Grande Colisor de Blablablá
Blablablá blablá blablá de hádrons pode blá blá buraco blábla pode blá do mundo blá blá blá.
É isso que eu estou ouvindo ultimamente e acho que muita gente concorda comigo.
Essa conversa de LHC já abusou o cego (“encheu o saco”, para de fora).
Tem até blogue de poesia falando nisso!
No meu outro blogue, por não ser estritamente científico, eu comentei sobre isso algumas vezes e também tenho andado em vários blogues tentando acalmar os ânimos dos Espalhadores de Pânico e suas vítimas.
Não interessa a nós, por enquanto, saber o que são buracos negros estáveis e a energia necessária para gerá-los; não importa se soubermos o que são strangelets, antimatéria, hádrons ou higgs-boson; menos ainda saber que a cada segundo somos bombardeados por forças naturais zilhões de vezes maiores que as que conseguiríamos produzir e o mundo e o universo ainda estão aqui, firmes e fortes.
Da mesma forma que nos é inútil a preocupação com o fim do mundo (eu, por um, tenho coisas mais urgentes que uso para perder o sono e os cabelos).
Necessário, neste momento, é saber que as chances do mundo acabar por causa disso são extremamente remotas.
Eu li um físico dizendo que a probabilidade do LHC produzir strangelets que destruiriam o universo é menor do que a do seu carro se transformar num cavalo com carruagem, através de flutuações quânticas.
Pode acontecer, mas também pode acontecer de alguém jogar um milhão de dados para cima e todos cairem se equilibrando em uma quina, uns por cima dos outros, formando um icosaedro.
Pessoas, se o mundo tivesse que acabar, teria acabado mês passado.
E ninguém poderia fazer coisa alguma.
Puf! Acabou!
Pela caridade, relaxem!
Um dado interessante que pouca gente sabe: vocês só estão aqui, lendo isto, graças ao CERN, pois foi lá que criaram a rede (web) (o que não é o mesmo que Internet, mas o que nos possibilita navegar por ela).
De nada!
(Enquanto escrevia, lembrei dum sonho que tive ontem a noite, de um vídeo explicando bem direitinho como acontecia a colisão. Pena que tal vídeo não existe e se existisse explicaria errado. Mas na hora, enquanto meu cérebro estava rodando em meia embreagem, fez sentido…)
Teoria do bocejo
Os neurônios-espelho são células neurais especializadas que nos fazem imitar comportamentos inconscientemente.
Resumidamente.
Mais explicadamente:
Descobertos vinte anos atrás pelo neurofisiologista italiano Giacomo Rizzolatti enquanto estudava cérebros de macacos, esses neurônios ajudam as pessoas (e outros animais) a se identificar e empatizar com as emoções dos outros como se elas fossem suas próprias.
A estória contada diz que descoberta foi feita enquanto um membro da equipe de sua equipe estudava, em um macaco, uma área do cérebro chamada F5, responsável por planejamento, seleção e execução de tarefas. O símio estava lá, na dele, quietinho, até que o cientista na sala com ele esticou o braço para pegar alguma coisa. Quando isso se deu, ele ouviu um barulho repentino vindo do computador que analisava as ondas cerebrais da criatura, indicando atividade naquela parte do cérebro que estava sendo monitorada, como se o bicho tivesse esticado o braço para pegar o que quer que tenha sido o alvo da pegada.
Essa atividade registrada deu indicações de que o macaco estava imitando, mesmo sem precisar se mexer, apenas em seu cérebro, o que viu o pesquisador fazendo.
De toda forma, a existência dessas células já foi provada independentemente (o melhor tipo de prova) e ajuda a explicar o porquê de sentirmos o que outras pessoas estão sentindo (empatia é a palavra)
Segundo o neurocientista da UCLA, Marco Iacoboni, Ph.D, (especialista também em Estimulação Magnética Transcranial, a versão 2.0 de Sincronização Cerebral, o tema da minha dissertação na faculdade!), essa habilidade de entrar em mente alheia teve um papel importante no desenvolvimento da sociedade e cultura.
Ele acredita que esse traço, obviamente herdado pelo processo evolutivo natural, nos ajudou a socializarmos mais facilmente (quando vejo alguém sorrindo ou chorando, eu sei instintiva e instantaneamente o que aquela pessoas está sentindo, nem tanto por entender suas reações, mas por estar eu mesmo experimentando suas emoções, o que fortalece meus laços com ela) e a aprender através de exemplos, otimizando nosso desenvolvimento por evitar um processo dispendioso de erro-e-acerto pelo qual passaríamos se os neurônios-espelho (ou similares) não existissem. E isso tudo sem precisarmos agir!
Nosso cérebro se encarrega de viver aquilo que vemos sem nos dizer explicitamente.
As ligações neurais que disparam quando eu chuto uma bola são as mesmas que disparam quando eu vejo um jogador na TV chutando uma bola.
Eu não tenho as conexões que me fariam girar três vezes no ar em três eixos diferentes, por isso não entendo como um ginasta ou mergulhador ornamental consegue fazê-lo.
Outra coisa interessante que eu ouvi Dr. Iacoboni dizer é que a culpa de viramos a cara quando vimos um pedinte ou um sem-teto de modo geral, é desses neurônios. Ao ver alguém em dificuldade (inclusive social), nós sentimos o que aquela pessoa está sentindo e isso nos é desagradável, por isso tentamos não olhar para não causar desconforto em nós mesmos.
Funções cerebrais de ordem superior, no entanto, conseguem anular esse mecanismo, o que nos permite guerrear outros por discordarem das nossas crenças políticas ou religiosas sem muito peso na consciência. Oba!
Quanto ao bocejo, eu criei (responsabilidade é assumidamente minha) um paralelo que aparenta fazer sentido.
Mas não faz. As células-espelho são discretas e não se mostram. Nós sentimos mas não fazemos.
Logo, minha teoria do bocejo não durou sequer um parágrafo completo.
Vou continuar tentando…
Panificação
Melhor que cheiro de pão saindo do forno é o sabor do pão que você mesmo fez e que acabou de sair de forno e esfriou só o suficiente para não amolecer a camada de pele que recobre o céu-da-boca.
O pão que nós comemos hoje (macio, com casca e miolo bem definidos) é uma invenção relativamente recente.
A invenção do pão foi uma maneira que nossos parentes mais antigos (nove mil anos antes da era cristã, onze mil anos atrás) descobriram de preservar o alimento por mais tempo. Grãos eram, apesar de abundantes, difíceis de comer e de armazenar, mas depois de moídos e assados, duravam vários dias e eram digeridos mais facilmente.
(Uma nota intrigante: alguns arqueólogos acreditam que a cerveja, também conhecida como pão líquido foi inventada antes do pão, pois é relativamente mais fácil de fazer (não envolve fornos) e é uma maneira “interessante” de se purificar, através da fermentação, água que talvez estivesse contaminada. E, além de ser tão nutritiva quanto pão, ainda é mais divertida!)
Os primeiros pães eram basicamente uma casca assada (como o pão sírio) e, por não ter fermento, não cresciam. O formato inicial da massa ao ir para o forno se mantinha enquanto era assada.
A descoberta do pão fermentado (há cinco mil anos, supostamente) foi, muito provavelmente, um acidente. Uma massa crua que foi deixada tempo demais num lugar morno, por causa de contaminantes nos grãos ou em algum aditivo (como leite) fermentou e inchou o preparado. Tornou-se, então, prática comum reservar um pedaço dessa massa fermentada para se colocar na do outro dia, fazendo a nova mistura crescer mais facilmente, criando o que se conhece por massa amarga.
Na minha casa, eu faço pão misturando farinha com água e uma levedura (Saccharomyces cerevisiae) desenvolvida especialmente para isso e mais conhecida comercialmente como fermento biológico.
A receita ainda leva algum tipo de óleo vegetal, açúcar e sal.
O óleo (uso azeite), por introduzir gordura à massa, a deixa mais “ligadinha” (e prazerosa). O sal é puramente para intensificar o sabor.
A açúcar, no entanto, serve como combustível. É a comida que vai fazer a levedura trabalhar.
Quando a levedura está num meio aquoso ideal (banho de água morna, quem não gosta?) ela começa a trabalhar, consumindo açúcares (presente na farinha em forma de amidos e puro no açúcar adicionado) e excretando álcool e gás carbônico. O álcool evapora durante a assadura, por causa da alta temperatura, mas o gás carbônico, que forma bolhas minúsculas mas numerosas, fica preso na massa (graças, em boa parte, ao glúten) que seca e endurece aos poucos, possibilitando ao gás escapar, deixando para trás muitos espaços vazios, criando a textura que tanto conhecemos.
Pão; uma maravilha da tecnologia bioquímica!
Quando a luz dos olhos teus…
Quando saímos de um lugar escuro para um bem mais claro, nós sentimos um pouquinho de dor (olhar direto para o Sol, por exemplo, dói porque a retina está literalmente queimando) mas conseguimos acostumar a visão rapidamente.
As pupilas se contraem quase instantaneamente e muito pouca luz entra.
Simples.
Já o contrário não é tanto assim.
Um experimento para se fazer em casa: num dia de sol forte, fechem as janelas, portas e cortinas, esperem uns dez minutos e saiam. Contem quanto tempo demora para a visão se adaptar.
Novamente, aguardem mais uns dez minutos embaixo do sol forte, entrem novamente na casa escurecida e marquem o tempo de se acostumar.
A segunda etapa levará mais tempo.
Mas por que? Não é só a pupila dilatando e contraindo?
Não.
Existe uma faixa de claridade onde a retina funciona melhor e a pupila se encarrega de deixar a luz nesse meio.
Mas também existe uma substância chamada rodopsina, que fica nas células no fundo dos olhos, que muda para um formato diferente, nos fazendo ver a luz.
Quando essa conversão se dá, ela não volta atrás facilmente e, ficando-se ao sol num dia muito claro, essa substância é usada muito rapidamente, dificultando a visão noturna, que se utiliza do formato inicial da rodopsina para funcionar.
Por isso que ficamos tanto tempo com aquele flash nos perseguindo desde a última fotografia…
O controle da visão não é só mecânico (pupila), mas também químico (rodopsina).
É, eu também achava que fosse algo mais fácil…
Hipocondria pode custar caro
Dica do Atila.
Seqüenciamento de material genético é bom porque nos ensina muito sobre evolução, descendência, migração, saúde e coisas afins mas, de um modo geral, é bom para o progresso da Ciência e, conseqüentemente, para a população como um todo.
Eu não acho que valha a pena gastar trezentos e cinqüenta mil dólares em 8 gigas de um flashdrive com o meu genoma escrito.
Um indivíduo, tendo seu material genético espalhado à sua frente, só pode procurar por doenças, esmiuçadamente em negrito na tela de seu computador.
De pré-disposição a resfriado até variantes raras de doenças inéditas. É isso que um sujeito normal do mundo vai achar dentro de um bicho desses.
Depois de pagar US$350.000 (e de levar uma agulhada antes), claro.
Fora coisas inúteis, que ninguém ainda sabe o que significam, como mutações em genes desconhecidos.
Isso só tende a preocupar desnecessariamente uma pessoa saudável.
Porém, quem tem esse tanto de dinheiro disponível para gastar com algo assim não pode ser considerado normal ou saudável.
Aah, aqueles pobres bilionários e sua busca efêmera pela felicidade…
Imaginação
Imaginação é a ferramenta que nos possibilita aprender com os erros que nunca cometemos.
Ela nos dá a oportunidade de decidir que uns futuros serão melhores que outros e nós podemos escolher os bons e descartar os maus.
Não preciso mastigar um feixe de carrapichos para saber que isso é uma idéia maravilhosamente péssima.
Eu sei que ser admitido será melhor que ser demitido e que o almoço será melhor que a conta.
E eu sei dessas coisas porque posso utilizar a minha imaginação para vivê-las.
Porém, segundo pesquisas recentes, a imaginação humana (pleonasmo?) não é tão boa em prever a intensidade das nossas sensações e emoções. Temos uma tendência a imaginar que uma reação emocional será bem mais intensa e durará muito mais tempo do que acontece no fim das contas.
Se valendo de um experimento relativamente simples, o grupo usou vários voluntários e os fizeram descrever e quantizar o que achavam que sentiriam quando comesses batatas fritas e depois responderiam o mesmo questionário já com as batatas na boca.
Os pesquisadores descobriram que nenhum dos pesquisados conseguiu prever confiavelmente a quantidade de prazer que sentiria, até poucos instantes antes de colocar as batatas na boca e ainda que algumas das coisas que influenciam as previsões não influenciam o resultado. Por exemplo: se os voluntários estivessem respondendo ao primeiro questionário na presença de chocolate (que a maioria das pessoas acha mais prazeroso que batata frita), o número total de quantidade de prazer seria bem menor, pois as fritas estariam sendo comparadas ao chocolate e as pessoas esperariam que elas não tivessem um gosto tão bom. Contudo, o número final do segundo questionário (pós-degustação) não mudou. Ou seja, a previsão foi influenciada pela visão do chocolate, mas a experiência continuou a mesma.
A pesquisa achou paralelos entre essa experiência em laboratório e coisas que são realmente importantes nas vidas das pessoas (romance, emprego, eleições) e achou que o erro mais comum era a superestimação; se uma coisa ruim acontecesse, as pessoas previram que ficariam devastadas para sempre e, depois daquilo acontecer, não teria sido tão ruim assim.
E vice-versa!
As pessoas também acham que uma coisa boa vai ser estupidamente maravilhosa por muito tempo quando a realidade é mais curta e menos intensa.
De fato, a maioria dos eventos não nos afeta por muito tempo, a maioria das coisas se torna rapidamente irrelevante para o nosso bem-estar emocional.
Muita coisa sobre o nosso sistema emocional nos é desconhecida. Nós humanos não entendemos a velocidade com a qual nos adaptamos. Somos criaturas incrivelmente resistentes e flexíveis, nos adaptaríamos a quase qualquer coisa, mas isso não parece ser algo que sabemos a nosso respeito e costumamos errar nas nossas auto-previsões de adaptação.
Somos também ótimos racionalizadores. Quando algo desagradável acontece, conseguimos enquadrar de uma maneira que faz parecer não tão desagradável assim.
Quando meu cachorro me morde e arranca o tampo do meu joelho, eu adapto minhas idéias e memórias para todas as vezes em que ele foi agressivo comigo, penso na sujeira que ele fazia e eu tinha que limpar, no trabalho que eu tinha para cuidar dele, no tempo e dinheiro que eu desperdiçava com aquele infeliz canino e, racionalmente, fica mais fácil atirá-lo contra a parede sem sentir tanto remorso (essa estorinha é uma analogia fictícia, não há necessidade de ligar para a SPA, tá?)…
Outro exemplo, se eu sou despedido, vou pensar: “Ainda bem! Melhor ficar na rua que continuar trabalhando nessa joça para um retardado complexado, recalcado e afetado que acha que manda em alguma coisa só porque é dono! Melhor sem aparador de respingo de um limpa-fossa que dono de um lugar sem futuro desses!”
Talvez isso seja um mecanismo de defesa, pois assim não ficamos tão mal quando coisas más acontecem.
O líder dessa pesquisa, Daniel Gilbert, recomenda que busquemos nos informar mais para conseguirmos fazer previsões melhores sobre o nosso próprio futuro emocional.
Segundo ele, uma das melhores maneiras de prever como nos sentiremos no futuro é achar outras pessoas que passaram pela mesma coisa e perguntar como elas se sentem, depois do fato experimentado.
Toxoplasmose
Ouvi no TWiS.
Numa ação conjunta, pesquisadores daqui, dos EUA, da Inglaterra, França, Itália e Dinamarca descobriram que nós temos os casos mais graves de toxoplasmose entre os países estudados.
A doença estudada foi a retinocoroidite toxoplásmica congênita, uma lesão no globo ocular, que é bem mais agressiva no Brasil que nos outros lugares, causada pelo protozoário Toxoplasma gondii.
Esse parasita precisa de gatos para completar seu ciclo biológico e geralmente infecta humanos que tiveram contato com fezes desses animais.
O que não é tão difícil assim.
Eu tenho uma gata e trato seus excrementos como lixo radioativo quando estou limpando sua caixa de areia, mas tenho consciência de que isso não basta, pois ela, ao enterrar sua sujeira, entra em contato com ela através das patas. E aí sai andando pela casa.
As medidas que eu tomo são: não deixar que ela suba na minha cama ou na mesa, lavar meus pés antes de deitar, trocar o lençol todos os dias e me lavar sempre que manusear ou brincar com o animal.
Toxoplamose é a doença parasitária mais comum achada em pessoas ao redor do mundo. A infecção causa lesões inflamatórias no fundo dos olhos que podem afetar a visão, e o genótipo brasileiro da bactéria é o de maior virulência no mundo, segundo conclusão do estudo.
Não é que tenhamos mais gatos ou mais contato com eles ou hábitos higiênicos mais precários, apenas que, aqui, essa doença é mais forte.
Essa retinocoroidite do estudo é congênita, ou seja, adquirida antes do nascimento e a recomendação é de que mulheres grávidas evitem gatos como evitariam A Praga.
Números: as crianças nascidas no Brasil com essa condição têm 50% mais chances de desenvolver a doença no primeiro ano de vida que as nascidas na Europa (10% por lá) e suas lesões são geralmente maiores e tendem a ser múltiplas.
E de todas as crianças brasileiras do estudo, 87% têm chance de perder a visão, contra 29% das européias.
Não precisamos ficar longe de gatos (segundo uma reportagem na Galileu, eles são até benéficos para a nossa saúde), só precisamos tomar mais cuidado com os bichanos e seus hábitos escatológicos…
Eu geralmente não falo sobre tecnologia, mas…
…também nunca tinha visto uma micro-bateria feita com vírus.
A notícia original, em inglês:
MIT engineers work toward cell-sized batteries
Só o filé da notícia, em português, tradução minha:
Engenheiros do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) desenvolveram uma maneira de, ao mesmo tempo, criar e instalar micro-baterias com metade do tamanho de células humanas.
Eles conseguiram, com sucesso, montar e testar dois dos três componentes principais de uma bateria. Uma pilha completa está a caminho.
Mais ainda, a técnica não envolve material caro e tudo é feito em temperatura ambiente.
Baterias são compostas por eletrodos opostos, um cátodo (negativo) e um ânodo (positivo), separados por um eletrólito (meio condutor de cargas elétricas). Neste trabalho, o time do MIT criou tanto o ânodo quanto o eletrólito.
Usando uma técnica conhecida como litografia suave (ou nanoimpressão), os engenheiros criam várias hastes com quatro ou oito milionésimos de um metro (micrometro) de diâmetro e na extremidade delas depositam várias camadas de dois polímeros que agem como um eletrólito sólido e um separador de bateria.
Durante essa etapa, entram os vírus, que têm uma preferência em se auto-organizar sobre as camadas de polímero, formando os ânodos.
Eles fazem isso pois tiveram seus genes alterados para produzir uma coberta de proteínas que captura moléculas de óxido de cobalto, formando fios ultra-finos que, juntos, formam os ânodos.
O resultado final: um selo de hastes minúsculas, cada uma coberta com camadas de eletrólitos e o ânodo de óxido de cobalto. Em seguida, o selo é virado e a combinação de eletrólito/ânodo é transferida para uma estrutura de platina que, junto com folhas de lítio, é usada para testes.
A conclusão da equipe é: o conjunto resultante de eletrodos exibe funcionalidade eletroquímica completa¹.
O próximo passo agora é desenvolver o cátodo com esse método de criação viral.
O grupo também está interessado em integrar essas baterias a organismos biológicos.
Isso aí pode vir a servir para diminuir o tamanho de implantes que necessitem de energia elétrica para funcionar, como marcapassos.
Legal!
=¦¤þ
¹N.T. Ou seja, uma pilha que funciona.
P.S. não costumo falar em tecnologia porque sou um velho rabugento.
Memória Falsa
Memória, em geral, é pouco confiável.
Segundo uma pesquisa, se eu disser, por exemplo, que celulares não causam explosões em postos de gasolina e explicar o motivo e que isso é só uma lenda urbana, amanhã, a maioria dos meus leitores iram lembrar firmemente de uma explicação sobre celulares e explosões e da lenda já fortemente enraizada e iram esquecer do conteúdo onde eu diria que um não causa o outro.
Humm…
Como disse George Constanza, se você acreditar, não é mentira.
Uma pessoa pode elaborar uma mentira conscientemente e passar a contá-la repetidamente a ponto de passar a acreditar na própria invenção.
Semelhantemente, um sujeito pode ouvir uma estória tantas vezes que passa a achar que fez parte da ação e adquire aquilo como memória própria.
Um sonho pode ser confundido com memória (já aconteceu comigo e causou uma situação pior que filme de confusão). Nem precisa ser tão vívido, basta ter passado tempo suficiente e a lembrança vir à tona com força.
Eu li um estudo que sugeria que quanto mais velho se fica, apesar da memória piorar, a certeza de se está sempre certo aumenta. Ou seja, pessoas mais velhas tendem a achar que suas memórias essão ótimas e mais corretas quando a verdade é que elas estão mais falíveis.
Coincidentemente, enquanto escrevo isto, acabo de me dar conta de uma memória alterada minha:
No filme Os Fantasmas Se Divertem (Beetlejuice, 1988), há uma cena onde os donos da casa, já mortos, tentam assustar os novos moradores, deformando os próprios rostos (eles são fantasmas e podem fazer o que quiserem fisionomicamente).
Eu sempre achei pessoas narigudas parecidas com o que a mulher do casal (Geena Davis) se torna quando se deforma. Ela puxa o nariz para a frente e o topo da cabeça para trás:
Ou assim achava.
Ao procurar essa foto para mostrar a um amigo que perguntava sobre narigudos, me dei conta de que quem faz isso é o homem do casal (Alec Baldwin).
A mulher, na verdade arregaça a boca e joga os olhos lá para dentro:
Não sei quando deformei esse dado dentro do meu cérebro, mas faz tempo (sei que foi em algum momento entre ter visto o filme pela primeira vez e me preparar para este artigo).
Já não tão coincidentemente assim (esse tipo de coisa me acontece todos os dias, eu só estou registrando agora por estar escrevendo sobre), ontem eu estava procurando uma chave de teste para saber se meu chuveiro estava dando choque sem precisar arriscar meus elétrons e a integridade das minhas proteínas.
Enquanto procurava dentro das inúmeras caixas de ferramentas que tenho, ia fazendo uma imagem mental da chave dentro da caixa em que mexia, criando uma memória da ferramenta ali dentro, quase vendo a danada.
E isso me acontece sempre!
Vou procurar algo que esteve (ou não) ali onde procuro e fico praticamente vendo o objeto procurado se materializando etereamente na minha frente, só para sumir depois da busca infrutífera.
Auto-implantação de memórias falsas podem ocorrer também devido a desinformação ou confusão.
Basta alguém entender errado uma informação ou confundir dois dados distintos e pronto, a lembrança se fixa de revestrés.
Numa discussão entre duas pessoas sobre “você disse isso porque eu ouvi e eu não estou doido!”, ambas podem estar certas e erradas ao mesmo tempo, pois suas memórias podem estar em dissonância com a realidade, mas nenhuma está mentindo deliberadamente, apenas desconhecem a versão real dos fatos.
A especialista em Psicologia da Memória, Memórias Falsas e Relatos de Testemunhas Oculares Elizabeth Loftus escreveu um artigo muito interessante sobre implantação de falsas memórias em suas pesquisas e o psicólogo Joseph Green da Universidade de Ohio realizou pesquisas extensas sobre hipnose e descobriu que, mais que recobrar memórias perdidas, esse método cria falsas memórias, especialmente em pessoas muito sugestionáveis.
Mais sobre memória pode ser encontrado no dicionário do cético.
E curiosidades sobre o cérebro e seu funcionamento (e coisas divertidas) podem ser achados em O Cérebro Nosso de Cada Dia.
Nosso cérebro é uma máquina fantástica, mas nem sempre. Cuidado!
Fe²
Procurando alguma relação entre deficiência de ferro e metabolismo lento (não achei entre eles, mas existem sintomas que podem ser causados por esses dois fatores independentemente), fui lembrado que esse tipo de anemia pode causar fadiga e descobri que outros sintomas incluem tonturas, sensação de frio e irritabilidade.
Ferro pode ser ferroso ou férrico.
O férrico é insolúvel em água e tem propriedades magnéticas (é atraído por ímãs), enquanto o ferroso é hidrossolúvel e não é influenciado por campos magnéticos e é o tipo de ferro encontrado em nosso sangue (portanto não adianta dormir num colchão magnético para alinhar as energias, porque o sangue não vai nem saber que tem um ímã ali perto).
Quando o ferroso é exposto ao ar (com oxigênio), ele oxida e vira férrico, por isso que sangue quando seca na camisa fica amarelo, possibilitando o início da vingança da família da vítima¹ (a goteira de uma torneira pingando vai, eventualmente, deixar uma mancha de ferrugem na pia, pois a água com ferro dissolvido vai evaporar, expondo o material ao ar, transformando-o em ferro férrico, amarelo-avermelhado, que mancha a porcelana).
A hemoglobina (proteína presente nas células sangüínea) contém ferro ferroso dissolvido, que se liga com moléculas de oxigênio (aqui não ocorre oxidação pelo fato do ferro estar dissolvido), transportando-as por todo o corpo.
Quando com anemia (falta de ferro no sangue), o indivíduo se sente cansado devido aos órgãos não estarem recebendo suprimento suficiente.
Alimentos que contém ferro (fígado, feijão, espinafre, ovo, brócolis) devem ser consumidos conjuntamente com alimentos contendo vitamina C (frutas ácidas, pimentão, couve, ervilha), pois esta potencializa a absorção daquele.
Contrariamente, alimentos ricos em cálcio (leite e derivados, sardinha, castanha) devem ser consumidos separadamente, de preferência em refeições diferentes, pois cálcio afeta a absorção do ferro.
Ou seja, tome café-da-manhã com leite, pão com manteiga, queijo e cereais, almoce feijão com arroz, fígado, salada de espinafre e suco de caju e jante um ovinho no pão com café (café também diminui o efeito do ferro, mas um dia sem café é um dia perdido).
Ô fome!
¹Assistam a Abril Despedaçado e entendam.