Extra Extra! Nossos Genes Estão na Música!
É de longa data a discussão de se a variação individual na nossa habilidade musical tem maiores componentes herdados geneticamente ou do ambiente. Muitos, caindo no erro do determinismo genético de que gene é destino, temem que se descobrirem que alguns genes relacionados a uma facilidade de aprendizado musical isso irá acabar de vez com o ensino de música nas escolas.
Pois é que os dotados de tais genes deveriam fazer aulas especializadas fora da escola. Ótimo, sendo assim, como devem existir genes facilitando o aprendizado de línguas e de matemática o currículo logo estará livre também dessas disciplinas. Nada mais justo! Vejam como não faz sentido algum temer que se busque fatores genéticos ligados a habilidade musical para proteger que o ensino musical no currículo.
Estudos em gêmeos apontam que alguns aspectos da musicalidade apresentam um grande componente hereditário influenciando a variação individual. Um estudo (Coon & Carey, 1989) encontrou que de 44% a 90% da variação individual na capacidade musical se deve pelo compartilhamento genômico. Outro (Drayna et al., 2001) encontrou que de 71% a 80% da variação individual na discriminação de tons se deve à herança genética.
Estudos genéticos já haviam mostrado que há uma associação entre a memória musical e polimorfismos em genes relacionados à vasopressina (Granot et al., 2007). Então o pesquisador Ian Craig do King’s College London coletou amostras de DNA dos 40 cantores profissionais do New London Chamber Choir e de pessoas que se diziam completamente incapazes de cantar ou tocar instrumentos. Ele está analisando se as variações individuais no tamanho e conteúdo das cópias do gene que codifica o receptor 1A para a vasopressina no cérebro e em mais 16 outros marcadores genéticos co-variam com as habilidades musicais individuais. Por enquanto ele só encontrou algumas poucas diferenças, mas a análise ainda não está concluída.
Então, para atrair a atenção da mídia e do público em geral eles contactaram o compositor Michel Zev Gordon que compôs a música Allele, a primeira música criada a partir das ‘letras’ ou bases nitrogenadas do DNA. (Iniciativas anteriores semelhantes fizeram música a partir da freqüêcia da molécula de DNA). Pois é o DNA tem só 4 letras AGCT, e pra queles que gostam de pop song já sabem que 4 acordes são mais do que suficientes. Então como A= lá, G=sol, C= dó T=ti, ou si em inglês, dá pra criar uma música tranquilamente. Cada músico estava cantando sua voz contendo as notas da própria variante do gene relacionado à habilidade musical. Fenomenal. Veja mais detalhes abaixo no vídeo da NewScientist dessa semana.
Referências
Coon, H., & Carey, G. (1989). Genetic and environmental determinants of musical ability in twins. Behavior Genetics, 19(2), 183-193.
Drayna, D., Manichaikul, A., Lange, M., Snieder, H., & Spector, T. (2001). Genetic Correlates of Musical Pitch Recognition in Humans. Science, 291 (5510), 1969 – 1972.
Granot, R., Frankel, Y, Gritsenko, V., Lerer, E., Gritsenko, I., Bachner-Melman, R., Israel, S., & Ebstein, R. (2007). Provisional evidence that the arginine vasopressin 1a receptor gene is associated with musical memory. Evolution and Human Behavior, 28(5), 313-318.
Discussão - 7 comentários
Muito legal...
Ultimamente me perguntando se começo ou não a aprender a tocar algo.
O que acontece com quem nunca tentou tocar e não sabe se tem jeito? hehe É tentar e ver...
bjs
Valeu Rachel. Pois é nossa musicalidade é bem perecida com aspectos da linguagem. Assim como é mais fácil aprender um segunda lingua quando jovem, é mais fácil aprender a tocar algo quando jovem, mas isso não significa que é impossível aprender tocar nem depois dos 50 anos, por exemplo. Tendo empenho e dedicação por um tempo você vai acabar conseguinto tocar as músicas que gosta sim. Abraços
Ae Marco, muito legal mesmo
Oi! Esqueci de falar que eu conheci o autor desse trabalho em Maio no nosso centro de investigação! Achei o trabalho dele um máximo e como não fui a nenhum dos concertos andava já há um tempo à procura! Obrigada por colocar aqui!
Que legal que você conheceu esse pesquisador Rita! Eu que agradeço por você ter visitado o MARCO EVOLUTIVO e deixado um comentário. Valeu!
Esse blog traz muita informação interessante, parabéns pelo excelente treabalho!
Quem disse os 40 principais cantores são bons? Quem disse que as pessoas que se dizem "não saber cantar/tocar" não podem tocar/cantar realmente? Espero que as variáveis estejam aparecendo na pesquisa. Se não, é muito simples/simplista.