Fala leitor: vídeo sobre as árvores da Marginal Tietê

O Rafael Tadeu comentou no post anterior sobre as árvores e as obras da Marginal Tietê e postou o link de um vídeo. Eu acho que o vídeo vale a pena ser postado e comentado, então lá vai ele.


Minhas considerações

O vídeo é muito bem feito, mas do mesmo jeito que há exageros do lado do governo, também há do lado dos produtores do vídeo.

Os políticos

“melhorar a qualidade de vida”, aumentando os investimentos em transporte individual invés de transporte coletivo? É ruim, hein?

“esverdear, o que não é mal, para a beleza da cidade, para tudo o mais” – tudo mais o quê, governador? Para o ambiente? Para a saúde das pessoas? Para o aumento da área de lazer da cidade (se é que o parque vai poder ser visitado, invés de ser como na Marginal Pinheiros)?

+ tenho alguns problemas com EIA/RIMA. Supostamente eles são a ferramenta legal que possibilita ou não a construção de uma obra no local onde há fauna e flora (originais ou não). Tenho problemas porque sei quanto tempo esses documentos demoram para ser elaborados (muito pouco) e sei quais são os tipos de pressão que uma empresa de consultoria recebe para realizá-los (muitos).

+ parque linear e ciclovia me parecem decisões tão boas para a marginal! O trânsito vai provavelmente continuar, o número de carros vai provavelmente aumentar, mas uma ciclovia é uma alternativa para quem quer deixar o carro em casa. Só espero que a ciclovia seja bem planejada e não um caminho que “leve nada a lugar nenhum”.

Os produtores do vídeo

+ tenho para mim que se alguém usava o canteiro central da marginal para caminhar, como o vídeo sugere, no mínimo tinha arriscado sua vida para atravessar a pista local, o que é muito perigoso. Fora que respirar o excesso de aerosóis que deve ter na marginal não vale a caminhada.

+ cobrar do governo manejo de fauna??? Que fauna???

+ dizer que a poluição vai aumentar e que a temperatura vai subir sem nenhum estudo científico adequado é uma tentativa enganosa de convencer pessoas de que a obra é ruim. A obra é ruim. Mas não por esses motivos. E, se não gosto de ser enganada pelos políticos, também não gostaria de ser enganada pelos manifestantes e organizações civis.

E você? O que achou do vídeo? Exagerei?

O causo das obras da Marginal Tietê

O post passado, sobre as árvores da Marginal do Tietê que estão sendo derrubadas para a ampliação da via, causou alvoroço nos comentários e trouxe outros aspectos da polêmica obra.

Veja, dizer que as árvores do Tietê não são empecilho para que a obra
aconteça (porque vão ser transplantadas, substituídas e um parque linear está no projeto) não quer dizer que a obra deva ser feita ou vá trazer soluções para o caos do trânsito na cidade. A obra tem problemas
muito maiores do que as árvores que hoje ocupam a Marginal, mas não são
as árvores que poderiam barrar a construção ou até mesmo, não são elas que seriam um bom jeito de unir a população em torno do
problema.

O problema gira em torno de um imenso nó da cidade de São Paulo, já discutido no post anterior e referendado por alguns colegas do Twitter: o trânsito. O trânsito, que não é só exclusividade da cidade de São Paulo mas de todos os centros urbanos de grande adensamento populacional, nasceu há muito tempo. Muito mesmo. Antes de qualquer um desses prefeitos, governadores e presidentes em quem nós, mais jovens, tenhamos sonhado em votar. O problema do trânsito é derivado de uma política pública de adoção dos automóveis como meios de transporte e da gasolina, derivada do petróleo como nosso meio de energia para movimentar esses automóveis. Foi uma escolha política, que beneficiava algumas relações comerciais e algumas relações pessoais e sociais.

Fato é: eu vejo duas escolhas para a resolução de um problema de trânsito – uma solução rápida, barata e que a curto prazo não vai mais funcionar, e uma lenta, gradual, com investimento alto em diversos setores, que deve funcionar a longo prazo.

A primeira é fácil! Usa-se o espaço disponível (que já é pouco e elimina o canteiro central), faz-se túneis, viadutos, pontes, outro andar de marginal, sei lá! Qualquer solução que busque aumentar a área para aumentar o fluxo de carros. Essa alternativa funciona por um tempo: tempo suficiente para outros carros invadirem as ruas, a frota aumentar, e tudo ficar insuportável de novo – que parece ser a saída adotada pela prefeitura e governo do Estado de São Paulo.

A segunda é muito mais difícil. Requer educação da população, investimento em transporte público de qualidade e em ciclovias, alternativas inteligentes para o transporte de suprimentos para a cidade, principalmente os atualmente feitos por caminhões, soluções para períodos de feriados e férias, ALÉM DE obras que facilitem o transporte de carros nos dias de semana.

Para a segunda escolha, não bastam investimentos em dinheiro, mas investimentos no social, no ambiental e no econômico, que permeiem outros setores que não só o de transportes. A logística da cidade deveria ser realinhada como um todo, para permitir um fluxo mais eficiente de abastecimento e de transporte de resíduos. As pessoas deveriam ter a disposição um transporte público de qualidade, com pontualidade e preços justos, que servisse toda a cidade com eficiência. As ruas e avenidas deveriam ser pensadas de modo a permitir um fluxo rápido para quem usa transportes públicos e também para permitir o uso de bicicletas. Projetos específicos para facilitar o escoamento de pessoas em períodos de férias e feriados deveriam ser estudados e implementados. 

Mesmo com um imenso investimento financeiro por parte do governo, nada disso seria útil se as pessoas que ocupam a cidade não forem educadas para usar transporte público sem preconceitos, para pensarem duas vezes antes de tirarem seus automóveis de casa e andarem a pé ou de bicicleta, para se educarem para o trânsito defensivo e não ofensivo.

Para isso, também é necessário investimento na área de segurança. E, nesse sentido, talvez fossem necessários menos investimentos na área de saúde. E a qualidade de vida de todos aumentaria muito.

Sinto que sonhei… E você? Acha que isso é possível, ou só fazendo uma nova São Paulo?

O causo das árvores da Marginal Tietê

Até onde vale a pena “brincar” com a natureza em detrimento do progresso? 

Com essa pergunta, do @interney, lá no Twitter, é que eu tiro o pó desse teclado, as aranhas desse mouse e recomeço a blogar.

A pergunta do Sr. Edney era um chamado para a leitura de um post do Cris Dias, sobre as obras na marginal do Tietê. Para a construção de 23 Km de extensão de cada um dos lados da via, além de novas pontes e viadutos (aqui), o canteiro central, que abriga hoje cerca de 4589 árvores adultas, deixará de existir. Dessas árvores, 935 serão transplantadas. As demais, algumas já condenadas, outras não, serão ou estão sendo derrubadas (aqui e aqui).

Minha discussão sobre esse assunto começou lá no twitter. Eu escrevi “dizer que as árvores da marginal são “natureza” é discutível.” E é mesmo. As árvores da marginal estão bem longe de ser um exemplo de mata ciliar, que é um tipo de mata original da várzea de rios. Aliás, o rio também não é mais o mesmo faz tempo. Assim como o Pinheiros, do qual já escrevi um pouco aqui, perdeu seus meandros ao longo dos anos, e foi perdendo cada vez mais a mata original, dando lugar não só a marginal, mas também a prédios comerciais e residenciais. 

Rio_tiete.jpg

Fonte da fotografia: Wikipedia

Dizer que as árvores da marginal são sumidouros de carbono também não é verdade. Árvores adultas retêm uma quantidade mínima de carbono. Árvores jovens, das que estão sendo prometidas pelo governo em substituição as que serão cortadas agora, essas sim podem contribuir para a diminuição da concentração de gás carbônico (mas só um pouquinho… 15 mil árvores retêm apenas algumas toneladas de carbono e não podem ser responsabilizadas por nada em termos de aquecimento global).

Uma questão interessante dessa história toda é a permeabilidade da via. Fato é que uma área de asfalto não absorve nada de água de chuva. A troca da área de gramado e árvores para maior área asfaltada, sem dúvida trará problemas de permeabilização de água. Mas acredito que já existam técnicas na engenharia civil capazes de auxiliar o escoamento de água (a verificar).

Agora, há uma outra coisa interessante nessa história. Fiz ainda a pouco uma perguntinha no Twitter: View image

Qual é, na sua opinião, o maior problema da cidade de São Paulo, hoje em dia?

Tive até agora 10 respostas. Nove delas, relacionadas à transporte: uma sobre ônibus fretado (@clauchowi), dois sobre transporte público (@carloshotta e @nelas) e seis sobre trânsito e mobilidade urbana (@djmisscloud, @UREU, @dbonis, @robertaavila, @docouto, @Joao_Gil). Também tive uma resposta sobre desigualdade social e miséria (@kekageorgino). 

Qualquer obra que permita maior fluxo de carros, menos congestionamento e maior mobilidade podem ajudar e muito, não só o bem-estar das pessoas que usam as marginais, como o meio ambiente. Menos trânsito = menos tempo de carros ligados = menos emissão de poluentes. Dizer que as obras da marginal não vão ajudar em nada é precipitado. Dizer que é melhor manter o canteiro central em detrimento da melhoria do fluxo de veículos, é um pouco duvidoso.

Restam duas dúvidas. A primeira sobre o paisagismo da área: vai ficar só concreto e asfalto ou vai sobrar verde para alegrar os olhos do paulistano? A segunda: até onde vale a pena brincar com a natureza em busca do progresso?

Fala leitor: Recicoleta

Este post é, na verdade, um comentário do leitor Paulo Ribeiro a um outro post, o “Dá pra reciclar embalagem TetraPak?”
Devido a importância do tema e às buscas sobre esse assunto no Rastro de Carbono, com a autorização do Paulo, vou publicar o comentário dele aqui.
Fala leitor!
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recicloteca.JPG
Somos uma unidade para recebimento exclusivo de embalagens longa vida (leite, suco, massa de tomate, achocolatado, milho, outros) no RJ e ES.
Trabalhamos na conscientização, sensibilização e comercialização destas embalagens.
Nossa finalidade é aumentar a coleta destas embalagens e sensibilizar a população sobre a reciclagem, evitando sua destinação inadequada para aterros sanitário e lixões.
Recebemos as embalagens em qualquer quantidade, solto ou prensado, armazenamos e depois enviamos para o reciclador.
Pagamos um preço justo e igual para todos os envolvidos neste trabalho, além de dar todo apoio e ferramentas ( big bags, folhetos, faixas, palestras) que ajudem na divulgação deste trabalho.
Estamos também fazendo um trabalho de responsabilidade social, no qual podemos incluir igrejas, escolas, projetos sociais, associações, e outros, que é a troca de embalagens por caixa de leite, telhas ecológicas feitas a partir dos resíduos das embalagens longa vida, cadernos, canetas, e outros.
Visite nosso site www.recicoleta.com.br e saiba mais sobre este projeto.
Divulgamos também para a população o trabalho dos envolvidos neste projeto no site www.rotadareciclagem.com.br . Onde a pessoa coloca seu endereço e no mapa aparecem todas as cooperativas, comércios e pontos de entrega voluntária que trabalham com as embalagens longa vida próximo aquele endereço.
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Então é isso! Se você mora no Espírito Santo ou no Rio de Janeiro, colabore com esse projeto enviando suas caixinhas, divulgando a Recicoleta, se voluntariando ou usando sua criatividade para ajudar o Paulo!
Se você tem alguma dúvida sobre esse projeto, escreva para o Paulo, lá pelo site da Recicoleta!
E, se você tem um projeto parecido e quer divulgá-lo aqui, sinta-se à vontade para usar esse espaço!

E o que me resta é bem pouco

Post de alerta para o Dia da Mata Atlântica

Alvorada lá no morro, que beleza
Ninguém chora, não há tristeza
Ninguém sente dissabor
O sol colorindo é tão lindo, é tão lindo
E a natureza sorrindo, tingindo, tingindo
( a alvorada )

Rodoanel.png
Fonte fotografia
centro_imigrantes.png
Fonte fotografia

hopi hari.png
Fonte fotografia

Você também me lembra a alvorada
Quando chega iluminando
Meus caminhos tão sem vida
E O QUE ME RESTA É BEM POUCO
OU QUASE NADA, do que ir assim, vagando
Nesta estrada perdida

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Música: Alvorada, Cartola.

Pegada 24 – Eu tenho uma dúvida!

Então… complementando o post abaixo, me ocorreu mais uma coisa!
75_xixinobanho.jpg
Se 75% das pessoas já desbebem no banho, que raios de economia vai ser essa?

Durante o banho, lavar a salada antes ou depois da calcinha?

Devemos à Índia e ao Paquistão gratidão eterna pela inveção do que para mim é o principal artefato dos banheiros urbanos da atualidade: o vaso sanitário. Claro… não como o conhecemos atualmente, mas, lá pelos idos de 2.500 a.C., latrinas ligadas a um sistema de corrente de água podiam ser usadas, desde que as pessoas estivessem de cócoras.
Coube aos egípcios o aprimoramento do sistema – a partir de 2.100 a.C, já se podia descomer sentado! Uma perfeição que só foi ultrapassada mil anos depois, quando o sistema sentar + dar descarga foi aprimorada pelos povos do oriente.
No Ocidente? Pasmem… no Ocidente a coisa desandou. Gregos e troianos se entendiam pelo menos em uma coisa: descomer ao ar livre. Já os para os romanos, que deviam mesmo gostar de mostrar suas obras, tudo era feito em grandes banheiros públicos – que também serviam de local para promoção de banquetes e debates! Sensacional! Em Roma, o sistema era bem parecido com o usado no Egito: sentado com fluxos de água para levar tudo embora. Pena que com a queda do Império Romano, os grandes debates e banquetes foram se extinguindo, assim como o uso coletivo do banheiro.
A popularização do vaso sanitário Europa afora só seu deu em 1668, a partir da França, quando um decreto determinou que deveria existir pelo menos um banheiro em cada casa. Em 1778, o inglês Joseph Bramah criou um vaso sanitário acoplado a uma descarga hídrica, que por muitos anos ficaria restrito à alguns usos.
lavar salada.JPG
Mas o que isso tem a ver com calcinha e salada? Bom, todo mundo sabe que esse negócio de descomer e desbeber em qualquer lugar pode ocasionar doenças – no caso do desbeber não pelo conteúdo em si, mas, assim como o descomer, pelos seres vivos que ele pode atrair – e, inclusive, seres vivos causadores de doenças.
A última campanha do S.O.S. Mata Atlântica sobre economia de água é uma loucura! Para economizar água vamos fazer o quê? Deixar de lavar o carro com tanta frequência? Trocar a válvula hidra do vaso sanitário por um sistema inteligente de dois volumes? Diminuir o tempo do banho? Recolher água da chuva? Não lavar a calçada? Fechar a torneira para escovar os dentes, lavar os cabelos ou ensaboar a louça? Aproveitar a água da máquina de lavar para lavar o quintal? Não!!!!
A bola da vez é FAZER XIXI NO BANHO (porque, aparentemente, é uma ação que todos podem fazer)! Óbvio, segundo o site, no começo do banho, senão fica cheiro, né? Resta saber como ficam os respingos nos azulejos! E o mal cheiro no ralo? Meu banho é ultra rápido – geralmente desligo o chuveiro para me ensaboar e para lavar o cabelo – não vai dar pra diminuir o cheiro!
Fora isso, segundo o gráfico apresentado acima, é possível economizar água no banho lavando roupa íntima e salada. Salada? Como assim, Bial? Antes ou depois da calcinha?
Mas, não paramos por aí! Apesar da aparente perfeição técnica dos criadores e diretores Eduardo Lima, João Linneu, Fabio Fernandes, Henrique Lima, Julio Zukerman e Fábio Simões (comentado nos mais conceituados blogs de publicidade – aqui e aqui), aparentemente é razoável fazer xixi na chuva (na fazenda, ou numa casinha de sapê também?) e embaixo de árvores (e viva a cultura greco-romana!) – como pode ser visto no gráfico abaixo (se bem que não peguei a ideia de como fazer xixi na chuva gasta água (será que devemos pedir pra São Pedro fazer parar de chover naqueles minutinhos fatídicos?):
chuva e arvore.JPG
Deixo a bola pra vocês… mas quando eu acho que tem gente que deveria parar de ajudar o planeta, é dessas e outras que eu me refiro. Só espero que ninguém saia por aí sugerindo que voltemos às fossas sépticas – lá não se gasta nem uma gota de água!
Fazer xixi no banho? Tô fora!
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Informações históricas: Fernando Dannemann
Mais sobre o tema: De repente
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UPDATE
No orkut, tem mais discussão sobre esse post rolando na comunidadePediatria radical.

Dia da Terra – Como estão as negociações sobre o clima?

ChargeGylvanNature.jpgCharge disponível em: http://www.nature.com/nature/journal/v455/n7214/full/455737a.html

Hoje, 22 de abril, comemora-se o Dia da Terra. Para celebrar essa data, aproveitei uma pseudo-férias para ir à USP, assistir a um debate que promete analisar as negociações sobre mudanças climáticas, o que já foi feito, o que tem sido feito, o que será feito para as negociações internacionais e as perspectivas nacionais em políticas públicas. 
Na chegada ao debate, no IEA, já tive uma pequena disputa de trânsito com uma fulana que definitivamente não sabe dirigir, num Tucson. Está agora sentada ao meu lado. Espero que ela tenha grandes contribuições para dar sobre o tema, já que deve ser uma pessoa muito consciente sobre suas emissões pessoais de gases do efeito estufa. 
Na mesa de discussões, apenas nomes de respeito: Sérgio Serra, Gylvan Meira, Adriano Santhiago, Paulo Artaxo, Tercio Ambrizzi, José Eli da Veiga e Wagner Costa Ribeiro. Em discussão, o encontro em Copenhagen (COP-15), o mapa do caminho de Bali (COP-14) e os trilhos formados pelos grupos de trabalho AWG-KP e AWG-LCA, as políticas públicas dos EUA, o Protocolo de Kyoto e o segundo período de compromisso a ser assumido pós 2012, G-20 e UNFCCC, entre outros. 
Resumo da ópera: 
+ Há um grupo Ad Hoc discutindo o futuro do Protocolo de Kyoto (AWG-KP) e o segundo período de compromissos, que deverá ser firmado após 2012, quando expira o prazo para as reduções de emissões previstas pelo Protocolo. 
+ Há um outro grupo Ad Hoc discutindo formas cooperativas de ação a longo prazo (AWG-LCA) para mitigar as emissões de GEEs.
+ Todos esperam uma definição dos EUA sobre as políticas em relação às mudanças climáticas, mesmo sem terem ratificado o protocolo de Kyoto. Uma política de “cap and dividend”, será?
+ Há uma esperança de que o G-20 – que contempla o grupo dos países que deve ser responsável por cerca de 82% das emissões de gases do efeito estufa do mundo até 2015 – proponha medidas de mitigação dos gases do efeito estufa além dos objetivos da UNFCCC. [Minha opinião: não vai acontecer.]
+ Infelizmente, mitigação parece ser a ponta do tripé mais discutido entre os delegados da UNFCCC. Adaptação (o que faremos quando as consequências do aquecimento global começarem a ser sentidas?) e vulnerabilidade (quais as regiões mais vulneráveis aos efeitos do aquecimento global?) são os primos pobres dessa discussão.

+ No Brasil, há grandes discussões sobre REDD (Redução das Emissões de Desmatamento e Degradação ambiental), ou seja, uma política de incentivos para redução de emissões de gases do efeito estufa provenientes de desmatamento e degradação ambiental em países em desenvolvimento que fazem correta conservação, manejo sustentável e aumento dos estoques de CO2 em florestas. [Deve-se lembrar que o Brasil está planejando a adoção de uma matriz energética movida a combustíveis fósseis (termelétricas), aumentando a intensidade de carbono da economia, fragilizando nossas posições na UNFCCC].

Basicamente, enquanto os delegados dos mais de 192 países membros da UNFCCC discutem se querem trabalhar com um plano de mitigação, adaptação e vulnerabilidade com base em uma perspectiva de um aumento de 2 ou 4 graus Celsius, o Brasil insiste na política da responsabilidade histórica e os países do G-20 fingem que a crise ambiental merece menos atenção do que a crise econômica, o Planeta Terra esquenta, e a fulana do Tucson dirige por aí sem nenhuma responsabilidade por suas ações pessoais e o aquecimento global faz suas vítimas.

22 de março – Dia Mundial da Água

468x60banner.gifwww.worldwaterday09.info

O Dia Mundial da Água foi instituído pela Organização das Nações Unidas em 1992, no Rio de Janeiro, durante a Eco-92. O dia 22 de março foi escolhido para as comemorações, e deve estar em confluência com os objetivos da Agenda-21, principalmente com o capítulo 18, que fala sobre o desenvolvimento e o manejo dos recursos hídricos.

Este ano, o tema para discussões no dia mundial da água é “Transboundary water: shared water, shared opportunities“, que, em uma tradução pessoal, seria “águas que cruzam fronteiras: dividindo água, dividindo oportunidades”.

“Whatever we live upstream or downstream, we are all in the same boat.”

Segundo a ONU, em 60 anos, aconteceram mas de 200 acordos internacionais para uso e divisão de águas que cruzam fronteiras e apenas 37 casos nos quais houve violência, mostrando que a cooperação, não o conflito são mais comuns nestes casos.

Água é um bem natural, do qual dependemos para sobrevivência direta e indireta. Precisamos de água para manter práticas agrícolas, pecuária. Precisamos de água em indústrias, para nosso lazer e higiene pessoal.

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Tsiribihina River, Madagascar. Photo: Swiatek Wojtkowiak. Clique aqui para ver mais fotos como esta.

De toda a água existente no planeta, apenas 2,5% são água doce. Destas, 68,9% (climate change permit) estão em geleiras e coberturas de neve permanentes (como no Himalaia, por exemplo); 29,9% estão em aquiferos (como no Aquifero Guarani); 0,3% está em lagos e rios (e apenas esse tanto é renovável); e 0,9% estão em outros (como solo, nos seres vivos, etc.).

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 Distribuição de água no mundo. Imagem por Shiklomanov. Disponível em UNESCO.
No Brasil encontra-se 12% da água doce do mundo. Por isso mesmo há necessidade de uma gestão de recursos hídricos exemplar. Segundo a ANBA, o país apresentará este mês, na Turquia, seu plano de manejo, que inclui o gerenciamento conjunto das bacias hidrográficas (na qual participam governos municipais, estaduais e federal, usuários, universidades, ONGs, etc, além de outros planos de caráter regional.
Dividindo água, dividindo oportunidades me faz lembrar de dizer que dividir não é desperdiçar, e que devemos planejar o consumo consciente de água, mesmo estando em um país privilegiado em relação à disponibilidade de água doce. Portanto, algumas dicas:
+ Não lave calçadas, quintais, carros, etc. sem antes pensar na real necessidade disso. Pense antes em alternativas que ajudem a evitar o desperdício.
+ Feche torneiras enquanto escova os dentes, ensaboa louças ou roupas.
+ Desligue o chuveiro enquanto estiver se ensaboando.
+ Conserte o mais rápido possível torneiras que ficam pingando. 
+ Olhe atentamente sua conta de água e verifique se não há nenhum gasto que lhe pareça absurdo nos últimos meses. Isso pode significar que você tem um vazamento sério.
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Saiba mais:
Em inglês:
Em português:

Cintura de plástico

Ontem eu estava cozinhando (eu adoro cozinhar) e me vi cercada por plásticos. Era o plástico que embalava as vagens, o plástico em embalava as cenouras, o plástico da garrafa de leite, uma sacolinha que eu nem consegui identificar de onde veio, duas sacolas que os feirantes usaram para colocar os sacos de vagem e cenoura, que depois eu coloquei na minha sacola de ráfia, mas já era tarde demais.
E isso me fez lembrar da sopa de plástico do Giro do Pacífico Norte, que eu publiquei, atônita, há um pouco mais de um ano atrás.
Consegui os endereços da pessoa que fotografou aquela tartaruga, não se preocupe se você não se lembra, vou colocá-la novamente aqui. E, descobri que além da dita fotografia conhecidíssima, também existem outras, que ajudam a contar uma história.
O fotógrafo em questão é um herpetologista, Dino Ferri, que na época trabalhava no Audubon Nature Institute, em New Orleans.
Imagine-se no lugar deste pesquisador. Conta Ferri que em um dia normal de trabalho, chegou um garotinho com uma caixa na mão. Ele tinha resgatado aquela tartaruga na praia e queria saber informações sobre ela, gostaria que o aquário do instutito cuidasse dela.
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A tartaruga, identificada como uma “snapping turtle“, foi submetida a uma série de exames que mostravam como um pequeno círculo de plástico, provavelmente de uma embalagem de refrigerante, poderiam interferir no crescimento do animal. As imagens eram chocantes.
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Exames de raio-X mostravam que nossa pequena tartaruga era uma fêmea e estava gravidíssima. Os ovos podem ser vistos nesta imagem como esferas brancas na parte posterior do animal, espremidos no espaço anterior ao anel plástico. Muitos ovos (como compete a uma tartaruga de respeito).
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A capacidade de reprodução de indivíduos de uma espécie diz muito sobre a saúde da espécie como um todo. Espécies que conseguem gerar descendentes férteis continuam na luta pela sobrevivência. As que não conseguem, se extinguem. Se um organismo consegue se reproduzir, as chances de que os descendentes deles carregem características que os possibilita sobreviver de modos inóspitos, como com um anel plástico envolta do corpo pode ser boa.
Infelizmente, nenhum dos filhotes sobreviveu.
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Use plásticos conscientemente. Evite quando possível. Dê a destinação adequada para o seu lixo. Não jogue lixo em vias públicas, praias, lixões ilegais.
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Imagens por Dino Ferri.
Saiba mais:
Brontossauros em meu jardim

Best life