Morreu no dia 08, semana passada, do mal de Alzheimer aos 83 anos
George C. Williams (1926 – 2010), um dos mais importantes evolucionistas da atualidade. Professor emérito da Biologia na State University of New York em Stony Brook nos EUA, foi visionário e pioneiro que contribuiu enormemente para nosso entendimento evolutivo sobre o envelhecimento, menopausa, a reprodução sexuada, o adaptacionismo, os níveis de seleção e a medicina e doenças.
Para
Niles Eldredge, George C. Williams foi um pensador profundo e cuidadoso, muito tímido e bem legal.
Stephen Jay Gould o achava um cavalheiro quieto com uma enorme influência na teoria evolucionista que sempre esteve avançado em relação ao seu tempo quanto à sua clareza teórica. Para
Richard Dawkins, ele foi um cientista maravilhoso e um grande cavalheiro de uma sabedoria lendária. Para
Steven Pinker ele é um dos mais famosos escritores na história da ciência. Para
Daniel Dennett, ele mostrou pela primeira vez como é difícil ser um bom evolucionista e como é fácil cometer erros simples. Para Martin Daly, George William faleceu sendo o maior biólogo evolucionista de seu tempo que influenciou tanto a ecologia comportamental quanto a psicologia evolucionista. Para
Michael Ruse, ele foi parte do grupo de biólogos que mudou completamente a natureza da teoria da evolução a meio século atrás. Para
Randolph Nesse, ele foi o mais importante biólogo do século XX que com uma abordagem consistente e um pensamento metódico perseguiu questões importantes e destilou suas conclusões em prosa límpida.
Em seu primeiro livro e um dos mais importantes da área
Adaptation and Natural Selection: A Critique of Some Current Evolutionary Thought (1966) ele influenciou gerações de evolucionistas com um adaptacionismo mais rigoroso e desbancando de vez o selecionismo de grupo ingênuo, que infelizmente, ainda vemos muito na narração de documentários sobre animais, algo do tipo “tudo para o bem da espécie”. Ele mostrou que a adaptação é um conceito oneroso e que teve ser criticamente testado segundo vários critérios antes de aceitá-lo finalmente como conclusão.
Em
Sex and Evolution (1975),
Natural Selection: Domains, Levels, and Challenges (1992), ele atualizou e expandiu suas idéias anteriores, introduziu a idéia de seleção de clado e foi fundo na questão dos níveis de seleção. Ele fez um distinção muito importante para evitarmos muitos mal entendidos em biologia evolutiva. Temos que reconhecer que existem dois domínios distintos em biologia evolutiva: um é o da matéria, no qual gene significa cadeia de DNA, o outro é o da informação, no qual gene significa pacote de informação, mensagem, receita. Então para entender os níveis de seleção não se pode incorrer no erro de misturar os dois domínios como indivíduo (material) e gene (pacote de informação), pois os diferentes domínios não são correspondentes, deve-se ter a clareza de comparar níveis dentro de um mesmo domínio.
Williams mostrou como é um absurdo a idéia de restaurar a homeostase, ou seja, tudo de incomum manifestado em seu corpo durante a doença deve ser combatido, com um exemplo bem claro: Imagine que você chega na sua casa e dois fatos incomuns estão acontecendo: 1) tem um caminhão vermelho estacionado na frente e vários seres jogando água na sua casa; 2) tem muita fumaça saindo pela sua janela. O que você deve fazer para restaurar a homeostase da sua casa é dar um fim em todos os fatos incomuns, então você se livrar dos seres molhados, guinchar o caminhão vermelho e não deixar fumaça sair pela janela, pronto resolvido!!! Eles mostraram que muitos dos sintomas das doenças são estratégias coordenadas do seu corpo inerentes do processo. Dawkins chegou a sugerir a todos que comprem duas cópias do livro e receitem um para seu médico. Segundo profetizou o próprio Williams:
“In twenty or thirty years, medical students will be learning about natural selection, about things like balance between unfavorable mutations and selection. They will be learning about the evolution of virulence, of resistance to antib
iotics by microorganisms, they will be learning about human archaeology, about Stone Age life, and the conditions in the Stone Age that essentially put the finishing touches on human nature as we now have it. These same ideas then will be informing the work of practitioners of medicine, and the interactions between doctor and patient. They’ll be guiding the medical research establishment in a fundamental way, which isn’t true today. At the rate things are going, this is inevitable. These ideas ought to reach the people who are in charge — the doctors and the medical researchers — but it’s even more important that they reach college students, especially future medical students, and patients who go to the doctor.”
Em seu último livro
Plan and Purpose in Nature (1996), Williams,
rebate claramente os argumentos criacionistas mostrando que se existe um criador e ele é minimamente inteligente nunca faria algo tão mal-adaptado como nosso corpo. Os exemplos vão de peixes ao olho, garganta e muitos outros. Nesse livro fica claro o porquê Randolph Nesse o considera um mal-adaptacionista, já que eles compartilham o fascínio pelos aspectos do corpo e da mente que aparentam não fazer sentido em termos evolutivos.
Sem dúvida George C. Williams foi um marco evolutivo com alcances para além das ciências biológicas. Espero com essa homenagem aumentar o conhecimento sobre ele no Brasil e o ainda mais o alcance de sua contribuição científica.
Fique com uma palestra dada por Randolph Nesse na comemoração sobre o Ano de Darwin 2009 sobre The Great Opportunity: New Evolutionary Applications in Medicine.
Discussão - 3 comentários
Interessante. Coincidentemente terminei de ler 'Troglodita é você!' de Michel Raymond que aborda o assunto de medicina darwinista.
Marco, eu li o livro dele com o Nesse. Cheguei até a me corresponder com este último sobre o assunto. Esperava bem mais. Tem alguns exemplos bem ruinzinhos, de cabeça, não lembro de nenhum, faz tempo que li.
Ficaram algumas perguntas. Onde está a medicina evolutiva (acho o nome medicina darwinista péssimo) hoje? Não conheço esse livro do Michel Raymond que o Josue comentou aí em cima. Vc sabe se é bom?
Pra mim, o grande tchans de uma medicina evolucionária/evolutiva/darwinista seria contar a história de nossos genoma. Só a medicina pode fazer isso porque abarca todos os processos que levam um ser humano (ou não humano!) à morte, a saber, aspectos epidemiológicos e fisiopatológicos, para ficar nos dois mais badalados. Esse "serviço" vai ter que ser feito uma hora ou outra, dado que nosso mapeamento genético não deu conta de "explicar-nos" adequadamente.
Você sabe de alguém que trabalha nessa linha? Obrigado
Pois é Karl o porque adoecemos pode ter um exemplos ruinzinhos mas lembre é só um dos primeiros livros que tenta fazer essa ponte. No post sobre as dicas de livro vc vai ter uma visão mais geral e atualizada do quanto essa área se desenvolveu de lá pra cá.
Essa da genômica é só uma das possibilidades que estão sendo desenvolvidas conexões.
Essa dq que o mapeamento genético veio pra nos explicar é pura propaganda pra vender pipeta. Uma explicação minimamente satisfatória do ser humano deve contemplar causas próximas (funcionamento e desenvolvimento) e causas distais (adaptações, exadaptações e filogênese) para cada parte ou processo. E isso vai demorar bastante ainda.
Não conheço ninguém que aplique genética evolucionista pra entender a medicina.
Valeu pelo comentário.