com a sociedade de Babuinos. Depois veremos o comportamento sexual do Chimpanzé e traçaremos paralalos com o cio humano.
No segundo vídeo, de 10 minutos, veremos o Homo Erectus, seu modo de caça, sua saída da África e o contínuo aumento do cuidado parental. Veremos também a origem do seio. Manteremos aquele olhar de auto-estranhamento ao analisarmos a família do ponto de vista evolucionista.
No terceiro vídeo, de 10 minutos, veremos as origens do favorecimento de parentes. Ao analisarmos as características que escolhemos nos parceiros amorosos veremos a origem do nariz. Como em nossa espécie tanto homens quanto mulheres escolhem, veremos as pressões seletivas para indicadores como tamanho e força corporal, e fertilidade e cuidado da prole.
No quarto vídeo, de 10 minutos, veremos a origem de olhos grandes e lábio como sinalizadores, e que assim como ambos os sexos escolhem eles competem. Veremos um curioso desfile de beleza masculino e seus paralelos com os cuidados estéticos do Bowerbird. E descobriremos que não há apenas indicadores de cuidados parentais, mas sim indicadores estéticos de bom gosto. Além de ver as sutilidades não-verbais da vigilância de acasalamento.
No quinto vídeo, de 10 minutos, veremos o investimento feminino na prole e as tendências para evitar o incesto nas crianças em kibutz.
Veremos também qual é a profissão mais antiga do mundo e que não somos tão diferentes de muitos outros animais.
No último vídeo, de 3 minutos, veremos nossas semelhanças com os Bonobos e por fim sua mensagem de paz e amor.

Reserve uma horinha para ver esses vídeos interessantes e evolutivamente relevantes e ainda treine seu inglês.

Vou te dar muita pressão, vou sim!

Um dos maiores ensinamentos evolutivos é que devemos tentar ao máximo olhar para os seres vivos – inclusive para o animal humano – com o mesmo estranhamento que um biólogo marciano olharia. Ou seja, abandone seu antropocentrismo! Com esse sentimento podemos capturar as verdades evolutivas por trás do óbvio ao nosso redor, inclusive da letra de funk acima.

Desde Darwin e Wallace e os primórdios da seleção natural a questão sobre a consciência ou acaso das pressões seletivas era muito controvertida. O próprio Darwin salientou que “Muitos escritores têm compreendido mal, ou têm criticado o termo Seleção Natural. Alguns têm mesmo imaginado que a Seleção Natural induz à variabilidade, quando pelo contrário envolve somente a conservação das variações acidentalmente produzidas, quando são vantajosas ao indivíduo nas condições de existência em que vive. […] Outros têm objetado que o termo seleção envolve uma escolha consciente nos animais que tornaram modificados; e tem-se mesmo argumentado que sendo as plantas isentas de qualquer vontade, a Seleção Natural não lhes é aplicável!”
Como a palavra “acidentalmente” deixa bem claro as pressões seletivas da Seleção Natural não envolvem qualquer tipo de consciência – para desespero dos criacionistas de designers inteligentes. O algorítimo darwiniano é nada mais do que uma receita que independe do substrato, dadas as condições e ingredientes certos ela sempre funcionará mecanicamente. Essa é a famosa perigosa idéia de Darwin esmiuçada por Daniel Dennett (1995).

Então podemos pensar que o “Vou te dar muita pressão” não passa de um absurdo criacionista, pois Darwin mostrou concretamente que o sujeito da oração (sem duplo sentido religioso heim! Eu quis dizer “frase”) não é indeterminado nem está oculto, é inexistente. Darwin ainda acrescenta que “No sentido literal da palavra, não há dúvida que o termo Seleção Natural é um termo errôneo; mas quem jamais criticou os químicos, por se servirem do termo afinidade eletiva falando de diferentes elementos? […] Todos sabem o que significam e o que querem exprimir estas expressões metafóricas e que são quase necessárias para a concisão.”

Mas será que todo termo evolucionista “seleção” está tão isento de vontade própria assim? Mas é claro que não! E foi o próprio Darwin quem matou a charada descobrindo a Seleção Sexual. Ao contrário do sentido totalmente casual e mecânico do “seleção” da Seleção Natural, a Seleção Sexual envolve sim uma vontade direcional. Mas não uma vontade direcional divina, uma vontade literalmente animal. Essa vontade intencional própria é uma das maiores pressões seletivas na evolução dos animais, pois são as mentes dos próprio animais que exercem pressão evolutiva em outros animais.
As mentes, enquanto funcionamento do sistema nervoso, são tão materiais quanto o funcionamento do liquidificador. O interessante é que um simples processo mecânico não-intencional pôde originar aparatos complexos e intencionais como as mentes animais (que maravilha de idéia perigosa). E são as escolhas por livre e espontânea vontade dessas mentes que são o obvio sujeito oculto por trás da frase de funk.
Agora que percebemos que o “eu” oculto no “Vou te dar muita pressão” não é divino, mas sexual olhamos com outros olhos o óbvio sentido sexual da letra. Além disso, as pressões seletivas intencionais não estão só restritas às escolhas que os animais fazem intra-especificamente como na seleção sexual, pois até quando se relacionam com outras espécies sejam animais ou plantas estão “dando muita pressão” também. Mas, é claro que as forças são maiores na difícil vida intra-específica grandemente abarcada pela Seleção Sexual.
Chegado o estranhamento, vamos aos indícios. Se existe uma diferença qualitativa da pressão metaforicamente seletiva da Seleção Natural para a pressão literalmente seletiva da Seleção Sexual esperaríamos encontrar adaptações mais refinadas, complexas e mais bem esculpidas fruto das pressões intencionais.
Aqui veremos um vídeo sobre como a paisagem passiva das florestas pressionou o canto das aves florestais para sons mais simples, com notas longas bem demarcadas e com menos variação de notas – características sonoras que escapam às barreiras refletoras de sons das folhas. Veremos também como a pressão seletiva é diferente no alto na floresta do chão dela. Em quanto que neste vídeo veremos como a paisagem psicológica intencionalmente ativa das aves moldou as mais requintadas cores e exibições de corte.
Depois desse texto você nunca mais ouvirá o Bonde do Tigrão do mesmo jeito. Porque o simples ato de escolher ouvir sempre ou nunca mais ouvir essa música já é “dar muita pressão” literalmente.
Referência
Carvalho, E. M. M. (Org.) (1986). O Pensamento Vivo de Darwin. São Paulo: Martin Claret.
Dennett, D. (1995). A perigosa Idéia de Darwin. Rio de Janeiro: Rocco.