Psicologia Evolucionista – Edição Especial Psique
O Especial conta com 8 textos escritos por pesquisadores especialistas (no qual estou incluído), dois retirados da Agência Notisa de Jornalismos Científico, uma lista com dicas de livros da área, uma lista com dicas de links importantes e um fechamento feito pela também especialista Doutora Cibele Biondo na Coordenação Técnica.
O texto introdutório intitulado “Uma longa história” pelos psicólogos Altay Alves de Souza e Leonardo Cosentino em conjunto com os biólogos José Henrique Ferreira e eu, Marco Varella, apresenta de forma simples as história dos antepassados da Psicologia Evolucionista e seus fundamentos teóricos e conceituais. Alem disso, apresenta também um histórico da pesquisa nacional na área graças ao Grupo de Trabalho de Psicologia Evolucionista na Associação Nacional de Pós-Graduação em Psicologia e ao Instituto do Milênio de Psicologia Evolucionista.
O segundo texto trata dos mal-entendidos. Em “A era dos mal-entendidos” Isabella Bertelli, estudante de psicologia e eu, Marco Varella, biólogo apresentamos a questão dos mal-entendidos mais comuns sobre da Psicologia Evolucionista. Como todo campo de ciência, a Psicologia Evolucionista sofre críticas e contestações. O propósito deste artigo é oferecer subsídios conceituais esclarecedores aos leitores para conseguirem diferenciar uma crítica fundamentada de críticas baseadas em interpretações equivocadas e preconceituosas, gerando problemas de entendimento.
O terceiro é sobre Neotenia, expresso no artigo “Que olhos grandes você tem!” da psicóloga Lia Viégas. Ela conta como as características neotênicas (infantilizadas) geram efeitos nas pessoas e como isso ocorre como resultado de um importante processo evolutivo que contribuiu na sobrevivência e reprodução do ancestral humano no passado e hoje garante a vinculação materna (e os afagos) dos nossos bebês.
O terceiro texto é sobre diferenças cerebrais entre homens e mulheres. É um texto extraído da Agência Notisa de Jornalismos Científico que aborda apenas a Neurociência e não faz muita ligação com a Psicologia Evolucionista. É sobre uma cardiologista que escreveu um livro sobre as diferenças cerebrais entre homens e mulheres “Porque os homens nunca lembram e as mulheres nunca esquecem”. Isso mostra como as agências de notícia vêm negligenciando a Psicologia Evolucionista e até confundindo com Neurociências.
O quarto texto é sobre heurísticas e tomadas de decisão. O artigo “Será que caso ou compro uma bicicleta?” dos psicólogos Altay Alves Lino de Souza e Álvaro da Costa Batista Guedes aborda um dos comportamentos mais prosaicos e importantes do ser humano: tomar decisões. Eles detalham quais são os mecanismos implícitos nos processos de julgamento e tomada de decisão, como eles poderiam ter ajudado nossos ancestrais a sobreviver e a reproduzir e como por meio deles, podemos cometer “erros” sistemáticos.
O quinto texto é sobre desejo por variedade sexual. É a reedição do meu texto sobre as primeiras pesquisas inter-culturais com relação ao desejo por diferentes parceiros sexuais ao longo na vida e as diferenças entre homens e mulheres. Este texto está postado numa versão melhorada aqui no MARCO EVOLUTIVO.
O sexto é sobre as visões evolucionistas sobre a depressão pós parto. Tema que tem vindo a tona não só no âmbito científico, mas também na comunidade como um todo. Sobretudo após as freqüentes notícias de bebês abandonados ou mesmo infanticídios. O artigo “Quando a dor é Mãe” das psicólogas Gabriela Andrade, Lia Viegas, Marina Cecchini e Emma Otta com a bióloga Renata Pereira de Felipe apresenta como a Psicologia Evolucionista pode contribuir nessa questão de saúde pública.
O sétimo é sobre a neurologia da homossexualidade. Mais uma vez a Psique por intermédio da Agência Notisa de Jornalismos Científico confunde Psicologia Evolucionista com Neurociência. O texto focado em como as preferências sexuais se instalam nas áreas cerebrais aborda também pesquisas genéticas sobre a homossexualidade.
O oitavo texto é sobre a seleção de parceiros amorosos. Em “Procura-se”, a psicóloga Luísa Spinelli e o biólogo Wallisen Hattori apresentam os fundamentos teóricos da Seleção Sexual e da Teoria do Investimento Parental. Além disso, eles apresentam os resultados empíricos de diferentes pesquisas sobre as preferências afetivo-emocionais para a escolha de parceiros e as diferenças entre homens e mulheres. Tudo indica que em matéria de sexo, Darwin explica!
O nono texto é sobre a amizade e a constituição de vínculos. Em “Uma mão lava a outra” o biólogo César Ornelas discute qual a importância das estratégias sociais como forma de obter sucesso e garantir a sobrevivência na comunidade. Neste ponto entra a questão do egoísmo e altruísmo e qual a importância de cada um para a sobrevivência do indivíduo e do grupo.
Na lista de livros constam: Tabula Rasa de Steven Pinker; Não há dois iguais: Natureza humana e individualidade de Judith Harris; The Evolution os Mind: fundamental questions and controversies de Steve Gangestad e Jeffry Simpson (eds.); Introducing Evolutionary Psychology de Dylan Evans e Oscar Zarate; Instinto Humano de Robert Winston; e O Pensamento de animais e intelectuais: evolução e epistemologia de Denis Werner.
Na lista de links constam o Center of Evolutionary Psychology, o The Human Behavior & Evolution Society, o The International Society or Human Ethology, O Instituto do Milênio, o Laboratório de Psicologia Comparativa e Etologia da USP, e a Sociedade Brasileira de Etologia. Todos esses links e outros se encontram na lista de links do MARCO EVOLUTIVO.
E no fechamento a Doutora Cibele Biondo faz um brilhante balanço dos textos publicados, da contribuição da visão biologicamente cultural da Psicologia Evolucionista para a Psicologia e Ciências Humanas bem como enquanto campo frutífero de pesquisa em plena expansão mundial e nacional.
No geral o grupo trabalhou muito, dentro do prazo editorial curtíssimo, e fez um ótimo e inédito trabalho de esclarecimento público, porém alguns erro editoriais apareceram, pois não tivemos acesso à versão editada pronta para a publicação. Os erros foram desde grandes atribuições errôneas de autoria a até pequenos detalhes dos textos principalmente nas legendas de figuras. Mas que no geral não desmerece todo o esforço e entusiasmo depositado nesta empreitada nova tanto para muitos autores quanto para a divulgação científica nacional.
Todos estão de parabéns pesquisadores, divulgadores e editores pelo magnífico presente aos leitores brasileiros. Boa Leitura!
Criatividade: nossa cauda de pavão mental
Seleção sexual entra em cena
Eles realizaram quatro experimentos para testar a influência da ativação mental romântica no aumento da exibição de criatividade. Usaram medidas repetidas (antes e depois) da criatividade dos participantes, que escreviam histórias livres sobre diferentes figuras equivalentes antes e depois do tratamento experimental. As histórias eram avaliadas por juizes independentes quanto a serem criativas, originais, inteligentes, imaginativas, cativantes, engraçadas, envolventes e charmosas, atributos que juntos compunham a medida subjetiva de criatividade.
No primeiro estudo, o procedimento de ativação era a apresentação para metade dos participantes de fotos de pessoas atraentes e era pedido para que escolhessem a que mais agradasse e depois que escrevessem como imaginariam o primeiro encontro com a pessoa. A outra metade era a controle, viam uma foto de uma rua com alguns prédios e era pedido para que se imaginassem lá e escrevessem quais seriam as melhores condições climáticas para passear e ver os prédios. A análise mostrou que os homens que viram as fotos de mulheres bonitas apresentaram maiores índices de criatividade na segunda história. Para as mulheres, não houve diferença no nível de criatividade da primeira para a segunda história entre as que viram homens bonitos e as que viram a rua.
Estudo número 3
Agora podemos explicar isso. As musas não são todas mulheres porque a figura masculina não é capazes de inspirar pessoas, nem porque os homens são mais criativos do que mulheres. Mas sim porque, como o estudo demonstrou, os homens têm seu potencial criativo disparado por mais contextos amorosos: imagens do sexo oposto, relacionamentos de curto prazo, longo prazo, e longo prazo comprometido. Enquanto as mulheres, que são tão criativas quanto os homens, têm seu potencial criativo disparado apenas quanto o companheiro demonstra comprometimento.
Um exemplo do efeito equivalente aos das musas para as mulheres e que também está de acordo com os resultados femininos do estudo vem de Elizabeth Barrett Browning, uma poetisa vitoriana renomada. Aos vinte anos, enquanto se encontrava com uma produção artística mediana, ela recebeu uma carta de um fã apaixonado, Robert Browning, que lhe declarou seu amor. Elizabeth não se convenceu das intenções de seu fã por pelo menos um ano inteiro quando, muitas cartas de Robert depois, eles concordaram em iniciar a sério seu relacionamento. E foi precisamente durante esse período do relacionamento quando Elizabeth inspirou-se a escrever Sonnets from the Portuguese, que se tornou sua obra criativa mais importante e mais aclamada criticamente.
Anti-tédio
Nas sociedades humanas modernas, a neofilia é a fundação de muitas manifestações como a pintura, música, televisão (programas e comerciais), filmes, mídia, imprensa, drogas, viagens, pornigrafia, moda, rádio e industrias de pesquisa, que respondem por uma proporção substancial da economia global. Antes dessas indústrias do entretenimento começar a nos divertir, precisávamos divertir uns aos outros na savana africana ancestral. Nessa visão, a criatividade evoluiu pela seleção sexual como um dispositivo anti-tédio. Os parceiros sexuais entediados depois de alguns dias ou semanas podem não ter estabelecido relacionamentos mais duradouros abrindo mão de vantagens reprodutivas. Cérebros menos criativos que ofereciam menos novidades contínuas, sendo menos interessantes como parceiros sexuais, amantes, amigos e companheiros, não tinham o suporte necessário para deixar muitos filhos.
A segunda pesquisa