Diferenças Sexuais e a Seleção Sexual

Qual a relação entre a revolução darwinista, a seleção sexual, a origem das células sexuais e as diferenças psicológicas entre homens e mulheres? Eduard Punset, um dos mais famosos divulgadores de ciência de língua espanhola, nos mostra essas relações em uma entrevista brilhante com a Filosofa Helena Cronin. Além disso, são incluídos comentários interessantes de alguns pesquisadores da Universidade de Barcelona.

Enquanto andam por um parque em Londres eles conversam de forma descontraída e esclarecedora. O vídeo tem 29 minutos, todo em espanhol e começa abordando a seleção sexual e as características sexualmente selecionadas nos sexos, a beleza e o corpão violão das mulheres e a força e a competitividade dos homens. O mito do “quadril largo = boa parideira” é desacreditado e a proporção quadril/cintura é explicada como indicador de fertilidade nas mulheres.
Eles conversam sobre a Revolução Darwinista no panorama geral das ciências. Punset considera Darwin o maior cientista que já existiu. Helena considera fantástico como Darwin acabou com a dicotomia “acaso/designo” mostrando que entre as opções “acaso” e “projeto-com-projetista” existe a possibilidade darwinista de “projeto-sem-projetista”. E essa noção explica a origem do projeto dos seres vivos de forma natural sem a necessidade de explicações sobrenaturais metafísicas.
Depois eles conversam sobre as origens do sexo e voltando 800 milhões de anos atrás com o surgimento das primeiras células sexuais diferenciadas em maiores e menores. Helena explicar que machos e fêmeas surgem da solução do dilema de alocação de investimentos reprodutivos em acasalamento versus parental. E então abordam as diferenças psicologias entre homens e mulheres começando pelos meninos e meninas.
As diferenças entre comportamento de homens e mulheres é um assunto muito delicado, pois reações emocionais contras o sexismo por vezes atrapalham o entendimento sobre o tema. Isabella a bordou profundamente essa temática no CientíficaMente e ajudou a desfazer mal-entendidos. A dica é nunca confundir diferenças com desigualdade. Não precisamos ser clones idênticos para temos igualdades de direitos e oportunidades. Helena mostra como um melhor entendimento das diferenças na distribuição de cada característica, em que homens estão mais representados do que mulheres nos dois extremos da curva, nos ajuda a entender fenômenos ditos machistas. O interessante é ver no vídeo o que pensam meninos e meninas sobre as diferenças entre homens e mulheres.
Espero que gostem do vídeo.

Lamarckismo: Uma Alternativa a Altura?

Muitas pessoas já encararam (ou encaram) o Lamarckismo como um substituto à altura do Darwinismo na explicação da evolução. Mas a filósofa Helena Cronin nos deixa claro que não é bem assim e explica o porquê. Aliás, para ela Richard Dawkins mostrou brilhantemente isso no seu livro The Exended Phenotype de 1982.
.
O Lamarckismo e o Darwinismo têm respostas fundamentalmente diferentes à questão do surgimento das respostas adaptativas. É a distinção entre os modelos instrutivos e os seletivos das origens das adaptações. Imaginem um chaveiro que precisa fazer uma chave adaptada a uma determinada fechadura. A maneira instrutiva é fazer um molde da fechadura com cera e produzir uma chave sob medida, retirando do meio ambiente as informações sobre o desenho específico que se faz necessário. A maneira seletiva é pegar um molho de chaves ao acaso e testá-las até que uma delas funcione. O Lamarckismo é uma teoria instrutiva; o Darwinismo é uma teoria seletiva.
.
O Darwinismo pode explicar com facilidade de que maneira a girafa inicialmente passou a fazer a coisa certa, adaptativa. É a descendência de uma longa linhagem de girafas que – saindo de um conjunto aleatório de mudanças genéticas possíveis – acaba encontrando em mudanças que representam um avanço, mesmo que elas sejam muito pequenas. As girafas não precisam encontrar a chave que finalmente abrirá a fechadura, mas simplesmente uma chave que se aproxime um pouco disso, não importando quão pequena seja essa a aproximação. É o fato de as chaves adaptativas poderem ser escolhidas por incrementos que torna possível encontrar, entre todas as chaves, uma que seja satisfatória.
.
Em contrapartida, o Lamarckismo precisa explicar de que maneira a girafa, por algum meio misterioso, foi orientada a fazer a coisa certa. A teoria pressupõe que um organismo responda adaptativamente porque aprende do seu meio ambiente, extrai dele informações, recebe dele “instruções” sobre qual resposta é necessária. Mas a teoria não elucida como surge a habilidade de esse organismo aceitar as instruções em primeiro lugar.
.
Como é que o Lamarckismo responde a esse problema? Confiando secretamente nas adaptações Darwinistas, aceitando como certo que a girafa vai esticar-se e não curvar-se, que seus músculos vão dar suporte em vez de falhar, que ela vai desenvolver gosto pelo nutritivo e não pelo nocivo, que ela vai tentar evitar a dor ao invés de procurá-la. Os mecanismos lamarckistas não poderiam gerar adaptações; eles poderiam no máximo passar pra frente, para futuras gerações, as tendências à “aquisição” que são geradas por meios Darwinistas. Qualquer teoria instrutiva precisa, no final, basear-se num modelo seletivo ou apelar e recorrer ao projeto deliberado.
Assim, o Lamarckismo não poderia ser nunca algo mais que um anexo limitado para a teoria Darwinista. Ele nunca poderia substituir o Darwinismo como uma teoria abrangente da evolução.

Fonte
CRONIN, H. (1995). A Formiga e o Pavão: Altruísmo e Seleção Sexual de Darwin até hoje. Tradução C. Fragoso e L. C. B. de Oliveira. Campinas: Papirus, capítulo 2 – Um Mundo sem Darwin. P. 69.

Evolução & Diversidade

Tenho um prazer de comunicar que estamos no primeiro dia do Maior Evento Coletivo da Ciência no País, a SEMANA NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA de 20 a 26 de outubro. O tema desse ano faz jus aos 150 anos da Seleção Natural e à colaboração entre Darwin e Wallace abordando a EVOLUÇÃO & DIVERSIDADE.

A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia acontece no Brasil desde 2004 e tem tido um êxito grande com participação crescente a cada ano. Os objetivos da semana são mobilizar a população, em especial crianças e jovens, em torno de temas e atividades de ciência e tecnologia, valorizando a criatividade, a atitude científica e a inovação. Além de chamar a atenção para a importância da C&T para a vida de cada um e para o desenvolvimento do País, assim como contribuir para que a população possa conhecer melhor e discutir os resultados, a relevância e o impacto das pesquisas científicas e tecnológicas e suas aplicações.

A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2008 contabiliza até o momento 8876 atividades cadastradas. Participam da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 394 cidades brasileiras e 634 instituições ligadas a ciência e tecnologia espalhadas por estas cidades. Você pode participar de qualquer evento da Semana Nacional de C&T, já que todos são gratuitos.
.
No estado de São Paulo são 42 cidades com eventos e 88 eventos na capital. Aqui na praça do relógio na cidade universitária da usp tem um palco armado e algumas tendas com vários estudantes por lá e uma baleia inflável gigante. (Provavelmente para chamar a atenção para a possibilidade de criação do Santuário Atlântico Sul de proteção às baleias). No Rio de Janeiro são 31 cidades com eventos e 176 só na capital. No Rio Grande do Norte são 19 cidades com eventos e 84 em Natal. Na Bahia são 20 cidades com eventos e 36 em Salvador. Até no Acre tem 2 cidades com eventos e 34 em Rio Branco.
No site da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2008 vocês encontrarão todos os quase 9 mil eventos cadastrados e os informes atuais. Estamos tendo a semana mais evolucionista do Brasil e já é hora para o brasileiro conhecer e valorizar sua própria diversidade. Boa semana a todos.

Palestra Internacional sobre Ritmicidade do Comportamento

Nessa semana tive o prazer de conhecer o professor Jerry A. Hogan, ex-presidente da International Society of Comparative Psychology e professor emérito do Departamento de Psicologia da University of Toronto no Canadá.

.

Nessa segunda, dia 6 de outubro, ele dará uma palestra gratuita sobre “O Desenvolvimento do Controle Circadiano do Comportamento” às 15h no IEA da usp. Sua palestra será em inglês sem tradução, mas será transmitida ao vivo via web aqui.

.

Ele fez psicologia em Harvard e iniciou seus estudos com agressividade em peixes beta e, entre outras coisas, pesquisou motivação e aprendizagem em galináceos. Famoso pesquisador dos sistemas motivacionais, ele tem interesse particular no desenvolvimento do “relógio biológico”, o conjunto de mecanismos que regulam a ritmicidade diária e cotidiana dos comportamentos. Estudou também o como fatores do desenvolvimento influenciam no comportamento de bicar os outros, um importante componente de vida social em galinhas.

.

O professor Jerry Hogan é muito simpático, humilde e perspicaz, um figuraça. Para ele, muito na vida se dá por processos de comparação. E a Psicologia Comparativa lida justamente com a evolução filogenética e com o desenvolvimento, sempre de uma perspectiva comparada entre diferentes espécies.

 

E a Psicologia Comparativa está às vésperas de seu 14th Biennial Meeting International Society for Comparative Psychology que ocorrerá semana que vem de 9 a 11 de outubro em Buenos Aires na Argentina e contará, é claro, com a presença do Professor Jerry Hogan. Um pouco da história da Psicologia Comparativa e da Sociedade Internacional pode ser desbravada aqui. Vale muito a pena assistir a palestra dele, eu recomendo, seja no IEA ou na web.