George Carlin e a sina do ambientalismo!

Em recente comentário em um post do meu amigo Elton Valente, Luiz Bento, do blog Discutindo Ecologia, postou o link de um vídeo interessantíssimo. Acho que representa bem o modo Geófagos de pensar. Critica o egocentrismo da espécie humana e dá um tapa de luvas naqueles que acham que o planeta acabará por nossas ações. É hora de deixarmos a hipocrisia de lado e assumirmos que estamos preocupados é com a nossa existência, com a nossa sobrevivência. E, diga-se de passagem, não há vergonha alguma nisso. Ao meu ver, o ser humano vem interferindo e se preocupando demais com questões naturais. Interferir em processos criados pelos seres humanos e que, de alguma forma podem ocasionar em danos a eles ou ao próprio ambiente é uma coisa. No entanto, interferir para salvar, por exemplo, espécies em processo natural de extinção é querer brincar com coisa séria. Enfim, assistam ao vídeo e verão do que estou falando.




Com licença Geófagos! Um Desabafo.

Por Elton Luiz Valente

Alguém já disse que toda geração é refém de seu tempo. Eu, declaradamente, sou um desses. O contexto histórico de minha geração me acompanha feito uma sombra, ora me resguardando, como uma castanheira ao sol; ora me assombrando feito fantasmas nefastos. Digo isso porque os protagonistas das manchetes de minha geração estão registrados no núcleo duro da minha memória. De uns poucos tenho saudosas lembranças e referências. De muitos tenho tristes decepções.

Tenho críticas sérias a muitas figuras “ilustres” deste universo brasileiro com “muita estrela e pouca constelação” (como já dizia o saudoso Raul Seixas). Entre eles estão ícones nacionais e internacionais que não viveram em meu tempo, mas deixaram reflexos duradouros na história, quando não nas nossas vidas.

Evidentemente, minhas principais inquietações têm como alvo figuras contemporâneas, na pele de músicos, compositores (Chico Buarque, por exemplo), poetas, artistas plásticos, jogadores de futebol (Pelé, por exemplo), cineastas, novelistas, atores e atrizes com seus personagens de cinema e televisão, papas, políticos… e Oscar Niemeyer.

Se alguém tem curiosidade em saber por que resolvi falar do Niemeyer, é porque vi recentemente uma matéria sobre ele na televisão, com muitos elogios, endeusamentos e NENHUMA CRÍTICA, como é de praxe nesse Brasilzinho hipócrita de muita politicagem e raríssimos estadistas – históricos – porque no presente não há nenhum.

Tenho a honra de dizer que nunca fui comunista. Fui simpatizante do Comunismo na minha juventude pré-universitária, mas desconfiei muito cedo de que aquilo era uma roubada e saí fora. Só para tecer um paralelo, não conheço a biografia do Senador Cristovam Buarque, mas além de sua campanha veemente pela educação, um outro episódio protagonizado por ele merece crédito e respeito. Foi quando destamparam a panela do mensalão. Ele, na tribuna, rasgou sua filiação do PT, dizendo que não tinha condições morais de permanecer naquele partido. É o mínimo que se pode esperar dos homens públicos.

Niemeyer nunca deixou de ser um comunista fervoroso. Talvez isso revele muito do homem por trás do mito – aliás, faço aqui uma observação: eu nunca vi um comunista rico dividir sua fortuna com os pobres. Entre os capitalistas há quem tenha feito isso, existem alguns famosos como Henry Ford, Rockefeller e, mais recentemente, Bill Gates, que pelo menos prometeu.

Antes que alguém proteste, não estou querendo dizer que os capitalistas são bonzinhos e os comunistas são maus, “comedores de criancinhas”. Aliás, gosto muito da biografia de comunistas do naipe de Jesus Cristo e Mahatma Gandhi…

Há uma crítica muito pertinente às obras de Niemeyer, de que elas priorizam as formas, sem um mínimo de consideração pelo conforto dos usuários. Talvez isso revele muito do comunista por trás do homem.

Vivemos tempos desonrosos em todo o mundo, mas especialmente na América Latina, onde VELHAS EXCRESCÊNCIAS POLÍTICAS DA HISTÓRIA ainda encontram ouvidos e palanques. No Brasil, além de encontrá-las nas nossas Universidades Públicas, podemos vê-las por aí lépidas e faceiras, sob muitas siglas e neo-ísmos, e o que é pior, muitas vezes agregadas aos Três Poderes que, em síntese, deveriam zelar pela integridade física e moral desta nação. Mas não é isso o que assistimos. E eles estão aí, perto de você, perto de nós, fazendo as mesmas lambanças de sempre, como na obra “A Revolução dos Bichos” (Animal Farm), do brilhante e impagável George Orwell.

O grego, não me lembro se Aquiles ou Sócrates, que não temia a morte, mas temia a desonra, ficaria horrorizado.

P.S. Ninguém deveria passar pela vida sem ler “A Revolução dos Bichos”.

Será mais um fiasco ambiental?

Ministros de estado de cerca de 150 países estiveram reunidos de 1 a 12 de dezembro em Poznan, na Polônia, para delinear um esboço de um novo plano mundial de combate ao aquecimento global, cuja reunião definitiva está agendada para o final de 2009, na Dinamarca. O foco da décima quarta Conferência das Partes (COP – 14) da Organização das Nações Unidas é o início de um novo acordo que substituirá o Protocolo de Kyoto, cujo prazo expira em 2012.
No entanto, ao que tudo indica, o fracasso mais uma vez tomará conta de uma reunião ambiental da ONU. E a vilã do momento é a atual crise econômica. Para se ter uma idéia do clima de pessimismo por lá, a representação americana do governo Bush parece ser tratada como coisa do passado e ao que tudo indica não mais tem “moral” para discutir questões tão importantes. Além disso, a União Européia andou esvaziando algumas reuniões, pois alegava que cumprir metas de redução em período de crise “braba” é colocar a corda no pescoço e pedir alguém para chutar o banquinho. Já os países em desenvolvimento continuam com o mesmo “papo furado”, alegando que não podem pagar a conta dos países desenvolvidos, reinvindicando o direito de se desenvolver. O Brasil, por exemplo, parece se negar a estabelecer metas contra o desmatamento, principal responsável pelas emissões do país. Para não ser injusto, um plano muito longe do ideal até foi apresentado e valeu até elogios do prêmio nobel da paz (parece até brincadeira) Al Gore.
Ora, ora, ao que tudo indica a lição passada pelo relatório de Brundtland ainda não foi aprendida. Em uma das conclusões da referida publicação (também denominada Nosso Futuro Comum), o alerta para um grande declínio econômico e industrial nos próximos cem anos (o relatório foi publicado em 1987) graças à insustentabilidade dos métodos desenvolvimentistas neoclássicos é bastante claro. Será que já não estamos vivendo o início dessa fase? É o velho paradigma da sustentabilidade fraca (economia ambiental neoclássica) contra a sustentabilidade forte (economia ecológica).
Pelo menos notícias boas também chegam. A própria União Européia assumiu hoje o compromisso de reduzir em 20% suas emissões até 2020, com base nos dados 1990. É verdade que muitas concessões foram feitas, mas mesmo assim já é um avanço. Já nos Estados Unidos, Obama não para de afirmar que lutará com unhas e dentes contra o aquecimento global, combatendo as emissões americanas. É esperar para ver.
Para finalizar esse, que pretendia ser mais um post informativo do que científico, gostaria de deixar um recado que ao meu ver se encaixa bem no atual momento mundial. É hora de rever-se conceitos, aproveitar a crise para quebrar paradigmas, mudar a forma de lidar com o ambiente, aumentando na medida do possível, a sustentabilidade dos meios de produção e também da cultura consumista ocidental. Não obstante, é preciso lembrar que a visão econômica ambiental neoclássica, de que todos os insumos necessários à produção são substituíveis, cada vez mais cai por água a baixo. Que tal então mudarmos um pouquinho o foco para a visão econômica ecológica, que ao meu ver, se enquandra bem melhor no padrão de sustentabilidade desejável?
Carlos Pacheco

Futuros líderes da energia limpa, será?

Há cerca de um mês atrás, salvo engano, li uma reportagem no caderno ambiente da Folha Online com o diretor do Centro de Leis e Políticas Ambientais da Universidade de Yale, Daniel Esty. O tema da reportagem era a possível liderança internacional do Brasil quando assuntos como geração de energia por fontes alternativas e mudanças climáticas globais estivessem em pauta. Segundo Esty, o Brasil apresenta-se fortemente inclinado a assumir tal posição. No entanto, ele chama a atenção para o fato de que o país deve, antes de tudo, resolver problemas internos que o colocam como o quarto maior emissor de gases do efeito estufa do mundo. Questões como o combate ao desmatamento e as queimadas, além de outras relacionadas à redução das emissões provenientes da queima de combustíveis fósseis são fundamentais. Além disso, ele cobra um posicionamento do Brasil frente a uma nova conjuntura que se estabelecerá pós-Kyoto, cujo prazo de validade está se esgotando, expirando em 2012. Como já comentei em outros posts, o Brasil, assim como outros países em desenvolvimento grandes emissores de gases do efeito estufa, exemplificados aqui por China e Índia, não apresentam metas de redução de emissões, uma vez que, na época da elaboração do Protocolo de Kyoto, foram enquadrados como países do não Anexo I.
Na reportagem, Esty baseou seu prognóstico no fato do Brasil já ter um histórico positivo com relação ao uso do etanol. Além disso, o país apresenta um plano para uso desse e de outros biocombustíveis de segunda geração, além de ter uma matriz de geração de energia elétrica essencialmente limpa, hidrelétrica. Porém, algumas questões aqui podem e devem ser levantadas e discutidas. O fato de o Brasil ser líder em biocombustíveis e produzir energia elétrica essencialmente hidrelétrica já o torna aspirante a líder mundial do setor? Na minha opinião não. Antes de aspirar qualquer posição hierárquica mais alta o país tem que resolver problemas sócio-ambientais ligados à produção dessas “limpas” formas de energia. É só observar as condições de trabalho a que os cortadores de cana são submetidos ou observar como ganha força o movimento dos atingidos por barragens. Não obstante, é condenável um avanço das fronteiras agrícolas de cana-de-açúcar sem um planejamento adequado, levando-se em consideração aspectos importantes como a segurança alimentar ou mesmo planos de manejo e conservação ambiental. Também não é fora de mão discutir-se aspectos relacionados à geração de energia elétrica por fontes alternativas, como eólicas (a partir dos ventos) ou solares, cujo potencial de geração do país é grande, como pode ser visto aqui.
Se existe realmente a pretensão, por parte do governo brasileiro, de assumir tal posição, os números recentes não são nada animadores. Segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)  a taxa de desmatamento da Amazônia cresceu entre agosto de 2007 e julho de 2008, primeira alta anual desde 2004. Os números cresceram 3,8%, atingindo 11986 km2. Coincidência ou não, na segunda-feira dessa semana (08/12/2008), o presidente Lula em seu programa de rádio (Café com o Presidente), colocou o Brasil como postulante ao debate internacional, principalmente por meio do lançamento do Plano Nacional de Mudanças Climáticas. Uma das idéias bases é combater o desmatamento da Amazônia que hoje representa a principal fonte de gases do efeito estufa. As metas são ambiciosas, mas atingíveis. Elas visam reduzir à metade o desmatamento da floresta até 2017.
Enfim, é esperar pra ver. As cartas estão na mesa. O potencial existe, falta ser aproveitado. Para isso, nada como uma boa dose de vontade política para catalisar a reação. No entanto, uma coisa é certa. Não é com projetos que visam reduzir a necessidade de se preservar 80 % da floresta em propriedades particulares que isso será conseguido.
Carlos Pacheco

A vida humana na Terra como numa placa de Petri.

Por Leonardus Vergütz,
Esse post que escrevo agora começou a surgir após um comentário que fiz no post anterior do amigo Pacheco: “O desenvolvimento sustentável realmente existe?”
Será que o desenvolvimento da sociedade humana pode realmente ser sustentável? Digo isso pois, nesse momento de crise, todos, sem exceção, querem que as coisas voltem ao “normal” o mais rápido possível. Isso porque, caso tudo volte ao “normal”, o passo do desenvolvimento é novamente acelerado ao máximo. Criaremos máquinas cada vez mais fantásticas, o número de pessoas na Terra irá aumentar cada vez mais (nesse ponto o controle de natalidade até que tem sido satisfatório em países desenvolvidos), iremos explorar cada vez mais nossas fontes (finitas, diga-se de passagem) de minérios, petróleo, adubo, etc. Então surge uma nova e intrigante pergunta: Será que todo esse desenvolvimento é realmente “possível”? Essa é a palavra, tudo isso é “possível”?
Quando penso em tudo isso me lembro da época em que estagiei no Departamento de Fitopatologia, durante minha graduação. Nesta época o que eu mais fazia era “cultivar” fungos e bactérias em meios de cultura. Quando “cultivamos” esses microrganismos em placas de Petri com meio de cultura, eles têm um padrão determinado de crescimento. Num primeiro momento ocorre a fase de adaptação (ou fase “lag”), onde o crescimento da cultura é mínimo. Depois vem a fase “log”, de crescimento exponencial da cultura onde não há nenhuma restrição. Posteriormente vem a fase estacionária, onde a cultura já não cresce mais. Isso ocorre porque já começa haver escassez de nutrientes, aumento da competição e porque os microrganismos produzem resíduos (lixo) que são tóxicos à própria cultura. Por último há a fase de declínio e morte da cultura.
Para que essa cultura possa ter o seu crescimento continuado, deve haver uma reposição ou troca de substrato e/ou um controle da divisão (natalidade) dessas células.
Fazendo uma analogia, pense na nossa querida “Terra” como sendo uma grande placa de Petri, onde alguém (Deus, Ala, ETs, ou o que bem entenderem) “semeou” alguns organismos chamados “seres humanos”. Esses organismos se adaptaram bem ao ambiente (fase “lag”) e já chegaram à fase de crescimento exponencial (Se alguém tem alguma dúvida disso assista a esse vídeo. A pergunta que fica é: em que lugar da curva de crescimento esses organismos (seres humanos) se encontram agora? A escassez de alimento e água já é um problema para esses organismos? A competição entre eles já é grande? O lixo que eles próprios produzem já está se tornando um problema?
Será que o nosso destino será atingir a fase de declínio também? Iremos acabar com todo o substrato existente em nosso meio de cultura (Terra) e enchê-lo de lixo? Conseguiremos realmente dar continuidade ao tão desejado desenvolvimento sem que esgotemos todas as nossas fontes de recursos? Será que não é hora de aproveitarmos essa crise para repensarmos como queremos nos desenvolver?
Alguns podem achar que tudo isso não passa de uma grande besteira, ou de devaneios de um simples doutorando. Mas pense bem! O termo “controle de natalidade” soa estranho para você? E as expedições espaciais que sempre procuram por água e minério na Lua ou em Marte? Será que estão querendo renovar o substrato da Terra? Ou quem sabe estão querendo mudar de placa de Petri?

O grande Paulo Henrique Amorim!

Já faz algum tempo que tenho observado com bastante perocupação diversas posições tomadas pelo Supremo Tribunal Federal, principalmente àquelas advindas do seu presidente, ministro Gilmar Mendes. Mas como quase sempre ocorre, a grande mídia do país tratava e ainda trata como normais todas elas, sendo um exemplo  claro o caso Daniel Dantas, com suas algemas e grampos telefônicos. No entanto, pessoas sérias ainda parecem existir. Após um grande período sem acessar o blog Conversa Afiada do jornalista Paulo Henrique Amorim eis que o faço hoje. Para minha felicidade vejo no referido blog que os meus sentimentos para com o ministro não são só meus, são também compartilhados pelo Paulo Henrique e por diversos leitores. Mais sobre o blog pode ser visto aqui e aqui.
Carlos Pacheco

Depois do aquecimento global vem uma glaciação?!

Por Elton Luiz Valente

Já afirmei aqui no Geófagos que é razoável ter cautela antes de fazer afirmações categóricas sobre MUDANÇAS CLIMÁTICAS DE LONGO PRAZO. O que se pode afirmar, com um grau razoável de confiança, é que o sistema é cíclico. A um período de resfriamento segue-se outro de aquecimento, e vice-versa. Pelo menos foi assim que o clima se comportou ao longo da evolução do Planeta Terra.

Durante o Pleistoceno estima-se que houve quatro grandes glaciações, intercaladas por períodos quentes ou interglaciais. Segundo alguns autores, o Holoceno marcou o fim da última era glacial, que teve seu início a cerca de 70.000 anos. Portanto, o período “interglacial” que estamos vivendo agora começou a cerca de 10.000 anos, no início do Holoceno.

Entre algumas teorias interessantes e consistentes sobre mudanças climáticas, existe a “Teoria de Milankovitch”, que explica as mudanças climáticas responsáveis pelas glaciações. Com alguns incrementos, ela é bem aceita pela comunidade científica. Esta teoria, diga-se, foi baseada em outras teorias sobre variações climáticas provocadas pelos movimentos orbitais da Terra.

É bom lembrar que os limites entre um ciclo e outro, segundo registros paleoecológicos, foram marcados por mudanças muito bruscas no sistema como um todo, principalmente no relevo, a exemplo do que ocorreu nos ciclos do Terciário, entre 65 a 1,8 Milhões de anos (Ma), e do Quaternário, de 1,8 Ma até o presente. Ou seja, catástrofes ambientais não são nenhuma novidade nesse velho planeta. Se alguém aí se lembrou de Santa Catarina, pode até ser que exista alguma semelhança, ou relação. Mas para acalmar os ânimos de quem acha que pode acordar amanhã em um mundo arrasado pelo calor, como num Inferno de Dante ou, ao contrário, em plena Era do Gelo, é bom lembrar que no mundo real as coisas não costumam acontecer como nos filmes de Hollywood. No ‘tempo geológico’ as mudanças geralmente são graduais e costumam levar alguns milhares de anos, no mínimo algumas centenas.

Para exemplificar, há uma seqüência de eventos interessantes que ocorreram em um período entre 400 a 300 Ma. Em linhas gerais, durante um ciclo de aquecimento observou-se, entre outras coisas, o aumento de oxigênio gasoso (O2) na atmosfera, seguido de um avanço extraordinário no desenvolvimento de plantas terrestres, como Pteridófitas de até 50 m de altura, no Carbonífero (354-290 Ma), e um também extraordinário seqüestro de carbono (CO2) por via da fitomassa. Foi a maior crise de carbono já registrada na Terra – daí o nome do período ‘Carbonífero’. E então? Surpresa! O seqüestro de carbono foi tão violento que precipitou o planeta em uma nova glaciação. No final do Permiano (290-248 Ma) o sistema já estava experimentando uma dramática extinção em massa, talvez a maior delas. Alguns autores afirmam que essa extinção atingiu cerca de 90% da vida marinha e 70% da vida terrestre.

Mas é importante lembrar que, no Carbonífero, o acúmulo da fitomassa na forma de matéria orgânica deveu-se, principalmente, à inexistência de consumidores e decompositores em escala compatível. O que é muito diferente do que aconteceu nos ciclos mais recentes, em que houve um ‘equilíbrio’ entre seqüestro e emissão de CO2, e vice-versa. Mas nos últimos 100 anos a coisa mudou bastante com a chegada do Homo sapiens petroliferus no pedaço, trazendo suas emissões descontroladas de CO2. E agora? Ao que tudo indica, teremos uma crise ambiental pela frente. Uma TPM planetária não é pouca coisa, além de imprevisível é sempre desastrosa, quando não catastrófica. Se alguém propor uma boa hipótese sobre o rumo que ela vai tomar, estará se revelando um bom especulador. E ainda, esta crise certamente não será a última. Pode apostar, você não estará aqui para receber a aposta, mas pode apostar. Uma coisa é certa, o único dentre os filhos de Gaya capaz de pensar e arquitetar uma solução para o problema é o Homo sapiens sapiens. Só não sabemos se vai dar certo.

Os ciclos de aquecimento, glaciações, extinções me fazem lembrar do saudoso Raul Seixas, que já dizia, com o seu impagável deboche e bom humor: “… o planeta é como um cachorro, eu vejo, se ele já não agüenta mais as pulgas, ‘se livra’ delas num sacolejo…” É isso aí! O planeta já fez isso mais de uma vez.

Para finalizar, há uma outra variável nessa equação planetária que ainda é negligenciada. O nosso sistema solar não é novo, poderíamos dizer que está velho, com manifestos traços de senilidade. O Sol já está começando a ratear feito um velho motor de Kombi à gasolina. É bom pensar nisso também…

A velha discussão das Áreas de Preservação Permanente.

Hoje, 04 de dezembro de 2008, assisti a dois seminários que me fizeram refletir sobre uma questão antiga, discutida nos meios acadêmicos voltados às ciências agrárias. Trata-se daquelas referentes às áreas e preservação permanente. Para efeito dessas discussões, tratarei nesse post de alguns poucos exemplos que nos fazem questionar a generalização de leis para ambientes completamente distintos. As discussões se referem principalmente a aspectos relacionados ao artigo segundo da lei 4771 de 1965, que se refere, principalmente, àqueles que tratam das áreas marginais aos cursos d’água. Esses dois seminários tratavam de caracterizações de dois geoambientes no estado do Acre, procurando caracterizar as terras firmes e também as áreas de várzea. Essas últimas são aquelas que sofrem influência periódica das cheias dos rios regionais, sofrendo constantes reposições de material originário (sedimentos), enquanto que as primeiras são referentes às áreas que podem ter sofrido, mas não sofrem mais a influência dessas deposições constantes. Devo também lembrar para aqueles que já tem algum conhecimento e afirmar para aqueles que ainda não o tem que as ciências ambientais podem ser baseadas em um tripé composto por três meios, o físico, o biológico e o sócio-econômico. Para que se tenha um ambiente próximo ao que se convencionou chamar de “sustentável” é necessário ter um equilíbrio entre esses três meios. No referido caso, do estado do Acre, a riqueza dos solos de várzea contrasta fortemente com a pobreza de alguns solos de terra firme. A referida riqueza se dá porque os sedimentos que compõem as “praias” regionais são originados de sedimentos naturalmente ricos, vindos dos Andes. Levando-se em consideração que a agricultura regional é basicamente de subsistência, as margens dos rios, sobretudo suas praias são ocupadas durante o período de seca por lavouras como milho, feijão, entre outras. Essas, por sua vez, permitem a sobrevivência dos “povos de várzea” pois são, muitas vezes, junto com a pesca, as únicas atividades econômicas ali existentes. Ou seja, para garantir a sobrevivência dos moradores da região a única forma é “fingir” que a legislação, que proíbe o uso daquelas áreas nas margens dos rios, não existe. Como disse antes não é possível ter-se sustentabilidade se não existe o equilíbrio entre os três meios e respeitar a lei, nesse caso, implica na insustentabilidade do meio sócio-econômico. Implica em não dar o direito de sobrevivência à população ribeirinha local. Caso parecido também é encontrado em outras regiões. Nos mares de morros, por exemplo, por diversas vezes observa-se vales de rios extremamente encaixados. Nesses casos, a declividade acentuada do terreno não permite, em algumas regiões pobres, que os agriculturores de subsistência locais plantem o necessário à sua sobrevivência em áreas fora dos limites que a legislação exige. A única saída é cultivar próximo aos corpos d’água. O fato é que esses dois exemplos mostram que a legislação brasileira referentes às áreas de preservação permanentes é fortemente “engessada”. É necessário que essa legislação seja um pouco mais flexível. Somente essa flexibilidade pode permitir a adaptação de diferentes situações ao conjunto de leis do país. Consequentemente, por meio disso, será obtido um cenário legal mais dentro da realidade sócio-ambiental de diferentes regiões e, provavelmente, maior respeito à mesma ocorrerá. Enfim, não é o ambiente e a cultura de um povo que deve se adaptar à legislação e sim ela que deve se adaptar aos mesmos.
Carlos Pacheco

O desenvolvimento sustentável realmente existe?

Questões relacionadas à sustentabilidade das atividades humanas têm sido tratadas à algum tempo. No entanto, alguns fatos marcaram a história das ciências ambientais. Primeiramente, é necessário dizer que quando cito tais fatos, me refiro àqueles que de alguma forma tiveram a interferência do homem, corroborando assim com o conceito de impactos ambientais, uma vez que, por definição, esses tem que partir de ações antrópicas. Alguns marcos “atuaram” positivamente e outros negativamente. O primeiro deles, arrisco-me a dizer, foi o conjunto de pensamentos que culminou na teoria Malthusina, no século XIX. A incompatibilidade entre o crescimento da população humana e da produção de alimentos desencadeou uma série de mudanças comportamentais. Grande parte dos problemas ambientais atuais estão ligados ao enorme contingente populacional. Questões como controle de natalidade começaram a ser pensadas e discutidas. No entanto, o alerta daquela época não foi inicialmente ouvido.  O “desenvolvimento” falou mais alto e a revolução industrial com todas suas consequências atingiu seu auge. As técnicas de produção agrícola também o foram, servindo tais argumentos como base para um novo marco, já no século XX, a chamada revolução verde. Essa revolução, que de verde não tem nada, visava a utilização de incrementos agroquímicos e de maquinário para elevação dos níveis de produtividade de tal modo a atender a população mundial que não parava de crescer. Iniciou-se aí o que é chamado por muitos autores de agricultura moderna, onde o monocultivo associado com técnicas intensas de fertilização, controle químico de pragas e utilização de maquinários pesados no campo eram as bases. Tal agricultura teve como sustentação os argumentos de Malthus e, segundo especialistas da época e também de hoje, sem ela a demanda de alimentos mundial não seria suprida. No entanto, os efeitos negativos dessa nova forma de se produzir alimentos começaram a ser notados e foram temas daquele que é tido como o principal marco da mudança de postura do homem com relação ao ambiente, o livro “Silent Spring” (Primavera Silenciosa) da britânica Rachel Carson. Tal livro tratava dos efeitos adversos da utilização de agroquímicos, sobretudo o DDT, mostrando que, entre outros males, ele era capaz de provocar graves doenças em seres humanos, como cânceres. Com isso, a autora começara um movimento de questionamento não só dos meios de produção agrícola, mas também de toda a nova cadeia produtiva estabelecida após as duas revoluções industriais. O tal progresso tecnológico indiscriminado começava a ser colocado em xeque. Apoiados na nova conjuntura, o grupo de ilustres personalidades componentes do Clube de Roma  lança, na década de 70, o relatório entitulado Limites do Crescimento. Esse relatório foi elaborado por uma equipe de especialistas do MIT e tratava de pontos cruciais à saúde humana e ambiental, contrapondo-as com o até então padrão de desenvolvimento. Também na década de 70, a Organização das Nações Unidas realiza a primeira conferência com foco exclusivamente voltado para as questões desenvolvimentistas e ambientais, que foi chamada de Conferência de Estocolmo. Esse encontro teve como grande resultado a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), primeira agência em nível mundial de meio ambiente. É também nessa conferência que o Brasil, por meio do seu governo militar, liderou um grupo de 77 países em desenvolvimento que tinham uma posição fixa, imutável e contrária a existência da problemática ambiental. Foi nela que o representante do governo brasileiro apresentou uma faixa onde estava escrito “Bem vindos à poluição, estamos abertos a ela. O Brasil é um país que não tem restrições, temos várias cidades que receberiam de braços abertos a sua poluição, porque nós queremos empregos, dólares para o nosso desenvolvimento”. Em suma, esses países eram a favor do modelo desenvolvimentista da época pois acreditavam que a preocupação ambiental era mais uma forma dos países deenvolvidos aumentarem a dependência e o domínio daqueles e sobre aqueles em desenvolvimento. De qualquer forma, a criação do PNUMA e os relatórios que surgiram a partir da conferência fortaleceram o movimento em prol de uma nova maneira de se desenvolver, correspondendo ao que futuramente viria a ser classificado como sustentável.  O termo Desenvolvimento Sustentável apareceu pela primeira vez na publicação que ficou conhecida como Relatório de Brundtland ou também denominado Nosso Futuro Comum, se referindo a uma nova maneira de se desenvolver de modo a atender as necessidades da atual geração, sem comprometer a capacidade das futuras gerações atenderem as suas. Nessas alturas já eram os anos 80. Após isso vieram outras conferências importantes como a Rio 92 e a Rio +10, essa última realizada em Johanesburgo. Além dessas, a problemática dos clorofluorcarbonados e dos gases do efeito estufa também atingiram seu auge nas décadas de 90 e nos anos 2000. O desenvolvimento sustentável continuou em alta. Mas uma questão ainda instiga a curiosidade e a visão crítica de pesquisadores. Como o desenvolvimento pode realmente ser sustentável? A verdade é que os padrões desenvolvimentistas hoje adotados ainda levam a aspectos insustentáveis. No protocolo de Kyoto, por exemplo, os países em desenvolvimento caíram no denominado não anexo I, que não apresentam metas para redução de emissão de gases estufa. Analisando o caso de dois dos principais países emergentes, China e Brasil, as emissões deles já correspondem à segunda e quarta maiores, mundialmente falando. Para o Brasil, isso vale quando se considera também as emissões provocadas pelas queimadas. A verdade é que o atual modo de se desenvolver também tem levado os países em desenvolvimento a padrões de consumo e emissões de poluentes tão elevados ou até mesmo maiores que os países desenvolvidos. Isso nos leva a crer que o desenvolvimento sustentável, até agora, tem ficado apenas na gaveta. Então surge a derradeira questão, será que o desenvolvimento sustentável realmente existe ou seria apenas mais um conjunto de idéias que não passariam de utopias contemporâneas?
Carlos Pacheco

Santa Catarina pede socorro

A pelo menos uma semana tem se ouvido falar dos últimos acontecimentos que atingiram o estado de Santa Catarina. As chuvas torrenciais que aitngem a região nordeste do estado a cerca de 60 dias causou e ainda causa muitos estragos. Para se ter uma idéia da magnitude do evento, em um fim de semana choveu o equivalente a 4 meses. Estima-se que cerca de 114 pessoas já tenham morrido e cerca de 78000 perderam suas casas. A população de alguma forma atingida pelo desastre chega a 1500000 habitantes. No entanto, o número correto de vítimas pode nunca ser descoberto, uma vez que os deslizamentos de encostas e enchentes podem ter soterrado e arrastado seus corpos. Essa já está sendo tratada como a maior tragédia natural vivida pelo estado e possivelmente pelo Brasil. O Geófagos, por meio desse post, procurará exercer a cidadania de seus autores e prestar solidariedade para com o povo Catarinense. Além disso, esse post também visará discutir alguns aspectos sócio-ambientais que cerca o acontecido. Para início de conversa gostaríamos de pedir licença aos nossos leitores para pedir que doações sejam feitas. Segundo a Defesa Civil, colchões, gêneros alimentícios não perecíveis, cobertores, lençóis e medicamentos são ítens de extrema necessidade. As doações estão sendo coordenadas pelas defesas civis e corpos de bombeiros militares do estados da federação e do Distrito Federal.
Segundo meteorologistas as chuvas foram provocadas pelo choque de uma massa de ar quente e úmido vinda do oceano com uma massa de ar frio estacionada no continente. Essas ainda foram agravadas pelo encontro de uma zona de alta pressão com uma de baixa pressão. Fatores comuns, ensinados de maneira natural em cursos básicos e avançados de meteorologia. A princípio, pode acontecer outras vezes, como já ocorreu em 1983 quando outra grande enchente atingiu a mesma região do Vale do Itajaí. É um fenômeno que pode estar comumente relacionado com a primavera onde condições climáticas intermediárias entre o inverno e o verão estão presentes. Entretanto, um aspecto não pode passar batido. Fenômenos que envolvem aquecimento de águas oceânicas aparentemente estão ocorrendo com maior frequência e intensidade. Quem não se lembra do Catarina, no próprio litoral catarinense? Esse fenômeno meteorológico é, no entendimento de diversos especialistas do setor, o primeiro furacão brasileiro. Também não pode-se esquecer das últimas e trágicas temporadas de furacões nas Américas Central e do Norte. O fato é que, com o aquecimento da água do mar, esses fenômenos tendem a se tornar mais constantes e intensos. Obviamente ainda é muito cedo para relacioná-los às tão comentadas mudanças climáticas globais, no entanto, elas podem sim estar correlacionadas com os referidos fatos. Confesso que até ontem, dia 30/11/2008, estava decepcionado por não ter visto de nenhum especialista fazer essa útlima abordagem. No entanto, durante a cobertura do desastre pelo Fantástico a possível relação entre os últimos acontecimentos com o tão falado aquecimento global foi abordada. A opinião lá aparentemente é a mesma de cá. Com o aquecimento global esses fenômenos possivelmente estão se tornando mais constantes e intensos o que exige das autoridades medidas urgentes, sejam elas locais, regionais, nacionais e até mesmo mundiais.
É evidente que uma tragédia como essa choca e nos faz pensar sobre a nossa existência, sobre o nosso comportamento. O que não se pode é deixar que ela nos cegue. Não pode-se por causa disso perder-se o senso crítico. A região mais afetada pelas chuvas é, a muito tempo, tida como uma região altamente vulnerável a grandes trasnportes de massa (uma espécie de erosão de maior porte). Da mesma forma, as áreas inundadas representam o leito maior dos rios regionais, onde, em períodos de chuva intensa a água fatalmente o ocupa pois é o sua área de escape natural. Como então, já com um histórico de eventos naturais de tal porte, pode-se deixar áreas como estas serem ocupadas de maneira intensa? E mais, como ficarão essas regiões caso se confirme a hipótese de maior frequência e intensidade desses fenômeno graças ao Aquecimento Global? Confesso não visualizar uma saída tranquila e barata para essa situação. Até economicamente o Brasil foi afetado, já que o Porto de Itajaí, responsável por exportações que correspondem a cerca de 4% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro foi destruído e, estima-se, mais de um ano para sua reconstrução. Transferir a população daquela área é quase o mesmo que transportar uma cidade inteira. Então, a melhor maneira de lidar com a situação é limpar o que restou, reconstruir as regiões e seus serviços e esperar o próximo evento? Pois é assim que as situações passadas foram tratadas. Espera-se o evento acontecer e gasta-se rios de dinheiro público para reconstruir. Essa, definitivamente não é a melhor saída. A situação poderia ter sido muito menos grave caso houvesse um mínimo planejamento urbano adequado. Agora que a situação já é catastrófica, tem-se a oportunidade de rever-se valores e quebrar-se paradigmas. É hora de não só reconstruir, mas também re-planejar. Ou melhor, é hora de planejar, já que o planejamento era praticamente inexistente. Buscar melhores alternativas para implantação das moradias que terão de ser construídas para abrigar os atingidos pela tragédia tornou-se agora obrigação governamental. E à população, cabe não só lutar pelos seus direitos e sua vida, mas também cabe a cobrança incansável para com as autoridades. E ao contrário do que tem sido dito por aí, fenômenos como esse não acontecem como obra do acaso ou vontade divina. Por mais que a previsão exata seja difícil, saber que esses fenômenos, que já aconteceram antes, podem voltar a acontecer é obrigação dos planejadores e especialistas. É hora de deixar de tapar o sol com a peneira e ver as coisas como elas realmente são. Tragédias realmente podem acontecer, mas algumas são sim anunciadas. Afinal, quem não sabe que o vale de um rio é inundável ou quem não se lembra dos princípios básicos da geografia, estudados ainda no ensino fundamental, quando vê-se que todo relevo tende à se tornar plano por processos erosivos?
Resta-me dizer,
Força Santa Catarina e que também se responsabilize os autores de anos de descaso com o planejamento urbano!
Carlos Pacheco

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