Quando a luz dos olhos teus…
Quando saímos de um lugar escuro para um bem mais claro, nós sentimos um pouquinho de dor (olhar direto para o Sol, por exemplo, dói porque a retina está literalmente queimando) mas conseguimos acostumar a visão rapidamente.
As pupilas se contraem quase instantaneamente e muito pouca luz entra.
Simples.
Já o contrário não é tanto assim.
Um experimento para se fazer em casa: num dia de sol forte, fechem as janelas, portas e cortinas, esperem uns dez minutos e saiam. Contem quanto tempo demora para a visão se adaptar.
Novamente, aguardem mais uns dez minutos embaixo do sol forte, entrem novamente na casa escurecida e marquem o tempo de se acostumar.
A segunda etapa levará mais tempo.
Mas por que? Não é só a pupila dilatando e contraindo?
Não.
Existe uma faixa de claridade onde a retina funciona melhor e a pupila se encarrega de deixar a luz nesse meio.
Mas também existe uma substância chamada rodopsina, que fica nas células no fundo dos olhos, que muda para um formato diferente, nos fazendo ver a luz.
Quando essa conversão se dá, ela não volta atrás facilmente e, ficando-se ao sol num dia muito claro, essa substância é usada muito rapidamente, dificultando a visão noturna, que se utiliza do formato inicial da rodopsina para funcionar.
Por isso que ficamos tanto tempo com aquele flash nos perseguindo desde a última fotografia…
O controle da visão não é só mecânico (pupila), mas também químico (rodopsina).
É, eu também achava que fosse algo mais fácil…
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Este artigo finaliza a minha participação e encerra a semana da Blogagem Coletiva Luminosa.
Por favor, o último a sair apague a luz.
Alergia à luz
Existe um nervo dentro do nosso crânio chamado Nervo Trigêmeo, que tem função mista (serve tanto para mexer quanto para sentir). A parte motora desse nervo faz a mandíbula funcionar e a parte sensitiva dá sensação à pele do rosto, à parte de trás da língua, aos dentes, às pálpebras e às mucosas da boca e nariz. E é aqui onde meu interesse começa.
O nervo ótico (um nervo do tipo que só serve para sentir) quando superestimulado (sair de um lugar escuro para um muito claro) pode vazar e interferir no trigêmeo (assim como ligar o liquidificador pode interferir na imagem do televisor. Fiação mal-feita…), acionando-o. Isso é um traço genético de codominância (não vou explicar isso aqui, mas é o mesmo esquema de tipo sanguíneo) que faz com quê os indivíduos que a possuam espirrem quando saiam ao sol.
Eu sou um deles.
Não consegui achar ainda relação entre isso e fotofobia (que apesar do nome não é medo de luz, mas dor e desconforto nos olhos quando expostos à luz forte), que também me acomete, mas acho que faz sentido.
Fotofobia é um problema nos fotorreceptores da retina, que absorvem muita luz e mandam uma quantidade exagerada de estimulação pro nervo ótico.
Esse defeito causa dor nos olhos e, se a exposição for longa e contínua, conseqüente dor de cabeça.
Segundo meu oftalmologista, não existe cura, só paliativo; óculos escuros.
Quando meus olhos se enchem de luz, logo após a dor de agulha (de tricô) quente (incandescente) entrando (de lado) no olho, a parte ótica nervosa se acende (como um filamento de lâmpada) e transborda (como leite não-vigiado no fogão) para dentro do nervo que controla a sensitividade da mucosa nasal.
Além de ser quase cego em dia de sol forte perto de paredes brancas, eu ainda fico espirrando feito menino novo gripado brincando no tapete da sala.
Tenho amigos míopes que antes de abrir os olhos pela manhã precisam calçar suas lentes corretivas. Quando os vidros do meu lar não eram enegrecidos, eu precisava fazer isso com os meus óculos escuros. Já acordava espirrando e com dor de cabeça.
E cada espirro meu me custa uma semana de vida (quem já me viu espirrando concordará). Eu não posso andar sem proteção visual (pelo menos se quiser chegar aos trinta).
Caso você espirre ao primeiro sinal de sol, saiba que não está sozinho.
Eu também sou alérgico à luz.
“Como a gente sabe como os cachorros enxergam?”
Um amigo meu me perguntou isso várias vezes e nunca esperou para ouvir a resposta, ficava tão indignado com a impossibilidade da certeza da informação que ia logo embora jogar bola, resmungando “quem foi que disse?”.
Antes de mais nada (fora o que eu já disse aí em cima), os cachorros são animais noturnos por natureza. Eles só foram domesticados por nós há mais ou menos quinze mil anos e ainda não deu tempo deles evoluirem o aparato visual para visão diurna.
No escuro não dá para ver cores (tente escolher uma camisa pela cor, de noite, sem acender uma luz), então é mais vantagem desenvolver mais os sentidos que não dependem de luz, como olfato e audição [1].
Na parte dos olhos dos mamíferos que capta luz, existem dois tipos de células que fazem isso; cones e bastonetes.
Os cones são responsáveis por captar cores e pela visão detalhada (visão direta) enquanto os bastonetes existem para detectar movimento (visão periférica) e para visão noturna.
Nós temos três tipos de cones nos nossos olhos, mas os cachorros só possuem cones azuis e verdes. Eles não enxergam vermelho e muito pouco verde (que misturado com azul fica amarelo).
O espaço que sobra na retina canina é compensado com muito mais bastonetes, fazendo-os se adaptar melhor a condições de pouca luz. Os cachorros percebem movimento bem melhor que nós e o mundo deles também é bem mais claro por causa dessa quantidade extra de células receptoras de luz e movimento.
Mas ao mesmo tempo o mundo deles é menos colorido e mais borrado, pela falta de células captadoras de cor e de traços finos.
A evolução fez os cães assim e a ciência médica e veterinária descobriram o resto.
Não é que alguém tenha chegado prum cachorro e dito “Ei, de que cor é essa maçã?” e riu depois que ele respondeu “Preta!” e ficou abanando o rabo com a língua para fora por ter interagido com uma pessoa.
Não é assim que Ciência funciona.
Finalmente, os cachorros não enxergam em preto e branco, eles só não vêem a cor vermelha nem os detalhes das coisas, então nem adianta mostrar aquela escultura em argila bem trabalhada de Chico Barreiro que eles não vão saber apreciá-la.
Acho que é isso mesmo.
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ATUALIZAÇÃO: [1] O que eu escrevi ficou meio estranho mesmo, meio fora do rumo e dando a impressão de propósito, mas o Luiz Bento me corrigiu: “A ausência de luz não é uma pressão seletiva forte para cores, então organismos que nasçam de forma aleatória com uma visão para cores mais desenvolvida não terão vantagem perante os outros. Já os que nascem com qualquer desvio para um sentido como olfato e audição mais desenvolvida terão uma vantagem reprodutiva e irão passar essa característica para os seus descendentes.”
Valeu!
Espectro Eletromagnético – Parte 2/2
==> Isto é uma continuação, se você chegou aqui agora e não leu a primeira parte, volte e leia, senão nada aqui fará sentido.
Bem, fará, mas você estaria perdendo metade da diversão! <==
Tanto os olhos quantos as antenas de rádio são receptores de luz. Nós não vemos o sinal do celular porque as estruturas de captação de luz nos nossos olhos são muito pequenas e as ondas de rádio são muito longas e não cabem dentro das células.
É como jogar sinuca com bolas de vôlei.
=> Não consigo pensar numa frase inteligente para esta passagem…
Chegamos ao Ultravioleta. “Ultra” significando “acima”, “violeta” significando a cor violeta. Óbvio (ainda estou estudando e achei pouca coisa, aí estou enchendo com miolo de pote).
Ah, achei uma coisa interessante; O sol produz muita luz ultravioleta que é bloqueada pela nossa atmosfera, ou era, pois o que bloqueia mesmo é ozônio (um alótropo do oxigênio, que se combina em três átomos) e esse ozônio está sendo quebrado por clorofluorcarboneto (o famoso CFC).
Por ser muito energética, radiação UV tem a propriedade de quebrar ligações químicas. Uma dessas quebras acontece na nossa pele (e na dos porcos), causando as queimaduras de sol e, em casos extremos, câncer de pele (o carcinoma é causado quando um desses fótons super-energizados atinge e desmantela uma molécula de DNA, fazendo-a agir de forma imprevisível e incontrolável). O mesmo processo pode causar catarata no olho, ressequidão (acho que essa palavra não existe), rachadura em plásticos (polímeros em geral) e degradação em tintas expostas ao sol.
Tinta UV é usada em sistemas de segurança (da próxima vez que você estiver numa boate com luz negra, olhe pro seu cartão de crédito) e lâmpadas que criam luz ultravioleta (como as fluorescentes) são usadas em armadilhas para insetos (que se orientam à noite navegando pela luz da lua e das estrelas, mas é um pouco mais complicado que isso. Entomologia é divertido).
Análise de minerais, espectrofotometria (tipo espectroscopia, mas mais especializado) e outras coisas com nomes ainda mais difíceis de ler e pronunciar.
=> Carcinoma nos ossos.
A próxima etapa na escala energética da luz é a dos Raios-X.
Esse nome é muito aleatório mas é muito massa também, coisa de revista em quadrinhos e foi dado por um alemão, Wilhelm Röntgen, que recebeu o PRIMEIRO prêmio Nobel de Física por seus estudos sobre os raios. Invocado!
Lorde Kelvin, o da escala de temperatura, disse uma vez que “raios-x não existem, isso é conversa”, mas eu não o ouvi dizendo, não porei minha mão proverbial no fogo.
Raios-x (sempre no plural, diferentemente do terceiro verso da canção festiva “Parabéns A Você”, que é “muita felicidade”, no singular) são usados principalmente em contadores Geiger (para medir o nível de radiação em determinados locais), em astronomia (olha aí, os astrônomos de novo) para medir buracos negros e a freqüência de pulsares e, mais comumente, para bater chapas radiográficas, que depois de usadas, podem servir para a observação de eclipses solares (por astrônomos-mirins, talvez?).
Gerar esse tipo de radiação consome MUITA energia, que geralmente é associado à temperatura dos corpos. Pulsares brilham nessa faixa de luz por serem absurdamente quentes.
Uma máquina de raios-x é na verdade uma grande máquina fotográfica que enxerga fótons hiper-energéticos (gerados por ela própria), mas precisa imprimir num filme, como um lambe-lambe.
Não adianta o Super Homem ter visão de raios-x se não tiver algo atrás do objeto para aparar a radiação, que deve ser lançada de seus olhos (pois objetos frios como paredes e roupas não emitem esse tipo de luz).
=> Do Homem de Aço para o Homem Verde Zangado.
Depois de Raios-X, vêm os Raios Gama.
Não importa o quão mais energético se tornem (não existe ainda limite teórico máximo de energia), continuarão sendo raios gama.
Alternativamente à forma como os comprimentos de onda da faixa de Rádio podem ser enormes, os da faixa Gama são tão pequenos que uma ruma deste tamanho ainda não dá para ver.
Além de transformar o pacífico físico Bruce Banner na besta selvagem e incontrolável conhecida por Incrível Hulk, a radiação gama, por ser altamente letal para qualquer espécie de vida, é usada como meio de esterilização de equipamentos médicos e irradiação de alimentos (ou “pasteurização fria”, como querem chamar agora para distanciar o método do estigma de “radiação”), o que destrói qualquer ser vivo, como bactérias, que estejam só esperando um hospedeiro quentinho para se estabelecer e tomar de conta.
São naturalmente gerados em explosões de Supernovas e em explosões nucleares, guardadas as devidas proporções.
Bicho muito perigoso. Sempre que puder, evite (radiação gama é não-residual, ou seja, não deixa restos por onde passa, portanto você pode comer comida irradiada sem preocupação; a não ser que você seja o técnico responsável pelo processo).
E este é o Espectro Eletromagnético!
Espero que tenha sido compreensível.
Espectro Eletromagnético – Parte 1/2
Fótons – porçõezinhas de energia que são, ao mesmo tempo, partículas (como coisas sólidas) e ondas (como som), que se movem à velocidade da luz (trezentos mil quilômetros por segundo) e que variam em freqüência, ou em quantidade de energia, e carregam energia eletromagnética.
Energia eletromagnética é mais ou menos tudo, variando de ondas de rádio, passando por cores, até raios gama.
As ondas de rádio variam em tamanho de vários metros a poucos milímetros. Mas isso é irrelevante (para este artigo, pelo menos). Interessante mesmo é que elas servem para rádio (é nada!) AM (amplitude modulada), FM (freqüência modulada), amador, TV VHF (very high frequency, ou freqüência muito alta), UHF (ultra high frequency, ou freqüência ultra-alta), telefones celulares, ressonância magnética, radares, redes sem fio (do tipo que pessoas usam para espalhar internet grátis pela vizinhança, sem se dar conta), Bluetooth (ou dente-azul, o apelido dum rei norueguês) e outras coisas.
=> Da TV para a pipoca.
Alguém (provavelmente americano), num-sei-quando (provavelmente durante a Segunda Guerra), num-sei-onde (essa nem chutando eu sei) descobriu que Micro-ondas aumentam a energia das moléculas de água, fazendo-as vibrar mais rápido, resultando em aquecimento do líquido.
Como toda comida tem um pouco de água, essa energia podia ser usada para esquentar o alimento.
E inventaram o forno de micro-ondas; um forno mágico que só esquenta a comida e não os recipientes.
Os pratos esquentam por condução de calor. O sanduíche quente esquenta o prato encostado nele. Da mesma forma, a umidade do ar esquenta o ar dentro do forno, aquecendo o prato.
Micro-ondas servem para outras coisas, como radioastronomia e transmissão de dados, mas comida quente é melhor. Principalmente se botar farinha depois.
=> Aqueceu, ficou quente.
Radiação infravermelha é basicamente calor.
Nós a utilizamos em óculos de visão noturna (mesmo sem luz visível, corpos ainda emitem calor, captado pelos óculos), espectroscopia (técnica usada para medir quanto de cada material existe em determinada substância. Exemplo: quanto de gás carbônico existe no ar), em previsão do tempo (que precisa melhorar um bocado ainda) e em astronomia (astrônomos usam TODA a tecnologia disponível no mundo), pois a luz infravermelha não é bloqueada por nuvens de poeira, como acontece com a luz visível.
O nome vem do fato dessa faixa de freqüência ser imediatamente inferior (em energia) à luz vermelha, que é onde nossa visão começa a funcionar.
=> E fez-se a Luz Visível!
Experiência interessante: acenda a boca de um fogão e coloque um garfo (os dentes finos ajudam a acelerar o processo (use um garfo com cabo de madeira ou plástico ou enrolado num pano (cuidado para não queimar o pano!))) em contato com a chama. Quando avermelhar, você estará testemunhando a criação de luz visível, nascendo do estágio energético imediatamente inferior (a energia aumenta porque está sendo suprida pela labareda), radiação infravermelha.
Física é o que há!
A transição da radiação infravermelha (milésima vez que escrevo a palavra “infravermelho” e não consigo escrever certo de primeira… a mesma coisa acontece com “limitando-se”) para a luz visível dá-se quando uma coisa fica tão arrochadamente quente que fica incandescente, avermelhada.
Tudo até agora e daqui em diante é luz, do mesmo jeito que luz é luz, mas a luz que chamamos de luz é, na verdade, luz visível.
Esta vai do vermelho ao violeta e é composta por uma quantidade virtualmente infinita de cores, e não só as sete do arco-íris (vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta). Estas são apenas concentrações mais fáceis de ver dentro das transições infinitas.
Com luz visível dá para fazer um mói de coisa. Ver é a melhor delas.
Todos os que estão lendo isto enxergam, então não preciso discorrer sobre o assunto (e também não dá para explicar percepção subjetiva; tente imaginar uma cor que você nunca viu, por exemplo).
Minha cor favorita de dizer é “grená” (existem pessoas que sofrem de uma condição chamada sinestesia, que as fazem experimentar cores combinadas com outras sensações, como ouvir um azul, mas eu dedicarei um artigo completo a isso porque é muito legal de verdade).
==> Em prol da parcimônia e zelando pela paciência de meus visitantes, divido este artigo em dois. A primeira parte acaba aqui, a segunda virá amanhã. <==
Fibras óticas e limpadores de parabrisa – Blogagem Coletiva
Vejam essa foto (retirada daqui):
Isso é água jogada pra cima com o Sol brilhando nas gotas.
Tem algo faltando na foto, mas o quê?
Antes que a tensão se torne insuportável (estresse causado por suspense já se tornou uma doença crônica em algumas partes da Galáxia), eu dou a resposta: o Sol está faltando.
Tudo bem, ele aparece centenas de vezes na foto (oitocentas e setenta e cinco ocorrência. Sim, eu contei, porque eu sou do tipo de pessoa que conta as coisas compulsivamente. Mas demorei um bocado porque eu também sou do tipo de pessoa que se enrola quando está contando muitas coisas iguais), mas não aparece de fato em lugar algum.
Ele também não está sendo refletido pelas gotas. Está na verdade sendo refratado (novamente, eu sou desse tipo de pessoa).
Reflexão é o “retorno de uma onda vindo de uma superfície, mantendo ângulo de incidência original”, o que significa que se um motoqueiro não consegue ver seus olhos nos retrovisores do seu carro, você não pode ver a moto.
Similarmente, quando eu estou dentro da minha garagem, não consigo ver se há carros vindo pela rua. Mas se eu colocar um espelho no canto, aí sim eu vejo a rua.
Por mais pobre que tenha sido esse meu exemplo, é exatamente assim que fibras óticas funcionam. Elas enxergam ao redor de curvas com a ajuda de espelhos colocados nas quinas.
(Para efeito de esclarecimento, fibras óticas não só não enxergam como também não colocam coisa alguma em quinas. Apenas me utilizei de um recurso literário chamado “personificação”. Mas, de volta ao que interessa.)
Uma fibra ótica é composto por uma parte interna feita de vidro (ou plástico) transparente para o transporte de luz, uma cobertura ao redor do miolo que serve para refletir a luz lá dentro, e uma camada externa, para proteção (criando efetivamente um espelho cilíndrico de reflexão interna).
Uma luz é acesa numa ponta e vai refletindo, através das curvas e dobras, até chegar ao outro lado. Se essa luz estiver piscando (digamos, em Código Morse) e alguém na outra ponta souber interpretar tal intermintência, uma mensagem pode ser passada.
Se essa luz estiver piscando loucamente rápido (usando o onipresente Código Binário) e houver um aparelhinho do outro lado que consegue acompanhar e entender, uma mensagem útil pode ser transmitida.
Aliás, várias mensagens podem ser transmitidas ao mesmo tempo pelo menos fio (geralmente mais fino que um fio de cabelo humano normal).
“Mas como?”, eu os escuto perguntar.
Voltando ao exemplo da moto e do carro: digamos que exista duas motos atrás do seu carro, cada uma com uma placa (no mundo bizarro que eu estou criando para este exemplo, motos têm placas na frente) e você só possa usar um espelho.
Por causa do ângulo, você só consegue ver uma das motos e, consequentemente, só consegue ler uma das placas.
Isso é 1 informação que seu retrovisor passou.
Mas o seu passageiro (sim, você tem um passageiro, não se assuste, ele é seu amigo ou cônjuge), por estar sentado numa posição diferente da sua, consegue ver a outra moto e ler a outra placa.
O mesmo espelho passou duas informações diferentes.
Numa fibra ótica ocorre o mesmo, mas numa escala bem menor.
Dependendo do ângulo de partida, um feixe de luz vai aparecer do outro lado em um ponto e não em outros.
Similarmente, você pode enfiar vários espetos num abacaxi e eles continuarão perfeitamente unitários e reconhecíveis do outro lado.
Um cabo de fibra ótica mantém uma danação de fios individuais contidos num espaço ainda pequeno (mais fino que o rolo de papelão marrom que indica que alguém usou o papel higiênico até o fim e não trocou a bobina), mas mais resistente e mais facilmente manuseável, possibilitando a transmissão de quantidades ridiculamente grandes de informação, quase na velocidade de luz (é mais lento que rádio…), ao redor do mundo (…mas tente mandar uma onda de rádio além da curvatura terrestre e você vai ver qual método é melhor) e esticar um cabo no chão sai muito mais barato que mandar satélites para o espaço.
Refração, por sua vez (lembram que era disso que eu estava falando?), é uma mudança de direção que a luz (qualquer onda, na verdade) pode sofrer quando passa de um ambiente para outro, facilmente observada quando as densidades (ou “índices refrativos”, para usar um termo que eu usaria ao redor duma mesa de bar) dos meios são radicalmente diferentes, como as da água e do ar e se dá pela diferença de velocidade que ocorre durante a mudança.
Mas só o comprimento da onda muda, não a sua frequência (explicando porcamente através de uma das minhas analogias ridículas, seria como se, no ar eu demorasse segundo para cair no chão depois de pular para cima, e na água eu demorasse o mesmo segundo para retornar ao ponto de partida, mas conseguisse ir muito mais alto).
Se a foto no começo deste artigo fosse maior (com menos zoom ou tirada mais de longe), o Sol apareceria abaixo das gotas, estragando o retrato (algo a ver com superexposição ou similares).
Ou, como nesse vídeo a seguir (imagens capturadas por mim mesmo, obrigado):
Notem que as gotas se “acendem” apenas quando a luz do poste já está sobre o carro e não mais visível na minha linha de visão imediata.
Um só lâmpada brilhando dez metros na minha frente não apresenta riscos muito grandes, mas quando essa lâmpadas se multiplica por vários milhares (ainda não consegui contar as gotas no meu parabrisas pois sempre bato o carro antes) e essas minicandelas ficam prostradas a menos de um metro dos meus encandeados olhos sensíveis, o mundo ao meu redor corre sério perigo.
Então foi para isso que inventaram os limpadores de parabrisa.
Eu falei isso tudo, mas bastava mostrar essa foto:
Em cima está a refração, embaixo a reflexão.
Coisas da Luz.
Luz, uma blogagem coletiva
Hoje se inicia a semana da primeira Blogagem Coletiva do Science Blogs Brasil (ou pelo menos a primeira planejada, pois já tivemos duas espontâneas: Como não escrever uma coluna de jornal e Mais informação, menos pânico) e será sobre Luz.
Eu vou aproveitar para vender meu peixe fazer jabá de mim mesmo republicar alguns dos meus artigos maximegaótimos antigos sobre o tópico que permeará está semana aqui no SBB (convenientemente, tenho um para cada dia, contando com esta introdução e um original que publicarei amanhã).
E para esquentar os tamborins, a medida padrão de luz no SI (sistema internacional de unidades) é uma candela , ou cd, abreviando.
Não deixem de ler todos os artigos dos sciblings e de visitar o Raio-X, que compilará todos os links dessa Blogagem Coletiva (eu ainda prefiro “Carnaval Científico”, mas já estamos em maio).
Tenham uma boa semana e divirtam-se.
Cidade da Ciência vs. Copa do Mundo
Natal, capital do Rio Grande do Norte e cidade onde moro, corre o risco de virar cidade-sede da Copa do Mundo de num-sei-quando (não sou exatamente do tipo esportivo; sou um nerd, meu esporte é informação), com um estádio a ser construído onde hoje funciona o Centro Administrativo (nome moderno para Palácio do Governo) e aparentemente custará um quarto de bilhão de contos do nosso rico dinheirinho.
Mas, como eu já disse que não ligo para esportes físicos, por quê então estaria falando de um estádio de futebol?
Há quase exatamente dois anos, apareceu uma notícia na imprensa potiguar que dizia que Natal, Cidade do Sol (slogan turístico oficial), teria uma Cidade da Ciência a ser construída em meados de 2008 com um custo estimado em 7 milhões de pilas.
Ano passado começou e (sendo passado) acabou e neca-de-pitibiriba de observatório (carro-chefe da empreitada), parque, museu, bixiga-lixa, cacete-a-quatro, etc, etc.
Em novembro, este neguinho aqui perdeu tempo noticiou o assunto (ainda no antigo Lablogatório).
Então, dia oito de janeiro deste, outra notícia que já começa otimisticamente com “começaram, efetivamente, no Centro Administrativo, na BR-101, as obras de construção da Cidade da Ciência” mas antes do parágrafo acabar revela que “a partir da próxima semana, quando terá passado esse período de recesso de final de ano, teremos um incremento nas obras” e diz que agora vai custar treze milhas. Mais de 85% de aumento em nove meses. Nem um bucho aumenta tanto assim.
Eu passei por lá recentemente (semana passada) e não vi nenhum dos prédios antigos no chão ou qualquer outro indício de um trabalho a caminho.
Mas como não entrei, não posso dizer que o chão não está super-aplainado e bem alicerçado. Isso fica para semana que vem, quando pretendo botar o time em campo (usei essa analogia certo?) e ir visitar o sítio.
Mas que diabos o começo do artigo tem a ver com o meio?
O local.
Sim, pois com a expectativa de Natal virar reduto de anabolizados atletas fedendo jogando por quinze dias, acabou-se Cidade da Ciência, pois não há outro lugar grande e central o suficiente para acomodar outro estádio. Natal, 800mil habitantes, tem TRÊS estádios de futebol.
E por quê reformar um quando se pode construir outro pelo triplo do preço? Ou mesmo demolir um que já não serve de muita coisa e construir o novo ali.
Não, precisamos gastar vinte vezes mais e trocar a Ciência pelo Esporte.
Pensando bem, é até bom que não tenhamos algo assim aqui. Será menos dor na minha cabeça, pois o local seria certamente administrado pelo pessoal da UFRN, que não sabe diferenciar formando de Ph.D (podem perguntar ao Marco, que passou uma temporada aqui lixando isopor).
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“Pra quê estudar taxa de deformação, arrasto, aerodinâmica e movimento parabólico se eu posso simplesmente dar um bicudo na bola?”
– Algum jogador cujo nome acaba em ‘son’ –
Cético de mim mesmo
O mundo todo está falando sobre gripe suína.
A única coisa que eu tenho para falar é: “Hum.”
Eu já vi isso antes, vindo dos pássaros.
É bem fácil impedir pessoas doentes de embarcar em aviões e evitar que porcos sejam transportados por aí, mas é ordens de magnitude mais difícil controlar a migração de aves espirrando no ar sobre nossas cabeças e nos infectando com uma dose letal de morte-certa.
No entanto, nada (significativo) aconteceu.
A vontade que eu tenho de culpar alguém criando alguma teoria conspiratória é altíssima, mas ultimamente eu atingi um nível de ceticismo tão absurdo que estou duvidando das minhas próprias conclusões antes de tê-las, principalmente quando penso em algo do tipo “o único remédio eficaz contra a gripe aviária era Tamiflu (que continuou faltando de tanto que vendia apesar de evidências contrárias), que é o mesmo remédio na lista dos que funcionam contra gripe suína, o que me leva a concluir que a Roche tem um dedo nisso”.
Outra coisa que eu pensei mas não quis sequer dar o direito da idéia de ver a luz do dia, me foi dito de volta pelo João Carlos, nos comentários desse artigo do Karl: “Não é interessante que essa notícia tenha surgido aparentemente do nada, logo no ápice de uma crise financeira mundial? O governo tem um dedo nisso!”
Mas, como diz o tópico deste, eu não consigo acreditar nas minhas próprias idéias. Nem nas dos outros. Ninguém tem culpa e o mundo não vai acabar daqui a pouco.
A única coisa que eu me dou ao luxo de prever é o não-evento dessa pandemia que não ocorrerá.
E não falo isso com esperança, torcendo para que o mundo não seja despovoado, mas por simples objetividade.
Será mesmo que vamos todos morrer por causa dum espirro dum porco?
O Ebola não nos matou em trinta e seis horas, o Bug do Milênio não transformou nossas geladeiras em máquinas assassinas, a Gripe Aviária fracassou com tanta força na tarefa de nos aniquilar que é lembrada até com certa vergonha, uma Tsunami de trinta metros de altura não devastou Londres e um supervulcão não explodiu embaixo de um parque.
Relaxem, ainda precisaremos penar muito por um longo tempo nessas nossas vidas razoáveis.
Mas por favor, não espirrem na minha cara porque isso é falta de educação pura e simples.
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Consertei os links. Valeu Atila!
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Quem acessou o Google já hoje viu isso aqui:
Pois bem, hoje é aniversário de Samuel Morse, inventor do telégrafo e, tão importante quanto, o Código Morse (pois um poste telegráfico sem Código Morse é como um computador sem Internet hoje em dia).
O tal código é relativamente fácil de aprender (o “relativamente” diz respeito a comparações com idiomas e códigos mais complexos e difíceis, como Klingon ou hieróglifos pré-rosetta), principalmente se o aspirante tiver conhecimento prévio de execução de ritmos intrincados (qualquer percussionista se enquadraria aqui) e boa memória (o que já elimina 75% dos percussionistas que eu conheço).
Ou seja, parafraseando um colega meu de colégio: “Pra quem sabe é fácil!”
A manha é manter um ritmo de modo que cada linha “-” dure o mesmo tempo de dois pontos “.” seguidos (linha: páá; ponto: pá), fazendo cada intervalo entre as letras durar esse mesmo tempo. Simples.
Recomendo o uso de um metrônomo (depois que você já estiver familiarizado com os conceitos básicos de Teoria Musical I e tiver avançado para síncope, contraponto e compasso composto).
Morse é mais um daqueles inventores que dão nome ao invento, como Louis Braille, Leo Baekeland (polioxibenzimetilenglicolanhidrido), Louis Pasteur, John Microphone e Celso Skol.
Se eu tivesse inventado uma coisa útil e outra coisa, também útil, mas megacomplicada e convoluta, teria nomeado exatamente ao contrário do ocorrido, sendo a primeira com meu nome e a segunda com algo mais descritivo.
Por essa minha lógica, hoje estaríamos comemorando o aniversário de Samuel Morse, inventor de Morseógrafo e do Código Bii-bip.