Revolução Genômica – Palestras em São Paulo

A Exposição Revolução Genômica assim como a do Darwin apresenta uma organização de palestras e debates gratuitos ao longo da exposição. Essa iniciativa de integrar a exposição a palestras é brasileira e já na Exposição Darwin foi muito elogiada por Niles Eldrege e outros.
As Atividades Culturais da Exposição Revolução Genômica são: Ciclo de palestras e debates, Mesas-redondas e Mostra de filmes, além de performances do Clã das Artes Cômicas apresentando artes circenses.
O Ciclo de Palestras e debates é fruto de uma parceria entre o Instituto Sangari e a Revista Pesquisa FAPESP. Essa parceria permitiu convidar alguns pesquisadores ilustres nacionais e internacionais para nos brindar com as mais diversas pesquisas sobre genômica e em outras áreas do conhecimento. O site de Pesquisa FAPESP cobrirá as palestras e também disponibilizará a íntegra das apresentações.
Esse Ciclo de Palestras e debates conta com duas temáticas centrais amplas e relevantes: o Ciclo I – Genômica: Modelando a Biologia do século XXI e o Ciclo II – As Ciências do século XX e as novas fronteiras do conhecimento no século XXI, o qual está detalhado no site da Revista Fapesp.
O Ciclo I Genômica: Modelando a Biologia do século XXI da Exposição Revolução Genômica tem como objetivo revelar a influência determinante da pesquisa em genômica na evolução da Biologia nas últimas décadas e em suas vastas promessas para o futuro. As palestras desse Ciclo I são apresentadas sempre aos domingos às 11h, e excepcionalmente aos sábados às 15h no Auditório do Pavilhão Armando de Arruda Pereira, a antiga sede do Prodam, Parque do Ibirapuera portão 10. As reservas devem ser feitas no site da exposição.
As próximas palestras são:
Nesse final de semana, sábado dia 29/03, Alan Templeton, pesquisador renomado da Universidade de Washington falará sobre “A evolução humana nos últimos 2 milhões de anos: genes”. Inclusive já está esgotada.

Filme: Após a palestra desse domingo, haverá a exibição da fita O Enigma de Andrômeda, de Robert Wise, um clássico da ficção científica de 1971. Baseada no bestseller homômino do escritor Michael Crichton, a produção norte-americana conta a história de uma pequena cidade infectada por uma bactéria fatal e misteriosa trazida à Terra pela queda de um satélite espacial. Com duração de 131 minutos, o filme mostra a luta dos cientistas para encontrar a cura dessa estranha enfermidade.
No dia 13/04, Fernando Reinach, pesquisador em bioquímica e biologia molecular da USP e foi um dos coordenadores do projeto brasileiro de seqüenciamento do genoma da bactéria Xylella fastidiosa. Falará sobre “Impactos da genômica na agricultura brasileira”.
No dia 18/05, Jan Hoeijmakers, pesquisador da genética molecular da Universidade Erasmus, em Roterndã, Holanda, que estuda os mecanismos de reparo do DNA e as consequincias para o envelhecimento, falará sobre “Envelhecimento e longevidade: quanto duram seus genes?”
No dia 07/06, Andrew J. G. Simpson, bioquímico diretor executivo no Instituo Ludwing de Pesquisa sobre o Câncer e também foi um dos coordenadores do projeto brasileiro de seqüenciamento genoma da bactéria Xylella fastidiosa. Falará sobre “Aspectos genômicos do câncer”
No dia 21/06, Robin Buell, do departamento de biologia vegetal da Universidade Estadual de Michigan estuda aspectos genômicos da biologia vegetal e das doenças das plantas. Falará sobre “Arroz: um exemplo de como a genômica pode mudar as abordagens da ciência”.
Dois Níveis de Causação, Duas Biologias
As teorias que as ciências utilizam para compreender o mundo incluem mecanismos. Um mecanismo pode ser caracterizado como um conjunto de processos materiais por meio dos quais causas se conectam de modo que produzem um fenômeno natural. Os mecanismos são propostos pelas teorias como processos que estão por trás dos fenômenos que vemos na natureza e as ciências tipicamente explicam um determinado fenômeno elucidando o mecanismo que o produz (Meyer & El-Hani, 2005).
Existem dois tipos básicos de mecanismos em diferentes níveis de causação que podem ser usados para explicar fenômenos biológicos e, por conseguinte, dois tipos de explicações científicas que pode ser oferecidas a perguntas do tipo “Por quê?”. Os níveis de causação distinguem-se por explicar fenômenos biológicos em termos de mecanismos que atuam em escalas temporais próximas ou distantes de sua ocorrência (Meyer & El-Hani, 2005). Essa foi a base que Mayr (1998) utilizou para propor uma distinção entre dois grandes ramos da Biologia, a Biologia das causas próximas ou mecanicista, e a Biologia das causas distais ou histórica (Mayr, 1998, 2005).
A Biologia mecanicista lida com a fisiologia e bioquímica do funcionamento de todas as atividades de organismos vivos, sobretudo com todos os processos celulares e genômicos. Em última estância tais processos de funcionamento podem ser explicados de maneira puramente mecanicista por química e física.
A Biologia histórica lida com todos os aspectos que abrangem a evolução. O conhecimento histórico não é necessário para a explicação de um processo de funcionamento puramente mecanicista. No entanto, é indispensável para a explicação de todos os aspectos do mundo vivo que envolvem a dimensão do tempo histórico (Mayr, 2005).
Ao perguntarmos por que determinada espécie de ave do hemisfério norte inicia sua migração anual em determinada data, podemos obter duas respostas distintas e igualmente válidas, segundo os dois níveis de causação.
sazonal da disponibilidade de alimento sincronizando seu deslocamento com as estações do ano. O que se deu pela reduzida mortalidade das variedades que possuíam mecanismos hormonais e neurológicos com maior sensibilidade para a pista ecológica sazonal de migração (Ferreira, 2003).
Porém, a Biologia mecanicista explica por quê um fenômeno ocorre principalmente por meio de uma resposta a uma pergunta sobre como ele ocorre (Meyer & El-Hani, 2005). Esse enfoque é centrado na descrição causal do mecanismo responsável. Em uma escala de tempo reduzida, descrever parece perigosamente com explicar, mas se alargarmos temporalmente os fenômenos veremos cada vez mais a necessidade da busca pela razão de existência do que foi descrito (Ferreira, 2003).
Mesmo que seja possível descrever, em incomparáveis microdetalhes, todos os fatos causais da história de todas as girafas que já viveram no mundo, a menos que se suba um ou dois níveis e pergunte “Por quê?” – caçando as razões endossadas pela Mãe Natureza -, não será possível explicar as regularidades manifestadas, tais como o pescoço comprido das girafas (Dennett, 1995).
Referências
Dennet, D. C. (1995). A Perigosa Idéia de Darwin: a evolução e os significados da vida. Rio de Janeiro: Rocco.
Ferreira, M. A. (2003). A Teleologia na Biologia Contemporânea. Scientiae Studia, v. 1, 2: 183-93.
Mayr, E. (1998). O desenvolvimento do pensamento biológico. Brasília: Unb.
Mayr, E. (2005). Biologia, Ciência Única. São Paulo:Companhia das Letras.
Meyer, D. & El-Hani, C. N. (2005). Evolução: o sentido da biologia. São Paulo: UNESP.
Síntese Protéica Dinâmica – ao vivo e em cores
ajudar, nem o mais didático dos esquemas é capaz de nos fazer entender as dinâmicas celulares, moleculares e bioquímicas. O problema é que estamos tão presos à visão da célula em corte e estática que acabamos achando que ela é realmente assim, bem como suas organelas. Estamos tão presos aos esquemas estáticos que acabamos perdendo a noção de funcionamento, de fluidez e de dinamicidade inerente aos processos celulares.
A melhor solução nesses casos está longe do microscópio e do livro e bem mais perto do campo de futebol e do movimento hippie.ASSITA AO VÍDEO – Síntese Protéica Dinâmica
Você nunca mais imaginará a síntese protéica como antigamente.
Lamarck e a Evolução da Sociedade
Lamarck – A Verdadeira Idéia Errada
Este texto faz parte do primero Carnaval de Evolução de blogs de Ciência lançado pelo Biólogo Átila do Transferência Horizontal. A idéia de um Carnaval é que vários blogs participem, todos postando sobre um mesmo assunto. Funciona assim: cada mês um Blog lança um tema e todos os outros escrevem sobre ele, então o Blog que lançou reuni todos os links numa postagem.
Mas o que está implícito aí é toda uma geração de injustiças e preconceitos com Lamarck e suas idéias. Primeiro, Ernst Mayr deixa claro em Uma Ampla Discussão que esse nosso ranço atual para com Lamarck e até a nossa obssessiva identificação de Lamark com a herança das caracteristicas adquiridas é bem recente. É uma reação não aos Lamarckistas do século 19, do qual Darwin faz parte, mas aos neo-Lamarckistas do começo do século 20. “Numerosas tentativas foram feitas, após 1850, para substituir a teoria da seleção natural de Darwin por uma maneira melhor de se chegar à adaptação. As mais conhecidas dessas teorias são normalmente classificadas como neo-Lamarckistas (herança dos caracteres adaquiridos) o que inclui a ortogênese (um princípio perfeito intrínseco) e o saltacionismo.”
Foi August Weismann quem pôs fim de uma vez por todas às teorias neo-Lamarckistas espalhando esse ranço atual para com a heranças dos caracteres adquiridos, que era a idéia do Lamarck que eles mais frisavam. Weismann é uma das figuras mais importantes na história da biologia evolutiva. Se perguntarmos quem no século 19, depois de Darwin, teve maior impacto para a teoria evolutiva, a resposta inequívoca será Weismann. Por sua ampla rejeição à herança dos caracteres adquiridos, Weismann estabeleceu uma nova versão do Darwinismo. Ele suportou sua causa por meio de três linhas de evidência: não há mecanismo citológico que poderia efetuar uma transferência da linhagem somática para a geriminativa, por estarem separadas desde muito cedo no desenvolvimento embriológico; há muitas adaptações que não poderiam ter sido adquiridas por tal herança, como a casta de soldados das formigas e cupins; e todos casos reputados da herança dos caracteres adquiridos podem ser explicados pela seleção.
Tudo bem, percebemos que tanto a associação dramática entre herança dos caracteres adquiridos e Lamarck é mais recente do que o próprio Lamarck e que foi o ilustre pouco conhecido Weismann que pôs fim aos neo-Lamarckistas e nos legou esse asco da herança dos caracteres adquiridos. Até o próprio Darwin usou dos caracteres adquiridos para explicar casos como a cegueira dos peixes de cavernas. Além disso, introgetamos tanto esse asco que a nossa noção de herança ficou muito focada no gene. Mas esquecemos que herdamos organelas e todo o conteúdo celular, herdamos anticorpos via placenta e leite, herdamos nosso idioma, heramos todos um oceano cultural em que estamos imersos e herdamos nichos alterados pelos que nos antecederam.
Atualmente mais pessoas se tocam disso e consideram a importância da construção de nicho e sua herança, processo tão negligenciado no estudo da evolução. Incrivelmente foi o próprio Darwin quem começou a estudar a construção de nicho quando no final da vida trabalhou com minhocas e percebeu que as mais jovens já herdavam um solo mais trabalhado pelas anteriores. Lewontin no livro Tripla Hélice – gene, organismo e ambiente ressalta nossa visão estreita da noção de herança e aponta os caminhos da construção de nicho e suas implicações ecológicas e evolutivas.
O grande erro de Lamarck foi falar que a evolução era direcional e progressiva, que existia uma Grande Cadeia dos Seres dos mais simples e “menos evoluídos” até o mais Complexo e “Evoluído” Ser Vivo – o ser humano. Existem estudos detalhados mostrando as sutilezas da visão Larmackista da grande cadeia dos seres como “A cadeia dos seres vivos: a metodologia e epistemologia de Lamarck”. Percebam que essa é justamente a idéia de que evolução é igual a progresso. E está tão arraigada que falamos tranquilamente em seres inferiores e superiores ou menos ou mais “evoluídos”. E essa idéia é a mais errada e mais perigosa do que a herança dos caracteres adquiridos. Pois se nos acharmos os melhores não fará falta se destruírmos os outros seres menos complexos, não fará diferença se maltratarmos os seres menos “evoluídos”, não será estranho manipularmos como se fossem objetos os seres inferiores, e tudo será como exatamente está. Estamos poluíndo, acabando com a biodiversidade, desrespeitando e maltratando os outros seres vivos como se realmente fossemos os seres mais complexos e evoluídos do planeta.Somos dominados por genes ou por mal-entendidos?
A Psicologia Evolucionista é uma área recente que tem enriquecido a investigação dos processos psicológicos e promovido o entendimento de inúmeros aspectos do comportamento humano. Como em toda ciência, existem muitas críticas pertinentes a ela. Contudo, grande parte das controvérsias com freqüência decorre de preconceitos e mal-entendidos por parte de pesquisadores de outras áreas, divulgadores científicos e do público em geral. É comum resultarem interpretações equivocadas, comumente veiculadas pela mídia, a partir de estudos realizados sob essa linha teórica.
Você já deve ter visto manchetes como “A linguagem é inata”, “Infidelidade está nos genes”, “Mães não teriam amor aos filhos, e sim à sua herança genética”, só para citar alguns exemplos. Ou provavelmente já leu alguma matéria sobre a evolução das diferenças entre homens e mulheres e achou tudo uma grande bobagem, pois isso nada tem a ver com genes, e sim com a cultura. Dizer que existem aspectos comportamentais herdados parece uma tentativa de naturalizar as diferenças e, portanto, de justificá-las. Mas será que é isso mesmo?Teste seus conhecimentos sobre a Psicologia Evolucionista descobrindo o que ela não é.
- … não diz que comportamentos adaptativos estão presentes no nascimento.
Essa visão inatista extrema não faz sentido nem para as adaptações anatômicas. Bebês recém-nascidos não têm dentes, barba ou seios, o que não implica em dizer que “aprendemos” a ter dentes, barba ou seios. Esses são produtos da evolução e isso inclui sua maturação e desenvolvimento também. Então, eles se desenvolvem no período em que promovem sua vantagem adaptativa: no caso dos dentes, depois do desmame, e no caso de barba e seios, na puberdade. O mesmo argumento é válido para o desenvolvimento de comportamentos humanos como gostar do sexo oposto e ajudar parentes. Não é porque nascemos sem interesse em escolher parceiros amorosos que formação de casais em humanos não envolve instinto algum;-
… não diz que nosso comportamento é geneticamente determinado.
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… não diz que não temos flexibilidade comportamental.
Ter adaptações mentais não significa dizer que sempre faremos e agiremos do mesmo jeito. Pense em computadores. Imagine qual computador é mais flexível e faz mais coisas diferentes e de forma variada: aquele que não tem quase nenhum programa instalado e tem muita memória livre, ou aquele que já vem com muitos programas instalados? É claro que o mais flexível é aquele com mais programas diferentes instalados. Para o comportamento é a mesma coisa. Parece contra-intuitivo falar que se fossemos tábulas rasas não teríamos quase nenhuma flexibilidade comportamental. Mas ao pensar nos computadores fica claro que quanto mais módulos mentais tivermos, mais flexível e pluralista será nosso comportamento. Dizer que temos um programa de edição de texto ricamente instalado não implica em dizer que independente do que for digitado sempre sairá o mesmo texto da impressora;- … não diz que comportamentos são adaptações.
- … não diz que não precisamos aprender nada.
Pensar que instinto e aprendizagem são coisas opostas, excludentes ou inversamente proporcionais é um erro muito comum. Trata-se do velho debate inato x aprendido. Justamente porque temos instintos é que somos capazes de aprender. Não somos umas espécie que aprende muito por que temos menos instintos, mas sim por que temos muitos. Os módulos mentais são abertos e ávidos por informações ambientais. Portanto, é pela via do aprendizado que manifestamos nossa natureza, e pela via da natureza que temos as propensões
para aprender conteúdos culturais e assim participar do mundo social. No paralelo do computador é fácil perceber que até o programa de edição de texto está preparado para aprender, pois inserimos novos tipos de fontes, novas figuras. O programa aprende até palavras novas, se as adicionamos ao dicionário. E isso possibilita inclusive a impressão de mais textos diferentes, a partir de um único programa;
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… não diz que a cultura não é importante.
Como a Psicologia Evolucionista reconhece que temos muitos módulos mentais, que são abertos e calibráveis, ou seja, plásticos e maleáveis pelo ambiente, e ainda, especializados em gerar e processar conteúdos culturais, segundo sua perspectiva, o ser humano é biologicamente cultural. A cultura não é algo antinatural alheio à biologia humana. A cultura é parte essencial da natureza humana, influencia e é influenciada por nossas adaptações mentais. Portanto, a diversidade cultural não é a prova de que o comportamento humano independe de adaptações mentais, mas sim de que nossas adaptações mentais são ricamente voltadas para os contextos culturais em que crescemos;
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… não diz que as pessoas são idênticas nos comportamentos.
Assim como todas as pessoas têm um coração, dois pulmões, dois olhos e um estômago, todas as pessoas têm as mesmas adaptações cognitivas. A história de vida e o contexto ecológico-cultural de cada pessoa influencia seus órgãos, o que faz com que esportistas tenham coração e pulmões diferentes de fumantes. Assim como as adaptações mentais de cada pessoa também são fruto de uma interação única com seu ambiente, o que torna cada pessoa única. Mesmo que duas pessoas brasileiras tenham as mesmas adaptações mentais voltadas ao aprendizado da linguagem, e tenham o mesmo contexto cultural da língua portuguesa, elas podem ter sotaques e gírias diferentes segundo as regiões específicas em que cresceram. E isso não é a prova de que elas não têm adaptações mentais igualmente, mas sim de que suas adaptações mentais são abertas à informação ambiental que varia de região pra região;
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… não diz que comportamentos adaptativos estão fora de nosso controle.
A Seleção Natural moldou filogeneticamente adaptações mentais que geram tanto comportamentos adaptativos mais controláveis – como a detecção de trapaceiros e a escolha de parceiros –, quanto os mais incontroláveis – como os medos. Decisões rápidas frente a riscos reais de morte, assim como medo de cobra ou de altura, são em geral mais incontroláveis, já que uma informação ambiental e
specífica potencialmente letal dispara a reação adaptativa. Mas o fato de serem adaptativos e pouco controláveis não implica a impossibilidade de agirmos de modo a minimizar seus efeitos negativos. Saber qual informação ambiental influencia o aparecimento de tal comportamento – como ver uma cobra ou olhar para baixo na roda gigante – aumenta nossas chances de controlar por antecipação nossas tendências incontroláveis;
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… não diz que todo comportamento atual é adaptativo.
Nossos módulos mentais foram selecionados no ambiente ancestral, ou seja, no ambiente de nossa adaptabilidade evolutiva e não no ambiente moderno e tecnológico atual. Então, pelo viés da Psicologia Evolucionista muitos de nossos comportamentos atuais são compreendidos como não adaptados, por estarmos deslocados de nosso ambiente natural. Alguns comportamentos que eram adaptativos no ambiente ancestral atualmente podem não ser, a exemplo de comer doces e gordura em excesso. No ambiente ancestral era adaptativo acumularmos o máximo possível de calorias em uma única refeição, pois não havia abundância de alimentos tal como ocorre hoje. Outros exemplos vão no sentido oposto. É o caso da prática de atividades físicas. Fomos selecionados em um momento em que fazíamos grande quantidade de exercícios físicos, pois o modo de locomoção era andar. Contudo, hoje, no ambiente urbano, sobretudo, há disponíveis facilidades como os vários tipos de veículos e até mesmo dispositivos como as escadas rolantes que auxiliam a locomoção humana. Isso implica em pouca mobilidade física e acaba gerando riscos para a saúde;
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… não diz que as adaptações são perfeitas.
Mesmo se estivéssemos em nosso ambiente ancestral vivendo como caçadores-coletores nossas adaptações mentais seriam falíveis e imperfeitas. Se a seleção natural mantivesse um perfeito medo de cobras de modo a que as pessoas jamais saíssem de suas casas, seriam drasticamente reduzidos os casos de mortes por picada de cobra. No entanto, haveria um custo alto a pagar: a capacidade exploratória humana seria inexistente, o que resultari
a em falta de alimento, e conseqüentemente nos levaria à morte. As adaptações não são perfeitas porque se fossem muito eficazes seus custos ultrapassariam seus benefícios à sobrevivência e à reprodução. Além disso, as pressões seletivas são cegas quanto a um objetivo final a ser atingido futuramente pela adaptação. Sendo assim, o modo como um problema adaptativo foi solucionado pela seleção natural, ou seja pelo relojoeiro cego, quase nunca equivale àquele pelo qual um engenheiro o solucionaria, partindo do zero e pensando em simplicidade, eficiência e economia. Somado a este fato, não se pode esquecer que as adaptações nunca são exatamente iguais dentro da população, ou seja, mesmo se ela tiver atingido um nível ótimo, este nível será melhor para alguns do que para outros, pois sempre existe uma variação individual, que é a matéria-prima da evolução;
- … não diz que há genes para o egoísmo.
A abordagem do gene egoísta não é uma abordagem molecular para o egoísmo. O gene egoísta não é “aquilo” que pessoas egoístas têm. Muito menos a teoria diz que todos os genes têm desejos conscientes egoístas, como se eles só “pensassem” em si próprios. Os genes não possuem desejos conscientes. Eles simplesmente se auto-replicam. Aqueles que não se auto-replicaram não sobreviveram e não estão representados hoje. O padrão de auto-replicação cega produz resultados que por vezes são interpretados como se determinados genes tivessem interesse em ser mais representados nas próximas gerações. Tais genes não “têm” realmente esse interesse, mas agem cegamente como se tivessem. Trata-se de uma analogia com os interesses humanos. Usa-se a voz ativa e coloca-se intenção pessoal onde não há;
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… não diz que as pessoas inconscientemente visam aumentar a replicação de seus genes nas gerações seguintes.
Confundir os interesses dos genes com os das pessoas é uma das principais confusões feitas com a Psicologia Evolucionista. Exemplo: “O adultério não pode ser uma estratégia para propagar os genes egoístas, pois os adúlteros tomam providências contraceptivas”. O desejo sexual e o desejo de ter filhos não são uma estratégia das pessoas para propagarem seus genes. São uma estratégia das pessoas para obter os prazeres do sexo e os prazeres de
serem pais, e esses prazeres são a estratégia dos genes para propagarem-se nos filhos. Gene egoísta não implica em uma pessoa que faz tudo pensando em seus genes. As pessoas não pensam no que seria melhor pra seus genes, elas simplesmente comem pelo prazer de comer, pra matar a fome e por qualquer outra crença e desejo. Já os genes modelaram o desejo de comer quando se replicaram em pessoas que se alimentavam bem e conseqüentemente sobreviviam e reproduziam. O interesse dos genes e o interesse das pessoas estão separados por diferenças gigantescas em unidades de tempo. O interesse pessoal é pautado pelo hoje, ontem, amanhã, mês que vem, vida toda, enquanto o interesse do gene é pautado pela persistência de pressões adaptativas em sucessivas gerações no ambiente ancestral ao longo de milhões de anos;
Como você pôde perceber, nós vivemos em uma unidade de tempo mais rápida que a de nossos genes. Isso implica em não sermos dominados e controlados por eles. Somos livres para escolher não comer doces, se assim quisermos, e livres para seguir o propósito de não ter filhos, se assim o desejamos, livres para abdicar do sexo e até da própria sobrevivência. Temos esses pequenos viéses herdados em comer doce, ter filhos, praticar sexo e sobreviver, o que torna mais provável realizarmos tudo isso e mais difícil resistir a esses comportamentos, por sermos herdeiros de ancestrais que sobreviveram a ponto de deixar descendentes. Tais propensões foram moldadas no ambiente ancestral e não no atual. Então somos livres para fazermos o que bem entendermos agora com nosso corpo e com nossa mente.
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… não é sexista ou machista.
A Psicologia Evolucionista vem descobrindo muitas diferenças psicológicas inéditas entre homens e mulheres. Essas descobertas têm gerado confusão e muitos apregoam ser esta uma teoria baseada em machismo ou sexismo. Essa confusão vem de três problemas: Primeiro, a generalização ingênua. Assim, dizer que os homens são, em média, maiores que as mulheres não significa que todos os homens sejam mais altos do que todas as mulheres. Dizer que as mulheres têm mais fluência verbal que os homens não quer dizer que todos os homens sejam praticamente mudos. Depois vem
o preconceito. O preconceito ocorre quando ingenuamente julgamos a priori uma pessoa pela média dos atributos de seu grupo. Dizer que homens têm mais facilidade para a localização espacial não habilita ninguém a destratar, desmerecer ou desqualificar uma mulher por seu modo de dirigir. Finalmente vem a confusão entre diferença e desigualdade. Nenhuma diferença anatômica ou mental entre homens e mulheres implica qualquer julgamento de valor. Todos os seres humanos devem, por princípio, ter iguais direitos e oportunidades. Não há incompatibilidade entre sermos diferentes e termos garantias de igualdade de direitos;
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… não embasa julgamentos morais, nem justifica nossas ações.
Confundir explicações científicas com recomendações ou justificativas morais é o erro mais perigoso, por seu forte conteúdo emocional. É conhecido como falácia naturalista e implica numa nivelação equivocada entre o “é” das explicações descritivas e o “deve ser” das recomendações morais. Enquanto cientistas – cientes de que todo conhecimento tem um grau de incerteza – usam o verbo “dever” no sentido de “haver uma probabilidade de” para explicar a previsão de uma possibilidade, como na frase “Se existirem componentes herdáveis na propensão ao estupro e se alguns estupros tiverem gerado filhos, então deve ter havido uma pressão seletiva favorecendo as propensões envolvidas no estupro”; Outras pessoas ouvem o verbo “deve” no sentido de “ser moralmente preferível” e acusam esses pesquisadores de estar justificando, ou naturalizando um ato brutal e criminoso, o que não é verdade. Não somos escravos das adaptações mentais, uma vez que a própria seleção por flexibilidade de repertório conforme o contexto favorece um controle consciente dos nossos comportamentos, como a infidelidade. E, sendo um ato consciente, ele não isenta a culpabilidade daqueles que, ao satisfazerem seus desejos irresponsavelmente, expõem parceiros a danos à saúde pelo sexo desprotegido e à confiança pela traição. Nossas propensões mentais não são desculpa para nenhum ato danoso;
Causas apontadas
Por que esses mal-entendidos acontecem com tanta freqüência? Provavelmente não existe uma resposta única. Diferentes explicações foram dadas, não necessariamente excludentes.

A primeira fonte de explicação foca a causa dos mal-entendidos em nossos próprios padrões cognitivos de processamento de informações. Temos a tendência a simplificar qualquer informação para reduzir a demanda por recursos cognitivos e um forte desejo de gerar previsões a partir de casos específicos, o que nos faz incorrer na generalização. Quando esses padrões cognitivos são usados na tentativa de entender a relação entre gene, ambiente e comportamento, facilmente caímos nas supersimplificações como “gene gay” ou “gene da felicidade”, na tentativa de se aplicar o modelo mendeliano, que é simples, ao comportamento, que não o é. O desenvolvimento ontogenético é uma complexa interação singular entre genes, seqüência temporal dos ambientes externos e eventos aleatórios. Por isso, ainda não foi desenvolvido um modelo didático para descrever a influência genética no comportamento de forma lógica, como no modelo mendeliano, em que um gene é igual a uma característica.

Outra fonte de mal-entendidos envolve a aparente simplicidade da teoria da evolução. A facilidade de apreender o conceito de seleção natural leva as pessoas a pensar que entenderam completamente a evolução depois de um rápido contato com a teoria. Saber o modo darwinista de explicar o tamanho do pescoço da girafa não garante pleno entendimento do evolucionismo, principalmente quando aplicado ao comportamento humano.
conceitual, em que se considerava tudo o que envolvesse genes e comportamento como errôneo e contrário à liberdade. Surgiu daí a idéia de que a causalidade biológica é determinista e ruim, enquanto a causalidade ambiental preserva o livre-arbítrio, e, portanto, é boa. Você já deve ter ouvido comentários pejorativos sobre a “biologização” do comportamento e quão “determinista”, “fatalista” e “ingênua” é a visão biológica do comportamento humano.Valores morais e condição animal
No âmago de todas essas controvérsias sempre esteve um grande temor humano: o de ser apenas mais um animal. Igualarmos-nos aos animais é muito difícil, pois sempre nos sentimos o ápice da criação divina, feitos à imagem e semelhança de Deus. Darwin abalou essa crença, provendo uma explicação para a nossa origem nos mesmos termos da origem dos outros animais e dos outros seres vivos. Se somos apenas animais, então, nada mais é sagrado? Onde ficaria embasada a moral, como o não matarás? O medo do desmoronamento dos valores morais sagrados andou lado a lado com a resistência às idéias evolucionistas.
Quando Copérnico nos tirou de centro do Universo a reação também foi de negação. Com o tempo, aprendemos que a esfera moral não é diretamente dedutível da esfera factual. Hoje convivemos muito bem sendo uma poeirinha cósmica na periferia na via Láctea e mantendo sentimentos morais. O mesmo deve acontecer com a Revolução Darwinista quando entendermos humildemente nossa igual posição na natureza. Entendermos que nós fazemos parte da natureza, somos animais, somos parentes de todo ser vivo: lactobacilo vivo, tripanossomo, champignon, brócolis e baleia. Não somos o “ápice” da vida, pois não existe animal superior ou inferior, já que o formato da evolução da vida na Terra não é uma escada e sim uma árvore em que cada ser vivo existente é o melhor de seu ramo.Agora que sabemos algumas causas dos preconceitos e mal-entendidos e sabemos como resolvê-los, faça um teste: busque notícias sobre ciência que envolvam genes, comportamento e psicologia evolucionista e veja se consegue identificar algum mal-entendido. Será mesmo que depois de ler esse texto você já está “vacinado” contra os mal-entendidos? Você agora sabe dizer o que está errado quando se fala em linguagem e infidelidade inatas? Você ainda acha que estudar diferenças entre homens e mulheres na perspectiva evolucionista é dar base moral para a dominação masculina? Considera mesmo que o fato de sermos animais nos torna escravos dos nossos genes?
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…Psicologia Evolucionária, pois esta é uma tradução errônea do inglês Evolutionary Psychology.
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…Psicologia Evolutiva, pois essa terminologia designa a Psicologia do Desenvolvimento. A teoria em que a Psicologia Evolucionista se embasa é evolutiva, logo a disciplina é evolucionista. Segundo um artigo que padroniza as traduções dos termos em inglês da área de Etologia publicado em 2002 por Yamamoto e Ades, Evolutionary Psychology no Brasil é Psicologia Evolucionista.
Referências
BUSSAB, V. S. H.; RIBEIRO, F. J. L. Biologicamente cultural. In M. M. P. RODRIGUES; L. SOUZA; M. F. Q. FREITAS (Orgs.). Psicologia: Reflexões (in)pertinentes. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.
LEWONTIN, R. A Tripla Hélice– Gene, Organismo e Ambiente. Companhia das Letras, 2002.
MEYER, D.; EL-HANI, C. N. Evolução: o sentido da biologia. São Paulo: UNESP, 2005.
OTTA, E.; RIBEIRO, F. J. L.; BUSSAB, V. S. R. (2003). Inato versus adquirido: Persistência de uma dicotomia. Revista de Ciências Humanas. Florianópolis, 2003. 34, 283-311.
PINKER, S. Tábula rasa. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
RIDLEY, M. O que nos faz humanos. Rio de Janeiro: Record, 2004.
Descobrindo a Árvore da Vida – Palestras no Rio

O que nem muitos sabem é que o Brasil é o único país em que, paralelamente às Exposições DARWIN, ocorrem dois ciclos de palestras: o Infinitas Formas, que trata da temática da biodiversidade, e o Descobrindo a Árvore da Vida, que trata
da vida e obra de Charles Darwin, sua influência nas diversas áreas do conhecimento e na visão contemporânea de mundo.
Dia 13/03 será a palestra “Três viajantes e a Teoria da Evolução” com o Armando Bittencuort Vice-Almirante Engenheiro Naval da Reserva. Diretor do Patrimônio histórico e Cultural da Marinha. Quinta-feira às 15h.Revolução Genômica e Lei de Biossegurança
A Revolução Genômica ficará no parque do Ibirapuera em São Paulo até o dia 13 de julho e espera alcançar 500 mil visitações. Depois ela rodará o Brasil por mais 10 cidades assim como está fazendo a exposição DARWIN. Todos os últimos domingos de cada mês serão de graça e em todos os finais de semana de hora em hora os visitantes poderão acompanhar no laboratório da exposição uma extração de DNA do morango. Escolas ou qualquer grupo de pelo menos 24 pessoas podem ligar para (11) 3468 7400 no horário comercial e agendar uma visita monitorada por toda a exposição passando até pela extração do DNA. Com isso espera-se que o brasileiro tome mais conhecimento sobre sua biodiversidade e sobre as possibilidades biotecnológicas da clonagem, dos transgênicos e principalmente das células-tronco.
E são as próprias células-tronco o tema da votação na próxima quarta feira dia 05/03. A Lei de Biossegurança, que autoriza a pesquisa científica com células tronco embrionárias, foi aprovada pelo Congresso há três anos. Mas foi
questionada pelo então procurador-geral da República, Cláudio Fontelles, que entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal. Nesta quarta estará nas mãos dos 11 ministros católicos do supremo decidir sobre o futuro dessas pesquisas no Brasil, em uma sala que ostenta um grande crucifixo na parede.
Basicamente, aqueles contra a lei têm por base questões religiosas, enquanto aqueles a favor têm por base as possibilidades médicas que poderão se tornar reais na posse do conhecimento adequado do funcionamento das células-tronco embrionárias – as únicas totipotentes. Muitos grupos se manifestaram a favor, e com razão já que impedir a pesquisa por motivos místicos seria um retrocesso quase medieval. Mas infelizmente podemos flagrar o dedinho divino movendo a ação de inconstitucionalidade da Lei de Biossegurança, como deixa claro o site RNAm no texto Células-tronco: votação, bastidores e conspiração.
Essa votação e a ação religiosa me remetem às votações das leis eugênicas em países europeus e americanos durante o começo do século XX. As leis eugênicas eram coercivas, xenofóbicas e preconceituosas, pois estabeleciam que “a multiplicação dos débeis mentais era um perigo terrível para a raça” então todos aqueles minimamente enquadrados como mentalmente incapacitados eram esterilizados. Tais leis foram aprovadas primeiramente nos EUA e depois Suécia, Canadá, Noruega, Finlândia Estônia, Islândia e Alemanha também aprovaram. No entanto, em países onde a influência da igreja católica romana era forte não houve leis eugênicas.As narrativas modernas da história da eugenia apresentam-na como um exemplo dos perigos de se deixar a ciência, especialmente a genética sem controle. Mas trata-se na realidade muito mais de um exemplo do perigo de se deixar o governo sem controle. Pois, apesar de todo cientista moderno reconhecer a eugenia como uma pseudociência, muito do que está errado com a eugenia não é ciência, mas coerção do Estado. 
Quanto olhamos para essa votação da Lei de Biossegurança vemos novamente o catolicismo via CNBB (Congregação Nacional dos Bispos do Brasil) tentando impedir que os cientistas desalmados cometam atrocidades. Entretanto, agora a história é bem diferente, serão feitas pesquisas em culturas de células embrionárias para entendermos quais os processos ocorrem na diferenciação dessas células em todas as células especializadas do nosso corpo.






















