Feliz Dia de Darwin 2023!

É chegada a hora do nosso Darwin Day! Hoje, 12 de fevereiro de 2023, estamos celebrando os 214 anos de ninguém menos que Charles Robert Darwin (1809-1882). Foi ele, o geólogo e naturalista, que reuniu diversas fontes de evidências apontando para o processo evolutivo dos seres vivos. Com os mecanismos da seleção natural e da seleção sexual, ele propôs uma explicação natural e unificada para diversidade, similaridade e manutenção dos seres vivos, incluindo o ser humano, ao longo da história do planeta Terra.

Nada mais apropriado do que celebrarmos o aniversário de Darwin, sua biografia, descobertas e legado neste Darwin Day de 2023. O Dia de Darwin é uma celebração internacional que visa nos inspirar a refletir e agir seguindo os princípios de bravura intelectual, curiosidade, pensamento científico e busca pela verdade como demonstrados por Charles Darwin. Então temos que aproveitar esta celebração para nos ajuda apreciar a natureza evoluída dos seres vivos, nossa origem primata humilde, e para buscarmos as atualizações do conhecimento evolutivo fruto do legado darwinista.

Aqui no MARCO EVOLUTIVO temos, nos últimos 15 anos, continuamente celebrado o Dia de Darwin começando em 2008, passando pelo Bicentenário de Darwin e 150 anos do ‘Origem da Espécies’ em 2009, e por 20102011201220132014201520162017, pela Década de Darwin Days no Blog em 201820192020pelo sesquicentenário do “A Descendência do Homem a Seleção Sexual’ em 2021, e pelo sesquicentenário do ‘A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais’ em 2022. Neste 2023 não seria diferente.

Darwin nos mostrou a beleza e o insight profundo de ver as relações entre as espécies como as de parentescos famílias numa grande árvore da vida. Não somos idênticos aos nossos pais; assim como as pessoas, as espécies são únicas, mas as espécies irmãs tendem a ser mais parecidas entre si do que as espécies primas. É uma ótima metáfora, pois ainda mostra que da mesma forma que um galho conforme cresce vai mudando, as espécies também vão mudando ao longo das gerações (anagênese), e quando há uma bifurcação é quando ocorre o evento de especiação, o surgimento de novas espécies (cladogênese). E quando um galho seca é como um evento de extinção para as espécies daquele ramo. De forma geral a evolução biológica pode ser representada como um eterno crescimento, bifurcação, fusão (simbiose) e perecimento dos ramos da vida, todos tendo um mesmo tronco distante em comum.

Em 1857, numa carta para Huxley, Darwin escreveu que “A hora virá, creio eu, embora não viva para ver, quando tivermos árvores genealógicas muito justas de cada grande reino da natureza.” Darwin estava certo, e todos nós hoje podemos vislumbrar e explorar a maior árvore dos seres vivos já organizada. O site OneZoom mostra numa estrutura fractal continua os relacionamentos de parentescos de 2,2 milhões de espécies, de bactérias até o urso de óculos sul-americano. Além de fotos, as folhas têm cores indicando se a espécie está extinta ou em risco de extinção. É claro que além da truta, do cogumelo amanita, da maconha, do lobo, o ser humano é uma das espécies mais procuradas.

Darwin estudou a evidência de anatomia comparativa entre humanos e outros grande primatas sem rabo para prever que os humanos muito provavelmente evoluíram na África. Em 1871, Darwin escreveu que “Em cada grande região do mundo os mamíferos vivos estão intimamente relacionados com as espécies extintas da mesma região. É, portanto, provável que a África tenha sido anteriormente habitada por grandes primatas extintos, parentes próximos do gorila e do chimpanzé; e como essas duas espécies são agora as aliadas mais próximas dos humanos, é talvez mais provável que nossos primeiros progenitores tenham vivido no continente africano do que em qualquer outro lugar.”

Darwin estava certo: não só os nossos ancestrais mais antigos desde a separação do ramo comum com os Chimpanzés e Bonobos são encontrados na África, mas também a árvore genealógica humana usando dados genéticos remonta à África. No ano passado foi publicada a maior árvore unificada da humanidade feita por meio de genomas atuais e ancestrais mostrando a riqueza de dispersões e intercruzamentos das populações. Talvez se todos conseguirmos perceber toda a humanidade e todos os outros seres vivos como literalmente nossos parentes ‘de sangue’ talvez diminuiremos com as guerras, abusos e maus-tratos ainda tão persistentes na atualidade.

Seguimos em frente nos Darwin Days, sempre disseminando os insights, as previsões, descobertas e legado de Darwin bem como as novas descobertas, as quais muitas apoiam as previsões do naturalista de revolucionou a biologia e a humanidade. Neste ano tivemos o Darwin Day da Sociedade Brasileira de Genética na UFES com exposições, palestras e mesas redondas. Estamos tento o Darwin Day do Museu de Zoologia da USP com várias atrações para os adultos e as crianças. E ainda teremos o Darwin Day da UFJF em 24 de março. Muitos outros evento ainda vão surgir, então aproveitem!

Feliz Bicentenário de Alfred R. Wallace

Começamos este ano novo de 2023 aqui no MARCO EVOLUTIVO já celebrando neste 8 de janeiro o bicentenário do nascimento de Alfred Russel Wallace (1823-1913). Acadêmicos do mundo todo estão relembrando as aventuras e descobertas de Wallace, o explorador naturalista, geógrafo e antropólogo inglês que co-descobriu a evolução por seleção natural junto ao Darwin. Seu legado e originalidade estão sendo finalmente amplamente discutidos e divulgados de modo que não se trata mais de caracterizá-lo como um mero pesquisador à sombra de Darwin. Wallace merece ser reconhecido como um evolucionista de peso, pai da biogeografia, especialista em especiação, coloração animal, cartografia, descobridor de várias espécies (da palmeira piaçava até o sapo voador da Indonésia passando pela ave do paraíso), e grande aprendiz e pensador interdisciplinar que contribuiu em diversos temas como glaciologia, epidemiologia, astrobiologia e políticas públicas.

Desde 2013 quando das comemorações do centenário de seu falecimento, já ocorre um esforço internacional para lançar luz sobre as contribuições e legado acadêmico da Wallace.  Tanto que na época foi inaugurado um grande quadro de Alfred Wallace na escadaria do Museu de História Natural de Londres, reparando assim uma injustiça histórica, visto que até então apenas a estátua de Darwin figurava por lá. E já em 2010 foi criado o “Wallace Correpondence Project” reunindo num repositório e disponibilizando online um enorme número de correspondências de Wallace. E em 2012 foi criado o Wallace Online com todos as publicações a manuscritos do autor. Aos poucos, sua relevância científica vai sendo disseminada e reconhecida.

De família humilde, Wallace teve que trabalhar desde cedo para ajudar a sustentar a família. Atuou como construtor e agrimensor passando bastante tempo ao ar livre, e acabou desenvolvendo, como autodidata, seu interesse por cartografia, história natural, botânica, geologia e astronomia na livraria da família. Mesmo sem ter educação formal, chegou a dar aulas de topologia, cartografia e desenho, mas acabou virando explorador profissional se mantendo da coleta e venda de espécimes para museus e colecionadores particulares. Ao longo de sua vida Wallace explorou diversos países como o Reuni Unido, França, Suíça, Colômbia, Venezuela, Malta, Egito, Índia, Sri Lanka, Malásia, Singapura, Indonésia, Timor Leste, EUA, Canadá, e também o Brasil.

Sua primeira grande expedição foi no Brasil (Belem-PA) aos 25 anos de idade. Ficou 4 anos no Pará (1848-1852) e, por um tempo, esteve junto com outro naturalista de renome, Henry Walter Bates, o descobridor do mimetismo batesiano. No Brasil, Wallace se encantou com a imensidão sublime da floresta tropical e com a beleza rara dos pássaros e borboletas locais. Ele observou como os rios Amazonas, Negro e Madeira funcionavam como barreiras geográficas recortando a fauna local como limites naturais. Esse isolamento geográfico poderia contribuir para a formação de diferentes espécies. Descobriu e descreveu várias espécies novas, incluindo a palmeira piaçava, e aprendeu com os ribeirinhos e indígenas locais seus vários usos. Ele também fez anotações etnográficas sobre os costumes e rituais de tribos amazônicas, e descreveu pinturas rupestres de Monte Alegre (PA).

Wallace deu muito azar ao retornar para a Europa, pois seu navio pegou fogo e naufragou perdendo a maioria do que havia anotado e coletado nos dois últimos anos. Felizmente, após 10 dias à deriva em botes, ele e a tripulação foram resgatados por um cargueiro rumo à Inglaterra. Ficou inicialmente arrasado mas mesmo assim não desanimou das explorações futuras. Apesar do ocorrido e de ter perdido muita coisa no naufrágio, Wallace ainda conseguiu publicar artigos e livros sobre macacos e palmeiras da Amazônia, por exemplo.

    

Foi no Arquipélago Malaio em que passou mais tempo (1854-1862) explorando os detalhes da natureza e das tribos locais, o que impulsionou suas maiores contribuições. Lá coletou cerca de 125 mil espécimes, uns 5 mil novos, incluindo o sapo voador e a ave do paraíso. Em Bornéu, ele fez umas das primeiras observações naturalísticas de orangotangos em seu habitat natural contribuindo novamente para a primatogia.

Suas observações biogeográficas no arquipélago o levaram a descobrir uma divisão natural que separa a fauna asiática da fauna australiana, hoje conhecida como a Linha de Wallace. Em homenagem às suas descobertas, as ilhas próximas a essa região do arquipélago Malaio são chamadas coletivamente por “Wallacea”. Lá Wallace escreveu os artigos evolutivos de maior relevância, descrevendo descendência comum, especiação e a seleção natural. Após anos de observação naturalística e leitura de Malthus e de Lyell, entre outros, ele teve o insight da seleção natural num momento febril com malária. E depois mandou uma carta a Darwin comunicando suas descobertas evolutivas, o que fez com que Darwin finalmente tornasse público seus longos estudos evolutivos numa publicação conjunta em 1858.

Wallace era contra a escravidão, anti-eugenia, anti-vivissecção, anti-militarização e anti-imperialismo e anti-terraplanismo. Ele chegou até a ganhar uma aposta de terraplanista provando a curvatura da água de um canal usando um telescópio e duas estacas na mesma altura da água, mas separadas em 10 km. Wallace era a favor dos direitos das mulheres ao voto, era também um conservacionista contrário à introdução de espécies exóticas, ao desmatamento das florestas tropicais e da erosão do solo, e ainda era um socialista a favor da reforma agrária. Wallace foi o primeiro presidente da Sociedade pela Nacionalização de Terras e permaneceu no cargo por 30 anos.

Entretanto, ao final da vida ele se tornou mais antropocêntrico e religioso se envolvendo com hipnose e espiritismo. Apesar de acertadamente não considerar as populações tribais como intermediárias entre os grandes símios e os humanos civilizados, Wallace chegou a erroneamente achar que na evolução humana, ao contrário do que ocorrera com as outras espécies, houve intervenção divina para aumento da capacidade cerebral. Além disso, ele acreditava em frenologia e, por suspeitar das autoridades e dos interesses dos médicos, ele chegou a se juntar ao movimento anti-vacina da varíola da época. Ele achava que a vacina iria interferir no balanço natural dos organismos e que a vacina não era segura. Mesmo estando no lado errado da história nestes últimos assuntos, ele conseguiu que, no caso das vacinas, novos procedimentos de segurança fossem recomendados; e por conta do seu antropocentrismo, conseguiu mostrar em seus livros sobre Astrobiologia que não havia vida inteligente criando canais de irrigação em Marte.

Por não ser parte da aristocracia inglesa, Wallace teve que batalhar muito mais para conseguir sua bagagem acadêmica autodidata e para fazer com que suas descobertas fossem valorizadas. Desde então seu legado naturalista explorador e teórico interdisciplinar está cada vez mais divulgado e apreciado, chegando a ganhar diversas medalhas de mérito acadêmico. Desejo que os pontos fortes de sua biografia e seu legado científico nos sirvam de inspiração nesta celebração internacional dos 200 anos de Alfred Russel Wallace. Assista documentários sobre as expedições de Wallace aqui e aqui

150 anos do livro A Descendência do Homem e a Seleção Sexual de Darwin

Neste dia de 24 de fevereiro há exatos 150 anos foi publicado em Londres com dois volumes de 450 páginas o The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex de Charles Darwin. O livro foi um marco para o estudo da evolução humana e aqui no MARCO EVOLUTIVO não poderíamos deixar de celebrar esta data. Originalmente a ideia de Darwin era apenas ter um capítulo sobre humanos em seu livro The variation of animals and plants under domestication de 1866, mas como o livro já estava grande ele resolveu fazer em separado um pequeno ensaio sobre nossa ancestralidade primata e a seleção sexual, o que acabou crescendo e virando os dois volumes do The Descent of Man em 1871. Neste livro Darwin finalmente pode desenvolver tudo o que ele se referiu ao final do Origem das Espécies quando disse que, por conta da evolução por seleção natural, no futuro muita luz seria lançada sobre a origem dos humanos e nossa psicologia e história.

Intuitivamente sempre nos parece que a diferença psicológica entre humanos e outros primatas é enorme, tanto que até o Alfred Wallace abandonou a explicação evolucionista ao se tratar da mente humana por achar pouco possível de que toda nossa capacidade intelectual tenha evoluído naturalmente em contextos tribais aparentemente pouco exigentes por grandes inteligências. Muito do The Descent é uma reposta ao desafio de Wallace. Darwin argumenta que todas as nossas características psicológicas podem ser encontradas em algum grau em outras espécies, incluindo capacidades para a música, a beleza, e a moralidade. É por isso que numa carta a Wallace Darwin diz que a evolução humana era o maior e mais interessante problema para o naturalista.

Outra noção popular na época era a de que toda a exuberante beleza na natureza teria sido magicamente criada para satisfazer os humanos que seriam o ápice da evolução. Graças a Darwin e anos de pesquisa subsequente, hoje sabemos que a evolução não tem ápice e que somos tão únicos e tão especiais quanto cada uma das outras espécies. No The Descent Darwin argumenta que a beleza sonora e visual encontrada no mundo animal evoluiu naturalmente pelo processo de seleção sexual. Indivíduos mais vistosos e sonoros eram preferidos na busca por um parceiro sexual, o que ao longo de muitos ciclos de seleção, dá origem a cada vez mais beleza.

A evolução dos armamentos como chifres era mais facialmente explicada pela competição entre machos o que deixara as armas mais eficientes e maiores. Mas para explicar a evolução da beleza era necessário perceber que as fêmeas das outras espécies também têm senso estético e que a variação nesse senso estético era a pressão social favorecendo a evolução dos ornamentos animais. Portanto, para Darwin a beleza do pavão ou da ave do paraíso não necessariamente precisa indicar uma qualidade de sobrevivência, basta ela ser agradável o suficiente para as fêmeas da espécie que a ornamentação poderia evoluir sendo um fim em si mesma.

Atualmente como parte das celebrações do sesquicentenário do The Descent, diversas iniciativas tentam resgatar o que Darwin acertou e o que Darwin errou no livro, e todos o desdobramento mais atuais nos dois tópicos centrais do livro: evolução humana e seleção sexual. O livro A Most Interesting Problem: What Darwin’s Descent of Man Got Right and Wrong about Human Evolution apresenta uma releitura da perspectiva atual de cada capítulo relativo ao ser humano. Está sendo muito bem avaliado e me pareceu muito interessante tanto para quem quer se atualizar sobre evolução humana quanto para quem quer se aprofundar nas hipóteses do The Descent. Em Darwin, sexual selection, and the brain Micheal Ryan faz uma revisão das várias linhas de pesquisa relacionadas à ideia da Darwin sobre a evolução da beleza sendo um fim em si mesma. Em Darwin’s closet: the queer sides of The descent of man (1871), Ross Brooks ressalta como Darwin integrou a ideia de variação individual nos assuntos da seleção sexual o que foi fundamental para o nascimento da sexologia moderna. No Periódico Evolutionary Human Sciences existem uma compilação de artigos celebrando os 150 anos do The Descent, por enquanto com 3 artigos e com promessa de outros mais por vir.

Claro que como todo livro, o The Descent tem várias limitações e vieses de época, mas nele Darwin deixou claro que as origens evolutivas dos humanos podem sim ser desvendadas. E nesse sentido enquanto um programa de pesquisa a ser desenvolvido, Darwin deu uma inestimável contribuição à evolução humana. E, se percebermos como aspectos morfológicos, biogeográficos, interespecificamente comparativos, mas também psicológicos e comportamentais estão integrados, o The Descent pode ser considerado bem moderno. Isto porque, de lá para cá, ainda são poucos biólogos focando na psicologia e no comportamento, e pouco psicólogos focando na evolução. Felizmente as áreas estão cada vez mais se integrando e talvez um dia cheguemos ao grau de integração que o próprio Darwin expressou 150 atrás.

Feliz Dia de Darwin 2017, Brasil

darwin day 2017É chegado o dia mais esperado do ano novo: hoje, 12 de fevereiro Charles Robert Darwin completaria 208 anos e sua obra prima “A Origem das Espécies” completa 158 aninhos. É o famoso “Dia de Darwin”, momento em que celebramos sua obra e legado para a humanidade. Nós do MARCO EVOLUTIVO marcamos essa data em nosso calendário desde 2008, passando por 2009 (Bicentenário – Ano de Darwin), 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015 até 2016. No Brasil e ao redor do mundo (Veja o DARWINDAY.ORG) estão sendo mantidos e criados novos eventos para promover e disseminar o pensamento darwinista.

O pensamento darwinista ainda é jovem, está só começando a segunda metade do seu segundo século, então é esperado que as pessoas vão ter dificuldades em compreender sua lógica básica. Além disso, o maior inimigo do pensamento darwinista ainda é, de longe, a mente humana primata cheia de vieses, atalhos cognitivos, e de agendas próprias de um mamífero da nossa laia. Um desses becos sem saída psicológicos é o “Erro Beethoven”, nomeado por Frans de Waal em seu livro “Eu, Primata: Por Que Somos Como Somos (2007)” [Our Inner Ape: The Best and Worst of Human Nature (2005)”.
beethoven apartment

O “Erro Beethoven” ocorre sempre que confundimos ou igualamos o processo ao seu produto e vice-versa. Os conhecidos de Beethoven ficavam chocados e incrédulos sempre que visitavam o compositor em seu apartamento. Ele viveu em 39 apartamentos diferentes, teve cinco pianos todos sem pernas que ficavam no chão. No geral, seu apê era sujo, bagunçado, fedido, cheio de restos de comida e partituras amassadas espalhadas. Não era possível, imaginar que todas aquelas peças musicais sublimes, criativas e elegantes foram compostas ao chão em meio ao um caos repulsivo. Normalmente as pessoas imaginam que o produto demonstrará claramente características do processo e, quanto melhor é o produto, mais positivamente imaginamos o processo correspondente. Ocorre o mesmo problema com a Seleção Natural: ‘já que somos seres bem complexos, conscientes e perfeitinhos então não é possível que um processo cego, mecânico e sem destino tenha nos produzido.’ Ou então ocorre o contrário: ‘já que a natureza é selvagem e cruel – tipo cada um por si – somos naturalmente cruéis por sermos seu produto‘ ou então ‘já que, na evolução, os genes mais egoístas deixam mais descendentes, então só podemos ser naturalmente egoístas mesmo’.

Qualquer pessoa que já foi ao barbeiro ou cabeleireiro sabe que para ter um corte novo, lindo e impecável é preciso passar pelo corte, esse processo longo, desconfortável e ‘sujo’ (cheio de fios em pedaços pra todo lado). Qualquer pessoa que já ralou um queijo sabe que para ter um delicioso, soltinho e leve queijo ralaralando queijodo, tem que ralar (literalmente), é preciso passar por esse processo cansativo, árduo e potencialmente perigoso. Qualquer pessoa que já mudou de casa sabe que para ter um novo lar, confortável, acolhedor e organizado é preciso passar pelo processo caótico, cansativo e angustiante da mudança. Como o produto é mais saliente do que o processo acabamos imaginando o processo à luz do produto. Mas temos que lembrar que na maioria dos casos processo e produto têm características distintas. Então, com a Evolução por Seleção Natural é a mesma coisa: o processo evolutivo que é simples, desnorteado, amoral, implacável e ignorante dá origem, após vários ciclos, a seres complexos, focados, morais, funcionais e inteligentes. Totalmente possível, nada que possa nos denegrir, pelo contrário, só pode nos exaltar já que nossa complexidade e outras qualidades não são versões pioradas vindas de um processo ainda mais complexo e melhor, mas sim as primeiras do gênero para cada ramos da árvore da vida.oficinas-darwin day mzusp 2017jpg

Esse ano no Brasil tivemos, temos e teremos vários eventos Darwindaynianos. É muito bom ver que a lista só aumenta. No Museu de Zoologia da USP em São Paulo como sempre houve a Semana de Darwin com apresentação de documentários, ótimas palestras, oficinas e exposição. Hoje a programação vai até as 17 e serão duas palestras na parte da tarde. O destaque vai para o jogo Caçada no Museu: Edição especial Charles Darwin, para criançada.
Darwinday osasco 2017

No Borboletário de Osasco houve do 2º Darwin Day com discussão aberta sobre “Por que a vida é assim?” no dia 10/fev contando com o Prof. Dr. Nélio Bizzo, o Prof. Dr. Waldir Stefano, e a MsC. Carolina Yamaguchi.darwin day catavento 2017

No Catavento Cultural está tendo esse final de semana a “Mostra VerCiência – Dia de Darwin” com exibição continua de curtas-metragens com ‘o que é evolução?’ e ‘como funciona a evolução’.

Ver ciência Rio de Janeiro museu do Amanhã 2017No Rio de Janeiro, haverá hoje a partir das 14h no Darwin Day no Museu do Amanhã exibição de dois documentários e debates mediados por Sergio Brandão, curador internacional da Mostra VerCiência.

Darwin Day Lagen UFPA 2017

Em Belém do Pará no Instituto de Ciências Biológicas da UFPA no dia 15/fev quinta-feira haverá o 2º Darwin Day com carga horária de 10 horas, para o dia todo sobre o tema “A teoria Evolutiva precisa ser repensada?” a ótima discussão serão 7 palestras imperdíveis. Sobre Construção de Nicho, Epigenética, Evolução Cultural, Plasticidade Fenotípica, Evolução e Saúde, Assimilação Genética e Evo-Devo. As inscrições antecipadas saem por R$10  e no dia sae por R$15, basta enviar email para o pessoal da Liga Acadêmica de Genética lagenufpa@hotmail.com

Darwin Day UNESP - Botucatu - BrazilPela primeira vez na UNESP de Botucatu organizado com apoio da Pós-Graduação em Genética e do Instituto de Biociências de Botucatu haverá dia 30 de março o Darwin Day UNESP contando com três palestras com o Prof Dr. Ricardo Waizbort falando sobre o ‘Darwinismo no Brasil’, Prof Dr. Mario de Pinna falando sobre ‘A Evolução da Perspectiva Evolutiva’ e Profa. Dra. Jaroslava Varella Valentova (minha esposa e mãe da minha filha Alice) falando sobre a ‘Seleção Sexual’. O Prof. Dr. Danillo Pinhal organizador do evento será o mediador da mesa-redonda onde eu vou falar sobre Evolução Adaptativa, o Prof. Dr. Reinaldo de Brito falara sobre o Neodarwinismo, e o Prof Dr. Cesar Martins sobre Revolução Genômica. Imperdível!

E todo ano o pessoal da Pós-Graduação em Biologia Comparada e em Entomologia, da USP de Riberião Preto, organiza o Darwin Day USP de Ribeirão geralmente entre abril e maio. Então fiquem ligados no face.

Fiquem com uma série de falas do saudoso biólogo britânico John Maynard Smith (1920-2004) sobre Biologia, Genética e Evolução.

Ades Egypti e seu Entusiasmo Contagiante

Era impossível ficar ao lado de nosso querido César Ades, que nasceu no Cairo, Egito, e não ser levado por seu entusiasmo contagiante. Conheci o César em 2003 no XX Enconto anual de Etologia (EAE) em Natal, em meu terceiro ano de graduação eu ainda não havia encontrado minha área de pesquisa. Lá depois de uma brilhante palestra sobre todos os EAEs anteriores eu estava mais do que cativado pela Etologia, principalmente voltada para os humanos. Ele autografou meu livro de resumo e me desejou um futuro brilhante.

Em meu último ano de graduação fiz um trabalho sobre a consciência animal e se não fosse um texto do César ter me tocado e me motivado não teria tirado da nota máxima.

Em 2004, ao final de meu bacharelado na Unesp de Bauru com Sandro Caramaschi, ex-aluno do Prof. César, fui conversar com ele para estudar possibilidade de um mestrado. Eu estava super nervoso, mas ele me deixou bem a vontade e no decorrer da conversa percebemos que estávamos em sentidos contrários: ele era um psicólogo mais voltado para o comportamento dos outros animais e eu um biólogo interessado no ser humano. Então, ele me indicou a Profa Vera Bussab que acabou sendo minha orientadora de mestrado e de doutorado no Bloco F do IP-USP, inaugurado pelo César enquanto diretor do Instituto anos antes.

Sua disciplina de pós sobre Comunicação Animal me forneceu bases sólidas para um estudo comparativo da musicalidade humana. Cada aula com ele era uma maravilha, ambiente descontraído, informações precisas e conexões muito bem elaboradas.

Fora as belas homenagens oficiais a ele realizadas pelo Instituto de Psicologia da USP, muitas palavras relevantes e tocantes foram colocadas aqui na nossa Série Especial do ScienceBlogs Brasil em homenagem ao César, o Grande ao meu ver.

Eu (depois de ficar uma semana e meia fora do ar devido a uma fratura e cirurgia no braço dois dias após seu falecimento) gostaria de acrescentar algo que julgo muito louvável sobre ele. César Ades era tão entusiasmado e curioso por conhecimento que ele não conseguia se conter em apenas dar aulas, fazer pesquisas, publicar, orientar, ter cargos administrativos, organizar eventos, ele também fazia e valorizava a divulgação científica.

Ao ser esse acadêmico generalista digno de um Da Vinci moderno, a divulgação científica não poderia passar em branco. Ele deu diversas entrevistas tais como a brilhante ‘Psicologia e Biologia – Entrevista com César Ades’, e a ‘Entrevista: César Ades estuda a evolução do comportamento animal’. Escreveu e deu várias contribuições para a Ciência Hoje Criança como explicando a importância da limpeza nos animais em ‘Tá limpo!’. Ele deu várias palestras e também participou de várias comemorações do Dia de Darwin. Esse ano, César compareceu ao Catavento Cultural para participar de um talk show com o Prof Nélio Bizzo. Como sempre tudo bem descontraído e informativo. Ele sempre frisava na importância de Darwin enquanto o primeiro psicólogo evolucionista. Sua importância como divulgador é crucial e assim como todas suas outras características irá continuar inspirando gerações de pesquisadores e admiradores.

Uma de suas mais atuais metas era a de reunir etólogos eminentes da América Latina para um simpósio debatendo origens, desafios e perspectivas futuras da área, de modo a gerar um livro em conjunto sobre as experiências em cada país e a semente de uma aliança Latino-Americana de Etologia. Reuniremos esforços para realizar essa grande ideia junto a alunos e profs.

Um dos mais tocantes comentários sobre o César pra mim foi o do Prof. Fernando Ribeiro quando queria destacar uma virtude dele.

“Quem o vê hoje, e encanta-se com seu entusiasmo, conhece o mesmo César Ades de 40 anos atrás. E foi esse entusiasmo que escolhi, a fim de destacar uma de suas virtudes, ao cumprimentá-lo, na ocasião de sua indicação para o Instituto de Estudos Avançados, quando disse a ele: Fui percorrendo suas marcas, a inteligência, a erudição, o caráter… mas como me impus uma escolha, fiquei com o entusiasmo, sem o qual a inteligência não se acende, a erudição não se atinge, o caráter não se transmite. Sim, porque César Ades é, e sempre foi, um professor. Sua extroversão e a expressividade com que se comunica constituem sua face visível”

Fique agora com os dois vídeos de uma entrevista de César Ades concedida ao programa Trajetória da TV USP em 2011 e com o vídeo mais recente do César Ades no Dia de Darwin. Assim um pouco dele e seu entusiasmo sempre viverá em nós de modo a podermos contagiar toda uma outra geração com suas idéias e atitudes.

Dia de Darwin 2012

Quatro Anos de MARCO EVOLUTIVO e Feliz 2012

Feliz 2012 a todos nós primatas e a todos os outros seres vivos. Começamos o ano já comemorando não UM, nem DOIS, nem TRÊS, mas sim QUATRO anos (e dois meses) de MARCO EVOLUTIVO, o seu, o meu, o nosso canal online sobre evolução e comportamento humano e todos os temas correlatos, de preservação ambiental a eventos e palestras.

Depois de um 2011 conturbado com a defesa do meu doutorado e de final de ano intenso, cheio de pesquisas e viagens, estou começando esse 2012 com muita energia e grandes perspectivas futuras. Agradeço todos os comentários, elogios e críticas ao blog, tanto de novos leitores quanto dos de longa data. Continuem acessando e compartilhando com os amigos.

Os 5 textos mais lidos em 2011 foram: 1- “O sexo chimpanzé e o conflito de gerações“, 2- “Dicas de Livros em Psicologia Evolucionista“, 3- “Coevolução e Seleção Sexual no Caso da Vespa Tarada“, 4- “Lamarck – A Verdadeira Idéia Errada“, 5- “Criatividade: nossa cauda de pavão mental“. O posts de 2011 mais lidos foram “A beleza da competição feminina“, “Dance seu doutorado” e “Diferenças sexuais e o darwinismo“.

De janeiro de 2011 até janeiro de 2012 o blog teve quase 22 mil visitas. Tivemos 20 mil visitas no Brasil e 1.000 de Portugal. As outras visitas foram de EUA, Canadá, Moçanbique, Reino Unido, Espanha, Angola,  França, Japão, Grécia, Argentina, Polônia, Itália, Chile, Paraguai, Colômbia, Cabo Verde, Peru, Suíça, Alemanha. As palavras mais usadas antes de encontrar o MARCO EVOLUTIVO foram: “Lamarck”,  “Marco Evolutivo”, “Psicologia Evolucionista”, “Steven Pinker”, “Coevolução”, “Antropocentrismo”, e “Seleção Sexual”.

De cara nova desde setembro do ano passado, o MARCO EVOLUTIVO evoluíu bastente na sua aparência e possibilidades em 2011. O destaque foi para a imagem do cérebro humano e da árvore evolutiva da interdisciplinaridade. Agora, além de já ter 84 seguidores na nova página criada no Facebook, conta também com os links para minha dissertação de mestrado e para minha tese de doutorado. Assim todos que tiverem o interesse poderão baixar cada uma e se aprofundar nos temas das diferenças individuais quando ao sexo casual e na evolução das nas nossas capacidades musicais e artísticas através da seleção sexual.

E para o presente evolutivo desse aniversário veremos a palestra de David Sloan Wilson sobre Evolution for Everyone! Aproveitem!

Simpósio de Sexologia e Coletânia em Seleção Sexual

Nesta quinta feita, dia 01/09 tem início na UNESP de São José do Rio Preto o Simpósio de Sexologia promovido pelo Centro Acadêmico de Biologia “3 de Setembro”. O evento abordará os estudos acerca da sexualidade, envolvendo três grandes temáticas: a biológica comparativa e adaptativa; a do direito envolvendo aborto e crimes sexuais; e a informativa e de saúde envolvendo orientação sexual, sexualidade nas universidades e DSTs. Achei muito interessante a programação, pois geralmente a abordagem evolutiva para a sexualidade está fora da Sexologia.

Durante o Simpósio de Sexologia eu darei um mini-curso sobre a Evolução das Estratégias Sexuais. Para os participantes e para todos interessados no tema eu recomendo que leiam os posts sobre seleção sexual do MARCO EVOLUTIVO. Para descobrir sobre os padrões da seleção sexual nos outros animais vejam:

Para descobrir influências da seleção sexual no comportamento humano vejam:

E para vejam ótimos vídeos de especialistas no assunto vejam:
 

E falando em ótimos vídeos, aqui veremos em primeira mão um vídeo colocado hoje no youtube de um podcast do Biólogo Evolucionista Tim Clutton-Brock do Museu de Zoologia da Universidade de Cambridge. Nele Clutton-Brock aborda primeiro o desafio à evolução que os ornamentos representaram pra Darwin e sua solução foi criar a Seleção Sexual. Ele separa a beleza em dois tipos: a beleza simples e funcional do design adaptativo que evoluiu por seleção natural; e a beleza exagerada, multifacetada e complexa dos ornamentos que evoluiu por seleção sexual.

Ele fala que a seleção sexual, apesar de pensada só para formas e cores, atua em todas as formas de sistemas de sinalização e envolve sons e cheiros atraentes. Para ele as aves e mamíferos diferem quanto aos canais de comunicação o que pode ser evidenciado nas diferenças de ornamentos. As aves são em geral mais visuais e sonoras enquanto os mamíferos são em geral mais voltados para os ornamentos olfativos. Ele borda também que a maioria das pesquisas tem foco nas exibições masculinas, mas que atualmente os ornamentos femininos estão sendo mais estudados. Aborda também o efeito da assimetria no investimento parental nas diferenças sexuais nos humanos e nos benefícios que as fêmeas têm na seleção sexual.

Novos Blogs sobre Etologia no Brasil

Gansos me biquem! Devo estar sonhando… Mas felizmente não estou!! É com enorme satisfação que saúdo e apresento os mais novos blogs sobre Etologia que acabam de adentrar na Blogosfera científica. São eles o ETOLOGIA NO BRASIL criado em 29 de dezembro do ano passado e o Mais sobre Etologia criado exatamente hoje. Eu por ser sócio da SBEt fico particularmente feliz e orgulhoso com a iniciativa.

Trata-se de uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Etologia (SBEt), que está com a página repaginada, tudo para ampliar a difusão dos temas e enfoques etológicos no Brasil. “O blogue é uma espécie de jornal (quase) diário da SBEt, onde serão veiculados assuntos bastante diversos sobre etologia no Brasil e no Mundo. Artigos interessantes, curiosidades, temas polêmicos e dicas serão veiculadas no blogue. Resultados de pesquisas, teses, dissertações e monografias defendidas (ou a serem defendidas) serão anunciadas no blogue. Eventos, reuniões, cursos, congressos (locais, regionais, etc) serão veiculados sempre que necessário.”

Para seguir os feeds dos blog o endereço é

http://etologiabrasil.blogspot.com/feeds/posts/default para o ETOLOGIA NO BRASIL e http://maisetologia.blogspot.com/feeds/posts/default para o Mais sobre Etologia

Eles também aceitam contribuições: “qualquer assunto, fotos, gráficos, informações as mais diversas relacionadas à etologia serão bem-vindas.” É só entrar em contato pelos blogues.

Essa é uma ótima iniciativa, pois além de dar um maior gás para integrar pesquisadores da biologia do comportamento animal, “o blogue não se destina somente aos sócios; é uma mídia para todos os públicos que queiram saber alguma coisa sobre etologia.” E isso é muito bom, pois muitos etólogos gostam e acham importante a comunicação científica, mas diversas decepções com jornalistas acabam tolhendo suas iniciativas, daí a importância dos blogues, para não existir intermadiários entre o pesquisador e o plúblico.

Esse Ano de Darwin será particularmente importante para a biologia do comportamento, pois teremos dois grandes congressos científicos: no primeiro semestre teremos o 46º Animal Behavior Meeting que ocorrerá entre os dias 22 a 26 de junho e contará com palestra de Sir Richard Dawkins.

E no segundo semestre teremos o XXVII Encontro Anual de Etologia que será na cidade de Bonito em novembro, com promessas de participações internacionais com participantes convidados da América Latina e grandes homenagens a Charles Darwin. Então vamos ficar ligados na notícias e eventos sobre Etologia e comemorarmos juntos o Ano de Darwin, o primeiro grande etólogo.

Feliz 2009 Primata!

Ano novo chegando e já vem prometendo muitos acontecimentos estelares. Hoje, 8 de janeiro, dia em que nasce o astro Elvis Presley e morre o astrônomo Galileu Galilei é um bom dia para se pensar no ano de 2009. Considerado por muitos, Ano Internacional da Astronomia e Ano de Darwin, o centro gravitacional da Biologia.

Estão previstas muitas comemorações pelo mundo, muito congraçamento científico de qualidade, muitos congressos internacionais ocorrerão no Brasil e muita ciência será levada para o cotidiano do primata humano.
Gostaria de abrir o ano com uma reflexão provocadora: Para quantas pessoas não-humanas você já desejou um feliz 2009? Pois é, taí algo para se pensar. Por que, entra ano e sai ano, e não vemos muitos esforços para se estender as fronteiras da nossa consideração ética abarcando as outras espécies. Para quantos seres vivos você deseja um bom ano novo?
Não espero que ninguém mergulhe nas áquas do mar da África do Sul para desejar feliz ano novo para o celacanto. Até porque como ele é um fóssil vivo, com ele o negocio é mais pra feliz interglacial novo. Mas podemos de início começar a pensa naquelas espécies que estão mais próximas de nós, seja proximidade espacial seja filogenética.
Dawkins apresenta no vídeo abaixo sua posição em favor dos direitos dos gorilas, não como um cientista estudioso do comportamento animal, mas como um ser humano. E por que não primata, né? Considerações éticas são baratas, estão ao alcance de todos, fazem bem pra saúde e não estão necessariamente atreladas a religião. Espécies não são essencialmente distintas, são um grande contínuo de parentes. Alguns animais são capazes de pensar, inclua-se nesse grupo seleto e se descubra em meio a todos eles.
Invente tente, se veja diferente num ano novo mais abrangente. Ainda há tempo. Feliz ano novo primata.

O sexo chimpanzé e o conflito de gerações

Os chimpanzés, nossos parentes mais próximos na Terra, apresentam não só uma ótima oportunidade para nos entendermos com um olhar mais amplo, mas também para estudar suas próprias peculiaridades comportamentais. O início da Primatologia foi marcado por um interesse secundário no comportamento dos outros macacos e sim mais uma oportunidade comparada ao estudo do ser humano. Atualmente existe um interesse legítimo no comportamento e nas peculiaridades dos outros primatas, visto que eles não são “piores” do que nós e muitos estão sofrendo ameaças de extinção.

E nada mais interessante do que falarmos sobre o sexo dos nossos parentes mais próximos. As chimpanzés fêmeas não apresentam menopausa, ficando fértil por todos seus 40 anos médios de vida, ao contrário dos humanos. Então, será que os machos chimps apresentam a mesma preferência por fêmeas mais novas que homens apresentam? Foi exatamente essa questão que motivou uma pesquisa feita pelo antropólogo Martin Muller da Boston University. Ele observou a faixa etária das fêmeas mais abordadas para cópula num grupo de chimps no Kibale National Park em Uganda.
Ele obteve que, ao contrário dos homens, os chimpanzés machos preferem fêmeas mais velhas. Os machos competem intensamente pelas fêmeas mais velhas, enquanto as mais novas têm que se esforçar mais para atrair a atenção. Comparado com as mais novas as fêmeas mais velhas são mais abordadas, acasalam mais comumente no período do estro, copulam com maior freqüência com os machos dos altos postos da hierarquia e geram intensa disputa entre os machos na época de acasalamento.
Bom, vocês perceberam que existe hierarquia entre as fêmeas sendo as mais velhas as mais dominantes, e assim elas obtêm um acesso melhor a melhores alimentos. E uma fêmea bem nutrida apresenta maior fecundidade, ou seja, maior a probabilidade de darem à luz em qualquer ciclo fértil. Então seria de se esperar que as fêmeas mais novas desenvolvessem estratégias para contornar essa influência dominante das mais velhas e também se dar bem na reprodução (duplo sentido opcional).
E foi exatamente isso que o psicólogo Simon Townsend da University of St Andrews e colegas obtiveram em seus estudos sobre as eróticas vocalizações de cópula que as fêmeas emitem, quase como gemidos sexuais. A hipótese vigente dizia que essas sinalizações vocais das fêmeas funcionavam indicando sua fertilidade para os machos, incitando a competição de modo que quem copulava era o melhor macho, o que ganhou a competição. Mas eles não encontraram suporte para essa hipótese, pois não houve relação entre os chamados de cópula e o período fértil.
Ao invés disso eles obtiveram que as fêmeas gemiam mais quando copulavam com machos de dominância mais elevada, mas elas suprimiam as vocalizações quando fêmeas de maior dominância estavam por perto. Essa flexibilidade estratégica na emissão dos chamados de cópula acaba por prevenir a competição social, que muitas vezes é violenta, entre as fêmeas de diferentes idades.
As fêmeas chimpanzés parecem estar muito mais interessadas em fazer sexo com diferentes machos sem que as fêmeas dominantes descubram para não gerar confusão pra cima delas, do que gerar competição barulhenta entre os machos. Não esperávamos que o conflito de gerações entre as chimps fosse originar cópulas silenciosas e veladas.

Como vimos, o sexo primata pode dar muito o que falar como pode dar muito o que calar. Aliás, calar foi a única coisa que os humanos (crianças e adultos) não fizeram frente ao ato sexual chimpanzé deste vídeo.