Luz, Vaga-Lumes e Ação … Sexual!!!
James Lloyd professor na Universidade da Florida, que estuda vaga-lumes por mais de 35 anos, acha que esses pequenos insetos são realmente incríveis. “Imagine antes da eletricidade o quão brilhante era o flash do vaga-lume. Isso deve ter sido muito misterioso”. Hoje sua luz não é mais um mistério, trata-se do óxido nítrico neurotransmitindo o impulso elétrico emitido pelos neurônios do vaga-lume para o abdômen disparar o flash luminoso, que é produzido pela enzima luciferase catalisando a oxidação da luciferina, gerando a emissão de luz.
Mas ainda hoje as nuances de sua comunicação ainda são pouco conhecidas. Para Lloyd, os vaga-lumes podem significar para o estudo da comunicação em insetos o equivalente ao que a drosófila é para a genética de insetos. Vaga-lumes são besouros e, assim como muitos outros insetos suas larvas só comem. Já os adultos só pensam em sexo, nem lembram de se alimentar. Eles têm uma vida adulta curta, de cerca de um dia a duas semanas. E na maioria das espécies o macho voa mais do que a fêmea. Então eles têm pouco tempo para voar, encontrar e conquistar uma fêmea. E para isso usam sua lanterna do amor!
“Ardendo de amor, as cigarras
cantam: mais belos porém
são os pirilampos, cujo mudo amor
lhes queima o corpo!”
Herberto Helder
Tanto os vaga-lumes machos quanto as fêmeas produzem um padrão de flash específico que pode variar de uma piscada curta, um traço luminoso a uma sucessão flamejante, longa, tracejada ou contínua. Seu padrão varia de espécies para espécie. E as fêmeas preferem machos com flashes mais conspícuos, ou seja, de maior destaque, mais brilhantes. Elas respondem à piscadela deles piscando de volta e isso atrai os machos na hora. Mas por que será elas escolhem os mais brilhantes?
Bom para iluminar seus pensamentos pense numa vida adulta curta, nenhuma alimentação, muito vôo e milhares de flashes para conseguir acasalar. Isso deve ser muito custo, não é? Mas quanto afinal? Foi exatamente essa pergunta que a professora Sara Lewis da Universidade de Tufts procurou responder. Primeiro ela mediu a quantidade de gás carbônico produzida pelo vaga-lume sem piscar e piscando. Ela descobriu apenas uma pequena diferença. Então ela resolveu pesquisar se a predação não era maior custo. Usou várias armadilhas no campo sendo que algumas eram o controle (sem luz) e outras tinham um dispositivo luminoso que imitava um vaga-lume macho, de modo a capturar todos aqueles atraídos pelo padrão de piscada.
Para sua surpresa as armadilhas luminosas continham significativamente mais vaga-lumes do que as controle. Mas os vaga-lumes encontrados eram em grande parte de uma espécie diferente. Uma especializada em imitar o padrão de piscadela de outras espécies de vaga-lumes atraindo machos para devorá-los. Esse é o grande custo para aqueles vaga-lumes com flashes mais conspícuos, eles são mais facilmente encontrados por predadores.
Esses machos sofrem mesmo! Como estão sempre tarados, são facilmente ludibriados. Às vezes eles são atraídos por orquídeas que mimetizam a fêmea da vespa para serem polinizadas, como vimos em “Coevolução e Seleção Sexual no Caso da Vespa Tarada”, outras vezes como no caso do Ronaldo, são atraídos por homens mimetizando mulheres para extorqui-los nos mídia. E no caso dos vaga-lumes, são atraídos por fêmeas de outras espécies para predá-los.
Mas por que afinal as fêmeas iriam preferir acasalar com machos de sua espécie que tem mais chances de serem predados? À primeira vista não tem muita lógica porque os filhotes desse tipo de casal têm mais chances de serem devorados. Não seria melhor escolher machos mais camuflados? Não! Porque só os machos de melhor qualidade conseguem emitir sinais que também atraem predadores e continuar vivos. Essa é a lógica contra-intuitiva dos sinais honestos por desvantagem propostos por Zahavi em 1975, só os melhores podem se dar ao luxo de se colocar situações desfavorecedoras e ainda assim continuarem vivos, pois os de baixa qualidade quando colocados em desvantagem morrem fácil.
Como vimos, as pesquisas da Sara Lewis mostram como a evolução do padrão luminoso dos vaga-lumes é moldada por um processo dual tanto de seleção sexual (escolha da fêmea e competição com outros machos) quanto de seleção natural (predação). Abaixo vocês verão os vídeos das pesquisas de professora Sara Lewis que ilustram a dinâmica de sexo, luz e predação da vida dos vaga-lumes.
Discussão - 2 comentários
Caro Marco, é a primeira vez que visito e leio o seu blog, está de parabéns. Realmente aqui se aprende e se aprende coisas úteis.
Tornar-me-ei leitor cativo de seu blog. Forte abraço.
eu sou aluno de biologia tenho um ceminario para entregar sabado falando sobre vagalumes.