6 anos de MARCO EVOLUTIVO e Feliz 2014
Feliz 2014 a todos seguidores, leitores e fãs do MARCO EVOLUTIVO! Iniciamos esse ano novo comemorando o singelo fato de que em novembro de 2013 completamos não UM, nem DOIS, TRÊS, QUATRO ou CINCO, mas sim 6 anos de existência. Agradeço muito todos os comentários, elogios e críticas recebidos e também aos mais de cem novos seguidores no Facebook que tivemos no ano passado, já estamos com 368. Continuem sempre acessando e compartilhando links do blog com os amigos.
Em 2013, grandes acontecimento acabaram freando um pouco a escrita no blog. O ano passado foi meu primeiro ano completo como professor universitário, então tive bastante trabalho, ministrei muitas aulas e por isso estou muito realizado. Estou desde abril como professor substituto no Departamento de Processos Psicológicos Básicos do Instituto de Psicologia da UnB e venho ministrando a disciplina de Introdução a Psicologia para graduandos dos mais variados cursos. Estou gostando muito da UnB e de morar em Brasília.
No ano passado também me casei com a mulher da minha vida, a Jaroslava Varella Valentova, Antropóloga Tcheca. Estamos muito felizes e realizados morando juntos, alternando entre a vida no Brasil e na República Tcheca. Enfrentamos o desafio de desenvolver uma cerimônia matrimonial humanista evolutivamente relevante com conteúdos de Psicologia, Biologia e Antropologia que ficou bem interessante e agradou a todos. Afinal, a ciência tem muito a dizer sobre o amor e as parcerias românticas.
Mesmo com apenas 5 postagens, de janeiro de 2013 até janeiro de 2014 o MARCO EVOLUTIVO quase 15 mil visitas. Tivemos mais de 12 mil visitas no Brasil, 682 de Portugal e 534 dos EUA. As outras visitas foram de Angola, Moçanbique, Reino Unido, Índia, México, Espanha, França, República Tcheca, Canadá, Alemanha, Cabo Verde, Japão, Filipinas, Colômbia, Irlanda, Argentina, Chile, Suíça e Equador, todos com 10 ou mais visitas.
Os 5 posts mais lidos de 2013 foram: 1-“Lamarck – A Verdadeira Idéia Errada”, 2-“O sexo chimpanzé e o conflito de gerações”, 3- “Dicas de Livros em Psicologia Evolucionista”, 4-“Seleção Sexual, de Parentesco, Natural, Artificial e Social”, e 5-“Festival de Vídeos: Evolução da Sexualidade Humana I”. O destaque do ano passado foi a comemoração dos Cem anos Sem Alfred Russel Wallace, quando celebramos a vida e a obra desse evolucionista esquecido por muitos.
O presente evolutivo desse começo de ano vem também em forma de celebração. Em 2013, fez 50 anos da famosa publicação de Nikolaas Tinbergen Sobre os Objetivos e Métodos da Etologia, onde ele descreve as famosas Quarto Questões de Tinbergen para o estudo do comportamento animal.
Então aí vai um número especial do Human Ethology Bulletin inteiro em homenagem ao meio século do paper On Aims and Methods do Tinbergen, que está bem interessante.
E aí vai ainda um artigo também em comemoração às 4 perguntas de Tinbergen que faz um retrospecto e atualização interessantes.
Fiquem com o vídeo do CrashCourse Biology sobre comportamento animal onde as quatro questões são abordadas de forma descontraida.
Parabéns Mendel pelos 190 anos e pelo legado!
Hoje, dia 20 de junho, estamos comemoramos os 190 anos de Gregor Johann Mendel, considerado pai da genética, mas com uma vida bem longe de uma celebridade. O Pai da Genética é famoso, mas pouco conhecido.
Então nossa intrépida equipe de jornalistas do MARCO EVOLUTIVO viajou até o Mendel Museum no seu Mosteiro Agostiniano em Brno, na República Tcheca, para trazer a você, em primeira mão, mais do que sopa de letrinha sabor ervilha.
Muitos acham que ele nasceu em dia 22 de julho de 1822, mas esse foi o dia em que foi batizado. Muitos acham que ele nasceu na Áustria, mas sua cidade de nascença e seu mosteiro estão na República Tcheca, que é considerada o Berço da Genética. Naquele época, a atual Hynčice, cidade natal, era Heizendorf, a atual Brno era Brünn, e a atual região da República Tcheca era parte do Império Austro-Húngaro e a língua oficial era o alemão.
Filho de dona Rosina e seu Anton Mendel, humildes camponeses, Johann Mendel sempre gostou de estudar. Até antes de completar 18 anos ele já ganhava a vida dando aulas particulares para outros alunos. Depois estudou Matemática, Física, Filologia, Filosofia prática e teórica, e Ética no Instituto de Filosofia de Olomouc, também Rep. Tcheca. Aos 21 anos seguiu os estudos ao ingressar no Mosteiro Agostiniano em Brno, onde incorporou o primeiro nome, Gregor.
No Monsatério teve mestres que o incentivaram muito nos estudos, o Abade Cyril František Napp foi um deles. Ele foi quem construiu a avançada estufa pra época, com 30 metros por 6 de largura, que ofereceu as condições excelentes para os experimentos de Mendel.
Aos 24 anos concluiu um curso de estudos agrícolas de frutas e vinicultura no Instituto Filosófico em Brno. Aos 29 anos o Abade Napp mandou e bancou os estudos de Mendel na Universidade de Viena, na Áustria. Lá ele estudou mais Física, Matemática e História Natural e teve aulas como Física Experimental, Anatomia e Fisiologia de Plantas e aulas práticas de utilização do microscópio.
Aos 32 anos com a estufa acabada de construir, Mendel colocou na prática seus conhecimentos ao estudar plantas, como feijões, chicória, plantas frutíferas, uva e principalmente ervilhas, nas quais descobriu as famosas Leis de Mendel. Ele também criou camundongos e abelhas, desenvolveu seu próprio tipo de apiário e ainda criou uma linhagem de abelha que se mostrou muito agressiva e teve que ser eliminada. Ele também sabia muito de astronomia e também de metereologia.
Dos 32 aos 42, trabalhou em seus cuidadosos experimentos com ervilhas (Pisum sativum). Aos 40 Mendel leu uma tradução em alemão do ‘Origem da Espécies’ de Darwin sublinhou e anotou em várias partes da obra. Ajudou a criar a Sociedade Austríaca de Meteorologia e foi co-fundador da Sociedade de Ciência Natural de Brno.
Aos 63 anos, 1865 apresentou o seu trabalho experimental em ervilhas em uma palestra intitulada “Experimentos sobre a hibridização de plantas” nas reuniões de fevereiro e março da Sociedade de Ciência Natural de Brno. Em 1866, Mendel publicou no jornal da Sociedade de de Ciência Natural de Brno sua palestra, o trabalho que fazer dele o Pai da Genética. Ele distribuiu cópias de seu manuscrito para vários cientistas, que foi ignorado por todos. Apesar de ter sido considerado sempre um ótimo professor, ele fracassou duas vezes em concurso para ser professor da Universidade de Viena.
Mendel percebeu que não herdamos as características físicas (hoje o fenótipo), mas sim os elementos, fatores particulados (hoje chamados de genes). E sua genialidade foi perceber esses fatores hereditários trabalham aos pares, nos gametas eles estão separados e na fertilização eles se unem em novas combinações. Apartir daí foi fácil perceber que alguns fatores dominavam outros ao gerarem as características físicas abrindo caminha para a genética moderna. Suas descobertas pioneiras foram ignoradas até o começo do seculo XX depois de sua morte em 1884 quando ficou consagrado.
É claro que assim que redescobertas muitos acharam contraditórias as idéias de herança particulada com a fluidez gradual da variação populacional necessária para o primeiro passo da Seleção Natural. Os mutacionistas iniciais não era Darwinistas por mais que fossem Evolucionistas. O próprio Darwin por ter abandonado o pensamento essencialista e valorização a variação individual acabou criando uma teoria de herança baseada na mistura de características, algo que para ele faria mais sentido com sua teoria.
Somente na década de 1940 que com o surgimento da Genética de Populações pode haver conciliações entre os geneticistas e os darwinistas. Eles concordaram que a evolução é gradual, que o principal motor da evolução é a seleção natural, que a hereditariedade é “dura” ou seja particulada, que o mesmo tipo de mecanismos genéticos é responsável pela variação fenotípica continua e discreta, que a macroevolução é a acumulação dos processos microevolutivos e a especiação é um processo de genética de populações.
Mendel morreu em 6 de janeiro 1884. Depois de uma vida posterior muito ocupada com a administração do monastério. Ele foi enterrado três dias depois, no Cemitério Central, em Brno. Em um obituário da Sociedade para a Promoção da Natureza, Agricultura e Geografia de 1884, n º 1 foi lido: “Suas experiências com híbridos de plantas abriu uma nova era.” Hoje, sabemos que ele realmente inaugurou toda uma gama possibilidades para explicar muitos fenômenos hereditários (híbridos, mutantes, clones, variação, efeitos ambientais no genoma, etc) e para o desenvolvimento de várias tecnologias de analise do DNA, como para solucionar crimes, por exemplo. Homenagem mais que merecida.
No mundo todo estão sendo celebradas suas realizações pioneiras para entendermos as questões fundamentais da hereditariedade. Pelo menos de três ganhadores do Prêmio Nobel vão dar palestras no Museu de Mendel mantido pela Universidade de Masaryk em Brno. Acesse o site das celebrações e façam a visita online ao Museu do Mendel.
Evolucionismo de Grande Alcance
Darwin anteviu que num futuro distante sua teoria iria transbordar do círculo da biologia e atingir outras esferas como a área de Humanidades. A cada dia estamos mais perto de concretizar essa revolução Darwinista e perceber que o evolucionismo, por ser um tema transversal integrador, permeia todos os assuntos. Um bom exemplo disso é o surgimento de uma revista online evolutivamente relevante chamada “Evolution:This View of Life Magazine”. Com o nome inspirado nas palavras de Darwin em que ao comentar sobre evolucionismo disse que há uma grandeza nessa visão da vida.
Criada em outubro de 2011, a revista online gera e agrega conteúdo evolucionista relacionado às seguintes áreas: Biologia, Palentologia, Cultura, Saúde, Artes, Tecnologia, Religião, Política, Mente, Economia e Educação. Mesmo com menos de um ano de existência essa revista já é um marco evolutivo na divulgação do evolucionismo em todo seu alcance interdisciplinar. Várias entrevistas foram filmadas via internet com pesquisadores de cada uma dessas área acima. A revista é fruto de uma parceria do The Evolution Institute com o Consórcio EvoS, com financiamento da National Scince Fundation.
Por trás da “Evolution:This View of Life Magazine” está David Sloan Wilson, professor de Biologia e Antropologia na Universidade de Binghamton no EUA. Ele tem se esforçado para expandir a influência da evolução em diversas áreas, como no ensino superior com o EvoS, nas políticas públicas com The Evolution Institute, nas cidades com o The Binghamton Neighborhood Project e na religião com o Evolutionary Religious Institute. É claro que como ele é fiel ao grupo dos selecionistas de grupo acaba usando a revista para se promover e promover sua área. Atualmente ela é o palco para discussões acadêmicas sobre o novo livro do Edward Wilson e a relevância da seleção de grupo. Felizmente cada uma das 11 áreas acima tem seu editor próprio o que garante uma certa pluralidade para a revista.
O surgimento da revista é mais inspirador. Um aluno da pós-graduação o EvoS na Universidade de Binghamton, chamado Robert Kadar, inspirado e motivado pelas leituras do Conciliência do Edward O. Wilson e do Evolution for Everyone do David S. Wilson vislumbrou a idéia dessa revista para catalizar a conciliência entre todas as áreas do conhecimento por meio do evolucionismo para todos.
Assim como a Evolution:This View of Life Magazine surgiu, uma nova geração de estudantes, vários biólogos, psicólogos e outros estão começando blogs de ciência engrossando o caldo da divulgação científica e evolucionista brasileira. Temos muito o que fazer num país com maioria religiosa e de pouca instrução. Ajude você também a promover a conciliação das áreas do saber.
Ades Egypti e seu Entusiasmo Contagiante
Era impossível ficar ao lado de nosso querido César Ades, que nasceu no Cairo, Egito, e não ser levado por seu entusiasmo contagiante. Conheci o César em 2003 no XX Enconto anual de Etologia (EAE) em Natal, em meu terceiro ano de graduação eu ainda não havia encontrado minha área de pesquisa. Lá depois de uma brilhante palestra sobre todos os EAEs anteriores eu estava mais do que cativado pela Etologia, principalmente voltada para os humanos. Ele autografou meu livro de resumo e me desejou um futuro brilhante.
Em meu último ano de graduação fiz um trabalho sobre a consciência animal e se não fosse um texto do César ter me tocado e me motivado não teria tirado da nota máxima.
Em 2004, ao final de meu bacharelado na Unesp de Bauru com Sandro Caramaschi, ex-aluno do Prof. César, fui conversar com ele para estudar possibilidade de um mestrado. Eu estava super nervoso, mas ele me deixou bem a vontade e no decorrer da conversa percebemos que estávamos em sentidos contrários: ele era um psicólogo mais voltado para o comportamento dos outros animais e eu um biólogo interessado no ser humano. Então, ele me indicou a Profa Vera Bussab que acabou sendo minha orientadora de mestrado e de doutorado no Bloco F do IP-USP, inaugurado pelo César enquanto diretor do Instituto anos antes.
Sua disciplina de pós sobre Comunicação Animal me forneceu bases sólidas para um estudo comparativo da musicalidade humana. Cada aula com ele era uma maravilha, ambiente descontraído, informações precisas e conexões muito bem elaboradas.
Fora as belas homenagens oficiais a ele realizadas pelo Instituto de Psicologia da USP, muitas palavras relevantes e tocantes foram colocadas aqui na nossa Série Especial do ScienceBlogs Brasil em homenagem ao César, o Grande ao meu ver.
- Um memorial ao Cesar Ades
- Sobre o falecimento de César Ades.
- Ao mestre, com carinho
- Uma homenagem ao mestre César Ades
Eu (depois de ficar uma semana e meia fora do ar devido a uma fratura e cirurgia no braço dois dias após seu falecimento) gostaria de acrescentar algo que julgo muito louvável sobre ele. César Ades era tão entusiasmado e curioso por conhecimento que ele não conseguia se conter em apenas dar aulas, fazer pesquisas, publicar, orientar, ter cargos administrativos, organizar eventos, ele também fazia e valorizava a divulgação científica.
Ao ser esse acadêmico generalista digno de um Da Vinci moderno, a divulgação científica não poderia passar em branco. Ele deu diversas entrevistas tais como a brilhante ‘Psicologia e Biologia – Entrevista com César Ades’, e a ‘Entrevista: César Ades estuda a evolução do comportamento animal’. Escreveu e deu várias contribuições para a Ciência Hoje Criança como explicando a importância da limpeza nos animais em ‘Tá limpo!’. Ele deu várias palestras e também participou de várias comemorações do Dia de Darwin. Esse ano, César compareceu ao Catavento Cultural para participar de um talk show com o Prof Nélio Bizzo. Como sempre tudo bem descontraído e informativo. Ele sempre frisava na importância de Darwin enquanto o primeiro psicólogo evolucionista. Sua importância como divulgador é crucial e assim como todas suas outras características irá continuar inspirando gerações de pesquisadores e admiradores.
Uma de suas mais atuais metas era a de reunir etólogos eminentes da América Latina para um simpósio debatendo origens, desafios e perspectivas futuras da área, de modo a gerar um livro em conjunto sobre as experiências em cada país e a semente de uma aliança Latino-Americana de Etologia. Reuniremos esforços para realizar essa grande ideia junto a alunos e profs.
Um dos mais tocantes comentários sobre o César pra mim foi o do Prof. Fernando Ribeiro quando queria destacar uma virtude dele.
“Quem o vê hoje, e encanta-se com seu entusiasmo, conhece o mesmo César Ades de 40 anos atrás. E foi esse entusiasmo que escolhi, a fim de destacar uma de suas virtudes, ao cumprimentá-lo, na ocasião de sua indicação para o Instituto de Estudos Avançados, quando disse a ele: Fui percorrendo suas marcas, a inteligência, a erudição, o caráter… mas como me impus uma escolha, fiquei com o entusiasmo, sem o qual a inteligência não se acende, a erudição não se atinge, o caráter não se transmite. Sim, porque César Ades é, e sempre foi, um professor. Sua extroversão e a expressividade com que se comunica constituem sua face visível”
Fique agora com os dois vídeos de uma entrevista de César Ades concedida ao programa Trajetória da TV USP em 2011 e com o vídeo mais recente do César Ades no Dia de Darwin. Assim um pouco dele e seu entusiasmo sempre viverá em nós de modo a podermos contagiar toda uma outra geração com suas idéias e atitudes.
Dia de Darwin 2012
Jay Belsky e a Teoria Evolucionista da Socialização
Jay Belsky – Childhood Experience and Development of Reproductive Strategies: An Evolutionary Theory of Socialisation Revisited from EvoS on Vimeo.
George C. Williams (1926 – 2010) Grande Evolucionista

“In twenty or thirty years, medical students will be learning about natural selection, about things like balance between unfavorable mutations and selection. They will be learning about the evolution of virulence, of resistance to antib
iotics by microorganisms, they will be learning about human archaeology, about Stone Age life, and the conditions in the Stone Age that essentially put the finishing touches on human nature as we now have it. These same ideas then will be informing the work of practitioners of medicine, and the interactions between doctor and patient. They’ll be guiding the medical research establishment in a fundamental way, which isn’t true today. At the rate things are going, this is inevitable. These ideas ought to reach the people who are in charge — the doctors and the medical researchers — but it’s even more important that they reach college students, especially future medical students, and patients who go to the doctor.”
2nd Biological Evolution Workshop Ao Vivo Online

O evento ocorrerá em Porto Alegre de 16 a 18/11 contará com 10 conferências internacionais com convidados ilustres e sobre os aspectos mais atuais da Biologia Evolutiva.
É muito raro termos a chance de acompanhar um evento de peso como esto pel net. A outra oportunidade dessa que tivemos foi a do evento REvolución Darwin no Chile. Assistir às conferências e debates ao vivo online é uma oportunidade única importante para todos aqueles interessados que, por diversos motivos, não puderam se inscrever e viajar até Porto Alegre. Então não percam essa super dica evolutiva.
Psicologia Evolucionista no Milênio
Acabo de voltar de Natal onde participei de um mês de estudos em Psicologia Evolucionista que culminou no primeiro evento no Brasil, o “Simpósio Internacional Psicologia Evolucionista no Milênio: Plasticidade de Adaptação”. Foi um evento muito bom, inesquecível. Não estava tão lotado aponto de você não conseguir conhecer ninguém, nem tão vazio aponto de você se desanimar. A organização estava muito boa, o coffebreak também e é claro que os speakers nas palestras e os alunos nos pôsteres deram um show, tudo em inglês.
Foram cerca de 60 pôsteres abordando temas dentre comportamento social, moral, reprodutivo, cognição, investimento parental, desenvolvimento, família, tópicos teóricos e metodológicos, psicopatologia, linguagem, teoria da mente, comportamento alimentar, arte e religião. O grande destaque vai para os pôsteres ganhadores que (se eu não me engano) foram: Discounting the future: psychological and context variables de Tânia Abreu da Silva Victor, Dandara de Oliveira Ramos, Maria Lucia Seidl-de-Moura, and Luciana Fontes Pessoa; Like father like son: preference for babies that resemble their fathers in Brazilian mothers de Luísa Helena Pinheiro Spinelli, Maria Bernardete Cordeiro de Sousa, and Maria Emilia Yamamoto; e o Cooperate or retaliate? Influence of social cues on group categorization de Diego Macedo Gonçalves, Ana Carolina Morais Sales, and Maria Emilia Yamamoto.
As palestras foram as seguintes: na conferência de abertura o casal Martin Daly e Margo Wilson da McMaster University Canadá falaram sobre relações de parentesco em Kinship in human Evolutionary Psychology. No dia seguinte Maria Emilia Yamamoto da Federal do Rio Grande do Norte falou sobre identificação de coalizões em Group categorization and ethnocentrism: an evolutionary perspective e em seguida Martin Daly e Margo Wilson falaram sobre características dos homicídios Homicides. Depois do almoço Paulo Nadanovsky da Estadual do Rio de Janeiro falou sobre agressão contra crianças em Can evolutionary theory help identify circumstances conducive to child physical abuse? E em seguinda Klaus Jaffe da Universidad Simon Bolívar, Venezuela falou sobre a psicologia dos cientistas em Is there such thing as an evolution of scientific personalities? No final do dia Carol Weisfeld da University of Detroit Mercy, EUA falou sobre o relacionamento romântico estável em Long-term partnership: what it means in the postmodern era.
No último dia, Heidi Keller da Universität Osnabrück, Alemanha falou dos modelos de socialização infantil em The expression of positive emotionality in early socialization strategies in different ecocultural environments. Depois do almoço Ricardo Waizbort da Fiocruz, Rio de Janeiro falou sobre a escolha feminina em The evolutionism of the “O cortiço” of Aluísio Azevedo, depois Martin Brüne da Universität Bochum, Alemanha sobre psicopatologias em Towards an evolutionarily informed approach to understanding and testing mental disorders. E no final Suzana Herculano-Houzel da Federal do Rio de Janeiro falou sobre as regras de construção dos cérebros de roedores e primetas em Not that special: the human brain as a linearly scaled-up primate brain. Todos adoraram o simpósio e as lindas praias de natal.
A própria Suzana Herculano-Houzel em seu blog “A neurocientista de plantão” disse que gostou, ensinou e aprendeu muito nesse Simpósio Internacional de Psicologia Evolucionista. Ela falou sobre homens mulheres e evolução e percebeu que o adaptacionismo nem sempre é intuitivamente óbvio, com o caso das mães baterem nos filhos mais do que os pais, os quais têm menos certeza da paternidade. Ela também falou que gostou muito de se ver alvo de tietagem e recebeu vários elogios nos comentários. Eu mesmo pedi um autografo dela no livro Charles Darwin Em um Futuro não tão distante onde ela tem um capítulo.
Estreou também na Psico Evolucionista o Ciência Vista, grupo do qual participo interessado na divulgação científica cotidiana por meio de produtos, alguns feitos a mão, como camisetas científicas. As camisetas em comemoração o bicentenário de Darwin e dos 150 anos do Origem das Espécies fizeram o maior sucesso, muita gente gostou, comprou e vestiu a camisa da ciência.
Em resumo foi um excelente coroamento do Projeto do Milênio em Psicologia Evolucionista, o primeiro da área da Psicologia no país, que alcançou muito mais do que suas metas previstas. E principalmente graças à dedicação das professoras Maria Emilia Yamamoto e Maria Lucia Seidl-de-Moura o Instituto do Milênio catalisou o nascimento de uma área sólida, produtiva e interdisciplinar em Psicologia Evolucionista no Brasil.
Psicologia Evolucionista e Natureza Humana

Sugiro às pessoas que antes de despejarem seus “ismos” indignados: biologismo, determinismo, sexismo, naturalismo, reducionismo, fatalismo, conformismo entre outros, leiam o texto sobre se nós somos realmente dominados por nossos genes ou apenas por mal-entendidos. E descubram quantas noções preconceituosas sobre a natureza humana temos enraizadas.
Os livros estão mais voltados para resolver esses entendimentos equivocados são o O Que Nos Faz Humanos de Matt Ridley e o Tabula Rasa de Steven Pinker. Nesses livros uma coisa fica bem clara, que nossa velha noção sobre a natureza humana é uma das coisas que devemos desaprender e deixar muito dos preconceitos que impedem nosso entendimento sobre a Psicologia Evolucionista para trás.
E o programa “Coisas que nunca deviamos aprender” sobre Psicologia Evolucionista, em espanhol, que veremos abaixo, trata justamente da questão das novas noções sobre a natureza humana que estão desafiando concepções pautadas em entendimentos equivocados. Com a participação de Steven Pinker, ricamente ilustrado e com uma discussão final sobre as mudanças de paradigmas este programa tem três vídeos bem interessantes.
No primeiro vídeo veremos a discussão sobre nossa tendências agressivas e medos de cobra, sobre a antiga visão da tabula rasa, as inter-relações entre natureza e criação, as ligações com o projeto genoma e com a discussão das células tronco, veremos ainda que existe um grande preconceito frente as sociedade de caçadores coletores tribais, mas na verdade as habilidades mentais são as mesmas em todas culturas.
No segundo vídeo serão discutidas as diferenças entre homens e mulheres, seu desenvolvimento ontogenético, as influências mútuas entre cultura e circuitos cognitivos inatos, veremos que os seres humanos não têm menos se não mais instintos do que os outros animais, e como exemplo a linguagem, os tabus sexuais, ainda veremos as diferencias entre os sexos nas estratégias sexuais e o movimento hippie enquanto mais uma utopia sexual.
No último vídeo veremos o mal-entendido da suposta impossibilidade de mudança social, analisaremos a tabula rasa para perceber que diferença não é desigualdade, e na conversa final teremos a discussão sobre a revolução científica e as mudanças de paradigmas. E mudança é o que está acontecendo em todo o mundo quando se fala da natureza humana, pois como Hamilton disse em 1997 “a tabula da natureza humana nunca foi rasa e agora está sendo decifrada”.
Somos dominados por genes ou por mal-entendidos?


Teste seus conhecimentos sobre a Psicologia Evolucionista descobrindo o que ela não é.
- … não diz que comportamentos adaptativos estão presentes no nascimento.

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… não diz que nosso comportamento é geneticamente determinado.
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… não diz que não temos flexibilidade comportamental.

- … não diz que comportamentos são adaptações.
- … não diz que não precisamos aprender nada.
Pensar que instinto e aprendizagem são coisas opostas, excludentes ou inversamente proporcionais é um erro muito comum. Trata-se do velho debate inato x aprendido. Justamente porque temos instintos é que somos capazes de aprender. Não somos umas espécie que aprende muito por que temos menos instintos, mas sim por que temos muitos. Os módulos mentais são abertos e ávidos por informações ambientais. Portanto, é pela via do aprendizado que manifestamos nossa natureza, e pela via da natureza que temos as propensões
para aprender conteúdos culturais e assim participar do mundo social. No paralelo do computador é fácil perceber que até o programa de edição de texto está preparado para aprender, pois inserimos novos tipos de fontes, novas figuras. O programa aprende até palavras novas, se as adicionamos ao dicionário. E isso possibilita inclusive a impressão de mais textos diferentes, a partir de um único programa;
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… não diz que a cultura não é importante.
Como a Psicologia Evolucionista reconhece que temos muitos módulos mentais, que são abertos e calibráveis, ou seja, plásticos e maleáveis pelo ambiente, e ainda, especializados em gerar e processar conteúdos culturais, segundo sua perspectiva, o ser humano é biologicamente cultural. A cultura não é algo antinatural alheio à biologia humana. A cultura é parte essencial da natureza humana, influencia e é influenciada por nossas adaptações mentais. Portanto, a diversidade cultural não é a prova de que o comportamento humano independe de adaptações mentais, mas sim de que nossas adaptações mentais são ricamente voltadas para os contextos culturais em que crescemos;
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… não diz que as pessoas são idênticas nos comportamentos.
Assim como todas as pessoas têm um coração, dois pulmões, dois olhos e um estômago, todas as pessoas têm as mesmas adaptações cognitivas. A história de vida e o contexto ecológico-cultural de cada pessoa influencia seus órgãos, o que faz com que esportistas tenham coração e pulmões diferentes de fumantes. Assim como as adaptações mentais de cada pessoa também são fruto de uma interação única com seu ambiente, o que torna cada pessoa única. Mesmo que duas pessoas brasileiras tenham as mesmas adaptações mentais voltadas ao aprendizado da linguagem, e tenham o mesmo contexto cultural da língua portuguesa, elas podem ter sotaques e gírias diferentes segundo as regiões específicas em que cresceram. E isso não é a prova de que elas não têm adaptações mentais igualmente, mas sim de que suas adaptações mentais são abertas à informação ambiental que varia de região pra região;
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… não diz que comportamentos adaptativos estão fora de nosso controle.
A Seleção Natural moldou filogeneticamente adaptações mentais que geram tanto comportamentos adaptativos mais controláveis – como a detecção de trapaceiros e a escolha de parceiros –, quanto os mais incontroláveis – como os medos. Decisões rápidas frente a riscos reais de morte, assim como medo de cobra ou de altura, são em geral mais incontroláveis, já que uma informação ambiental e
specífica potencialmente letal dispara a reação adaptativa. Mas o fato de serem adaptativos e pouco controláveis não implica a impossibilidade de agirmos de modo a minimizar seus efeitos negativos. Saber qual informação ambiental influencia o aparecimento de tal comportamento – como ver uma cobra ou olhar para baixo na roda gigante – aumenta nossas chances de controlar por antecipação nossas tendências incontroláveis;
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… não diz que todo comportamento atual é adaptativo.
Nossos módulos mentais foram selecionados no ambiente ancestral, ou seja, no ambiente de nossa adaptabilidade evolutiva e não no ambiente moderno e tecnológico atual. Então, pelo viés da Psicologia Evolucionista muitos de nossos comportamentos atuais são compreendidos como não adaptados, por estarmos deslocados de nosso ambiente natural. Alguns comportamentos que eram adaptativos no ambiente ancestral atualmente podem não ser, a exemplo de comer doces e gordura em excesso. No ambiente ancestral era adaptativo acumularmos o máximo possível de calorias em uma única refeição, pois não havia abundância de alimentos tal como ocorre hoje. Outros exemplos vão no sentido oposto. É o caso da prática de atividades físicas. Fomos selecionados em um momento em que fazíamos grande quantidade de exercícios físicos, pois o modo de locomoção era andar. Contudo, hoje, no ambiente urbano, sobretudo, há disponíveis facilidades como os vários tipos de veículos e até mesmo dispositivos como as escadas rolantes que auxiliam a locomoção humana. Isso implica em pouca mobilidade física e acaba gerando riscos para a saúde;
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… não diz que as adaptações são perfeitas.
Mesmo se estivéssemos em nosso ambiente ancestral vivendo como caçadores-coletores nossas adaptações mentais seriam falíveis e imperfeitas. Se a seleção natural mantivesse um perfeito medo de cobras de modo a que as pessoas jamais saíssem de suas casas, seriam drasticamente reduzidos os casos de mortes por picada de cobra. No entanto, haveria um custo alto a pagar: a capacidade exploratória humana seria inexistente, o que resultari
a em falta de alimento, e conseqüentemente nos levaria à morte. As adaptações não são perfeitas porque se fossem muito eficazes seus custos ultrapassariam seus benefícios à sobrevivência e à reprodução. Além disso, as pressões seletivas são cegas quanto a um objetivo final a ser atingido futuramente pela adaptação. Sendo assim, o modo como um problema adaptativo foi solucionado pela seleção natural, ou seja pelo relojoeiro cego, quase nunca equivale àquele pelo qual um engenheiro o solucionaria, partindo do zero e pensando em simplicidade, eficiência e economia. Somado a este fato, não se pode esquecer que as adaptações nunca são exatamente iguais dentro da população, ou seja, mesmo se ela tiver atingido um nível ótimo, este nível será melhor para alguns do que para outros, pois sempre existe uma variação individual, que é a matéria-prima da evolução;
- … não diz que há genes para o egoísmo.
A abordagem do gene egoísta não é uma abordagem molecular para o egoísmo. O gene egoísta não é “aquilo” que pessoas egoístas têm. Muito menos a teoria diz que todos os genes têm desejos conscientes egoístas, como se eles só “pensassem” em si próprios. Os genes não possuem desejos conscientes. Eles simplesmente se auto-replicam. Aqueles que não se auto-replicaram não sobreviveram e não estão representados hoje. O padrão de auto-replicação cega produz resultados que por vezes são interpretados como se determinados genes tivessem interesse em ser mais representados nas próximas gerações. Tais genes não “têm” realmente esse interesse, mas agem cegamente como se tivessem. Trata-se de uma analogia com os interesses humanos. Usa-se a voz ativa e coloca-se intenção pessoal onde não há;
-
… não diz que as pessoas inconscientemente visam aumentar a replicação de seus genes nas gerações seguintes.
Confundir os interesses dos genes com os das pessoas é uma das principais confusões feitas com a Psicologia Evolucionista. Exemplo: “O adultério não pode ser uma estratégia para propagar os genes egoístas, pois os adúlteros tomam providências contraceptivas”. O desejo sexual e o desejo de ter filhos não são uma estratégia das pessoas para propagarem seus genes. São uma estratégia das pessoas para obter os prazeres do sexo e os prazeres de
serem pais, e esses prazeres são a estratégia dos genes para propagarem-se nos filhos. Gene egoísta não implica em uma pessoa que faz tudo pensando em seus genes. As pessoas não pensam no que seria melhor pra seus genes, elas simplesmente comem pelo prazer de comer, pra matar a fome e por qualquer outra crença e desejo. Já os genes modelaram o desejo de comer quando se replicaram em pessoas que se alimentavam bem e conseqüentemente sobreviviam e reproduziam. O interesse dos genes e o interesse das pessoas estão separados por diferenças gigantescas em unidades de tempo. O interesse pessoal é pautado pelo hoje, ontem, amanhã, mês que vem, vida toda, enquanto o interesse do gene é pautado pela persistência de pressões adaptativas em sucessivas gerações no ambiente ancestral ao longo de milhões de anos;
Como você pôde perceber, nós vivemos em uma unidade de tempo mais rápida que a de nossos genes. Isso implica em não sermos dominados e controlados por eles. Somos livres para escolher não comer doces, se assim quisermos, e livres para seguir o propósito de não ter filhos, se assim o desejamos, livres para abdicar do sexo e até da própria sobrevivência. Temos esses pequenos viéses herdados em comer doce, ter filhos, praticar sexo e sobreviver, o que torna mais provável realizarmos tudo isso e mais difícil resistir a esses comportamentos, por sermos herdeiros de ancestrais que sobreviveram a ponto de deixar descendentes. Tais propensões foram moldadas no ambiente ancestral e não no atual. Então somos livres para fazermos o que bem entendermos agora com nosso corpo e com nossa mente.
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… não é sexista ou machista.
A Psicologia Evolucionista vem descobrindo muitas diferenças psicológicas inéditas entre homens e mulheres. Essas descobertas têm gerado confusão e muitos apregoam ser esta uma teoria baseada em machismo ou sexismo. Essa confusão vem de três problemas: Primeiro, a generalização ingênua. Assim, dizer que os homens são, em média, maiores que as mulheres não significa que todos os homens sejam mais altos do que todas as mulheres. Dizer que as mulheres têm mais fluência verbal que os homens não quer dizer que todos os homens sejam praticamente mudos. Depois vem
o preconceito. O preconceito ocorre quando ingenuamente julgamos a priori uma pessoa pela média dos atributos de seu grupo. Dizer que homens têm mais facilidade para a localização espacial não habilita ninguém a destratar, desmerecer ou desqualificar uma mulher por seu modo de dirigir. Finalmente vem a confusão entre diferença e desigualdade. Nenhuma diferença anatômica ou mental entre homens e mulheres implica qualquer julgamento de valor. Todos os seres humanos devem, por princípio, ter iguais direitos e oportunidades. Não há incompatibilidade entre sermos diferentes e termos garantias de igualdade de direitos;
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… não embasa julgamentos morais, nem justifica nossas ações.
Confundir explicações científicas com recomendações ou justificativas morais é o erro mais perigoso, por seu forte conteúdo emocional. É conhecido como falácia naturalista e implica numa nivelação equivocada entre o “é” das explicações descritivas e o “deve ser” das recomendações morais. Enquanto cientistas – cientes de que todo conhecimento tem um grau de incerteza – usam o verbo “dever” no sentido de “haver uma probabilidade de” para explicar a previsão de uma possibilidade, como na frase “Se existirem componentes herdáveis na propensão ao estupro e se alguns estupros tiverem gerado filhos, então deve ter havido uma pressão seletiva favorecendo as propensões envolvidas no estupro”; Outras pessoas ouvem o verbo “deve” no sentido de “ser moralmente preferível” e acusam esses pesquisadores de estar justificando, ou naturalizando um ato brutal e criminoso, o que não é verdade. Não somos escravos das adaptações mentais, uma vez que a própria seleção por flexibilidade de repertório conforme o contexto favorece um controle consciente dos nossos comportamentos, como a infidelidade. E, sendo um ato consciente, ele não isenta a culpabilidade daqueles que, ao satisfazerem seus desejos irresponsavelmente, expõem parceiros a danos à saúde pelo sexo desprotegido e à confiança pela traição. Nossas propensões mentais não são desculpa para nenhum ato danoso;
Causas apontadas
Por que esses mal-entendidos acontecem com tanta freqüência? Provavelmente não existe uma resposta única. Diferentes explicações foram dadas, não necessariamente excludentes.

A primeira fonte de explicação foca a causa dos mal-entendidos em nossos próprios padrões cognitivos de processamento de informações. Temos a tendência a simplificar qualquer informação para reduzir a demanda por recursos cognitivos e um forte desejo de gerar previsões a partir de casos específicos, o que nos faz incorrer na generalização. Quando esses padrões cognitivos são usados na tentativa de entender a relação entre gene, ambiente e comportamento, facilmente caímos nas supersimplificações como “gene gay” ou “gene da felicidade”, na tentativa de se aplicar o modelo mendeliano, que é simples, ao comportamento, que não o é. O desenvolvimento ontogenético é uma complexa interação singular entre genes, seqüência temporal dos ambientes externos e eventos aleatórios. Por isso, ainda não foi desenvolvido um modelo didático para descrever a influência genética no comportamento de forma lógica, como no modelo mendeliano, em que um gene é igual a uma característica.

Outra fonte de mal-entendidos envolve a aparente simplicidade da teoria da evolução. A facilidade de apreender o conceito de seleção natural leva as pessoas a pensar que entenderam completamente a evolução depois de um rápido contato com a teoria. Saber o modo darwinista de explicar o tamanho do pescoço da girafa não garante pleno entendimento do evolucionismo, principalmente quando aplicado ao comportamento humano.

Valores morais e condição animal


Agora que sabemos algumas causas dos preconceitos e mal-entendidos e sabemos como resolvê-los, faça um teste: busque notícias sobre ciência que envolvam genes, comportamento e psicologia evolucionista e veja se consegue identificar algum mal-entendido. Será mesmo que depois de ler esse texto você já está “vacinado” contra os mal-entendidos? Você agora sabe dizer o que está errado quando se fala em linguagem e infidelidade inatas? Você ainda acha que estudar diferenças entre homens e mulheres na perspectiva evolucionista é dar base moral para a dominação masculina? Considera mesmo que o fato de sermos animais nos torna escravos dos nossos genes?
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…Psicologia Evolucionária, pois esta é uma tradução errônea do inglês Evolutionary Psychology.
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…Psicologia Evolutiva, pois essa terminologia designa a Psicologia do Desenvolvimento. A teoria em que a Psicologia Evolucionista se embasa é evolutiva, logo a disciplina é evolucionista. Segundo um artigo que padroniza as traduções dos termos em inglês da área de Etologia publicado em 2002 por Yamamoto e Ades, Evolutionary Psychology no Brasil é Psicologia Evolucionista.
Referências
BUSSAB, V. S. H.; RIBEIRO, F. J. L. Biologicamente cultural. In M. M. P. RODRIGUES; L. SOUZA; M. F. Q. FREITAS (Orgs.). Psicologia: Reflexões (in)pertinentes. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.
LEWONTIN, R. A Tripla Hélice– Gene, Organismo e Ambiente. Companhia das Letras, 2002.
MEYER, D.; EL-HANI, C. N. Evolução: o sentido da biologia. São Paulo: UNESP, 2005.
OTTA, E.; RIBEIRO, F. J. L.; BUSSAB, V. S. R. (2003). Inato versus adquirido: Persistência de uma dicotomia. Revista de Ciências Humanas. Florianópolis, 2003. 34, 283-311.
PINKER, S. Tábula rasa. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
RIDLEY, M. O que nos faz humanos. Rio de Janeiro: Record, 2004.