Lamarck e a Evolução da Sociedade

Continuamdo em clima de Carnaval de Ciência sob o tema Lamarck venho conectar essa nossa discussão com uma acadêmica muito semelhante que aconteceu ano passado e vai continuar esse ano.
Trata-se do Ciclo “Evolução Darwiniana e Ciências Sociais”. Uma realização do Instituto de Estudos Avançados e do Núcleo de Economia Socioambiental (Nesa) da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. A coordenação coube a José Eli da Veiga, coordenador do Nesa.
Esse ciclo contou com 8 seminários sempre com dois debatedores trazendo sua especificidade e seu ponto de vista para a questão se a evolução cultura e econômica seria Lamarckiana ou não. O ciclo teve debates mensais, sempre com mesas híbridas (um pesquisador das ciências naturais ao lado de outro das sociais). A intenção foi que o conjunto de debates permitisse estabelecer uma espécie de “estado da arte” no âmbito das implicações do darwinismo para as ciências sociais (e não apenas para a economia).
Participaram como palestrantes os professores Ricardo Waizbort, Carlos Alberto Dória, Eleutério Prado, Cristina Possas, Eduardo Ottoni, Eliane Sebeika Rapchan, Marcelo Tsuji, Mario de Vivo, Alessandro Barghini, João Luiz Pondé, Eduardo Neves, Diogo Meyer, Mario Luiz Possas e Walter Neves.
Vídeos
O melhor de tudo é que as gravações em vídeos de todos os seminários do ciclo e os textos de referência de várias das exposições estão disponíveis no site do IEA. Mesmo se você perdeu pode assistir tudo inclusive as perguntas.
O balanço escrito das discussões ocorridas no Ciclo “Evolução Darwiniana e Ciências Sociais”, encerrado no dia 22 de novembro, estará no site do IEA em breve.

Lamarck – A Verdadeira Idéia Errada

Este texto faz parte do primero Carnaval de Evolução de blogs de Ciência lançado pelo Biólogo Átila do Transferência Horizontal. A idéia de um Carnaval é que vários blogs participem, todos postando sobre um mesmo assunto. Funciona assim: cada mês um Blog lança um tema e todos os outros escrevem sobre ele, então o Blog que lançou reuni todos os links numa postagem.
E o tema sobre evolução do carnaval deste mês é Lamarck. Mais específicamente: “Como seria o ser humano atualmente se Lamarck estivesse certo?”.
Ao meu ver o ser humano seria exatamente do jeito que é! Como assim?! Você pode pensar que se a herança de caracteres adquiridos fosse certa nós seriamos muito diferentes: as pessoas que perdessem qualquer membro teriam filhos também amputados, as pessoas que fizessem tatuagens teriam filhos tatuados, as pessoas que saberiam pilotar helicóptero teriam filhos pilotos, e assim vai! De qualquer forma o ser humano seria muito diferente, não é?!
Mas o que está implícito aí é toda uma geração de injustiças e preconceitos com Lamarck e suas idéias. Primeiro, Ernst Mayr deixa claro em Uma Ampla Discussão que esse nosso ranço atual para com Lamarck e até a nossa obssessiva identificação de Lamark com a herança das caracteristicas adquiridas é bem recente. É uma reação não aos Lamarckistas do século 19, do qual Darwin faz parte, mas aos neo-Lamarckistas do começo do século 20. “Numerosas tentativas foram feitas, após 1850, para substituir a teoria da seleção natural de Darwin por uma maneira melhor de se chegar à adaptação. As mais conhecidas dessas teorias são normalmente classificadas como neo-Lamarckistas (herança dos caracteres adaquiridos) o que inclui a ortogênese (um princípio perfeito intrínseco) e o saltacionismo.”
Foi August Weismann quem pôs fim de uma vez por todas às teorias neo-Lamarckistas espalhando esse ranço atual para com a heranças dos caracteres adquiridos, que era a idéia do Lamarck que eles mais frisavam. Weismann é uma das figuras mais importantes na história da biologia evolutiva. Se perguntarmos quem no século 19, depois de Darwin, teve maior impacto para a teoria evolutiva, a resposta inequívoca será Weismann. Por sua ampla rejeição à herança dos caracteres adquiridos, Weismann estabeleceu uma nova versão do Darwinismo. Ele suportou sua causa por meio de três linhas de evidência: não há mecanismo citológico que poderia efetuar uma transferência da linhagem somática para a geriminativa, por estarem separadas desde muito cedo no desenvolvimento embriológico; há muitas adaptações que não poderiam ter sido adquiridas por tal herança, como a casta de soldados das formigas e cupins; e todos casos reputados da herança dos caracteres adquiridos podem ser explicados pela seleção.
Tudo bem, percebemos que tanto a associação dramática entre herança dos caracteres adquiridos e Lamarck é mais recente do que o próprio Lamarck e que foi o ilustre pouco conhecido Weismann que pôs fim aos neo-Lamarckistas e nos legou esse asco da herança dos caracteres adquiridos. Até o próprio Darwin usou dos caracteres adquiridos para explicar casos como a cegueira dos peixes de cavernas. Além disso, introgetamos tanto esse asco que a nossa noção de herança ficou muito focada no gene. Mas esquecemos que herdamos organelas e todo o conteúdo celular, herdamos anticorpos via placenta e leite, herdamos nosso idioma, heramos todos um oceano cultural em que estamos imersos e herdamos nichos alterados pelos que nos antecederam.
Atualmente mais pessoas se tocam disso e consideram a importância da construção de nicho e sua herança, processo tão negligenciado no estudo da evolução. Incrivelmente foi o próprio Darwin quem começou a estudar a construção de nicho quando no final da vida trabalhou com minhocas e percebeu que as mais jovens já herdavam um solo mais trabalhado pelas anteriores. Lewontin no livro Tripla Hélice – gene, organismo e ambiente ressalta nossa visão estreita da noção de herança e aponta os caminhos da construção de nicho e suas implicações ecológicas e evolutivas.
Percebemos que, no sentido amplo, a herança dos caracteres adquridos não é uma idéia errada, muito menos é a principal idéia de Lamarck, já que Darwin também a usou. Agora percebemos que Lamarck não estava errado quando falou que os seres vivos evoluem nem quando falou da herança dos caracteres adquiridos. Daí toda a importância de se incluir comemorações ao Lamarck em 2009 no Ano Internacional de Biologia. Além do mais ele foi quem cunhou o nome Biologia. Tudo bem, mas então qual foi seu erro afinal?
O grande erro de Lamarck foi falar que a evolução era direcional e progressiva, que existia uma Grande Cadeia dos Seres dos mais simples e “menos evoluídos” até o mais Complexo e “Evoluído” Ser Vivo – o ser humano. Existem estudos detalhados mostrando as sutilezas da visão Larmackista da grande cadeia dos seres como “A cadeia dos seres vivos: a metodologia e epistemologia de Lamarck”. Percebam que essa é justamente a idéia de que evolução é igual a progresso. E está tão arraigada que falamos tranquilamente em seres inferiores e superiores ou menos ou mais “evoluídos”. E essa idéia é a mais errada e mais perigosa do que a herança dos caracteres adquiridos. Pois se nos acharmos os melhores não fará falta se destruírmos os outros seres menos complexos, não fará diferença se maltratarmos os seres menos “evoluídos”, não será estranho manipularmos como se fossem objetos os seres inferiores, e tudo será como exatamente está. Estamos poluíndo, acabando com a biodiversidade, desrespeitando e maltratando os outros seres vivos como se realmente fossemos os seres mais complexos e evoluídos do planeta.

Agora entendemos o porquê da minha afirmação: se Lamarck estevesse certo o ser humanos seria exatamente igual já é. Pois nos achamos os mais complexos seres da Terra, os mais “evoluídos”, o superior dos animais superiores. Alguns têm até a coragem de nos achar filhos de Deus, tamanho o egoísmo, auto-centrismo e especicismo-preconceito para com as outras espécies – que apresentam.
Espero que as pessoas se toquem e comecem combater a verdadeira ideia errada, antes que seja tarde de mais.
Veja também os outros textos desde Carnaval de Ciência em Viva Lamarck.

Somos dominados por genes ou por mal-entendidos?

Por Isabella Bertelli Cabral dos Santos e Marco Antônio Corrêa Varella.
Isabella Bertelli Cabral dos Santos é graduanda em Psicologia pela USP e bolsista em Iniciação Científica pelo CNPq em Psicologia Experimental. Possui o blog Científica Mente e é minha namorada.
A livre interpretação dos estudos formulados à luz da Psicologia Evolucionista tem provocado uma série de idéias equivocadas acerca do comportamento humano e da própria disciplina.
A Psicologia Evolucionista é uma área recente que tem enriquecido a investigação dos processos psicológicos e promovido o entendimento de inúmeros aspectos do comportamento humano. Como em toda ciência, existem muitas críticas pertinentes a ela. Contudo, grande parte das controvérsias com freqüência decorre de preconceitos e mal-entendidos por parte de pesquisadores de outras áreas, divulgadores científicos e do público em geral. É comum resultarem interpretações equivocadas, comumente veiculadas pela mídia, a partir de estudos realizados sob essa linha teórica.
Você já deve ter visto manchetes como “A linguagem é inata”, “Infidelidade está nos genes”, “Mães não teriam amor aos filhos, e sim à sua herança genética”, só para citar alguns exemplos. Ou provavelmente já leu alguma matéria sobre a evolução das diferenças entre homens e mulheres e achou tudo uma grande bobagem, pois isso nada tem a ver com genes, e sim com a cultura. Dizer que existem aspectos comportamentais herdados parece uma tentativa de naturalizar as diferenças e, portanto, de justificá-las. Mas será que é isso mesmo?

Teste seus conhecimentos sobre a Psicologia Evolucionista descobrindo o que ela não é.

A Psicologia Evolucionista…
  • … não diz que comportamentos adaptativos estão presentes no nascimento.

Essa visão inatista extrema não faz sentido nem para as adaptações anatômicas. Bebês recém-nascidos não têm dentes, barba ou seios, o que não implica em dizer que “aprendemos” a ter dentes, barba ou seios. Esses são produtos da evolução e isso inclui sua maturação e desenvolvimento também. Então, eles se desenvolvem no período em que promovem sua vantagem adaptativa: no caso dos dentes, depois do desmame, e no caso de barba e seios, na puberdade. O mesmo argumento é válido para o desenvolvimento de comportamentos humanos como gostar do sexo oposto e ajudar parentes. Não é porque nascemos sem interesse em escolher parceiros amorosos que formação de casais em humanos não envolve instinto algum;
  • … não diz que nosso comportamento é geneticamente determinado.

Genes não são deterministas implacáveis como no caso das ervilhas de Mendel. A expressão dos genes durante o desenvolvimento do sistema nervoso e durante o funcionamento de nosso cérebro muda constantemente em resposta a acontecimentos fora de nosso corpo. Os genes provêem os mecanismos para a experiência porque constroem os dispositivos cognitivos que nos capacitam a obter informações do ambiente. Temos propensões genéticas para aprendermos facilmente a falar em uma idade muito precoce, mas se não tivermos contato com falantes nós não aprendemos a falar. O que não implica em não sermos capazes de aprender outras línguas em outras idades. Não é porque não nascemos falando português que a linguagem não envolve predisposições cognitivas, assim como não é porque temos propensões cognitivas para aprender a linguagem quando crianças que não aprenderemos outros idiomas em outras idades;
  • … não diz que não temos flexibilidade comportamental.
Ter adaptações mentais não significa dizer que sempre faremos e agiremos do mesmo jeito. Pense em computadores. Imagine qual computador é mais flexível e faz mais coisas diferentes e de forma variada: aquele que não tem quase nenhum programa instalado e tem muita memória livre, ou aquele que já vem com muitos programas instalados? É claro que o mais flexível é aquele com mais programas diferentes instalados. Para o comportamento é a mesma coisa. Parece contra-intuitivo falar que se fossemos tábulas rasas não teríamos quase nenhuma flexibilidade comportamental. Mas ao pensar nos computadores fica claro que quanto mais módulos mentais tivermos, mais flexível e pluralista será nosso comportamento. Dizer que temos um programa de edição de texto ricamente instalado não implica em dizer que independente do que for digitado sempre sairá o mesmo texto da impressora;
  • … não diz que comportamentos são adaptações.

Comportamentos podem ser adaptativos, mas não herdamos diretamente comportamentos especificamente codificados ou programados. Nós herdamos as estruturas cognitivas, ou módulos mentais, que são as adaptações referentes ao comportamento. E são os módulos mentais na sua interação com o ambiente em que vivemos que produzem comportamentos dentro de cada contexto cultural. Voltando ao paralelo do computador, o que é herdado, ou seja, o que vem de fábrica não é o texto impresso, mas sim o programa de edição de textos. Portanto, o foco não recai sobre o comportamento manifesto, mas sim nas estruturas cognitivas que o geraram;
  • … não diz que não precisamos aprender nada.

Pensar que instinto e aprendizagem são coisas opostas, excludentes ou inversamente proporcionais é um erro muito comum. Trata-se do velho debate inato x aprendido. Justamente porque temos instintos é que somos capazes de aprender. Não somos umas espécie que aprende muito por que temos menos instintos, mas sim por que temos muitos. Os módulos mentais são abertos e ávidos por informações ambientais. Portanto, é pela via do aprendizado que manifestamos nossa natureza, e pela via da natureza que temos as propensões para aprender conteúdos culturais e assim participar do mundo social. No paralelo do computador é fácil perceber que até o programa de edição de texto está preparado para aprender, pois inserimos novos tipos de fontes, novas figuras. O programa aprende até palavras novas, se as adicionamos ao dicionário. E isso possibilita inclusive a impressão de mais textos diferentes, a partir de um único programa;

  • … não diz que a cultura não é importante.

Como a Psicologia Evolucionista reconhece que temos muitos módulos mentais, que são abertos e calibráveis, ou seja, plásticos e maleáveis pelo ambiente, e ainda, especializados em gerar e processar conteúdos culturais, segundo sua perspectiva, o ser humano é biologicamente cultural. A cultura não é algo antinatural alheio à biologia humana. A cultura é parte essencial da natureza humana, influencia e é influenciada por nossas adaptações mentais. Portanto, a diversidade cultural não é a prova de que o comportamento humano independe de adaptações mentais, mas sim de que nossas adaptações mentais são ricamente voltadas para os contextos culturais em que crescemos;

  • … não diz que as pessoas são idênticas nos comportamentos.

Assim como todas as pessoas têm um coração, dois pulmões, dois olhos e um estômago, todas as pessoas têm as mesmas adaptações cognitivas. A história de vida e o contexto ecológico-cultural de cada pessoa influencia seus órgãos, o que faz com que esportistas tenham coração e pulmões diferentes de fumantes. Assim como as adaptações mentais de cada pessoa também são fruto de uma interação única com seu ambiente, o que torna cada pessoa única. Mesmo que duas pessoas brasileiras tenham as mesmas adaptações mentais voltadas ao aprendizado da linguagem, e tenham o mesmo contexto cultural da língua portuguesa, elas podem ter sotaques e gírias diferentes segundo as regiões específicas em que cresceram. E isso não é a prova de que elas não têm adaptações mentais igualmente, mas sim de que suas adaptações mentais são abertas à informação ambiental que varia de região pra região;

 

  • … não diz que comportamentos adaptativos estão fora de nosso controle.

A Seleção Natural moldou filogeneticamente adaptações mentais que geram tanto comportamentos adaptativos mais controláveis – como a detecção de trapaceiros e a escolha de parceiros –, quanto os mais incontroláveis – como os medos. Decisões rápidas frente a riscos reais de morte, assim como medo de cobra ou de altura, são em geral mais incontroláveis, já que uma informação ambiental específica potencialmente letal dispara a reação adaptativa. Mas o fato de serem adaptativos e pouco controláveis não implica a impossibilidade de agirmos de modo a minimizar seus efeitos negativos. Saber qual informação ambiental influencia o aparecimento de tal comportamento – como ver uma cobra ou olhar para baixo na roda gigante – aumenta nossas chances de controlar por antecipação nossas tendências incontroláveis;

  • … não diz que todo comportamento atual é adaptativo.

 

Nossos módulos mentais foram selecionados no ambiente ancestral, ou seja, no ambiente de nossa adaptabilidade evolutiva e não no ambiente moderno e tecnológico atual. Então, pelo viés da Psicologia Evolucionista muitos de nossos comportamentos atuais são compreendidos como não adaptados, por estarmos deslocados de nosso ambiente natural. Alguns comportamentos que eram adaptativos no ambiente ancestral atualmente podem não ser, a exemplo de comer doces e gordura em excesso. No ambiente ancestral era adaptativo acumularmos o máximo possível de calorias em uma única refeição, pois não havia abundância de alimentos tal como ocorre hoje. Outros exemplos vão no sentido oposto. É o caso da prática de atividades físicas. Fomos selecionados em um momento em que fazíamos grande quantidade de exercícios físicos, pois o modo de locomoção era andar. Contudo, hoje, no ambiente urbano, sobretudo, há disponíveis facilidades como os vários tipos de veículos e até mesmo dispositivos como as escadas rolantes que auxiliam a locomoção humana. Isso implica em pouca mobilidade física e acaba gerando riscos para a saúde;

  • … não diz que as adaptações são perfeitas.

Mesmo se estivéssemos em nosso ambiente ancestral vivendo como caçadores-coletores nossas adaptações mentais seriam falíveis e imperfeitas. Se a seleção natural mantivesse um perfeito medo de cobras de modo a que as pessoas jamais saíssem de suas casas, seriam drasticamente reduzidos os casos de mortes por picada de cobra. No entanto, haveria um custo alto a pagar: a capacidade exploratória humana seria inexistente, o que resultaria em falta de alimento, e conseqüentemente nos levaria à morte. As adaptações não são perfeitas porque se fossem muito eficazes seus custos ultrapassariam seus benefícios à sobrevivência e à reprodução. Além disso, as pressões seletivas são cegas quanto a um objetivo final a ser atingido futuramente pela adaptação. Sendo assim, o modo como um problema adaptativo foi solucionado pela seleção natural, ou seja pelo relojoeiro cego, quase nunca equivale àquele pelo qual um engenheiro o solucionaria, partindo do zero e pensando em simplicidade, eficiência e economia. Somado a este fato, não se pode esquecer que as adaptações nunca são exatamente iguais dentro da população, ou seja, mesmo se ela tiver atingido um nível ótimo, este nível será melhor para alguns do que para outros, pois sempre existe uma variação individual, que é a matéria-prima da evolução;

  • … não diz que há genes para o egoísmo.

A abordagem do gene egoísta não é uma abordagem molecular para o egoísmo. O gene egoísta não é “aquilo” que pessoas egoístas têm. Muito menos a teoria diz que todos os genes têm desejos conscientes egoístas, como se eles só “pensassem” em si próprios. Os genes não possuem desejos conscientes. Eles simplesmente se auto-replicam. Aqueles que não se auto-replicaram não sobreviveram e não estão representados hoje. O padrão de auto-replicação cega produz resultados que por vezes são interpretados como se determinados genes tivessem interesse em ser mais representados nas próximas gerações. Tais genes não “têm” realmente esse interesse, mas agem cegamente como se tivessem. Trata-se de uma analogia com os interesses humanos. Usa-se a voz ativa e coloca-se intenção pessoal onde não há;

  • … não diz que as pessoas inconscientemente visam aumentar a replicação de seus genes nas gerações seguintes.

Confundir os interesses dos genes com os das pessoas é uma das principais confusões feitas com a Psicologia Evolucionista. Exemplo: “O adultério não pode ser uma estratégia para propagar os genes egoístas, pois os adúlteros tomam providências contraceptivas”. O desejo sexual e o desejo de ter filhos não são uma estratégia das pessoas para propagarem seus genes. São uma estratégia das pessoas para obter os prazeres do sexo e os prazeres de serem pais, e esses prazeres são a estratégia dos genes para propagarem-se nos filhos. Gene egoísta não implica em uma pessoa que faz tudo pensando em seus genes. As pessoas não pensam no que seria melhor pra seus genes, elas simplesmente comem pelo prazer de comer, pra matar a fome e por qualquer outra crença e desejo. Já os genes modelaram o desejo de comer quando se replicaram em pessoas que se alimentavam bem e conseqüentemente sobreviviam e reproduziam. O interesse dos genes e o interesse das pessoas estão separados por diferenças gigantescas em unidades de tempo. O interesse pessoal é pautado pelo hoje, ontem, amanhã, mês que vem, vida toda, enquanto o interesse do gene é pautado pela persistência de pressões adaptativas em sucessivas gerações no ambiente ancestral ao longo de milhões de anos;

  • … não diz que não somos livres.

Como você pôde perceber, nós vivemos em uma unidade de tempo mais rápida que a de nossos genes. Isso implica em não sermos dominados e controlados por eles. Somos livres para escolher não comer doces, se assim quisermos, e livres para seguir o propósito de não ter filhos, se assim o desejamos, livres para abdicar do sexo e até da própria sobrevivência. Temos esses pequenos viéses herdados em comer doce, ter filhos, praticar sexo e sobreviver, o que torna mais provável realizarmos tudo isso e mais difícil resistir a esses comportamentos, por sermos herdeiros de ancestrais que sobreviveram a ponto de deixar descendentes. Tais propensões foram moldadas no ambiente ancestral e não no atual. Então somos livres para fazermos o que bem entendermos agora com nosso corpo e com nossa mente.

  • … não é sexista ou machista.

A Psicologia Evolucionista vem descobrindo muitas diferenças psicológicas inéditas entre homens e mulheres. Essas descobertas têm gerado confusão e muitos apregoam ser esta uma teoria baseada em machismo ou sexismo. Essa confusão vem de três problemas: Primeiro, a generalização ingênua. Assim, dizer que os homens são, em média, maiores que as mulheres não significa que todos os homens sejam mais altos do que todas as mulheres. Dizer que as mulheres têm mais fluência verbal que os homens não quer dizer que todos os homens sejam praticamente mudos. Depois vem o preconceito. O preconceito ocorre quando ingenuamente julgamos a priori uma pessoa pela média dos atributos de seu grupo. Dizer que homens têm mais facilidade para a localização espacial não habilita ninguém a destratar, desmerecer ou desqualificar uma mulher por seu modo de dirigir. Finalmente vem a confusão entre diferença e desigualdade. Nenhuma diferença anatômica ou mental entre homens e mulheres implica qualquer julgamento de valor. Todos os seres humanos devem, por princípio, ter iguais direitos e oportunidades. Não há incompatibilidade entre sermos diferentes e termos garantias de igualdade de direitos;

  • … não embasa julgamentos morais, nem justifica nossas ações.

Confundir explicações científicas com recomendações ou justificativas morais é o erro mais perigoso, por seu forte conteúdo emocional. É conhecido como falácia naturalista e implica numa nivelação equivocada entre o “é” das explicações descritivas e o “deve ser” das recomendações morais. Enquanto cientistas – cientes de que todo conhecimento tem um grau de incerteza – usam o verbo “dever” no sentido de “haver uma probabilidade de” para explicar a previsão de uma possibilidade, como na frase “Se existirem componentes herdáveis na propensão ao estupro e se alguns estupros tiverem gerado filhos, então deve ter havido uma pressão seletiva favorecendo as propensões envolvidas no estupro”; Outras pessoas ouvem o verbo “deve” no sentido de “ser moralmente preferível” e acusam esses pesquisadores de estar justificando, ou naturalizando um ato brutal e criminoso, o que não é verdade. Não somos escravos das adaptações mentais, uma vez que a própria seleção por flexibilidade de repertório conforme o contexto favorece um controle consciente dos nossos comportamentos, como a infidelidade. E, sendo um ato consciente, ele não isenta a culpabilidade daqueles que, ao satisfazerem seus desejos irresponsavelmente, expõem parceiros a danos à saúde pelo sexo desprotegido e à confiança pela traição. Nossas propensões mentais não são desculpa para nenhum ato danoso;

Causas apontadas
Por que esses mal-entendidos acontecem com tanta freqüência? Provavelmente não existe uma resposta única. Diferentes explicações foram dadas, não necessariamente excludentes.


A primeira fonte de explicação foca a causa dos mal-entendidos em nossos próprios padrões cognitivos de processamento de informações. Temos a tendência a simplificar qualquer informação para reduzir a demanda por recursos cognitivos e um forte desejo de gerar previsões a partir de casos específicos, o que nos faz incorrer na generalização. Quando esses padrões cognitivos são usados na tentativa de entender a relação entre gene, ambiente e comportamento, facilmente caímos nas supersimplificações como “gene gay” ou “gene da felicidade”, na tentativa de se aplicar o modelo mendeliano, que é simples, ao comportamento, que não o é. O desenvolvimento ontogenético é uma complexa interação singular entre genes, seqüência temporal dos ambientes externos e eventos aleatórios. Por isso, ainda não foi desenvolvido um modelo didático para descrever a influência genética no comportamento de forma lógica, como no modelo mendeliano, em que um gene é igual a uma característica.

Outra fonte de mal-entendidos envolve a aparente simplicidade da teoria da evolução. A facilidade de apreender o conceito de seleção natural leva as pessoas a pensar que entenderam completamente a evolução depois de um rápido contato com a teoria. Saber o modo darwinista de explicar o tamanho do pescoço da girafa não garante pleno entendimento do evolucionismo, principalmente quando aplicado ao comportamento humano.
Isso contribuiu para o aparecimento de abusos que se seguiram ao surgimento da teoria da evolução, pautados em mal-entendidos. Nessa época, a teoria de Darwin ainda não contava com a genética, com estudos sobre comportamentos sociais de animais, com análises de custos e benefícios para as adaptações e nem com estudos sobre a cognição. Isso não permitia um arcabouço teórico adequado para o entendimento do comportamento humano sob bases evolutivas.
Além disso, a crença na pretensa neutralidade da ciência e o entusiasmo de sua aplicação à sociedade gerou abusos sociais. Um grande abuso, que comprometeu a reputação do evolucionismo perante as ciências humanas, foi o caso do darwinismo social por suas extrapolações equivocadas de idéias ditas evolutivas, mas que eram, no fundo, colonialistas, capitalistas selvagens, fascistas e racistas.
A reação a esses abusos foi o surgimento de uma longa tradição de negação da natureza humana nas Ciências Sociais do séc. XX e um isolamento conceitual, em que se considerava tudo o que envolvesse genes e comportamento como errôneo e contrário à liberdade. Surgiu daí a idéia de que a causalidade biológica é determinista e ruim, enquanto a causalidade ambiental preserva o livre-arbítrio, e, portanto, é boa. Você já deve ter ouvido comentários pejorativos sobre a “biologização” do comportamento e quão “determinista”, “fatalista” e “ingênua” é a visão biológica do comportamento humano.

Valores morais e condição animal

No âmago de todas essas controvérsias sempre esteve um grande temor humano: o de ser apenas mais um animal. Igualarmos-nos aos animais é muito difícil, pois sempre nos sentimos o ápice da criação divina, feitos à imagem e semelhança de Deus. Darwin abalou essa crença, provendo uma explicação para a nossa origem nos mesmos termos da origem dos outros animais e dos outros seres vivos. Se somos apenas animais, então, nada mais é sagrado? Onde ficaria embasada a moral, como o não matarás? O medo do desmoronamento dos valores morais sagrados andou lado a lado com a resistência às idéias evolucionistas.
Quando Copérnico nos tirou de centro do Universo a reação também foi de negação. Com o tempo, aprendemos que a esfera moral não é diretamente dedutível da esfera factual. Hoje convivemos muito bem sendo uma poeirinha cósmica na periferia na via Láctea e mantendo sentimentos morais. O mesmo deve acontecer com a Revolução Darwinista quando entendermos humildemente nossa igual posição na natureza. Entendermos que nós fazemos parte da natureza, somos animais, somos parentes de todo ser vivo: lactobacilo vivo, tripanossomo, champignon, brócolis e baleia. Não somos o “ápice” da vida, pois não existe animal superior ou inferior, já que o formato da evolução da vida na Terra não é uma escada e sim uma árvore em que cada ser vivo existente é o melhor de seu ramo.

Agora que sabemos algumas causas dos preconceitos e mal-entendidos e sabemos como resolvê-los, faça um teste: busque notícias sobre ciência que envolvam genes, comportamento e psicologia evolucionista e veja se consegue identificar algum mal-entendido. Será mesmo que depois de ler esse texto você já está “vacinado” contra os mal-entendidos? Você agora sabe dizer o que está errado quando se fala em linguagem e infidelidade inatas? Você ainda acha que estudar diferenças entre homens e mulheres na perspectiva evolucionista é dar base moral para a dominação masculina? Considera mesmo que o fato de sermos animais nos torna escravos dos nossos genes?

Esperamos que não, e que a partir de agora você seja um leitor mais atento e crítico, com esclarecimentos essenciais para entender a nova ciência Psicologia Evolucionista e assim se beneficiar do valor de suas explicações.
Lembre-se que Psicologia Evolucionista também não é…
  • …Psicologia Evolucionária, pois esta é uma tradução errônea do inglês Evolutionary Psychology.
  • …Psicologia Evolutiva, pois essa terminologia designa a Psicologia do Desenvolvimento. A teoria em que a Psicologia Evolucionista se embasa é evolutiva, logo a disciplina é evolucionista. Segundo um artigo que padroniza as traduções dos termos em inglês da área de Etologia publicado em 2002 por Yamamoto e Ades, Evolutionary Psychology no Brasil é Psicologia Evolucionista.

Referências
BUSSAB, V. S. H.; RIBEIRO, F. J. L. Biologicamente cultural. In M. M. P. RODRIGUES; L. SOUZA; M. F. Q. FREITAS (Orgs.). Psicologia: Reflexões (in)pertinentes. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.
LEWONTIN, R. A Tripla Hélice– Gene, Organismo e Ambiente. Companhia das Letras, 2002.
MEYER, D.; EL-HANI, C. N. Evolução: o sentido da biologia. São Paulo: UNESP, 2005.
OTTA, E.; RIBEIRO, F. J. L.; BUSSAB, V. S. R. (2003). Inato versus adquirido: Persistência de uma dicotomia. Revista de Ciências Humanas. Florianópolis, 2003. 34, 283-311.
PINKER, S. Tábula rasa. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
RIDLEY, M. O que nos faz humanos. Rio de Janeiro: Record, 2004.

Versão melhorada do texto “A Era dos Mal-Entendidos” publicado no Especial Psiquè Psicologia Evolucionista, ano II, nº 6.

Descobrindo a Árvore da Vida – Palestras no Rio

Todos sabemos que a Exposição Darwin: Descubra o Homen e a Teoria que Mudaram o Mundo está na Rio de Janeiro, visitando sua segunda cidade brasileira e Darwin visitando o Rio pela segunda vez. A Exposição Darwin do MASP teve 175 mil visitantes e 70 mil estudantes da rede pública e privada participaram do programa educativo. Seu Relatório de Atividades já está disponível no site da exposição.

O que nem muitos sabem é que o Brasil é o único país em que, paralelamente às Exposições DARWIN, ocorrem dois ciclos de palestras: o Infinitas Formas, que trata da temática da biodiversidade, e o Descobrindo a Árvore da Vida, que trata da vida e obra de Charles Darwin, sua influência nas diversas áreas do conhecimento e na visão contemporânea de mundo.
As palestras do ciclo Descobrindo a Árvore da Vida no MASP foram espetaculares, pois contou com pesquisadores brasileiros renomados. Mas infelizmente não foram capazes de lotar o auditório do MASP. Talvez por falta de divulgação, já que o conteúdo de ambos os ciclos fica escondido no ramo eventos culturais da árvore do site da Exposição.
Então, para que muitos cariocas não deixem passar essas oportunidades únicas e de graça, aí vão as palestras desse ciclo na exposição do Rio de Janeiro. Que ocorrem na livraria Travessa no Shoping Leblon, nas quintas-feiras às 20h.
Amanhã dia 06/03 será a palestra “Padrões na Natureza: uma visão evolutiva” com o professor Mário de Pinna – pesquisador Associado do American Museum of Natural History e da Smithsonian Institution. Esta já está esgotada garanta a sua reserva. Quinta-feira às 20h.
Dia 13/03 será a palestra “Três viajantes e a Teoria da Evolução” com o Armando Bittencuort Vice-Almirante Engenheiro Naval da Reserva. Diretor do Patrimônio histórico e Cultural da Marinha. Quinta-feira às 15h.


 

Dia 19/03 será a palestra “Darwin e a Seleção Sexual” com o biólogo, mestre e doutor em Letras Ricardo Waizbort que trabalha na Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz. Esta será numa quarta-feira às 20h e também já está esgotada é melhor correr nas reservas.
Dia 27/03 será a palestra “Aquecimento Global e a Consciência no Século XXI” com o professor Sérgio Vianna do Departemento de Economia da PUC-RIO. Quinta-feira às 20h.
Dia 03/04 será a palestra “Evolução Diante dos Nossos Olhos” com Paulo Buss especialista em corrida armamentista entre nosso sistema imunológico e os micro-organismos.


Dia 10/04 será a palestra “A Biologia Ajuda
na Compreensão do Comportamento Humano?” com o professor Titutlar César Ades, Psicólogo e Etólogo da Psicologia Experimental da USP e Diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP.
Todas as palestras são da alto nível e o melhor é que são abertas ao público interessado, nós!

Revolução Genômica e Lei de Biossegurança

Separados por menos de uma semana estão os dois acontecimentos nacionais em que as temáticas Ciências Biológicas, Biotecnologia, Biossegurança, Genômica e Células-Tronco estarão em foco e que, com certeza, vão mexer com a vida de muitos cientistas e não-cientistas.
Na quinta feira passada dia 28/02 foi o coquetel oficial de abertura da Exposição REVOLUÇÂO GENÔMICA . Essa Exposição tem um ancestral comum com a Exposição DARWIN que está no Rio, pois ambas vieram via Instituto Sangari do Museu Americano de História Natural. Nessa exposição são abordados principalmente biodiversidade brasileira, célula, DNA, células-tronco, clonagem e transgênicos. O discurso da exposição está acessível para várias idades e vários níveis de intimidade com o tema, além disso, existem educadores para esclarecer dúvidas e mediar o entendimento para todos.
A Revolução Genômica ficará no parque do Ibirapuera em São Paulo até o dia 13 de julho e espera alcançar 500 mil visitações. Depois ela rodará o Brasil por mais 10 cidades assim como está fazendo a exposição DARWIN. Todos os últimos domingos de cada mês serão de graça e em todos os finais de semana de hora em hora os visitantes poderão acompanhar no laboratório da exposição uma extração de DNA do morango. Escolas ou qualquer grupo de pelo menos 24 pessoas podem ligar para (11) 3468 7400 no horário comercial e agendar uma visita monitorada por toda a exposição passando até pela extração do DNA. Com isso espera-se que o brasileiro tome mais conhecimento sobre sua biodiversidade e sobre as possibilidades biotecnológicas da clonagem, dos transgênicos e principalmente das células-tronco.

E são as próprias células-tronco o tema da votação na próxima quarta feira dia 05/03. A Lei de Biossegurança, que autoriza a pesquisa científica com células tronco embrionárias, foi aprovada pelo Congresso há três anos. Mas foi questionada pelo então procurador-geral da República, Cláudio Fontelles, que entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal. Nesta quarta estará nas mãos dos 11 ministros católicos do supremo decidir sobre o futuro dessas pesquisas no Brasil, em uma sala que ostenta um grande crucifixo na parede.
Basicamente, aqueles contra a lei têm por base questões religiosas, enquanto aqueles a favor têm por base as possibilidades médicas que poderão se tornar reais na posse do conhecimento adequado do funcionamento das células-tronco embrionárias – as únicas totipotentes. Muitos grupos se manifestaram a favor, e com razão já que impedir a pesquisa por motivos místicos seria um retrocesso quase medieval. Mas infelizmente podemos flagrar o dedinho divino movendo a ação de inconstitucionalidade da Lei de Biossegurança, como deixa claro o site RNAm no texto Células-tronco: votação, bastidores e conspiração.
Essa votação e a ação religiosa me remetem às votações das leis eugênicas em países europeus e americanos durante o começo do século XX. As leis eugênicas eram coercivas, xenofóbicas e preconceituosas, pois estabeleciam que “a multiplicação dos débeis mentais era um perigo terrível para a raça” então todos aqueles minimamente enquadrados como mentalmente incapacitados eram esterilizados. Tais leis foram aprovadas primeiramente nos EUA e depois Suécia, Canadá, Noruega, Finlândia Estônia, Islândia e Alemanha também aprovaram. No entanto, em países onde a influência da igreja católica romana era forte não houve leis eugênicas.

As narrativas modernas da história da eugenia apresentam-na como um exemplo dos perigos de se deixar a ciência, especialmente a genética sem controle. Mas trata-se na realidade muito mais de um exemplo do perigo de se deixar o governo sem controle. Pois, apesar de todo cientista moderno reconhecer a eugenia como uma pseudociência, muito do que está errado com a eugenia não é ciência, mas coerção do Estado.
Quanto olhamos para essa votação da Lei de Biossegurança vemos novamente o catolicismo via CNBB (Congregação Nacional dos Bispos do Brasil) tentando impedir que os cientistas desalmados cometam atrocidades. Entretanto, agora a história é bem diferente, serão feitas pesquisas em culturas de células embrionárias para entendermos quais os processos ocorrem na diferenciação dessas células em todas as células especializadas do nosso corpo.

E ainda a professora de bioética da UnB, Débora Diniz, lembra que seriam usados apenas embriões inviáveis e com autorização dos doadores. E “embriões inviáveis são aqueles que mesmo que transferidos para o útero de uma mulher eles não tem capacidade de desenvolvimento pra gerar uma futura criança. São embriões que o único destino é o congelamento permanente ou o descarte,” explica ela.
Fica aí a indicação para nos informarmos bem e ficarmos atentos a esses dois eventos importantíssimos.

2009 – Sua cabeça estará em Darwin ou nas estrelas?

Apesar do recente eclípce total da lua ter deixado muitos com a cabeça nas estrelas (inclusive eu), o MARCO EVOLUTIVO está engajado a fazer com que as pessoas fiquem com a cabeça em Darwin. Fico feliz que um texto deste site intitulado 2009 o “ANO DA BIOLOGIA” atraiu a atenção do Administrador da Associação Brasileira de Filosofia e História da Biologia. Ele veio nos dar uma informação e trouxe duas boas notícias e outra desanimadora.

As boas são que a Associação Brasileira de Filosofia e História da Biologia (ABFHiB) encaminhou a proposta do “Ano Internacional da Biologia” a dois organismos internacionais, a International Union of Biological Sciences e a International Union of History and Philosophy of Science, que já aprovaram a iniciativa. Agora o movimento ganha força internacional. Força que só cresce se incluírmos os eventos e festividades internacionais programadas para 2009, como o DARWIN 200 e o Darwin 2009, eventos dos quais ainda vamos falar muito.
No entanto, a má notícia é aquela que Darwin não gostaria muito de ler: quando a proposta foi encaminhada para a UNESCO, a resposta recebida foi que 2009 já havia sido declarado o “Ano Internacional da Astronomia”. Ou seja, toda a velocidade de guepardo dos biólogos para encaminhar a proposta não foi pário para a velocidade da luz dos astrônomos. Segundo a UNESCO, o ano de 2009 celebrará a Astronomia e suas contribuições para a sociedade e a cultura globais. Destacará os méritos da ciência e seus métodos. As Nações Unidas elegeram 2009 o Ano Internacional da Astronomia (IYA 2009), e designou a UNESCO a agência líder nas comemorações.

Completamente louvável, pois é sempre bem vinda comemorações que destacam os méritos e métodos da ciência. Ainda mais da Astronomia uma das mães das ciências. Assim, muitos finalmente entenderão de uma vez por todas que Astronomia não é astrologia! Porém, a própria UNESCO não justificou a escolha. Ao passo que para o “Ano Internacional da Biologia” temos justificativas mais do que solenes, temos os 200 anos de Darwin, os 150 anos do “Origens das Espécies”, os 200 anos do “Filosofia Zoológica” de Lamarck e os 180 anos de falecimento de Lamarck.
E pensar que tem físico aplicando a Seleção Natural ao Universo inteiro. Em que os buracos negros, sugando matéria, seriam como gametas cósmicos se preparando para um Big-Bang próximo. Como o nosso universo surgiu por um Big-Bang, o físico Lee Smolin, propôs que os Universos com mais chances de existir na competição com outros Universos no imensurável Multiuniverso seriam aqueles com mais buracos negros. Pois deixariam mais descendentes com essas caracteristicas: maior número de buracos negros. Espero que alguns astrônomos e físicos, seres com uma excelente noção para medidas exorbitantemente gigantescas, reconheçam a imensidão abrangida pelas idéias de Darwin.

 

Darwin, mesmo abatido, vai ter todas as comemorações que lhe cabem. Tanto a Associação Brasileira de Filosofia e História da Biologia (ABFHiB) quanto outras instituições vão organizar eventos relativos a Darwin e ao Origens das Espécies. É o caso da São Paulo Research Conference que já está com data marcada. Em agosto, nos dias 20, 21 e 22 de 2009 realizará o evento: Darwin e “A origem das Espécies”, 150 anos depois. Mas ao contrário da Teoria de Evolução, que centraliza tudo dando sentido na Biologia, nas comemorações de 2009 não existá uma centralização de tudo, “como deveria haver” – ressalta o Administrador da ABFHiB.
Então, o “Ano Internacional da Biologia” conta, por enquanto, com o apoio da International Union of Biological Sciences e da International Union of History and Philosophy of Science, mas não da UNESCO nem da Nações Unidas. Que definitivamente não tem a cabeça em Darwin mas sim nas estrelas.

Dica de Livro – A Tripla Hélice

Nascido em 1929, geneticista renomado de Harvard e aluno do memorável T. Dobzhansky, Richard Lewontin põe em xeque visões simplistas sobre genética e evolução, ataca o determinismo genético e ressalta a complexidade dos processos biológicos advindos das inter-relações entre gene, organismo e ambiente. A Tripla Hélice é um livro curto e direto, composto de quatro capítulos, fruto de conferências que deu em Milão e acrescido do último capítulo. Escrito em linguagem simples e envolvente e oferecendo raciocínios complexos seu livro permite uma leitura interessante e proveitosa para todos da área biológica atentos aos modos como sua ciência vem sendo feita, patrocinada, ensinada e divulgada.

No primeiro capítulo, Gene e Organismo, Lewontin faz uma profunda análise das inter-relações entre gene e organismo na formação do fenótipo durante o desenvolvimento e condena a separação entre ambos. Ele ressalta os perigos das metáforas na ciência, esclarece mal-entendidos mais comuns sobre DNA, gene e genoma e relativiza a importância do seqüenciamento do genoma humano dizendo que os genes são apenas uma parte, não isolada do ambiente, do desenvolvimento do organismo.

Para Lewontin, a linguagem metafórica é indispensável à ciência, porém é muito perigosa já que é comum confundirmos a metáfora com o objeto de pesquisa. Por isso, endossa a frase de que “o preço da metáfora é a eterna vigilância”-. O foco de sua vigilância desse capítulo é desconstruir a noção pretensiosa de que é possível prever o organismo através da seqüência do DNA, de que o genoma humano seqüenciado é saber “o que é” ser humano, de que o DNA é “auto-replicante” num sentido de auto-suficiência, de que o DNA sozinho “produz” novas proteínas e que em isolado a seqüência do DNA é o “santo graal” da Biologia.

Na busca das raízes dessas concepções errôneas, Lewontin chega à filosofia da ciência, à etimologia e à metodologia em genética humana. Em Descartes ele identifica nossa tendência em dar mais valor epistemológico ao objeto do que em suas inter-relações internas e externas. No debate pré-moderno sobre a geração orgânica, em que pré-formacionistas e epigenistas buscavam explicar o desenvolvimento, ele identifica resquícios de pré-formacionismo na supervalorização do gene como a “causa” do organismo. Até a origem da palavra desenvolvimento tem marcas pré-formacionistas, pois sua raiz é a mesma para o processo de revelação fotográfica. Nesse sentido, o filme fotográfico já contém todos os elementos da foto e a seqüência genética já contém todas as “informações” do organismo. Assim como no processo de revelação, os banhos químicos dão as condições necessárias para o aparecimento da foto, o ambiente é visto apenas como dando as condições necessárias, normais, para o aparecimento do organismo durante o processo de desenvolvimento ontogenético.
As metodologias científicas disponíveis também influenciam as concepções errôneas envolvendo genes e desenvolvimento. A genética humana usa muito as mutações drásticas como método de investigação da importância de um gene no desenvolvimento. Mas apenas a minoria das mutações é do tipo drástico e o efeito mutado é facilmente tido como “causado” apenas pelo gene mutado. A Biologia Experimental é limitada em manipular uma causa por meio de grandes mutações, o que faz com que os biólogos experimentais confundam as limitações metodológicas dos experimentos com as explicações corretas dos fenômenos. E isso leva ao pensamento de que toda a diferença individual está nos genes.

Na verdade o desenvolvimento ontogenético é uma interação singular entre genes, a seqüência temporal dos ambientes externos e eventos aleatórios, que é o ruído do desenvolvimento. Essa interação singular entre gene e ambiente é tal que o ordenamento dos fenótipos não apresenta nenhuma correspondência com nenhum ordenamento a priori dos genótipos e dos ambientes em separado. E essa não correspondência ainda é complexificada pelo ruído do desenvolvimento.
No segundo capítulo, Organismo e Ambiente, Lewontin analisa o pensamento adaptacionista, sua origens históricas e ressalta as inter-relações entre organismo e ambiente condenando a separação entre ambos e descontruindo o papel passivo do organismo frente ao ambiente. Darwin, ao inaugurar o pensamento evolucionista por meio a seleção natural, fez uma separação entre processos internos e externos. A variação individual é fruto de processos internos independentes e a seleção é fruto de processos externos independentes. Essa distinção foi importante, pois desmistificou o holismo obscurantista entre orgânico e inorgânico existente na época, mas não nos ajuda mais agora.
Os ecos dessa concepção inicial são encontrados em metáforas para a adaptação como a que o organismo propõe e o ambiente dispõe, que o organismo faz conjecturas e o ambiente as refuta, ou ainda a que o ambiente lança problemas e os organismos lançam soluções aleatórias. A idéia errônea subjacente a essas concepções é que o ambiente de um organismo é casualmente independente dele e que as alterações ambientais são autônomas e desconectadas com as alterações na própria espécie. Para Lewontin o processo evolutivo real é mais captado pelo processo de construção, o que torna mais ativa a participação do organismo nas suas pressões seletivas.

Segundo Lewontin, não existe organismo sem ambiente assim como não existe ambiente sem organismo. Há uma confusão clássica entre o fato da existência do mundo físico externo ao organismo que continuaria a existir na sua ausência e a afirmação de que os ambientes existem sem e independente dos organismos. Os ambientes não são simples condições físicas, são os espaços funcionais definidos pelas atividades dos próprios organismos. Os organismos determinam os aspectos do mundo exterior que são relevantes para eles e constroem ativamente um mundo a sua volta, promovendo um processo constante de alteração ambiental na medida em que as condições relevantes se tornam parte de seu ambiente.
No terceiro capítulo, Partes e Todos, Causas e Efeitos, Lewontin aponta as dificuldades da aplicação das explicações analítico-mecanicistas aos seres vivos, ressalta as singularidades e complexidades dos processos biológicos e integra as inter-relações de gene e ambiente com as de organismo e ambiente. O êxito oportunista do modelo analítico de Descartes levou a uma concepção simplista das relações entre partes e todos e entre causas e efeitos. E quando é aplicado ao estudo dos organismos o modelo “máquina” apresenta dificuldades advindas da incompatibilidade entre sua simplificação e as características singulares dos seres vivos.
Os seres vivos possuem tamanho intermediário entre o micro-cosmo e o macro- cosmo, são internamente heterogêneos de maneiras relevantes para suas funções vitais e entram em relações causais complexas com outros sistemas heterogêneos. Dadas essas características a separação entre causa e efeito se torna problemática, pois o organismo é um nexo de um grande número de forças internas e externas fracamente determinantes, sendo nenhuma dominante, e não há um único e óbvio modo de dividir um organismo em “órgãos” apropriados para a análise causal de funções diferentes. Além disso, os processos orgânicos apresentam uma contingência histórica que impede explicações e generalizações universalistas.
As relações recíprocas entre Gene, Organismo e Ambiente, os elementos da Tripla Hélice, são ressaltadas. Os organismos não estão codificados nos seus genes porque o ambiente em que o desenvolvimento ocorre tem que ser considerado. E o ambiente está codificado nos genes do organismo uma vez que as atividades do organismo é que constrói o ambiente. Então gene e ambiente causam o organismo via desenvolvimento, genes e organismos causam o ambiente via ecologia e organismo e ambiente co-evoluem causando as pressões seletivas sobre os genes.
No capitulo final, Direções no Estudo da Biologia, Lewontin menospreza as alternativas ao reducionismo vindas da física, ressalta as características únicas dos sistemas vivos e fecha com um otimismo para futuras pesquisas e descobertas na Biologia. Frequentemente cientistas de diversas áreas não biológicas reconhecem que o modelo “máquina” fracassou para explicar a vida. O problema é que eles assumem que uma solução melhor deve vir de fora como da física, sem perceberem que o modelo falha justamente por não compreender os seres vivos em seus próprios termos. As tentativas nesse sentido mais famosas são a da aplicação da teoria da catástrofe, da teoria do caos, e da complexidade aos organismos vivos.
Os sistemas biológicos são sistemas abertos internamente heterogêneos e históricos. De sua característica aberta advém a flexibilidade universal dos limites entre o interior e o exterior. E de sua heterogeneidade interna advém que a forma é requisito para entender as funções e daí o perigo de fazer extrapolações de exemplos convenientes para toda a Biologia, como no caso das mutações drásticas como modelo para compreender “o papel” dos genes.
Nos capítulos anteriores Lewontin vigilantemente ressaltou e ilustrou aspectos que para ele são bem conhecidos, em algum nível da consciência, por todos os biólogos. A Biologia não precisa de novas leis e novos princípios explicativos, mas necessita de uma compreensão menos simplista e mais integrativa de seus processos segundo suas próprias características singulares. Apresentar e desconstruir os viéses e as simplificações das concepções sobre gene, organismo e ambiente e incorporar os novos conceitos às metodologias de pesquisa foram as maneira encontradas por Lewontin para que novos conhecimentos sejam incorporados à estrutura das explicações biológicas.
“A Tripla Hélice – Gene, Organismo e Ambiente” Richard Lewontin. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

1,99 centenas para Darwin no Dia de Darwin

O valor de 1,99 está relacionado a ítens de baixa qualidade ou a propaganda que ilude o consumidor. Mas nesta terça feira dia 12 de Fevereiro o valor não estará associado nem baixa qualidade muito menos a propaganda enganosa. Muito pelo contrário, ele receberá sua atribuição mais honrosa: a de 1,99 centenas de anos para Charles Darwin.

Darwin nasceu no dia 12 de Fevereiro de 1809 e este ano ele faz 199 anos. Não é uma data para se passar em branco. No mundo todo o dia 12/02 é celebrado como o DARWIN DAY a Global Celebration of Science and Humanity.

A Darwin Day Celebration se embasa na premissa de que a ciência, assim como a música, é uma linguagem internacional que fala a todas as pessoas de um modo similar. E que Charles Darwin é um símbolo tão importante do pensamento moderno a ponto de merecer nosso foco na elaboração de uma Celebração Global da Ciência e da Humanidade que promova uma ligação comum entre todas as pessoas da Terra.

Desde 1995, quando foi realizado o primeiro evento “oficial” na Stanford University (EUA)por iniciativa de Robert Stephens, instituições ou grupos de cientistas espalhados pelo mundo celebram o Dia de Darwin, um tributo à obra científica do naturalista inglês e, mais amplamente, uma forma de promoção da educação em ciência. Antes disso outros eventos já celebravam a data, como o “Darwin Festival”,da Salem State College, de Massachusetts, que acontece desde os anos 80. E em 2008 também ocorrerá outro Darwin Festival em Shrewsbury.

Hoje a organização Darwin Day Celebration, conta com milhares de associados e incentiva, organiza e auxilia eventos públicos de divulgação da ciência em cerca de 13 países. As comemorações são realizadas sempre por volta do dia 12 de fevereiro. Os vários eventos programados para 2008 no mundo já estão disponíveis no DarwinDay.org.

Além disso, Darwin que quase foi expulso do HMS Beagle pelo comandante Fritz Roy quando criticou a escravidão no Brasil nasceu no mesmo dia e ano de Abraham Lincoln, o homem que emancipou os escravos norte-americanos. Juntos Darwin e Lincoln deixaram legados respeitáveis dignos de uma Celebração Global da Ciência e da Humanidade.

No Brasil a primeira celebração do Dia de Darwin foi realizada em 2005 no Rio de Janeiro. Uma das cidades visitadas por Charles Darwin em vida durante a viagem do HMS Beagle e agora em morte com a Exposição DARWIN: Descubra o Homem e a Teoria que Revolucionou o Mundo, de 23 de janeiro a 13 de abril no Museu Histórico Nacional.

A escolha do Rio para a primeira celebração nacional do Dia de Darwin foi bastante apropriada, por conta da polêmica gerada pela adoção, nas escolas estaduais, do ensino do criacionismo. Aliás, a celebração do Dia de Darwin não é só uma afirmação da educação de ciência e da teoria evolutiva, mas também uma manifestação contra o movimento criacionista.

Nesse 2008, no Rio de Janeiro, a Livraria da Travessa do 2º piso do shopping Leblon abrigará, pelo quarto ano consecutivo, a celebração do Dia de Darwin. No dia 14, quinta feira às 20h ocorrerá um ciclo de palestras: Darwin e a viagem do Beagle com Prof. Nelio Marco Vicenzo Bizzo.

As palestras deste ciclo pretendem situar a vida e a obra de Charles Darwin e a sua influência não só sobre a biologia como também em outras áreas do conhecimento e na visão de mundo contemporânea. O Dr. Nelio Marco Vicenzo Bizzo, professor titular da USP, apresentará sua visão original sobre a importância da viagem do Beagle para Charles Darwin onde os Andes aparecem como protagonistas dessa história no local comumente atribuído às ilhas Galápagos.
Em São Paulo, o Dia de Darwin é celebrado desde 2006 no Museu de Zoologia da USP. Os eventos contaram sempre com várias palestras

relevantes sobre diferentes aspectos do darwinismo, ministradas por ilustres professores. Os temas e palestrantes bem como as filmagens das palestras de 2007 estão disponíveis no site do MZUSP.

Essa iniciativa das gravações on line é simplesmente incrível. Aliás, toda a iniciativa brasileira envolvendo o Dia de Darwin desde a pioneira do Rio tem como principais idealizadores e organizadores os pós-graduados pelo Museu de Zoo: Maria Isabel Landim e Cristiano Moreira. Os mesmos que participaram como coordenadores científicos da Exposição Darwin no MASP. Eles estão de parabéns por todas as iniciativas e espero que a dedicação e empolgação deles inspire muitos outros profissionais a realizar muitos eventos, principalmente no ano que vem – 2009 – o ANO DA BIOLOGIA.
Neste ano, o Dia de Darwin em São Paulo será celebrado no dia 16 de fevereiro sábado. Ingresso do Museu de Zoologia da USP é de R$ 2,00 (meia entrada para estudantes e idosos). Será o dia todo com palestra, mesa redonda e filme.

Pela manhã: 11h – palestra com Nelio Bizzo (FEUSP) – “A teoria hereditária de Darwin”.
Pela tarde: 14h
– mesa-redonda
Mário de Pinna – “Padrões na natureza e a teoria evolutiva.”
Mário de Vivo – “Biogeografia e a teoria evolutiva.”
Hussam Zaher – “Tempo geológico e a teoria evolutiva.”

A palestra e a mesa-redonda serão transmitidas pela internet, através do serviço de IPTV da USP. Perguntas aos palestrantes podem ser encaminhadas para o email: darwin.mzusp@gmail.com (colocar “pergunta” no assunto do e-mail).

Mais tarde: 16h – Projeção do documentário “Darwin nos Andes”.
Além disso haverá oficinas de Biodiversidade e Seleção Natural para as crianças.

Paulistanos esse evento é imperdível! Afinal o que são 1,99 Reais por 1,99 centenas para Darwin.
Aproveitem o Dia de Darwin no Rio de Janeiro e em São Paulo pessoal!! E os outros Estados vamos animar para as festividades biológicas desse ano e do ANO DA BIOLOGIA no Brasil.

Feliz DIA de DARWIN!

2009 o “ANO DA BIOLOGIA”

O ano de 2005 foi considerado pela UNESCO como o “Ano Mundial da Física” em comemoração aos trabalhos de Albert Eisten publicados em 1905. Pelo mundo todo houve comemorações e tributos. Uma ampla variedade de eventos bem sucedidos permitiram que o entusiasmo dos físicos contagiasse muitas platéias diferentes ao longo do mundo.

Será que a Biologia tem alguma data assim tão cientificamente importante? Mas é claro que sim!
Darwin nasceu em 1809 e 50 anos depois publicou “A Origem das Espécies” em 1859. O livro que se esgotou no dia de seu lançamento é tão importante que ganhou em 2006 até um biografia própria.

Em “A Origem das Espécies de Darwin – Uma Biografia” a autora Janet Browne mostra como A Origem das Espécies pode reivindicar para si o papel de maior livro científico já escrito no mundo.
A revolução darwinista é ao mesmo tempo científica e filosófica, e uma não poderia ter ocorrido sem a outra. Foram os preconceitos filosóficos dos cientistas, mais do que a falta de evidências científicas, que impediu de ver como a teoria poderia realmente funcionar. Mas esses preconceitos com relação à filosofia que tinham de ser eliminados possuíam raízes profundas demais para ser deslocados pelo simples brilhantismo filosófico. Foi preciso um irresistível

desfile de fatos científicos obtidos com muita dificuldades para forçar os pensadores a levarem a sério a nova perspectiva proposta por Darwin.

Quase todo componente do sistema de crenças do ser humano moderno é afetado, de alguma maneira, por uma ou outra das inovações conceituais de Darwin. Sua obra como um todo é o fundamento de uma nova filosofia da biologia, que se desenvolve rapidamente. Não pode haver dúvida de que a maneira de pensar de toda pessoa ocidental moderna foi profundamente afetada pelo pensamento filosófico de Darwin. Então, não existe forma melhor de reconhecer a extraordinária contribuição de Charles Robert Darwin para a ciência moderna do que fazermos do ano de 2009 o “ANO DA BIOLOGIA”.

Além disso, algo que poucos lembram, mas 1809, o ano em que Darwin nasceu, é a data da publicação do “Filosofia Zoológica”, o livro em que Jean-Baptiste Lamarck apresentou sua teoria da evolução. Lamarck é muito injustiçado atualmente, pois ficou conhecido como o homem que errou a teoria da evolução. Mas foi Lamarck quem começou a usar o termo “Biologia” para designar a ciência que estuda os seres vivos e foi ele também que fundou os estudos de paleontologia dos invertebrados. Ele foi uma dos principais transformistas que defendiam que os seres vivos mudam ao longo do tempo, evoluem. E assim como Darwin ele também tem uma data de vida relacionada à data de publicação de seu livro, pois Lamarck morreu em 1829.
Então em 2009, Darwin fará 200 anos, o “Origem das Espécies” fará 150 anos, o “Filosofia Zoológica” fará 200 anos e Lamarck fará 180 de falecimento. Simplesmente é motivo de sobra para fazermos de 2009 um excelente oportunidade para promover exposições, cursos, congressos,

palestras, publicações, blogs e outras atividades relacionadas com a Biologia, sua história e filosofia.

A Associação Brasileira de Filosofia e História da Biologia está convidando todos seus associados, historiadores, educadores e demais organizações para somar esforços para fazer do ano de 2009 o “ANO DA BIOLOGIA”. E ela se empenhará, colaborando com outras entidades, para desenvolver um grande número de atividades comemorativas ao longo de 2009 de maneira que biologia evolutiva possa ser entendida de forma adequada como parte do conhecimento científico da atualidade.

Peço para que todos aqueles seres vivos, cientistas, filósofos, historiadores, professores, alunos, principalmente aqueles dos centros acadêmicos somem esforços para divulgar e biologizar o ano de 2009. Que já é no ano que vem!!! E que não existem mobilizações nem manisfestações nesse sentido, além da Associação Brasileira de Filosofia e História da Biologia.

E para aqueles que acham que temos muito tempo é bom lembrarmos que nesse 2008 que acabamos de começar vamos comemorar 150 ano que Charles Lyell e Joseph Dalton Hooker fizeram com que o artigo de Darwin e Wallace fosse apresentado no encontro da Sociedade Linnaeana em 1858. Justamente o artigo que apresentou ao mundo a Teoria da Seleção Natural. É bom já irmos esquentando as velinhas de comemorações.

Dicas de Livros em Psicologia Evolucionista

Durante a elaboração do Especial Psique de Psicologia Evolucionista reuni uma lista de livros da área e relacionados, mas devido às restrições editoriais só saíram alguns. Agora incluo nesse blog a lista completa de livros brevemente comentados, separados em internacional, por pesquisadores e por divulgadores.

Em inglês:

  • The Handbook of Evolutionary Psychology. Buss, D. M. (Ed.), New Jersey: Wiley, 2005, 1028 p.

Esse livro é o Handbook mais atual e mais completo sobre a Psicologia Evolucionista. É fruto de uma contribuição única de 66 autores escrevendo capítulos distribuídos em partes sobre as fundações da Psicologia Evolucionista, sobrevivência, acasalamento, parental e parentesco, vivência em grupo, aplicação evolutiva a disciplinas tradicionais da Psicologia e a outras disciplinas como a Literatura e o Direito.

  • The Evolution of Mind: Fundamental Questions and Controversies Gangestad, S. W. & Simpson, J. A. (Eds.), New York, Guilford, 2007, 448 p.

Esse livro é o livro mais atual sobre Psicologia Evolucionista, aborda temas fundamentais e controvertidos. É produto de um empenho colaborativo de 47 autores escrevendo capítulos curtos distribuídos nas temáticas: reconstrução da evolução da mente humana, rastreando a evolução atual, nossos ancestrais mais próximos, explicando os custos e benefícios de comportamentos, modularidade da mente, o desenvolvimento como um alvo evolutivo, seleção de grupo, mudanças chaves na evolução da psicologia humana, evolução do cérebro, habilidade intelectual geral, cultura e evolução, evolução do acasalamento.

  • Introducing Evolutionary Psychology. Evans, D. & Zarate, O., Cambridge: Incon Books, 1999, 176 p.

Esse é o livro mais didático sobre Psicologia Evolucionista, pois é ricamente ilustrado e assim os conceitos são passados de forma descontraída e eficiente. Apresenta caricatura de todos os autores e estudos clássicos da Psicologia Evolucionista. No final esclarece os mal-entendidos mais freqüentemente cometidos sobre esse tema e ainda oferece dicas de leituras. Aborda os temas centrais da teoria evolucionista, como as diferenças entre a mente humana e de nossos parentes mais próximos, os primatas e as diferenças na psicologia de homens e mulheres.

Traduzidos: 1. Pesquisadores

  • Como a mente funciona. Pinker, S. Tradução L. T. Motta. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, 66 6 p.

É a mais completa explicação sobre Psicologia Evolucionista traduzida. Apresenta detalhadamente a revolução da Psicologia Cognitiva e por fim sua fusão com a Biologia Evolucionista. O autor aborda questões como o modo pelo qual as crianças aprendem, como tomamos decisões ou enfrentamos riscos e os mecanismos por trás de fenômenos como criatividade, sensibilidade, amor, confiança. Pinker lança mão de pelo menos duas bases teóricas, o evolucionismo de Darwin e a ciência cognitiva.

  • Tábula rasa. Pinker, S., Tradução L. T. Motta. São P aulo: Companhia das Letras, 2004, 672 p.

É a mais profunda análise dos aspectos envolvidos na não aceitação de idéias evolucionistas pelas ciências Sociais e Humanas. Depois de resolver detalhadamente os medos por traz da resistência à aplicação das idéias Darwinistas ao ser humano ele aborda a Psicologia Evolucionista relacionada com a política, violência, gênero, crianças e artes. É o mais recomendado para as pessoas das áreas de Humanas e Sociais conhecerem, sem preconceitos, a Psicologia Evolucionista.

  • A Mente Seletiva. Miller, G. Tradução D. Batista. Rio de Janeiro: Campus, 2001, 540 p.

É o melhor livro sobre a importância da “outra” teoria de Darwin, a seleção sexual, para a Psicologia Evolucionista. Miller explica o grande esquecimento da teoria da seleção sexual durante todo o século XX e aplica os conceitos modernos de seleção sexual aos estudos atuais das adaptações mentais humanas. Ele faz um contraponto e complementa a visão de Pinker e aborda assuntos como a arte, a linguagem, a moralidade e a criatividade.

  • A Paixão Perigosa: Por que o ciúme é tão necessário quanto o amor e o sexo. Buss, D. M. Tradução M. Campello. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, 277p.

Buss, um dos pioneiros no mundo em Psicologia Evolucionista, oferece uma instigante e bem humorada perspectiva evolutiva sobre o ciúme, infidelidade, crimes passionais e desejo sexual, emoções humanas poderosas e universais.

  • Anatomia do Amor: A história natural da monogamia, do adultério e do divórcio. Fisher, H. E. Tradução M. Lopes e M. Carbajal. Rio de Janeiro: Eureka, 1995, 430 p.

Esse livro aborda brilhantemente e interdisciplinarmente a origem, a evolução ancestral pré-histórica e o futuro da sexualidade humana, incluindo a paquera na seleção de parceiros, a paixão, o amor romântico, o adultério, o divórcio e o re-casamento.


  • Mãe Natureza: Uma visão feminina da evolução . Hrdy, S. B. Tradução Rio de Janeiro: Campus, 2001, 704 p.

Esse livro aborda a maternidade sob as perspectivas evolutivas e comparativas, e mostra que muitas das emoções que informam as decisões reprodutivas das mulheres nos dias de hoje foram moldadas em um passado distante. Ela discute as complexidades e as diferentes atitudes comumente simplificadas como instinto materno.

  • Guerra de Esperma. Baker, R. Tradução G. Z. Neto. Rio de Janeiro: Record, 1997, 402 p.

Esse livro aborda amplamente a sexualidade humana relacionada com a competição espermática. Ele brilhantemente usa um conto erótico sobre cada aspecto da sexualidade para situar, ilustrar e instigar o leitor. Depois aborda cientificamente assuntos como infidelidade, conflito sexual, masturbação, polução noturna, escolha de parceiros, aprendizagem sexual, prostituição e homossexualidade.

  • Não Há Dois Iguais: Natureza humana e individualidade. Harris, J. R. Tradução R. Gouveia. São Paulo: Globo, 2007, 471 p.

Nesse livro comenta e às vezes desconstrói as teses mais aceitas pela ciência moderna. Idéias antigas, como o determinismo genético e a preponderância ambiental, caem por terra, enquanto o evolucionismo é tomado como objeto de estudo primordial no estudo da individualidade humana. Nesse caminho, a autora envereda por algumas áreas fascinantes do conhecimento, abordando tanto os experimentos clássicos da psicologia social quanto às últimas contribuições das pesquisas em neurociências. Praticamente nada escapa a seu olhar abrangente: gêmeos, autismo, o comportamento dos chimpanzés e a organização social das formigas.

  • A Perigosa idéia de Darwin: a evolução e os significados da vida. Dennett, D. C. Tradução T. M. Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 1995, 612 p.

É o melhor livro sobre a dimensão filosófica da evolução biológica e suas implicações em todas as ciências, bem como para o entendimento da mente humana. O livro expõe as controvérsias atuais: sobre a origem da vida, a sociobiologia, a evolução da linguagem e da cultura e a ética evolutiva. Ele revela os anseios filosóficos, até religiosos, que têm distorcido as disputas entre cientistas e leigos. E, de forma polêmica, mostra que alguns dos mais importantes pensadores contemporâneos são simplesmente incapazes de esconder o mal-estar diante da grande idéia de Darwin. Este livro explica por que é uma idéia tão convincente, e por que promete oferecer – e não ameaçar – novos fundamentos para as nossas mais caras maneiras de conceber a vida.

  • A Verdade sobre Cinderela: Uma visão Darwiniana do Cuidado Parental. Daly, M. & Wilson, M. Coimbra: Quarteto, 2001, 345 p.

É cem vezes mais provável um padrasto abusar de uma criança, ou mesmo matá-la, do que um pai genético. Esta descoberta assustadora foi trazida à luz do dia por dois cientistas canadianos que profetizaram, baseados em teorias darwinianas, que a ortodoxia official, que ignora os laços familiars, obscurece os perigos cada vez maiores em que incorrem as crianças que vivem em famílias adoptivas. Esta ameaça, embora seja um tema recorrente de lendas populares por todo o mundo, tem sido escandalosamente negligenciada pelos politicos e pela mídia. Mas por que terá o parentesco um efeito assim tão profundo? Numa aplicação clássica da teoria evolucionista, Martin Daly e Margo Wilson apresentam-nos evidências de sociedades de todo o mundo para nos contarem, pelo menos, a verdade darwiniana sobre Cinderela.

2. Divulgadores

  • O Animal Moral: porque somos como somos: a nova ciência da psicologia evolucionista. Wright, R., Tradução L. Wyler. Rio de Janeiro: Campus, 1996, 416 p.

Apresenta a Psicologia Evolucionista traçando um paralelo interessante com a biografia de Charles Darwin. Aborda temas como sexo, romance e amor, cimento social como família e amigos, conflitos sociais e morais da história como ética e religião.

  • As origens da virtude: um estudo biológico da solidariedade. Ridley, M. Tradução B. Vargas. Rio de Janeiro: Record, 1996, 332 p.

Esse livro é muito bem escrito e aborda os aspectos evolucionistas da solidariedade humana. Engloba temas como a preservação ambiental em bens públicos e presentes privados, sentimentos morais, tribalismo, guerra, comércio, religião e propriedade.

  • O que nos faz humanos: genes, natureza e experiência. Ridley, M. Tradução R. Vinagre. Rio de Janeiro: Record, 2004, 399 p.

Esse livro é o melhor livro sobre a superação da dicotomia inato X aprendido. Ele mostra como processos genéticos estão entrelaçados nos processos aprendidos. Brilhantemente ele mostra como a natureza ocorre via a criação abordando a biografia de doze barbudos Charles Darwin, Francis Galton, Willian James, Hugo De Vries, Ivan Pavlov, John Watson, Emil Kraepelin, Sigmund Freud, Emile Durkheim, Frans Boas, Jean Piaget, Konrad Loranz. Veja maiores detalhes: O que nos faz humanos no Científica Mente

  • Instinto Humano: como nossos impulsos primitivos moldaram o que somos hoje. Winston, R., Tradução M. M. Ribeiro e S. Mazzolenis. São Paulo: Globo, 2006, 431 p.

Esse é o livro escrito pelo autor da série da BBC Instinto Humano e divulgado pelo Fantástico por Lazaro Ramos na série com o mesmo nome. Ele faz um apanhado geral sobre os temas estudados pela Psicologia Evolucionista como: sobrevivência, desenvolvimento, sexo, família, seleção sexual e risco, violência, moralidade e espiritualidade. Winston oferece explicações científicas de modo claro a partir da elucidação de questões prosaicas como porque um bebê recém-nascido sabe mamar ou porque salivamos diante de um belo prato de comida.

  • A Culpa é da Genética. Burnham, T. & Phelan, J., Tradução C. I. Costa. Rio de Janeiro: Sextante, 2002, 240 p.

Esse livro mostra de forma acessível e bem humorada a influência dos genes, via instintos, em nosso comportamento e inclui dicas para lidar melhor com eles em nosso ambiente atual. Aborda temas cotidianos como dívidas, gordura, drogas, risco, ganância, gênero, beleza, infidelidade, família, amigos e inimigos.


Nacional:

  • O Pensamento de Animais e Intelectuais: Evolução e Epistemologia. Werner, D. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 1997, 195.

Esse é o único livro nacional relacionado à Psicologia Evolucionista. Nele é abordada a evolução de diferentes formas de pensar e suas implicações epistemológicas, bem como o papel de nossos vieses cognitivos em elaborar e avaliar idéias. São discutidos temas como formas de encarar a realidade, formas elementares de pensar, senso comum, formas intelectuais de pensar e formas antropológicas de pensar. Werner, que é antropólogo, aborda a evolução da cognição sob o ponto de vista darwinista.

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