Darwin Day, Brasil 2024!

Entramos em mais um Dia de Darwin, nesse famoso 12 de fevereiro, comemorando 215 anos desde o nascimento de Charles R. Darwin (1809-1882). Ele foi o primata que além de apontar nossas raízes primatas, reuniu várias fontes de evidência e montou o quebra-cabeça coerente da origem, diversificação, manutenção e especialização natural das espécies de seres vivos ao longo da história de nosso planeta. Evolução biológica, sopa primordial, especiação por barreira geográfica, seleção natural e sexual, são algumas de suas grandes contribuições científicas. A curiosidade e humildade intelectual de Darwin, suas descobertas e seu legado são o que nos inspiram a continuar e ampliar essa celebração internacional que é o Darwin Day.

Um dia após o Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência, onde reconhecemos e incentivamos os interesses e carreiras científicas de meninas, garotas e mulheres, o Darwin Day estende esse chamado científico a todos, apesar do feriado de carnaval. E foi bem na segunda feira de carnaval, como hoje, que em 1832 Darwin presenciou o carnaval baiano. Na época não existia spray de espuma, então os foliões jogaram no jovem Darwin gringo sacos de farinha e bolas de cera cheias de água. É claro que ele não entrou na dança e odiou a festança.

Aqui no MARCO EVOLUTIVO o carnaval é de conhecimento! Pontualmente celebrando o Dia de Darwin desde 2008, passando pelo Bicentenário de Darwin e 150 anos do ‘Origem da Espécies’ em 2009, e por 20102011201220132014201520162017, pela Década de Darwin Days no Blog em 201820192020pelo sesquicentenário do “A Descendência do Homem a Seleção Sexual’ em 2021, pelo sesquicentenário do ‘A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais’ em 2022, até 2023.

O presente evolutivo do Darwin Day desde ano quem nos deu foi o pessoal do Darwin Online que desde 2002 disponibilizam virtualmente todas as publicações, manuscritos, e cartas de Darwin. Depois de 18 anos de pesquisa, eles finalmente remontaram online a biblioteca pessoal completa de Darwin. Pela primeira vez desde seu falecimento em 1882, a biblioteca de Darwin contendo mais de 7.350 títulos pode ser acessada por qualquer um online. A biblioteca pessoal da Darwin se revelou conter quase 7 vezes mais itens do que previamente estimado. Além de livros de biologia e geologia, haviam livros de criação animal, filosofia, psicologia, história e viagem, entre outros.

Realmente, Darwin escreveu em sua autobiografia que ele havia comprado muitos livros. Pois bem, então hoje podemos acessar as fontes que ele acessou e entrar um mais no universo de conhecimento em que ele estava imerso. E isso demonstra que ao contrário de ser um cientista isolado, longe de Londres e das grandes universidade e museus, Darwin se mostrou estar bem por dentro do estado da arte que as Ciência Naturais estavam. Como metade dos livros não estavam em inglês, ele se mostrou focado ainda em aprender outras línguas. A biblioteca de Darwin se revelou uma das mais importantes e extensas coleções de livros particulares do sec. XIX. Aproveitem!

Como sempre, neste ano estamos tendo o Darwin Day do Museu de Zoologia da USP com várias atrações para os adultos e as crianças de 4/02 até 03/03. Dia 17/02 o Darwin Day do IB USP com duas palestras à tarde. Temos ainda de 26 a 28/02 o Darwin Day da Sociedade Brasileira de Genética na UFJF com exposições, palestras e mesas redondas. Temos o Darwin Day da UFJF em 24 de março. E teremos o Darwin Day da Unesp também! Fiquem ligados.

Feliz Bicentenário de Alfred R. Wallace

Começamos este ano novo de 2023 aqui no MARCO EVOLUTIVO já celebrando neste 8 de janeiro o bicentenário do nascimento de Alfred Russel Wallace (1823-1913). Acadêmicos do mundo todo estão relembrando as aventuras e descobertas de Wallace, o explorador naturalista, geógrafo e antropólogo inglês que co-descobriu a evolução por seleção natural junto ao Darwin. Seu legado e originalidade estão sendo finalmente amplamente discutidos e divulgados de modo que não se trata mais de caracterizá-lo como um mero pesquisador à sombra de Darwin. Wallace merece ser reconhecido como um evolucionista de peso, pai da biogeografia, especialista em especiação, coloração animal, cartografia, descobridor de várias espécies (da palmeira piaçava até o sapo voador da Indonésia passando pela ave do paraíso), e grande aprendiz e pensador interdisciplinar que contribuiu em diversos temas como glaciologia, epidemiologia, astrobiologia e políticas públicas.

Desde 2013 quando das comemorações do centenário de seu falecimento, já ocorre um esforço internacional para lançar luz sobre as contribuições e legado acadêmico da Wallace.  Tanto que na época foi inaugurado um grande quadro de Alfred Wallace na escadaria do Museu de História Natural de Londres, reparando assim uma injustiça histórica, visto que até então apenas a estátua de Darwin figurava por lá. E já em 2010 foi criado o “Wallace Correpondence Project” reunindo num repositório e disponibilizando online um enorme número de correspondências de Wallace. E em 2012 foi criado o Wallace Online com todos as publicações a manuscritos do autor. Aos poucos, sua relevância científica vai sendo disseminada e reconhecida.

De família humilde, Wallace teve que trabalhar desde cedo para ajudar a sustentar a família. Atuou como construtor e agrimensor passando bastante tempo ao ar livre, e acabou desenvolvendo, como autodidata, seu interesse por cartografia, história natural, botânica, geologia e astronomia na livraria da família. Mesmo sem ter educação formal, chegou a dar aulas de topologia, cartografia e desenho, mas acabou virando explorador profissional se mantendo da coleta e venda de espécimes para museus e colecionadores particulares. Ao longo de sua vida Wallace explorou diversos países como o Reuni Unido, França, Suíça, Colômbia, Venezuela, Malta, Egito, Índia, Sri Lanka, Malásia, Singapura, Indonésia, Timor Leste, EUA, Canadá, e também o Brasil.

Sua primeira grande expedição foi no Brasil (Belem-PA) aos 25 anos de idade. Ficou 4 anos no Pará (1848-1852) e, por um tempo, esteve junto com outro naturalista de renome, Henry Walter Bates, o descobridor do mimetismo batesiano. No Brasil, Wallace se encantou com a imensidão sublime da floresta tropical e com a beleza rara dos pássaros e borboletas locais. Ele observou como os rios Amazonas, Negro e Madeira funcionavam como barreiras geográficas recortando a fauna local como limites naturais. Esse isolamento geográfico poderia contribuir para a formação de diferentes espécies. Descobriu e descreveu várias espécies novas, incluindo a palmeira piaçava, e aprendeu com os ribeirinhos e indígenas locais seus vários usos. Ele também fez anotações etnográficas sobre os costumes e rituais de tribos amazônicas, e descreveu pinturas rupestres de Monte Alegre (PA).

Wallace deu muito azar ao retornar para a Europa, pois seu navio pegou fogo e naufragou perdendo a maioria do que havia anotado e coletado nos dois últimos anos. Felizmente, após 10 dias à deriva em botes, ele e a tripulação foram resgatados por um cargueiro rumo à Inglaterra. Ficou inicialmente arrasado mas mesmo assim não desanimou das explorações futuras. Apesar do ocorrido e de ter perdido muita coisa no naufrágio, Wallace ainda conseguiu publicar artigos e livros sobre macacos e palmeiras da Amazônia, por exemplo.

    

Foi no Arquipélago Malaio em que passou mais tempo (1854-1862) explorando os detalhes da natureza e das tribos locais, o que impulsionou suas maiores contribuições. Lá coletou cerca de 125 mil espécimes, uns 5 mil novos, incluindo o sapo voador e a ave do paraíso. Em Bornéu, ele fez umas das primeiras observações naturalísticas de orangotangos em seu habitat natural contribuindo novamente para a primatogia.

Suas observações biogeográficas no arquipélago o levaram a descobrir uma divisão natural que separa a fauna asiática da fauna australiana, hoje conhecida como a Linha de Wallace. Em homenagem às suas descobertas, as ilhas próximas a essa região do arquipélago Malaio são chamadas coletivamente por “Wallacea”. Lá Wallace escreveu os artigos evolutivos de maior relevância, descrevendo descendência comum, especiação e a seleção natural. Após anos de observação naturalística e leitura de Malthus e de Lyell, entre outros, ele teve o insight da seleção natural num momento febril com malária. E depois mandou uma carta a Darwin comunicando suas descobertas evolutivas, o que fez com que Darwin finalmente tornasse público seus longos estudos evolutivos numa publicação conjunta em 1858.

Wallace era contra a escravidão, anti-eugenia, anti-vivissecção, anti-militarização e anti-imperialismo e anti-terraplanismo. Ele chegou até a ganhar uma aposta de terraplanista provando a curvatura da água de um canal usando um telescópio e duas estacas na mesma altura da água, mas separadas em 10 km. Wallace era a favor dos direitos das mulheres ao voto, era também um conservacionista contrário à introdução de espécies exóticas, ao desmatamento das florestas tropicais e da erosão do solo, e ainda era um socialista a favor da reforma agrária. Wallace foi o primeiro presidente da Sociedade pela Nacionalização de Terras e permaneceu no cargo por 30 anos.

Entretanto, ao final da vida ele se tornou mais antropocêntrico e religioso se envolvendo com hipnose e espiritismo. Apesar de acertadamente não considerar as populações tribais como intermediárias entre os grandes símios e os humanos civilizados, Wallace chegou a erroneamente achar que na evolução humana, ao contrário do que ocorrera com as outras espécies, houve intervenção divina para aumento da capacidade cerebral. Além disso, ele acreditava em frenologia e, por suspeitar das autoridades e dos interesses dos médicos, ele chegou a se juntar ao movimento anti-vacina da varíola da época. Ele achava que a vacina iria interferir no balanço natural dos organismos e que a vacina não era segura. Mesmo estando no lado errado da história nestes últimos assuntos, ele conseguiu que, no caso das vacinas, novos procedimentos de segurança fossem recomendados; e por conta do seu antropocentrismo, conseguiu mostrar em seus livros sobre Astrobiologia que não havia vida inteligente criando canais de irrigação em Marte.

Por não ser parte da aristocracia inglesa, Wallace teve que batalhar muito mais para conseguir sua bagagem acadêmica autodidata e para fazer com que suas descobertas fossem valorizadas. Desde então seu legado naturalista explorador e teórico interdisciplinar está cada vez mais divulgado e apreciado, chegando a ganhar diversas medalhas de mérito acadêmico. Desejo que os pontos fortes de sua biografia e seu legado científico nos sirvam de inspiração nesta celebração internacional dos 200 anos de Alfred Russel Wallace. Assista documentários sobre as expedições de Wallace aqui e aqui

Dia de Darwin 2022 e 150 anos do ‘Expressão das Emoções’

No dia de hoje, 12 de fevereiro de 2022, há 213 anos nascia Charles Robert Darwin, o naturalista que explicou em termos naturais a variedade e as semelhanças dos seres vivos e revolucionou a forma como entendemos a natureza e nosso lugar nela. Por isso estamos celebrando o Darwin Day de 2022, o momento do ano em que consideramos a vida, as descobertas e o legado da Charles Darwin. Neste dia buscamos inspirar a todos a ver os seres vivos e suas relações atuais e ancestrais da forma naturalista e evoluída que Darwin concebeu. Além disso, enfatizamos também as constantes revisões e atualizações do conhecimento biológico e evolutivo fruto do legado darwinista. Então, o Dia de Darwin é sempre muito emocionante!

Nos últimos 13 anos aqui no MARCO EVOLUTIVO, temos devidamente celebrado o Dia de Darwin começando em 2008, passando pelo Bicentenário de Darwin e 150 anos do ‘Origem da Espécies’ em 2009, e por 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, pela Década de Darwin Days no Blog em 2018, 2019, 2020 e pelo sesquicentenário do “A Descendência do Homem a Seleção Sexual’ em 2021. Assim como no ano passado, este ano será muito especial pois estaremos comemorando os 150 anos de outra publicação darwiniana, o livro “A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais” (1872).

O que era para ser um capítulo do livro anterior “A Descendência do Homem e a Seleção em Relação ao Sexo” (1871) cresceu tanto que precisou ser considerado como uma nova obra em si mesma. O ‘Expressão da Emoções’ foi publicado dia 26 de novembro de 1872, e foi o primeiro a usar fotografias. No livro, Darwin traça um programa de pesquisa evolucionista e comparativo para as ciências do comportamento. Sim, Darwin, que já havia estudando Geologia, por exemplo, com o surgimento das montanhas e dos atóis, Zoologia com sua vasta publicação sobre cracas, e Botânica com seus experimentos de polinização de orquídeas, também se debruçou sobre o comportamento animal, humano e não-humano. Darwin pesquisou meticulosamente várias emoções e os movimentos corporais relacionados, incluindo ainda variações vocais e algumas reações fisiológicas, como arrepio e rubor. Darwin usou observações e questionários entre outras metodologias.

Por questão de saúde, Darwin passou muito tempo praticamente em isolamento social em casa com a família, mas nem assim parou com sua curiosidade e atenção a detalhes e padrões. Isso porque ele passou a observar também o comportamento dos animais de estimação e dos seus filhos em toda a sua expressividade emocional e então, com a ideia de ancestralidade comum em mente, passou a entender as semelhanças e querer cada vez mais aplicar evolução ao comportamento. Enfim, ele mostrou em seu livro que as expressões das emoções são em grande parte compartilhadas entre os animais, incluindo os humanos. Ao perceber a continuidade filogenética da expressividade emocional Darwin foi pioneiro no estudo Psicológicos informado pela Evolução biológica. Ele é considerado por muitos o primeiro psicólogo evolucionista.

 

Com o agravamento da pandemia causada pela variante Ômicron, os eventos no Brasil e no mundo inteiro estão sendo realizados de forma online facilitando a participação, e o fato de muitos ficarem gravados ajuda demais na disseminação do legado de Darwin e das subsequentes atualizações. Cada vez mais instituições e grupos estão se juntando à celebração internacional do Dia de Darwin e oferecendo gratuitamente palestras e discussões sobre os mais variados temas biológicos e evolutivos. Então, se na época de Darwin ficar em casa não era desculpa para não aprender, agora com vários eventos online, ficou bem mais fácil aproveitar os vídeos do Darwin Day para expandir os conhecimentos.

Este Darwin Day 2022 é uma oportunidade excelente para aprendermos mais sobre os seres vivos e sobre nós mesmos. Pois como o próprio Darwin escreveu no prefácio do ‘A Descendência do Homem’: “Ignorância mais frequentemente leva à confiança do que o conhecimento: é aqueles que sabem pouco, e não aqueles que sabem muito, que positivamente afirmam que este [origem dos humanos] ou outro problema nunca será resolvido pela ciência”.

Feliz Darwin Day 2022!

150 anos do livro A Descendência do Homem e a Seleção Sexual de Darwin

Neste dia de 24 de fevereiro há exatos 150 anos foi publicado em Londres com dois volumes de 450 páginas o The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex de Charles Darwin. O livro foi um marco para o estudo da evolução humana e aqui no MARCO EVOLUTIVO não poderíamos deixar de celebrar esta data. Originalmente a ideia de Darwin era apenas ter um capítulo sobre humanos em seu livro The variation of animals and plants under domestication de 1866, mas como o livro já estava grande ele resolveu fazer em separado um pequeno ensaio sobre nossa ancestralidade primata e a seleção sexual, o que acabou crescendo e virando os dois volumes do The Descent of Man em 1871. Neste livro Darwin finalmente pode desenvolver tudo o que ele se referiu ao final do Origem das Espécies quando disse que, por conta da evolução por seleção natural, no futuro muita luz seria lançada sobre a origem dos humanos e nossa psicologia e história.

Intuitivamente sempre nos parece que a diferença psicológica entre humanos e outros primatas é enorme, tanto que até o Alfred Wallace abandonou a explicação evolucionista ao se tratar da mente humana por achar pouco possível de que toda nossa capacidade intelectual tenha evoluído naturalmente em contextos tribais aparentemente pouco exigentes por grandes inteligências. Muito do The Descent é uma reposta ao desafio de Wallace. Darwin argumenta que todas as nossas características psicológicas podem ser encontradas em algum grau em outras espécies, incluindo capacidades para a música, a beleza, e a moralidade. É por isso que numa carta a Wallace Darwin diz que a evolução humana era o maior e mais interessante problema para o naturalista.

Outra noção popular na época era a de que toda a exuberante beleza na natureza teria sido magicamente criada para satisfazer os humanos que seriam o ápice da evolução. Graças a Darwin e anos de pesquisa subsequente, hoje sabemos que a evolução não tem ápice e que somos tão únicos e tão especiais quanto cada uma das outras espécies. No The Descent Darwin argumenta que a beleza sonora e visual encontrada no mundo animal evoluiu naturalmente pelo processo de seleção sexual. Indivíduos mais vistosos e sonoros eram preferidos na busca por um parceiro sexual, o que ao longo de muitos ciclos de seleção, dá origem a cada vez mais beleza.

A evolução dos armamentos como chifres era mais facialmente explicada pela competição entre machos o que deixara as armas mais eficientes e maiores. Mas para explicar a evolução da beleza era necessário perceber que as fêmeas das outras espécies também têm senso estético e que a variação nesse senso estético era a pressão social favorecendo a evolução dos ornamentos animais. Portanto, para Darwin a beleza do pavão ou da ave do paraíso não necessariamente precisa indicar uma qualidade de sobrevivência, basta ela ser agradável o suficiente para as fêmeas da espécie que a ornamentação poderia evoluir sendo um fim em si mesma.

Atualmente como parte das celebrações do sesquicentenário do The Descent, diversas iniciativas tentam resgatar o que Darwin acertou e o que Darwin errou no livro, e todos o desdobramento mais atuais nos dois tópicos centrais do livro: evolução humana e seleção sexual. O livro A Most Interesting Problem: What Darwin’s Descent of Man Got Right and Wrong about Human Evolution apresenta uma releitura da perspectiva atual de cada capítulo relativo ao ser humano. Está sendo muito bem avaliado e me pareceu muito interessante tanto para quem quer se atualizar sobre evolução humana quanto para quem quer se aprofundar nas hipóteses do The Descent. Em Darwin, sexual selection, and the brain Micheal Ryan faz uma revisão das várias linhas de pesquisa relacionadas à ideia da Darwin sobre a evolução da beleza sendo um fim em si mesma. Em Darwin’s closet: the queer sides of The descent of man (1871), Ross Brooks ressalta como Darwin integrou a ideia de variação individual nos assuntos da seleção sexual o que foi fundamental para o nascimento da sexologia moderna. No Periódico Evolutionary Human Sciences existem uma compilação de artigos celebrando os 150 anos do The Descent, por enquanto com 3 artigos e com promessa de outros mais por vir.

Claro que como todo livro, o The Descent tem várias limitações e vieses de época, mas nele Darwin deixou claro que as origens evolutivas dos humanos podem sim ser desvendadas. E nesse sentido enquanto um programa de pesquisa a ser desenvolvido, Darwin deu uma inestimável contribuição à evolução humana. E, se percebermos como aspectos morfológicos, biogeográficos, interespecificamente comparativos, mas também psicológicos e comportamentais estão integrados, o The Descent pode ser considerado bem moderno. Isto porque, de lá para cá, ainda são poucos biólogos focando na psicologia e no comportamento, e pouco psicólogos focando na evolução. Felizmente as áreas estão cada vez mais se integrando e talvez um dia cheguemos ao grau de integração que o próprio Darwin expressou 150 atrás.

Dia de Darwin 2021 e os 150 anos do “Descendência do Homem”

É chegado o Darwin Day 2021, a grande celebração internacional da biografia, publicações e legado de Charles Robert Darwin. Hoje, dia 12/2/21, Darwin faz 212 anos. E daqui 12 dias seu livro “A Descendência do Homem e Seleção em Relação ao Sexo” (1871) completa 150 anos de publicação, 12 anos depois do sesquicentenário do “Origem das espécies”.  No “Descendência” (12 letras), Darwin aborda as semelhanças morfológicas, comportamentais e psicológicas entre humanos e não-humanos como evidência da ancestralidade comum, e discute a importância da seleção sexual para a evolução de algumas características compartilhadas. Darwin deixa claro que as diferenças que existem entre nós e os outros animais são de grau e não de tipo, e que todos os humanos vieram de um ancestral comum africano. Trata-se então de um dia, um mês e um ano muito especiais para o evolucionismo, especialmente aplicado ao ser humano.

Nos últimos 12 anos aqui no MARCO EVOLUTIVO, temos celebrado ininterruptamente o Dia de Darwin começando em 2008, passando pelo Bicentenário em 2009, e por 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, pela Década de Darwin Days em 2018, 2019 e em 2020. Por conta da pandemia muitos eventos no Brasil e no mundo todo estão sendo realizados online, o que facilita muito a participação e a disseminação das ideias e do legado de Darwin. Então busque online por Darwin Day 2021 e aproveite. Veja a discussão sobre Evolução Humana promovida pela Sociedade Brasileira de Genética.

No “Descendência” Darwin ressalta que epidemias, assim como guerras, são um importante fator de seleção fazendo com que a população humana não realize todo seu potencial de multiplicação. Seguindo esses primeiros passos de se abordar os surtos de doenças evolutivamente, especialmente num livro sobre a evolução do corpo e do comportamento humano, alguns psicólogos evolucionistas contemporâneos têm continuado essa linha durante a atual pandemia de COVID-19 causada pelo novo coronavírus. Temas como as tendências evoluídas de se evitar contágio por patógenos, as respostas comportamentais e psicológicas a ameaças, cooperação e cuidado em tempos de crise de saúde, entre outros, estão sendo abordados teórica e empiricamente no momento. Veja Seitz et al. (2020), Arnot et al., (2020), Dezecache et al. (2020), Troisi (2020), e Ackerman et al. (2020).

Um tema comum nessas novas publicações é o descompasso temporal evolutivo (evolutionary mismatch) entre o ambiente ancestral, para o qual boa parte das nossas tendências está adaptada, e o ambiente atual, que preserva cada vez menos semelhança com as condições ancestrais. Se o descompasso entre o ambiente de adaptação evolutiva ancestral e o contexto moderno urbanizado, pós-industrial e tecnológico pré-pandemia já era considerado pouco representativo do modo de vida caçador coletor ancestral, levando a vários problemas como o sedentarismo, obesidade, solidão e estresse crônico, esse descompasso só aumentou durante a atual pandemia de COVID-19. A pandemia de COVID-19 está sendo referida como o grande descompasso evolutivo.

O conceito evolutivo do descompasso é importante pois mostra que as adaptações não são absolutas, mas sim relativas a um ambiente específico. Quem conhece o tamanho do ambiente natural dos grandes felinos entende porque eles estão sempre andando para lá e para cá em seus recintos no zoológico. Assim como os leões, os humanos também vão tender a querer se comportar como se ainda estivessem em sua família estendida tribal rodeados de parentes e amigos, alta interação social diária, alimentação comunal, deslocamento diário e entretenimento em grupo ao redor da fogueira à noite.

Ao longo dos anos fomos criando substitutos como a televisão, cinema, o telefone, internet, email, vídeo chamadas, realidade virtual, educação à distância, esteira de corrida/caminhada, aplicativos de escolha de parceiros, pornografia, os documentários de natureza, etc. Mas, ainda assim, quanto mais perto do contexto original maior é o apelo psicológico, como de reencontrar a família no restaurante ou os amigos na escola/universidade ou no bar à noite, o futebol com os amigos no final de semana, a atividade física na academia de ginástica, a socialização nos cultos religiosos, e as oportunidades de se encontrar novos parceiros sexuais nas boates e discotecas.

Porém, durante a pandemia essa resistência de se deixar a vida moderna mais virtual/online ainda, que é compreensível e prevista à luz dos descompassos evolutivos, está colocando a sociedade e a espécie inteira em perigo. São justamente a escola/universidade, o restaurante, o bar, a igreja, a academia, as boates e discotecas que estão sendo identificados como locais com eventos de super-espalhamento do novo coronavírus (suprespreading events) que poderiam ser evitados visto que os indivíduos oportunisticamente decidem se expor ao perigo.

Mais do que nunca teremos que utilizar e disseminar os vários substitutos virtuais  para manter os mínimos níveis de estimulação e atuação social, os quais ajudam a manter a sanidade corporal e mental (apesar de eles também levarem a alguns prejuízos). Então, nesse dia de Darwin é importante participar dos vários eventos online, e entender a problemática dos descompassos evolutivos para tentar ao máximo minimizar mortes evitáveis decorrente da irresponsabilidade epidemiológica de alguns poucos.

 

 

 

 

Feliz Darwin Day 2020 Brasil!!!

No dia 12 de fevereiro de 1809 nascia Charles R. Darwin. Aquele menino curioso, travesso, colecionador de besouros, e nada muito estudioso, virou um jovem explorador e caçador de pássaros. Mas o que ele fez depois de abandonar a faculdade de medicina o colocou no caminho para um futuro de muito impacto. Ao combinar geologia, com história natural e demografia, com observações cuidadosas, expedição ao redor do mundo, coletas de espécimes e fósseis, experimentos caseiros, muita leitura, reflexão, e troca de cartas com especialistas, Darwin, seus livros e descobertas, se tornaram o pilar da Biologia moderna, que por sua vez, ancora para as Ciências Humanas. Nesse Darwin Day de 2020, estamos comemorando os 211 anos de Darwin e os 161 anos do seu livro seminal “A Origem das Espécies”. Trata-se da maior celebração mundial da Ciência e da Razão inspirada na vida e obra de Darwin, continuando a também merecida comemoração de ontem do Dia Internacional da Mulher e Menina na Ciência.

No MARCO EVOLUTIVO, celebramos anualmente o Dia de Darwin começando em 2008, passando pelo Bicentenário em 2009, e por 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, pela Década de Darwin Days em 2018 e até 2019.darwin day 2020 Me alegra muito ver o crescimento de celebrações do Darwin Day no Brasil mesmo sendo num período de férias de verão pré-carnaval. E como as abordagens se diversificaram, alguns celebram no dia 12 (UFUUFSC, MZ-USP), outros na semana inteira ou mês de fevereiro (MZ-USP), outros em março com o início das aulas da graduação e pós (Unesp Botucatu, FMVZ-USP). Tem muita programação imperdível. O importante é aumentar o conhecimento, vislumbre e engajamento sobre o evolucionismo darwinista no Brasil. Afinal somos ainda a única espécie do sistema solar que já descobriu a evolução por seleção natural.

Darwin dia do orgulh ateuHoje também é celebrado o Dia do Orgulho Ateu no Brasil. Nada mais apropriado do que comemorar a liberdade das amarras da religião no dia de nascimento do naturalista britânico para quem apoiar a evolução por seleção natural era como confessar um assassinato. Isso porque, com Darwin, as explicações criacionistas não são mais necessárias para explicar a origem e diversificação dos seres vivos. Apesar de parecer que Darwin tornou de vez desnecessária a crença religiosa, o que ele possibilitou, muito pelo contrário, é uma explicação materialista evolutiva tanto para a origem e diversificação das espécies e suas adaptações corporais quanto suas adaptações mentais. E assim, até a propensão para religiosidade e/ou seus subcomponentes afetivos-cognitivos também podem ser explicadas evolutivamente. Os possíveis valores adaptativos ancestrais da religiosidade podem ser desde reforçar o tribalismo, promover assimilação cultural alheia, capa livro the biological evolution of religious mind and behaviormotivar expansão territorial e conflitos entre grupos, controlar a fidelidade, sexualidade e reprodução feminina, fomentar sexualidade mais conservadora, oferecer propósitos de vida além dos de cuidado parental, ativar o efeito placebo de auto-cura, oferecer conforto e esperança frente ao medo da morte, entre outros. As pesquisas sobre esse tema estão florescendo nas últimas décadas, e assim que as evidências forem se acumulando saberemos quantos e quais desses valores adaptativos são os mais embasados para explicar a evolução da propensão para desenvolver a capacidade da religiosidade/espiritualidade. Veja exemplos aqui e aqui (livro da imagem).

Então, ao invés dos religiosos ficarem chateados por Darwin ter explicado os seres vivos, incluindo a origem primata dos humanos, nos termos materialistas sem a interferência de qualquer divindade mitológica, eles deveriam também celebrar o Darwin Day, pois o evolucionismo pode explicar a existência de sua própria tendência a religiosidade/espiritualidade. Sabemos que não é manifesto na natureza a existência de qualquer divindade criadora minimamente inteligente ou bondosa, visto a extinção das espécies, as crueldades que indivíduos fazem uns com os outros, os órgãos vestigiais, os erros de design de vários órgãos, suas disfunções, as doenças hereditárias, entre outras. Porém, a capacidade para se ter as experiências e tecer os raciocínios religiosos tem sua realidade embasada na própria evolução da mente humana. DARWIN-DAY-mobilizacao 2020É por isso que esses raciocínios religiosos são antigos, universais e experienciados subjetivamente como verídicos, intuitivos, profundos e poderosos, pois são parte evoluída de longa data da mente humana, e não porque esse ou outro ser mitológico mágico local realmente exista invisível e antropomorficamente. Contra-intuitivamente, a pura fé religiosa é mais prova do alcance e poder da evolução biológica do que da existência de qualquer suposta divindade. A evolução da fé leva à ‘fé’ na evolução.

Muitas capacidade mentais foram recrutadas e reorganizadas para compor a religiosidade. Soeling & Voland (2002) elencaram as capacidades do misticismo, da ética, do raciocínio mitológico, e da tendência para realizar rituais.paternicity taxonomy Dentro das capacidades para o misticismo, além das tendências para a contemplação transcendental, existem as tendências de pensamento essencialista, e de superativação da capacidade de identificar agentes intencionais (antropomorfização). Veja também van Leeuwen & van Elk (2019) para um modelo mais recente. Na revisão da literatura sobre biopsicologia do antropomorfismo (Varella, 2018), mostrei como essa superativação da detecção da intencionalidade é profundamente enraizada e evoluída da mente humana (junto com outros primatas próximos). error management theory tableEla tem a função protetora por nos fazer ver intenção onde não tem para não deixarmos de ver onde tem, especialmente em contextos de vulnerabilidade. Foi melhor para nossos ancestrais pré-históricos se assustar com o vento mexendo a moita do que não se assustar quando o tigre-dente-de-sabre estava escondido na moita. Como no geral os religiosos tem mais medo da morte do que os não religiosos (mas a coisa é mais complicada do que isso) faz sentido eles verem agente intencional onde existem apenas processos astronômicos, físico-químicos, e biopopulacionais transgeracionais.

Animal Tool Behavior bookSomado a isso, os humanos (junto com outros primatas próximos) projetam e fazem ferramentas que nos ajudam na sobrevivência e reprodução há muito tempo pra essa capacidade mental de projetista/engenheiro também fazer parte intrínseca da mente humana. E isso também explica o quão intuitivo é o falacioso ‘argumento do design’ usado por criacionistas e adeptos do, também pseudocientífico, design inteligente. Achar piamente que para se produzir algo funcional e complexo é preciso sempre de um projetista inteligente, apesar de ‘fazer sentido’ intuitivamente, não é prova da plausibilidade da teologia natural, mas sim do caráter evoluído da nossa capacidade cognitiva de imaginar, reconhecer e produzir ferramentas e outros artefatos.

Atualmente temos o desafio de promover e intensificar o ensino de evolução em várias faixas etárias entre os humanos. orangutan criationism Futurama.S06E09.HDTV_.XviD-FEVER-02.07.33Mas no futuro quando conseguirmos nos comunicar melhor com as outras espécies (e impedirmos sua extinção por degradação de habitat) teremos que também enfrentar o criacionismo dos gorilas e orangotangos, e o design inteligente dos corvos e macacos-prego. Não só porque isso está em parte devidamente profetizado na série Futurama (S06E09), mas porque esses e outros animais também tem as mesmas capacidades de entender propósitos e metas em outros, e de produzir ferramentas. Penso que uma boa maneira de lidar com isso é reafirmar a realidade do sentimento religiosos e a intuitividade profunda dos raciocínios intencionais e projetistas como produtos legítimos da evolução biológica.
Desejo um ótimo Darwin Day em 2020 para todas as tribos!

Feliz Darwin Day 2019 Brasil com 210 anos de Darwin e 160 do “Origem”

Darwin Day torradaApesar de tudo isso que tá aí, 2019 tem sim algum motivo para comemoração. Nesse 12 de fevereiro de 2019 estamos comemorando os 210 anos do meu, do seu, do nosso eterno bom velhinho Charles Robert Darwin. São inúmero eventos ocorrendo no mundo inteiro. Trata-se de uma celebração internacional da vida e obra de Darwin, os 160 anos da Origem das Espécies, bem como da Ciência e da Razão, dois pilares de sustentação da modernidade que andam imprudentemente cada vez mais desacreditados e desconsiderados. Um dia depois do Dia Internacional da Mulher e Menina na Ciência, hoje também é celebrado o Dia do Orgulho Ateu e a biografia de Darwin nos ensina que é preciso muita coragem, curiosidade e honestidade intelectual para eclodir do conforto da religião e encarar o mundo real de peito aberto. Em 12 de fevereiro de 1809 também nascia Abraham Lincoln que lutou contra a escravidão, assim como Darwin e sua família. É de notório saber que Darwin quando esteve no Brasil rejeitou a escravidão, disse nunca mais na vida voltar a visitar um país escravocrata, e até torceu para o Brasil seguir o exemplo do Haiti e fazer uma revolta contra os colonizadores.

evolution of the parasiteO que Darwin pensaria do Brasil do século XXI? Onde empresas privadas por ganância e puro descaso destroem bacias hidrográficas inteiras envenenando seu ecossistema e toda sua biodiversidade e população, onde áreas de conservação ambiental estão sem recursos e sendo ameaçadas, onde governantes cada vez mais rejeitam a laicidade do estado e a teoria evolutiva, onde cada vez menos se faz para combater o trabalho escravo, chegando até a ilusória negação da existência da escravidão em nosso país, onde as terras indígenas continuam a ser invadidas e nossos nativos dizimados. Darwin velho na velha Rio de JaneiroAcho que Darwin até sentiria saudade do antigamente que ele outrora rejeitou assim que visse o quanto poderíamos estar avançados enquanto civilização, mas só que não. Com mais mulheres na política e na ciência muitos desses e outros desafios estariam solucionados.

Aqui no MARCO EVOLUTIVO, celebramos anualmente o Dia de Darwin começando em 2008, passando pelo Bicentenário em 2009, e por 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, e até a Década de Darwin Days em 2018. Nesse período de mais de uma década vi muitos cientistas se empolgarem pelo Darwin Day e começarem a divulgar, prestigiar e até organizar eventos alinhados com as celebrações internacionais. Afinal, com um legado desse não dá pra não se engajar de vez, ainda mais em tempos sombrios como os atuais, talkei.

-charles-darwin-surrealism-paintingDarwin, além de ser a razão do meu blogar anual, é simplesmente a pessoa que viabilizou a real integração entre matéria e propósito, forma e função, ancestral e atual, adaptado e vestigial, individual e populacional, armamento e ornamento, domesticado e selvagem, animal e humano, corporal e emocional, geológico e biológico, vegetal e animal, sobrevivência e reprodução. Por isso que o Darwin Day iniciado no mundo em 1995 veio para ficar.

Só nos resta colar e lotar pessoal ou virtualmente nas várias celebrações desse ano, algumas já ocorreram, outras estão ocorrendo agora e outras vão ocorrer depois do começo do ano letivo ou até no segundo semestre. Você que é do Rio de Janeiro, fique de olho no Darwin Day na Livraria Travessa Ipanema com 3 ótimos palestrantes e no Museu do Amanhã com o incrível Ver Ciência. Em Botucatu, fique ligado no Darwin Day Unesp, sempre com ótima programação. Em Ribeirão Preto, fique ligado no Darwin Day RP na USPsempre muito bom. Em Osasco, tem celebração sempre interessante e descontraída no segundo semestre no Borboletário municipal. Em Uberlândia, se ligue no Darwin Day da UFU de Umuarama, que promete. Em Belém, fique ligado no DNA & Darwin Day da LAGEN na UFPA. Em Alagoas, o pessoal do GESEB na UFAL já celebrou seu Darwin Day.

darwin day 2019 mesa seleção sexual Jarka e Marco no MZ-uspEm São Paulo, haverá o Darwin Day da Veterinária na FMVZ da USP com programação excelente o dia inteiro, e que poderá ser acompanhado online pelo IPTV USP. Haverá, também em São Paulo, a tradicional e famosa Semana de Darwin no Museu de Zoologia da USP com programação excelente a semana inteira. Serão 4 mesas redondas com ótimos convidados, todas iniciando às 19h: uma hoje, dia 12/02, sobre Os 160 anos do Origem das Espécies, uma amanhã, dia 13/02, sobre Seleção Sexual onde estarei junto com a Profa Dra. Jaroslava V. Valentova, minha esposa, uma dia 14/02 sobre Genes e Cultura, e a última dia 15/02 sobre Cultura e Cognição. Tenho muito orgulho de ter sido convidado a palestras duas vezes no Darwin Day do Borboletário de Osasco, uma vez no de Ribeirão Preto, uma no da Unesp de Botucatu e agora no do Muzeu de Zoologia da USP. Espero que cada vez mais instituições comecem a celebrar esse Dia de Darwin (ou até essa Semana de Darwin) e a brilhantar esse dia num momento tão sombrio do nosso país e do mundo.

Desejo a todos um Dia de Darwin bem subversivo, produtivo, desconstruído e evoluído.

Fique com um Darwin Day especial do Stated Clearly sobre Darwin e Seleção Sexual.

Feliz Década Darwin Day Brasil 2008-2018

Darwin-Day_ss_515355631-790x400Foi com muita emoção e descontração que comemorei o nosso 12 de fevereiro com minha esposa Jarka e meus dois filhos Alice (1 ano e 6 meses) e Bernardo (3 semanas). Entre a visita ao Butantã e a ida à piscina muitas alegrias e choros, claro. Que dia especial é sempre nosso Darwin Day. Ele que faria 209 anos, teve 10 filhos, então devia ter vários motivos para comemorar o 12 de fevereiro. Que dia esse… Do nascimento de Martinho da Vila em 1938 ao falecimento de Tomie Ohtake em 2015, no Darwin Day tudo pode acontecer. Assim como que em qualquer outro dia… É quando menos se nota a importância histórica daquele momento que notadamente se faz e vive a história.

Comemoramos o Dia de Darwin no MARCO EVOLUTIVO há uma década. Temos, então dez visões sobre a importância desse dia e do quanto ele ainda precisa crescer. Desde 2008,  passando por 2009 (Bicentenário – Ano de Darwin), 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017. Nessa década, vivenciamos um pleno crescimento do interesse e de celebrações promovendo a vida e a obra desse naturalista que com muita dedicação reuniu as evidências e foi às últimas consequências em suas conclusões evolutivas.

Nosso pensamento darwinista do ano vem de Ron Amundson que em um capítulo de 2001 fez uma observação em um parágrafo bem intrigante. Para ele o Origem das Espécies foi a “primeira reconciliação científica genuína entre forma e função”. Antes de Darwin a escola estruturalista focada na embriologia e na anatomia comparativa explicava os padrões das formas corporais segundo tipos gerais, bem diferentemente do que a escola da teologia natural que focava na perfeição de funções específicas. Pois bem, Darwin conectou as duas peças do quebra-cabeça: usou a escola estruturalista para embasar a descendência comum marcando o trajeto evolutivo, e a seleção natural como motor da mudança evolutiva, o que explicava tanto as perfeições quanto as imperfeições funcionais das adaptações e órgãos vestigiais. Desde Aristóteles forma e finalidade tinham respostas próprias e distintas, agora com a evolução por seleção natural continuam cada uma na sua, mas com alguma coisa em comum: É o sucesso funcional de cada versão de uma forma que propele sua evolução e os padrões estruturais interagindo com o ambiente que definem sua versão formal. Que legado!

Para além de simplesmente unificar escolas de pensamento e linhas de pesquisa, o Darwinismo abriu caminho para explicar a nossa origem e a de todos os outros seres vivos no planeta. Então, mesmo aqueles muitos curtiram um ótimo carnaval contestação Fora Temer & coalizão, no fundo por esbanjar presença, atitude, vivência e experiência momentânea estão celebrando a vida, sua diversidade e complexidade, em forma e função, sobrevivência e reprodução.

Fiquem de olho nos eventos comemorativos do Darwin Day Brasil 2018 em todos os locais onde já se comemoraram o dia em anos anteriores.

E fiquem bem com Sir David Attenborough sobre a importância da Darwin.

 

Feliz Dia de Darwin 2017, Brasil

darwin day 2017É chegado o dia mais esperado do ano novo: hoje, 12 de fevereiro Charles Robert Darwin completaria 208 anos e sua obra prima “A Origem das Espécies” completa 158 aninhos. É o famoso “Dia de Darwin”, momento em que celebramos sua obra e legado para a humanidade. Nós do MARCO EVOLUTIVO marcamos essa data em nosso calendário desde 2008, passando por 2009 (Bicentenário – Ano de Darwin), 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015 até 2016. No Brasil e ao redor do mundo (Veja o DARWINDAY.ORG) estão sendo mantidos e criados novos eventos para promover e disseminar o pensamento darwinista.

O pensamento darwinista ainda é jovem, está só começando a segunda metade do seu segundo século, então é esperado que as pessoas vão ter dificuldades em compreender sua lógica básica. Além disso, o maior inimigo do pensamento darwinista ainda é, de longe, a mente humana primata cheia de vieses, atalhos cognitivos, e de agendas próprias de um mamífero da nossa laia. Um desses becos sem saída psicológicos é o “Erro Beethoven”, nomeado por Frans de Waal em seu livro “Eu, Primata: Por Que Somos Como Somos (2007)” [Our Inner Ape: The Best and Worst of Human Nature (2005)”.
beethoven apartment

O “Erro Beethoven” ocorre sempre que confundimos ou igualamos o processo ao seu produto e vice-versa. Os conhecidos de Beethoven ficavam chocados e incrédulos sempre que visitavam o compositor em seu apartamento. Ele viveu em 39 apartamentos diferentes, teve cinco pianos todos sem pernas que ficavam no chão. No geral, seu apê era sujo, bagunçado, fedido, cheio de restos de comida e partituras amassadas espalhadas. Não era possível, imaginar que todas aquelas peças musicais sublimes, criativas e elegantes foram compostas ao chão em meio ao um caos repulsivo. Normalmente as pessoas imaginam que o produto demonstrará claramente características do processo e, quanto melhor é o produto, mais positivamente imaginamos o processo correspondente. Ocorre o mesmo problema com a Seleção Natural: ‘já que somos seres bem complexos, conscientes e perfeitinhos então não é possível que um processo cego, mecânico e sem destino tenha nos produzido.’ Ou então ocorre o contrário: ‘já que a natureza é selvagem e cruel – tipo cada um por si – somos naturalmente cruéis por sermos seu produto‘ ou então ‘já que, na evolução, os genes mais egoístas deixam mais descendentes, então só podemos ser naturalmente egoístas mesmo’.

Qualquer pessoa que já foi ao barbeiro ou cabeleireiro sabe que para ter um corte novo, lindo e impecável é preciso passar pelo corte, esse processo longo, desconfortável e ‘sujo’ (cheio de fios em pedaços pra todo lado). Qualquer pessoa que já ralou um queijo sabe que para ter um delicioso, soltinho e leve queijo ralaralando queijodo, tem que ralar (literalmente), é preciso passar por esse processo cansativo, árduo e potencialmente perigoso. Qualquer pessoa que já mudou de casa sabe que para ter um novo lar, confortável, acolhedor e organizado é preciso passar pelo processo caótico, cansativo e angustiante da mudança. Como o produto é mais saliente do que o processo acabamos imaginando o processo à luz do produto. Mas temos que lembrar que na maioria dos casos processo e produto têm características distintas. Então, com a Evolução por Seleção Natural é a mesma coisa: o processo evolutivo que é simples, desnorteado, amoral, implacável e ignorante dá origem, após vários ciclos, a seres complexos, focados, morais, funcionais e inteligentes. Totalmente possível, nada que possa nos denegrir, pelo contrário, só pode nos exaltar já que nossa complexidade e outras qualidades não são versões pioradas vindas de um processo ainda mais complexo e melhor, mas sim as primeiras do gênero para cada ramos da árvore da vida.oficinas-darwin day mzusp 2017jpg

Esse ano no Brasil tivemos, temos e teremos vários eventos Darwindaynianos. É muito bom ver que a lista só aumenta. No Museu de Zoologia da USP em São Paulo como sempre houve a Semana de Darwin com apresentação de documentários, ótimas palestras, oficinas e exposição. Hoje a programação vai até as 17 e serão duas palestras na parte da tarde. O destaque vai para o jogo Caçada no Museu: Edição especial Charles Darwin, para criançada.
Darwinday osasco 2017

No Borboletário de Osasco houve do 2º Darwin Day com discussão aberta sobre “Por que a vida é assim?” no dia 10/fev contando com o Prof. Dr. Nélio Bizzo, o Prof. Dr. Waldir Stefano, e a MsC. Carolina Yamaguchi.darwin day catavento 2017

No Catavento Cultural está tendo esse final de semana a “Mostra VerCiência – Dia de Darwin” com exibição continua de curtas-metragens com ‘o que é evolução?’ e ‘como funciona a evolução’.

Ver ciência Rio de Janeiro museu do Amanhã 2017No Rio de Janeiro, haverá hoje a partir das 14h no Darwin Day no Museu do Amanhã exibição de dois documentários e debates mediados por Sergio Brandão, curador internacional da Mostra VerCiência.

Darwin Day Lagen UFPA 2017

Em Belém do Pará no Instituto de Ciências Biológicas da UFPA no dia 15/fev quinta-feira haverá o 2º Darwin Day com carga horária de 10 horas, para o dia todo sobre o tema “A teoria Evolutiva precisa ser repensada?” a ótima discussão serão 7 palestras imperdíveis. Sobre Construção de Nicho, Epigenética, Evolução Cultural, Plasticidade Fenotípica, Evolução e Saúde, Assimilação Genética e Evo-Devo. As inscrições antecipadas saem por R$10  e no dia sae por R$15, basta enviar email para o pessoal da Liga Acadêmica de Genética lagenufpa@hotmail.com

Darwin Day UNESP - Botucatu - BrazilPela primeira vez na UNESP de Botucatu organizado com apoio da Pós-Graduação em Genética e do Instituto de Biociências de Botucatu haverá dia 30 de março o Darwin Day UNESP contando com três palestras com o Prof Dr. Ricardo Waizbort falando sobre o ‘Darwinismo no Brasil’, Prof Dr. Mario de Pinna falando sobre ‘A Evolução da Perspectiva Evolutiva’ e Profa. Dra. Jaroslava Varella Valentova (minha esposa e mãe da minha filha Alice) falando sobre a ‘Seleção Sexual’. O Prof. Dr. Danillo Pinhal organizador do evento será o mediador da mesa-redonda onde eu vou falar sobre Evolução Adaptativa, o Prof. Dr. Reinaldo de Brito falara sobre o Neodarwinismo, e o Prof Dr. Cesar Martins sobre Revolução Genômica. Imperdível!

E todo ano o pessoal da Pós-Graduação em Biologia Comparada e em Entomologia, da USP de Riberião Preto, organiza o Darwin Day USP de Ribeirão geralmente entre abril e maio. Então fiquem ligados no face.

Fiquem com uma série de falas do saudoso biólogo britânico John Maynard Smith (1920-2004) sobre Biologia, Genética e Evolução.

Brasil, Feliz DARWIN DAY 2015!

darwin_day 2015Feliz 2015 a todos! Começamos o ano já celebrando os 206 anos de Charles R. Darwin como fazemos desde 2008 aqui no MARCO EVOLUTIVO. Neste dia 12 de fevereiro, o famoso “DARWIN DAY”, o mundo inteiro está promovendo eventos e reflexões sobre a vida, obra e todo o legado de Darwin.ontogenese de Darwin

“Há uma grandeza nessa visão da vida”, disse Darwin ao contemplar as implicações da mudança de paradigma iniciada por ele. Após muitas leituras, cartas, viagens, coletas, experimentos, descobertas e dilemas, Darwin se viu na obrigação avisar o mundo simplesmente que a Natureza está nua!

mãe naturezaAssim como no conto de fadas “A roupa nova do Rei” de Hans Andersen, a maioria na época de Darwin estava mais preocupado em validar sua própria e merecida superioridade frente aos outros seres do que encarar os fatos humildemente. Afinal, só os inteligentes conseguem ver a roupa nova do rei, não é mesmo? Darwin, ao abandonar o antropocentrismo criacionista, foi como aquela criança que fez o favor de mostrar a todos que somos tão especiais quanto qualquer outra espécie, e que toda a eficiência, funcionalidade, complexidade e aparência de intencionalidade no projeto dos seres vivos é fruto do mecanismo cego seletivo e não da intrução premeditada de um criador.

darwin day brasil 2015 são caetanoÉ claro que o gosto amargo que se sente com a possibilidade de conceber que se esteve muito errado ainda hoje impede muitos de perceber a Natureza nua mais como um nu artístico do que como uma pornografia fajuta. Por isso, junte cruriosidade, coragem e humildade e descubra também a beleza e grandeza da verdade nua e crua da Evolução Biológica.

Esse ano no Brasil teremos ótimos eventos. Hoje à noite às 20h no Universidade Municipal de São Caetano do Sul, SP o grande Prof. Nélio Bizzo dará uma palestra intitulada “O que pensam os jovens sobre evolução?”.

Em sampa, teremos amanhã (13/02/2015) o II Darwin Day no IB da USP com o tema “Combatendo a anti-Ciência com Educação”. O evento será transmitido ao vivo online nesse link.
darwin day brasil 2015 IB USP

Em breve será divulgado os detalhes do III Darwin Day da USP de Ribeirão Preto na página deles do Facebook. Abaixo segue o vídeo do evento passado do quel tive a honra de participar.

Assistam também o documentário curto da BBC “Darwin’s Struggle: The Evolution Of The Origin Of Species”, é muito bom. Tenham todos mais um ótimo Dia de Darwin!!