MARCO EVOLUTIVO na Europa

É com grande felicidade que comunico que durante o mês de Julho estarei participando de dois congressos internacionais sobre comportamento humano na Europa.

Apresentarei trabalhos em colaboração com José Henrique Ferreira e nossa orientadora Dra. Vera Bussab (1;2;3;4) tanto no XIX Bienal International Conference of the International Society for Human Ethology, que acontecerá na Bolonha, Itália, entre os dias 13 e 17 de julho, quanto no XXIX International Congress of Psychology, em Berlim, Alemanha, entre os dias 20 e 25 de julho.
Muitos outros pesquisadores brasileiros de diferentes estados, entre professores e alunos de pós-graduação, membros do Instituto do Milênio de Psicologia Evolucionista (CNPq) farão parte da participação brasileira apresentando pesquisas em Psicologia Experimental, Etologia Humana e Psicologia Evolucionista.
A International Conference of the International Society for Human Ethology acontece de dois em dois anos e abrange trabalhos de Etologia Humana e de Psicologia Evolucionista.

Especialmente nesse encontro será a ocasião da comemoração do 80º aniversário de Irenaeus Eibl-Eibesfeldt, simplesmente o fundador da Etologia Humana no mundo. Famoso por suas fotos e filmagens de expressões faciais e posturas por meio de sua engenhosa câmera que, por meio de um jogo de espelhos, captava pessoas agindo naturalmente ao lado e não à frente das lentes. Além disso, a conferencia da ISHE será na Universidade de Bolonha considerada por alguns historiadores como a mais antiga universidade ocidental datando do ano de 1088. O programa completo, bem como a participação específica de cada brasileiro pode ser acessado aqui.
O International Congress of Psychology, que ocorrerá pela terceira vez em Berlin, é promovido pela International Union of Psychological Science (IUPsyS). Ele é simplesmente o maior e mais diverso congresso de Psicologia do mundo atingindo mais de 8.000 participantes de mais de 100 países diferentes e representa uma oportunidade especial para trocas pessoais de informação sobre estado atual da Psicologia, inclusive sobre Psicologia Evolucionista, que no congresso está situada na área de comportamento animal. O programa completo do XXIX ICP pode ser acessado aqui.

Agradeço apoio do CNPq, do IP-USP e do Instituto do Milênio de Psicologia Evolucionista.

Psicologia Evolucionista e Natureza Humana

A Psicologia Evolucionista (que muitos confundem com psicologia evolutiva, ou seja, psicologia do desenvolvimento) é uma área que mais cresce no mundo e no Brasil. Infelizmente muito das críticas negativas a ela está embasada em entendimentos errôneos, preconceitos e noções simplistas equivocadas sobre como o fator biológico se manifesta no comportamento humano e quais são suas implicações sociais.

Sugiro às pessoas que antes de despejarem seus “ismos” indignados: biologismo, determinismo, sexismo, naturalismo, reducionismo, fatalismo, conformismo entre outros, leiam o texto sobre se nós somos realmente dominados por nossos genes ou apenas por mal-entendidos. E descubram quantas noções preconceituosas sobre a natureza humana temos enraizadas.
Os livros estão mais voltados para resolver esses entendimentos equivocados são o O Que Nos Faz Humanos de Matt Ridley e o Tabula Rasa de Steven Pinker. Nesses livros uma coisa fica bem clara, que nossa velha noção sobre a natureza humana é uma das coisas que devemos desaprender e deixar muito dos preconceitos que impedem nosso entendimento sobre a Psicologia Evolucionista para trás.
E o programa “Coisas que nunca deviamos aprender” sobre Psicologia Evolucionista, em espanhol, que veremos abaixo, trata justamente da questão das novas noções sobre a natureza humana que estão desafiando concepções pautadas em entendimentos equivocados. Com a participação de Steven Pinker, ricamente ilustrado e com uma discussão final sobre as mudanças de paradigmas este programa tem três vídeos bem interessantes.
No primeiro vídeo veremos a discussão sobre nossa tendências agressivas e medos de cobra, sobre a antiga visão da tabula rasa, as inter-relações entre natureza e criação, as ligações com o projeto genoma e com a discussão das células tronco, veremos ainda que existe um grande preconceito frente as sociedade de caçadores coletores tribais, mas na verdade as habilidades mentais são as mesmas em todas culturas.
No segundo vídeo serão discutidas as diferenças entre homens e mulheres, seu desenvolvimento ontogenético, as influências mútuas entre cultura e circuitos cognitivos inatos, veremos que os seres humanos não têm menos se não mais instintos do que os outros animais, e como exemplo a linguagem, os tabus sexuais, ainda veremos as diferencias entre os sexos nas estratégias sexuais e o movimento hippie enquanto mais uma utopia sexual.
No último vídeo veremos o mal-entendido da suposta impossibilidade de mudança social, analisaremos a tabula rasa para perceber que diferença não é desigualdade, e na conversa final teremos a discussão sobre a revolução científica e as mudanças de paradigmas. E mudança é o que está acontecendo em todo o mundo quando se fala da natureza humana, pois como Hamilton disse em 1997 “a tabula da natureza humana nunca foi rasa e agora está sendo decifrada”.

A Voz Inconfundível do Período Fértil


Nossas vozes dizem muito sobre nozes, ou melhor nós. Mas apesar de falarmos muito, falamos pouco sobre nossas vozes. O que tem que ser dito é que cada vez mais é estudado as influências da seleção sexual sobre a voz humana, principalmente com relação ao período fértil.

Atualmente é crescente entre os pesquisadores do comportamento humano a opinião de que essa história de ovulação oculta está por fora! A ovulação na nossa espécie nunca foi oculta, pois a cada mês são encontradas pesquisas que apontam mudanças psicológicas relevantes e evolutivamente previsíveis relacionadas ao período fértil.

Estudos já haviam mostrado que as mulheres (que não tomam contraceptivo hormonal), quando estão no período fértil preferem vozes mais masculinizadas, ou seja, manipuladas experimentalmente para parecerem envolver mais testosterona.
Outros apontam ainda que essa preferência além de ser maior por vozes mais graves no período fértil é maior também quando as mulheres buscam parceiros para relacionamentos amorosos de curto prazo.
Além de terem suas preferências influenciadas pelo período fértil, as mulheres parecem apresentar características na própria voz consideradas mais atraentes quando elas estão no período fértil.
Os cientistas, da Universidade Estadual de Nova York, gravaram mulheres contando de 1 até 10 em quatro fases diferentes do ciclo menstrual. Posteriormente, eles tocaram as gravações aleatoriamente para estudantes dos sexos masculino e feminino e pediram que apontassem as vozes mais atraentes.
O estudo mostrou que as vozes com timbre mais alto foram indicadas pelos estudantes como as mais sexy. Ou seja, a ovulação humana não é oculta, tá na cara, ou melhor na voz das mulheres se elas estão no período fértil ou não. Basta ver quão sexy lhe soa a voz. Veja o vídeo sobre esse estudo.

Somos dominados por genes ou por mal-entendidos?

Por Isabella Bertelli Cabral dos Santos e Marco Antônio Corrêa Varella.
Isabella Bertelli Cabral dos Santos é graduanda em Psicologia pela USP e bolsista em Iniciação Científica pelo CNPq em Psicologia Experimental. Possui o blog Científica Mente e é minha namorada.
A livre interpretação dos estudos formulados à luz da Psicologia Evolucionista tem provocado uma série de idéias equivocadas acerca do comportamento humano e da própria disciplina.
A Psicologia Evolucionista é uma área recente que tem enriquecido a investigação dos processos psicológicos e promovido o entendimento de inúmeros aspectos do comportamento humano. Como em toda ciência, existem muitas críticas pertinentes a ela. Contudo, grande parte das controvérsias com freqüência decorre de preconceitos e mal-entendidos por parte de pesquisadores de outras áreas, divulgadores científicos e do público em geral. É comum resultarem interpretações equivocadas, comumente veiculadas pela mídia, a partir de estudos realizados sob essa linha teórica.
Você já deve ter visto manchetes como “A linguagem é inata”, “Infidelidade está nos genes”, “Mães não teriam amor aos filhos, e sim à sua herança genética”, só para citar alguns exemplos. Ou provavelmente já leu alguma matéria sobre a evolução das diferenças entre homens e mulheres e achou tudo uma grande bobagem, pois isso nada tem a ver com genes, e sim com a cultura. Dizer que existem aspectos comportamentais herdados parece uma tentativa de naturalizar as diferenças e, portanto, de justificá-las. Mas será que é isso mesmo?

Teste seus conhecimentos sobre a Psicologia Evolucionista descobrindo o que ela não é.

A Psicologia Evolucionista…
  • … não diz que comportamentos adaptativos estão presentes no nascimento.

Essa visão inatista extrema não faz sentido nem para as adaptações anatômicas. Bebês recém-nascidos não têm dentes, barba ou seios, o que não implica em dizer que “aprendemos” a ter dentes, barba ou seios. Esses são produtos da evolução e isso inclui sua maturação e desenvolvimento também. Então, eles se desenvolvem no período em que promovem sua vantagem adaptativa: no caso dos dentes, depois do desmame, e no caso de barba e seios, na puberdade. O mesmo argumento é válido para o desenvolvimento de comportamentos humanos como gostar do sexo oposto e ajudar parentes. Não é porque nascemos sem interesse em escolher parceiros amorosos que formação de casais em humanos não envolve instinto algum;
  • … não diz que nosso comportamento é geneticamente determinado.

Genes não são deterministas implacáveis como no caso das ervilhas de Mendel. A expressão dos genes durante o desenvolvimento do sistema nervoso e durante o funcionamento de nosso cérebro muda constantemente em resposta a acontecimentos fora de nosso corpo. Os genes provêem os mecanismos para a experiência porque constroem os dispositivos cognitivos que nos capacitam a obter informações do ambiente. Temos propensões genéticas para aprendermos facilmente a falar em uma idade muito precoce, mas se não tivermos contato com falantes nós não aprendemos a falar. O que não implica em não sermos capazes de aprender outras línguas em outras idades. Não é porque não nascemos falando português que a linguagem não envolve predisposições cognitivas, assim como não é porque temos propensões cognitivas para aprender a linguagem quando crianças que não aprenderemos outros idiomas em outras idades;
  • … não diz que não temos flexibilidade comportamental.
Ter adaptações mentais não significa dizer que sempre faremos e agiremos do mesmo jeito. Pense em computadores. Imagine qual computador é mais flexível e faz mais coisas diferentes e de forma variada: aquele que não tem quase nenhum programa instalado e tem muita memória livre, ou aquele que já vem com muitos programas instalados? É claro que o mais flexível é aquele com mais programas diferentes instalados. Para o comportamento é a mesma coisa. Parece contra-intuitivo falar que se fossemos tábulas rasas não teríamos quase nenhuma flexibilidade comportamental. Mas ao pensar nos computadores fica claro que quanto mais módulos mentais tivermos, mais flexível e pluralista será nosso comportamento. Dizer que temos um programa de edição de texto ricamente instalado não implica em dizer que independente do que for digitado sempre sairá o mesmo texto da impressora;
  • … não diz que comportamentos são adaptações.

Comportamentos podem ser adaptativos, mas não herdamos diretamente comportamentos especificamente codificados ou programados. Nós herdamos as estruturas cognitivas, ou módulos mentais, que são as adaptações referentes ao comportamento. E são os módulos mentais na sua interação com o ambiente em que vivemos que produzem comportamentos dentro de cada contexto cultural. Voltando ao paralelo do computador, o que é herdado, ou seja, o que vem de fábrica não é o texto impresso, mas sim o programa de edição de textos. Portanto, o foco não recai sobre o comportamento manifesto, mas sim nas estruturas cognitivas que o geraram;
  • … não diz que não precisamos aprender nada.

Pensar que instinto e aprendizagem são coisas opostas, excludentes ou inversamente proporcionais é um erro muito comum. Trata-se do velho debate inato x aprendido. Justamente porque temos instintos é que somos capazes de aprender. Não somos umas espécie que aprende muito por que temos menos instintos, mas sim por que temos muitos. Os módulos mentais são abertos e ávidos por informações ambientais. Portanto, é pela via do aprendizado que manifestamos nossa natureza, e pela via da natureza que temos as propensões para aprender conteúdos culturais e assim participar do mundo social. No paralelo do computador é fácil perceber que até o programa de edição de texto está preparado para aprender, pois inserimos novos tipos de fontes, novas figuras. O programa aprende até palavras novas, se as adicionamos ao dicionário. E isso possibilita inclusive a impressão de mais textos diferentes, a partir de um único programa;

  • … não diz que a cultura não é importante.

Como a Psicologia Evolucionista reconhece que temos muitos módulos mentais, que são abertos e calibráveis, ou seja, plásticos e maleáveis pelo ambiente, e ainda, especializados em gerar e processar conteúdos culturais, segundo sua perspectiva, o ser humano é biologicamente cultural. A cultura não é algo antinatural alheio à biologia humana. A cultura é parte essencial da natureza humana, influencia e é influenciada por nossas adaptações mentais. Portanto, a diversidade cultural não é a prova de que o comportamento humano independe de adaptações mentais, mas sim de que nossas adaptações mentais são ricamente voltadas para os contextos culturais em que crescemos;

  • … não diz que as pessoas são idênticas nos comportamentos.

Assim como todas as pessoas têm um coração, dois pulmões, dois olhos e um estômago, todas as pessoas têm as mesmas adaptações cognitivas. A história de vida e o contexto ecológico-cultural de cada pessoa influencia seus órgãos, o que faz com que esportistas tenham coração e pulmões diferentes de fumantes. Assim como as adaptações mentais de cada pessoa também são fruto de uma interação única com seu ambiente, o que torna cada pessoa única. Mesmo que duas pessoas brasileiras tenham as mesmas adaptações mentais voltadas ao aprendizado da linguagem, e tenham o mesmo contexto cultural da língua portuguesa, elas podem ter sotaques e gírias diferentes segundo as regiões específicas em que cresceram. E isso não é a prova de que elas não têm adaptações mentais igualmente, mas sim de que suas adaptações mentais são abertas à informação ambiental que varia de região pra região;

 

  • … não diz que comportamentos adaptativos estão fora de nosso controle.

A Seleção Natural moldou filogeneticamente adaptações mentais que geram tanto comportamentos adaptativos mais controláveis – como a detecção de trapaceiros e a escolha de parceiros –, quanto os mais incontroláveis – como os medos. Decisões rápidas frente a riscos reais de morte, assim como medo de cobra ou de altura, são em geral mais incontroláveis, já que uma informação ambiental específica potencialmente letal dispara a reação adaptativa. Mas o fato de serem adaptativos e pouco controláveis não implica a impossibilidade de agirmos de modo a minimizar seus efeitos negativos. Saber qual informação ambiental influencia o aparecimento de tal comportamento – como ver uma cobra ou olhar para baixo na roda gigante – aumenta nossas chances de controlar por antecipação nossas tendências incontroláveis;

  • … não diz que todo comportamento atual é adaptativo.

 

Nossos módulos mentais foram selecionados no ambiente ancestral, ou seja, no ambiente de nossa adaptabilidade evolutiva e não no ambiente moderno e tecnológico atual. Então, pelo viés da Psicologia Evolucionista muitos de nossos comportamentos atuais são compreendidos como não adaptados, por estarmos deslocados de nosso ambiente natural. Alguns comportamentos que eram adaptativos no ambiente ancestral atualmente podem não ser, a exemplo de comer doces e gordura em excesso. No ambiente ancestral era adaptativo acumularmos o máximo possível de calorias em uma única refeição, pois não havia abundância de alimentos tal como ocorre hoje. Outros exemplos vão no sentido oposto. É o caso da prática de atividades físicas. Fomos selecionados em um momento em que fazíamos grande quantidade de exercícios físicos, pois o modo de locomoção era andar. Contudo, hoje, no ambiente urbano, sobretudo, há disponíveis facilidades como os vários tipos de veículos e até mesmo dispositivos como as escadas rolantes que auxiliam a locomoção humana. Isso implica em pouca mobilidade física e acaba gerando riscos para a saúde;

  • … não diz que as adaptações são perfeitas.

Mesmo se estivéssemos em nosso ambiente ancestral vivendo como caçadores-coletores nossas adaptações mentais seriam falíveis e imperfeitas. Se a seleção natural mantivesse um perfeito medo de cobras de modo a que as pessoas jamais saíssem de suas casas, seriam drasticamente reduzidos os casos de mortes por picada de cobra. No entanto, haveria um custo alto a pagar: a capacidade exploratória humana seria inexistente, o que resultaria em falta de alimento, e conseqüentemente nos levaria à morte. As adaptações não são perfeitas porque se fossem muito eficazes seus custos ultrapassariam seus benefícios à sobrevivência e à reprodução. Além disso, as pressões seletivas são cegas quanto a um objetivo final a ser atingido futuramente pela adaptação. Sendo assim, o modo como um problema adaptativo foi solucionado pela seleção natural, ou seja pelo relojoeiro cego, quase nunca equivale àquele pelo qual um engenheiro o solucionaria, partindo do zero e pensando em simplicidade, eficiência e economia. Somado a este fato, não se pode esquecer que as adaptações nunca são exatamente iguais dentro da população, ou seja, mesmo se ela tiver atingido um nível ótimo, este nível será melhor para alguns do que para outros, pois sempre existe uma variação individual, que é a matéria-prima da evolução;

  • … não diz que há genes para o egoísmo.

A abordagem do gene egoísta não é uma abordagem molecular para o egoísmo. O gene egoísta não é “aquilo” que pessoas egoístas têm. Muito menos a teoria diz que todos os genes têm desejos conscientes egoístas, como se eles só “pensassem” em si próprios. Os genes não possuem desejos conscientes. Eles simplesmente se auto-replicam. Aqueles que não se auto-replicaram não sobreviveram e não estão representados hoje. O padrão de auto-replicação cega produz resultados que por vezes são interpretados como se determinados genes tivessem interesse em ser mais representados nas próximas gerações. Tais genes não “têm” realmente esse interesse, mas agem cegamente como se tivessem. Trata-se de uma analogia com os interesses humanos. Usa-se a voz ativa e coloca-se intenção pessoal onde não há;

  • … não diz que as pessoas inconscientemente visam aumentar a replicação de seus genes nas gerações seguintes.

Confundir os interesses dos genes com os das pessoas é uma das principais confusões feitas com a Psicologia Evolucionista. Exemplo: “O adultério não pode ser uma estratégia para propagar os genes egoístas, pois os adúlteros tomam providências contraceptivas”. O desejo sexual e o desejo de ter filhos não são uma estratégia das pessoas para propagarem seus genes. São uma estratégia das pessoas para obter os prazeres do sexo e os prazeres de serem pais, e esses prazeres são a estratégia dos genes para propagarem-se nos filhos. Gene egoísta não implica em uma pessoa que faz tudo pensando em seus genes. As pessoas não pensam no que seria melhor pra seus genes, elas simplesmente comem pelo prazer de comer, pra matar a fome e por qualquer outra crença e desejo. Já os genes modelaram o desejo de comer quando se replicaram em pessoas que se alimentavam bem e conseqüentemente sobreviviam e reproduziam. O interesse dos genes e o interesse das pessoas estão separados por diferenças gigantescas em unidades de tempo. O interesse pessoal é pautado pelo hoje, ontem, amanhã, mês que vem, vida toda, enquanto o interesse do gene é pautado pela persistência de pressões adaptativas em sucessivas gerações no ambiente ancestral ao longo de milhões de anos;

  • … não diz que não somos livres.

Como você pôde perceber, nós vivemos em uma unidade de tempo mais rápida que a de nossos genes. Isso implica em não sermos dominados e controlados por eles. Somos livres para escolher não comer doces, se assim quisermos, e livres para seguir o propósito de não ter filhos, se assim o desejamos, livres para abdicar do sexo e até da própria sobrevivência. Temos esses pequenos viéses herdados em comer doce, ter filhos, praticar sexo e sobreviver, o que torna mais provável realizarmos tudo isso e mais difícil resistir a esses comportamentos, por sermos herdeiros de ancestrais que sobreviveram a ponto de deixar descendentes. Tais propensões foram moldadas no ambiente ancestral e não no atual. Então somos livres para fazermos o que bem entendermos agora com nosso corpo e com nossa mente.

  • … não é sexista ou machista.

A Psicologia Evolucionista vem descobrindo muitas diferenças psicológicas inéditas entre homens e mulheres. Essas descobertas têm gerado confusão e muitos apregoam ser esta uma teoria baseada em machismo ou sexismo. Essa confusão vem de três problemas: Primeiro, a generalização ingênua. Assim, dizer que os homens são, em média, maiores que as mulheres não significa que todos os homens sejam mais altos do que todas as mulheres. Dizer que as mulheres têm mais fluência verbal que os homens não quer dizer que todos os homens sejam praticamente mudos. Depois vem o preconceito. O preconceito ocorre quando ingenuamente julgamos a priori uma pessoa pela média dos atributos de seu grupo. Dizer que homens têm mais facilidade para a localização espacial não habilita ninguém a destratar, desmerecer ou desqualificar uma mulher por seu modo de dirigir. Finalmente vem a confusão entre diferença e desigualdade. Nenhuma diferença anatômica ou mental entre homens e mulheres implica qualquer julgamento de valor. Todos os seres humanos devem, por princípio, ter iguais direitos e oportunidades. Não há incompatibilidade entre sermos diferentes e termos garantias de igualdade de direitos;

  • … não embasa julgamentos morais, nem justifica nossas ações.

Confundir explicações científicas com recomendações ou justificativas morais é o erro mais perigoso, por seu forte conteúdo emocional. É conhecido como falácia naturalista e implica numa nivelação equivocada entre o “é” das explicações descritivas e o “deve ser” das recomendações morais. Enquanto cientistas – cientes de que todo conhecimento tem um grau de incerteza – usam o verbo “dever” no sentido de “haver uma probabilidade de” para explicar a previsão de uma possibilidade, como na frase “Se existirem componentes herdáveis na propensão ao estupro e se alguns estupros tiverem gerado filhos, então deve ter havido uma pressão seletiva favorecendo as propensões envolvidas no estupro”; Outras pessoas ouvem o verbo “deve” no sentido de “ser moralmente preferível” e acusam esses pesquisadores de estar justificando, ou naturalizando um ato brutal e criminoso, o que não é verdade. Não somos escravos das adaptações mentais, uma vez que a própria seleção por flexibilidade de repertório conforme o contexto favorece um controle consciente dos nossos comportamentos, como a infidelidade. E, sendo um ato consciente, ele não isenta a culpabilidade daqueles que, ao satisfazerem seus desejos irresponsavelmente, expõem parceiros a danos à saúde pelo sexo desprotegido e à confiança pela traição. Nossas propensões mentais não são desculpa para nenhum ato danoso;

Causas apontadas
Por que esses mal-entendidos acontecem com tanta freqüência? Provavelmente não existe uma resposta única. Diferentes explicações foram dadas, não necessariamente excludentes.


A primeira fonte de explicação foca a causa dos mal-entendidos em nossos próprios padrões cognitivos de processamento de informações. Temos a tendência a simplificar qualquer informação para reduzir a demanda por recursos cognitivos e um forte desejo de gerar previsões a partir de casos específicos, o que nos faz incorrer na generalização. Quando esses padrões cognitivos são usados na tentativa de entender a relação entre gene, ambiente e comportamento, facilmente caímos nas supersimplificações como “gene gay” ou “gene da felicidade”, na tentativa de se aplicar o modelo mendeliano, que é simples, ao comportamento, que não o é. O desenvolvimento ontogenético é uma complexa interação singular entre genes, seqüência temporal dos ambientes externos e eventos aleatórios. Por isso, ainda não foi desenvolvido um modelo didático para descrever a influência genética no comportamento de forma lógica, como no modelo mendeliano, em que um gene é igual a uma característica.

Outra fonte de mal-entendidos envolve a aparente simplicidade da teoria da evolução. A facilidade de apreender o conceito de seleção natural leva as pessoas a pensar que entenderam completamente a evolução depois de um rápido contato com a teoria. Saber o modo darwinista de explicar o tamanho do pescoço da girafa não garante pleno entendimento do evolucionismo, principalmente quando aplicado ao comportamento humano.
Isso contribuiu para o aparecimento de abusos que se seguiram ao surgimento da teoria da evolução, pautados em mal-entendidos. Nessa época, a teoria de Darwin ainda não contava com a genética, com estudos sobre comportamentos sociais de animais, com análises de custos e benefícios para as adaptações e nem com estudos sobre a cognição. Isso não permitia um arcabouço teórico adequado para o entendimento do comportamento humano sob bases evolutivas.
Além disso, a crença na pretensa neutralidade da ciência e o entusiasmo de sua aplicação à sociedade gerou abusos sociais. Um grande abuso, que comprometeu a reputação do evolucionismo perante as ciências humanas, foi o caso do darwinismo social por suas extrapolações equivocadas de idéias ditas evolutivas, mas que eram, no fundo, colonialistas, capitalistas selvagens, fascistas e racistas.
A reação a esses abusos foi o surgimento de uma longa tradição de negação da natureza humana nas Ciências Sociais do séc. XX e um isolamento conceitual, em que se considerava tudo o que envolvesse genes e comportamento como errôneo e contrário à liberdade. Surgiu daí a idéia de que a causalidade biológica é determinista e ruim, enquanto a causalidade ambiental preserva o livre-arbítrio, e, portanto, é boa. Você já deve ter ouvido comentários pejorativos sobre a “biologização” do comportamento e quão “determinista”, “fatalista” e “ingênua” é a visão biológica do comportamento humano.

Valores morais e condição animal

No âmago de todas essas controvérsias sempre esteve um grande temor humano: o de ser apenas mais um animal. Igualarmos-nos aos animais é muito difícil, pois sempre nos sentimos o ápice da criação divina, feitos à imagem e semelhança de Deus. Darwin abalou essa crença, provendo uma explicação para a nossa origem nos mesmos termos da origem dos outros animais e dos outros seres vivos. Se somos apenas animais, então, nada mais é sagrado? Onde ficaria embasada a moral, como o não matarás? O medo do desmoronamento dos valores morais sagrados andou lado a lado com a resistência às idéias evolucionistas.
Quando Copérnico nos tirou de centro do Universo a reação também foi de negação. Com o tempo, aprendemos que a esfera moral não é diretamente dedutível da esfera factual. Hoje convivemos muito bem sendo uma poeirinha cósmica na periferia na via Láctea e mantendo sentimentos morais. O mesmo deve acontecer com a Revolução Darwinista quando entendermos humildemente nossa igual posição na natureza. Entendermos que nós fazemos parte da natureza, somos animais, somos parentes de todo ser vivo: lactobacilo vivo, tripanossomo, champignon, brócolis e baleia. Não somos o “ápice” da vida, pois não existe animal superior ou inferior, já que o formato da evolução da vida na Terra não é uma escada e sim uma árvore em que cada ser vivo existente é o melhor de seu ramo.

Agora que sabemos algumas causas dos preconceitos e mal-entendidos e sabemos como resolvê-los, faça um teste: busque notícias sobre ciência que envolvam genes, comportamento e psicologia evolucionista e veja se consegue identificar algum mal-entendido. Será mesmo que depois de ler esse texto você já está “vacinado” contra os mal-entendidos? Você agora sabe dizer o que está errado quando se fala em linguagem e infidelidade inatas? Você ainda acha que estudar diferenças entre homens e mulheres na perspectiva evolucionista é dar base moral para a dominação masculina? Considera mesmo que o fato de sermos animais nos torna escravos dos nossos genes?

Esperamos que não, e que a partir de agora você seja um leitor mais atento e crítico, com esclarecimentos essenciais para entender a nova ciência Psicologia Evolucionista e assim se beneficiar do valor de suas explicações.
Lembre-se que Psicologia Evolucionista também não é…
  • …Psicologia Evolucionária, pois esta é uma tradução errônea do inglês Evolutionary Psychology.
  • …Psicologia Evolutiva, pois essa terminologia designa a Psicologia do Desenvolvimento. A teoria em que a Psicologia Evolucionista se embasa é evolutiva, logo a disciplina é evolucionista. Segundo um artigo que padroniza as traduções dos termos em inglês da área de Etologia publicado em 2002 por Yamamoto e Ades, Evolutionary Psychology no Brasil é Psicologia Evolucionista.

Referências
BUSSAB, V. S. H.; RIBEIRO, F. J. L. Biologicamente cultural. In M. M. P. RODRIGUES; L. SOUZA; M. F. Q. FREITAS (Orgs.). Psicologia: Reflexões (in)pertinentes. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.
LEWONTIN, R. A Tripla Hélice– Gene, Organismo e Ambiente. Companhia das Letras, 2002.
MEYER, D.; EL-HANI, C. N. Evolução: o sentido da biologia. São Paulo: UNESP, 2005.
OTTA, E.; RIBEIRO, F. J. L.; BUSSAB, V. S. R. (2003). Inato versus adquirido: Persistência de uma dicotomia. Revista de Ciências Humanas. Florianópolis, 2003. 34, 283-311.
PINKER, S. Tábula rasa. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
RIDLEY, M. O que nos faz humanos. Rio de Janeiro: Record, 2004.

Versão melhorada do texto “A Era dos Mal-Entendidos” publicado no Especial Psiquè Psicologia Evolucionista, ano II, nº 6.

Dicas de Livros em Psicologia Evolucionista

Durante a elaboração do Especial Psique de Psicologia Evolucionista reuni uma lista de livros da área e relacionados, mas devido às restrições editoriais só saíram alguns. Agora incluo nesse blog a lista completa de livros brevemente comentados, separados em internacional, por pesquisadores e por divulgadores.

Em inglês:

  • The Handbook of Evolutionary Psychology. Buss, D. M. (Ed.), New Jersey: Wiley, 2005, 1028 p.

Esse livro é o Handbook mais atual e mais completo sobre a Psicologia Evolucionista. É fruto de uma contribuição única de 66 autores escrevendo capítulos distribuídos em partes sobre as fundações da Psicologia Evolucionista, sobrevivência, acasalamento, parental e parentesco, vivência em grupo, aplicação evolutiva a disciplinas tradicionais da Psicologia e a outras disciplinas como a Literatura e o Direito.

  • The Evolution of Mind: Fundamental Questions and Controversies Gangestad, S. W. & Simpson, J. A. (Eds.), New York, Guilford, 2007, 448 p.

Esse livro é o livro mais atual sobre Psicologia Evolucionista, aborda temas fundamentais e controvertidos. É produto de um empenho colaborativo de 47 autores escrevendo capítulos curtos distribuídos nas temáticas: reconstrução da evolução da mente humana, rastreando a evolução atual, nossos ancestrais mais próximos, explicando os custos e benefícios de comportamentos, modularidade da mente, o desenvolvimento como um alvo evolutivo, seleção de grupo, mudanças chaves na evolução da psicologia humana, evolução do cérebro, habilidade intelectual geral, cultura e evolução, evolução do acasalamento.

  • Introducing Evolutionary Psychology. Evans, D. & Zarate, O., Cambridge: Incon Books, 1999, 176 p.

Esse é o livro mais didático sobre Psicologia Evolucionista, pois é ricamente ilustrado e assim os conceitos são passados de forma descontraída e eficiente. Apresenta caricatura de todos os autores e estudos clássicos da Psicologia Evolucionista. No final esclarece os mal-entendidos mais freqüentemente cometidos sobre esse tema e ainda oferece dicas de leituras. Aborda os temas centrais da teoria evolucionista, como as diferenças entre a mente humana e de nossos parentes mais próximos, os primatas e as diferenças na psicologia de homens e mulheres.

Traduzidos: 1. Pesquisadores

  • Como a mente funciona. Pinker, S. Tradução L. T. Motta. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, 66 6 p.

É a mais completa explicação sobre Psicologia Evolucionista traduzida. Apresenta detalhadamente a revolução da Psicologia Cognitiva e por fim sua fusão com a Biologia Evolucionista. O autor aborda questões como o modo pelo qual as crianças aprendem, como tomamos decisões ou enfrentamos riscos e os mecanismos por trás de fenômenos como criatividade, sensibilidade, amor, confiança. Pinker lança mão de pelo menos duas bases teóricas, o evolucionismo de Darwin e a ciência cognitiva.

  • Tábula rasa. Pinker, S., Tradução L. T. Motta. São P aulo: Companhia das Letras, 2004, 672 p.

É a mais profunda análise dos aspectos envolvidos na não aceitação de idéias evolucionistas pelas ciências Sociais e Humanas. Depois de resolver detalhadamente os medos por traz da resistência à aplicação das idéias Darwinistas ao ser humano ele aborda a Psicologia Evolucionista relacionada com a política, violência, gênero, crianças e artes. É o mais recomendado para as pessoas das áreas de Humanas e Sociais conhecerem, sem preconceitos, a Psicologia Evolucionista.

  • A Mente Seletiva. Miller, G. Tradução D. Batista. Rio de Janeiro: Campus, 2001, 540 p.

É o melhor livro sobre a importância da “outra” teoria de Darwin, a seleção sexual, para a Psicologia Evolucionista. Miller explica o grande esquecimento da teoria da seleção sexual durante todo o século XX e aplica os conceitos modernos de seleção sexual aos estudos atuais das adaptações mentais humanas. Ele faz um contraponto e complementa a visão de Pinker e aborda assuntos como a arte, a linguagem, a moralidade e a criatividade.

  • A Paixão Perigosa: Por que o ciúme é tão necessário quanto o amor e o sexo. Buss, D. M. Tradução M. Campello. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, 277p.

Buss, um dos pioneiros no mundo em Psicologia Evolucionista, oferece uma instigante e bem humorada perspectiva evolutiva sobre o ciúme, infidelidade, crimes passionais e desejo sexual, emoções humanas poderosas e universais.

  • Anatomia do Amor: A história natural da monogamia, do adultério e do divórcio. Fisher, H. E. Tradução M. Lopes e M. Carbajal. Rio de Janeiro: Eureka, 1995, 430 p.

Esse livro aborda brilhantemente e interdisciplinarmente a origem, a evolução ancestral pré-histórica e o futuro da sexualidade humana, incluindo a paquera na seleção de parceiros, a paixão, o amor romântico, o adultério, o divórcio e o re-casamento.


  • Mãe Natureza: Uma visão feminina da evolução . Hrdy, S. B. Tradução Rio de Janeiro: Campus, 2001, 704 p.

Esse livro aborda a maternidade sob as perspectivas evolutivas e comparativas, e mostra que muitas das emoções que informam as decisões reprodutivas das mulheres nos dias de hoje foram moldadas em um passado distante. Ela discute as complexidades e as diferentes atitudes comumente simplificadas como instinto materno.

  • Guerra de Esperma. Baker, R. Tradução G. Z. Neto. Rio de Janeiro: Record, 1997, 402 p.

Esse livro aborda amplamente a sexualidade humana relacionada com a competição espermática. Ele brilhantemente usa um conto erótico sobre cada aspecto da sexualidade para situar, ilustrar e instigar o leitor. Depois aborda cientificamente assuntos como infidelidade, conflito sexual, masturbação, polução noturna, escolha de parceiros, aprendizagem sexual, prostituição e homossexualidade.

  • Não Há Dois Iguais: Natureza humana e individualidade. Harris, J. R. Tradução R. Gouveia. São Paulo: Globo, 2007, 471 p.

Nesse livro comenta e às vezes desconstrói as teses mais aceitas pela ciência moderna. Idéias antigas, como o determinismo genético e a preponderância ambiental, caem por terra, enquanto o evolucionismo é tomado como objeto de estudo primordial no estudo da individualidade humana. Nesse caminho, a autora envereda por algumas áreas fascinantes do conhecimento, abordando tanto os experimentos clássicos da psicologia social quanto às últimas contribuições das pesquisas em neurociências. Praticamente nada escapa a seu olhar abrangente: gêmeos, autismo, o comportamento dos chimpanzés e a organização social das formigas.

  • A Perigosa idéia de Darwin: a evolução e os significados da vida. Dennett, D. C. Tradução T. M. Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 1995, 612 p.

É o melhor livro sobre a dimensão filosófica da evolução biológica e suas implicações em todas as ciências, bem como para o entendimento da mente humana. O livro expõe as controvérsias atuais: sobre a origem da vida, a sociobiologia, a evolução da linguagem e da cultura e a ética evolutiva. Ele revela os anseios filosóficos, até religiosos, que têm distorcido as disputas entre cientistas e leigos. E, de forma polêmica, mostra que alguns dos mais importantes pensadores contemporâneos são simplesmente incapazes de esconder o mal-estar diante da grande idéia de Darwin. Este livro explica por que é uma idéia tão convincente, e por que promete oferecer – e não ameaçar – novos fundamentos para as nossas mais caras maneiras de conceber a vida.

  • A Verdade sobre Cinderela: Uma visão Darwiniana do Cuidado Parental. Daly, M. & Wilson, M. Coimbra: Quarteto, 2001, 345 p.

É cem vezes mais provável um padrasto abusar de uma criança, ou mesmo matá-la, do que um pai genético. Esta descoberta assustadora foi trazida à luz do dia por dois cientistas canadianos que profetizaram, baseados em teorias darwinianas, que a ortodoxia official, que ignora os laços familiars, obscurece os perigos cada vez maiores em que incorrem as crianças que vivem em famílias adoptivas. Esta ameaça, embora seja um tema recorrente de lendas populares por todo o mundo, tem sido escandalosamente negligenciada pelos politicos e pela mídia. Mas por que terá o parentesco um efeito assim tão profundo? Numa aplicação clássica da teoria evolucionista, Martin Daly e Margo Wilson apresentam-nos evidências de sociedades de todo o mundo para nos contarem, pelo menos, a verdade darwiniana sobre Cinderela.

2. Divulgadores

  • O Animal Moral: porque somos como somos: a nova ciência da psicologia evolucionista. Wright, R., Tradução L. Wyler. Rio de Janeiro: Campus, 1996, 416 p.

Apresenta a Psicologia Evolucionista traçando um paralelo interessante com a biografia de Charles Darwin. Aborda temas como sexo, romance e amor, cimento social como família e amigos, conflitos sociais e morais da história como ética e religião.

  • As origens da virtude: um estudo biológico da solidariedade. Ridley, M. Tradução B. Vargas. Rio de Janeiro: Record, 1996, 332 p.

Esse livro é muito bem escrito e aborda os aspectos evolucionistas da solidariedade humana. Engloba temas como a preservação ambiental em bens públicos e presentes privados, sentimentos morais, tribalismo, guerra, comércio, religião e propriedade.

  • O que nos faz humanos: genes, natureza e experiência. Ridley, M. Tradução R. Vinagre. Rio de Janeiro: Record, 2004, 399 p.

Esse livro é o melhor livro sobre a superação da dicotomia inato X aprendido. Ele mostra como processos genéticos estão entrelaçados nos processos aprendidos. Brilhantemente ele mostra como a natureza ocorre via a criação abordando a biografia de doze barbudos Charles Darwin, Francis Galton, Willian James, Hugo De Vries, Ivan Pavlov, John Watson, Emil Kraepelin, Sigmund Freud, Emile Durkheim, Frans Boas, Jean Piaget, Konrad Loranz. Veja maiores detalhes: O que nos faz humanos no Científica Mente

  • Instinto Humano: como nossos impulsos primitivos moldaram o que somos hoje. Winston, R., Tradução M. M. Ribeiro e S. Mazzolenis. São Paulo: Globo, 2006, 431 p.

Esse é o livro escrito pelo autor da série da BBC Instinto Humano e divulgado pelo Fantástico por Lazaro Ramos na série com o mesmo nome. Ele faz um apanhado geral sobre os temas estudados pela Psicologia Evolucionista como: sobrevivência, desenvolvimento, sexo, família, seleção sexual e risco, violência, moralidade e espiritualidade. Winston oferece explicações científicas de modo claro a partir da elucidação de questões prosaicas como porque um bebê recém-nascido sabe mamar ou porque salivamos diante de um belo prato de comida.

  • A Culpa é da Genética. Burnham, T. & Phelan, J., Tradução C. I. Costa. Rio de Janeiro: Sextante, 2002, 240 p.

Esse livro mostra de forma acessível e bem humorada a influência dos genes, via instintos, em nosso comportamento e inclui dicas para lidar melhor com eles em nosso ambiente atual. Aborda temas cotidianos como dívidas, gordura, drogas, risco, ganância, gênero, beleza, infidelidade, família, amigos e inimigos.


Nacional:

  • O Pensamento de Animais e Intelectuais: Evolução e Epistemologia. Werner, D. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 1997, 195.

Esse é o único livro nacional relacionado à Psicologia Evolucionista. Nele é abordada a evolução de diferentes formas de pensar e suas implicações epistemológicas, bem como o papel de nossos vieses cognitivos em elaborar e avaliar idéias. São discutidos temas como formas de encarar a realidade, formas elementares de pensar, senso comum, formas intelectuais de pensar e formas antropológicas de pensar. Werner, que é antropólogo, aborda a evolução da cognição sob o ponto de vista darwinista.

Psicologia Evolucionista – Edição Especial Psique

A edição Especial Psique Ciência & Vida sobre Psicologia Evolucionista saiu no final de 2007 pela editora Escala. “Um olhar sobre a Psicologia Evolucionista”, que ainda está nas bancas, e é nada mais nada menos que a primeira publicação nacional em divulgação científica sobre Psicologia Evolucionista feita por pesquisadores da área no Brasil.
A pretensão foi mostrar ao leitor interessado como as ações mais simples, atuais e corriqueiras, como escolher uma roupa, assistir TV ou mesmo prestar atenção em certas coisas em detrimento de outras, podem ser explicadas e estudadas pela Psicologia Evolucionista. E o resultado já está aparecendo desde no site do Projeto Milênio em Psicologia Evolucionista até em postagens na comunidade de Psicologia Evolucionista do orkut até elogios em blogs de ciência, como no Científica Mente.
O Especial é fruto de um empenho de divulgação inteiramente voluntário de graduandos em psicologia e pós-graduandos em Psicologia Experimental da USP em parceria com graduandos em psicologia e pós-graduandos em Psicobiologia da UFRN. Nas palavras editoriais: “Trabalhando com o rigor científico que caracteriza esta disciplina, há hoje um profícuo grupo de profissionais e estudantes, em diferentes centros geradores de saber no País, dedicados à pesquisa de temas tão centrais na definição do que seja ser humano [Se referindo ao Projeto do Milênio de Psicologia Evolucionista]. Alguns deles se dispuseram generosamente a compartilhar seus conhecimentos e descobertas nas páginas deste Especial da revista Psique e produziram textos ricos e esclarecedores sobre a aplicação da Psicologia Evolucionista nos mais diferentes contextos.”

O Especial conta com 8 textos escritos por pesquisadores especialistas (no qual estou incluído), dois retirados da Agência Notisa de Jornalismos Científico, uma lista com dicas de livros da área, uma lista com dicas de links importantes e um fechamento feito pela também especialista Doutora Cibele Biondo na Coordenação Técnica.

O texto introdutório intitulado “Uma longa história” pelos psicólogos Altay Alves de Souza e Leonardo Cosentino em conjunto com os biólogos José Henrique Ferreira e eu, Marco Varella, apresenta de forma simples as história dos antepassados da Psicologia Evolucionista e seus fundamentos teóricos e conceituais. Alem disso, apresenta também um histórico da pesquisa nacional na área graças ao Grupo de Trabalho de Psicologia Evolucionista na Associação Nacional de Pós-Graduação em Psicologia e ao Instituto do Milênio de Psicologia Evolucionista.
O segundo texto trata dos mal-entendidos. Em “A era dos mal-entendidos” Isabella Bertelli, estudante de psicologia e eu, Marco Varella, biólogo apresentamos a questão dos mal-entendidos mais comuns sobre da Psicologia Evolucionista. Como todo campo de ciência, a Psicologia Evolucionista sofre críticas e contestações. O propósito deste artigo é oferecer subsídios conceituais esclarecedores aos leitores para conseguirem diferenciar uma crítica fundamentada de críticas baseadas em interpretações equivocadas e preconceituosas, gerando problemas de entendimento.
O terceiro é sobre Neotenia, expresso no artigo “Que olhos grandes você tem!” da psicóloga Lia Viégas. Ela conta como as características neotênicas (infantilizadas) geram efeitos nas pessoas e como isso ocorre como resultado de um importante processo evolutivo que contribuiu na sobrevivência e reprodução do ancestral humano no passado e hoje garante a vinculação materna (e os afagos) dos nossos bebês.
O terceiro texto é sobre diferenças cerebrais entre homens e mulheres. É um texto extraído da Agência Notisa de Jornalismos Científico que aborda apenas a Neurociência e não faz muita ligação com a Psicologia Evolucionista. É sobre uma cardiologista que escreveu um livro sobre as diferenças cerebrais entre homens e mulheres “Porque os homens nunca lembram e as mulheres nunca esquecem”. Isso mostra como as agências de notícia vêm negligenciando a Psicologia Evolucionista e até confundindo com Neurociências.
O quarto texto é sobre heurísticas e tomadas de decisão. O artigo “Será que caso ou compro uma bicicleta?” dos psicólogos Altay Alves Lino de Souza e Álvaro da Costa Batista Guedes aborda um dos comportamentos mais prosaicos e importantes do ser humano: tomar decisões. Eles detalham quais são os mecanismos implícitos nos processos de julgamento e tomada de decisão, como eles poderiam ter ajudado nossos ancestrais a sobreviver e a reproduzir e como por meio deles, podemos cometer “erros” sistemáticos.
O quinto texto é sobre desejo por variedade sexual. É a reedição do meu texto sobre as primeiras pesquisas inter-culturais com relação ao desejo por diferentes parceiros sexuais ao longo na vida e as diferenças entre homens e mulheres. Este texto está postado numa versão melhorada aqui no MARCO EVOLUTIVO.
O sexto é sobre as visões evolucionistas sobre a depressão pós parto. Tema que tem vindo a tona não só no âmbito científico, mas também na comunidade como um todo. Sobretudo após as freqüentes notícias de bebês abandonados ou mesmo infanticídios. O artigo “Quando a dor é Mãe” das psicólogas Gabriela Andrade, Lia Viegas, Marina Cecchini e Emma Otta com a bióloga Renata Pereira de Felipe apresenta como a Psicologia Evolucionista pode contribuir nessa questão de saúde pública.
O sétimo é sobre a neurologia da homossexualidade. Mais uma vez a Psique por intermédio da Agência Notisa de Jornalismos Científico confunde Psicologia Evolucionista com Neurociência. O texto focado em como as preferências sexuais se instalam nas áreas cerebrais aborda também pesquisas genéticas sobre a homossexualidade.
O oitavo texto é sobre a seleção de parceiros amorosos. Em “Procura-se”, a psicóloga Luísa Spinelli e o biólogo Wallisen Hattori apresentam os fundamentos teóricos da Seleção Sexual e da Teoria do Investimento Parental. Além disso, eles apresentam os resultados empíricos de diferentes pesquisas sobre as preferências afetivo-emocionais para a escolha de parceiros e as diferenças entre homens e mulheres. Tudo indica que em matéria de sexo, Darwin explica!
O nono texto é sobre a amizade e a constituição de vínculos. Em “Uma mão lava a outra” o biólogo César Ornelas discute qual a importância das estratégias sociais como forma de obter sucesso e garantir a sobrevivência na comunidade. Neste ponto entra a questão do egoísmo e altruísmo e qual a importância de cada um para a sobrevivência do indivíduo e do grupo.
Na lista de livros constam: Tabula Rasa de Steven Pinker; Não há dois iguais: Natureza humana e individualidade de Judith Harris; The Evolution os Mind: fundamental questions and controversies de Steve Gangestad e Jeffry Simpson (eds.); Introducing Evolutionary Psychology de Dylan Evans e Oscar Zarate; Instinto Humano de Robert Winston; e O Pensamento de animais e intelectuais: evolução e epistemologia de Denis Werner.
Na lista de links constam o Center of Evolutionary Psychology, o The Human Behavior & Evolution Society, o The International Society or Human Ethology, O Instituto do Milênio, o Laboratório de Psicologia Comparativa e Etologia da USP, e a Sociedade Brasileira de Etologia. Todos esses links e outros se encontram na lista de links do MARCO EVOLUTIVO.
E no fechamento a Doutora Cibele Biondo faz um brilhante balanço dos textos publicados, da contribuição da visão biologicamente cultural da Psicologia Evolucionista para a Psicologia e Ciências Humanas bem como enquanto campo frutífero de pesquisa em plena expansão mundial e nacional.
No geral o grupo trabalhou muito, dentro do prazo editorial curtíssimo, e fez um ótimo e inédito trabalho de esclarecimento público, porém alguns erro editoriais apareceram, pois não tivemos acesso à versão editada pronta para a publicação. Os erros foram desde grandes atribuições errôneas de autoria a até pequenos detalhes dos textos principalmente nas legendas de figuras. Mas que no geral não desmerece todo o esforço e entusiasmo depositado nesta empreitada nova tanto para muitos autores quanto para a divulgação científica nacional.
Todos estão de parabéns pesquisadores, divulgadores e editores pelo magnífico presente aos leitores brasileiros. Boa Leitura!

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