Sem reprodução não há evolução; sim e não.

Da ideia inicial a respeito da ‘sobrevivência dos mais fortes’ para a ‘sobrevivência dos mais aptos’, o foco no tempo de Darwin era nas condições necessárias para se gerar descendência. Sim é necessário ter alguma força para se alimentar, vitalidade, saúde, estar bem ajustado às condições locais, enfim, sobreviver. Porém, apesar de ser necessário, sobreviver não é suficiente para gerar descendência, pois é preciso ainda se acasalar, ter filhos e cuidar da prole, enfim, realizar a reprodução propriamente dita.

Foi percebendo isso, entre outras coisas, que Darwin propôs a seleção sexual, a qual frisa que até as diferenças individuais herdáveis nas capacidades de escolher e atrair parceiros, defender e competir por parceiros, e cuidar da prole podem influir na quantidade de filhos. Infelizmente, por introduzir a dimensão estética aos animais e dar muito poder para a escolha das fêmeas a ideia da seleção sexual, principalmente a atração e escolha de parceiros, foi rejeitada na época.

Décadas depois, veio a concepção mais moderna de que sem a reprodução individual não há evolução na população. Como sabemos não é o indivíduo que evolui, ele só se desenvolve: nasce, cresce, se reproduz e morre. Quem evolui é a população, e por meio da reprodução diferencial entre os coespecíficos. Porém, imersos na rejeição da seleção sexual, a modelagem da mudança na população ao longo das gerações bem frequentemente assumia o fictício acasalamento ao acaso; a famosa e ideal população panmítica (do grego pan= todos, e do latim miscere= misturar). Mesmo assim, até aqui: sim e não. Sim, sem reprodução não há evolução, no sentido de que se ninguém da população se reproduzir, não existirá linhagem futura a partir dessa população. Só que também não, pois se evolução é qualquer mudança (casual ou selecionada) na composição da população ao longo das gerações, então até extinção também é mudança evolutiva.
Pouco depois, com o aumento do interesse e conhecimento sobre comportamento animal, o foco voltou para saber quais indivíduos vão contribuir mais com sua descendência nas gerações seguintes. Veio a concepção de que sem a reprodução do próprio indivíduo não há contribuição sua na evolução na população. Mesmo assim até aqui ainda: sim e não. Sim, sem reprodução do indivíduo não há evolução, no sentido de que seus traços e adaptações não serão herdados, não contribuindo para a evolução futura da população. Só que também não, pois se evolução é fruto de qualquer reprodução diferencial, seja pra mais ou para menos (favorecendo ou eliminando), então até no não deixar descendentes próprio o indivíduo contribui para a mudança evolutiva em sua população.

Com a integração sociobiológica do comportamento social e da genética de populações, ficou claro que o comportamento de um indivíduo altruísta ajudando um parente a sobreviver e se reproduzir pode aumentar a representação genética do indivíduo altruísta na proporção em que são relacionados genealogicamente. Muitos entenderam errado essa tal de reprodução indireta, pois ela não é apenas o número de filhos dos parentes porcionado pelo grau de parentesco. Mas tem que se levam em conta quantos mais filhos o parente consegui ter graças à ajuda do altruísta em sua reprodução. Então aqui sim é só não. Pois mesmo sem se reproduzir diretamente o indivíduo poderá contribuir positivamente na sua descendência, no sentido de que se ele ajudar a sobrevivência e reprodução dos seus parentes, uma porção dos seus traços e adaptações estarão representados nas próximas gerações. Com isso sobreviver ajudando na reprodução dos parentes passou a ser condição suficiente para a evolução. Apesar que, ainda assim, a reprodução direta dá uma contribuição positiva maior na descendência do que a indireta. Por isso que fazendo os dois, seja reprodução direta ou indireta, ou nenhum deles, em um sentido ou de outro, todos contribuiremos na evolução.

Esse foi o post especial sobre reprodução e evolução, dada a condição pré-parto pós-data que minha esposa e eu nos encontramos; prestes a ter nossa primeira descendência direta, e muito felizes.

Assista ao programa sobre os top 10 extremos animais em matéria de reprodução comparado aos humanos.