Curvando-se ao Corvo, o Pensador
É surpreendente o fato de que algumas aves, como os Bowerbirds, naturalmente apresentam grandes manifestações custosas e cuidadosamente ornamentadas, comportamento antes só relatado em humanos. Isso nos faz ter uma visão mais humilde do ser humano. Porém, mais surpreendente ainda é o corvo capaz de se reconhecer no espelho. Isso mesmo! Agora sim você vai se sentir realmente apenas mais uma espécie animal.
O teste do espelho é bem simples: anestesie um animal e faça uma marca colorida (transparente ou cor da pele para o controle) num local do animal onde ela possa ser vista apenas pelo espelho, então apresente um espelho a ele. Se o animal interagir mais com o espelho é sinal que ele não se reconhece, mas se ele interagir mais com sua própria marca é sinal que ele se reconhece.
O auto-reconhecimento ao espelho é um sinal de autoconhecimento, uma característica elevada e requintada. Algo como: reconheço-me, logo existo metalingüisticamente.
Como acompanhamos no texto Autoconhecimento em Comum, essa faculdade antes tida como exclusividade dos humanos, agora já é reconhecida nos grandes primatas, golfinhos e elefantes. O que já era difícil de aceitar agora ficou pior. A machadada final em nosso antropocentrismo foi dada por três pesquisadores alemães no paper de agosto de 2008 intitulado: “Mirror-Induced Behavior in the Magpie (Pica pica): Evidence of Self-Recognition” disponível online. Eles trouxeram a primeira evidência de autoconhecimento em aves, mais especificamente em corvos, seres conhecidamente inteligentes, capazes de resolver problemas complexos e usar ferramentas inusitadas.
Em testes iniciais, cinco corvos, ao serem apresentados ao espelho, agiram como se seu reflexo fosse outra ave, mas três deles mudaram seu comportamento e passaram a se examinar. Daí quando submetidos ao teste a mancha ao espelho, dois dos três prestaram mais atenção na própria mancha colorida do que na mancha controle. O vídeo mostra o lindo e incomodo momento do auto-reconhecimento. Resta sabermos o porquê dessa variação individual.
Esses resultados mostram que as habilidades cognitivas elaboradas responsáveis pela noção de si mesmo não são privilegio de mamíferos cabeçudos, mas evoluíram independentemente em grupos taxonômicos que se separaram evolutivamente a 300 milhões de anos atrás.
E para que a inteligência dos corvos não seja subestimada deixo outro vídeo estonteante na narração de Sir David Attenborough. Veja o que pode acontecer quando corvos usam os humanos no trânsito japonês como ferramentas para abrirem sua comida. E se você ainda não sabe usar a faixa de pedestre melhor aprender, porque eles já sabem.
Discussão - 2 comentários
Seu melhor post até agora. Parabens..
Tem muitas coisas semelhantes com peixes viuuu
abraço
Sensacional!!! 😀 Adorei esse corvos!