Fusão vs. Fissão
De todos os elementos, o átomo que tem o núcleo mais estável é o ferro (Fe), bem no meio da tabela periódica.
Se um átomo qualquer, por algum motivo, tomar um caminho que o faça se aproximar do núcleo do ferro, ele fornecerá energia.
Ou, explicando mais facilmente, se um átomo maior que o ferro, como o do urânio, diminuir de tamanho, liberará energia (processo chamado de fissão e que ocorre nos reatores nucleares das redondezas).
Alternativamente, se um átomo menor que o ferro, como o hidrogênio, aumentar de tamanho, também criará energia (processo de fusão, como o que acontece dentro de estrelas ou no novo HiPER).
Uma estrela, como o nosso Sol, quando vai envelhecendo, vai queimando hidrogênio (a matéria-prima da qual é formada), transformando-o em hélio, que depois vira berílio e assim por diante, passando por todos os elementos de números pares da tabela até chegar em 26, Ferro.
Ferro não queima, portanto esse é o estágio final de uma estrela morta que queimou até o fim (outros estágios finais de estrelas são: buracos negros, supernovas e esfera enormes de carbono, mais especificamente diamante).
Quando esses átomos pequenos se juntam, ou se fundem, eles liberam energia em forma de calor.
Similarmente, átomos muito grandes (e consequentemente instáveis) como o césio, tendem a se desmanchar, ou sofrer fissão, também irradiando energia em forma de calor.
Fissão nos tem dado bastante energia há já algum tempo pois é fácil, tem boa eficiência e é uma fonte de energia comparativamente limpa (não polui como carvão e gás, não precisa inundar nada e desde que o material gasto seja bem armazenado, não gera perigos ao meio ambiente).
Fusão, no entanto, é mais complicada (é também mais limpa e mais eficiente), pois os átomos não gostam muito de congregar e aumentar de tamanho (a combinação mais fácil é a de hidrogênio, novamente, em forma de dois tipos, ou isótopos, chamados trítio e deutério, virando hélio), pois os núcleos são invariavelmente formado por partículas com a mesma carga elétrica, que se repelem prontamente sempre que se aproximam demais, devido à força eletromagnética.
Na natureza existem quatro forças fundamentais (cinco, se contarmos o Amor); gravidade, eletromagnetismo, força nuclear fraca e força nuclear forte.
Sem entrar muito em detalhes, a força nuclear forte só passa a atuar numa distância curtíssima, anulando a força eletromagnética, que apesar de mais fraca, começa a agir em distâncias maiores.
Então, para dois núcleos de átomos se unirem, eles precisam ser colocados incrivelmente próximos uns dos outros, para que a força forte tome o controle. E isso é feito dentro de uma estrela através da igualmente inacreditável pressão a qual os elementos estão submetidos e do calor (milhões de graus!), que acelera as partículas de um jeito que elas estão o tempo todo colidindo em alta velocidade e, vez por outra, uma se prega na outra.
Eu poderia ainda tentar explicar o porquê do hidrogênio poder ser chamado de deutério ou trítio e como eles se juntam e viram hélio (tudo tem a ver com o número de prótons e neutrons em cada), mas isso é muito inútil para quem não for um físico, ou eu (não que seja útil para mim, não é, apenas me interessa muito).
Alguém curioso o suficiente pode procurar numa wikipedia da vida e confirmar numa página de um professor de física nuclear em algum lugar.
Ou então amanhã eu dou uma explicaçãozinha detalhada, mas não esperem em pé nem prendam a respiração…
Capsaicina
Encontrada em pimentas.
Desde o inócuo pimentão à traiçoeira habanero, a capsaicina é encontrada principalmente na pele que envolve as sementes dessas frutas (todas do gênero Capsicum).
Quem gostar do sabor mas não da ardência, retire os caroços antes de comer!
Existe uma escala de ardor de pimentas, chamada Escala de Scoville.
Essa molécula também é usada em pomadas para o alívio de dor nos músculos e articulações (mas não façam como eu, que confundi a informação na minha cabeça e passei uma pimenta malagueta num corte recente. Péssima idéia…).
P.S.
Pimenta, teu nome é 8-Metil-N-vanilil-trans-6-nonenamida
Explosões meteóricas!
Um objeto estranho aparece no céu.
De repente a estranheza aumenta enquanto o objeto acende.
Não só ele está agora mais brilhante como também maior.
Eis que então PÊI!
O que quer que seja aquilo explode e uma onda de choque atinge o observador, seguido instataneamente de morte por lugar-errado-hora-errada.
A coisa vinda do céu era um pedaço de pedra do tamanho de um ônibus, pesando algumas mil toneladas e viajando a uns quatrocentos quilômetros por segundo.
Um meteoro.
Quando algo assim entra na atmosfera do nosso querido planeta que é grossa como mel, quando comparada com o vácuo do espaço, começa a se deformar, como um ônibus caindo de um penhasco se deformaria ao atingir um meio mais denso, como a água ou o chão.
Essa deformação, ou compressão, esquenta o material mais do que a fricção dele com o ar.
Analogamente, se dobrarmos e desdobrarmos um clipe repetidamente, ele esquentará por causa dessa deformação até se partir na emenda.
Como o ônibus, a rocha que forma o meteoro se deforma (num processo que físicos chamam “panquecamento”) e, como o clipe, esquenta (num processo apelidado pelos físicos de “aquecimento”). Quanto mais se dobra, mais quente fica.
Sendo que pedra não é conhecida por sua maleabilidade e, eventualmente, não aguentando o estica-encolhe, começa a se desfazer.
Quando está se desfazendo, mais material é exposto e, consequentemente, mais material está agora disponível para participar da dança do panquecamento. E assim por diante.
Até que, em poucos segundos, se parte.
Por causa da energia acumulada pelo calor e pela velocidade, se parte de forma violenta.
Por definição, “explosão” é uma descarga de muito energia que ocorre muito rapidamente (uma molécula de cera de vela contém mais energia armazenada que uma de dinamite, mas não explode porque queima devagar demais).
Isso já aconteceu milhares de vezes aqui com asteróides suficientemente grandes para causar muito estrago (um desses acontecimentos famosos e relativamente recentes foi o de Tunguska em 1908) e pode acontecer novamente, daqui a vinte e oito anos, em abril de 2036.
“Sério?”, eu escuto vocês perguntando.
“Sem onda!”, vocês me lêem respondendo.
Em abril de 2029, um errante espacial de trezentos metros de diâmetro chamado Apófis vai passar tão perto da Terra que irá se espremer entre nosso pálido ponto azul e alguns dos nossos satélites (os de órbita geosíncrona).
Mas não vai nos atingir, vai só passar MUITO perto.
Porém, se passar perto demais, sua órbita será alterada e, em sete anos, quando completar outro ciclo, PRÁ!, em nós.
Legal, não?
E poderemos acompanhar tudo holograficamente do conforto dos nossos carros voadores autônomos movidos a água.
Enigma molecular – 2ª fase
Novamente, mais uma sexta, mais um enigma.
Quem souber o nome e a procedência dessa molécula, favor demonstrar nos comentários.
Hoje vou dificultar um pouco mais o meu enigma:
E aí, quente ou frio?
Resposta na segunda-feira depois da minha massagem.
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Atualização vespertina:
Esse povo tá muito sabido, já tem vinte e oito respostas…
Vou esconder os comentários até segunda-feira.
Não seja verde, vá de vermelho!
Devo adiantar que este não é um artigo de cunho político ou ecológico, mas científico.
Aparentemente, atletas que usam vermelho em seus uniformes são favorecidos por árbitros (“O estudo (…)sugere que roupas vermelhas ajudam os atletas a ter melhor desempenho.“), futeboleiros que usam vermelho convertem mais pênaltis (“De acordo com os resultados, jogadores que usavam uniformes vermelhos e encaram o goleiro durante 90% da preparação para a cobrança causaram um impacto maior e teriam mais chances de marcar o gol.“) e, agora, mulheres usando vermelho se tornam mais atraentes e fazem seus parceiros ficarem mais atenciosos a elas (“Na média, os homens disseram que gastariam mais com a mulher vestida em vermelho do que quando a mesma usava azul, verde, cinza ou branco. Os homens também se disseram mais atraídos pela mulher quando ela estava usando vermelho.“).
Como eu não pratico esportes de competição nem sou mulher, todas essas pesquisas me são inúteis, mas pode ser que alguém por aí aproveite esses dados.
Quando eu era mais novo (e coisas assim eram importantes), minha cor favorita era vermelho (quis até pintar meu quarto dessa cor, para deleite dum sujeito que trabalhava na minha casa, fanático pelo América) e sei que quando minha namorada usa vermelho eu acho ótimo (principalmente quando a cor provém de uma bata que ela usa no trabalho. Aff…), mas não sei se torceria mais para alguém ou se gastaria mais dinheiro por causa disso.
Mas eu também nunca estava prestando atenção e é para isso que existem pesquisas…
Numa notícia relacionada (porém bem antiga), o corante E128, ou Vermelho 2G, pode causar câncer e a cor dos M&M’s vermelhos vêm de um corante (carmim, ácido carmínico ou E120) produzido a base de um inseto, chamado cochonilha-do-carmim, que é cozido, seco e moído. Sem brincadeira!
Se algum de vocês se considera um vegetariano sério (Renata, estou olhando para você!), não coma M&M’s vermelhos.
P.S.
Snopes é uma página muito bem montada e otimamente documentada que serve como um excelente banco de dados para clarificação de todo tipo de lenda urbana e coisas do tipo “eu ouvi falar que” (desinformação, falácias, rumores, fofoca, etc).
Trimetilxantina
Ou cafeína.
Encontrada em café, chá preto, chá mate, guaraná, é um pesticida natural produzido por certas plantas para matar insetos que se alimentariam delas.
Uma xícara de café contém mais carcinógenos naturais que a quantidade total de substâncias cancerígenas encontradas em resquícios de pesticidas artificiais em frutas, verduras e legumes, ingeridas em um ano por uma pessoa, em média (carece fonte).
P.S.
O nome mesmo é 1, 3, 7-trimetilxantina, mas quem gosta de detalhe é escultor.
Enigma molecular – 1ª fase
Como imitar é uma forma de homenagear (assim como facada é uma forma de carinho) e todas as boas idéias já foram tidas (não tem uma gramática aqui perto, eu não sei se essa frase fez sentido), vou “pegar emprestada” a idéia do Atila e vou publicar enigmas moleculares para entreter os fins-de-semana dos leitores e para cobrir os buracos no meu calendário, agora que diminui a frequência de postagens.
As regras são simples: vejam a molécula e digam, nos comentários, o seu nome e de onde ela vem.
Vou começar com uma bem fácil, bastante espalhada pelo Lablogs:
E aí, conseguem identificar ou precisam acordar antes?
Resposta segunda-feira bem cedo.
A busca pela vida noutros cantos
Desulforudis audaxviator
Encontrados a uma profundidade de quase três quilômetros numa amostra de água extraída do fundo de uma mina na África do Sul, esses microorganismos (também chamado de extremófilos, por fazer parte do grupo de seres que vivem em condições que chamaríamos de extremas, como ao redor de jatos de água superaquecida no fundo do mar ou no gelo eterno dos pólos) vivem num ambiente privado de oxigênio e que alcança temperaturas de até 60 graus centígrados.
Num exemplo de (possível) evolução, acredita-se que essas bactérias se formaram na superfície e migraram para dentro da terra, alguns milhões de anos atrás, onde nada mais há senão eles mesmos.
Eles tiram sua energia do hidrôgenio e sulfato produzido pelo caimento radioativo do urânio (que é um elemento que, através desse processo de caimento, ajuda a aquecer o planeta, evitando que nossa bola de pedra se solidifique de uma vez por todas) e constróem eles mesmos suas moléculas orgânicas, utilizando água, carbono inorgânico e nitrogênio, proveniente de amônia encontrada nas redondezas e que é um tanto quanto tóxico para nós. Mas também nós não somos extremófilos…
Aliás, oxigênio é tóxico para essas criaturas. Sinal de que não tem contato com tal gás há muitos milhares de séculos.
Nada vivo havia sido encontrado a uma profundidade grande assim e, de acordo com o sequenciador de genoma ambiental (um aparelho que conta os genes de tudo que houver numa amostra e diz a porcentagem de cada) dos pesquisadores, essa microfauna é composta exclusivamente desse tipo de organismo (99,99%, sendo o resto apenas detrito de coisas vindas mais de cima).
Agora imaginem que o planeta é apagado superficialmente, incluindo aí evaporação dos oceanos, transformando a Terra numa Vênus 2.0, mas retem (ainda leva acento?) sua integridade física.
Essas bactérias subterrâneas seriam as únicas coisas a sobreviver, porque a temperatura exterior não as atingiriam de imediato e as mudanças seriam lentas o suficiente que possibilitariam adaptação por parte dos sulferides.
Com o passar dos milênios, elas seriam o único traço de vida presente no mundo.
Mas seriam indetectáveis para um observador externo ou que mandasse sondas que não perfuram suficientemente fundo!
Vida é razoavelmente fácil de aparecer e se estabelecer, pois vai lutar até a morte para se manter viva.
Nem que tenha que descer para as profundas para respirar nitrogênio e comer urânio!
A descoberta de seres assim aumenta as esperanças/possibilidades de encontrarmos vida fora daqui.
Basta uma colônia de bactérias dormentes num pedaço de rocha atingida por um meteoro e lançada ao espaço (evento inacreditavelmente comum!) encontrar um local razoável para despertar e pronto. A semente está plantada!
Outra notícia relacionada; 10% da biomassa terrestre reside debaixo da superfície dos oceanos.
Vida alienígena, extraterrestre, não precisa ser verde, jogar baralho nem dar descarga. Sequer precisa se feita de silício ou titânio.
Precisa nem estar vivo!
Se contiver DNA e vier de outro planeta, é o suficiente.
Apóiem o SETI (eles têm um ótimo podcast).
Pré-natal para Síndrome de Down
Antigamente (até ontem, eu acho), existia um teste, feito nas futuras mães, para se saber se o feto era portador da síndrome de Down.
O teste consistia em se enfiar uma agulha na barriga grávida da mulher para colher uma quantidade de líquido amniótico (que envolve o feto dentro da placenta) e testar os genes da futura criança.
Além de altamente incômodo e ATERRORIZANTEMENTE ASSUSTADOR para a mãe, o procedimento introduzia o risco de dano ao semibebê.
Agora, cientistas da Universidade de Stanford, EUA, desenvolveram um novo método que depende da colheita apenas do sangue da prenha em questão.
Depois do sangue num vidrinho, basta contar e comparar genes, separando os da criança em desenvolvimento e verificando se eles são alterados.
Um teste do pezinho antes de um pé estar disponível!
Mas e depois?
Leiam o resto clicando aqui.
Cheiro de café
Da série “eu já sabia!”, li uma notícia (New Scientist, via BBC) que diz que o cheiro do café já é suficiente para acordar o cérebro.
Um teste foi feito em ratos deixados sem dormir por um dia inteiro. Ao fim da maratona de alerta, os animais foram expostos ao aroma de café e os cientistas registraram altos níveis de atividade em genes funcionais que indicam que o cérebro está “disposto”.
Uma resposta parecida com a registrada quando os ratos ingeriram cafeína.
“Eu já sabia!” porque sempre que passo pela seção de café do supermercado e sinto a lufada de trimeteilxantina eu preciso parar por um segundo para apreciar enquanto meu cérebro liga o turbo.
Duas observações, no entanto, são pertinentes:
1 – os testes nos roedores podem não traduzir bem para humanos, pois os genes são diferentes, e;
2 – o que eu sinto no mercado, obviamente, é prazer por estar sentindo o cheiro de algo em que sou (quasi) viciado.
Se fico mais alerta é pela antecipação de encostar os lábios uma xícara cheia do meu ópio negro.
Numa notícia relacionada (pela própria BBC), café descafeinado aumenta o risco de doenças coronárias.
Eu acho é pouco!
Beber café sem cafeína é um absurdo, uma bizarrice, um atentado à natureza!
Café sem cafeína é o mesmo que x-salada sem salada!
É como um leite sem lactose (como se o desnatado já não fosse uma afronta grande o suficiente), goiabada sem goiaba ou água seca!
Pessoas que bebem café descafeinado são as mesmas (pelo menos para mim) que fazem churrasco vegetariano (urgh!).
Não come carne? Não faça churrasco!
Não gosta de cafeína? Beba guaraná (porque ninguém merece tomar chá)…