6 anos de MARCO EVOLUTIVO e Feliz 2014
Feliz 2014 a todos seguidores, leitores e fãs do MARCO EVOLUTIVO! Iniciamos esse ano novo comemorando o singelo fato de que em novembro de 2013 completamos não UM, nem DOIS, TRÊS, QUATRO ou CINCO, mas sim 6 anos de existência. Agradeço muito todos os comentários, elogios e críticas recebidos e também aos mais de cem novos seguidores no Facebook que tivemos no ano passado, já estamos com 368. Continuem sempre acessando e compartilhando links do blog com os amigos.
Em 2013, grandes acontecimento acabaram freando um pouco a escrita no blog. O ano passado foi meu primeiro ano completo como professor universitário, então tive bastante trabalho, ministrei muitas aulas e por isso estou muito realizado. Estou desde abril como professor substituto no Departamento de Processos Psicológicos Básicos do Instituto de Psicologia da UnB e venho ministrando a disciplina de Introdução a Psicologia para graduandos dos mais variados cursos. Estou gostando muito da UnB e de morar em Brasília.
No ano passado também me casei com a mulher da minha vida, a Jaroslava Varella Valentova, Antropóloga Tcheca. Estamos muito felizes e realizados morando juntos, alternando entre a vida no Brasil e na República Tcheca. Enfrentamos o desafio de desenvolver uma cerimônia matrimonial humanista evolutivamente relevante com conteúdos de Psicologia, Biologia e Antropologia que ficou bem interessante e agradou a todos. Afinal, a ciência tem muito a dizer sobre o amor e as parcerias românticas.
Mesmo com apenas 5 postagens, de janeiro de 2013 até janeiro de 2014 o MARCO EVOLUTIVO quase 15 mil visitas. Tivemos mais de 12 mil visitas no Brasil, 682 de Portugal e 534 dos EUA. As outras visitas foram de Angola, Moçanbique, Reino Unido, Índia, México, Espanha, França, República Tcheca, Canadá, Alemanha, Cabo Verde, Japão, Filipinas, Colômbia, Irlanda, Argentina, Chile, Suíça e Equador, todos com 10 ou mais visitas.
Os 5 posts mais lidos de 2013 foram: 1-“Lamarck – A Verdadeira Idéia Errada”, 2-“O sexo chimpanzé e o conflito de gerações”, 3- “Dicas de Livros em Psicologia Evolucionista”, 4-“Seleção Sexual, de Parentesco, Natural, Artificial e Social”, e 5-“Festival de Vídeos: Evolução da Sexualidade Humana I”. O destaque do ano passado foi a comemoração dos Cem anos Sem Alfred Russel Wallace, quando celebramos a vida e a obra desse evolucionista esquecido por muitos.
O presente evolutivo desse começo de ano vem também em forma de celebração. Em 2013, fez 50 anos da famosa publicação de Nikolaas Tinbergen Sobre os Objetivos e Métodos da Etologia, onde ele descreve as famosas Quarto Questões de Tinbergen para o estudo do comportamento animal.
Então aí vai um número especial do Human Ethology Bulletin inteiro em homenagem ao meio século do paper On Aims and Methods do Tinbergen, que está bem interessante.
E aí vai ainda um artigo também em comemoração às 4 perguntas de Tinbergen que faz um retrospecto e atualização interessantes.
Fiquem com o vídeo do CrashCourse Biology sobre comportamento animal onde as quatro questões são abordadas de forma descontraida.
Evolucionismo de Grande Alcance
Darwin anteviu que num futuro distante sua teoria iria transbordar do círculo da biologia e atingir outras esferas como a área de Humanidades. A cada dia estamos mais perto de concretizar essa revolução Darwinista e perceber que o evolucionismo, por ser um tema transversal integrador, permeia todos os assuntos. Um bom exemplo disso é o surgimento de uma revista online evolutivamente relevante chamada “Evolution:This View of Life Magazine”. Com o nome inspirado nas palavras de Darwin em que ao comentar sobre evolucionismo disse que há uma grandeza nessa visão da vida.
Criada em outubro de 2011, a revista online gera e agrega conteúdo evolucionista relacionado às seguintes áreas: Biologia, Palentologia, Cultura, Saúde, Artes, Tecnologia, Religião, Política, Mente, Economia e Educação. Mesmo com menos de um ano de existência essa revista já é um marco evolutivo na divulgação do evolucionismo em todo seu alcance interdisciplinar. Várias entrevistas foram filmadas via internet com pesquisadores de cada uma dessas área acima. A revista é fruto de uma parceria do The Evolution Institute com o Consórcio EvoS, com financiamento da National Scince Fundation.
Por trás da “Evolution:This View of Life Magazine” está David Sloan Wilson, professor de Biologia e Antropologia na Universidade de Binghamton no EUA. Ele tem se esforçado para expandir a influência da evolução em diversas áreas, como no ensino superior com o EvoS, nas políticas públicas com The Evolution Institute, nas cidades com o The Binghamton Neighborhood Project e na religião com o Evolutionary Religious Institute. É claro que como ele é fiel ao grupo dos selecionistas de grupo acaba usando a revista para se promover e promover sua área. Atualmente ela é o palco para discussões acadêmicas sobre o novo livro do Edward Wilson e a relevância da seleção de grupo. Felizmente cada uma das 11 áreas acima tem seu editor próprio o que garante uma certa pluralidade para a revista.
O surgimento da revista é mais inspirador. Um aluno da pós-graduação o EvoS na Universidade de Binghamton, chamado Robert Kadar, inspirado e motivado pelas leituras do Conciliência do Edward O. Wilson e do Evolution for Everyone do David S. Wilson vislumbrou a idéia dessa revista para catalizar a conciliência entre todas as áreas do conhecimento por meio do evolucionismo para todos.
Assim como a Evolution:This View of Life Magazine surgiu, uma nova geração de estudantes, vários biólogos, psicólogos e outros estão começando blogs de ciência engrossando o caldo da divulgação científica e evolucionista brasileira. Temos muito o que fazer num país com maioria religiosa e de pouca instrução. Ajude você também a promover a conciliação das áreas do saber.
Festejando a Interdisciplinaridade
1º Simpósio em Psicobiologia de Natal




Ovo ou a Galinha?
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Um dos mais antigos e populares enigmas da humanidade. Um questionamento profundo, contínuo e insolúvel ou uma pérola da reflexão granjeira? Uma omelete entre e filosofia e a reprodução! São muitas as formas de manifestamos nossa perplexidade frente à questão do ovo e da galinha. Minha posição é que não se resolve a questão simplesmente apontando um ou outro como vencedor, mas sim esmiuçando e afastando as concepções pré-evolucionistas subentendidas no questionamento.
Na maioria das vezes a questão é apresentada de duas formas diferentes: “Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?” ou então “Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?”. Note que a primeira vista esta é apenas uma simples questão sobre origem. Mas a primeira forma não especifica o nível de explicação do “vir primeiro”, enquanto a segunda foca no nível do desenvolvimento individual. E isso já dá margem pra entendimentos diferentes, por mais que a grande maioria das pessoas ache que o único modo de se responder a perguntas sobre origem é recorrer ao nascimento, o que é muito pré-evolucionista. Pergunte a uma criança se nós viemos dos macacos, ela vai dizer que não porque veio da barriga da mãe dela. (lembrete: a criança está certa por motivos errados, não viemos dos macacos somos macacos!).
Existem duas formas de responder a questões sobre a origem dependendo da escala de tempo que você estiver em mente. Numa escala mais proximal está o nível ontogenético – o do desenvolvimento individual – o foco é a concepção ou o nascimento. Numa escala de tempo mais distal está o nível filogenético – o das espécies ancestrais – e o foco são os fósseis, a especiação e a comparação com as espécies mais próximas. Note que o debate sobre as células-tronco tropeçou nessa questão: quando aparece a vida? Qual vida, a do indivíduo ou a das espécies? Então fique sempre ligado no nível de explicação e explicite em qual nível você está pensando.
Outra questão pré-evolucionista escondida é o essencialismo ou fixismo. Pense comigo é possível nascer um mico leão dourado de um lobo guará? Ou um tamanduá bandeira de um peixe boi? Não porque cada uma desses animais só nasce partir de um da sua espécie. Mas então da onde veio o primeiro mico leão ou o primeiro peixe boi? Pensando assim de forma essencialista só é possível concluir que eles sempre foram assim. Você já notou que nos museus todos os tatus de uma espécie são representados por um indivíduo? Darwin introduziu o conceito de biopopulações que é um conjunto de seres iguais no geral, mas diferentes nos detalhes. Não existe o primeiro ovo nem a primeira galinha porque o indivíduo não evolui, é a população que evolui. Existiram populações de ancestrais de galinhas botadores de ovos que evoluíram como um todo gradualmente, e não de uma geração pra outra de um ovo macromutante.
Quando se pensa em ovo daí você pode retroceder para antes dos peixes, plantas e fungos, no início da reprodução sexuada quando gametas se juntaram pra formar um ovo. Quando se pensa na vida da galinha todas começam como um ovo, porque o ovo é do pintinho e não da galinha que o botou. Cada galinha só tem um ovo: aquele da qual se originou, pois depois de adulta os ovos botados são dos futuros pintinhos. Mas como todos sabem que galinhas (e todas as aves) são dinossauros então a reposta
para a questão de quem veio primeiro quando se pensa na linhagem das galinhas é o dinossauro.
Este texto faz parte (um pouco atrasado) da Blogagem Coletiva Caça-paraquedista (conheça mais sobre essa iniciativa). Se você entrou aqui pelo Google, seja bem-vindo e aproveite para conhecer um pouco mais sobre o blog e ciência!
Evolucionismo de Prato Cheio

Para que não falte ceticismo e racionalismo evolutivo na massa, teremos Richard Dawkins. Para que não esquecermos da sustância filosófica darwinista teremos Daniel Dennett. Para que tenha bastante comparação entre diferentes espécies teremos Jared Diamond. Para que a evolução da mente humana seja contemplada teremos Steven Pinker. E para dar liga científica e bem humorada à discussão teremos Douglas Adams, o nosso eterno mochileiro das galáxias falecido em 2001.
No primeiro vídeo, Dawkins fala sobre o poder da explicação Darwinista. Dennett fala do aumento da complexidade na paisagem do design. Diamond do Darwinismo aplicado à história e das relações entre a seleção natural e a sexual, citando o exemplo dos nossos queridos Bowerbirds.
No segundo vídeo, Dennett fala da evolução darwinista ocorrendo até na cosmologia, também fala da diferença entre a noção dualista e mística top-down dos que acreditam nos ganchos celestes para explicar o design dos seres vivos e a noção monista materialista botton up das gruas ou guindastes que fazem o mesmo serviço sem postulações metafísicas. Diamond fala da evolução do peixe elétrico e do sonar dos morcegos e do radar dos golfinhos. Daí Dawkins explica o posto de vista dos genes, temos que pensar no “sucesso” para os replicadores e não nos seus veículos.
No terceiro vídeo, Pinker explica o modo de pensar da engenharia reversa em que você já tem o dispositivo e precisa descobrir pra que serve e como foi projetado. Ele fala da Psicologia Evolucionista, usando a percepção visual e as estratégias reprodutivas como exemplos de adaptações mentais. E como exemplo de
fenômenos não adaptativos cita a religião, os sonhos a homossexualidade, a homofobia e a música (ponto em que discordo dele). Então, Dennett defende o adaptacionismo para a música (eba!). Daí Pinker fala do misterioso prazer da música. E depois fala da teoria da mente e da intencionalidade.
No quarto e último vídeo, Dawkins fala de um possível valor adaptativo da religiosidade com a propensão das crianças de seguir a fé dos pais. Douglas Adams fala da falta de valor adaptativo sobre o dinheiro. Dennett fala, no contexto da religião, da pena mágica que fazia o Dumbo voar e que quando ele soltou continuou voando. E também da idéia errônea de que os evolucionistas estariam acabando com a magia da vida. Nisso Adams continua o assunto sobre a religião e a ciência que é um prato cheio.
Espero reservem um tempinho pra desfrutar da overdose evolucionista desse bolo de aniversário do MARCO EVOLUTIVO.
Entre o dia do Psicólogo e do Biólogo, a Psicobiologia
É uma disciplina relativamente recente tendo aproximadamente 40 anos. Trata basicamente das causas proximais, visando uma integração da pesquisa voltada a todos os níveis de organização biológica dirigida ao avanço de nossa compreensão do funcionamento do cérebro e do sistema nervoso durante a aquisição de informações do meio e expressão do comportamento. Porém, enquanto as causas distais do comportamento, ou seja, seu valor adaptativo e sua história filogenética, focos de disciplinas como a etologia, ecologia comportamental e psicologia evolucionista forem menos abordados, a psicobiologia vai carecer do sentido que abordagem evolucionista traz para a biologia.


Dois Níveis de Causação, Duas Biologias




A Biologia histórica lida com todos os aspectos que abrangem a evolução. O conhecimento histórico não é necessário para a explicação de um processo de funcionamento puramente mecanicista. No entanto, é indispensável para a explicação de todos os aspectos do mundo vivo que envolvem a dimensão do tempo histórico (Mayr, 2005).




Referências
Dennet, D. C. (1995). A Perigosa Idéia de Darwin: a evolução e os significados da vida. Rio de Janeiro: Rocco.
Ferreira, M. A. (2003). A Teleologia na Biologia Contemporânea. Scientiae Studia, v. 1, 2: 183-93.
Mayr, E. (1998). O desenvolvimento do pensamento biológico. Brasília: Unb.
Mayr, E. (2005). Biologia, Ciência Única. São Paulo:Companhia das Letras.
Meyer, D. & El-Hani, C. N. (2005). Evolução: o sentido da biologia. São Paulo: UNESP.