Não proteste. A culpa é sua mesmo.

Vocês, com acesso ao Facebook e mais que vinte segundos de concentração, leiam este relato e, principalmente, assistam aos vídeos linkados no final.

Aos demais, resumo: o Brasil é uma desgraça. Enquanto uma pessoa é presa ilegalmente por exercer um ^direito constitucional^ (aspas irônicas), um estádio (construído com dinheiro roubado) lotado comemora um jogo de futebol.

Você mora num país onde vinte e tantos fedorentos chutando um couro inflado tem mais importância que a Magna Carta. Você prefere apanhar da polícia a ter o direito de processar o Estado pela surra indevida.

Você, pessoalmente, deixou o país chegar nesta situação, onde o presidente da Câmara dos Deputados roubou seis milhões de reais, deixando órfãos sem comida e idosos sem remédio, e os deu a um bode (sim, o animal).

Henrique Eduardo Alves, o mesmo ladrão que em 2002 estava sob investigação por ter 15 milhões de dólares em contas fora do país enquanto claramente sonegava o Imposto de Renda, cometendo um crime conhecido como “evasão de divisas”, descrito na famosa Lei do Colarinho Branco, artigo 22. Investigação que, dois meses depois, PUF!, sumiu.

O que eu posso fazer contra ele? Ele é presidente da Câmara (e deputado a 42 anos consecutivos) e tem, pelo menos, 150 vezes mais dinheiro que eu. Existe algum mecanismo para que eu, cartorário com meus impostos em dia, possa processar esse cretino por ter roubado tanto dinheiro meu? Ou, pelo menos, um que me garanta que a Constituição ainda existe, já que eu posso ser preso por nada e ele pode roubar à vontade sem consequências?

Não, não existe. Eu posso até tentar fazer algo, mas é só até esta etapa que eu chegaria. Posso até pagar os cinco reais que o sebista aqui ao lado cobra numa Constituição, mas seria só mais um amontoado inútil de folhas entulhando meu lar.

E por quê? Porque você deixou isso acontecer. Mas por que a culpa é sua? Ela é menos minha que sua, porque eu pelo menos vivo de tentar, inutilmente, fazer algo. Mas também sou culpado. Todos somos. Todo os brasileiros que vivem aqui e que já viveram aqui desde sempre são culpados.

Nosso país é um lixo. Uma abominação, uma anomalia, um câncer. Todo o dinheiro que é produzido por nós, trabalhadores, é consumido por ladrões da estirpe de Henrique e Maluf (este procurado pela polícia do mundo e foragido aqui) e psicopatas como José Dirceu, Renan Calheiros, Collor. Acobertadores de bandidos como Lula, FHC, Dilma; homicidas em massa como Rosalba Ciarlini, Micarla de Sousa, Eduardo Paes; mentirosos compulsivos como Haddad, Sérgio Cabral, Alckmin, etc, etc.

100% do que você produz lhe é roubado. Você tem uma poupança no banco, mas lembra que ela já foi confiscada? Você guarda o dinheiro em casa, mas sabia que o Primeiro Ministro de Myanmar, certa vez, disse que as notas mais altas (de 50 e 100) deixaram de ter valor? Milhares de famílias acordaram um dia com seus colchões cheios de papel sem valor que costumavam ser suas economias da vida toda. “Isso não pode acontecer aqui”, você diz? Por que não? Quem vai impedir? Qual mecanismo existe neste país para impedir algo assim? Nenhum, é a resposta.

O Brasil é um lixo. E eu só não saio daqui de novo porque meus currículos ainda não foram enviados.

Nessa tal Copa das Confederações (que é tão sem sentido quanto não poder embarcar numa aeronave com um recipiente maior que cem mililitros em volume) a FIFA vendeu ingressos para cadeiras que não existem.

A Copa do Mundo é deles. Nossa é só a conta.

A Copa do Mundo é deles. Nossa é só a conta.

O link para o relato (Facebook, novamente) está embebido na foto. Clicái-a.

O problema não é a FIFA. O problema é você que achou que seria uma boa ideia uma Copa do Mundo num país de terceira. A culpa é sua por ter deixado que o seu representante aceitasse as demandas de uma empresa estrangeira que vai levar 100% do lucro da competição.

Três vezes em menos de dez anos, na verdade, com Jogos Pan-Americanos, Copa e Olimpíadas. Porque vinte e tantos fedorentos estragando uma vegetação rasteira é mais importante que a segurança da sua mãe numa rua escura.

Aqueles vagabundos desocupados que estão atrapalhando o trânsito porque não querem pagar vinte centavos a mais deixaram de existir quinta-feira, sob as bênçãos de Santo Antônio e dos cacetetes da polícia neandertalizada que protege você de uma vida melhor e mais digna para um possível filhote que venha a sair de você.

Ao contrário do que estão dizendo, a polícia não é mal treinada. Ela é excelentemente treinada. O problema é que ela é treinada aqui, no lixo.

O problema não é a polícia. O problema é o treino. Ou, melhor ainda, o local onde o treinamento se dá.

Os policiais são excepcionais e retêm 100% do treinamento. O problema é que o treinamento é dar tiro na cara de favelado. Pelas imagens fica claro que “munição menos-que-letal” é algo alienígena para os soldados (sim, jamais esqueçam que quem patrulha as ruas são soldados militares) que atiram somente paralelamente ao chão, à altura da cabeça, sendo que com balas de elastômero ou latas de gás.

Nossa polícia militar é um grande esquadrão de extermínio. O problema é que nos últimos dias eles têm usado uma munição inadequada.

Ainda no Facebook eu li a seguinte frase: “Somos [jornalistas] a polícia militar do pensamento contando as mesmas histórias sempre sobre vandâlos e bárbaros que querem destruir a ordem e o progressso“. Mas o que isso significa? Significa que a polícia bate em você e o jornalista diz que você é o culpado porque ambos, policial e jornalista, assim como os réus de Nuremberg, estavam “apenas cumprindo ordens”.

E quem dá as ordens? Você? Não.

Mas a culpa é de quem?

Exatamente.

Não se enganem. Os protestos começaram por causa de vinte centavos.

Mas graças ao despreparo, irresponsabilidade e desgoverno, hoje os protestos se tornaram algo muito maior.

Você vive num país sem leis, sem proteção, sem infraestrutura e sem condições básicas de cidadania. Esses protestos estão do seu lado, do nosso lado.

Brasil 2013

Nada justifica truculência. Especialmente em protestos pacíficos. Não se acovarde agachado aos pés dos mais fortes; junte-se aos mais fracos. Eu gostaria de, pelo menos uma vez em minha vida, ter orgulho (ou “menos vergonha”, como disse Bartholomew JoJo Simpson) do meu país. E você?

———

P.S. Não vou conferir o texto mais do que já o fiz (confesso que sob lágrimas). Se existirem ainda erros, que se danem. Tanto os erros quanto você que veio aqui comentar acerca deles.

Reclamações quanto à minha conduta devem ser encaminhadas para o meu email pessoal com cópia para a diretoria do Scienceblogs Brasil (procurem, não é difícil achar). Ou não, não me importo. Descobri recentemente algo chamado “perspectiva”.

Processos civis e criminais devem ser mandados ao meu endereço físico. O que eu escrevo aqui não é de responsabilidade do portal ou de seus colaboradores e eu espero que você morra dolorosamente por tentar me reprimir.

Você fuma e acha que só prejudica você?

Sabia que para produzir um único cigarro são gastos vinte e seis mil litros de água? E isso é só para o cigarro, sem contar a embalagem![1]

E sabia que essa água não pode ser reutilizada por ficar contaminada demais por metais pesados (usados como bactericida na filtragem) e por hidrocarbonetos provenientes do alcatrão (usado para concentrar a nicotina do tabaco)?[2]

Alcatrão esse que precisa ser extraído de petróleo bruto, em outro processo bastante dispendioso em termos de recursos (especialmente gás natural e água) com o único intuito de aumentar o poder viciante da nicotina, sem qualquer preocupação com a saúde humana, visto que piche (outro nome mais comum para alcatrão) é extremamente tóxico (especialmente quando aquecido além do seu ponto de vapor durante o ato de fumar) mas modifica as moléculas de nicotina de modo que elas se fixem mais facilmente aos receptores do cérebro e causem mais desconforto durante abstinência.[3]

E as plantações de tabaco? Você já viu alguma? Provavelmente sua resposta é “não”, pois elas ficam em imensas fazendas de monocultura em países pobres (geralmente governados por ditadores) como Nicarágua, Honduras e República Dominicana.[4]

Algumas dessas plantações são tão grandes que é possível vê-las do espaço!

E alguns cientistas climáticos[5] dizem que o vapor extra jogado na atmosfera pela evaporação de tantas plantas imediatamente acima daqueles países é o que tem causado os ciclones e furacões que vêm assolando a região nas últimas décadas com cada vez mais intensidade (lembram do Katrina?).

Vista do espaço, plantação de tabaco a 15 quilômetros sudeste de Tegucigalpa, Honduras.

Vista do espaço, plantação de tabaco a 15 quilômetros sudeste de Tegucigalpa, Honduras.

E todos nós sabemos que monoculturas danificam o solo e para continuar produzindo necessitam de fertilizantes químicos que poluem leitos subterrâneos, contaminando os poços artesianos das famílias ao redor, onde a incidência de câncer é a maior do mundo, perdendo somente para algumas vilas ao redor de Chernobil.[2]

E sabia que o dono da Phillip Morris, maior companhia de cigarros do mundo, é também sócio majoritário de uma das maiores empresas produtoras de adubo químico do planeta?[4]

Lógico que toda essa química precisa vir de algum lugar. Você sabe de onde sai o nitrogênio para o famoso NPK? Ele é produzido naturalmente quando folhas mortas apodrecem e essa é a maneira mais barata de consegui-lo.

E aí, consegue pensar num lugar com muita folha morta largada no chão para quem quiser vir pegar? Exatamente. Amazônia![4]

Mas tudo bem, é só um monte de folha seca, não?

Nada disso! Nossa floresta só sobreviveu até hoje por causa desse nitrogênio, que aduba naturalmente aquele solo pobre em recursos. Sem esse elemento, o solo não tem como sustentar tantas árvores.

Você achava que a única causa do desmatamento era a derrubada de árvores adultas? Isso é fichinha! Comparado com todas as mudas que jamais crescerão por falta de nitrogênio no solo as madeireiras são santinhas![6]

Ou seja, não é só o seu pulmão que cigarro afeta, mas também o pulmão do mundo!

A Indústria dos Cigarros está poluindo e contaminando irremediavelmente nossa água [7], criando dependência química e matando milhões de pessoas ao redor do mundo sem o menor pudor, enriquecendo regimes ditatoriais em países miseráveis, aumentando a freqüência e intensidade de furacões em áreas já comprometidas por péssima infraestrutura e pobreza, dando câncer em trabalhadores inocentes e suas famílias, destruindo quimicamente o solo das plantações e acabando com a nossa Amazônia.

Apesar de todas essas provas incontestáveis, você já viu o Greenpeace, o Instituto Nina Rosa, PETA, a WWF ou qualquer outra ONG “ambientalista” ir atrás das empresas de cigarro? Já viu alguma manifestação desses grupos “verdes” em frente à casa de algum magnata da Indústria da Fumaça?

Não? E sabe o por quê?

O jornal londrino The Sun divulgou, em uma matéria publicada ano passado, o resultado de uma investigação jornalística que liga Ingrid Newkirk (fundadora do grupo PETA e fumante inveterada desde seus 14 anos) e seu amigo de infância Patrick Moore (co-fundador do Greenpeace International e presidente da central canadense) ao conglomerado americano de lobby a favor do cigarro no senado americano (incluindo dois senadores e seis congressistas).[7]

Como ambos os grupos foram considerados como células terroristas [8] ao longo dos anos devido a comprovados atentados à bomba e destruição de patrimônio público e privado, os chefes das duas maiores “facções verdes” do planeta fizeram acordo com os lobistas mais poderosos do mundo para se livrar da cadeia em troca de jamais organizar um ataque contra uma fábrica ou desviar um carregamento de cigarros.

Ingrid Newkirk, fundadora do grupo PETA, também fuma.

Ingrid Newkirk, fundadora do grupo PETA, também fuma.

Podem procurar por aí! Desde o começo dos anos 80 não há um só ato registrado de protesto ambientalista contra a Indústria do Cigarro. E como todas as ONGs menores pedem a benção àquelas duas maiores, fica por isso mesmo.

Portanto, lembrem disso quando acenderem o próximo cigarro.

———

[1~8] De onde eu tirei tudo isso? Fora alguns inexpressivos detalhes, o resto saiu dos recessos mais nefastos da minha imaginação, sem qualquer confirmação.

Mas parece verdade, né?

Cadela dá à luz gato na China

Imagem de arquivo

Não, não dá.

Cachorros têm 78 cromossomos enquanto gatos têm 38. E, neste caso, matemática já é motivo suficiente.

A foto provavelmente mostra um gato recém-nascido adotado por uma cadela parturiente. Ou então alguém simplesmente colocou um gatinho no meio de uma ninhada de cachorrinhos.

O lens flare como forma de expressão

Muito se discute atualmente acerca do uso do efeito de reflexo de lente, ou lens flare, pelo diretor de Super 8 e criador de Felicity, J.J. Abrams.

Mas o que diabos é esse tal de lens flare que parece irritar tanto os neo-nerds? [1]

Se você tentou fotografar alguma coisa contra o sol, provavelmente já percebeu como a imagem não fica exatamente cristalina. Por causa do excesso de luz, a imagem aparece esbranquiçada, com pouco contraste ou simplesmente ruim demais para ser aproveitada até no Instagram, repositório de tudo que não presta em termos de efeitos visuais.

lens-flare-wiki

O efeito pode ser também o de escurecer a imagem enquanto o software da câmera se concentra em proteger seus filtros regulando o obturador para uma velocidade mais rápida, captando praticamente apenas a luz do sol.

lens-flare

Outra manifestação do efeito são círculos (ou, por vezes, outras formas geométricas [3]) psicodélicos, como os da primeira foto lá em cima, causados quando a fonte de luz não está diretamente no campo da lente mas ainda assim a afeta, infiltrando raios fora de eixo, como no diagrama abaixo.

lente

Ou seja, para um lens flare ocorrer, são necessárias duas coisas: uma lente e uma fonte de luz intrusa.

Nos sets completamente verdes e inexistentes dos filmes grandiosos de hoje em dia não existem acidentes. Não existe uma lâmpada pendurada num lugar errado dando interferência no resto da cena. Se a imagem estiver estourada, com ruído ou com pouco contraste, tenha certeza de que foi proposital.

Então, vem a pergunta: por que usar, num filme milionário, um (d)efeito tão amador que geralmente é causado por um erro de preparação?

A resposta: preservação da suspensão de descrença. Mais sobre isso adiante.

George Lucas, por exemplo, é fortemente criticado pelo uso excessivo do chroma key, abandonando a técnica antiga de animatronics e modelos em escala reduzida em busca de maior flexibilidade (um boneco do tipo Gizmo, de Gremlins, não pode dar saltos e piruetas de forma convincente, como o faz Jar Jar Binks) mas, segundo alguns, em detrimento do senso de realidade que a interação de humanos com objetos físicos e reais proporciona. Mas logo ele, que um dia foi multado pela Directors Guild of America (Associação Americana de Diretores) por não incluir créditos no começo de Star Wars justamente para não destruir a suspensão de descrença ao dizer claramente aos espectadores que aquilo era um filme feito por atores!?

O revolucionário (nem tanto) O Hobbit causa frisson com sua alta taxa de quadros (48fps, o dobro do comum) mas Peter Jackson pré-resolveu o problema da suspensão de descrença usando mais locações (cenários reais) do que sets verdes (o famoso chroma key já citado). Ou seja, é mais difícil o espectador sair do mundo fantástico no qual está imerso porque percebeu algum artefato visual que o lembrou de que aquilo na tela não é um documentário de verdade.

Nada de computação. Apenas uma câmera deslizando sobre um papel.

George Lucas está sendo julgado pelas pessoas que sabem que existe um anão dentro de R2-D2 e que o movimento quebradiço dos olhos e lábios de Jabba são controlados por um técnico com um controle remoto na mão. Ou seja, essas mesmas pessoas conseguem identificar que o ator está contracenando com uma bola de tênis pendurada numa vara de pescar na frente de um fundo verde ou azul ao invés de realmente defletindo raios laser de um flutuante módulo de treinamento Jedi. Para quem não assistiu ao primeiro Jurassic Park no cinema (o principal filme de transição entre as técnicas de marionetes e computação) porque não era ainda nascido, isso não faz diferença. A cara esquisita de Falcor com sua língua obviamente mecanicovertebrada parece ridícula e antiquada para a geração que já cresceu com computadores de alta eficiência e capacidade de processamento.

Eles querem mais é mergulhar junto com Anakin na lava enquanto ele perde permanentemente o braço. A nova trilogia de Star Wars é para eles, não para nós.

Mas, se depender de J.J. Abrams, teremos nossa doce, doce vingança geriátrica em breve. E graças aos lens flares.

A geração para qual Jar Jar Binks foi criado sempre viu filmes digitais de alto orçamento com cenários e personagens virtuais, onde cada costura no bolso da bermuda do terceiro figurante sem fala numa cena de pânico é planejada e calculada. Música não tem mais chiado de fita (silêncio digital é absoluto, já que não existem mais cabeçotes roçando em plástico magneticamente embebido), o preto não é mais mofado (deixou de ser a representação de uma cor que foi filmada, processada e projetada – três passos envolvendo luz -, para ser a absoluta falta de estímulo luminoso) e a imagem não tem mais riscos e marcas de cortes (não existe mais fita para desgastar no projetor a cada sessão nem para ser recortada e colada para depois ser copiada – agora é tudo um arquivo digital incorruptível).

Como o sol no plano de fundo não é mais o Sol, estrela primária do nosso sistema planetário, mas sim uma série de uns e zeros, as lentes não são mais sobre-estimuladas e não distorcem o que estão captando (que está sendo perfeitamente iluminado por trás, com luz indireta e difusa, etc, etc termos técnicos, etc). A única coisa que o reflexo na lente faz para os representantes da corrente geração consumidora de blockbusters é tirá-los da trama, fazendo-os lembrar que aquilo é um efeito incluido na pós-produção.

“No espaço, ninguém ouve você reclamar do lens flare…”

Ao usar o tão previamente evitado reflexo de lente, Abrams inteligentemente reconecta os fãs antigos com os filmes contemporâneos.

Ao mostrar a USS Enterprise envolta num clarão supostamente indesejado, ela fica contextualizada num universo onde ela existe, é real e está sendo filmada! O diretor se utiliza de um truque para enganar nosso cérebro e fazê-lo crer ainda mais na existência daquele universo do qual ele (o cérebro do espectador) não deve sair, pois ao lembrar que o lens flare ocorre com lentes e uma fonte de luz intrusa, a associação com “esta cena foi filmada por uma câmera in loco” é praticamente inevitável. Mas só para quem assistia a Os Trapalhões Nas Minas do Rei Salomão num assento de madeira numa sala com ventilação ambiente e já viu o efeito ocorrendo naturalmente nas mãos de um operador de câmera inexperiente seguindo as orientações orgânicas de um diretor mal pago num filme de baixo orçamento.

Ou seja, ao tirar os espectadores jovens da ilusão de que aquilo é real pois foi filmado, o diretor paradoxalmente coloca os mais velhos ainda mais dentro do mundo onde aquilo é real pois foi filmado! No espaço sideral! HÁ MUITO, MUITO TEMPO!

E isso é genial!

Mal posso esperar o novo filme da terceira trilogia de Star Wars. [2]

———

[1] – Aqueles que cresceram sem saber muita coisa mas hoje em dia gostam de dizer “bazinga” e se autodenominam “nerds” por gostarem de ver TV e por nunca terem calçado um sapato social.

[2] – Mentira, posso esperar até bem confortavelmente. Não sou exatamente um cinéfilo.

[3] – Tem ainda o efeito como o da imagem abaixo, onde o reflexo não forma círculos mas cortes horizontais, por causa da distorção anamórfica usada para projeções em telas largas (widescreen). Sugiro que leiam a respeito, pois é bem interessante.

A única coisa real nessa cena é a má atuação.

A dança do sexo (com vídeos!)

No começo deste ano, o Scienceblogs Brasil desenvolveu o primeiro amigo secreto científico da blogosfera internacional do qual eu tenho notícia e participação. Pessoas interessadas se inscreveram (vocês ainda podem participar, seguindo o link ao final do texto) e foram secretamente sorteadas pelo nosso sofisticado software Emulador Kochiano de Algoritmos Não-Triviais e Objetividade Confiável (Kochian Emulation of Non-Trivial Algorithms and Reliable Objectivity, em inglês). Abaixo, vocês conferem a produção do meu amigo secreto (não para mim, que já descobri quem é) cuja identidade é dever de vocês adivinhar.

Oh well… vejam só quem para quem será meu presente de amigo secreto…

Nada mais, nada menos que Igor Santos. O cara que mantém sei lá quantos blogues (de qualidade, diga-se de passagem) e um tumblr de sacanagem. He.

Pensando na gama curiosa de assuntos abordados pelo autor deste blog e também para homenagear e reconhecer o trabalho deste querido blogueiro, nada mais interessante do que falar cientificamente de… sexo!

No mundo animal, especialmente na vida selvagem, encontrar uma parceira para reproduzir-se é um assunto sério, é a única chance de passar adiante seus genes em busca do sucesso evolutivo.

Para tal, os machos são capazes de tudo, até mesmo de oferecer sua própria vida em busca de uma fêmea que os queira.

Esta seleção por parte das fêmeas tem um nome na ciência: Seleção Sexual. Conceito introduzido primeiramente por Charles Darwin e Wallace em seus manuscritos sobre a Teoria da Seleção Natural (1859). Como uma parte importante dessa teoria, a seleção sexual propõe que a seleção de características morfológicas ou comportamentais que levam ao cruzamento bem sucedido oferecem vantagens reprodutivas em contraste com as vantagens de sobrevivência. Com a seleção sexual pretende-se explicar por que determinadas características que não fazem a menor diferença para a questão sobrevivência, continuam sendo mantidas em determinados grupos de animais.

Quer vantagem reprodutiva e um harem só para você? Pergunte ao mundo animal: como?

Chamar a atenção da fêmea é o objetivo dos caras, então desfile, mostre seus ornamentos coloridos, dance na frente delas! Ahh a dança… dentre as técnicas atrativas do mundo animal, esta é a minha predileta! Para cada cruzamento, um show!

Abaixo alguns exemplos dentre os pássaros:

Birds of Paradise, exibem suas penas e pulam alegremente na frente da fêmea, como se dissesse: “Oi estou aqui, me escolhe? Me escolhe? Veja o que meus genes fizeram por mim e poderá vê-los em suas crias, que tal?”

Se sozinho você não se acha capaz, convide os amigos! Veja abaixo o ritual para conseguir uma fêmea utilizado pelos Flamingos:

Mas, a dança não é só habilidade dos penosos, vejam só este “break” da aranha:

Dada a importância dos rituais de acasalamento, o estudo do sexo e dos diferentes comportamentos acerca dos animais foi transformado em uma série vídeos da Earth Touch TV, uma “web emissora” engajada em transformar as histórias da natureza em coisas emocionantes e cheias de imaginação.

O vídeo abaixo, que infelizmente não tem legendas em português, é um dos episódios da série Wild Sex, protagonizada pela bióloga Dra. Carin Bondar.

Neste episódio ela comenta a respeito dos diferentes rituais de dança que envolvem o mundo animal. Vale a pena conferir!

Como uma parte do InterCiência, este texto deixa algumas dicas de quem sou, porquê tenho uma forma característica de postar. Deixa dicas sobre minha profissão, porquê não me arriscaria a falar sobre espaçonaves. Mas não deixa muitas dicas a respeito do meu blog, nem mesmo a respeito do assunto tratado por ele.
Alguém tem ideia de quem sou?

———

[Este texto é parte da primeira rodada do InterCiência, o intercâmbio de divulgação científica. Saiba mais e participe em: http://scienceblogs.com.br/raiox/2013/01/interciencia/]

Entrevista com o presidente do CREMERN, Jeancarlo Cavalcante

Uma semana atrás, um vídeo surgiu e foi apresentado pelas redes nacionais de televisão mostrando o médico cirurgião Jeancarlo Cavalcante ao fim de uma cirurgia, perguntando a uma enfermeira onde estava o fio de aço para fechar o tórax de um paciente do Hospital Walfredo Gurgel, maior hospital de emergência do estado do Rio Grande do Norte. O fio em questão, no entanto, havia acabado, fazendo com que o cirurgião não pudesse finalizar corretamente a cirurgia, o que o levou a fazer a denúncia em vídeo

Três dias atrás, no mesmo hospital, não havia antibióticos, remédios para pressão ou sequer soro fisiológico, demonstrando o quão grave é a situação da rede de saúde pública do estado do Rio Grande do Norte, representados pela governadora (formada em Medicina) Rosalba Ciarlini Rosado e seu secretário estadual de saúde, o cirurgião Isaú Gerino. Este, declarando publica e sarcasticamente que prolene é o material mais usado (o que não é verdade, nem de longe) e abrindo um processo contra Jeancarlo por “falta de ética”, enquanto aquela indagou “se não tinha o fio de aço, por que então começou a cirurgia?”, criando uma situação abstrata onde o cirurgião deveria ter um rol dos equipamentos e suprimentos sempre memorizado (devendo também conferir um por um, ao invés de iniciar a cirurgia de emergência o quanto antes) e, no lugar de tentar salvar a vida do paciente, deixá-lo morrer por omissão.

Nenhum dos dois, até agora, pediu desculpas à população pela falta de insumos pelos quais nós, contribuintes do estado, já pagamos. Sequer admitiram que a situação é insustentável e irresponsável, preferindo desviar o foco da própria irresponsabilidade usando o Dr. Jeancarlo como alvo, futilmente o processando por uma suposta falta de ética da qual tanto Rosalba quanto Isaú são os mais culpados.

Após a denúncia, surgiram fotos de uma mulher dando à luz na calçada de outro hospital (Santa Catarina, segundo maior do estado) e vídeo de um outro paciente (estava numa maca! Que sortudo!) bombeando a ventilação mecânica nele mesmo. É difícil de entender, mas assista ao vídeo neste link.

Falta soro e sutura nos hospitais, mas dinheiro para queimar existe. Mais precisamente trezentos mil reais gastos três semanas atrás na queima de fogos da madrugada do dia primeiro deste.

R$ 300 mil queimados enquanto falta antibiótico em salas cirúrgicas.

Secretário Isaú Gerino, governadora Rosalba: vocês são dois irresponsáveis. Não adianta culpar um médico que não tem como trabalhar decentemente nem dizer que o problema vem de outras administrações. No momento em que, ao invés de tentar resolver, vocês atacam publicamente e processam futilmente o denunciante, vocês estão mostrando o verdadeiro caráter de vocês para a população.

Pena que não existe conselho de ética para políticos. Mas aguardem um processo civil assim mesmo. Cansei de ver o descaso, desdém e a indecência com os quais vocês tratam o meu estado e sua população.

Isaú Gerino - um dos culpados.

Isaú Gerino – um dos culpados.

Enquanto isso, caríssimos leitores, vejam aqui a entrevista que fiz ontem a noite com o médico Jeancarlo Cavalcante (e visitem o Dispersando para mais informações e contexto):

Agradecimentos especiais a outro doutor, Karl, pela pronta ajuda.

N/g·ma

Suponha que você está trancado num quarto sem portas ou janelas nem qualquer meio de comunicação com o mundo externo. Suponha também que você não tenha claustrofobia, o que calharia bem nesta situação.

À sua frente se encontram: um bilhete escrito em letras médias com uma caligrafia confortável e pontuação impecável, uma balança precariamente suspensa por um fio, e dez caixas de sapatos (nenhuma delas, no entanto, é azul ou amarela) contendo itens variados. E você, além de usar óculos, tem uma caneta no bolso. Apesar de estar sem meias.

O conteúdo de uma das caixas.

O conteúdo de uma das caixas.

O bilhete lê:

Caro(a) Senhor(a), saudações.

Este quarto onde Vossa Senhoria se encontra tem 0,276458 m.n.³ (milhas náuticas cúbicas) de volume, estando o teto exatamente a vinte e seis e um quarto pés acima do topo da vossa cabeça, de onde pende um fino fiapo fibroso fixado firmemente a fitilhos filamentosos fincados em filetes enfileirados no frágil forro facilmente fraturável. Fitai! E não vos firais, pois ao fim de seu comprimento, o fio sustenta um sofisticado sistema de sensores satisfatoriamente precisos que medem, ao mesmo tempo, tanto a massa quanto o peso de um objeto apoiado sobre si – no entanto, tal ação só poderá ocorrer uma única vez, e rapidamente, visto que o sistema já está bem próximo de seu limite de colapso, que acontecerá inexoravelmente nos próximos cinco (05) minutos.

Das caixas ao vosso lado, cada uma contém pelo menos 631 itens de tamanhos e formatos diversos sendo – todos eles em cada uma – sempre com exatamente meio ou um grama. Antes do tempo limite expirar (evento que se dará inequivocamente com a queda do instrumento), para sair desse impossível aposento no qual vos encontra, precisareis, com uma só pesagem, descobrir quais caixas contêm itens com 0,5g e quais as com os de 1g.

Para os de aprendizado visual.

Para os de aprendizado visual.

Apesar da saudação genericamente neutra e a pessoa verbal impessoal contradizerem o implícito conhecimento preciso da sua altura, é de se esperar que você esteja sendo observado e que o tempo só passe a valer quando você acabar de ler o bilhete.

Passados cento e oitenta segundos, você finalmente consegue decifrar que em algumas caixas todos os objetos pesam 0,5 e, em outras, todos pesam 1 grama.

Você precisa descobrir quais caixas têm pesos de meio e quais têm pesos de um grama. Lembre-se, só lhe resta pouco mais de 3 minutos (o que não é tempo suficiente para contar o número de objeto em cada uma). Como você procede?

Dica: existem várias formas de resolver o problema e muitos dos dados dados são irrelevantes.

Previsões cientificamente estáveis para 2013

Alguns anos atrás eu previ várias coisas e conseguir errar 100% delas. Isso só prova como meu poder é forte, já que estatisticamente eu deveria ter acertado pelo menos uma ou duas (ou seja, eu sou mais poderoso que a Estatística (ou algo assim – não consigo construir uma frase positiva com dados negativos envolvendo flutuações numéricas) ou então preciso ser mais conciso e direto (o que não é difícil para mim, acreditem. Eu sei ser bastante direto e focado (como semana passada, por exemplo, quando fui resolver um negócio com meu plano de saúde e precisei passar em seis locais diferentes e falar com, literalmente, oito pessoas distintas (imagine só quem não tem plano de saúde e/ou um carro. O que me remete ao meu desejo de vender o meu (o que seria uma imensa economia, tanto de combustível quanto de manutenção (e até mesmo uma economia emocional, já que está cada vez mais difícil dirigir sem se aborrecer nesta cidade (e, pior ainda, está estacionar. Na rua já é impossível (apesar de eu achar que deve haver algum momento em que existam vagas, já que não creio que todos aqueles carros passem semanas estacionados (eu sei que eles não passam, a verdade é essa, vez por outra eu consigo uma vaga (algumas vezes (mas não sempre) até perto de algum estabelecimento que eu pretendo visitar) mas ou estaciono imediatamente ou perco a vez) ocupando os mesmos lugares, entra dia, sai dia) e os estacionamentos pagos estão ficando cada vez mais ridiculamente caros, o que aumenta ainda mais meu gasto com o carro) porque o motorista atual é só um pouco menos selvagem que um demônio-da-Tasmânia (especialmente os motoqueiros, que parecem ter algum fetiche com espaços apertados (e até mesmo quando não existem carros na frente eles andam costurando um trânsito virtual (o que só aumenta o desgaste do veículo (ou, como é mais costumeiro, ficam mirando a moto nas faixas pintadas no chão (o que me lembra uma criança tentando andar na ponta da calçada, se equilibrando) mesmo tendo toda uma rua livre para transitar) e os custos de manutenção de algo que deveria ser bem barato) que só existe na parte de seus cérebros que cria a expectativa e a recompensa (acho que às vezes até sexual (se bem que talvez “emocional” fosse uma palavra mais adequada para o contexto), se bem que não posso ter certeza do que se passa na cabeça de alguém assim), realizando a proeza de atrapalhar o trânsito preventivamente), talvez até causado pelo enclausuramento dos capacetes que usam (será que existe alguma correlação com isso? Pode ser que sim, vou pesquisar a respeito (nota mental: pesquisar o efeito do aumento da temperatura do capacete num cérebro já debilitado (ou seria o contrário, esse tipo de mente já seria predisposto?) pelo desejo de andar no meio de transporte mais arriscado já produzido) e talvez renda um post interessante) ou pela adrenalina constante que recebem na circulação) raivoso e acuado) e ainda eu deixaria de me preocupar em tê-lo roubado (a violência só piora, só piora), arranhado, etc) e investir o dinheiro em alguma coisa mais rentável), não contando as que confrontei por engano (porque, obviamente, os endereços nas guias estavam errados e desatualizados) e que não sabiam do que eu estava falando (não que as outras partes diretamente envolvidas também soubessem) nem como me direcionar ao lugar correto, mesmo assim não me tirando a concentração) em praticamente todos os momentos, jamais perdendo o fio da meada) para não confundir tanto os meus leitores com divagações aleatórias) ao invés do meu placar perfeitamente zerado.

Então, sem mais delongas, vamos às previsões para 2013!

Ao longo deste ano, terremotos inesperados ocorrerão na Europa e na Ásia, surpreendendo os moradores da região E virando notícia em vários locais ao redor do globo. Pessoas predispostas a esse tipo de comportamento se compadecerão e demonstrarão apoio (nunca se saberá ao quê exatamente).

Lá pelo meio do ano – prevejo que entre julho e agosto -, uma chuva de meteoros aparecerá no céu do norte, anunciando mudanças. A este fenômeno será dado o nome genérico referente aos filhos do primeiro grande herói. Visiono ainda que está herói teria cortado a cabeça de um terrível monstro com cabelos de serpente e que seu nome rima com a frase “ter seu“, que pode ser completada com coisas bonitas como “coração”, “número de telefone” ou “cachorro na minha casa nunca mais! Da próxima vez que você viajar, deixo-o num hotel”.

Um artista famoso vai fazer algo que chocará o mundo, enquanto alguns o defenderão, chamando de “arte” qualquer que seja a bizarrice que aquele venha a fazer. Trocadilhos com seu nome surgirão e seu nome virará um meme nas redes sociais. O termo “celebridade” será inadequadamente utilizado.

Em 2013, o planeta ficará em trevas. Pelo menos parte dele. E no dia 3 de novembro.

As noites de 25 de abril, 25 de maio (COINCIDÊNCIA???) e 18 de outubro também ficarão ligeiramente mais escuras. Isto é, nos locais com pouca iluminação artificial e dentro da região afetada pelos eclipses lunares.

Você que está lendo isto agora também está sendo pré-lido. Você (ou algum familiar ou alguém próximo) terá algum sintoma em pelo menos uma das regiões especificadas no diagrama abaixo:

Se você é mulher, as chances aumentam significativamente naquela parte mais abaixo. Aquela bem vermelha que parece está escorrendo. Viu qual é?

Um centenário morrerá. Seja literalmente ou apenas semanticamente, completando 101 anos e ultrapassando o título de “centenário”. De toda forma, prevejo que um centenário morrerá.

Em previsões relacionadas, antevejo o nascimento de um(a) futuro(a) centenário(a) e ainda acrescento que este(a) viverá até depois do fim deste século(a).

Vejo ainda futuramente que os homeopatas continuarão dizendo que o conceito científico de vacina confirma seus conceitos mágicos de ultradiluições de água com água² enquanto denunciam que toda a ciência médica está errada e mata milhões de pessoas. É também certeza que eles dirão que homeopatia é boa porque não muda há 200 anos (errado, mas já que estamos ignorando uma realidade, vamos ignorar todas as outras – menos as que nos beneficiam) e citarão, sempre que possível, a Talidomida.

O Sol mostrará toda a sua indiferença pela raça humana aumentando a incidência de casos de cânceres de pele e, mesmo com todo o calor que vem fazendo, continuará a brilhar normalmente, jamais diminuindo a temperatura terrestre.

Ele também vai mostrar sua indiferença a tudo, continuando a ser uma estrela inanimada e desprovida de consciência.

Para o meu prazer, continuarei a ser xingado pelos pseudocientistas que passam tanto tempo insistindo em me mandar estudar que ficam sem tempo de estudar eles mesmos. Qualquer coisa, não só o assunto sobre o qual eles dominam exatamente zero.

Este ano será o primeiro em vinte e seis cujos dígitos não se repetem.

Antecipo ainda que os calendários de outras culturas continuarão a ser um mistério para a maioria eurocêntrica que não entende porque os judeus dizem que estamos em 5773 ou qual motivo levaria os chineses a contar os anos em animais. Sério, como eles esperam obter alguma vantagem com isso?

E que Alá nos proteja!

E, finalmente, em 2013, alguns post ficarão inacabados, possivelmente causando tensã

Que 2013 nos traga saúde (ou, Uma Ode aos Mediconomistas)

Neste arbitrário ponto em nossa órbita ao redor de uma estrela mais-ou-menos, me pego esperançoso, desejando que mais de nós – humanos – fôssemos de uma classe rara mas imprescindível e cuja falta é cada vez mais sentida; a dos mediconomistas.

É função desses pro(-bono)fissionais nos nortear em direção a investimentos físicos seguros que nos amealhem riquezas de modo a não nos preocuparmos indevidamente com a perda de bônus e tônus, empregando corretamente nossa suada ATP e evitando a longo prazo ações que desvalorizem nossa circulação (sanguínea ou monetária), como depósitos de gordura (até na poupança) que podem reduzir a liquidez das nossas artérias, elevando as taxas e aumentando perigosamente o nosso débito cardíaco, nos levando a uma possível falência respiratória.

Mediconomia

É também de sua responsabilidade nos recomendar movimentar os fundos visando evitar a necessidade de aplicações de risco cirúrgico (passando longe tanto do Tesouro quanto da tesoura), monitorando regularmente nossa conta corrente sanguínea para que fiquem seguros todos os nossos bens – incluindo o bem-estar, sem deixarmos de considerar todas aquelas siglas (HDL, CDB, TGP, DOC, T4, CC) que tanto nos esvaziam os bolsos das calças quanto nos criam bolsas nos olhos.

À maioria de nós, pessoas comuns, falta experiência para lidarmos com o balanço de nossas contas e as balanças dos nossos cantos. Temos também dificuldade em seguir as orientações da Receita e as instruções de receitas mesmo geralmente quando bem-sucedidos em evitar colapsos – emocionais e econômicos.

Precisamos que esses profissionais nos mostrem que a única promoção que nos é realmente essencial é aquela da saúde. E que esta não deve vir com descontos ou prestações, mas sempre à vista de todos.

Toda riqueza consiste de coisas desejáveis, isto é, coisas que satisfazem as necessidades humanas, direta ou indiretamente. Mas nem todas as coisas desejáveis são contadas como riqueza.

– Alfred Marshall

Tudo em excesso é contrário à Natureza.

– Hipócrates

Porque spams de chumbo em batons nunca morrerão

O texto a seguir não é meu, mas uma tradução autorizada de “Why Lead in Lipstick Stories Will Never Go Away“, de Perry Romanowsk do blog Chemists Corner que incluo aqui como complemento para o meu desmistificador texto Batons com chumbo, de 2008.

Essa conversa sobre o estudo em batons feita pelo Daily Mail que mostrou que 55% dos batons contêm traços de chumbo me leva a concluir que esse problema jamais irá embora.

O problema?

Não, não é o chumbo em batons. Isso não é um problema. Não existe nenhum estudo com credibilidade que demonstre que o nível de chumbo em batons seja algo além de seguro.

O problema é a crença de que não existem níveis seguros para chumbo ou mercúrio ou “toxinas” que podem ser tolerados em cosméticos.

Infelizmente, isso é um problema com o qual químicos de cosméticos precisarão lidar pelo resto dos dias. Algumas pessoas nunca entenderão a noção, colocada por Paracelso:[1]

Todas as substâncias são venenosas; não existe uma só que não seja veneno. A dose correta é o que diferencia os venenos” Paracelso (1493-1541)

Por que?

Eu tenho pensado muito sobre isso por ser um assunto tão frustrante para os cientistas. Aqui estão cinco razões pelas quais eu acho que este problema nunca vai desaparecer.

 

1. Estórias de medo são mais convincentes que estórias de segurança.

Isto é uma coisa óbvia em jornalismo. As pessoas estão mais interessadas em notícias que as assustam do que naquelas que são tranquilizadoras. Sensacionalismo vende. Assim, estórias de cosméticos tóxicos sempre superarão outras declarando a segurança dos mesmos. E já que os cosméticos são, de longe, mais seguros do que a maioria dos outros produtos de consumo, os meios de comunicação terão que reinventar estórias sobre chumbo no batom. Simplesmente não há muito mais que isso.

 

2. As pessoas são analfabetas científicas.

Essas estórias de medo são convincentes porque as pessoas, em geral, são analfabetas científicas [não sabem necessariamente como a Ciência funciona nem se interessam por fatos científicos]. Elas também preferem respostas simples a respostas complexas; “chumbo = ruim” é uma coisa muito mais fácil para o público compreender do que “certos níveis de chumbo são ruins porém outros níveis são perfeitamente seguros”. A mercantilização do medo é eficaz porque quem propaga essas notícias o faz para um público que não é entende o bastante de ciências para julgar a validade da estória.

Note a cor. Não é um batom.

Note a cor. Não é um batom.

Você sabia que para determinar o nível de chumbo num batom você tem que usar ácido fluorídrico para separar o chumbo? O ácido estomacal não é forte o suficiente para separar os componentes de um batom que tenha sido ingerido, dessa forma, o chumbo nunca nem vai entrar em seu sistema!

 

3. As pessoas são incapazes de avaliar adequadamente o risco.

Outro imenso problema é que as pessoas não são boas em avaliar riscos. Eles se preocupam com chumbo em batom ou BPA em garrafas de plástico que têm níveis de risco na casa do 1 em milhões, mas nem pensam duas vezes em entrar num carro que tem um 1 em 100 chances de matá-los. Aqui está uma lista das coisas que matam as pessoas. Cosméticos não são uma delas.

 

4. A mensagem beneficia alguns vendedores.

Uma das razões pelas quais essas estórias vão continuar circulando é que alguns comerciantes usam o medo para se destacar de seus concorrentes.[2 – veja anúncio da Mary Kay mais abaixo] Quando você lê alegações como “sem parabeno” ou “livre de sulfato” em um recipiente, há a afirmação implícita de que essas coisas são perigosas ou ruins [ou, no caso deste açúcar, de que seus concorrentes estão usando enxofre na composição]. Estas não são mentiras diretas, mas implicitamente propagam mitos que ajudam empresas a se beneficiarem deles.

 

5. Efeito Dunning-Kruger.

Finalmente, há o “efeito Dunning-Kruger“. Esta é a noção de que alguém não qualificado em um assunto tem mais confiança na sua opinião sobre aquele assunto do que alguém que realmente sabe alguma coisa sobre aquilo. Então, você tem livros escritos por agentes de relações públicas e modelos de passarela expondo a toxicidade e perigos de cosméticos. Por que é que as pessoas que passaram suas carreiras a pesquisar e testar produtos cosméticos não estão escrevendo livros assustadores sobre cosméticos? Por que será que justamente as pessoas que provavelmente mais conhecem a verdade sobre se os cosméticos são perigosos não estão escrevendo esses livros?

Dunning Kruger explica.

Esse não tem chumbo. Notou a diferença?

Esse não tem chumbo. Notou a diferença?

 

Formuladores cosméticos

Então, o que isso significa para cosméticos e químicos de cosméticos?

Em alguns aspectos estórias assim são positivas para os químicos de cosméticos. Sempre que um ingrediente cai sob a mira de uma ONG (organização não-governamental) fiscalizadora, os fabricantes de cosméticos se movimentam e colocam seus cientistas para trabalhar, desenvolvendo versões de fórmulas que não contêm o ingrediente visado. Este trabalho de formulação defensiva pode manter as pessoas com um trabalho remunerado durante anos.

No entanto, isso significa que você não vai conseguir criar qualquer inovação real ou desenvolver produtos com novos benefícios. Você simplesmente gasta seus dias reformulando produtos que funcionam perfeitamente bem usando ingredientes alternativos, geralmente de baixa qualidade. (Se não fossem de qualidade baixa, estariam sendo usados desde o começo).

Mas, infelizmente, o mundo é assim. Até que melhore-se a educação científica em nosso país e em todo o mundo, as pessoas ainda vão achar “Chumbo no Batom” convincente.

— Notas do tradutor —

[1] Essa passagem (e o link associado) diz respeito ao fato de que, na dose correta, qualquer substância se torna perigosa. Os mais perigosos são aqueles cujas doses prejudiciais são menores (ácido sulfúrico, soda cáustica, cianureto, metanol), mas até água e ar podem se tornar venenos quando em doses grandes o suficiente.

[2] Isto abaixo é um cartaz que supostamente a empresa Mary Kay está dispersando pelo Facebook (citando parágrafos inteiros do meu texto sem os devidos créditos corretos), se aproveitando da situação para virar o jogo a seu favor (clique para ver a imagem do tamanho correto):
 
Mary Kay não tem batom com chumbo. Nenhuma outra marca também.

Agradecimentos especiais a Pedro, por ter chamado minha atenção para o original.

 

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