Eventos Evolutivamente Relevantes II


Charles Darwin veio ao Brasil tomou muito sol. Ele adorava comportamento animal, música e pintava o sete em arqueologia. Então nada mais normal e imperdível do que no Ano de Darwin termos três congressos internacionais no Brasil sobre Animal Behavior, Cognition and Musical Arts e Rock Art.
Pela primeira vez na história a Animal Behavior Society fará uma conferência na América do Sul, mais especificamente em Pirenópolis, Goiás. O 46º Animal Behavior Meeting ocorrerá entre os dias 22 a 26 de junho e contará com convidados ilustríssimos: Sir Richard Dawkins, que dará uma palestra, e a Dra. Marlene Zuk dará uma pelestra e um mini-curso sobre seleção sexual!! Lá encontraremos todos os aspectos do comportamento animal, incluindo o animal humano, é claro. Early registration: 15 February to 17 April 2009. Abstract submission: 15 February to 17 April 2009. Não perca!
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Pertinho de Pirenópolis e um mês antes deste, ocorrerá em Goiânia o 5° Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais, de 26 a 29 de maio. Organizado por professores brasileiros da Associação Brasileira de Cognição e Artes Musicais desde 2005, esse congresso integra diferentes vertentes e abordagens sobre a música e a musicalidade. E é claro sempre tem ótimas apresentações musicas programadas. Esse ano terá o ilustre convidado Dr. Steven Brown, um dos editores do livro Origins of Music. O envio de trabalho é até 02/02 então corra e participe!
No final de semana seguinte ao Animal Behavior ocorrerá na Serra da Capivara em são Raimundo Nonato, Piauí o Global Rock Art – Congresso internacional de Pintura Rupestre, de 29 de junho a 3 de julho. Pela primeira vez teremos um congresso internacional de pintura rupestre no Brasil. Esse congresso reunirá pesquisadores, estudantes e outros interessados no estudo, conservação e divulgação das manifestações rupestres. Nada mais apropriado do que a Serra da Capivara onde se encontra a maior concentração de pinturas rupestres do mundo e o Museu do Homem Americano. A data limita para inscrição de participantes nas diferentes sessões é amanhã, 30 de janeiro. E as inscrições mais baratas ocorrerão até dia 30 de março. Corra e participe por que vale muito a pena.
Pelo visto 2009 promete!! Viva o momento histórico acontecendo agora! Feliz Ano de Darwin!

Simpósio Internacional de Psicologia Evolucionista em Natal

A 150 anos atrás Charles Darwin, o pai da Etologia e porque não da Psicologia Evolucionista, finalizava seu Origem das Espécies dizendo “Num futuro distante eu vejo campos abertos para pesquisas muito importantes. A Psicologia estará embasada em uma nova fundação, aquela da aquisição necessária de cada poder e capacidade mental de forma gradualista. Muita luz será lançada sobre a origem do homem e sua história.”

Agora que estamos no Ano de Darwin, sem mais demoras, eu digo que, num futuro muito próximo, dias 19 a 24 de Abril eu vejo campos abertos para todos psicólogos evolucionistas e interessados no tema para a comunicarem, conhecerem e divulgarem pesquisas muito importantes. A Psicologia terá seu primeiro congresso internacional no Brasil em sua nova fundação Evolucionista. Aquela necessária finalização em alto estilo do Projeto do Milênio em Psicologia Evolucionista que de forma gradual integrou e incentivou a pesquisa, ensino e divulgação da Psicologia Evolucionista no pais. Muita luz de célebres pesquisadores internacionais e nacionais será lançada sobre a origem e a história da abordagem no Brasil.

Você que é estudante de Psicologia, Biologia, Antropologia, Filosofia, Ciências Sociais, Medicina, Biomedicina, História, Geografia e que se interessa pelas bases evolutivas do comportamento humano, então não pode perder essa oportunidade única e imperdível.
Os convidados são:
Carol Weisfeld University of Detroit Mercy, Estados Unidos;
Edward Hagen Institute for Theoretical Biology Humboldt-Universität zu Berlin, Alemanha;
Heidi Keller Universität Osnabrück, Alemanha
Klaus Jaffé Universidad Simon Bolivar, Venezuela
Leda Cosmides University of California at Santa Barbara, Estados Unidos
Margo Wilson McMaster University, Canadá
Maria Emília Yamamoto Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Brasil
Martin Brüne Zentrum für Psychiatrie und Psychotherapie Ruhr Universität Bochum, Alemanha
Martin Daly McMaster University, Canadá
Paulo Nadanovsky Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Ricardo Waizbort Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
As vagas são limitadas, a data de inscrição está aberta e a de submissão de trabalhos vai até 28/02/2009, não perca!! Entre no site oficial do evento para as informações detalhadas.
E como se não bastasse durante o Simpósio Internacional Psicologia Evolucionista no Milênio: Plasticidade e Adaptação será lançado o livro “Psicologia Evolucionista”, organizado por Emma Otta e Maria Emilia Yamamoto (Ed. Guanabara Koogan). Simplesmente o primeiro livro nacional escrito por vários autores inteiramente sobre a Psicologia Evolucionista. Melhor impossível! Seja cumprida a previsão de Darwin!!

Xaveco Furado da TV sobre a Química do Amor

Agradeço a todas as parabenizações recebidas sobre a notícia da minha entrevista no Jornal da Cultura, mas para aqueles que não assistiram fiquem sabendo que eu não apareci! E eu até achei muito bom porque o que eu temia aconteceu: a edição da matéria ficou demasiadamente apelativa e sensacionalista. Eles optaram por excluir a opinião de um especialista deixando apenas a opinião de quem realmente entende do assunto: o público leigo apaixonado que é mais facilmente manipulável por jornalistas do que cientistas divulgadores de ciência.

Para muitos jornalistas que fazem divulgação científica, a felicidade está em ser justo com o público. Até aí eu também concordo, o problema é que pra eles ser justo significa mostrar sempre “os dois lados da questão” da forma mais sensacionalista possível. Mas pra mim, ser justo é: se não for contribuir para o bom entendimento do tema pelo menos não promova um desserviço para seu entendimento.

Eles já se eximiram da tarefa educativa dizendo que são apenas divulgação e entretenimento. Então daí para tratarem os cientistas como frios e calculistas que acham absurdamente que o amor, esse sentimento tão enternecedor, possa ser algo meramente químico, como a fria tabela periódica, é só um pulinho. Deu pra ver quais são “os dois lados da questão”? E o meu papel nesse teatrinho era dizer que o amor não é sentimento nem poesia, mas sim química!

Mas afinal, por que falar em química do amor soa tão reducionista? Porque ao dizer isso se está omitindo irresponsavelmente os dois grandes saltos contra-intuitivos que ligam naturalmente a tabela periódica ao amor. Com isso se está induzindo as pessoas a concluírem que o salto é absurdamente maior do que a perna, o que é sinônimo de explicação forçada e muito pretensiosa. Além de contribuir para o analfabetismo científico está se reforçando uma reputação desmerecidamente danosa ao cientista e à ciência.


O primeiro salto está na passagem da química para a química orgânica. A química orgânica é a química + história evolutiva, ou seja, um hormônio neurotransmissor como a ocitocina não tem apenas a físico-química como o sal de cozinha, ele tem também função biológica intrínseca, foi projetado cegamente pela seleção natural por desempenhar melhor uma tarefa. Esse detalhe nos permite entender toda a complexidade e especificidade biológica das biomoléculas passando pelos os órgãos até aos organismos sem precisar postular nenhuma ajudinha mágica de cupido algum.

O segundo salto está na relação entre o que acontece no cérebro e o que sentimos na mente. Cérebro e mente são os dois lados inseparáveis da mesma moeda, um é o hardware, o motor e o outro é o software, seu funcionamento. O mesmo conceito fundamental da linguagem de processamento de informação explica o funcionamento do computador e da mente. E assim como o Word é um programa especificamente projetado para executar uma função, os módulos cognitivos que compõem a adaptação mental do amor foram cegamente projetados pela evolução para executar sua função. E do mesmo jeito que Word não é só elétrons passando na placa mãe, mas sim muitas regras de programação, o amor não é só neurotransmissores, mas sim muitos vieses de raciocínio e sentimentos poderosos.

Todos sabemos que a biologia do comportamento humano é facilmente destorcida, e por isso muito mal vista. Precisamos perceber que somos mais dominados por mal-entendidos do que por genes ou substâncias químicas quando o assunto é biologia do comportamento humano. Se você preferir continuar a ser cada vez mais facilmente ludibriado por retórica então saiba o que fazer para transformar seu pensamento crítico em pensamento críptico aqui. Mas se preferir resolver tais mal-entendidos então sempre desconfie das manchetes sobre ciência do comportamento humano.

Espero que ainda nesse século XXI vejamos um real amadurecimento da divulgação científica no Brasil. E tomara que eles percebam que é feio ficar só piorando a tradução das matérias, já perigosamente simplificadas, das agências de notícias estrangeiras. Em suma: não deixe que a má divulgação atrapalhe sua química com a ciência.

Meu coração, eu SEI porque!!

É um prazer comunicar a todos que hoje a noite, sábado dia 10/01, este que vos escreve aparecerá em um entrevista no Jornal da Cultura. O motivo é um artigo de opinião de uma página que o pesquisador Larry J. Young do National Primate Research Centrer na Universidade de Atlanta escreveu na Nature sobre a neuroquímica do amor.

O autor aponta as mais recentes descobertas no sentido de descrever as vias neuroquímicas envolvidas no apaixonamento e no amor. Os coadjuvantes são a ocitocina e a vasopressina. E é claro que ele cai no fetiche more das causas próximas: conhecer para controlar. Diz que no futuro teremos medicamentos que nos farão apaixonar por alguém e desapaixonar como se fosse uma febre.
Existem vários pontos aqui importantes de serem ressaltados. Não é de hoje essa busca por afrodisíacos mais eficazes. Do chifre de rinoceronte às placas do pangolim passando pelo olho de boto muito da nossa biodiversidade é agredida pela taradice humana. É bem mais barato e ecologicamente correto explorar os afrodisíacos contextuais e comportamentais do que acreditar em analogias superficiais com a rigidez de partes animais ou remédios milagrosos. Um simples abraço já libera ocitocina capaz de fortalacer os laços da relação, pense nisso.
Outra coisa, não precisamos temer o tanto assim o uso indevido de perfumes com feromônios e outras traquinagens científicas aplicadas, pois para toda estratégia existirá sempre uma contra-estratégia! E quanto mais eficaz a estratégia mais rápido surgirá uma a defesa. Pelo mesmo motivo que os pesticidas nunca vão eliminar as pragas e os antibióticos quanto mais usados menor o efeito. Nessa vida estamos correndo pra ficar no mesmo lugar, é o que nos ensina a rainha vermelha de Alice no País da Maravilhas.
Já está na hora de pararmos de acreditar literalmente que o amor foi inventado pelos trovadores ocidentais, que ele está no coração, depende do cupido e que no máximo a ciência vai acabar com a magia, beleza e mistério amor. Poesia e ciência não são incompatíveis só não podem ser confundidas. Muitas vezes o conhecer é até mais belo do que o desconhecer, e além do mais nunca iremos esgotar com os mistérios do universo, mas todo mistério está sujeito a ser decifrado. Então se depositarmos nossas angustias, nossa estética e ou até nossa religião em desconhecidos específicos estamos correndo o risco de nos desapontarmos no futuro.
O amor é uma adaptação mental universal da espécie humana e atua por vias muito conservadas filogeneticamente. Desista da imagem de nossos ancestrais puxando suas amadas pelo cabelo e perceba que muitos animais apresentam fortes capacidades de vinculação amorosa. Tanto que Helen Fisher, uma antropóloga que estudou a fundo amor em suas mais diversas manifestações, psicológica, antropológicas, evolutiva e neurológica chega a sentir se mal pelo frango em seu prato no jantar por saber que até estes possuem a capacidade neurológica para amar.
Todas as manifestações mais maravilhosas do amor e as mais nefastas também, não são pra mim proezas meramente químicas, mas sim proezas evolutivas. Os neurotrasmissores não estão milagrosamente e casualmente dispostos em nosso cérebro. Eles são as vias pelas quais a cognição amorosa funciona, devidamente instalada em nossa mente pela evolução e seleção sexual. Como a evolução não faz nada a partir do zero os mecanismos do amor romântico foram cooptados dos mecanismos de vinculação mãe-bebê. Daí podemos entender essa mania dos amantes de se tratar de forma infantilizada.
Helen Fisher, em suas palestras interessantíssimas no TED, aponta três mecanismos envolvidos no amor romântico: a luxuria, desejo de satisfação sexual; amor romântico, exaltação e obsessão do estar apaixonado; e o apego amoroso, a sensação de calma, paz e segurança na presença do ser amado. Ela teme que com o uso descontrolado de antidepressivos, os quais atuam nas mesmas vias neuroquímicas do amor, possam tornar as pessoas incapazes de amar. Um efeito colateral considerável.
Mais importante é não acharmos que a ciência vai dar desculpas para atos danosos. Nossas responsabilidades e culpabilidades estão intactas não importa o que os cientistas descubram sobre a neuroquímica ou a genética do amor ou qualquer outro comportamento humano. E não podemos  esquecer que a beleza e fascínio do amor serão sempre um prato cheio para os apaixonados, sejam poetas ou cientistas.
Abaixo estão dois vídeos bem informativos da Kate Bohner sobre a Biologia do amor como prova do nosso amor pela ciência da paixão.

Feliz 2009 Primata!

Ano novo chegando e já vem prometendo muitos acontecimentos estelares. Hoje, 8 de janeiro, dia em que nasce o astro Elvis Presley e morre o astrônomo Galileu Galilei é um bom dia para se pensar no ano de 2009. Considerado por muitos, Ano Internacional da Astronomia e Ano de Darwin, o centro gravitacional da Biologia.

Estão previstas muitas comemorações pelo mundo, muito congraçamento científico de qualidade, muitos congressos internacionais ocorrerão no Brasil e muita ciência será levada para o cotidiano do primata humano.
Gostaria de abrir o ano com uma reflexão provocadora: Para quantas pessoas não-humanas você já desejou um feliz 2009? Pois é, taí algo para se pensar. Por que, entra ano e sai ano, e não vemos muitos esforços para se estender as fronteiras da nossa consideração ética abarcando as outras espécies. Para quantos seres vivos você deseja um bom ano novo?
Não espero que ninguém mergulhe nas áquas do mar da África do Sul para desejar feliz ano novo para o celacanto. Até porque como ele é um fóssil vivo, com ele o negocio é mais pra feliz interglacial novo. Mas podemos de início começar a pensa naquelas espécies que estão mais próximas de nós, seja proximidade espacial seja filogenética.
Dawkins apresenta no vídeo abaixo sua posição em favor dos direitos dos gorilas, não como um cientista estudioso do comportamento animal, mas como um ser humano. E por que não primata, né? Considerações éticas são baratas, estão ao alcance de todos, fazem bem pra saúde e não estão necessariamente atreladas a religião. Espécies não são essencialmente distintas, são um grande contínuo de parentes. Alguns animais são capazes de pensar, inclua-se nesse grupo seleto e se descubra em meio a todos eles.
Invente tente, se veja diferente num ano novo mais abrangente. Ainda há tempo. Feliz ano novo primata.