Dicas de livros em Medicina e Psiquiatria Evolucionista

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Inspirado pelo comentário do Karl resolvi escrever um singelo post dando dicas de livros em Medicina Evolucionista e também em Psiquiatria Evolucionista. Espero que ajude a catalisar a curiosidade sobre o assunto no Brasil.
Segundo Randolph Nesse, a Medicina Darwinista ou Evolucionista (como tem sido chamada mais recentemente) nada mais do que faz uso da Biologia Evolutiva para entender, prevenir e tratar doenças. Ela não é radical, não propõe métodos de tratar pacientes e nem é oposta à medicina convencional. Basicamente existem atualmente 4 pontes interligando Bio Evolutiva e Medicina: 1) Pelos métodos estabelecidos da genética populacional; 2) Pelos métodos filogenéticos comparativos e estudos das migrações humanas; 3) Pelo estudo da dinâmica evolutiva das doenças infecciosas, não apenas a resistência aos antibióticos, mas os modelos evolutivos visando diminuir a virulência dos patógenos; e 4) mais recentemente, Pelo entendimento de como a evolução deixou nossos corpos e mentes vulneráveis por não serem tão bem projetados, ainda mais quando não estamos vivendo em grande parte no modo de vida em que evoluímos, algo que o Nesse tem enfatizado mais.

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Sobre a dinâmica evolutiva das doenças infecciosas gostaria de salientar as semelhanças a ecologia da agricultura. Qualquer vestibulando sabe que a dinâmica agrotóxico-praga é a mesma entre antibióticos-patógenos e que ambas nunca tem fim. Quanto mais forte e mais for usado o agrotóxico ou o antibiótico mais resistentes serão as novas gerações de pragas e patógenos. E já que o produto químico não co-evolui naturalmente com as infestações que sempre têm um ciclo de vida muito mais rápido do que as novidades que a indústria de agrotóxico e farmacêutica são capazes de produzir, sempre estaremos perdendo. Assim como o controle biológico, que introduz uma praga da praga pra combatê-la, é a solução óbvia, inclusive pelos prejuízos ambientais, a fagoterapia criada da antiga união soviética também seria a saída óbvia para a Medicina, inclusive por evitar muitos efeitos colaterais. Vírus projetados para infectar nosso patógenos podem coevoluir com eles eser mais bem sucedidos a longo prazo já que por terem ciclo de vida menor estarão sempre na frente. Mas assim como o controle biológico teve vários casos de descontrole, a Medicina precisaria estar bem ciente dos potenciais prejuizos da fagoterapia. É claro que a indústria de agrotóxico e farmacêutica não gostam nada dessas soluções, mas isso vai acontecer uma hora ou outra independente dos interesses delas.

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Em suma estamos apenas no começo dessa interessante fase de intercâmbio de conhecimentos nas áreas da saúde, inclusive só numa busca rápida pelo google achei mais de dez livros só sobre Medicina Evolucionista e dois deles já estão na segunda edição. Achei também 4 livros sobre Psiquiatria Evolucionista. Descobri também que o próprio Nesse veio ao Brasil dar uma palestra ano passado em 10 de maio na 29ª Semana Científica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Então estou colocando essa gravação feita por WistarLabRat abaixo após um outro vídeo do Randolph Nesse sobre sociedade e saúde também do ano passado. Cnheci ele no Congresso Internacional de Psicologia em Berlin em 2008.
Mas ainda hoje, infelizmente, os evolucionistas entendem pouco de Medicina e os médicos pouco de evolução. Então para diminuir essa distância aí vão as dicas de livros e vídeos do MARCO EVOLUTIVO. Aproveitem!!!
Medicina Evolucionista
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  • Evolutionary medicine 1999.jpgEvolutionary medicine (Wenda Trevathan, Euclid O. Smith, James Joseph McKenna, Oxford University Press US, 1999)
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Psiquiatria Evolucionista
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Assita aqui uma palestra do R. Nesse sobre Depressão

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George C. Williams (1926 – 2010) Grande Evolucionista

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Morreu no dia 08, semana passada, do mal de Alzheimer aos 83 anos George C. Williams (1926 – 2010), um dos mais importantes evolucionistas da atualidade. Professor emérito da Biologia na State University of New York em Stony Brook nos EUA, foi visionário e pioneiro que contribuiu enormemente para nosso entendimento evolutivo sobre o envelhecimento, menopausa, a reprodução sexuada, o adaptacionismo, os níveis de seleção e a medicina e doenças.
Para Niles Eldredge, George C. Williams foi um pensador profundo e cuidadoso, muito tímido e bem legal. Stephen Jay Gould o achava um cavalheiro quieto com uma enorme influência na teoria evolucionista que sempre esteve avançado em relação ao seu tempo quanto à sua clareza teórica. Para Richard Dawkins, ele foi um cientista maravilhoso e um grande cavalheiro de uma sabedoria lendária. Para Steven Pinker ele é um dos mais famosos escritores na história da ciência. Para Daniel Dennett, ele mostrou pela primeira vez como é difícil ser um bom evolucionista e como é fácil cometer erros simples. Para Martin Daly, George William faleceu sendo o maior biólogo evolucionista de seu tempo que influenciou tanto a ecologia comportamental quanto a psicologia evolucionista. Para Michael Ruse, ele foi parte do grupo de biólogos que mudou completamente a natureza da teoria da evolução a meio século atrás. Para Randolph Nesse, ele foi o mais importante biólogo do século XX que com uma abordagem consistente e um pensamento metódico perseguiu questões importantes e destilou suas conclusões em prosa límpida.

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Em seu primeiro livro e um dos mais importantes da área Adaptation and Natural Selection: A Critique of Some Current Evolutionary Thought (1966) ele influenciou gerações de evolucionistas com um adaptacionismo mais rigoroso e desbancando de vez o selecionismo de grupo ingênuo, que infelizmente, ainda vemos muito na narração de documentários sobre animais, algo do tipo “tudo para o bem da espécie”. Ele mostrou que a adaptação é um conceito oneroso e que teve ser criticamente testado segundo vários critérios antes de aceitá-lo finalmente como conclusão.

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Em Sex and Evolution (1975), Natural Selection: Domains, Levels, and Challenges (1992), ele atualizou e expandiu suas idéias anteriores, introduziu a idéia de seleção de clado e foi fundo na questão dos níveis de seleção. Ele fez um distinção muito importante para evitarmos muitos mal entendidos em biologia evolutiva. Temos que reconhecer que existem dois domínios distintos em biologia evolutiva: um é o da matéria, no qual gene significa cadeia de DNA, o outro é o da informação, no qual gene significa pacote de informação, mensagem, receita. Então para entender os níveis de seleção não se pode incorrer no erro de misturar os dois domínios como indivíduo (material) e gene (pacote de informação), pois os diferentes domínios não são correspondentes, deve-se ter a clareza de comparar níveis dentro de um mesmo domínio.

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Mais tarde em seu livro Why We Get Sick (1995) (Por que Adoecemos. A nova ciência da medicina darwinista (1997) da Editora Campus na tradução brasileira) em coautoria com Randolph Nesse, introduz o campo da Medicina Darwinista. Ambos trazem todo o poder da teoria evolutiva em dar sentido, amarrar e guias novas perguntas mas toda a área médica. 

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Williams mostrou como é um absurdo a idéia de restaurar a homeostase, ou seja, tudo de incomum manifestado em seu corpo durante a doença deve ser combatido, com um exemplo bem claro: Imagine que você chega na sua casa e dois fatos incomuns estão acontecendo: 1) tem um caminhão vermelho estacionado na frente e vários seres jogando água na sua casa; 2) tem muita fumaça saindo pela sua janela. O que você deve fazer para restaurar a homeostase da sua casa é dar um fim em todos os fatos incomuns, então você se livrar dos seres molhados, guinchar o caminhão vermelho e não deixar fumaça sair pela janela, pronto resolvido!!! Eles mostraram que muitos dos sintomas das doenças são estratégias coordenadas do seu corpo inerentes do processo. Dawkins chegou a sugerir a todos que comprem duas cópias do livro e receitem um para seu médico. Segundo profetizou o próprio Williams:
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“In twenty or thirty years, medical students will be learning about natural selection, about things like balance between unfavorable mutations and selection. They will be learning about the evolution of virulence, of resistance to antib
iotics by microorganisms, they will be learning about human archaeology, about Stone Age life, and the conditions in the Stone Age that essentially put the finishing touches on human nature as we now have it. These same ideas then will be informing the work of practitioners of medicine, and the interactions between doctor and patient. They’ll be guiding the medical research establishment in a fundamental way, which isn’t true today. At the rate things are going, this is inevitable. These ideas ought to reach the people who are in charge — the doctors and the medical researchers — but it’s even more important that they reach college students, especially future medical students, and patients who go to the doctor.”

Não deixe de receitar os seguintes links para seu médico, para seus amigos alunos e professores das áreas médicas. The Skeptical Adaptationist – blog do Randolph Nesse, The Evolution & Medicine Review, Vídeos de Randolph Nesse sobre Medicina e Psiquiatria Darwinista

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Em seu último livro Plan and Purpose in Nature (1996), Williams, rebate claramente os argumentos criacionistas mostrando que se existe um criador e ele é minimamente inteligente nunca faria algo tão mal-adaptado como nosso corpo. Os exemplos vão de peixes ao olho, garganta e muitos outros. Nesse livro fica claro o porquê Randolph Nesse o considera um mal-adaptacionista, já que eles compartilham o fascínio pelos aspectos do corpo e da mente que aparentam não fazer sentido em termos evolutivos.
Sem dúvida George C. Williams foi um marco evolutivo com alcances para além das ciências biológicas. Espero com essa homenagem aumentar o conhecimento sobre ele no Brasil e o ainda mais o alcance de sua contribuição científica.
Fique com uma palestra dada por Randolph Nesse na comemoração sobre o Ano de Darwin 2009 sobre The Great Opportunity: New Evolutionary Applications in Medicine.

The Darwin Debate

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Hoje veremos um debate bem interessante sobre as implicações da teoria da evolução para entendermos a nós mesmos e a sociedade. O The Darwin Debate foi filmado no ano de 2005 em Piccadilly, Londres, na Sciedade Linneana, a mais antiga sociedade biológica, mas só recentemente foi disponibilizado no youtube. Malvyn Bragg é o debatedor e os convidados são Steven Pinker, psicólogo; Meredith Small, antropóloga; Steve Jones, geneticista; e Sir Jonathan Miller, neurologista e artista.

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No primeiro vídeo eles falam basicamente sobre reprodução sexual, sexualidade e formação de casais. No segundo vídeo conversam sobre padrastos e madrastas, homosexualidade, e cultura chimpanzé. No terceiro filme falam de apreciação estética e preferências por paisagens, também se perguntam se a evolução teria parado em nossa espécie. No quarto vídeo, discutem se a evolução está atuando mais fortemente no crescimento de cérebros ou em melhores sistemas imunológicos, falam também de comportamentos maladaptativos por estarmos em ambientes diferentes daquele em que evoluímos. No quinto e último vídeo eles falaram de distúrbios mentais, variação individual, moralidade e altruísmo.
Reserve uma horinha para assistir a esse debate que aborda temas interessantes e pesquisadores com pontos de vista bem variados. Vale apena assistir, aproveite. Se quiser saber mais sobre os convidados e fazer o downoad dos vídeos clique aqui.