Ideais digitais e sustentáveis neste Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência 2023
No dia 11 de fevereiro celebramos mundialmente as descobertas, conquistas e a importância feminina na Ciência, visando corrigir a desigualdade de gênero das oportunidades na Ciência, e inspirando as meninas a virarem cientistas. Hoje é o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, iniciado em 2015 pela UNESCO. Temos que aproveitar o dia de hoje para incentivar e divulgar as iniciativas que fortalecem a atuação feminina na Ciência e Tecnologia.
Neste ano de 2023 a ONU levanta o tema inovação tecnológica digital visando equidade de gênero e educação digital. O aumento do acesso à tecnologia e educação digital nas meninas e mulheres tem o potencial de gerar mais inovação e soluções criativas aos grandes desafios atuais globais, sejam humanitários ou de sustentabilidade ecológica. A ONU também está focada este ano na importância das meninas e mulheres na Ciência com relação às metas de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030. O tema é IDEAS: Inove, Demonstre, Eleve, Avance e Sustente.
Muito ainda precisa avançar para que meninas e mulheres encontrem seu lugar ao sol na Ciência. Um estudo publicado na Nature em 2022 descobriu que é menos provável que mulheres acabem virando coautoras de publicações de pesquisa ou patente em grupos de pesquisa do que homens. Mesmo quando elas publicam, suas contribuições são menos reconhecidas, ou até mais desconhecidas para a comunidade científica do que as contribuições masculinas.
Da mesma forma, uma revisão sistemática no Academic Medicine em 2022 mostrou que mulheres tendem a reportar receber menos mentoria, menor produtividade acadêmica, menos satisfação com a carreira, e maiores barreiras à progressão de carreira. Uma publicação neste 2023 da área da Limnologia apontou que as mulheres cientistas estão menos presentes nas conferências, nas premiações, no corpo editorial de periódicos e das sociedades científicas.
É por essas e outras razões que convido a todas as pessoas a celebrarem juntas este tão necessário Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência de 2023.
Dia de Darwin 2021 e os 150 anos do “Descendência do Homem”
É chegado o Darwin Day 2021, a grande celebração internacional da biografia, publicações e legado de Charles Robert Darwin. Hoje, dia 12/2/21, Darwin faz 212 anos. E daqui 12 dias seu livro “A Descendência do Homem e Seleção em Relação ao Sexo” (1871) completa 150 anos de publicação, 12 anos depois do sesquicentenário do “Origem das espécies”. No “Descendência” (12 letras), Darwin aborda as semelhanças morfológicas, comportamentais e psicológicas entre humanos e não-humanos como evidência da ancestralidade comum, e discute a importância da seleção sexual para a evolução de algumas características compartilhadas. Darwin deixa claro que as diferenças que existem entre nós e os outros animais são de grau e não de tipo, e que todos os humanos vieram de um ancestral comum africano. Trata-se então de um dia, um mês e um ano muito especiais para o evolucionismo, especialmente aplicado ao ser humano.
Nos últimos 12 anos aqui no MARCO EVOLUTIVO, temos celebrado ininterruptamente o Dia de Darwin começando em 2008, passando pelo Bicentenário em 2009, e por 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, pela Década de Darwin Days em 2018, 2019 e em 2020. Por conta da pandemia muitos eventos no Brasil e no mundo todo estão sendo realizados online, o que facilita muito a participação e a disseminação das ideias e do legado de Darwin. Então busque online por Darwin Day 2021 e aproveite. Veja a discussão sobre Evolução Humana promovida pela Sociedade Brasileira de Genética.
No “Descendência” Darwin ressalta que epidemias, assim como guerras, são um importante fator de seleção fazendo com que a população humana não realize todo seu potencial de multiplicação. Seguindo esses primeiros passos de se abordar os surtos de doenças evolutivamente, especialmente num livro sobre a evolução do corpo e do comportamento humano, alguns psicólogos evolucionistas contemporâneos têm continuado essa linha durante a atual pandemia de COVID-19 causada pelo novo coronavírus. Temas como as tendências evoluídas de se evitar contágio por patógenos, as respostas comportamentais e psicológicas a ameaças, cooperação e cuidado em tempos de crise de saúde, entre outros, estão sendo abordados teórica e empiricamente no momento. Veja Seitz et al. (2020), Arnot et al., (2020), Dezecache et al. (2020), Troisi (2020), e Ackerman et al. (2020).
Um tema comum nessas novas publicações é o descompasso temporal evolutivo (evolutionary mismatch) entre o ambiente ancestral, para o qual boa parte das nossas tendências está adaptada, e o ambiente atual, que preserva cada vez menos semelhança com as condições ancestrais. Se o descompasso entre o ambiente de adaptação evolutiva ancestral e o contexto moderno urbanizado, pós-industrial e tecnológico pré-pandemia já era considerado pouco representativo do modo de vida caçador coletor ancestral, levando a vários problemas como o sedentarismo, obesidade, solidão e estresse crônico, esse descompasso só aumentou durante a atual pandemia de COVID-19. A pandemia de COVID-19 está sendo referida como o grande descompasso evolutivo.
O conceito evolutivo do descompasso é importante pois mostra que as adaptações não são absolutas, mas sim relativas a um ambiente específico. Quem conhece o tamanho do ambiente natural dos grandes felinos entende porque eles estão sempre andando para lá e para cá em seus recintos no zoológico. Assim como os leões, os humanos também vão tender a querer se comportar como se ainda estivessem em sua família estendida tribal rodeados de parentes e amigos, alta interação social diária, alimentação comunal, deslocamento diário e entretenimento em grupo ao redor da fogueira à noite.
Ao longo dos anos fomos criando substitutos como a televisão, cinema, o telefone, internet, email, vídeo chamadas, realidade virtual, educação à distância, esteira de corrida/caminhada, aplicativos de escolha de parceiros, pornografia, os documentários de natureza, etc. Mas, ainda assim, quanto mais perto do contexto original maior é o apelo psicológico, como de reencontrar a família no restaurante ou os amigos na escola/universidade ou no bar à noite, o futebol com os amigos no final de semana, a atividade física na academia de ginástica, a socialização nos cultos religiosos, e as oportunidades de se encontrar novos parceiros sexuais nas boates e discotecas.
Porém, durante a pandemia essa resistência de se deixar a vida moderna mais virtual/online ainda, que é compreensível e prevista à luz dos descompassos evolutivos, está colocando a sociedade e a espécie inteira em perigo. São justamente a escola/universidade, o restaurante, o bar, a igreja, a academia, as boates e discotecas que estão sendo identificados como locais com eventos de super-espalhamento do novo coronavírus (suprespreading events) que poderiam ser evitados visto que os indivíduos oportunisticamente decidem se expor ao perigo.
Mais do que nunca teremos que utilizar e disseminar os vários substitutos virtuais para manter os mínimos níveis de estimulação e atuação social, os quais ajudam a manter a sanidade corporal e mental (apesar de eles também levarem a alguns prejuízos). Então, nesse dia de Darwin é importante participar dos vários eventos online, e entender a problemática dos descompassos evolutivos para tentar ao máximo minimizar mortes evitáveis decorrente da irresponsabilidade epidemiológica de alguns poucos.