150 anos do livro A Descendência do Homem e a Seleção Sexual de Darwin
Neste dia de 24 de fevereiro há exatos 150 anos foi publicado em Londres com dois volumes de 450 páginas o The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex de Charles Darwin. O livro foi um marco para o estudo da evolução humana e aqui no MARCO EVOLUTIVO não poderíamos deixar de celebrar esta data. Originalmente a ideia de Darwin era apenas ter um capítulo sobre humanos em seu livro The variation of animals and plants under domestication de 1866, mas como o livro já estava grande ele resolveu fazer em separado um pequeno ensaio sobre nossa ancestralidade primata e a seleção sexual, o que acabou crescendo e virando os dois volumes do The Descent of Man em 1871. Neste livro Darwin finalmente pode desenvolver tudo o que ele se referiu ao final do Origem das Espécies quando disse que, por conta da evolução por seleção natural, no futuro muita luz seria lançada sobre a origem dos humanos e nossa psicologia e história.
Intuitivamente sempre nos parece que a diferença psicológica entre humanos e outros primatas é enorme, tanto que até o Alfred Wallace abandonou a explicação evolucionista ao se tratar da mente humana por achar pouco possível de que toda nossa capacidade intelectual tenha evoluído naturalmente em contextos tribais aparentemente pouco exigentes por grandes inteligências. Muito do The Descent é uma reposta ao desafio de Wallace. Darwin argumenta que todas as nossas características psicológicas podem ser encontradas em algum grau em outras espécies, incluindo capacidades para a música, a beleza, e a moralidade. É por isso que numa carta a Wallace Darwin diz que a evolução humana era o maior e mais interessante problema para o naturalista.
Outra noção popular na época era a de que toda a exuberante beleza na natureza teria sido magicamente criada para satisfazer os humanos que seriam o ápice da evolução. Graças a Darwin e anos de pesquisa subsequente, hoje sabemos que a evolução não tem ápice e que somos tão únicos e tão especiais quanto cada uma das outras espécies. No The Descent Darwin argumenta que a beleza sonora e visual encontrada no mundo animal evoluiu naturalmente pelo processo de seleção sexual. Indivíduos mais vistosos e sonoros eram preferidos na busca por um parceiro sexual, o que ao longo de muitos ciclos de seleção, dá origem a cada vez mais beleza.
A evolução dos armamentos como chifres era mais facialmente explicada pela competição entre machos o que deixara as armas mais eficientes e maiores. Mas para explicar a evolução da beleza era necessário perceber que as fêmeas das outras espécies também têm senso estético e que a variação nesse senso estético era a pressão social favorecendo a evolução dos ornamentos animais. Portanto, para Darwin a beleza do pavão ou da ave do paraíso não necessariamente precisa indicar uma qualidade de sobrevivência, basta ela ser agradável o suficiente para as fêmeas da espécie que a ornamentação poderia evoluir sendo um fim em si mesma.
Atualmente como parte das celebrações do sesquicentenário do The Descent, diversas iniciativas tentam resgatar o que Darwin acertou e o que Darwin errou no livro, e todos o desdobramento mais atuais nos dois tópicos centrais do livro: evolução humana e seleção sexual. O livro A Most Interesting Problem: What Darwin’s Descent of Man Got Right and Wrong about Human Evolution apresenta uma releitura da perspectiva atual de cada capítulo relativo ao ser humano. Está sendo muito bem avaliado e me pareceu muito interessante tanto para quem quer se atualizar sobre evolução humana quanto para quem quer se aprofundar nas hipóteses do The Descent. Em Darwin, sexual selection, and the brain Micheal Ryan faz uma revisão das várias linhas de pesquisa relacionadas à ideia da Darwin sobre a evolução da beleza sendo um fim em si mesma. Em Darwin’s closet: the queer sides of The descent of man (1871), Ross Brooks ressalta como Darwin integrou a ideia de variação individual nos assuntos da seleção sexual o que foi fundamental para o nascimento da sexologia moderna. No Periódico Evolutionary Human Sciences existem uma compilação de artigos celebrando os 150 anos do The Descent, por enquanto com 3 artigos e com promessa de outros mais por vir.
Claro que como todo livro, o The Descent tem várias limitações e vieses de época, mas nele Darwin deixou claro que as origens evolutivas dos humanos podem sim ser desvendadas. E nesse sentido enquanto um programa de pesquisa a ser desenvolvido, Darwin deu uma inestimável contribuição à evolução humana. E, se percebermos como aspectos morfológicos, biogeográficos, interespecificamente comparativos, mas também psicológicos e comportamentais estão integrados, o The Descent pode ser considerado bem moderno. Isto porque, de lá para cá, ainda são poucos biólogos focando na psicologia e no comportamento, e pouco psicólogos focando na evolução. Felizmente as áreas estão cada vez mais se integrando e talvez um dia cheguemos ao grau de integração que o próprio Darwin expressou 150 atrás.
Dia de Darwin 2021 e os 150 anos do “Descendência do Homem”
É chegado o Darwin Day 2021, a grande celebração internacional da biografia, publicações e legado de Charles Robert Darwin. Hoje, dia 12/2/21, Darwin faz 212 anos. E daqui 12 dias seu livro “A Descendência do Homem e Seleção em Relação ao Sexo” (1871) completa 150 anos de publicação, 12 anos depois do sesquicentenário do “Origem das espécies”. No “Descendência” (12 letras), Darwin aborda as semelhanças morfológicas, comportamentais e psicológicas entre humanos e não-humanos como evidência da ancestralidade comum, e discute a importância da seleção sexual para a evolução de algumas características compartilhadas. Darwin deixa claro que as diferenças que existem entre nós e os outros animais são de grau e não de tipo, e que todos os humanos vieram de um ancestral comum africano. Trata-se então de um dia, um mês e um ano muito especiais para o evolucionismo, especialmente aplicado ao ser humano.
Nos últimos 12 anos aqui no MARCO EVOLUTIVO, temos celebrado ininterruptamente o Dia de Darwin começando em 2008, passando pelo Bicentenário em 2009, e por 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, pela Década de Darwin Days em 2018, 2019 e em 2020. Por conta da pandemia muitos eventos no Brasil e no mundo todo estão sendo realizados online, o que facilita muito a participação e a disseminação das ideias e do legado de Darwin. Então busque online por Darwin Day 2021 e aproveite. Veja a discussão sobre Evolução Humana promovida pela Sociedade Brasileira de Genética.
No “Descendência” Darwin ressalta que epidemias, assim como guerras, são um importante fator de seleção fazendo com que a população humana não realize todo seu potencial de multiplicação. Seguindo esses primeiros passos de se abordar os surtos de doenças evolutivamente, especialmente num livro sobre a evolução do corpo e do comportamento humano, alguns psicólogos evolucionistas contemporâneos têm continuado essa linha durante a atual pandemia de COVID-19 causada pelo novo coronavírus. Temas como as tendências evoluídas de se evitar contágio por patógenos, as respostas comportamentais e psicológicas a ameaças, cooperação e cuidado em tempos de crise de saúde, entre outros, estão sendo abordados teórica e empiricamente no momento. Veja Seitz et al. (2020), Arnot et al., (2020), Dezecache et al. (2020), Troisi (2020), e Ackerman et al. (2020).
Um tema comum nessas novas publicações é o descompasso temporal evolutivo (evolutionary mismatch) entre o ambiente ancestral, para o qual boa parte das nossas tendências está adaptada, e o ambiente atual, que preserva cada vez menos semelhança com as condições ancestrais. Se o descompasso entre o ambiente de adaptação evolutiva ancestral e o contexto moderno urbanizado, pós-industrial e tecnológico pré-pandemia já era considerado pouco representativo do modo de vida caçador coletor ancestral, levando a vários problemas como o sedentarismo, obesidade, solidão e estresse crônico, esse descompasso só aumentou durante a atual pandemia de COVID-19. A pandemia de COVID-19 está sendo referida como o grande descompasso evolutivo.
O conceito evolutivo do descompasso é importante pois mostra que as adaptações não são absolutas, mas sim relativas a um ambiente específico. Quem conhece o tamanho do ambiente natural dos grandes felinos entende porque eles estão sempre andando para lá e para cá em seus recintos no zoológico. Assim como os leões, os humanos também vão tender a querer se comportar como se ainda estivessem em sua família estendida tribal rodeados de parentes e amigos, alta interação social diária, alimentação comunal, deslocamento diário e entretenimento em grupo ao redor da fogueira à noite.
Ao longo dos anos fomos criando substitutos como a televisão, cinema, o telefone, internet, email, vídeo chamadas, realidade virtual, educação à distância, esteira de corrida/caminhada, aplicativos de escolha de parceiros, pornografia, os documentários de natureza, etc. Mas, ainda assim, quanto mais perto do contexto original maior é o apelo psicológico, como de reencontrar a família no restaurante ou os amigos na escola/universidade ou no bar à noite, o futebol com os amigos no final de semana, a atividade física na academia de ginástica, a socialização nos cultos religiosos, e as oportunidades de se encontrar novos parceiros sexuais nas boates e discotecas.
Porém, durante a pandemia essa resistência de se deixar a vida moderna mais virtual/online ainda, que é compreensível e prevista à luz dos descompassos evolutivos, está colocando a sociedade e a espécie inteira em perigo. São justamente a escola/universidade, o restaurante, o bar, a igreja, a academia, as boates e discotecas que estão sendo identificados como locais com eventos de super-espalhamento do novo coronavírus (suprespreading events) que poderiam ser evitados visto que os indivíduos oportunisticamente decidem se expor ao perigo.
Mais do que nunca teremos que utilizar e disseminar os vários substitutos virtuais para manter os mínimos níveis de estimulação e atuação social, os quais ajudam a manter a sanidade corporal e mental (apesar de eles também levarem a alguns prejuízos). Então, nesse dia de Darwin é importante participar dos vários eventos online, e entender a problemática dos descompassos evolutivos para tentar ao máximo minimizar mortes evitáveis decorrente da irresponsabilidade epidemiológica de alguns poucos.
Feliz Darwin Day 2019 Brasil com 210 anos de Darwin e 160 do “Origem”
Apesar de tudo isso que tá aí, 2019 tem sim algum motivo para comemoração. Nesse 12 de fevereiro de 2019 estamos comemorando os 210 anos do meu, do seu, do nosso eterno bom velhinho Charles Robert Darwin. São inúmero eventos ocorrendo no mundo inteiro. Trata-se de uma celebração internacional da vida e obra de Darwin, os 160 anos da Origem das Espécies, bem como da Ciência e da Razão, dois pilares de sustentação da modernidade que andam imprudentemente cada vez mais desacreditados e desconsiderados. Um dia depois do Dia Internacional da Mulher e Menina na Ciência, hoje também é celebrado o Dia do Orgulho Ateu e a biografia de Darwin nos ensina que é preciso muita coragem, curiosidade e honestidade intelectual para eclodir do conforto da religião e encarar o mundo real de peito aberto. Em 12 de fevereiro de 1809 também nascia Abraham Lincoln que lutou contra a escravidão, assim como Darwin e sua família. É de notório saber que Darwin quando esteve no Brasil rejeitou a escravidão, disse nunca mais na vida voltar a visitar um país escravocrata, e até torceu para o Brasil seguir o exemplo do Haiti e fazer uma revolta contra os colonizadores.
O que Darwin pensaria do Brasil do século XXI? Onde empresas privadas por ganância e puro descaso destroem bacias hidrográficas inteiras envenenando seu ecossistema e toda sua biodiversidade e população, onde áreas de conservação ambiental estão sem recursos e sendo ameaçadas, onde governantes cada vez mais rejeitam a laicidade do estado e a teoria evolutiva, onde cada vez menos se faz para combater o trabalho escravo, chegando até a ilusória negação da existência da escravidão em nosso país, onde as terras indígenas continuam a ser invadidas e nossos nativos dizimados. Acho que Darwin até sentiria saudade do antigamente que ele outrora rejeitou assim que visse o quanto poderíamos estar avançados enquanto civilização, mas só que não. Com mais mulheres na política e na ciência muitos desses e outros desafios estariam solucionados.
Aqui no MARCO EVOLUTIVO, celebramos anualmente o Dia de Darwin começando em 2008, passando pelo Bicentenário em 2009, e por 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, e até a Década de Darwin Days em 2018. Nesse período de mais de uma década vi muitos cientistas se empolgarem pelo Darwin Day e começarem a divulgar, prestigiar e até organizar eventos alinhados com as celebrações internacionais. Afinal, com um legado desse não dá pra não se engajar de vez, ainda mais em tempos sombrios como os atuais, talkei.
Darwin, além de ser a razão do meu blogar anual, é simplesmente a pessoa que viabilizou a real integração entre matéria e propósito, forma e função, ancestral e atual, adaptado e vestigial, individual e populacional, armamento e ornamento, domesticado e selvagem, animal e humano, corporal e emocional, geológico e biológico, vegetal e animal, sobrevivência e reprodução. Por isso que o Darwin Day iniciado no mundo em 1995 veio para ficar.
Só nos resta colar e lotar pessoal ou virtualmente nas várias celebrações desse ano, algumas já ocorreram, outras estão ocorrendo agora e outras vão ocorrer depois do começo do ano letivo ou até no segundo semestre. Você que é do Rio de Janeiro, fique de olho no Darwin Day na Livraria Travessa Ipanema com 3 ótimos palestrantes e no Museu do Amanhã com o incrível Ver Ciência. Em Botucatu, fique ligado no Darwin Day Unesp, sempre com ótima programação. Em Ribeirão Preto, fique ligado no Darwin Day RP na USP, sempre muito bom. Em Osasco, tem celebração sempre interessante e descontraída no segundo semestre no Borboletário municipal. Em Uberlândia, se ligue no Darwin Day da UFU de Umuarama, que promete. Em Belém, fique ligado no DNA & Darwin Day da LAGEN na UFPA. Em Alagoas, o pessoal do GESEB na UFAL já celebrou seu Darwin Day.
Em São Paulo, haverá o Darwin Day da Veterinária na FMVZ da USP com programação excelente o dia inteiro, e que poderá ser acompanhado online pelo IPTV USP. Haverá, também em São Paulo, a tradicional e famosa Semana de Darwin no Museu de Zoologia da USP com programação excelente a semana inteira. Serão 4 mesas redondas com ótimos convidados, todas iniciando às 19h: uma hoje, dia 12/02, sobre Os 160 anos do Origem das Espécies, uma amanhã, dia 13/02, sobre Seleção Sexual onde estarei junto com a Profa Dra. Jaroslava V. Valentova, minha esposa, uma dia 14/02 sobre Genes e Cultura, e a última dia 15/02 sobre Cultura e Cognição. Tenho muito orgulho de ter sido convidado a palestras duas vezes no Darwin Day do Borboletário de Osasco, uma vez no de Ribeirão Preto, uma no da Unesp de Botucatu e agora no do Muzeu de Zoologia da USP. Espero que cada vez mais instituições comecem a celebrar esse Dia de Darwin (ou até essa Semana de Darwin) e a brilhantar esse dia num momento tão sombrio do nosso país e do mundo.
Desejo a todos um Dia de Darwin bem subversivo, produtivo, desconstruído e evoluído.
Fique com um Darwin Day especial do Stated Clearly sobre Darwin e Seleção Sexual.
Feliz Dia de Darwin 2017, Brasil
É chegado o dia mais esperado do ano novo: hoje, 12 de fevereiro Charles Robert Darwin completaria 208 anos e sua obra prima “A Origem das Espécies” completa 158 aninhos. É o famoso “Dia de Darwin”, momento em que celebramos sua obra e legado para a humanidade. Nós do MARCO EVOLUTIVO marcamos essa data em nosso calendário desde 2008, passando por 2009 (Bicentenário – Ano de Darwin), 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015 até 2016. No Brasil e ao redor do mundo (Veja o DARWINDAY.ORG) estão sendo mantidos e criados novos eventos para promover e disseminar o pensamento darwinista.
O pensamento darwinista ainda é jovem, está só começando a segunda metade do seu segundo século, então é esperado que as pessoas vão ter dificuldades em compreender sua lógica básica. Além disso, o maior inimigo do pensamento darwinista ainda é, de longe, a mente humana primata cheia de vieses, atalhos cognitivos, e de agendas próprias de um mamífero da nossa laia. Um desses becos sem saída psicológicos é o “Erro Beethoven”, nomeado por Frans de Waal em seu livro “Eu, Primata: Por Que Somos Como Somos (2007)” [Our Inner Ape: The Best and Worst of Human Nature (2005)”.
O “Erro Beethoven” ocorre sempre que confundimos ou igualamos o processo ao seu produto e vice-versa. Os conhecidos de Beethoven ficavam chocados e incrédulos sempre que visitavam o compositor em seu apartamento. Ele viveu em 39 apartamentos diferentes, teve cinco pianos todos sem pernas que ficavam no chão. No geral, seu apê era sujo, bagunçado, fedido, cheio de restos de comida e partituras amassadas espalhadas. Não era possível, imaginar que todas aquelas peças musicais sublimes, criativas e elegantes foram compostas ao chão em meio ao um caos repulsivo. Normalmente as pessoas imaginam que o produto demonstrará claramente características do processo e, quanto melhor é o produto, mais positivamente imaginamos o processo correspondente. Ocorre o mesmo problema com a Seleção Natural: ‘já que somos seres bem complexos, conscientes e perfeitinhos então não é possível que um processo cego, mecânico e sem destino tenha nos produzido.’ Ou então ocorre o contrário: ‘já que a natureza é selvagem e cruel – tipo cada um por si – somos naturalmente cruéis por sermos seu produto‘ ou então ‘já que, na evolução, os genes mais egoístas deixam mais descendentes, então só podemos ser naturalmente egoístas mesmo’.
Qualquer pessoa que já foi ao barbeiro ou cabeleireiro sabe que para ter um corte novo, lindo e impecável é preciso passar pelo corte, esse processo longo, desconfortável e ‘sujo’ (cheio de fios em pedaços pra todo lado). Qualquer pessoa que já ralou um queijo sabe que para ter um delicioso, soltinho e leve queijo ralado, tem que ralar (literalmente), é preciso passar por esse processo cansativo, árduo e potencialmente perigoso. Qualquer pessoa que já mudou de casa sabe que para ter um novo lar, confortável, acolhedor e organizado é preciso passar pelo processo caótico, cansativo e angustiante da mudança. Como o produto é mais saliente do que o processo acabamos imaginando o processo à luz do produto. Mas temos que lembrar que na maioria dos casos processo e produto têm características distintas. Então, com a Evolução por Seleção Natural é a mesma coisa: o processo evolutivo que é simples, desnorteado, amoral, implacável e ignorante dá origem, após vários ciclos, a seres complexos, focados, morais, funcionais e inteligentes. Totalmente possível, nada que possa nos denegrir, pelo contrário, só pode nos exaltar já que nossa complexidade e outras qualidades não são versões pioradas vindas de um processo ainda mais complexo e melhor, mas sim as primeiras do gênero para cada ramos da árvore da vida.
Esse ano no Brasil tivemos, temos e teremos vários eventos Darwindaynianos. É muito bom ver que a lista só aumenta. No Museu de Zoologia da USP em São Paulo como sempre houve a Semana de Darwin com apresentação de documentários, ótimas palestras, oficinas e exposição. Hoje a programação vai até as 17 e serão duas palestras na parte da tarde. O destaque vai para o jogo Caçada no Museu: Edição especial Charles Darwin, para criançada.
No Borboletário de Osasco houve do 2º Darwin Day com discussão aberta sobre “Por que a vida é assim?” no dia 10/fev contando com o Prof. Dr. Nélio Bizzo, o Prof. Dr. Waldir Stefano, e a MsC. Carolina Yamaguchi.
No Catavento Cultural está tendo esse final de semana a “Mostra VerCiência – Dia de Darwin” com exibição continua de curtas-metragens com ‘o que é evolução?’ e ‘como funciona a evolução’.
No Rio de Janeiro, haverá hoje a partir das 14h no Darwin Day no Museu do Amanhã exibição de dois documentários e debates mediados por Sergio Brandão, curador internacional da Mostra VerCiência.
Em Belém do Pará no Instituto de Ciências Biológicas da UFPA no dia 15/fev quinta-feira haverá o 2º Darwin Day com carga horária de 10 horas, para o dia todo sobre o tema “A teoria Evolutiva precisa ser repensada?” a ótima discussão serão 7 palestras imperdíveis. Sobre Construção de Nicho, Epigenética, Evolução Cultural, Plasticidade Fenotípica, Evolução e Saúde, Assimilação Genética e Evo-Devo. As inscrições antecipadas saem por R$10 e no dia sae por R$15, basta enviar email para o pessoal da Liga Acadêmica de Genética lagenufpa@hotmail.com
Pela primeira vez na UNESP de Botucatu organizado com apoio da Pós-Graduação em Genética e do Instituto de Biociências de Botucatu haverá dia 30 de março o Darwin Day UNESP contando com três palestras com o Prof Dr. Ricardo Waizbort falando sobre o ‘Darwinismo no Brasil’, Prof Dr. Mario de Pinna falando sobre ‘A Evolução da Perspectiva Evolutiva’ e Profa. Dra. Jaroslava Varella Valentova (minha esposa e mãe da minha filha Alice) falando sobre a ‘Seleção Sexual’. O Prof. Dr. Danillo Pinhal organizador do evento será o mediador da mesa-redonda onde eu vou falar sobre Evolução Adaptativa, o Prof. Dr. Reinaldo de Brito falara sobre o Neodarwinismo, e o Prof Dr. Cesar Martins sobre Revolução Genômica. Imperdível!
E todo ano o pessoal da Pós-Graduação em Biologia Comparada e em Entomologia, da USP de Riberião Preto, organiza o Darwin Day USP de Ribeirão geralmente entre abril e maio. Então fiquem ligados no face.
Fiquem com uma série de falas do saudoso biólogo britânico John Maynard Smith (1920-2004) sobre Biologia, Genética e Evolução.
Sem reprodução não há evolução; sim e não.
Da ideia inicial a respeito da ‘sobrevivência dos mais fortes’ para a ‘sobrevivência dos mais aptos’, o foco no tempo de Darwin era nas condições necessárias para se gerar descendência. Sim é necessário ter alguma força para se alimentar, vitalidade, saúde, estar bem ajustado às condições locais, enfim, sobreviver. Porém, apesar de ser necessário, sobreviver não é suficiente para gerar descendência, pois é preciso ainda se acasalar, ter filhos e cuidar da prole, enfim, realizar a reprodução propriamente dita.
Foi percebendo isso, entre outras coisas, que Darwin propôs a seleção sexual, a qual frisa que até as diferenças individuais herdáveis nas capacidades de escolher e atrair parceiros, defender e competir por parceiros, e cuidar da prole podem influir na quantidade de filhos. Infelizmente, por introduzir a dimensão estética aos animais e dar muito poder para a escolha das fêmeas a ideia da seleção sexual, principalmente a atração e escolha de parceiros, foi rejeitada na época.
Décadas depois, veio a concepção mais moderna de que sem a reprodução individual não há evolução na população. Como sabemos não é o indivíduo que evolui, ele só se desenvolve: nasce, cresce, se reproduz e morre. Quem evolui é a população, e por meio da reprodução diferencial entre os coespecíficos. Porém, imersos na rejeição da seleção sexual, a modelagem da mudança na população ao longo das gerações bem frequentemente assumia o fictício acasalamento ao acaso; a famosa e ideal população panmítica (do grego pan= todos, e do latim miscere= misturar). Mesmo assim, até aqui: sim e não. Sim, sem reprodução não há evolução, no sentido de que se ninguém da população se reproduzir, não existirá linhagem futura a partir dessa população. Só que também não, pois se evolução é qualquer mudança (casual ou selecionada) na composição da população ao longo das gerações, então até extinção também é mudança evolutiva.
Pouco depois, com o aumento do interesse e conhecimento sobre comportamento animal, o foco voltou para saber quais indivíduos vão contribuir mais com sua descendência nas gerações seguintes. Veio a concepção de que sem a reprodução do próprio indivíduo não há contribuição sua na evolução na população. Mesmo assim até aqui ainda: sim e não. Sim, sem reprodução do indivíduo não há evolução, no sentido de que seus traços e adaptações não serão herdados, não contribuindo para a evolução futura da população. Só que também não, pois se evolução é fruto de qualquer reprodução diferencial, seja pra mais ou para menos (favorecendo ou eliminando), então até no não deixar descendentes próprio o indivíduo contribui para a mudança evolutiva em sua população.
Com a integração sociobiológica do comportamento social e da genética de populações, ficou claro que o comportamento de um indivíduo altruísta ajudando um parente a sobreviver e se reproduzir pode aumentar a representação genética do indivíduo altruísta na proporção em que são relacionados genealogicamente. Muitos entenderam errado essa tal de reprodução indireta, pois ela não é apenas o número de filhos dos parentes porcionado pelo grau de parentesco. Mas tem que se levam em conta quantos mais filhos o parente consegui ter graças à ajuda do altruísta em sua reprodução. Então aqui sim é só não. Pois mesmo sem se reproduzir diretamente o indivíduo poderá contribuir positivamente na sua descendência, no sentido de que se ele ajudar a sobrevivência e reprodução dos seus parentes, uma porção dos seus traços e adaptações estarão representados nas próximas gerações. Com isso sobreviver ajudando na reprodução dos parentes passou a ser condição suficiente para a evolução. Apesar que, ainda assim, a reprodução direta dá uma contribuição positiva maior na descendência do que a indireta. Por isso que fazendo os dois, seja reprodução direta ou indireta, ou nenhum deles, em um sentido ou de outro, todos contribuiremos na evolução.
Esse foi o post especial sobre reprodução e evolução, dada a condição pré-parto pós-data que minha esposa e eu nos encontramos; prestes a ter nossa primeira descendência direta, e muito felizes.
Assista ao programa sobre os top 10 extremos animais em matéria de reprodução comparado aos humanos.
5 Anos de MARCO EVOLUTIVO e Feliz 2013
Começamos esse feliz ano de 2013 já celebrando não UM, nem DOIS, TRÊS ou QUATRO mas sim os 5 anos que o MARCO EVOLUTIVO fez em novembro de 2012. Nosso science-canal online sobre Biologia, Evolução, sua História e Filosofia, e Comportamento Animal e Humano está com meia década de existência, e amadurecendo junto com você.
Agradeço como sempre todos os comentários, elogios e críticas recebidos. Continuem sempre acessando e compartilhando links do blog com os amigos. Aqui ao lado esquerdo do post temos várias opções para curtir e compartilhar!
Tive um 2012 cheio de viagens pra congressos, pesquisas, orientação, palestras, minicursos e concursos, pricipalmente no segundo semestre o que tomaram todo o meu tempo para blogar. Fiquei noivo da Jaroslava Valentová, a Antropóloga Tcheca que é a mulher dos meus sonhos. Estou muito feliz que tudo está dando certo conosco e logo estaremos vivendo juntos.
Estive também trabalhando com repórter de Ciência e Saúde na Folha de S.Paulo. Gostaria de agradecer ao Reinaldo José Lopes e toda a equipe da redação por essa fantástica experiência profissional em jornalismo científico. Para acessar todos os textos que publiquei pela Folha é só clicar AQUI.
Fora isso participei do Boteco Behaviorista #4: “Biologia, Evolução e Comportamento” a convite do Felipe Epaminondas. Clique para assistir ao hangout coletivo inteiro gravado no dia 2 de setembro.
De janeiro de 2012 até janeiro de 2013 o MARCO EVOLUTIVO teve quase 27 mil visitas. Tivemos mais de 24 mil visitas no Brasil e 1.200 de Portugal. As outras visitas foram de EUA, Angola, Reino Unido, Moçanbique, Espanha, México, República Tcheca, Alemanha, França, Irlanda, Colômbia, Cabo Verde, Canadá, Itália, Chile, Suíça, Eslováquia, Argentina, Venezuela, Japão, Peru, Bélgica, Bolívia, Equador, Holanda, todos com 10 ou mais visitas.
As palavras mais usadas antes de encontrar o MARCO EVOLUTIVO foram: “Biologia”, ”Somos dominados por genes ou mal-entendidos”, “Lamarck”, “Psicologia Evolucionista”, “Biossegurança” , “Revolução genômica” “Steven Pinker”, “Darwin”, “Seleção Sexual” e “Marco Evolutivo”.
Os 5 posts mais lidos de 2012 foram: 1-“Dicas de Livros em Psicologia Evolucionista”, 2- 2009 o “ANO DA BIOLOGIA”, 3-“Lamarck – A Verdadeira Idéia Errada”, 4-“O sexo chimpanzé e o conflito de gerações”, e 5- “Seleção Sexual, de Parentesco, Natural, Artificial e Social”, que data de 2012. O destaque do ano passado foi o trágico acidente que vitimou nosso querido César Ades, um dos pais da Etologia no Brasil e seu representante ilustre em todos os Dias de Darwin. “Ades Egypti e seu Entusiasmo Contagiante”. César Ades foi devidamente homenageado diversas vezes por sua obra e caráter. Todos seguimos em frente pesquisando e divulgando Etologia inspirados e contagianos pelo seu entusiasmo.
Nesse início de 2013 o MARCO EVOLUTIVO já conta com 246 seguidores pela Página no Facebook, três vezes mais do que tinham no começo do ano passado. E já estamos contando as horas para celebrar o Dia de Darwin depois de amanhã. Não percam.
Feliz Dia de Lamarck e Hamilton!!!
Hoje, dia 1º de agosto, estamos comemorando um dia evolutivamente marcante! Nessa mesma data nasceram dois gigantes evolucionistas que foram fundamentais para nosso melhor entendimento dos seres vivos.
Jean-Baptiste Lamarck comemora hoje 268 anos! Nascido em 1744, o naturalista frances, além de cunhar os termos “Biologia” para o estudo dos seres vivos, e “Invertebrados” para os animais sem vertebra, foi um dos primeiros a aceitar que as espécies podiam mudar, ou seja evoluir, e ainda propôs um mecanismo para essa mudança. Ele descobriu e classificou alguns milhares de espécies. Teve mais de 220 espécies nomeadas em sua homenagem. Faleceu aos 85 anos em 1829. Descubra qual foi seu verdadeiro erro no MARCO EVOLUTIVO e mais sobre sua vida na Wiki.
Willian Donald Hamilton comemoraria hoje 76 anos! Nascido em 1936, o biólogo evolucionista britânico, além de ser um dos proponentes iniciais da teoria da Rainha Vermelha para evolução da reprodução sexuada, revolucionou a biologia evolutiva com a Regra de Hamilton (C < r x B) ao explicar a evolução de comportamentos altruístas dando as bases para a Sociobiologia e para o ponto de vista do gene na evolução. Ganhou 10 prêmios científicos. Ele faleceu aos 63 anos em 2000, e gostaria que, após sua morte, fosse mandado ao Brasil para ter seu corpo devorado pelo besouro carniceiro do gênero Coprophanaeus. Descubra o porquê na Wiki.
Ambos teóricos evolucionistas foram pioneiros em seu tempo e trouxeram grandes mudanças em como vemos a evolução das espécies. Lamarck mostrou que apenas leis naturais são suficientes para a transformação das espécies. E Hamilton mostrou que os beneficiados dos comportamentos altruístas são os genes e não o indivíduo ou a espécie. Vamos celebrar e relembrar esses dois pilares do evolucionismo. Feliz dia de Lamarck e Hamilton!!
Seleção Sexual, de Parentesco, Natural, Artificial e Social
O papel e a importância das fêmeas têm mudado muito, não só em nossa sociedade, mas também nas próprias teorias evolutivas. Após 141 da publicação do livro ‘A Descendência do Homem e a Seleção Sexual’, em que Darwin introduz a importância e as implicações evolutivas da escolha da fêmea, pesquisadores rediscutem o papel das fêmeas na seleção sexual e sua abrangência para incluir aspectos não diretamente relacionados com a reprodução.
MARCO EVOLUTIVO traz diretamente do futuro, do dia 19 de agosto de 2012, um número especial do periódico Philosophical Transactions of the Royal Society B: biological Sciences. Intitulado “Seleção sexual, conflito social e a perspectiva feminina”, o número conta com 11 artigos que giram em torno da competição social feminina.
Enquanto alguns sugerem expandir o escopo da seleção sexual para incluir todas as formas de competição entre fêmeas, outros propõem incluir a seleção sexual dentro de algo maior chamado de seleção social, outros ainda querem substituí-la completamente por esta. Num sentido mais amplo, a seleção social é tida simplesmente como, a seleção resultante das interações intraespecíficas sociais. Tudo surgiu quando alguns pesquisadores não conseguiram ver como parte da seleção sexual algo que não fosse diretamente ligado à reprodução, como dominância social, por exemplo. Daí inventaram essa tal seleção social.
Sinceramente, pra mim essa discussão é decepcionante. Primeiro, assim como a seleção natural não parou no Darwin, a seleção sexual também evoluiu. O fato de o Dariwn não ter valorizado a ornamentação da fêmea, nem a competição entre fêmeas, não significa que hoje não saibamos que todas as opções ocorrem: competição entre machos, entre fêmeas, entre macho e fêmeas, escolha da fêmea e do macho. E pra isso não precisamos inventar outro conceito.
Segundo, o simples fato da existência da consagrada competição intrasexual, ou seja, luta direta e indireta ritualizada, mostra que seleção sexual não é só sobre sexo, ou apenas coisas diretamente relacionadas à cópula. Ela envolve até as coisas indiretamente relacionadas ao sexo.
Agora, só há evolução, se há reprodução, seja direta, via filhos, ou indireta, via filhos de parentes. Então, a meta final evolutiva, não é só sobreviver (seleção natural), nem só socializar (seleção social), essas atividades são apenas meios para o fim da reprodução (seleção sexual e seleção de parentesco). Mesmo assim, muitos evolucionistas eminentes, como era o caso do próprio Ernst Mayr, consideram a seleção sexual apenas algo menor dentro da seleção natural e de parentesco.
Terceiro, o simples fato de Darwin ter colocado a origem do homem em processos naturais, deixa turva a distinção entre seleção natural e seleção artificial. Não há nada de mais artificial no ser humano (e nem no que ele faz) do que em qualquer outro animal. Pra mim, tudo isso mostra que não adianta criarmos ou eliminarmos tais conceitos de seleções se não percebermos que estamos misturando duas coisas. Uma é ‘quem faz a seleção?’: a natureza, o homem, a sociedade ou a fêmea. Outra coisa é, ‘visando a que? sobrevivência, reprodução direta ou reprodução indireta.
Quanto à última questão, a coisa é tranquila, por mim, deixaria a sobreviência com a seleção natural, a reprodução direta com a sexual e a indireta com a de parentesco.
Para a primeira questão podemos simplificar em dois grupos de atores seletivos: os físicos, os quais são, em geral, mais inertes, não coevoluem com aquilo que selecionam, no sentido de não possuir conflito de interesses; e os biológicos, os quais são direcionais e reativos, pois sempre coevoluem com o que selecionam.
Alguns fatores físicos são sim alterados em resposta a uma seleção condicionada por ele, é o caso da construção de nicho, em que todo animal (não só o ser humano) altera seu meio de acordo com suas necessidades, afrouxando algumas pressões seletivas e criando outras. Mas essas pressçoes nunca ‘revidam’ ou ‘perseguem’ evolutivamente aqueles que selecionam, não têm uma agenda própria. Os fatores seletivos biológicos podem vir de outras espécies (como predadores, parasitas, gripes, presas ou domesticação) ou ser intraespecíficos. A importância da dinâmica intraespecífica é grande, pois veja: ao caçar uma capivara, a onça não só vence um indivíduos de outra espécie, como sai na frente, naquele dia, na competição por comida com os indivíduos da sua própria espécie.
As interações intraespecíficas podem ser afiliativas, aversivas ou neutras, de cunho sexual ou não, pra ambos os sexos. O grande desafio então, é expandir o entendimento atualizado sobre os conceitos e não criar novos termos tapa-buraco. Assim como existe competição intrassexual (macho-macho e claro também fêmea-fêmea), existe competição intersexual, entre macho e fêmea, e ainda existe também cooperação intrassexual (macho-macho e fêmea-fêmea). Assim como existe seleção intersexual (fêmea escolhe macho, e também macho escolhe fêmea), existe seleção intrasexual (macho escolhe macho e fêmea escolhe fêmea). Tudo isso influenciando a evolução de armamentos (agressões diretas e indiretas, incluindo piadas ofensivas, bulling e fofoca) e ornamentos (diretos ou indiretos, incluindo piadas positivas, altruísmo e recomendação/indicação de pessoas).
Além disso, as interações sociais dentro da espécie podem ser afiliativas, aversivas ou neutras, de cunho sexual ou não, pra ambos os sexos, sendo parente ou não! Ou seja, existe sim toda uma gama de interrelações entre seleção sexual e de parentesco que deve ser mais bem explorada, afinal ambas são reprodução.
Bom, espero ter ajudado pra abrir o leque de opções e esclarecer que essa onda de fazer caricatura de conceitos clássicos, forçando a barra em aplicá-los apenas em casos específicos para então abrir caminho para conceitos ditos ‘mais abrangentes’ (que fazem a mesma coisa no final), tá por fora.
Ades Egypti e seu Entusiasmo Contagiante
Era impossível ficar ao lado de nosso querido César Ades, que nasceu no Cairo, Egito, e não ser levado por seu entusiasmo contagiante. Conheci o César em 2003 no XX Enconto anual de Etologia (EAE) em Natal, em meu terceiro ano de graduação eu ainda não havia encontrado minha área de pesquisa. Lá depois de uma brilhante palestra sobre todos os EAEs anteriores eu estava mais do que cativado pela Etologia, principalmente voltada para os humanos. Ele autografou meu livro de resumo e me desejou um futuro brilhante.
Em meu último ano de graduação fiz um trabalho sobre a consciência animal e se não fosse um texto do César ter me tocado e me motivado não teria tirado da nota máxima.
Em 2004, ao final de meu bacharelado na Unesp de Bauru com Sandro Caramaschi, ex-aluno do Prof. César, fui conversar com ele para estudar possibilidade de um mestrado. Eu estava super nervoso, mas ele me deixou bem a vontade e no decorrer da conversa percebemos que estávamos em sentidos contrários: ele era um psicólogo mais voltado para o comportamento dos outros animais e eu um biólogo interessado no ser humano. Então, ele me indicou a Profa Vera Bussab que acabou sendo minha orientadora de mestrado e de doutorado no Bloco F do IP-USP, inaugurado pelo César enquanto diretor do Instituto anos antes.
Sua disciplina de pós sobre Comunicação Animal me forneceu bases sólidas para um estudo comparativo da musicalidade humana. Cada aula com ele era uma maravilha, ambiente descontraído, informações precisas e conexões muito bem elaboradas.
Fora as belas homenagens oficiais a ele realizadas pelo Instituto de Psicologia da USP, muitas palavras relevantes e tocantes foram colocadas aqui na nossa Série Especial do ScienceBlogs Brasil em homenagem ao César, o Grande ao meu ver.
- Um memorial ao Cesar Ades
- Sobre o falecimento de César Ades.
- Ao mestre, com carinho
- Uma homenagem ao mestre César Ades
Eu (depois de ficar uma semana e meia fora do ar devido a uma fratura e cirurgia no braço dois dias após seu falecimento) gostaria de acrescentar algo que julgo muito louvável sobre ele. César Ades era tão entusiasmado e curioso por conhecimento que ele não conseguia se conter em apenas dar aulas, fazer pesquisas, publicar, orientar, ter cargos administrativos, organizar eventos, ele também fazia e valorizava a divulgação científica.
Ao ser esse acadêmico generalista digno de um Da Vinci moderno, a divulgação científica não poderia passar em branco. Ele deu diversas entrevistas tais como a brilhante ‘Psicologia e Biologia – Entrevista com César Ades’, e a ‘Entrevista: César Ades estuda a evolução do comportamento animal’. Escreveu e deu várias contribuições para a Ciência Hoje Criança como explicando a importância da limpeza nos animais em ‘Tá limpo!’. Ele deu várias palestras e também participou de várias comemorações do Dia de Darwin. Esse ano, César compareceu ao Catavento Cultural para participar de um talk show com o Prof Nélio Bizzo. Como sempre tudo bem descontraído e informativo. Ele sempre frisava na importância de Darwin enquanto o primeiro psicólogo evolucionista. Sua importância como divulgador é crucial e assim como todas suas outras características irá continuar inspirando gerações de pesquisadores e admiradores.
Uma de suas mais atuais metas era a de reunir etólogos eminentes da América Latina para um simpósio debatendo origens, desafios e perspectivas futuras da área, de modo a gerar um livro em conjunto sobre as experiências em cada país e a semente de uma aliança Latino-Americana de Etologia. Reuniremos esforços para realizar essa grande ideia junto a alunos e profs.
Um dos mais tocantes comentários sobre o César pra mim foi o do Prof. Fernando Ribeiro quando queria destacar uma virtude dele.
“Quem o vê hoje, e encanta-se com seu entusiasmo, conhece o mesmo César Ades de 40 anos atrás. E foi esse entusiasmo que escolhi, a fim de destacar uma de suas virtudes, ao cumprimentá-lo, na ocasião de sua indicação para o Instituto de Estudos Avançados, quando disse a ele: Fui percorrendo suas marcas, a inteligência, a erudição, o caráter… mas como me impus uma escolha, fiquei com o entusiasmo, sem o qual a inteligência não se acende, a erudição não se atinge, o caráter não se transmite. Sim, porque César Ades é, e sempre foi, um professor. Sua extroversão e a expressividade com que se comunica constituem sua face visível”
Fique agora com os dois vídeos de uma entrevista de César Ades concedida ao programa Trajetória da TV USP em 2011 e com o vídeo mais recente do César Ades no Dia de Darwin. Assim um pouco dele e seu entusiasmo sempre viverá em nós de modo a podermos contagiar toda uma outra geração com suas idéias e atitudes.
Dia de Darwin 2012
Quatro Anos de MARCO EVOLUTIVO e Feliz 2012
Feliz 2012 a todos nós primatas e a todos os outros seres vivos. Começamos o ano já comemorando não UM, nem DOIS, nem TRÊS, mas sim QUATRO anos (e dois meses) de MARCO EVOLUTIVO, o seu, o meu, o nosso canal online sobre evolução e comportamento humano e todos os temas correlatos, de preservação ambiental a eventos e palestras.
Depois de um 2011 conturbado com a defesa do meu doutorado e de final de ano intenso, cheio de pesquisas e viagens, estou começando esse 2012 com muita energia e grandes perspectivas futuras. Agradeço todos os comentários, elogios e críticas ao blog, tanto de novos leitores quanto dos de longa data. Continuem acessando e compartilhando com os amigos.
Os 5 textos mais lidos em 2011 foram: 1- “O sexo chimpanzé e o conflito de gerações“, 2- “Dicas de Livros em Psicologia Evolucionista“, 3- “Coevolução e Seleção Sexual no Caso da Vespa Tarada“, 4- “Lamarck – A Verdadeira Idéia Errada“, 5- “Criatividade: nossa cauda de pavão mental“. O posts de 2011 mais lidos foram “A beleza da competição feminina“, “Dance seu doutorado” e “Diferenças sexuais e o darwinismo“.
De janeiro de 2011 até janeiro de 2012 o blog teve quase 22 mil visitas. Tivemos 20 mil visitas no Brasil e 1.000 de Portugal. As outras visitas foram de EUA, Canadá, Moçanbique, Reino Unido, Espanha, Angola, França, Japão, Grécia, Argentina, Polônia, Itália, Chile, Paraguai, Colômbia, Cabo Verde, Peru, Suíça, Alemanha. As palavras mais usadas antes de encontrar o MARCO EVOLUTIVO foram: “Lamarck”, “Marco Evolutivo”, “Psicologia Evolucionista”, “Steven Pinker”, “Coevolução”, “Antropocentrismo”, e “Seleção Sexual”.
De cara nova desde setembro do ano passado, o MARCO EVOLUTIVO evoluíu bastente na sua aparência e possibilidades em 2011. O destaque foi para a imagem do cérebro humano e da árvore evolutiva da interdisciplinaridade. Agora, além de já ter 84 seguidores na nova página criada no Facebook, conta também com os links para minha dissertação de mestrado e para minha tese de doutorado. Assim todos que tiverem o interesse poderão baixar cada uma e se aprofundar nos temas das diferenças individuais quando ao sexo casual e na evolução das nas nossas capacidades musicais e artísticas através da seleção sexual.
E para o presente evolutivo desse aniversário veremos a palestra de David Sloan Wilson sobre Evolution for Everyone! Aproveitem!