Dança: um Fértil campo de Pesquisa Evolutiva

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Quem nunca convidou alguém pra dançar uma música lenta? Trata-se de um momento interessantemente tenso e de decisão rápida. Imagine-se num nightclub numa cidade de tamanho médio do oeste francês. Vocês garotas estão com suas amigas e quando começa tocar aquela música lenta romântica você é abordada por um rapaz atraente. Ele diz: “Olá meu nome é Antonie, quer dançar?” O que você faria? Numa fração de segundos você já analisou milhares de aspectos desse desconhecido e toma a decisão: “Não obrigada.” Então ele fala: “Que pena, outro dia talvez.” Mas se você aceitasse ele te diria que você acabou de participar de um experimento naturalístico sobre comportamento 

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social em nightclubs! Em ambos os casos você é logo abordada pela pesquisadora para você responder um questionário. 
Com certeza as mulheres tiveram várias razões pessoais para aceitar ou declinar do convite, mas não podemos esquecer que enquanto bons primatas que somos temos nossas razões biológicas também e na maioria das vezes, ambas andam juntas. 
No estudo Menstrual cycle phase and female receptivity to a courtship solicitation: an evaluation in a nightclub do

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 pesquisador francês Nicolas Guéguem publicado no jornal científico Evolution and Human Behavior em 2009, três rapazes, os quais foram considerados os mais atraentes num estudo prévio, foram os galãs convidando ao todo 211 mulheres pra dançar. Ele descobriu que as mulheres no período fértil aceitaram mais o convite para dançar do que as outras. Pela primeira vez é documentado um efeito do período fértil numa situação de paquera realista.

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O ciclo menstrual tem três principais períodos e ele não se refere apenas aos dias de menstruação. Basicamente uma vez por mês o útero, o corpo e a mente feminina se preparam para uma possível gravidez. O primeiro período vai do primeiro dia de menstruação, que dura até 5 dias, até o dia 8. Do dia 9 ao dia 15 é o período fértil ou folicular, quando a mulher tem muito mais chances de engravidar. Do dia 16 ao 28, se não houver gravidez, segue-se o período luteal. 

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Vários estudos em laboratório já mostraram que durante o período fértil as mulheres que não estão tomando contraceptivo hormonal julgam mais atraentes características físicas nos homens relacionadas a masculinização e simetria. Estes são tidos como indicadores de resistência a doenças, já que a testosterona deprime o sistema imunológico, e de estabilidade no desenvolvimento embrionário. Além disso, elas também têm mais fantasias sexuais inclusive com sexo extraconjugal. Entretanto, poucos são os estudos sobre as mudanças psicológicas do período fértil nas interações sociais do dia a dia em situação realistas.

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O primeiro estudo foi o Ovulatory cycle effects on tip earnings by lap-dancers: Economic evidence for human estrus dos pesquisadores Geoffrey Miller, Joshua M. Tybur Brent Jordan publicado também no Evolution and Human Behavior mas em 2007. Stripers profissionais tomaram nota dos períodos do ciclo menstrual em relação aos turnos de trabalho e gorgetas ganhas durante 60 dias. Eles descobriram

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 que com 5 horas de trabalho na fase fértil as dançarinas eróticas ganharam $335,oo em gorgetas, enquanto que na fase luteal ganharam $260,oo e na fase menstrual apenas $185,oo Esse estudo ganhou o Ig Nobel como pesquisa improvável no campo de economia em 2008.
Em conjunto essas duas pesquisas apontam as influências da seleção sexual na dança. O interessante é que o período fértil influencia tanto a exibição feminina em forma de dança quanto o aceite de convites para dançar aumentando assim as chances de encontrar um parceiro no áuge da probabilidade de concepção. O que dançou nessa história foi a idéia que a ovulação humana é oculta, com certeza ela não está tão descarada quanto nos chimpanzés, mas definitivamente não é tão silenciosa quanto se pensava.

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As mulheres viveram um dilema evolutivo de encontrar um parceiro que ajude a criar seus filhos e que seja sexy, inteligente e másculo. E as estratégias psicológicas femininas para terem o melhor dos dois mundos, mesmo que esteja em corpos diferentes coevoluiram com as estratégias psicológicas masculinas de não criarem filhos de outros homens e esse antagonismo pode ter diminuído os sinais da ovulação e aumentando os períodos do ciclo em que a mulher faz sexo. A confusão da paternidade e a incerteza da paternidade coevoluiram numa dança continua em nossa espécie e muitos desse movimentos ainda estão para serem desvendados.

Notas e Neurônios

É com muito prazer que inicio as blogagens de 2010 diretamente do Canadá. Dessa vez não vim a um congresso. Acabei de me mudar, estou morando no Canadá há uma semana. Durante todo esse ano até janeiro de 2011 estarei vivendo o “recheio” do meu doutorado sanduíche pela USP (financiando pelo CNPq) aqui na McMaster Univesity. Estou no laboratório de NeuroArts e começando a entrar em contato com um rico ambiente intelectual e aprendendo muitos aspectos evolutivos, antropológicos e neurológicos das manifestações musicais entre outras artes.

E nesse clima apresento o “Notes & Neurons” do World Science Festival de 2009. Trata-se de uma ótima entrevista-discussão-apresentação-documenário sobre as novas descobertas da neurociência sobre nossa musicalidade. Nessa série de cinco vídeos você vai ver como nosso cérebro decompõe as várias dimensões da música usando diferentes áreas e depois reitegra de forma paralela as informações para termos a experiência musical. O âncora é o John Schaefer e os convidados são os cientistas Jamshed Barucha da Tufts Univ., Daniel Levitin da McGill Univ., Lawrence Parsons da Univ. de Sheffield, e o músico Bobby McFerrin (“Don`t worry, be happy”) que faz intervenções bem interessantes.

No primeiro vídeo, após o solo de Bobby eles falam um pouco do crescente interesse pelas bases neurais da musicalidade, suas questões universais e particularidades culturais. No segundo vídeo, veremos que nossa musicalidade sempre inclui música e dança, que não existe uma única área cerebral responsável por toda a cognição subjascente à nossa musicalidade, ela está distribuida por todo o cérebro e o sistema nervoso periférico. Basicamente temos áreas cerebrais envolvidas na percepção e análise auditiva, na memória e associações, na expectativa do que vai acontecer, no movimento, na sensação corporal, na emoção, e na percepção visual.
Eles falam dos intervalos muscais que são

universais como a oitava, a quinta, a quarta e a terça. Falam também que quando falamos algo triste usamos o mesmo contorno melódico dos acordes menores que também soam tristes, e quanto estamos com raiva fazemos um intervalo de meio tom. O interessante é que temos muito mais facilidade de reconhecer o pacote melódico da fala pra emoções negativas. Já que evolutivamente, as consequências das emoções negativas tiveram maior chance de prejudicar a aptidão de nossos ancestrais. Bobby McFerrin faz ótimas demostrações de variação no timbre, e eles mostram variações também no ritmo.

No terceiro vídeo, eles demostram diferenças entre as escalas ocidentas e as escalas da música indiana. Mostram que ter crescido em uma cultura faz com que criemos expectativas musicais típicas das escalas usadas, mas ainda assim possuímos uma platicidade para aprender diferentes escalas e músicas de culturas distantes. Com a crescente disseminação da afinação e da harmonia ocidental através do mundo, graças a pop music industry, corremos o risco de não termos exemplos de músicas sem a influência ocidental para estudos etnomusicológicos. Mas pensando bem, Jamshed está certo em dizer que sim, ainda existe uma última tribo não exposta à música do resto do mundo, os EUA!

No quarto vídeo, veremos a belíssima e muito didática demostração de Bobby McFerrin sobre as expectativas universais quanto à escala pentatônica. Depois eles falam das relações entre musicalidade e linguagem, os casos de línguas tonais como o chinês, tudo parte de uma grande vivência social compartilhada permeando música, dança e linguagem. E no final comentam que os bebês antes de nascer facilmente encorporam as escalas musicais de cada cultura. No último vídeo músicos e convidados tocam juntos. Aproveitem e feliz 2010!

150 anos de ‘A Origem das Espécies’ Uma Celebração

Finalmente entramos na tão esperada semana dos 150 anos da publicação do Origem das Espécies. Então se preparem, pois essa semana do dia 23 ao dia 27 de novembro de 2009 será um marco evolutivo no século XXI. Teremos palestras gratuitas, livros, música, vídeos, podcasts e muitos mais no sesquicentenário do Origem das Espécies aqui no MARCO EVOLUTIVO.


Começaremos com a programação de evento em São Paulo. Do dia 23 ao dia 27/11 sempre das 17h30 às 19h ocorrerá no Instituto de Biociências da USP o “150 anos de ‘A Origem das Espécies’: Uma Celebração”. Trata se de uma programação gratuita e imperdível de palestra, mesa-redonda, documentário e apresentação musical.

Na segunda, dia 23 o Prof. Dr. Nélio Bizzo, um dos maiores historiadores de Darwin no Brasil e autor do livro “Darwin: do Telhado das Américas à teoria da Evolução” e do livro “Evolução dos Seres Vivos” dará a palestra intitulada “Do ‘Big Species Book’ ao ‘Origin of Species’: O que mudou na obra publicada de Darwin?”

Na terça, dia 24 haverá uma mesa redonda em que o Prof. Cesar Ades falará sobre “Uma reflexão sobre o capítulo ‘Instintos'”. O Prof. Dr. João Morgante falará sobre “Wallace no ‘Origem'” e o Prof. Dr. Sasndro de Souza falará sobre as “Predições de Darwin”.


Na quarta e quinta, dias 25 e 26 haverá a apresentação do documentário da BBC “Charles Darwin e a árvore da vida” de nosso amigo Sir David Attenborough, seguido de comentários dos professores Dr. Diogo Meyer, um dos autores do livro “Evolução o sentido da Biologia” e a Dra. Maria Prestes.

Na sexta, dia 27 para encerramento haverá um recital de Música Oitocentista. Veja aqui a programação detalhada do evento do IB da USP.

No sábado, dia 28 haverá no Museu de Zoologia da USP, como continuação do ciclo de palestras da Exposição “Darwin: Evolução para Todos”, terá outra palestra do Prof. Dr. Nélio Bizzo intitulada “Charles Darwin: o postilhão dos Andes”. Aproveite que a semana do marco evolutivo sesquicentenário do Origem das Espécies só está começando.

Revolucion Darwin no Chile

revoluciondarwin.jpgComeçou hoje aqui em Santiago del  Chile o Seminário Revolução Darwin – el legado intelectual de Darwin en el siglo XXI. Simplesmente a maior comemoração darwinista do mundo em 2009!  São mais de 2.600 pessoas assistindo a palestras fantásticas sobre darwinismo fora todas aquelas assistindo em tempo real pela internet!

Organizado pela Fundacion Ciencia y Evolucion esse seminário que ocorre entre os dias 7 e 8 de setembro conta com as maiores personalidades da Psicologia Evolucionista. Trata-se de Steven Pinker; Daniel Dennet, Leda Cosmides, John Tooby, Matt Ridley, Helena Cronin entre outros.

As palestres estão muito interessantes e os professores muito acessíveis. Descubra mais no site do evento. Veja ao vivo aqui e descubra alguns videos aqui.

Psicologia Evolucionista no Milênio

Acabo de voltar de Natal onde participei de um mês de estudos em Psicologia Evolucionista que culminou no primeiro evento no Brasil, o “Simpósio Internacional Psicologia Evolucionista no Milênio: Plasticidade de Adaptação”. Foi um evento muito bom, inesquecível. Não estava tão lotado aponto de você não conseguir conhecer ninguém, nem tão vazio aponto de você se desanimar. A organização estava muito boa, o coffebreak também e é claro que os speakers nas palestras e os alunos nos pôsteres deram um show, tudo em inglês.

Foram cerca de 60 pôsteres abordando temas dentre comportamento social, moral, reprodutivo, cognição, investimento parental, desenvolvimento, família, tópicos teóricos e metodológicos, psicopatologia, linguagem, teoria da mente, comportamento alimentar, arte e religião. O grande destaque vai para os pôsteres ganhadores que (se eu não me engano) foram: Discounting the future: psychological and context variables de Tânia Abreu da Silva Victor, Dandara de Oliveira Ramos, Maria Lucia Seidl-de-Moura, and Luciana Fontes Pessoa; Like father like son: preference for babies that resemble their fathers in Brazilian mothers de Luísa Helena Pinheiro Spinelli, Maria Bernardete Cordeiro de Sousa, and Maria Emilia Yamamoto; e o Cooperate or retaliate? Influence of social cues on group categorization de Diego Macedo Gonçalves, Ana Carolina Morais Sales, and Maria Emilia Yamamoto.

As palestras foram as seguintes: na conferência de abertura o casal Martin Daly e Margo Wilson da McMaster University Canadá falaram sobre relações de parentesco em Kinship in human Evolutionary Psychology. No dia seguinte Maria Emilia Yamamoto da Federal do Rio Grande do Norte falou sobre identificação de coalizões em Group categorization and ethnocentrism: an evolutionary perspective e em seguida Martin Daly e Margo Wilson falaram sobre características dos homicídios Homicides. Depois do almoço Paulo Nadanovsky da Estadual do Rio de Janeiro falou sobre agressão contra crianças em Can evolutionary theory help identify circumstances conducive to child physical abuse? E em seguinda Klaus Jaffe da Universidad Simon Bolívar, Venezuela falou sobre a psicologia dos cientistas em Is there such thing as an evolution of scientific personalities? No final do dia Carol Weisfeld da University of Detroit Mercy, EUA falou sobre o relacionamento romântico estável em Long-term partnership: what it means in the postmodern era.

No último dia, Heidi Keller da Universität Osnabrück, Alemanha falou dos modelos de socialização infantil em The expression of positive emotionality in early socialization strategies in different ecocultural environments. Depois do almoço Ricardo Waizbort da Fiocruz, Rio de Janeiro falou sobre a escolha feminina em The evolutionism of the “O cortiço” of Aluísio Azevedo, depois Martin Brüne da Universität Bochum, Alemanha sobre psicopatologias em Towards an evolutionarily informed approach to understanding and testing mental disorders. E no final Suzana Herculano-Houzel da Federal do Rio de Janeiro falou sobre as regras de construção dos cérebros de roedores e primetas em Not that special: the human brain as a linearly scaled-up primate brain. Todos adoraram o simpósio e as lindas praias de natal.

A própria Suzana Herculano-Houzel em seu blog “A neurocientista de plantão” disse que gostou, ensinou e aprendeu muito nesse Simpósio Internacional de Psicologia Evolucionista. Ela falou sobre homens mulheres e evolução e percebeu que o adaptacionismo nem sempre é intuitivamente óbvio, com o caso das mães baterem nos filhos mais do que os pais, os quais têm menos certeza da paternidade. Ela também falou que gostou muito de se ver alvo de tietagem e recebeu vários elogios nos comentários. Eu mesmo pedi um autografo dela no livro Charles Darwin Em um Futuro não tão distante onde ela tem um capítulo.

Estreou também na Psico Evolucionista o Ciência Vista, grupo do qual participo interessado na divulgação científica cotidiana por meio de produtos, alguns feitos a mão, como camisetas científicas. As camisetas em comemoração o bicentenário de Darwin e dos 150 anos do Origem das Espécies fizeram o maior sucesso, muita gente gostou, comprou e vestiu a camisa da ciência.

Em resumo foi um excelente coroamento do Projeto do Milênio em Psicologia Evolucionista, o primeiro da área da Psicologia no país, que alcançou muito mais do que suas metas previstas. E principalmente graças à dedicação das professoras Maria Emilia Yamamoto e Maria Lucia Seidl-de-Moura o Instituto do Milênio catalisou o nascimento de uma área sólida, produtiva e interdisciplinar em Psicologia Evolucionista no Brasil.

Psicologia Evolucionista na Fronteira da Psicologia com a Profa. Eulina Lordelo UFBA

Nas vésperas do Simpósio Internacional Psicologia Evolucionista no Milênio: Plasticidade de Adaptação, o primeiro evento acadêmico de porte internacional inteiramente dedicado à Psicologia Evolucionista, onde as pesquisas e tendências internacionais estarão presentes, novo blog Cultura Ciência inaugurou um ciclo de entrevistar para divulgar conhecimentos na área psicológica, chamado Fronteiras da Psicologia produzido por Ian Vinhas e Sidara Rodrigues.

O primeiro programa da série contou com a Professora Dra. Eulina da Rocha Lordelo da Universidade Federal da Bahia que desenvolve trabalhos no Núcleo de Pesquisa sobre Infância, Desenvolvimento e Contextos Culturais. Ela falou um pouco sobre sua área de pesquisa, a Psicologia do Desenvolvimento orientada pela Psicologia Evolucionista, sobre os problemas clássicos da psicologia e sobre os desafios e destaques da Psicologia Evolucionista no Brasil e no mundo.

Ela destaca a contribuição importante que a Psicologia Evolucionista tem na resolução de dois problemas clássicos da Psicologia: a relação entre mente e corpo e a relação entre inato e adquirido. E para a professora Eulina os desafios da Psicologia Evolucionista ocorrem em duas formas: externa e interna. O externos a ela são críticas que provêem de preconceitos e reações negativas pautadas no mal-entendimento e na incompreensão, algo que promove o afastamento de pessoas. E os desafios internos consistem no lidar com várias teorias diferentes em ação, abordagens alternativas e metodologias algo que requer uma capacidade de integração conceitual.

E para finalizar a Professora Eulina falou dos destaques do campo. Ela citou os elegantes e decisivos estudos da Leda Cosmides sobre os mecanismos mentais voltados para a detecção de trapaceiros sociais. Citou também Jay Belsky e sua Teoria Evolucionista da Socialização, em que a experiência na infância influencia as estratégias reprodutivas adultas. E citou também os estudos em seleção de parceiros que desvendaram as especificidades sexuais nos critérios e preferências da escolha de parceiros.

Tudo isso numa entrevista de quase 15 minutos disponível em vídeo que reúne e facilita e acesso às diferentes considerações feita por uma pesquisadora brasileira no campo da Psicologia Evolucionista. Trata-se de um vídeo importante, pois segundo ela, Psicologia Evolucionista terá uma contribuição decisiva na transformação da Psicologia em uma Ciência. Veja mais detalhes sobre essa entrevista nas notícias do Instituto do Milênio em Psicologia Evolucionista.

Simpósio Internacional de Psicologia Evolucionista em Natal

A 150 anos atrás Charles Darwin, o pai da Etologia e porque não da Psicologia Evolucionista, finalizava seu Origem das Espécies dizendo “Num futuro distante eu vejo campos abertos para pesquisas muito importantes. A Psicologia estará embasada em uma nova fundação, aquela da aquisição necessária de cada poder e capacidade mental de forma gradualista. Muita luz será lançada sobre a origem do homem e sua história.”

Agora que estamos no Ano de Darwin, sem mais demoras, eu digo que, num futuro muito próximo, dias 19 a 24 de Abril eu vejo campos abertos para todos psicólogos evolucionistas e interessados no tema para a comunicarem, conhecerem e divulgarem pesquisas muito importantes. A Psicologia terá seu primeiro congresso internacional no Brasil em sua nova fundação Evolucionista. Aquela necessária finalização em alto estilo do Projeto do Milênio em Psicologia Evolucionista que de forma gradual integrou e incentivou a pesquisa, ensino e divulgação da Psicologia Evolucionista no pais. Muita luz de célebres pesquisadores internacionais e nacionais será lançada sobre a origem e a história da abordagem no Brasil.

Você que é estudante de Psicologia, Biologia, Antropologia, Filosofia, Ciências Sociais, Medicina, Biomedicina, História, Geografia e que se interessa pelas bases evolutivas do comportamento humano, então não pode perder essa oportunidade única e imperdível.
Os convidados são:
Carol Weisfeld University of Detroit Mercy, Estados Unidos;
Edward Hagen Institute for Theoretical Biology Humboldt-Universität zu Berlin, Alemanha;
Heidi Keller Universität Osnabrück, Alemanha
Klaus Jaffé Universidad Simon Bolivar, Venezuela
Leda Cosmides University of California at Santa Barbara, Estados Unidos
Margo Wilson McMaster University, Canadá
Maria Emília Yamamoto Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Brasil
Martin Brüne Zentrum für Psychiatrie und Psychotherapie Ruhr Universität Bochum, Alemanha
Martin Daly McMaster University, Canadá
Paulo Nadanovsky Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Ricardo Waizbort Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
As vagas são limitadas, a data de inscrição está aberta e a de submissão de trabalhos vai até 28/02/2009, não perca!! Entre no site oficial do evento para as informações detalhadas.
E como se não bastasse durante o Simpósio Internacional Psicologia Evolucionista no Milênio: Plasticidade e Adaptação será lançado o livro “Psicologia Evolucionista”, organizado por Emma Otta e Maria Emilia Yamamoto (Ed. Guanabara Koogan). Simplesmente o primeiro livro nacional escrito por vários autores inteiramente sobre a Psicologia Evolucionista. Melhor impossível! Seja cumprida a previsão de Darwin!!

Meu coração, eu SEI porque!!

É um prazer comunicar a todos que hoje a noite, sábado dia 10/01, este que vos escreve aparecerá em um entrevista no Jornal da Cultura. O motivo é um artigo de opinião de uma página que o pesquisador Larry J. Young do National Primate Research Centrer na Universidade de Atlanta escreveu na Nature sobre a neuroquímica do amor.

O autor aponta as mais recentes descobertas no sentido de descrever as vias neuroquímicas envolvidas no apaixonamento e no amor. Os coadjuvantes são a ocitocina e a vasopressina. E é claro que ele cai no fetiche more das causas próximas: conhecer para controlar. Diz que no futuro teremos medicamentos que nos farão apaixonar por alguém e desapaixonar como se fosse uma febre.
Existem vários pontos aqui importantes de serem ressaltados. Não é de hoje essa busca por afrodisíacos mais eficazes. Do chifre de rinoceronte às placas do pangolim passando pelo olho de boto muito da nossa biodiversidade é agredida pela taradice humana. É bem mais barato e ecologicamente correto explorar os afrodisíacos contextuais e comportamentais do que acreditar em analogias superficiais com a rigidez de partes animais ou remédios milagrosos. Um simples abraço já libera ocitocina capaz de fortalacer os laços da relação, pense nisso.
Outra coisa, não precisamos temer o tanto assim o uso indevido de perfumes com feromônios e outras traquinagens científicas aplicadas, pois para toda estratégia existirá sempre uma contra-estratégia! E quanto mais eficaz a estratégia mais rápido surgirá uma a defesa. Pelo mesmo motivo que os pesticidas nunca vão eliminar as pragas e os antibióticos quanto mais usados menor o efeito. Nessa vida estamos correndo pra ficar no mesmo lugar, é o que nos ensina a rainha vermelha de Alice no País da Maravilhas.
Já está na hora de pararmos de acreditar literalmente que o amor foi inventado pelos trovadores ocidentais, que ele está no coração, depende do cupido e que no máximo a ciência vai acabar com a magia, beleza e mistério amor. Poesia e ciência não são incompatíveis só não podem ser confundidas. Muitas vezes o conhecer é até mais belo do que o desconhecer, e além do mais nunca iremos esgotar com os mistérios do universo, mas todo mistério está sujeito a ser decifrado. Então se depositarmos nossas angustias, nossa estética e ou até nossa religião em desconhecidos específicos estamos correndo o risco de nos desapontarmos no futuro.
O amor é uma adaptação mental universal da espécie humana e atua por vias muito conservadas filogeneticamente. Desista da imagem de nossos ancestrais puxando suas amadas pelo cabelo e perceba que muitos animais apresentam fortes capacidades de vinculação amorosa. Tanto que Helen Fisher, uma antropóloga que estudou a fundo amor em suas mais diversas manifestações, psicológica, antropológicas, evolutiva e neurológica chega a sentir se mal pelo frango em seu prato no jantar por saber que até estes possuem a capacidade neurológica para amar.
Todas as manifestações mais maravilhosas do amor e as mais nefastas também, não são pra mim proezas meramente químicas, mas sim proezas evolutivas. Os neurotrasmissores não estão milagrosamente e casualmente dispostos em nosso cérebro. Eles são as vias pelas quais a cognição amorosa funciona, devidamente instalada em nossa mente pela evolução e seleção sexual. Como a evolução não faz nada a partir do zero os mecanismos do amor romântico foram cooptados dos mecanismos de vinculação mãe-bebê. Daí podemos entender essa mania dos amantes de se tratar de forma infantilizada.
Helen Fisher, em suas palestras interessantíssimas no TED, aponta três mecanismos envolvidos no amor romântico: a luxuria, desejo de satisfação sexual; amor romântico, exaltação e obsessão do estar apaixonado; e o apego amoroso, a sensação de calma, paz e segurança na presença do ser amado. Ela teme que com o uso descontrolado de antidepressivos, os quais atuam nas mesmas vias neuroquímicas do amor, possam tornar as pessoas incapazes de amar. Um efeito colateral considerável.
Mais importante é não acharmos que a ciência vai dar desculpas para atos danosos. Nossas responsabilidades e culpabilidades estão intactas não importa o que os cientistas descubram sobre a neuroquímica ou a genética do amor ou qualquer outro comportamento humano. E não podemos  esquecer que a beleza e fascínio do amor serão sempre um prato cheio para os apaixonados, sejam poetas ou cientistas.
Abaixo estão dois vídeos bem informativos da Kate Bohner sobre a Biologia do amor como prova do nosso amor pela ciência da paixão.

África no Ambiente de Adaptabilidade Evolutiva

A espécie humana é africana. E nessa Blogagem Coletiva estamos escrevendo sobre a África, onde evoluímos, onde diversas pressões seletivas locais agindo em conjunto moldaram nossa mente. E nossa mente é um conjunto de mecanismos para processamento de informação que foram moldados pelo processo evolutivo para a resolução de problemas enfrentados em nosso ambiente ancestral.
O Ambiente de Adaptação Evolutiva não é necessariamente um lugar específico, como a África, ou um hábitat específico, como a savana, mesmo que lugares ou habitats possam eventualmente fazer parte dele. O Ambiente de Adaptação Evolutiva é uma composição de propriedades adaptativas relevantes que atuaram para cada espécie.
Funciona como um ambiente hipotético onde todas as propriedades que geraram as principais pressões evolutivas em nossos ancestrais estivessem presentes. Se caracterizarmos bem esse ambiente, podemos avaliar qual eram os dilemas evolutivos que mais pressionaram os membros das populações ancestrais, há cinco mil ou dez mil gerações atrás.
Seguindo a perspectiva do Ambiente de Adaptação Evolutiva, nossas características funcionais mentais seriam aquelas adaptadas a um ambiente social caracterizado por uma estrutura de sociedade caçador-coletor nômade existente no período Pleistoceno de 200 mil a 12 mil anos antes do presente. Os grupos humanos ancestrais apresentavam baixa densidade populacional, caracterizados por agrupamentos baseados no parentesco atingindo cerca de 200 pessoas. Os grupos apresentavam uma tecnologia simples, alta mortalidade infantil e baixa expectativa de vida. Alta vulnerabilidade ambiental e poucas opções de estilos de vida.
Os principais problemas adaptativos que nossos ancestrais enfrentaram foram: Problemas de sobrevivência e crescimento, caracterizado pelos desafios existentes até se chegar ao momento da reprodução, como detecção de animais perigosos; preferência alimentar e a detecção de alimentos contaminados entre outros. Problemas de acasalamento, ou seja, selecionar, atrair e reter um parceiro amoroso e executar o comportamento sexual requerido para o sucesso da reprodução. Problemas de parentais, ou seja, fazer com que a prole sobreviva e cresça até o momento da reprodução. E por fim existiam os Problema da ajuda à parentes caracterizado pelas ajudas na reprodução dos parentes e filhos de parentes.
Aqui estamos nós, uma espécie com uma mente calibrada para um ambiente caçador-coletor ancestral que se auto-introduziu em vários outros ambientes do mundo. E sempre que uma espécie é introduzida muito desequilíbrio ecológico ocorre, seja por ela não estar adaptada aos novos desafios seja pelo desbalanço nas relações ecológicas existentes. Boa sorte ao nossos descendentes.

Diferenças Sexuais e a Seleção Sexual

Qual a relação entre a revolução darwinista, a seleção sexual, a origem das células sexuais e as diferenças psicológicas entre homens e mulheres? Eduard Punset, um dos mais famosos divulgadores de ciência de língua espanhola, nos mostra essas relações em uma entrevista brilhante com a Filosofa Helena Cronin. Além disso, são incluídos comentários interessantes de alguns pesquisadores da Universidade de Barcelona.

Enquanto andam por um parque em Londres eles conversam de forma descontraída e esclarecedora. O vídeo tem 29 minutos, todo em espanhol e começa abordando a seleção sexual e as características sexualmente selecionadas nos sexos, a beleza e o corpão violão das mulheres e a força e a competitividade dos homens. O mito do “quadril largo = boa parideira” é desacreditado e a proporção quadril/cintura é explicada como indicador de fertilidade nas mulheres.
Eles conversam sobre a Revolução Darwinista no panorama geral das ciências. Punset considera Darwin o maior cientista que já existiu. Helena considera fantástico como Darwin acabou com a dicotomia “acaso/designo” mostrando que entre as opções “acaso” e “projeto-com-projetista” existe a possibilidade darwinista de “projeto-sem-projetista”. E essa noção explica a origem do projeto dos seres vivos de forma natural sem a necessidade de explicações sobrenaturais metafísicas.
Depois eles conversam sobre as origens do sexo e voltando 800 milhões de anos atrás com o surgimento das primeiras células sexuais diferenciadas em maiores e menores. Helena explicar que machos e fêmeas surgem da solução do dilema de alocação de investimentos reprodutivos em acasalamento versus parental. E então abordam as diferenças psicologias entre homens e mulheres começando pelos meninos e meninas.
As diferenças entre comportamento de homens e mulheres é um assunto muito delicado, pois reações emocionais contras o sexismo por vezes atrapalham o entendimento sobre o tema. Isabella a bordou profundamente essa temática no CientíficaMente e ajudou a desfazer mal-entendidos. A dica é nunca confundir diferenças com desigualdade. Não precisamos ser clones idênticos para temos igualdades de direitos e oportunidades. Helena mostra como um melhor entendimento das diferenças na distribuição de cada característica, em que homens estão mais representados do que mulheres nos dois extremos da curva, nos ajuda a entender fenômenos ditos machistas. O interessante é ver no vídeo o que pensam meninos e meninas sobre as diferenças entre homens e mulheres.
Espero que gostem do vídeo.

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