Xaveco Furado da TV sobre a Química do Amor

Agradeço a todas as parabenizações recebidas sobre a notícia da minha entrevista no Jornal da Cultura, mas para aqueles que não assistiram fiquem sabendo que eu não apareci! E eu até achei muito bom porque o que eu temia aconteceu: a edição da matéria ficou demasiadamente apelativa e sensacionalista. Eles optaram por excluir a opinião de um especialista deixando apenas a opinião de quem realmente entende do assunto: o público leigo apaixonado que é mais facilmente manipulável por jornalistas do que cientistas divulgadores de ciência.

Para muitos jornalistas que fazem divulgação científica, a felicidade está em ser justo com o público. Até aí eu também concordo, o problema é que pra eles ser justo significa mostrar sempre “os dois lados da questão” da forma mais sensacionalista possível. Mas pra mim, ser justo é: se não for contribuir para o bom entendimento do tema pelo menos não promova um desserviço para seu entendimento.

Eles já se eximiram da tarefa educativa dizendo que são apenas divulgação e entretenimento. Então daí para tratarem os cientistas como frios e calculistas que acham absurdamente que o amor, esse sentimento tão enternecedor, possa ser algo meramente químico, como a fria tabela periódica, é só um pulinho. Deu pra ver quais são “os dois lados da questão”? E o meu papel nesse teatrinho era dizer que o amor não é sentimento nem poesia, mas sim química!

Mas afinal, por que falar em química do amor soa tão reducionista? Porque ao dizer isso se está omitindo irresponsavelmente os dois grandes saltos contra-intuitivos que ligam naturalmente a tabela periódica ao amor. Com isso se está induzindo as pessoas a concluírem que o salto é absurdamente maior do que a perna, o que é sinônimo de explicação forçada e muito pretensiosa. Além de contribuir para o analfabetismo científico está se reforçando uma reputação desmerecidamente danosa ao cientista e à ciência.


O primeiro salto está na passagem da química para a química orgânica. A química orgânica é a química + história evolutiva, ou seja, um hormônio neurotransmissor como a ocitocina não tem apenas a físico-química como o sal de cozinha, ele tem também função biológica intrínseca, foi projetado cegamente pela seleção natural por desempenhar melhor uma tarefa. Esse detalhe nos permite entender toda a complexidade e especificidade biológica das biomoléculas passando pelos os órgãos até aos organismos sem precisar postular nenhuma ajudinha mágica de cupido algum.

O segundo salto está na relação entre o que acontece no cérebro e o que sentimos na mente. Cérebro e mente são os dois lados inseparáveis da mesma moeda, um é o hardware, o motor e o outro é o software, seu funcionamento. O mesmo conceito fundamental da linguagem de processamento de informação explica o funcionamento do computador e da mente. E assim como o Word é um programa especificamente projetado para executar uma função, os módulos cognitivos que compõem a adaptação mental do amor foram cegamente projetados pela evolução para executar sua função. E do mesmo jeito que Word não é só elétrons passando na placa mãe, mas sim muitas regras de programação, o amor não é só neurotransmissores, mas sim muitos vieses de raciocínio e sentimentos poderosos.

Todos sabemos que a biologia do comportamento humano é facilmente destorcida, e por isso muito mal vista. Precisamos perceber que somos mais dominados por mal-entendidos do que por genes ou substâncias químicas quando o assunto é biologia do comportamento humano. Se você preferir continuar a ser cada vez mais facilmente ludibriado por retórica então saiba o que fazer para transformar seu pensamento crítico em pensamento críptico aqui. Mas se preferir resolver tais mal-entendidos então sempre desconfie das manchetes sobre ciência do comportamento humano.

Espero que ainda nesse século XXI vejamos um real amadurecimento da divulgação científica no Brasil. E tomara que eles percebam que é feio ficar só piorando a tradução das matérias, já perigosamente simplificadas, das agências de notícias estrangeiras. Em suma: não deixe que a má divulgação atrapalhe sua química com a ciência.

Meu coração, eu SEI porque!!

É um prazer comunicar a todos que hoje a noite, sábado dia 10/01, este que vos escreve aparecerá em um entrevista no Jornal da Cultura. O motivo é um artigo de opinião de uma página que o pesquisador Larry J. Young do National Primate Research Centrer na Universidade de Atlanta escreveu na Nature sobre a neuroquímica do amor.

O autor aponta as mais recentes descobertas no sentido de descrever as vias neuroquímicas envolvidas no apaixonamento e no amor. Os coadjuvantes são a ocitocina e a vasopressina. E é claro que ele cai no fetiche more das causas próximas: conhecer para controlar. Diz que no futuro teremos medicamentos que nos farão apaixonar por alguém e desapaixonar como se fosse uma febre.
Existem vários pontos aqui importantes de serem ressaltados. Não é de hoje essa busca por afrodisíacos mais eficazes. Do chifre de rinoceronte às placas do pangolim passando pelo olho de boto muito da nossa biodiversidade é agredida pela taradice humana. É bem mais barato e ecologicamente correto explorar os afrodisíacos contextuais e comportamentais do que acreditar em analogias superficiais com a rigidez de partes animais ou remédios milagrosos. Um simples abraço já libera ocitocina capaz de fortalacer os laços da relação, pense nisso.
Outra coisa, não precisamos temer o tanto assim o uso indevido de perfumes com feromônios e outras traquinagens científicas aplicadas, pois para toda estratégia existirá sempre uma contra-estratégia! E quanto mais eficaz a estratégia mais rápido surgirá uma a defesa. Pelo mesmo motivo que os pesticidas nunca vão eliminar as pragas e os antibióticos quanto mais usados menor o efeito. Nessa vida estamos correndo pra ficar no mesmo lugar, é o que nos ensina a rainha vermelha de Alice no País da Maravilhas.
Já está na hora de pararmos de acreditar literalmente que o amor foi inventado pelos trovadores ocidentais, que ele está no coração, depende do cupido e que no máximo a ciência vai acabar com a magia, beleza e mistério amor. Poesia e ciência não são incompatíveis só não podem ser confundidas. Muitas vezes o conhecer é até mais belo do que o desconhecer, e além do mais nunca iremos esgotar com os mistérios do universo, mas todo mistério está sujeito a ser decifrado. Então se depositarmos nossas angustias, nossa estética e ou até nossa religião em desconhecidos específicos estamos correndo o risco de nos desapontarmos no futuro.
O amor é uma adaptação mental universal da espécie humana e atua por vias muito conservadas filogeneticamente. Desista da imagem de nossos ancestrais puxando suas amadas pelo cabelo e perceba que muitos animais apresentam fortes capacidades de vinculação amorosa. Tanto que Helen Fisher, uma antropóloga que estudou a fundo amor em suas mais diversas manifestações, psicológica, antropológicas, evolutiva e neurológica chega a sentir se mal pelo frango em seu prato no jantar por saber que até estes possuem a capacidade neurológica para amar.
Todas as manifestações mais maravilhosas do amor e as mais nefastas também, não são pra mim proezas meramente químicas, mas sim proezas evolutivas. Os neurotrasmissores não estão milagrosamente e casualmente dispostos em nosso cérebro. Eles são as vias pelas quais a cognição amorosa funciona, devidamente instalada em nossa mente pela evolução e seleção sexual. Como a evolução não faz nada a partir do zero os mecanismos do amor romântico foram cooptados dos mecanismos de vinculação mãe-bebê. Daí podemos entender essa mania dos amantes de se tratar de forma infantilizada.
Helen Fisher, em suas palestras interessantíssimas no TED, aponta três mecanismos envolvidos no amor romântico: a luxuria, desejo de satisfação sexual; amor romântico, exaltação e obsessão do estar apaixonado; e o apego amoroso, a sensação de calma, paz e segurança na presença do ser amado. Ela teme que com o uso descontrolado de antidepressivos, os quais atuam nas mesmas vias neuroquímicas do amor, possam tornar as pessoas incapazes de amar. Um efeito colateral considerável.
Mais importante é não acharmos que a ciência vai dar desculpas para atos danosos. Nossas responsabilidades e culpabilidades estão intactas não importa o que os cientistas descubram sobre a neuroquímica ou a genética do amor ou qualquer outro comportamento humano. E não podemos  esquecer que a beleza e fascínio do amor serão sempre um prato cheio para os apaixonados, sejam poetas ou cientistas.
Abaixo estão dois vídeos bem informativos da Kate Bohner sobre a Biologia do amor como prova do nosso amor pela ciência da paixão.

Feliz 2009 Primata!

Ano novo chegando e já vem prometendo muitos acontecimentos estelares. Hoje, 8 de janeiro, dia em que nasce o astro Elvis Presley e morre o astrônomo Galileu Galilei é um bom dia para se pensar no ano de 2009. Considerado por muitos, Ano Internacional da Astronomia e Ano de Darwin, o centro gravitacional da Biologia.

Estão previstas muitas comemorações pelo mundo, muito congraçamento científico de qualidade, muitos congressos internacionais ocorrerão no Brasil e muita ciência será levada para o cotidiano do primata humano.
Gostaria de abrir o ano com uma reflexão provocadora: Para quantas pessoas não-humanas você já desejou um feliz 2009? Pois é, taí algo para se pensar. Por que, entra ano e sai ano, e não vemos muitos esforços para se estender as fronteiras da nossa consideração ética abarcando as outras espécies. Para quantos seres vivos você deseja um bom ano novo?
Não espero que ninguém mergulhe nas áquas do mar da África do Sul para desejar feliz ano novo para o celacanto. Até porque como ele é um fóssil vivo, com ele o negocio é mais pra feliz interglacial novo. Mas podemos de início começar a pensa naquelas espécies que estão mais próximas de nós, seja proximidade espacial seja filogenética.
Dawkins apresenta no vídeo abaixo sua posição em favor dos direitos dos gorilas, não como um cientista estudioso do comportamento animal, mas como um ser humano. E por que não primata, né? Considerações éticas são baratas, estão ao alcance de todos, fazem bem pra saúde e não estão necessariamente atreladas a religião. Espécies não são essencialmente distintas, são um grande contínuo de parentes. Alguns animais são capazes de pensar, inclua-se nesse grupo seleto e se descubra em meio a todos eles.
Invente tente, se veja diferente num ano novo mais abrangente. Ainda há tempo. Feliz ano novo primata.

África no Ambiente de Adaptabilidade Evolutiva

A espécie humana é africana. E nessa Blogagem Coletiva estamos escrevendo sobre a África, onde evoluímos, onde diversas pressões seletivas locais agindo em conjunto moldaram nossa mente. E nossa mente é um conjunto de mecanismos para processamento de informação que foram moldados pelo processo evolutivo para a resolução de problemas enfrentados em nosso ambiente ancestral.
O Ambiente de Adaptação Evolutiva não é necessariamente um lugar específico, como a África, ou um hábitat específico, como a savana, mesmo que lugares ou habitats possam eventualmente fazer parte dele. O Ambiente de Adaptação Evolutiva é uma composição de propriedades adaptativas relevantes que atuaram para cada espécie.
Funciona como um ambiente hipotético onde todas as propriedades que geraram as principais pressões evolutivas em nossos ancestrais estivessem presentes. Se caracterizarmos bem esse ambiente, podemos avaliar qual eram os dilemas evolutivos que mais pressionaram os membros das populações ancestrais, há cinco mil ou dez mil gerações atrás.
Seguindo a perspectiva do Ambiente de Adaptação Evolutiva, nossas características funcionais mentais seriam aquelas adaptadas a um ambiente social caracterizado por uma estrutura de sociedade caçador-coletor nômade existente no período Pleistoceno de 200 mil a 12 mil anos antes do presente. Os grupos humanos ancestrais apresentavam baixa densidade populacional, caracterizados por agrupamentos baseados no parentesco atingindo cerca de 200 pessoas. Os grupos apresentavam uma tecnologia simples, alta mortalidade infantil e baixa expectativa de vida. Alta vulnerabilidade ambiental e poucas opções de estilos de vida.
Os principais problemas adaptativos que nossos ancestrais enfrentaram foram: Problemas de sobrevivência e crescimento, caracterizado pelos desafios existentes até se chegar ao momento da reprodução, como detecção de animais perigosos; preferência alimentar e a detecção de alimentos contaminados entre outros. Problemas de acasalamento, ou seja, selecionar, atrair e reter um parceiro amoroso e executar o comportamento sexual requerido para o sucesso da reprodução. Problemas de parentais, ou seja, fazer com que a prole sobreviva e cresça até o momento da reprodução. E por fim existiam os Problema da ajuda à parentes caracterizado pelas ajudas na reprodução dos parentes e filhos de parentes.
Aqui estamos nós, uma espécie com uma mente calibrada para um ambiente caçador-coletor ancestral que se auto-introduziu em vários outros ambientes do mundo. E sempre que uma espécie é introduzida muito desequilíbrio ecológico ocorre, seja por ela não estar adaptada aos novos desafios seja pelo desbalanço nas relações ecológicas existentes. Boa sorte ao nossos descendentes.

Coevolução e Seleção Sexual no Caso da Vespa Tarada

Quer saber por que é muito mais fácil que vírus de computador se multipliquem via sites pornô? Então se ponha no lugar de uma vespa macho e desvende as relações entre a coevolução e a seleção sexual.
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As mudanças evolutivas recíprocas são o foco dos estudos coevolutivos. A coevolução pode ser definida como “mudanças evolutivas em um atributo de uma população em resposta a um atributo dos indivíduos de uma segunda população, seguido por uma resposta evolutiva da segunda população à mudança da primeira” (Janzen, 1980). Os estudos coevolutivos analisam os resultados diferentes tipos de interações entre populações que na maioria das vezes são entendidas como populações de espécies diferentes (Thompson,1989), mas populações dentro da mesma espécie, como macho e fêmeas, também coevoluem.
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Inicialmente o conceito de coevolução foi usado indiscriminadamente ao se referir a qualquer interação entre diferentes populações (Janzen, 1980). Atualmente o conceito está muito mais bem delimitado, reservado apenas para mudanças evolutivas claramente recíprocas, específicas e simultâneas. Tais pressupostos são facilmente contemplados se pensarmos na coevolução entre machos e fêmeas da mesma espécie.
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Nas espécies de reprodução sexuada, machos e fêmeas interagem específica, recíproca e simultaneamente ao longo de um amplo período evolutivo, o que possibilita a fácil exploração dos produtos e processos envolvidos nessa coevolução. Desta constatação é possível reconhecer a importância de se olhar para mudanças evolutivas recíprocas intra-específicas proporcionadas pela seleção sexual para o estudo da coevolução entre espécies diferentes.
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Os primeiros etólogos costumavam olhar os rituais de corte e acasalamento como uma associação harmoniosa, na qual machos e fêmeas cooperavam preenchendo funções de interesse comum aos dois sexos, tais como a “sincronização da receptividade sexual”, a “consolidação da ligação” ou ainda a “identificação de co-específicos”. Da mesma forma, como os primeiros ecólogos olhavam para a interação entre as diferentes espécies também como uma associação harmoniosa. Atualmente, a ênfase está colocada mais nos conflitos de interesse entre machos e fêmeas. Assim como se admite que ambos os sexos façam uma aliança incomoda, na qual cada um tenta maximizar o próprio sucesso na propagação dos genes, cada espécie envolvida num evento de coevolução também enfrenta conflitos de interesse (Krebs & Davies, 1996).
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A dinâmica coevolutiva entre machos e fêmeas pode abarcar a coevolução entre planta e polinizador, como é o caso do mimetismo sexual e a pseudocópula que ocorre na polinização das orquídeas do gênero Ophrys. Conhecido como mimetismo pouyanniano ou sexual ocorre quando uma flor de orquídea apresenta a forma, coloração (Spaethe, Moser & Paulus, 2007) e cheiro de acasalamento (Ayasse, Schiestl, Paulus, 2003) da fêmea de alguma espécie de abelhas na maioria dos casos, e na minoria, de vespas ou besouros todos espécie-específicos. Isso faz com que o macho da respectiva espécie seja atraído à flor para copular, o que acaba por dispersar as políneas para outros estigmas concluindo a polinização. O ajuste coevoluído não é apenas espacial, mas temporal. A atração dos machos pelas flores miméticas ocorre num período em que as fêmeas ainda não estão receptivas, ou às vezes nem disponíveis ainda.
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Recentemente, Schiestl e Cozzolino (2008), por meio de análises filogenéticas e comparativas em 18 espécies diferentes, encontraram indicações de que os alcanos presentes nos odores atrativos das orquideas Ophrys miméticas são características já presentes nos ancestrais do gênero. Tais compostos podem ser tidos como preadaptações existentes nas flores que evoluíram diversificando e intensificando-se ao entrar de carona na dinâmica química da seleção sexual coevoluída de insetos explorando, manipulando e às vezes superestimulando as preferências sensoriais e comportamentais dos machos.
Realmente os machos são manipulados pelas flores sem nenhum benefício em troca. Entretanto, após algumas tentativas passam a evitar o convite tentador das orquídeas, pois apenas machos inexperientes são enganados, e isso faz com que as orquídeas tenham menos oportunidades de polinização levando a uma maior pressão seletiva para o aumento da sua ornamentação (Andersson, 1994; Spaethe, Moser, Paulus, 2007).
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Segundo a teoria biológica da sinalização, os sinais evoluíram no emissor por manipular o comportamento do receptor em benefício próprio. Os sinais apareceram como instrumentos de manipulação, conduzindo assim, uma corrida armamentista entre a resistência à manipulação dos receptores e o poder de persuasão dos emissores (Krebs & Davies, 1996). Os machos polinizadores das orquídeas Ophrys estão evoluindo no sentido à resistência do sinal apresentado pela flor, porém sendo este muito semelhante ao sinal da fêmea da própria espécie, sua aptidão começa a diminuir a partir que eles começam ficar insensíveis às próprias fêmeas. Eles então estão presos em duas dinâmicas coevolutivas uma intra e outra interespecífica que fazem com que cada vez mais as orquídeas desse grupo fiquem mais perecidas com as fêmeas.
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Abaixo veremos no primeiro vídeo Sir Richard Dawkins narrando uma cópula alucinada de um macho vespa tarado por uma orquídea pra lá de sensual: compare na foto ao lado a orquídea poposuda e a fêmea que ela mimetiza. E no segundo veremos pela NewScientist que as orquídeas australianas que levam a vespa ao clímax do orgasmo tem mais chances de polinização.

Referências
Andersson, M. (1994). Sexual Seletion. Princeton: Princeton University Press.
Ayasse, M.; Schiestl, F. P.; Paulus, H. F. (2003). Pollinator attraction in a sexually deceptive orchid by means of unconventional chemicals. Proceedings Royal Society of London B, 270, 517–522.
Janzen, D. H. (1980). When is it coevolution? Evolution, 34(3), 611-612.
Krebs, J. R.; Davies, N. B. (1996). Introdução a Ecologia Comportamental. São Paulo: Atheneu.
Schiestl, F. P.; Cozzolino, S. (2008). Evolution of sexual mimicry in the orchid subtribe orchidinae: the role of preadaptations in the attraction of male bees as pollinators BMC Evolutionary Biology, 8:27
Spaethe, J.; Moser, W. H.; Paulus, H. F. (2007). Increase of pollinator attraction by means of a visual signal in the sexually deceptive orchid, Ophrys heldreichii (Orchidaceae). Plant Systematic and Evolution. 264: 31–40.
Thompson, J. N. (1989). Concepts of Coevolution. Trends in Ecology and Evolution. 4(6), 180-183.

Evolucionismo de Prato Cheio

Todo bom aniversário tem sempre a parte mais esperada: o bolo! E o MARCO EVOLUTIVO não poderia passar o mês de novembro sem brindar seus leitores um delicioso bolo do melhor sabor evolucionista. Vamos saborear um vídeo dividido em quatro partes de 10 minutos cada feito apenas com ingredientes naturais selecionados naturalmente. São cinco as celebridades evolucionistas convidadas para fazer parte desse bolo.

Para que não falte ceticismo e racionalismo evolutivo na massa, teremos Richard Dawkins. Para que não esquecermos da sustância filosófica darwinista teremos Daniel Dennett. Para que tenha bastante comparação entre diferentes espécies teremos Jared Diamond. Para que a evolução da mente humana seja contemplada teremos Steven Pinker. E para dar liga científica e bem humorada à discussão teremos Douglas Adams, o nosso eterno mochileiro das galáxias falecido em 2001.
No primeiro vídeo, Dawkins fala sobre o poder da explicação Darwinista. Dennett fala do aumento da complexidade na paisagem do design. Diamond do Darwinismo aplicado à história e das relações entre a seleção natural e a sexual, citando o exemplo dos nossos queridos Bowerbirds.
No segundo vídeo, Dennett fala da evolução darwinista ocorrendo até na cosmologia, também fala da diferença entre a noção dualista e mística top-down dos que acreditam nos ganchos celestes para explicar o design dos seres vivos e a noção monista materialista botton up das gruas ou guindastes que fazem o mesmo serviço sem postulações metafísicas. Diamond fala da evolução do peixe elétrico e do sonar dos morcegos e do radar dos golfinhos. Daí Dawkins explica o posto de vista dos genes, temos que pensar no “sucesso” para os replicadores e não nos seus veículos.
No terceiro vídeo, Pinker explica o modo de pensar da engenharia reversa em que você já tem o dispositivo e precisa descobrir pra que serve e como foi projetado. Ele fala da Psicologia Evolucionista, usando a percepção visual e as estratégias reprodutivas como exemplos de adaptações mentais. E como exemplo de fenômenos não adaptativos cita a religião, os sonhos a homossexualidade, a homofobia e a música (ponto em que discordo dele). Então, Dennett defende o adaptacionismo para a música (eba!). Daí Pinker fala do misterioso prazer da música. E depois fala da teoria da mente e da intencionalidade.
No quarto e último vídeo, Dawkins fala de um possível valor adaptativo da religiosidade com a propensão das crianças de seguir a fé dos pais. Douglas Adams fala da falta de valor adaptativo sobre o dinheiro. Dennett fala, no contexto da religião, da pena mágica que fazia o Dumbo voar e que quando ele soltou continuou voando. E também da idéia errônea de que os evolucionistas estariam acabando com a magia da vida. Nisso Adams continua o assunto sobre a religião e a ciência que é um prato cheio.
Espero reservem um tempinho pra desfrutar da overdose evolucionista desse bolo de aniversário do MARCO EVOLUTIVO.

Bowerbirds e a Arte de Seduzir II

É claro que na festa de aniversário do MARCO EVOLUTIVO estaria presente um grande artista dando um show. Conhecemos os bowerbirds em post anterior e vimos também a força da seleção sexual na evolução de ornamentos estéticos extra-corpóreos. Essa mesma seleção sexual no caso do Lyre bird pressionou a evolução de uma enorme capacidade de imitação vocal, que é muito difundida por entre as exibições sexuais de macho de muitas espécies, inclusive nos bowerbirds. Então será que é possível que ambas as formas de exibição possam estar relacionadas? E qual das duas as fêmeas gostam mais?
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Um artigo na Biology Letters nos responde a essas questões e mostra como as habilidades de construção estão relacionadas com as de imitação. Coleman et al (2007) mostraram que as preferências das fêmeas podem favorecer tanto a acurácia quanto a complexidade das exibições de imitação vocal de macho satin bowerbird, um espécie de olhos azuis que adora objetos azius.
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Eles testaram duas hipóteses sobre a função da imitação vocal em população natural de satin bowerbird. Segundo a hipótese da acurácia da imitação, as fêmeas acessam a qualidade e fidedignidade da imitação na escolha de parceiros, então a acurácia da imitação estará positivamente relacionada com o sucesso no acasalamento. Segundo a hipótese do tamanho do repertório, as fêmeas acessam o número de diferentes imitações vocais do macho quando escolhem parceiros, então o sucesso no acasalamento estará positivamente relacionado à quantidade de diferentes espécies imitadas pelo macho.

Por meio de comparações espectrográficas das exibições de imitação da corte do macho satin bowerbird com os cantos das espécies imitadas eles apoiaram ambas as hipóteses. Tanto a acurácia quanto o número de espécies imitadas contribuem positiva e independentemente para o sucesso no acasalamento do macho. A regressão múltipla mostrou que o número de espécies imitadas explicou 58% da variação no sucesso de acasalamento, mais do que a acurácia da imitação, que foi responsável por 38% da variação no acasalamento.
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Além disso, eles encontraram que tanto a acurácia quanto a variedade de cantos imitados estão positivamente correlacionados outros elementos da exibição masculina sabidamente importantes para o sucesso no acasalamento, como a qualidade do ninho construído e a atratividade de sua decoração. Tanto que a acurácia da imitação e a variedade de espécies imitadas explicaram mais o sucesso no acasalamento do que a qualidade e a decoração do ninho. Apesar de que a acurácia da imitação e a variedade de imitações não estarem relacionadas com a carga de ectoparasitas e nem as condições corporais, tais parâmetros podem prover às fêmeas informações importantes sobre a qualidade do macho quando jovem, época em que aprendem e refinam suas exibições sonoras.
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Agora veja no primeiro filme as artimanhas que os machos satin bowerbird usam para acumular objetos azuis para decorar seu ninho e por sua vez impressionar a fêmea. No segundo e no terceiro vídeo note a variedade de imitações de cantos diferentes que eles fazem na hora da corte. E neste link veja Sir David Attenborough falando sobre a extraordinária capacidade de construção e de decoração estética dos bowerbirds.

Referência
Coleman, S. W.; Patricelli, G. L.; Coyle, B.; Siani, J. & Borgia, G. (2007) Female preferences drive the evolution of mimetic accuracy in male sexual displays. Biology Letters, 3, 463-466.

Eventos Evolutivamente Relevantes I

Nesse post comemorativo apresento a vocês eventos imperdíveis e relevantes para as comemorações do ANO de DARWIN em 2009.

Acabei de voltar do VI Encontro Anual de Etologia, um evento em que evolução e comportamento andam sempre juntos. Nesse ano o tema foi “Bem estar animal e humano: a questão etológica da valorização da vida” e certamente em novembro de 2009 as comemorações evolucionistas estarão presentes. Fiquem de olho na página da Sociedade Brasileira de Etologia.

Para aqueles do Norte e Nordeste nessa sexta feira dia 21/11 na UFPA em Belém, o Grupo de Estudos avançados em Psicologia Evolucionista em conjunto com o Projeto Milênio de Psicologia Evolucionista promoverão o evento “150 anos da Teoria da Evolução”. Tem o objetivo de celebrar a elaboração do paradigma da evolução a partir da discussão de sua história, suas proposições e suas implicações atuais.
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A primeira palestra será sobre “A Origem do Origens das Espécies” por Dr. Horácio Higuchi, a segunda será sobre “Os Tipos de Seleção Evolutiva” pelo especialista Fernando Pimentel e no final terá uma mesa redonda interdisciplinar sobre “As aplicações contemporâneas do paradigma da evolução: paleontologia, psicologia e computação” com falas de Dr. Vladimir de Araújo Távola, Dra. Regina Brito e pelo Ms. Otávio Noura.
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O evento será na manhã do dia 21, a inscrição é gratuita pelo e-mail: geape.ufpa@gmail.com e tem certificado departicipação. Mais informações no site do Milênio de Psicologia Evolucionista.

Aniversário de Um Ano do MARCO EVOLUTIVO

Nesse novembro o MARCO EVOLUTIVO faz um ano de existência. Viva!! E com certeza é um marco na divulgação científica sobre evolução do comportamento humano. Estou muito feliz pelos muitos leitores, muitos elogios e incentivos que venho recebendo desde 28 de novembro de 2007. Não tenho muito tempo para escrever nem responder todos os comentários, mas estou sempre acompanhando as contribuições, que são sempre bem vindas. Agradeço ao Rafael do RNAmensageiro que me incentivou a começar o blog e à Isabella do CientíficaMente que sempre me apoiou.

Resumidamente nesse um ano o MARCO EVOLUTIVO foi acessado não só por pessoas no Brasil, mas em vários países do mundo. Acessaram mais de 10 vezes pessoas em Portugal, Estados Unidos, Moçambique, Angola, Espanha, Reino Unido, Holanda, Argentina, Japão, Canadá e Cabo Verde (em ordem decrescente de acessos). E o Português é a terceira Língua européia mais falada no mundo, elo de comunicação entre 200 milhões de pessoas. E para aquelas que não entendem o português podem usar o tradutor automático.
Os textos mais lidos na época do blogspot, em ordem decrescente eram: 1 – Revolução Genômica e Lei de Biossegurança 2 – 2009 o “ANO DA BIOLOGIA” 3 – Psicologia Evolucionista – Edição Especial Psique 4 – Dicas de Livros em Psicologia Evolucionista 5 – Lamarck – A Verdadeira Idéia Errada 6 – Somos dominados por genes ou por mal-entendidos? Os textos mais lidos na era Lablogatórios são: 1 – ANO DE DARWIN 2009 no Brasil 2 – Evolução Humana Facilitada 3 – Lamarck – A Verdadeira Idéia Errada e 4 – 2009 o “ANO DA BIOLOGIA”. E as palavras chaves mais usadas para chegar ao blog são “Psicologia Evolucionista” e “Evolução Humana”.
Agradeço aos Labrothers que me acolheram aqui nessa empreitada revolucionária da divulgação científica brasileira que é o Lablogatórios. Agradeço também ao Blogs de Ciência e ao Anel de Blogs Científicos pela visibilidade ao MARCO EVOLUTIVO e a todos os outros colegas que me linkaram. Agredeço ainda os convites para palestras em semanas de estudos feitos pelo pessoal da Psicologia da PUCCAMP e do Mackenzie e da Biologia da Unesp de Jaboticabal.

Espero estar contribuindo para uma divulgação científica original e contundente. Além de servir de referência para links e atualidades científicas relacionadas ao tema. E estar fortalecendo o conhecimento sobre o evolucionismo, principalmente quando aplicado ao comportamento animal, que também somos nozes.  Então, aguardem as surpresas evolutivas quentinhas que virão para esse mês de aniversário de um ano do MARCO EVOLUTIVO.

Diferenças Sexuais e a Seleção Sexual

Qual a relação entre a revolução darwinista, a seleção sexual, a origem das células sexuais e as diferenças psicológicas entre homens e mulheres? Eduard Punset, um dos mais famosos divulgadores de ciência de língua espanhola, nos mostra essas relações em uma entrevista brilhante com a Filosofa Helena Cronin. Além disso, são incluídos comentários interessantes de alguns pesquisadores da Universidade de Barcelona.

Enquanto andam por um parque em Londres eles conversam de forma descontraída e esclarecedora. O vídeo tem 29 minutos, todo em espanhol e começa abordando a seleção sexual e as características sexualmente selecionadas nos sexos, a beleza e o corpão violão das mulheres e a força e a competitividade dos homens. O mito do “quadril largo = boa parideira” é desacreditado e a proporção quadril/cintura é explicada como indicador de fertilidade nas mulheres.
Eles conversam sobre a Revolução Darwinista no panorama geral das ciências. Punset considera Darwin o maior cientista que já existiu. Helena considera fantástico como Darwin acabou com a dicotomia “acaso/designo” mostrando que entre as opções “acaso” e “projeto-com-projetista” existe a possibilidade darwinista de “projeto-sem-projetista”. E essa noção explica a origem do projeto dos seres vivos de forma natural sem a necessidade de explicações sobrenaturais metafísicas.
Depois eles conversam sobre as origens do sexo e voltando 800 milhões de anos atrás com o surgimento das primeiras células sexuais diferenciadas em maiores e menores. Helena explicar que machos e fêmeas surgem da solução do dilema de alocação de investimentos reprodutivos em acasalamento versus parental. E então abordam as diferenças psicologias entre homens e mulheres começando pelos meninos e meninas.
As diferenças entre comportamento de homens e mulheres é um assunto muito delicado, pois reações emocionais contras o sexismo por vezes atrapalham o entendimento sobre o tema. Isabella a bordou profundamente essa temática no CientíficaMente e ajudou a desfazer mal-entendidos. A dica é nunca confundir diferenças com desigualdade. Não precisamos ser clones idênticos para temos igualdades de direitos e oportunidades. Helena mostra como um melhor entendimento das diferenças na distribuição de cada característica, em que homens estão mais representados do que mulheres nos dois extremos da curva, nos ajuda a entender fenômenos ditos machistas. O interessante é ver no vídeo o que pensam meninos e meninas sobre as diferenças entre homens e mulheres.
Espero que gostem do vídeo.

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