150 anos do livro A Descendência do Homem e a Seleção Sexual de Darwin

Neste dia de 24 de fevereiro há exatos 150 anos foi publicado em Londres com dois volumes de 450 páginas o The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex de Charles Darwin. O livro foi um marco para o estudo da evolução humana e aqui no MARCO EVOLUTIVO não poderíamos deixar de celebrar esta data. Originalmente a ideia de Darwin era apenas ter um capítulo sobre humanos em seu livro The variation of animals and plants under domestication de 1866, mas como o livro já estava grande ele resolveu fazer em separado um pequeno ensaio sobre nossa ancestralidade primata e a seleção sexual, o que acabou crescendo e virando os dois volumes do The Descent of Man em 1871. Neste livro Darwin finalmente pode desenvolver tudo o que ele se referiu ao final do Origem das Espécies quando disse que, por conta da evolução por seleção natural, no futuro muita luz seria lançada sobre a origem dos humanos e nossa psicologia e história.

Intuitivamente sempre nos parece que a diferença psicológica entre humanos e outros primatas é enorme, tanto que até o Alfred Wallace abandonou a explicação evolucionista ao se tratar da mente humana por achar pouco possível de que toda nossa capacidade intelectual tenha evoluído naturalmente em contextos tribais aparentemente pouco exigentes por grandes inteligências. Muito do The Descent é uma reposta ao desafio de Wallace. Darwin argumenta que todas as nossas características psicológicas podem ser encontradas em algum grau em outras espécies, incluindo capacidades para a música, a beleza, e a moralidade. É por isso que numa carta a Wallace Darwin diz que a evolução humana era o maior e mais interessante problema para o naturalista.

Outra noção popular na época era a de que toda a exuberante beleza na natureza teria sido magicamente criada para satisfazer os humanos que seriam o ápice da evolução. Graças a Darwin e anos de pesquisa subsequente, hoje sabemos que a evolução não tem ápice e que somos tão únicos e tão especiais quanto cada uma das outras espécies. No The Descent Darwin argumenta que a beleza sonora e visual encontrada no mundo animal evoluiu naturalmente pelo processo de seleção sexual. Indivíduos mais vistosos e sonoros eram preferidos na busca por um parceiro sexual, o que ao longo de muitos ciclos de seleção, dá origem a cada vez mais beleza.

A evolução dos armamentos como chifres era mais facialmente explicada pela competição entre machos o que deixara as armas mais eficientes e maiores. Mas para explicar a evolução da beleza era necessário perceber que as fêmeas das outras espécies também têm senso estético e que a variação nesse senso estético era a pressão social favorecendo a evolução dos ornamentos animais. Portanto, para Darwin a beleza do pavão ou da ave do paraíso não necessariamente precisa indicar uma qualidade de sobrevivência, basta ela ser agradável o suficiente para as fêmeas da espécie que a ornamentação poderia evoluir sendo um fim em si mesma.

Atualmente como parte das celebrações do sesquicentenário do The Descent, diversas iniciativas tentam resgatar o que Darwin acertou e o que Darwin errou no livro, e todos o desdobramento mais atuais nos dois tópicos centrais do livro: evolução humana e seleção sexual. O livro A Most Interesting Problem: What Darwin’s Descent of Man Got Right and Wrong about Human Evolution apresenta uma releitura da perspectiva atual de cada capítulo relativo ao ser humano. Está sendo muito bem avaliado e me pareceu muito interessante tanto para quem quer se atualizar sobre evolução humana quanto para quem quer se aprofundar nas hipóteses do The Descent. Em Darwin, sexual selection, and the brain Micheal Ryan faz uma revisão das várias linhas de pesquisa relacionadas à ideia da Darwin sobre a evolução da beleza sendo um fim em si mesma. Em Darwin’s closet: the queer sides of The descent of man (1871), Ross Brooks ressalta como Darwin integrou a ideia de variação individual nos assuntos da seleção sexual o que foi fundamental para o nascimento da sexologia moderna. No Periódico Evolutionary Human Sciences existem uma compilação de artigos celebrando os 150 anos do The Descent, por enquanto com 3 artigos e com promessa de outros mais por vir.

Claro que como todo livro, o The Descent tem várias limitações e vieses de época, mas nele Darwin deixou claro que as origens evolutivas dos humanos podem sim ser desvendadas. E nesse sentido enquanto um programa de pesquisa a ser desenvolvido, Darwin deu uma inestimável contribuição à evolução humana. E, se percebermos como aspectos morfológicos, biogeográficos, interespecificamente comparativos, mas também psicológicos e comportamentais estão integrados, o The Descent pode ser considerado bem moderno. Isto porque, de lá para cá, ainda são poucos biólogos focando na psicologia e no comportamento, e pouco psicólogos focando na evolução. Felizmente as áreas estão cada vez mais se integrando e talvez um dia cheguemos ao grau de integração que o próprio Darwin expressou 150 atrás.

Quatro Anos de MARCO EVOLUTIVO e Feliz 2012

Feliz 2012 a todos nós primatas e a todos os outros seres vivos. Começamos o ano já comemorando não UM, nem DOIS, nem TRÊS, mas sim QUATRO anos (e dois meses) de MARCO EVOLUTIVO, o seu, o meu, o nosso canal online sobre evolução e comportamento humano e todos os temas correlatos, de preservação ambiental a eventos e palestras.

Depois de um 2011 conturbado com a defesa do meu doutorado e de final de ano intenso, cheio de pesquisas e viagens, estou começando esse 2012 com muita energia e grandes perspectivas futuras. Agradeço todos os comentários, elogios e críticas ao blog, tanto de novos leitores quanto dos de longa data. Continuem acessando e compartilhando com os amigos.

Os 5 textos mais lidos em 2011 foram: 1- “O sexo chimpanzé e o conflito de gerações“, 2- “Dicas de Livros em Psicologia Evolucionista“, 3- “Coevolução e Seleção Sexual no Caso da Vespa Tarada“, 4- “Lamarck – A Verdadeira Idéia Errada“, 5- “Criatividade: nossa cauda de pavão mental“. O posts de 2011 mais lidos foram “A beleza da competição feminina“, “Dance seu doutorado” e “Diferenças sexuais e o darwinismo“.

De janeiro de 2011 até janeiro de 2012 o blog teve quase 22 mil visitas. Tivemos 20 mil visitas no Brasil e 1.000 de Portugal. As outras visitas foram de EUA, Canadá, Moçanbique, Reino Unido, Espanha, Angola,  França, Japão, Grécia, Argentina, Polônia, Itália, Chile, Paraguai, Colômbia, Cabo Verde, Peru, Suíça, Alemanha. As palavras mais usadas antes de encontrar o MARCO EVOLUTIVO foram: “Lamarck”,  “Marco Evolutivo”, “Psicologia Evolucionista”, “Steven Pinker”, “Coevolução”, “Antropocentrismo”, e “Seleção Sexual”.

De cara nova desde setembro do ano passado, o MARCO EVOLUTIVO evoluíu bastente na sua aparência e possibilidades em 2011. O destaque foi para a imagem do cérebro humano e da árvore evolutiva da interdisciplinaridade. Agora, além de já ter 84 seguidores na nova página criada no Facebook, conta também com os links para minha dissertação de mestrado e para minha tese de doutorado. Assim todos que tiverem o interesse poderão baixar cada uma e se aprofundar nos temas das diferenças individuais quando ao sexo casual e na evolução das nas nossas capacidades musicais e artísticas através da seleção sexual.

E para o presente evolutivo desse aniversário veremos a palestra de David Sloan Wilson sobre Evolution for Everyone! Aproveitem!

Dance seu doutorado

No ritmo de defesa de doutorado e de comportamento humano artístico veremos hoje formas descontraidas de se apresentar sua pesquisa de doutorado. Agradeço aqui os comentários no post e congratulações sobre minha defesa de doutorado. Em breve, assim que minha tese sair na biblioteca virtual de teses e dissertaçãoes da USP, eu coloco o link aqui para todos poderem baixar.

Agradeço também os comentários certeiros sobre a figura com os hominídeos segurando instrumentos que passa a impressão errônea da grande cadeira dos seres. É bom ver que os leitores estão cada vez mais afiados. Ao cortar o chimpanzé da imagem inicial deixei a coisa um pouco menos destorcida. Juntos temos que acabar com essa noção arrogante de que o ser humano é o ápice da criação, pois não existem nem ápice nem criação. Mais sobre a escala natura veja “Lamarck: a verdadeira idéia errada”.

A figura que achei mais interessante não sucitou nenhum comentário. Como assim apresentar a tese de doutorado em forma de dança interpretativa? Pois é, sem mais nem menos descubro da existência do “The ‘Dance your  Ph.D’ contest”, que já está na segunda edição. Promovido pelo Gonzo Lab e patrocinado pela Science Magazine e agora pelo TEDx de Bruxelas, concurso premia com $500 dolares a melhor apresentação de trabalhos em cada uma das áreas: de Física, Química, Biologia e Ciências Sociais.

Além de ser uma nova forma de fazer divulgação científica incentivando habilidades artísticas (tão desvalorizadas pela educação atual) essa competição ofereçe mais uma janela sobre o comportamento humano.

No primeiro vídeo, que é da rodada do ano passado, veremos como os conflitos de interesse do comportamento de corte de galináceos pode ser claramente entendido quando transposto para o comportamento humano de corte, muito por serem os mesmo conflitos em jogo. Além disso vimos em “Dança: um fértil campo de pesquisa evolutiva” a importância da dança na seleção sexual.

Male ageing and sexual conflict in the feral fowl (Dance your PhD 2010) from Rebecca Dean on Vimeo.

No segundo vídeo, agora de um competidor desse ano, veremos como nem sempre as pessoas tem motivações egoístas quando engajam em trocas sociais.

Dance your PhD 2011 – Alexios Arvanitis (Social Exchange Theory) from Alexios Arvanitis on Vimeo.

São muitos outros vídeos interessantes e engraçados, confira. As inscrições estão abertas até dia 10 de outubro. Leia as dicas de como fazer um bom vídeos e participe.

Minha Defesa de Doutorado

 

Sei que muitos leitores estão aflitos com a falta de post dos últimos séculos aqui no MARCO EVOLUTIVO. Pois é logo isso vai mudar. Porque um evento único e evolutivo está por vir: minha defesa de doutorado.
Para aqueles que não sabem, depois de 4 anos (em média) de estudo da graduação ao se formar em uma universidade alguns percebem que gostam de fazer pesquisa, então fazem o mestrado que dura 2 anos (em média). Daí, alguns poucos decidem continuar a fazer ciência e entram no doutorado.
Muitos pensam que qualquer político ou alguém apenas formado em direito ou medicina é doutor!! Não, doutor é quem recebe o diploma de doutorado após cumprir créditos assistindo aulas de pós e pesquisar 4 anos (em média) algo inédito, qualificar para defender e defender a tese. Tudo isso matriculado em um programa de pós-graduação reconhecido pelo MEC. É como se fosse fazer uma nova graduação num tema só. Imagine um trabalho de final de
 semestre que demore 8 vezes mais para ser feito e escrito, essa é a tese.
Assim como o uso popular do termo Teoria é diferente do uso científico, o termo tese não se refere a um palpite ou opinião, mas sim ao mais profundo trabalho de investigação científica, seja no aspecto teórico quanto metodológico. Claro que no final tem-se um texto do tamanho de um livro.
Meu doutorado, assim como o mestrado, foi realizado no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Experimental da USP. Devo muito à minha orientadora, Vera Bussab, a mesma no mestrado e no doutorado, por todos esses anos juntos, ela sabe. Aprendi muito com ela.

Minha tese é intitulada
“Evolução da Musicalidade Humana: Seleção Sexual e Coesão de Grupo”.

 

Nela abordo e testo algumas explicações adaptativas para a existência das propensões musicais e artísticas em nossa espécie.
A defesa é um momento público em que o doutorando apresenta em meia hora o resumo da tese e uma banca de 5 doutores, dois internos aos programa da pós, 2 externos ao programa e o orientador fazem sua arguição, que inclui críticas, elogios, correções, comentários, colocações e sugestões futuras.
Se você se interessa pelo tema venha assistir minha defesa dia 25/08, na próxima quinta feira, às 14 horas na sala 36 do bloco F no Instituto de Psicologia da USP da São Paulo, Cidade Universitária.

Apreciação Estética: um ponto de vista Evolutivo

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Apresento aqui uma palestra muito interessante por dois motivos: ser muito bem ilustrada graficamente e por se tratar de um ponto de vista evolutivo para nossas capacidades de apreciação estética. Denis Dutton lançou ano passado o livro The Art Instinct e nele apresenta a Estética Evolucionista e as ligações entre a seleção sexual e as manifestações artísticas. De nossa fascinação por paisagens ao humor, passando pela música e dança todas guardam as cicatrizes evolutivas das interação sociais ancestrais que promoveram o sucesso reprodutivo diferencial. Vale a pena dar uma conferida nessa sua palestra, na outra palestra de uma hora abaixo mais aprofundada e no site do seu livro. Aproveitem.

Notas e Neurônios

É com muito prazer que inicio as blogagens de 2010 diretamente do Canadá. Dessa vez não vim a um congresso. Acabei de me mudar, estou morando no Canadá há uma semana. Durante todo esse ano até janeiro de 2011 estarei vivendo o “recheio” do meu doutorado sanduíche pela USP (financiando pelo CNPq) aqui na McMaster Univesity. Estou no laboratório de NeuroArts e começando a entrar em contato com um rico ambiente intelectual e aprendendo muitos aspectos evolutivos, antropológicos e neurológicos das manifestações musicais entre outras artes.

E nesse clima apresento o “Notes & Neurons” do World Science Festival de 2009. Trata-se de uma ótima entrevista-discussão-apresentação-documenário sobre as novas descobertas da neurociência sobre nossa musicalidade. Nessa série de cinco vídeos você vai ver como nosso cérebro decompõe as várias dimensões da música usando diferentes áreas e depois reitegra de forma paralela as informações para termos a experiência musical. O âncora é o John Schaefer e os convidados são os cientistas Jamshed Barucha da Tufts Univ., Daniel Levitin da McGill Univ., Lawrence Parsons da Univ. de Sheffield, e o músico Bobby McFerrin (“Don`t worry, be happy”) que faz intervenções bem interessantes.

No primeiro vídeo, após o solo de Bobby eles falam um pouco do crescente interesse pelas bases neurais da musicalidade, suas questões universais e particularidades culturais. No segundo vídeo, veremos que nossa musicalidade sempre inclui música e dança, que não existe uma única área cerebral responsável por toda a cognição subjascente à nossa musicalidade, ela está distribuida por todo o cérebro e o sistema nervoso periférico. Basicamente temos áreas cerebrais envolvidas na percepção e análise auditiva, na memória e associações, na expectativa do que vai acontecer, no movimento, na sensação corporal, na emoção, e na percepção visual.
Eles falam dos intervalos muscais que são

universais como a oitava, a quinta, a quarta e a terça. Falam também que quando falamos algo triste usamos o mesmo contorno melódico dos acordes menores que também soam tristes, e quanto estamos com raiva fazemos um intervalo de meio tom. O interessante é que temos muito mais facilidade de reconhecer o pacote melódico da fala pra emoções negativas. Já que evolutivamente, as consequências das emoções negativas tiveram maior chance de prejudicar a aptidão de nossos ancestrais. Bobby McFerrin faz ótimas demostrações de variação no timbre, e eles mostram variações também no ritmo.

No terceiro vídeo, eles demostram diferenças entre as escalas ocidentas e as escalas da música indiana. Mostram que ter crescido em uma cultura faz com que criemos expectativas musicais típicas das escalas usadas, mas ainda assim possuímos uma platicidade para aprender diferentes escalas e músicas de culturas distantes. Com a crescente disseminação da afinação e da harmonia ocidental através do mundo, graças a pop music industry, corremos o risco de não termos exemplos de músicas sem a influência ocidental para estudos etnomusicológicos. Mas pensando bem, Jamshed está certo em dizer que sim, ainda existe uma última tribo não exposta à música do resto do mundo, os EUA!

No quarto vídeo, veremos a belíssima e muito didática demostração de Bobby McFerrin sobre as expectativas universais quanto à escala pentatônica. Depois eles falam das relações entre musicalidade e linguagem, os casos de línguas tonais como o chinês, tudo parte de uma grande vivência social compartilhada permeando música, dança e linguagem. E no final comentam que os bebês antes de nascer facilmente encorporam as escalas musicais de cada cultura. No último vídeo músicos e convidados tocam juntos. Aproveitem e feliz 2010!

Origem das Espécies em Reggae

Hoje veremos uma iniciativa de homenagem a Darwin pelo Origem das Espécies muito interessante e inusitada. Dois acadêmicos, Prof Mark Pallen e doutorando Dom White, ambos da Birmingham University, tiveram a idéia de criar um novo estilo musical: o Genomic Dub. E nesse novo estivo eles fizeram reggae music do Origem das Espécies!!

O Genopmic Dub é uma empreitada série a com muito objetivos dentre os quais celebrar a vida e obra de Dariwn bem como os recentes sucessos na área da Genômica e da Biologia Evolutiva. Em sua página The Genomic Dub Collective, Pallen & White mostram como essa iniciativa pode integrar cultura e ciência criando um movimento que estimula o interesse geral pela ciência.

O álbum The Origin of Species in Dub eles incluíram trechos do Origem capítulo por capítulo e exploraram a temática da evolução humana na áfrica e o legado de Darwin. Abaixo veremos os 12 vídeos disponíveis essa incrível iniciativa científica e musical capaz de libertar nossa mente.
E pra fechar esse post descobri hoje que o apelido de infância de Charles Darwin era “Bobby”, algo bem reggae!!

Simpósio de Sexologia e Coletânia em Seleção Sexual

Nesta quinta feita, dia 01/09 tem início na UNESP de São José do Rio Preto o Simpósio de Sexologia promovido pelo Centro Acadêmico de Biologia “3 de Setembro”. O evento abordará os estudos acerca da sexualidade, envolvendo três grandes temáticas: a biológica comparativa e adaptativa; a do direito envolvendo aborto e crimes sexuais; e a informativa e de saúde envolvendo orientação sexual, sexualidade nas universidades e DSTs. Achei muito interessante a programação, pois geralmente a abordagem evolutiva para a sexualidade está fora da Sexologia.

Durante o Simpósio de Sexologia eu darei um mini-curso sobre a Evolução das Estratégias Sexuais. Para os participantes e para todos interessados no tema eu recomendo que leiam os posts sobre seleção sexual do MARCO EVOLUTIVO. Para descobrir sobre os padrões da seleção sexual nos outros animais vejam:

Para descobrir influências da seleção sexual no comportamento humano vejam:

E para vejam ótimos vídeos de especialistas no assunto vejam:
 

E falando em ótimos vídeos, aqui veremos em primeira mão um vídeo colocado hoje no youtube de um podcast do Biólogo Evolucionista Tim Clutton-Brock do Museu de Zoologia da Universidade de Cambridge. Nele Clutton-Brock aborda primeiro o desafio à evolução que os ornamentos representaram pra Darwin e sua solução foi criar a Seleção Sexual. Ele separa a beleza em dois tipos: a beleza simples e funcional do design adaptativo que evoluiu por seleção natural; e a beleza exagerada, multifacetada e complexa dos ornamentos que evoluiu por seleção sexual.

Ele fala que a seleção sexual, apesar de pensada só para formas e cores, atua em todas as formas de sistemas de sinalização e envolve sons e cheiros atraentes. Para ele as aves e mamíferos diferem quanto aos canais de comunicação o que pode ser evidenciado nas diferenças de ornamentos. As aves são em geral mais visuais e sonoras enquanto os mamíferos são em geral mais voltados para os ornamentos olfativos. Ele borda também que a maioria das pesquisas tem foco nas exibições masculinas, mas que atualmente os ornamentos femininos estão sendo mais estudados. Aborda também o efeito da assimetria no investimento parental nas diferenças sexuais nos humanos e nos benefícios que as fêmeas têm na seleção sexual.

A Mente Musical

Ocorreu em Goiânia no final de maio o V Simpósio de Cognição e Artes Musicais (SIMCAM). Um verdadeiro ponto de encontro entre humanidades e ciências em torno da musicalidade humana. Uma iniciativa anual de cinco anos da Associação Brasileira de Cognição e Artes Musicais, composta por pesquisadores brasileiros de diversas áreas de educação musical até neurociências da música.

O SIMCAM sempre tem convidados internacionais, ótimas palestras e mesas redondas, apresentações orais e de pôsteres, além de várias apresentações musicais de todos os estilos e gêneros: de música barroca até eletroacústica. O SIMCAM é sempre uma ótima oportunidade para conhecermos melhor pesquisas e pesquisadores interessados nos vários aspectos de musicalidade humana.

Nesse ano foram dois os convidados internacionais. A Katie Overy da University of Edinburgh, Reino Unido não pode comparecer de última hora, mas mandou sua apresentação e o pdf do seu artigo a tempo de divulgar a todos suas pesquisas. Sua comunicação girou em torno das relações entre a experiência musical e o sistema de neurônio espelho propondo um modelo de experiências afetivas e gestuais da música.

O Steven Brown da McMaster University, Canadá compareceu e falou sobre porque algumas pessoas cantam desafinado. Mostrou com suas pesquisas como a desafinação não está relacionada a aspectos da memória, da percepção melódica, nem habilidade motora e sim na habilidade imitação vocal. Sua palestra foi muito interessante, pois além de tudo mostrou várias pessoas cantando desafinado, cantos de outras espécies e de outras culturas, que arrancou risadas e exclamações da platéia.

O Steven Brown ainda veio para o Instituto de Psicologia da USP dar uma disciplina de pós-graduação a convite meu e da minha orientadora. A disciplina foi sobre as Artes e o Cérebro e ele abordou o estudo unificado das artes, suas origens evolutivas, os mecanismos cerebrais envolvidos na dança e módulos cerebrais relacionados a diferentes manifestações artísticas. A disciplina foi muito boa, rica em conteúdos e discussões. Apareceram quase 30 alunos dentre mestrandos doutorandos e professores de outras unidades.


A grande quantidade de pessoas interessadas na disciplina somada às centenas de pessoas que já participaram dos SIMCAMs mostram crescente interesse pelas pesquisas sobre artes e principalmente música. Muitos livros atualmente estão sendo lançados sobre o tema dentre os famosos estão o “Alucinações musicais” do Oliver Sacks e o “This is your Brain on Music” de Daniel Levitin.

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A união interdisciplinar promovida pela Associação Brasileira de Cognição e Artes Musicais já até culminou no o primeiro livro brasileiro sobre cognição musical, o “Em Busca da Mente Musical”, um esforço de vários autores editado pela Beatriz Ilari da UFPR. O livro conta com um capitulo escrito pelo próprio Daniel Levitin.

Abaixo veremos vídeo e entrevista de Oliver Sacks comentando sobre os interessantes casos neurológicos relacionados à musicalidade, como sinestesias e amusias. E NESSE link vocês poderão assistir um documentário The Muscial Brain de 45 min com Daniel Levitin sobre vários aspectos do cérebro musical desde o desenvolvimento musical em bebês até a evolução da musicalidade. Nesse documentário Levitin submete o cantor Sting do The Police ao imagiamento cerebral realizando diferentes tarefas. São Vídeos e livros imperdíveis para os amantes da ciência e da música.

Criatividade: nossa cauda de pavão mental

Você já assistiu a algum programa mostrando premiações de comerciais de televisão? Um comercial melhor que o outro, mais engraçado, mais inusitado, mais criativo. Não dá para assistir e não ficar admirado com a capacidade criativa do ser humano. E por mais que a estrutura do comercial seja previsível, o desfecho sempre é inusitado e interessante. Todo comercial premiado tem um começo que soa estranho ou óbvio sobre algo familiar, daí no final vem a pérola criativa, o clímax, que dá um novo sentido para a estranheza ou para o óbvio inicial. Essas criações humanas nos deixam instigados em compreender as origens dessa capacidade criativa que permeia toda a vida social do ser humano.
A criatividade é frequentemente considerada uma das características fundamentais do nosso comportamento moderno. Enfoques etnográficos, arqueológicos e etológicos mostram que muitos dos comportamentos que expressam a criatividade, como a ornamentação corporal, a pintura, a dança, a música, o humor e a criação de histórias são comportamentos universais para todas as culturas e têm raízes em épocas muito antigas. Somado a isso, a facilidade e espontaneidade com que as crianças precocemente expressam sua criatividade em brincadeiras nos sugerem que nossa capacidade criativa seja uma potencialidade intrínseca da natureza humana.
Adaptação mental
Mas será que a criatividade humana é apenas um efeito colateral da atividade neural caótica de nossos cérebros complexos e grandes? Ou ela teria algum valor adaptativo ao longo de nossa evolução? Tendo em vista a universalidade, a antiguidade e a precocidade envolvida nos processos criativos, bem como a quantidade de energia e tempo que gastamos com comportamentos criativos, desde produção, participação e apreciação, é bem possível que a cognição envolvida na criatividade tenha desempenhado alguma função adaptativa em nosso ambiente ancestral. Dado que a evolução elimina facilmente da população ancestral comportamentos que consomem muitos recursos e não proporcionam consideráveis benefícios evolutivos à sobrevivência ou à reprodução dos indivíduos.
De certo modo não precisamos usar muito a criatividade para imaginar como a seleção natural teria favorecido ancestrais que solucionavam criativamente seus problemas de sobrevivência. Qualquer idéia nova que ajudasse na obtenção de alimento como armadilhas, utensílios como cestos e redes, e estratégias para surpreender a caça dariam uma enorme vantagem adaptativa ao indivíduo, seus parentes e amigos. Ou então qualquer forma criativa de solucionar melhor outros problemas de sobrevivência, como evitar doenças, espantar predadores, lidar com o frio e com a seca, traria conseqüências positivas para a evolução da criatividade.
De fato muita pesquisa sobre criatividade tem seu foco principal na capacidade de se resolver problemas práticos, como os de sobrevivência. A própria definição de criatividade envolve a habilidade de se produzir algo novo e útil. A utilidade envolve a adequação da idéia criativa para a solução de um problema bem definido. A novidade reflete a dificuldade daquela solução para tal problema dada a baixa freqüência com que as pessoas puderam solucioná-lo anteriormente. Por esse foco, as pesquisas sobre criatividade justificam seus custos como um modo de descobrir como as pessoas poderiam melhorar sua capacidade de resolver problemas técnicos. As empresas valorizam pensadores criativos para poderem solucionar melhor problemas empresariais internos e externos, além de patentear novas invenções. Como se a busca por novidade não pudesse ser estudada como tendo um fim em si mesma, apenas como um meio de encontrar soluções para problemas difíceis.

Seleção sexual entra em cena

É bem possível que haja vantagens adaptativas à criatividade pautadas na sobrevivência, mas isso não exclui possíveis vantagens relacionadas à reprodução. Pense no pé humano. Ele é diferente do pé do chimpanzé, pois foi adaptado ao nosso modo bípede de andar. Essa vantagem à sobrevivência não exclui a possibilidade da seleção sexual ter atuado, pois a escolha de parceiros pode valorizar além da funcionalidade, a estética das adaptações. Isso acrescenta uma nova dinâmica seletiva somada à anterior. Agora não apenas a pressão cega do ambiente atua e sim a escolha ativa e consciente por parte das pessoas. E você deve conhecer pessoas que admiram, adoram ou têm fetiches por pés (podolatria), ou ainda pessoas que não gostam do próprio pé a ponto de ter vergonha de sair com o pé à mostra. Além disso, ninguém duvida que a estética de mãos e pés não seja importante dada as consagradas profissões de manicure e pedicure, fora aqueles profissionais modelos de mãos e pés para comerciais. Então, assim como a estética e a sensualidade do pé pode evoluir também pela seleção sexual, além da pressão seletiva para o andar bípede, a criatividade pode ter evoluído em parte por suas vantagens na atração, manutenção e na disputa por parceiros amorosos.
Essa mudança de foco da solução criativa visando problemas técnicos para a exibição criativa relacionada à paquera tem sido um novo campo frutífero de investigação científica. Apoiando a idéia da influência da seleção sexual, estudos têm mostrado que nós expressamos um desejo por criatividade num parceiro amoroso. Mesmo quem não é cientista já vivenciou uma situação de conquista amorosa, e percebeu na pele como a criatividade é importante para transformar um primeiro contato duvidoso numa conversa interessante, descontraída e prazerosa ou num tremendo fora desconcertante.
A primeira pesquisa
Uma pesquisa de 2006, amostrando no total 262 homens e 353 mulheres, traz grandes contribuições a essa questão ao testar as influências da seleção sexual na criatividade humana. Griskevicius, Cialdini e Kenrick reconhecem que os órgãos mentais, que são os processadores cognitivos voltados para problemas adaptativos específicos, são adaptativamente bem sensíveis a pistas ecológicas indicadoras de determinado problema ou oportunidade para os quais são voltados. Pistas ambientais relacionadas ao acasalamento ativam o sistema de busca por parceiros amorosos e os mecanismos cognitivos relacionados ao cortejo amoroso, facilitando percepções, cognições e comportamentos particulares associados ao sucesso reprodutivo. Então, se exibições de criatividade evoluíram em parte por seu benefício na conquista amorosa, pistas voltadas para ativar a busca por parceiros amorosos ativariam exibições de criatividade nas pessoas.

Eles realizaram quatro experimentos para testar a influência da ativação mental romântica no aumento da exibição de criatividade. Usaram medidas repetidas (antes e depois) da criatividade dos participantes, que escreviam histórias livres sobre diferentes figuras equivalentes antes e depois do tratamento experimental. As histórias eram avaliadas por juizes independentes quanto a serem criativas, originais, inteligentes, imaginativas, cativantes, engraçadas, envolventes e charmosas, atributos que juntos compunham a medida subjetiva de criatividade.

Estudo número 1

No primeiro estudo, o procedimento de ativação era a apresentação para metade dos participantes de fotos de pessoas atraentes e era pedido para que escolhessem a que mais agradasse e depois que escrevessem como imaginariam o primeiro encontro com a pessoa. A outra metade era a controle, viam uma foto de uma rua com alguns prédios e era pedido para que se imaginassem lá e escrevessem quais seriam as melhores condições climáticas para passear e ver os prédios. A análise mostrou que os homens que viram as fotos de mulheres bonitas apresentaram maiores índices de criatividade na segunda história. Para as mulheres, não houve diferença no nível de criatividade da primeira para a segunda história entre as que viram homens bonitos e as que viram a rua.
Estudo número 2
No segundo estudo o procedimento de ativação mudou de fotos para histórias de contextos de busca de parceiros. Isso visando evitar vieses das diferenças entre homens e mulheres no efeito da exposição visual de parceiros em potencial, já que homens são mais visuais e mulheres mais contextuais. As histórias de contextos de busca de parceiros eram textos descrevendo uma situação em três versões: curto prazo, longo prazo e controle, que compunham grupos independentes.
Na versão de curto prazo, o texto descrevia uma situação de busca de parceiro romântico para um relacionamento curto e levava o participante a se imaginar encontrando e sendo correspondido por uma pessoa atraente no último final de semana de sua viagem de férias, numa ilha exótica, sem a possibilidade de reencontro e que termina com beijos na praia. Na versão de longo prazo o texto descrevia uma situação de busca de parceiro romântico para um relacionamento de longo prazo e levava o participante a se imaginar encontrando e sendo correspondido por uma pessoa atraente que estuda na mesma universidade, que é vista frequentemente e termina com beijos. Na versão controle o texto descrevia uma situação neutra quanto à busca de parceiros em que o participante era levado a se imaginar com um amigo do mesmo sexo procurando os ingressos de um show que iriam à noite e depois de muito procurar eles encontram e assistem ao show. A análise mostrou que tanto os homens que leram as histórias de curto prazo quanto os que leram as de longo prazo apresentaram maiores índices de criatividade na segunda história. Para as mulheres não houve diferença entre as controle, curto prazo e longo prazo.

Estudo número 3

No terceiro estudo o procedimento das três versões de histórias se manteve, mas visando evitar vieses das diferenças entre homens e mulheres quanto à necessidade de comprometimento amoroso no relacionamento de longo prazo, o texto da história de longo prazo foi completado. Acrescentaram uma frase indicando que a pessoa já se mostrou comprometida para a relação séria anterior, que os seus amigos e os amigos da pessoa aprovam a relação e termina com beijos de reatamento do casal.
Os autores usaram antes e depois das histórias uma medida objetiva da criatividade, o teste RAT (Remote Associates Test), que avalia a capacidade e a facilidade dos indivíduos em fazer associações apropriadas entre palavras relacionadas. A análise mostrou que, assim como com as histórias criativas, o teste RAT foi influenciado pelo contexto de curto prazo apenas para os homens. Já no contexto de longo prazo comprometido, homens e mulheres apresentaram igualmente melhores resultados de criatividade do que o controle. Isso mostra que homens e mulheres têm capacidades de aumento nas capacidades criativas quando expostos a contextos amorosos, mesmo as mulheres sendo muito mais exigentes quanto às condições necessárias para sua melhora.
Estudo número 4 

No último dos quatro estudos, o teste objetivo de criatividade RAT foi usado e o procedimento de história continha: a de curto prazo, a controle, e um terceiro grupo que receberia uma proposta de incentivo econômico para ser mais criativo. Aqueles que, tentando ao máximo ser mais criativo, estivessem entre os 30% melhores ganhariam 60 dólares. A análise mostrou que, assim como os outros estudos, os homens expostos ao contexto de busca de parceiros de curto prazo se mostraram mais criativos do que o grupo controle. E se mostraram mais criativos também do que os que receberiam o incentivo monetário e se esforçaram para ficarem criativos. Não houve diferenças para as mulheres das condições controle, curto prazo e incentivo monetário.
Os quatro experimentos exploraram os efeitos das motivações românticas na exibição de criatividade. Mesmo sem incentivos específicos, motivações românticas aumentaram a criatividade dos indivíduos segundo indicadores subjetivos e objetivos. Esse aumento não está relacionado com um maior empenho nas tarefas, como mais palavras escritas ou mais tempo elaborando a história, nem com mudanças de humor e não foi alcançado pelo incentivo monetário para ser mais criativo.
Conclusões interessantes
Para os homens, as pistas contextuais voltadas para relacionamentos de curto e de longo prazo aumentaram as exibições de criatividade. O que mostra que as exigências sobre a qualidade da parceira requeridas pelos homens para ativar exibições de criatividade são baixas. Isso porque eles não têm muito a perder em ambos os tipos de relacionamento, já que não foram eles que carregaram os custos fisiológicos de gestações desejadas e indesejadas durante todo o período no ambiente ancestral. Para as mulheres, apenas as pistas contextuais voltadas para relacionamentos de longo prazo comprometidos aumentaram as exibições de criatividade. Isso indica que as exigências sobre a qualidade do parceiro requeridas pelas mulheres para sua exibição criativa são mais elevadas. Isso porque o comprometimento por parte dos homens garantia a união do casal necessária para o cuidado bi-parental da prole no ambiente ancestral.
As Musas
É possível supor que exibições criativas evoluíram em parte por seu benefício na conquista amorosa pela seleção sexual, então poderemos finalmente ter uma explicação evolutiva para o antigo e muito difundido fenômeno das musas inspiradoras. O Guinness Book lista o pintor Pablo Picasso como o artista mais produtivo da história, com admiráveis 147.800 obras de arte. 

A carreira de Picasso é marcada por uma série de períodos artísticos de profunda inspiração criativa – a fase azul, rosa, cubista, surrealista – nas quais sua pintura revelava transformações visuais extravagantes. Porém um olhar mais atento para seus períodos gerativos mostra uma constante intrigante: cada nova época criativa floresce com pinturas de uma nova mulher, uma musa. Essa história artística não é exclusiva de Picasso: Salvador Dali, Friedrich Nietzsche e Dante dentre outros que também tiveram musas inspiradoras influenciando suas criações.
A noção enigmática de musa tem raízes na mitologia grega em que nove deusas musas atravessavam a Terra agitando os espíritos criativos de mortais artistas e pensadores. Segundos historiadores, todas as musas compartilham um fator comum intrigante e inexplicável: musas tanto reais da história quanto da mitologia são universalmente mulheres. Pense em quantas músicas existem com nomes de mulheres: Michele, Ana Júlia, Janaina, Maria Maria, Carolina, Ive Brussel, Bebete, Madalena, Dinorah Dinorah, Iracema, Aurora, Amélia, Bete Balanço dentre muitas outras.

Agora podemos explicar isso. As musas não são todas mulheres porque a figura masculina não é capazes de inspirar pessoas, nem porque os homens são mais criativos do que mulheres. Mas sim porque, como o estudo demonstrou, os homens têm seu potencial criativo disparado por mais contextos amorosos: imagens do sexo oposto, relacionamentos de curto prazo, longo prazo, e longo prazo comprometido. Enquanto as mulheres, que são tão criativas quanto os homens, têm seu potencial criativo disparado apenas quanto o companheiro demonstra comprometimento.

Um exemplo do efeito equivalente aos das musas para as mulheres e que também está de acordo com os resultados femininos do estudo vem de Elizabeth Barrett Browning, uma poetisa vitoriana renomada. Aos vinte anos, enquanto se encontrava com uma produção artística mediana, ela recebeu uma carta de um fã apaixonado, Robert Browning, que lhe declarou seu amor. Elizabeth não se convenceu das intenções de seu fã por pelo menos um ano inteiro quando, muitas cartas de Robert depois, eles concordaram em iniciar a sério seu relacionamento. E foi precisamente durante esse período do relacionamento quando Elizabeth inspirou-se a escrever Sonnets from the Portuguese, que se tornou sua obra criativa mais importante e mais aclamada criticamente.

Criatividade como indicador de aptidão
Tudo bem, a criatividade tem muita importância na seleção de parceiros amorosos, mas por que essa característica mental humana seria valorizada? O que ela têm de especial? Será que a criatividade indica alguma coisa relevante para a seleção sexual? É bem possível que sim. A criatividade pode tanto indicar confiavelmente algo sobre a pessoa criativa quanto ela pode explorar as propensões cognitivas preexistentes nos espectadores superestimulando-as no cortejo amoroso. Uma propensão cognitiva que temos é a neofilia, a atração pelo novo, ela está entranhada no cérebro dos animais. Os cérebros são naturalmente voltados para previsões. As mentes operam um modelo interno do que de biologicamente relevante está acontecendo no mundo e prestam atenção quando o mundo desvia-se do esperado. O poder de atração da atenção, da novidade, é uma das inclinações psicológicas mais fundamentais que poderiam ter influenciado a evolução das exibições de cortejo. No livro A Origem do Homem e a Seleção Sexual de 1971, Charles Darwin escreveu: “Pareceria até que a mera novidade, ou a mudança pela mudança em si mesma, às vezes tem agido como um encanto sobre as fêmeas de pássaros, do mesmo modo que as mudanças na moda nos afetam.”


Anti-tédio

Nas sociedades humanas modernas, a neofilia é a fundação de muitas manifestações como a pintura, música, televisão (programas e comerciais), filmes, mídia, imprensa, drogas, viagens, pornigrafia, moda, rádio e industrias de pesquisa, que respondem por uma proporção substancial da economia global. Antes dessas indústrias do entretenimento começar a nos divertir, precisávamos divertir uns aos outros na savana africana ancestral. Nessa visão, a criatividade evoluiu pela seleção sexual como um dispositivo anti-tédio. Os parceiros sexuais entediados depois de alguns dias ou semanas podem não ter estabelecido relacionamentos mais duradouros abrindo mão de vantagens reprodutivas. Cérebros menos criativos que ofereciam menos novidades contínuas, sendo menos interessantes como parceiros sexuais, amantes, amigos e companheiros, não tinham o suporte necessário para deixar muitos filhos.

As formas atraentes de novidade tendem a basear-se em um truque unicamente humano: a recombinação criativa de elementos simbólicos aprendidos, como palavras, gestos, movimentos, símbolos visuais, para a produção de arranjos novos com novos significados emergentes, como em histórias, melodias, poesias, danças, piadas e pinturas. Este truque permite que as exibições de cortejo humanas não apenas provoquem os sentidos e a atenção de potenciais parceiros amorosos, mas criem novas idéias e emoções nas mentes de todas as pessoas independentes de intenções sexuais e de paquera explícita. Como podemos ver, essas exibições sociais não precisam ser sexuais como a pôrno-chanchada para ser produto de seleção sexual. Se um filme de terror entreter, causar fascínio e admiração nas pessoas de modo que seu criador tenha um melhor status e uma maior apreciação social, inevitavelmente suas chances de reproduzir vão aumentar.
Sabemos então como nossas propensões neofílicas podem ter sido exploradas pela seleção sexual da criatividade. Agora precisamos saber se a criatividade em si indica alguma característica evolutivamente desejável no parceiro. Como a maioria dos mamíferos começa a vida sendo graciosos, brincalhões e inovadores, e gradualmente tornam-se sérios, pragmáticos e levados pelo hábito, comportamentos brincalhões e criativos na pós-puberdade podem ser indicadores de juventude, saúde e fertilidade. E como existe uma correlação positiva moderada entre a criatividade e a inteligência, de modo que a alta inteligência parece ser uma condição necessária, mas não suficiente para a alta criatividade, é possível que a criatividade seja um bom indicador de inteligência geral também.
Juventude, saúde, fertilidade, humor e inteligência são características influenciadas pela interação entre muitos genes e muito sensíveis ao ambiente de desenvolvimento, portanto elas são mais vulneráveis a mutações e a efeitos ambientais deletérios o que as torna bons indicadores de qualidade genética, de bons genes. Se a criatividade for um indicador de bons genes então ela deveria estar mais relacionada a relacionamentos de curto prazo do que de longo prazo. Essa questão foi pesquisada em 2006 num trabalho de Haselton e Miller. Eles também avaliaram se a preferência pela criatividade masculina por parte das mulheres variava conforme as mudanças na fertilidade ao longo das fases do ciclo menstrual.

A segunda pesquisa

Haselton e Miller amostraram 41 mulheres que não tomavam contraceptivos hormonais e tinham o ciclo menstrual regular. As participantes liam pequenas descrições de homens muito criativos e pobres e de homens pouco criativos e ricos além de dar informações sobre a data da última menstruação, que possibilitou calcular nível de fertilidade da participante no dia da pesquisa. As análises mostraram a existência de uma correlação positiva entre fertilidade e a preferência por homens criativos e pobres apenas quando as mulheres respondiam pensando em relacionamentos de curto prazo. E para relacionamentos de longo prazo não houve relação entre preferência por criatividade e fase do ciclo menstrual. A estimativa da fertilidade feminina previu sua preferência para o curto prazo tanto na sua preferência por cada tipo de homem, quanto na escolha forçada entre o criativo e pobre e o pouco criativo e rico.
Amplos horizontes
Esses resultados sugerem que a inteligência criativa masculina seja um indicador de aptidão referente a bons genes e que ela evoluiu em parte pela seleção sexual, com as mulheres preferindo homens mais criativos para relacionamentos de curto prazo. O trabalho sobre a preferência pela criatividade em relacionamentos de curto prazo no período fértil e o trabalho anterior sobre a maior exibição da criatividade em contextos relacionados com a busca de parceiros dão uma boa noção de quanto é promissor o estudo de características psicológicas imersas na criatividade pela ótica da seleção sexual. Muitos estudos sobre música, dança, poesia, pintura, escultura, teatro, malabarismos, humor e narração de histórias dentre outros ainda estão por vir. Isso irá aproximar as pessoas das áreas de comunicação e artes de psicólogos e biólogos. E além de mais pesquisadores nessa área, a Psicologia Evolucionista vai precisar de muita criatividade para desenvolver desenhos experimentais como esses capazes de testar hipóteses evolucionistas de seleção sexual.
Dicas de leituras
Darwin, C. R. (1871/2004). A origem do homem e a seleção sexual. Belo Horizonte: Itatiaia.
Griskevicius, V.; Cialdini, R. B. & Kenrick, D. (2006). Peacocks, Picasso, and parental investment: The effects of romantic motives on creativity. Journal of Personality and Social Psychology, 91(1), 63 – 76.
Haselton, M. G. & Miller, G. F. (2006). Women’s fertility across the cycle increases the short-term attractiveness of creative intelligence. Human Nature, 17(1), 50 – 73.
Miller, G. F. (2001). A mente seletiva. Rio de Janeiro: Campus.