A pseudociência do vestibular

Prestei vestibular ontem pela quinta vez, onze anos depois do primeiro e revi algo que permeia a cultura vestibulanda desde pelo menos 1998: a pseudociência do vestibular.
Vocês devem saber ao que me refiro. Os sinais são claros: bombons em cima da mesa, uma garrafinha d’água no chão, alguém que entra na sala finalizando uma maçã, etc.
Existem livros e mais livros sobre o assunto, inúmeras páginas ensinando posições de ioga, receitas para o dia da prova, dizendo que pensamentos de revolta são certeza de reprovação (o que, sendo verdade, eliminaria todo e qualque adolescente logo na porta) e até algumas preces (sim, porque se você não passar, a culpa é sua, se passar, é porque Alá quis).
Algumas coisas são boas realmente, como conselhos de evitar drogas, por exemplo, mas a maioria foi criada e testada somente na cabeça desses gurus e simplesmente não faz sentido, como “dê preferência a ameixas secas”.
As que fazem algum sentido provem do bom e velho bom-senso, como “não só estude, tenha também algum lazer”.
E pouquíssimos são gratuitos. A maioria chama a atenção com “descubra os erros mais comuns em provas e se dê bem” e aponta para um link onde você pode comprar um PDF por apenas R$20,00.
Como eu já disse no uôleo, o que mais existe é terrorismo: gente que nota um traço seu e diz que aquilo é certeza de zero na prova ou que usa o famoso só passa sabendo o que você não sabe, disfarçado em frases como: “O quê!? Você não sabe a fórmula da espaguetificação? Isso é o mais importante para o vestibular!!”
Todo autor e professor tem sua manha infalível que pode ser comprovada nos que foram aprovados e devidamente esquecida naqueles que reprovaram (pois eles não passaram por causa de um erro diferente ou porque não entenderam a manha).
A única vantagem nessa montanha de informação falsa ou inadequada é que o aluno deixa de se preocupar com a prova, migrando o foco da sua apreensão para os rituais que terá de cumprir durante o concurso, numa espécie de (acho que isso caracteriza um pleonasmo) efeito placebo psicológico.
Eles se preocupam tanto em não errar a ordem em que devem comer sua caixa de chocolates que esquecem da prova e relaxam enquanto a respondem, pois ela se torna o objeto que dá alívio de tanta crueldade mental que lhes é imposta pela maneira correta de lembrar dos níveis de energia dos chakras.
Por outro lado, o tempo gasto tentando decorar as piadinhas mnemônicas que professores de cursinhos adoram poderia ser melhor utilizado se preparando intelectualmente.
Talvez até estudando!
Não passa quem sabe a tabela periódica decorada ou quem só comeu alface com margarina enquanto tomava banho com arruda e sal grosso na noite anterior, mas quem sabe o que fazer com os dados fornecidos.
Eu nunca fiquei nervoso ao subir num palco para tocar porque tinha consciência de que sabia as músicas.
E, sabendo, é só subir e tocar.
Se o sujeito está bem preparado e sabe a matéria, ele vai passar.
Desde que não se preocupe em decorar a cor de todos os carros no caminho até o local da prova para ir “ativando o cérebro”. Porque se seu cérebro precisa ainda ser ativado, acho que um hospital seria o melhor destino naquele momento.
Pseudociência de Vestibular existe e no meu ponto de vista faz mal em termos gerais.
Mas talvez o meu ceticismo mais atrapalhe que ajude, então eu vou ficar calado.

Homenagem a Darwin

Eu não sou do tipo que presta homenagens a pessoas mortas (não explicitamente, no entanto), mas este mês um dos livros que mudaram o entendimento do mundo está fazendo 150 anos, nove meses depois do autor completar 200 (números redondos: quem não gosta deles?).
Um parênteses rápido: (na minha cabeça, do jeito que eu enxergo as coisas, o livro pode estar fazendo aniversário pois ainda está por aí, mas o escritor não pode “completar ano” pois já está morto. No máximo eu poderia me referir ao fato de Charles ter nascido dois séculos atrás, mas aniversário aniversário não. Fechando a janela para dentro da minha mente e voltando à realidade,)
Antigamente, todas as lacunas eram preenchidas por um deus ou outro até curiosos corajosos começarem a bulir nas coisas e descobrir princípios. Um desses princípios é Evolução. Nós não somos do jeito que somos porque fomos projetados assim, mas porque precisamos ser assim senão “tchau, nós”.
Africanos são pretos para não morrerem aos oito anos de câncer de pele do mesmo jeito que suecas são da cor de vela para não terem seus ossos da pélvis esfarelados quando têm seu primeiro filho, aos quinze anos de idade.
Os traços bons vão se acumulando e se evidenciando, mas os traços bons para aquele ambiente específico.
Ser galego no equador é absorver muita radiação solar do mesmo jeito que ser negão no círculo ártico é não absorver luz suficiente.
É fácil raciocinar que “nossos narizes não são virados para cima porque é de lá que vem a água da chuva” como algum projeto pensado e estudado, mas a verdade é que somos naturalmente inclinados a não morrer afogados durante um temporal pois se já houve alguém com os buracos da venta em busca do firmamento, o destino foi mais cruel.
Tudo bem, péssimo exemplo.
Correr de um javali é bem mais fácil quando o suor da sua testa não escorre para dentro de seus olhos. Num ambiente que o faça suar muito e com muitos bichos querendo um pedaço seu, quanto mais sobrancelha você tiver, maiores suas chances de se trepar naquela árvore obviamente visível logo ali.
Vocês devem ter notado até agora que eu não dei um só exemplo que desprove um designer inteligente. E isso é verdade.
Até agora.
Eu sofro de tendinite mortal. Sinto dores terríveis (que incapacitariam qualquer pessoa menos bruta que eu) que vão da cabeça dos meus dedos até quase os ombros.
Meus tendões, do jeito que estão, só prestam para o lixo.
E por que eu sou assim?
Porque uso minhas mãos. Constantemente.
Sempre digitei bastante, sempre toquei muita bateria, piano e violão.
Tenho tendinite por sobreuso.
“Arrá! Mas suas mãos não foram feitas para coisas outras senão catar piolhos de seus familiares.”
Óquêi. E minhas costas? Teriam sido feitas para aguentar meu peso? Porque eu tenho tido problemas com isso recentemente.
Eu, Igor Santos, bípede, de uns anos para cá, tenho encontrado problemas em ficar de pé.
Admito que iniciei na musculação aos doze anos de idade (mesma época em que comecei a me barbear), mas não sei se fortalecer meus músculos necessariamente causaria um enfraquecimento lombar.
Mas, digamos que eu tenha quebrado um relé em algum lugar naquele dia que levantei 750kg no leg press.
E minha apnéia noturna? Não lembro de ter começado a fumar aos dois anos de idade para ter noites mal dormidas (especialmente para os que dormem na minha vizinhança) desde muito novo e acordar sem ar pelo menos uma vez por semana.
Não seria isso um defeito de design?
Eu sofro também de fotofobia (sou alérgico a luz), e aí? De quem é a culpa disso? Eu gostaria de pensar que não é minha, mas sei lá…
Enxaquecas eu não tenho, mas minha irmã sim.
Ela e boa parte da população do mundo. Seria isso uma peça essencial na maquinaria humana? Dor de cabeça sem causa?
Pensando mais profundamente nesse assunto, não somos totalmente incapazes frente a vírus? Teria sido o universo criado especificamente para que eles existissem?
Porque se a cosmicidade infinita existir para o nosso conforto, alguma coisa saiu bizonhamente errada e nós estamos perdendo.
Mas esqueçamos vírus por enquanto e vamos continuar na nossa discussão antropocêntrica: eu consigo pensar, de supetão, em pelo menos cinco pessoas que conheço, e com as quais tenho certa intimidade, que sofrem de diabetes.
Ambos os meus avós maternos morreram de câncer, bem como um filho deles, meu tio.
Ataques cardíacos são menos comuns no meu círculo de conhecidos, mas ainda estão suficientemente presentes para que eu me preocupe e faça um exame completo todo ano.
Todo esse leproseu descrito acima não é “falha de projeto” ou traços necessários, mas resultados de gambiarras evolutivas.
E a primeira pessoa a entender, descrever e divulgar isso suficientemente bem para ser lembrado um século e meio depois foi Charles Darwin.
(A frase a seguir pode ser meio confusa, mas eu explico melhor depois, pode ler sem medo.)
Evolução não é um caminho rumo à perfeição, mas etapas num processo de adequação ao ambiente, onde características adaptativamente desejáveis são estatisticamente selecionadas em detrimento de qualquer noção de projeto ou manipulação.
OU SEJA
Não estamos ficando cada vez melhores, apenas melhor adaptados ao ambiente.
De nada adianta termos os melhores pulmões debaixo d’água ou os melhores olhos na escuridão total.
E quanto mais seres existirem com a capacidade de ser dar bem em determinado ambiente, mais descendentes nascerão com a habilidade de melhorarem ainda mais, num círculo virtuoso de adaptação.
Deixando para trás as temidas gambiarras.
Eu ainda consigo comer, então para que gastar energia aperfeiçoando a disposição dos meus dentes para que, enfim, eu consiga completar vinte e quatro horas sem morder a parte interna da minha bochecha?
Ou, talvez, quem sabe, ter uma boca autolimpante que evite o apodrecimento inevitável de toda a minha arcada dentária?
Se funciona, deixe quieto.
O projeto sendo meu, as tubulações para material genético e excreções ácidas estariam separadas.
Melhor ainda, eu não despejaria tanto nitrogênio apenas para ter que completar o nível novamente depois.
Mas, infelizmente, somos todos feitos do pó de estrelas agregado (“nas coxas”, como dia o outro) em puxadinhos genéticos.
Meu carro (se eu tivesse um) é bem mais inteligente que eu no que diz respeito a consumo de água.
E qualquer avião voa mais eficientemente que qualquer pássaro.
Mais uma vez fazendo o universo girar ao redor do meu umbigo, eu pergunto: qual animal (com no mínimo metade do seu peso) você conseguiria derrotar num combate sem armas? Mesmo que seja para salvar a sua vida.
Se fôssemos especiais e o universo houvesse sido feito para nós, teriamos olhos de raio laser e poder de invisibilidade.
O maior problema da Evolução é a escala de tempo para que a menor mudança aconteça.
Na verdade o problema é nosso, que não somos bons em entender números grandes.
Daí a necessidade de simplificações.
E qual é a mais preguiçosa das reduções, qual rejunte lógico para os azulejos do pensamento seca mais rápido?
Pois é.
Por isso que são necessários curiosos corajosos para concluir que coisinhas minusculamente invisíveis causam mazelas em espécies que morfam sobre placas tectônicas móveis presas a um planetinha verde-azulado absolutamente insignificante que gira ao redor de uma bola gás incandescente amarela nos confins inexplorados da região mais brega da borda ocidental de apenas uma entre bilhões de galáxias e que há mais na vida que apenas superstição.
Você pode até achar que não, mas pensar dá muito trabalho.
Eu mesmo fico exausto todos os dias.

Resenha – Promoção de Saúde

Hoje faz um mês e cinco dias que recebi esse livro.
O maior motivo para a demora foi a minha dificuldade em conseguir passar dos capítulos iniciais, pois achei a linguagem muitíssimo pesada para um leigo.
Dá para ler, tanto que eu consegui terminar, mas não foi das tarefas mais fáceis (e ainda juntou com uma fase de procrastinação extrema em minha vida, ainda outra razão para o atraso).
Nas minhas notas, que agora consulto, eu escrevi: “tão denso que só pode haver dois ou três exemplares por livraria, caso contrário a gravidade combinada num espaço tão pequeno geraria uma singularidade…” mas vamos ao livro.
Eu sou estranhamente familiarizado com políticas públicas de saúde e já havia lido a expressão “promoção de saúde”, mas nunca tão minuciosamente descrito.
O subtítulo da obra é “a negação da negação”, que não fez sentido algum para mim até eu chegar mais ou menos na metade do volume, quando então tudo se encaixou.
Eu devo admitir que passei exatamente metade do tempo da leitura com a incômoda sensação de que estava lendo um livro de pseudociência e que essa sensação simplesmente evaporava durante a outra metade. Me senti numa gangorra lógica.
Eu posso concluir que o livro não é charlatanismo pela quantidade de vezes que os autores afirmam que aquilo são ideias e que são pouco práticas, mas eu ainda posso estar errado, pois como já disse, essa leitura me causou muita confusão mental.
O esquema é o seguinte: é necessário mudar a maneira de como as doenças são tratadas e os autores (Fernando Lefevre e Ana Maria Cavalcanti Lefevre) propõem uma quebra de paradigma.
Não devemos evitar as doenças ou buscar cura para elas. Devemos, sim, criar um ambiente onde as doenças sequer tem condições de vir a existir.
Uma nota de rodapé que achei particularmente interessante diz o seguinte:

“[D]eslocando o foco para a doença e desenfocando do doente, perde-se o homem como consumidor, que é o modo como ele é fundamentalmente visto no modelo atual, mas recupera-se este mesmo homem como o principal responsável pelos desequilíbrios de todo tipo, que estão na raiz das doenças”

Palavras fortes, eu sei, mas a proposta é interessante: buscar a saúde não como a ausência de doenças, mas como uma relação entre mente, corpo e sociedade.
Ao invés de gastar com tratamento e buscar cura para tuberculose, digamos, a proposta da Promoção de Saúde é eliminar os fatores físicos, psicológicos e sociais que fazem com que a TB continue existindo.
A melhor analogia que consigo fazer é a seguinte: digamos que seja necessário eliminar o dinheiro. Tradicionalmente, tentaríamos inventar esquemas para substituir o conceito de dinheiro ou talvez até tentar criar uma comuna perfeita onde o dinheiro passe a ser desnecessário, mas de alguma forma o dinheiro vai sempre voltar a existir porque o conceito sempre existirá. Porém, se a humanidade desaparecer, o dinheiro desaparece junto com ela pois perderá todo o sentido em existir.
Se não houver “sentido” para uma doença existir, ela vai simplesmente deixar de ser.
Obviamente, cento e sessenta e tantas páginas não podem ser resumidas nessa minha analogia adamsiana, mas eu gostaria de encerrar com mais um trecho do livro:

“[P]arece claro que não pode haver Promoção de Saúde sem participação ativa dos profissionais de saúde e mobilização dos gestores e que para isso é preciso que haja comunicação.”

promocao de saude.jpg
Já nas livrarias ou direto na Vieira & Lent casa editorial.

Deixa a erva queimar

Mais um título gratuitamente apelativo e que nada tem a ver com as calças.
Hum. Tem sim, eu vou falar de uma erva que queima.
Então o título acima é provavelmente o mais apropriado que eu já produzi.
Com excessão do uso do verbo “queimar”, que não faz muito sentido no contexto geral do artigo.
Verbo aquele que, por sinal, foi conjugado erroneamente.
Humm…
Não sei ajeitar. Se tentar é capaz de perder toda esta entrada.
E ainda vai mudar o link permanente. E eu não quero escrever de novo.
Na verdade, nem sei se quero continuar escrevendo.
Por sorte, sempre escrevo a introdução por último e o artigo já estava completo, o que permite a mim parar de escrever agora enquanto concomitantemente permite a vocês continuarem lendo.
Boa sorte.
Eu escrevi já alguma coisa no uôleo, mas achei que deveria estender o assunto porque é muito interessante mesmo mesmo (e envolve fogo).
Existe no mundo real uma planta que pega fogo mas não queima.
Novamente, mundo real, porque na ficção essa planta já existe há milhares de anos.
Trata-se da Dictamnus albus, ou planta gasosa (gas plant em inglês, num trocadilho hilariamente brilhante com palavras que podem também significar “fábrica de gás”):

Planta essa que, quando não tem um abestalhado por perto tentando fazê-la pegar fogo, produz quantidades suficientes de um óleo com cheirinho de limão que evapora em um gás bastante inflamável que faz com que a planta, eventualmente, em dias muito quentes e secos, exploda em chamas.
Por alguns poucos segundos, ficando totalmente ilesa após o fenômeno.
Nem tão ilesa assim pois fica sem seu óleo protetor que tem um gosto pessimamente amargo e afasta herbívoros oportunistas de paladar delicado.
Sempre lembrando que o óleo dificilmente queimaria sozinho (a não ser que caia um raio sobre a planta mas aí também eu já estou aloprando na argumentação). O que entra em ignição é o vapor daquele óleo.
Ou gotículas dele, com muita área superficial, como acontece com cascas de frutas cítricas que são espremidas em chamas abertas:

Isso aí é muito fácil de fazer em casa (não digo que é seguro porque sempre tem algum inepto que vai conseguir incendiar o bairro todo duma lapada só) e eu recomendo que o façam.
Especialmente na frente das crianças (extrapolando da minha própria experiência, pois o dia em que eu descobri esse fenômeno foi um dos mais felizes da minha infância) pois é uma boa experiência de introdução à pirociência.
Tangerinas oferecem o melhor resultado (confiem em mim nessa).
Notem que a casca não se incendeia se for jogada diretamente no fogo. O óleo essencial que a fruta produz queima, mas não tão facilmente assim, precisando de algumas condições especiais.
Uma delas é estar em forma de aerosol, quando as capsulazinhas na casca são quebradas e minúsculas gotas saem loucamente pelo ar e encontram uma fonte de energia flamejante.
Jogar a casca no fogo não é uma dessas condições.
Mas nem tudo que queima sem queimar é natural.
Não.
É possível acender dinheiro sem queimar as notas:

As etapas do vídeo acima são meio convolutas e envolvem várias coisas e misturas e medidas e cuidados e isso e aquilo.
O meu jeito é bem mais fácil e já me garantiu algumas rodadas grátis em bares:
Segure uma nota de dinheiro com um garfo, molhe bem com vodca e acenda.
Mesmo efeito do vídeo mas rápido, simples e garantia de ganhar apostas de bêbados que duvidam (como ousam?) da minha intimidade com fogo.
E qualé o segredo do dinheiro que não é consumido pelo fogo?
Quando em vodca, a nota fica ensopado com uma solução que contém mais água que álcool (60% e 40% respectivamente). Enquanto o álcool queima, a água protege o papel.
Por isso é importante que toda a nota esteja molhada, porque qualquer pedacinho que permaneça seco vai começar a pegar fogo, já que não há água ali para evitar.
Havendo mais de algo não-inflamável que de algo inflamável, é possível acender sem queimar qualquer coisa (desde que o primeiro tenha alguma propriedade que proteja a coisa de ser queimada pela ação do segundo).
Incluindo a sua mão!
Infelizmente eu não consegui achar um vídeo demonstrativo bom, mas o que eu fazia era o seguinte: eu pegava acetona e…
Ah, o que é que custa fazer meu próprio vídeo explicativo?

Notem que eu diluí a acetona em água, em partes iguais.
Outro detalhe que não ficou claro nas imagens: minha mão está molhada. Logo, há mais água do que acetona no sistema, o que me permite manusear fogo por alguns instantes.
Antigamente era mais impressionante, porque eu mergulhava minha mão numa cumbuca cheia de acetona aguada. E fiz isso até crescerem cabelos nas costas da minha mão.
Então, quando os cabelos voltaram a crescer, passei a fazer o truque só na palma até perder o interesse.
Mas, o propósito deste artigo não é contar as minhas estripulias infantis (difícil de notar para quem continua lendo até aqui), mas mostrar como coisas podem queimar sem necessariamente pegarem fogo.
Mais exemplos, alguém?

Ponteiros iguais, horas diferentes

É engraçado ver que nem todo mundo compartilha da minha obscura obstinação em obter observações obsessivas de objetos obviamente obsoletos como relógios analógicos de parede.
E com “engraçado” eu quero na verdade dizer “triste”. Preciso sair mais de casa.
Alguns disseram que apenas quando ambos os ponteiros estiverem sobrepostos será possível determinar a hora exata do dia.
Bruna chamou atenção para o fato de que só é possível saber a hora correta se pudermos ver o céu, pois um relógio marcando 12:00 não nos diz se é dia ou noite.
Mas, considerando que temos sim uma janela e o relógio é normal e tem as marcações comuns (que eu deixei muito bem implícito no enunciado que era o caso), é possível saber com exatidão que horas são a qualquer momento.
Faça o teste em casa (o relógio do Windows não serve pois move em incrementos estranhos, mas use sempre caso não tenha um marcador real por perto): marque exatamente seis em ponto.
Os ponteiros formarão um ângulo de 180° entre si, com um apontando para o 12 e outro para o 6.
Agora tente conseguir o mesmo ângulo com as posições invertidas. O mais intuitivo seria 12:30, não?
Mas nesse momento, um ponteiro aponta extamente para o 6 enquanto o outro está no meio do caminho entre o 12 e o 1.
Um ângulo raso só ocorrerá entre 12:32 e 12:33.
Outro exemplo: às nove e quinze, um ponteiro estará sobre o 3 enquanto o outro estára um quarto do caminho entre o 9 e o 10.
Invertendo para três e quarenta e cinco, um ponteiro estará sobre o 9 enquanto o outro terá já percorrido três quartos do caminho entre o 3 e o 4.
Para os mais curiosos, existe uma fórmula para calcular os ângulos entre os ponteiros: 30H – (11/2)M, onde H é o ponteiro das horas e M é o dos minutos.
Apliquem essa fórmula aos horários acima e confirmem o que estou alegando (porque eu me nego a fazer todo o trabalho de vocês por vocês).
Na verdade, num relógio bem feito e bem marcado só precisamos do ponteiro das horas.
Pensem nisso e entendam do que estou falando.
Digamos que entre o 2 e o 3 haja cinco tracinhos igualmente espaçados: quando o ponteiro estiver sobre o 2 exatamente, será 2:00; quando estiver sobre o primeiro tracinho, será 2:10, sobre o quinto tracinho 2:50, sobre o 3, 3:00.
Logicamente, entre o segundo e o terceiro tracinho teremos 2:25.
Incrementos de 5 minutos são suficientes para uma sociedade que insiste em sincronizar seus relógios pela primeira emissora de rádio que se importar em anunciar.
A nossa percepção das coisas pode ser (e é constantemente) alterada por pré-concepções que nos parecem óbvias e totalmente intuitivas mas nem sempre é assim que o mundo ao nosso redor funciona, infelizmente.
E eu ponho a culpa disso naquela professora do primário que quando vai ensinar os alunos a ler um relógio coloca o ponteiro curto no 9 e o longo no 30 e diz que é 9:30. Mentirosa!
Noção essa que é reforçada por aquele instrutor de direção que insiste em dizer que a diposição ideal das mãos sobre o volante é “dez pras duas”, sem levar em consideração meus protestos baseados em observações empíricas de que minha mão direita fica sempre ligeiramente mais alta que a esquerda, diminuindo a eficácia do movimento quando preciso passar a marcha e mandando em ficar calado e prestar atenção ao trânsito sempre que eu tentava argumentar que “catorze pras duas e dezesseis segundos” seria uma posição mais próxima do ideal.
Até hoje não sei dirigir direito por causa daquele bruto.
Mais enigmas em breve. Aguardem.

Sonho coletivo

Como eu disse lá no uôleo (isto é um artigo multiblogal, recomendo que comecem lendo lá), um tal Este Homem começou a aparecer em sonhos ao redor do mundo.
Mas será que isso é verdade?
Como eu dei a entender no outro blogue, a estória inicial parece meio estranha (alem de ser suspeitamente similar à introdução de O Chamado de Cthulhu, tirando a parte do ídolo de barro) e a justificativa para o sítio é ainda mais misteriosa.
Admitindo que duas mil pessoas realmente sonharam com essa cara, de janeiro de 2006 até “hoje” (porque o texto é vago assim, sem data).
Isso daria mil e quatrocentas noites mais ou menos.
Considerando que todas as pessoas do mundo sonhem uma vez por noite, temos 1400 noites multiplicado por 6,7 bilhões de indivíduos, o que dá nove trilhões e trezentos e oitenta bilhões de sonhos, desde janeiro de 2006.
Dois mil é igual a zero vírgula uma carrada de zeros (oito) dois e poucos por cento (0,00000000213…%) de nove trilhões e um bocado.
Mais uma vez, muito pouco significativo.
Isso, aliado à falta de seriedade que o próprio site demonstra em relação a si mesmo e o fato de que nossos cérebros são muito pouco confiáveis quando se trata de memória onírica (uma das coisas mais difíceis que eu acho é tentar me lembrar do dia em que sonhei algo específico) me leva a crer que a página é uma brincadeira para ver quantas pessoas realmente se deixam influenciar a ponto de lembrar de algo que não aconteceu.
Outro dado interessante é que a página foi registrada por um sujeito chamado Andrea Natella, um sociólogo italiano (e não um psiquiatra novaiorquino) especializado em marketing que publicou um artigo chamado “As origens do uso subversivo do embuste na Itália“.
Embuste, hein? Interessante.
Não vou dizer que ninguém sonhou com aquele bicho, porque pela Lei dos Grandes Números é muito provável que alguém já tenha sonhado até com esta frase específica que estou escrevendo agora, incluindo a palavra “haustório” que escrevo aqui por nenhum motivo em particular.
Diria até que muita gente sonhou sim com Este Homem. Especialmente depois de ver sua foto na Internet ou espalhada pelos postes de algumas cidades do mundo.
Mas é ainda mais provável que muita gente tenha criado uma memória falsa post hoc ao ver o desenho.
O que vocês acham?

Coisas que não sei – caretas musicais

Apesar de ser mestre no assunto, não sei a causa.
Todo músico que eu conheço (e eu conheço literalmente milhares) faz algum tipo de careta em algum momento enquanto está tocando.
Desde um encolher dos olhos como um míope tentando ler, passando por um imprensar da língua contra a parte interna da bochecha até expressões de dor intensa, durante um solo ou até no decorrer natural da música, todos nós fazemos caretas.
Apesar do fenômeno ser conhecido como guitar face, até cantores e gaitistas têm esse traço em comum.
Como baterista, eu conheço bastante bem minhas caretas, que na maioria das vezes são causadas por simples exerção física ao tocar rápido demais (a maioria dos bateristas também tendem a virar a cabeça para o lado, como tentando apontar o ouvido para a frente do palco na fútil tentativa de ouvir algo além de si mesmo).
Nem minha constante vigilância dos meus próprios atos me garante um conhecimento maior do acontecimento.
O mais próximo que eu consegui chegar de obter uma resposta foi um estudo que li há algum tempo que dizia que, enquanto tocam, músicos desligam a parte do cérebro responsável pela inibição e automonitoramento, mas isso não responde minha dúvida.
Por que fazemos tantas caretas enquanto tocamos?

Enigmatemático

A resposta do último é 200.
A sequência que eu coloquei é a dos números em português começando com a letra D.
Dois minutos depois de ir ao ar, a resposta já havia sido dada. Ou eu coloco um muito fácil ou um muito difícil.
Espero que o de hoje seja ligeiramente mais desafiador, para combinar com o título que me custou muito mais horas para ser bolado que o enigma em si.
Num mundo normal e que faça sentido, qual o próximo número que deveria aparecer nesta linha: 0; 1; 1; 2; 3; 5; 8; 13; 1113; 3113; ?

Abram os vidros e deixem o spam sair

Mais um dia, mais um spam, mais um artigo combatendo essa praga.
O de hoje é um sobre carros e benzeno que pede a todos os motoristas para não ligarem o condicionador de ar assim que entraram em seus carros pois blá blá blá.
(Mais uma vez, é parte da minha política não incluir o texto para não confundir, senão daqui a seis meses tem uma ruma de gente pensando “é verdade sim, eu vi num blogue de ciência!” e isso é uma das últimas coisas que eu quero.)
Quem já recebeu o dito cujo pode conferir, quem não ainda recebeu espere um pouco. Ele vai chegar.
Vamos lá.
A primeira coisa que eu gosto de checar nesse tipo de mensagem é a consistência interna: entre o primeiro e o último parágrafo há alguma contradição?
Logo no começo temos uma lista de problemas que o produto causa. No final, temos outra lista.
Para mim, isso tem cheiro de empolgação do autor, como Chaves quando se empolga e fica chutando o ar, dizendo “zás, zás, e isso, e mais aquilo, e mais aquilo outro e, e, e…”.
Quem estava escrevendo não se satisfez com apenas seis doenças, aí antes de acabar o texto incluiu mais três ou quatro.
E sim, existe uma contradição pequena, mas que está lá.
O email afirma que o produto “causará leucemia”. Não é “pode causar”, é “vai causar, se ligue!“.
E ainda na mesma linha diz que “pode causar câncer”, assim, bem despreocupado. “É, pode ser que cause, mas não sei, não tenho certeza. É mais um ‘talvez’ que um ‘é batata!'”
Primeiro diz que vai (leucemia é um tipo de câncer), depois diz que talvez.
E a conjugação verbal? cáspite, deplorável!
Meu segundo problema (depois da gramática) é a miríade de doenças distintas e não-relacionadas que podem decorrer da exposição à substância protagonista.
Esse tem até “envenena os ossos”. Ou seja, não tente fazer caldo com benzeno por perto.
Agora, as informações testáveis: níveis seguros e exposição, sensações olfativas e relação com doenças.
O primeiro eu não achei confirmação ou negação, então vou ignorar. Até porque 76% das pessoas inventam estatísticas para confirmar seus argumentos, o que torna todos os números do email inúteis para mim.
O segundo é fácil. O autor assemelha “cheiro de carro novo” a toxicidade.
Segundo um estudo coreano, quanto mais velho o carro, mais benzeno ele produz.
Ciência 1, spam 0.
O mesmo estudo concluiu que a exposição aumentava durante o inverno, quando não se usa ar-condicionado em carros.
2 x 0
A principal fonte de benzeno é externa, vindo diretamente da gasolina, e não interna, proveniente de painéis e dutos de ventilação, como sugere o email.
3 x 0
Terceiramente, leucemia foi associado sim a benzeno. Que não é liberado pelo painel do carro, então não se preocupem por isso.
Outro ponto que eu checo sempre é a origem. Esses emails são geralmente traduções, então procurar em outras línguas sempre revela alguma coisa.
Por exemplo: é afirmado no texto que o nível aceitável dentro do carro é de “0,05 gr por cm2” (sic).
Um email em inglês de maio deste ano (o mais antigo que consegui rastrear, fazendo desse o spam mais novo do pedaço) fala em 50mg por pé quadrado, que daria 0,05 miligramas por centímetro quadrado, mil vezes menos.
Tem mais um pouco de matemágica incluída que difere medonhamente da versão em inglês, mas como eu disse, esses números não fazem sentido para mim.
Eu tenho quase certeza de que o original não foi escrito no Brasil por causa desse dado bastante explícito: “Se estacionado em área externa, sob o Sol, a uma temperatura superior a 16ºC”.
Exatamente em qual lugar do país existe uma área externa sob o sol onde o interior de um veículo não atingiria os dezesseis graus em cinco minutos?
Nossas contas sempre são pelo menos acima de vinte graus.
Isso é seguido por um conselho que pelo meu ponto de vista é pouco prático: “Recomenda-se que abra os vidrose porta para sair o ar quente interior antes que entre no carro.”
Desconsiderando a estrutura textual que me dá náuseas sempre que leio, quanto tempo esse “ar quente” demora para se dissipar?
Morando numa cidade muito quente e ensolarada como é Natal, posso dizer que esse tempo vai além dos limites da paciência da maioria das pessoas que eu conheço.
Eu concordo que os vidros devem permanecer abertos um tempinho, mas com o carro em movimento. E não para aerar o benzeno-mortal-envenenador-de-ossos, mas para tirar o calor-mortal-criador-de-círculos-sudoríferas-sob-os-braços de dentro do veículo.
Por fim, fica a dica: manter os vidros abertos enquanto o carro está andando aumenta a circulação do ar dentro do veículo, dissipando calor mais rapidamente e economizando combustível que seria gasto para condicionar o ar forçosamente.
Via ClauChow, minha atravessadora de emails sem sentido.

Mais spams destruídos:
Alpiste não cura diabetes nem nenhuma outra coisa;
Como reconhecer um spam;
Motivos para não incluí-los em meus textos;
Spam da Doença de Chagas em feijão;
Spam sazonal da gripe suína;
Spam dos batons com chumbo;
Spam do camarão e da vitamina C;
A falsa cura do câncer desmentida mais rapidamente que eu já vi;
Spam dos absorvente internos que causam câncer.

Rapidinha – pipoca

Uma dúvida me corroia há anos: existe alguma diferença entre pipoca estourada “tradicionalmente” e uma feita em panela de pressão?
Ontem a noite obtive resposta.
Não, ambas ficam exatamente com a mesma textura/formato médio.
Cozinha; o laboratório do cientista frustrado.

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