Não proteste. A culpa é sua mesmo.

Vocês, com acesso ao Facebook e mais que vinte segundos de concentração, leiam este relato e, principalmente, assistam aos vídeos linkados no final.

Aos demais, resumo: o Brasil é uma desgraça. Enquanto uma pessoa é presa ilegalmente por exercer um ^direito constitucional^ (aspas irônicas), um estádio (construído com dinheiro roubado) lotado comemora um jogo de futebol.

Você mora num país onde vinte e tantos fedorentos chutando um couro inflado tem mais importância que a Magna Carta. Você prefere apanhar da polícia a ter o direito de processar o Estado pela surra indevida.

Você, pessoalmente, deixou o país chegar nesta situação, onde o presidente da Câmara dos Deputados roubou seis milhões de reais, deixando órfãos sem comida e idosos sem remédio, e os deu a um bode (sim, o animal).

Henrique Eduardo Alves, o mesmo ladrão que em 2002 estava sob investigação por ter 15 milhões de dólares em contas fora do país enquanto claramente sonegava o Imposto de Renda, cometendo um crime conhecido como “evasão de divisas”, descrito na famosa Lei do Colarinho Branco, artigo 22. Investigação que, dois meses depois, PUF!, sumiu.

O que eu posso fazer contra ele? Ele é presidente da Câmara (e deputado a 42 anos consecutivos) e tem, pelo menos, 150 vezes mais dinheiro que eu. Existe algum mecanismo para que eu, cartorário com meus impostos em dia, possa processar esse cretino por ter roubado tanto dinheiro meu? Ou, pelo menos, um que me garanta que a Constituição ainda existe, já que eu posso ser preso por nada e ele pode roubar à vontade sem consequências?

Não, não existe. Eu posso até tentar fazer algo, mas é só até esta etapa que eu chegaria. Posso até pagar os cinco reais que o sebista aqui ao lado cobra numa Constituição, mas seria só mais um amontoado inútil de folhas entulhando meu lar.

E por quê? Porque você deixou isso acontecer. Mas por que a culpa é sua? Ela é menos minha que sua, porque eu pelo menos vivo de tentar, inutilmente, fazer algo. Mas também sou culpado. Todos somos. Todo os brasileiros que vivem aqui e que já viveram aqui desde sempre são culpados.

Nosso país é um lixo. Uma abominação, uma anomalia, um câncer. Todo o dinheiro que é produzido por nós, trabalhadores, é consumido por ladrões da estirpe de Henrique e Maluf (este procurado pela polícia do mundo e foragido aqui) e psicopatas como José Dirceu, Renan Calheiros, Collor. Acobertadores de bandidos como Lula, FHC, Dilma; homicidas em massa como Rosalba Ciarlini, Micarla de Sousa, Eduardo Paes; mentirosos compulsivos como Haddad, Sérgio Cabral, Alckmin, etc, etc.

100% do que você produz lhe é roubado. Você tem uma poupança no banco, mas lembra que ela já foi confiscada? Você guarda o dinheiro em casa, mas sabia que o Primeiro Ministro de Myanmar, certa vez, disse que as notas mais altas (de 50 e 100) deixaram de ter valor? Milhares de famílias acordaram um dia com seus colchões cheios de papel sem valor que costumavam ser suas economias da vida toda. “Isso não pode acontecer aqui”, você diz? Por que não? Quem vai impedir? Qual mecanismo existe neste país para impedir algo assim? Nenhum, é a resposta.

O Brasil é um lixo. E eu só não saio daqui de novo porque meus currículos ainda não foram enviados.

Nessa tal Copa das Confederações (que é tão sem sentido quanto não poder embarcar numa aeronave com um recipiente maior que cem mililitros em volume) a FIFA vendeu ingressos para cadeiras que não existem.

A Copa do Mundo é deles. Nossa é só a conta.

A Copa do Mundo é deles. Nossa é só a conta.

O link para o relato (Facebook, novamente) está embebido na foto. Clicái-a.

O problema não é a FIFA. O problema é você que achou que seria uma boa ideia uma Copa do Mundo num país de terceira. A culpa é sua por ter deixado que o seu representante aceitasse as demandas de uma empresa estrangeira que vai levar 100% do lucro da competição.

Três vezes em menos de dez anos, na verdade, com Jogos Pan-Americanos, Copa e Olimpíadas. Porque vinte e tantos fedorentos estragando uma vegetação rasteira é mais importante que a segurança da sua mãe numa rua escura.

Aqueles vagabundos desocupados que estão atrapalhando o trânsito porque não querem pagar vinte centavos a mais deixaram de existir quinta-feira, sob as bênçãos de Santo Antônio e dos cacetetes da polícia neandertalizada que protege você de uma vida melhor e mais digna para um possível filhote que venha a sair de você.

Ao contrário do que estão dizendo, a polícia não é mal treinada. Ela é excelentemente treinada. O problema é que ela é treinada aqui, no lixo.

O problema não é a polícia. O problema é o treino. Ou, melhor ainda, o local onde o treinamento se dá.

Os policiais são excepcionais e retêm 100% do treinamento. O problema é que o treinamento é dar tiro na cara de favelado. Pelas imagens fica claro que “munição menos-que-letal” é algo alienígena para os soldados (sim, jamais esqueçam que quem patrulha as ruas são soldados militares) que atiram somente paralelamente ao chão, à altura da cabeça, sendo que com balas de elastômero ou latas de gás.

Nossa polícia militar é um grande esquadrão de extermínio. O problema é que nos últimos dias eles têm usado uma munição inadequada.

Ainda no Facebook eu li a seguinte frase: “Somos [jornalistas] a polícia militar do pensamento contando as mesmas histórias sempre sobre vandâlos e bárbaros que querem destruir a ordem e o progressso“. Mas o que isso significa? Significa que a polícia bate em você e o jornalista diz que você é o culpado porque ambos, policial e jornalista, assim como os réus de Nuremberg, estavam “apenas cumprindo ordens”.

E quem dá as ordens? Você? Não.

Mas a culpa é de quem?

Exatamente.

Não se enganem. Os protestos começaram por causa de vinte centavos.

Mas graças ao despreparo, irresponsabilidade e desgoverno, hoje os protestos se tornaram algo muito maior.

Você vive num país sem leis, sem proteção, sem infraestrutura e sem condições básicas de cidadania. Esses protestos estão do seu lado, do nosso lado.

Brasil 2013

Nada justifica truculência. Especialmente em protestos pacíficos. Não se acovarde agachado aos pés dos mais fortes; junte-se aos mais fracos. Eu gostaria de, pelo menos uma vez em minha vida, ter orgulho (ou “menos vergonha”, como disse Bartholomew JoJo Simpson) do meu país. E você?

———

P.S. Não vou conferir o texto mais do que já o fiz (confesso que sob lágrimas). Se existirem ainda erros, que se danem. Tanto os erros quanto você que veio aqui comentar acerca deles.

Reclamações quanto à minha conduta devem ser encaminhadas para o meu email pessoal com cópia para a diretoria do Scienceblogs Brasil (procurem, não é difícil achar). Ou não, não me importo. Descobri recentemente algo chamado “perspectiva”.

Processos civis e criminais devem ser mandados ao meu endereço físico. O que eu escrevo aqui não é de responsabilidade do portal ou de seus colaboradores e eu espero que você morra dolorosamente por tentar me reprimir.

O instinto da vingança

"Para, maldito! Toma essa! Hein? O que é aquilo?"

“Para, maldito! Toma essa! Hein? O que é aquilo?”

Pelo jeito, não é só o Homem que tem o instinto/impulso de vingança.

Nós apenas temos uma capacidade maior de concentração.

Voltei da minha lua-de-mel mas ainda não estou cognitivamente capaz de blogar de verdade. Tenho muita coisa na minha pasta de rascunho, o que deveria significar que voltarei com tudo em alguns dias mas, bem verdade, tudo deve permanecer lá para todo o sempre. Apenas não queria ficar mais de dois meses sem colocar algo aqui, caso achem que estou fazendo algo importante.

Você fuma e acha que só prejudica você?

Sabia que para produzir um único cigarro são gastos vinte e seis mil litros de água? E isso é só para o cigarro, sem contar a embalagem![1]

E sabia que essa água não pode ser reutilizada por ficar contaminada demais por metais pesados (usados como bactericida na filtragem) e por hidrocarbonetos provenientes do alcatrão (usado para concentrar a nicotina do tabaco)?[2]

Alcatrão esse que precisa ser extraído de petróleo bruto, em outro processo bastante dispendioso em termos de recursos (especialmente gás natural e água) com o único intuito de aumentar o poder viciante da nicotina, sem qualquer preocupação com a saúde humana, visto que piche (outro nome mais comum para alcatrão) é extremamente tóxico (especialmente quando aquecido além do seu ponto de vapor durante o ato de fumar) mas modifica as moléculas de nicotina de modo que elas se fixem mais facilmente aos receptores do cérebro e causem mais desconforto durante abstinência.[3]

E as plantações de tabaco? Você já viu alguma? Provavelmente sua resposta é “não”, pois elas ficam em imensas fazendas de monocultura em países pobres (geralmente governados por ditadores) como Nicarágua, Honduras e República Dominicana.[4]

Algumas dessas plantações são tão grandes que é possível vê-las do espaço!

E alguns cientistas climáticos[5] dizem que o vapor extra jogado na atmosfera pela evaporação de tantas plantas imediatamente acima daqueles países é o que tem causado os ciclones e furacões que vêm assolando a região nas últimas décadas com cada vez mais intensidade (lembram do Katrina?).

Vista do espaço, plantação de tabaco a 15 quilômetros sudeste de Tegucigalpa, Honduras.

Vista do espaço, plantação de tabaco a 15 quilômetros sudeste de Tegucigalpa, Honduras.

E todos nós sabemos que monoculturas danificam o solo e para continuar produzindo necessitam de fertilizantes químicos que poluem leitos subterrâneos, contaminando os poços artesianos das famílias ao redor, onde a incidência de câncer é a maior do mundo, perdendo somente para algumas vilas ao redor de Chernobil.[2]

E sabia que o dono da Phillip Morris, maior companhia de cigarros do mundo, é também sócio majoritário de uma das maiores empresas produtoras de adubo químico do planeta?[4]

Lógico que toda essa química precisa vir de algum lugar. Você sabe de onde sai o nitrogênio para o famoso NPK? Ele é produzido naturalmente quando folhas mortas apodrecem e essa é a maneira mais barata de consegui-lo.

E aí, consegue pensar num lugar com muita folha morta largada no chão para quem quiser vir pegar? Exatamente. Amazônia![4]

Mas tudo bem, é só um monte de folha seca, não?

Nada disso! Nossa floresta só sobreviveu até hoje por causa desse nitrogênio, que aduba naturalmente aquele solo pobre em recursos. Sem esse elemento, o solo não tem como sustentar tantas árvores.

Você achava que a única causa do desmatamento era a derrubada de árvores adultas? Isso é fichinha! Comparado com todas as mudas que jamais crescerão por falta de nitrogênio no solo as madeireiras são santinhas![6]

Ou seja, não é só o seu pulmão que cigarro afeta, mas também o pulmão do mundo!

A Indústria dos Cigarros está poluindo e contaminando irremediavelmente nossa água [7], criando dependência química e matando milhões de pessoas ao redor do mundo sem o menor pudor, enriquecendo regimes ditatoriais em países miseráveis, aumentando a freqüência e intensidade de furacões em áreas já comprometidas por péssima infraestrutura e pobreza, dando câncer em trabalhadores inocentes e suas famílias, destruindo quimicamente o solo das plantações e acabando com a nossa Amazônia.

Apesar de todas essas provas incontestáveis, você já viu o Greenpeace, o Instituto Nina Rosa, PETA, a WWF ou qualquer outra ONG “ambientalista” ir atrás das empresas de cigarro? Já viu alguma manifestação desses grupos “verdes” em frente à casa de algum magnata da Indústria da Fumaça?

Não? E sabe o por quê?

O jornal londrino The Sun divulgou, em uma matéria publicada ano passado, o resultado de uma investigação jornalística que liga Ingrid Newkirk (fundadora do grupo PETA e fumante inveterada desde seus 14 anos) e seu amigo de infância Patrick Moore (co-fundador do Greenpeace International e presidente da central canadense) ao conglomerado americano de lobby a favor do cigarro no senado americano (incluindo dois senadores e seis congressistas).[7]

Como ambos os grupos foram considerados como células terroristas [8] ao longo dos anos devido a comprovados atentados à bomba e destruição de patrimônio público e privado, os chefes das duas maiores “facções verdes” do planeta fizeram acordo com os lobistas mais poderosos do mundo para se livrar da cadeia em troca de jamais organizar um ataque contra uma fábrica ou desviar um carregamento de cigarros.

Ingrid Newkirk, fundadora do grupo PETA, também fuma.

Ingrid Newkirk, fundadora do grupo PETA, também fuma.

Podem procurar por aí! Desde o começo dos anos 80 não há um só ato registrado de protesto ambientalista contra a Indústria do Cigarro. E como todas as ONGs menores pedem a benção àquelas duas maiores, fica por isso mesmo.

Portanto, lembrem disso quando acenderem o próximo cigarro.

———

[1~8] De onde eu tirei tudo isso? Fora alguns inexpressivos detalhes, o resto saiu dos recessos mais nefastos da minha imaginação, sem qualquer confirmação.

Mas parece verdade, né?

untitled*

*Eu nem sei mais quantos anos eu tenho.

Quer dizer, eu sei o ano em que nasci e ainda sei fazer contas, mas minha idade? Nem ideia.

Apesar das aparências, minha excelente e admirada esposa é mais velha que eu, mas eu aparentemente testemunhei e lembro de coisas que aconteceram antes dela nascer.

Talvez eu seja um daqueles, como o personagem de Cameron Crowe em Quase Famosos [1], cujos pais atribuem uma idade errada, por algum fim ou outro. Isso explicaria porque eu sempre fui quase um palmo mais alto que meus colegas de classe, comecei a me barbear aos doze e tive meus primeiros cabelos brancos aos vinte (existe uma foto minha aparentemente aos dois meses de idade mamando sentado no colo da minha mãe. Sentado. Aos dois meses. Aparentemente).

Tento continuar não sendo convencional.

Tento continuar não sendo convencional. Só me casei depois de casado.

Há cinco anos que tenho um emprego fixo que não envolve carregar instrumentos, exige farda e horários previsíveis. Há cinco anos também que blogo, que não envolve nada do citado e é meu escape mental e plataforma criativa agora que não sou mais ‘músico’.

É bem certo que já tratei de mais temas e já me fez conhecer expressivamente por mais gente escrevendo que tocando, mas ainda sinto falta. Penso em montar uma produtora apenas como fachada para ter um estúdio bom em casa. Vejamos.

Aprendi bastante. Especialmente aprendi (acho/espero) como reconhecer uma informação e como certificá-la, o que me levou a saber identificar de quem devo desconfiar automaticamente (o peso das evidências falam por si).

Neste tópico, não sei se vocês conhecem, mas existe uma competição esportiva (nem tanto, mas é tão esportiva quanto qualquer outra competição automobilística) envolvendo tratores que puxam uma espécie de mega-arado com um mecanismo que o finca mais no chão quanto maior for a distância percorrida (neste vídeo dá para ter uma ideia mais ou menos). Depois de passar pela fase do “eu sei tudo” adolescente e a do “só sei que nada sei” dos vinte e poucos anos (e apenas recentemente me dando conta de que as pessoas não mudam – e isso vale também para suas ideias e conceitos), me sinto hoje em dia um pouco como num tractor pull, onde quanto maior é a distância que percorro rumo à iluminação intelectual que tanto almejo, maior é também o atrito com o chão da rotina cerebral que tenta me fazer não sair do lugar. E, por conseguinte, mais fumaça eu solto (novamente, vide vídeo linkado).

Dez anos separam as duas realidades. DEZ!

Dez anos separam as duas realidades. DEZ!

Mas, como já dizia o velho, “nostalgia era melhor antigamente”. Minha vida vai muito bem hoje em dia para eu sentir falta de um passado que provavelmente não aconteceu (ou do qual eu não participei efetivamente).

Minha cota de amigos já está mais que preenchida (o que a invalida como cota, eu acho, mas ênfases nem sempre fazem sentido sob escrutínio etimológico), já estou devidamente casado, já consigo respirar por uma noite inteira e estou até comendo salmão uma vez por semana, preparado na minha panela profissional. Só preciso agora diminuir este bucho imenso.

De projetos ainda estou cheio e agora eles incluem várias outras mídias e temas. Mas não vou dizer agora para não estragar a surpresa (ou decepcionar quem estiver aguardando por algo que provavelmente nunca vai acontecer).

Não que eu esteja reclamando. Quem lê meia linha do que escrevo sabe que já faço disso um estilo de vida. Estou apenas tentando refletir e manter uma tradição viva. Aliás, a melhor grafia seria ^tradição^, com as minhas personalizadas aspas irônicas. Mais para mim do que para os leitores, vero, já que o pouco que escrevo no aniversário deste faz algum sentido fora da minha cabeça.

Bu!

Bu!

Ah! Hoje também é aniversário de Robert Downey, Jr. e Cazuza. De nada.

[1] – Só que ao contrário. No filme semi-autobiográfico, William é bem mais novo que seus colegas e estranha o fato de não ter entrado ainda na puberdade apesar dos seus supostos 13 anos. Ele tem, na verdade, 11 anos.

* – Se um dia eu escrever um livro a capa além de ser roxa e amarela (para se destacar bem nas prateleiras) será também desprovida de letras ou imagens. E a primeira página já deve começar no meio de uma estória qualquer. E, é por isso que nenhuma editora ainda concordou em me lançar…

Filmes da páscoa: Super 8

Seguinte: eu passei a páscoa (o feriado, na verdade) vendo filmes c’a mulher. Alguns eu já conhecia por já tê-los visto, outros só de fama e uns aleatórios (muito, muito aleatórios). Como eles variam muito em estilo e tema, resolvi espalhar três resenhas em três dos meus muitos blogs; este, um de generalidades e outro, er, digamos, para adultos. Respectivamente, os filmes resenhados são o aleatório Schizopolis e a pornochanchada Giselle (para adultos ou adolescentes cuidadosos).

Pois bem, vamos lá. Falando pela segunda vez de J.J. Abrams em menos de dois meses, preciso dizer que gosto da até-agora-incompleta trilogia-não-declarada de filmes de monstro do sujeito.

Em Super 8, que é claramente uma prequência de Cloverfield (que deveria ter sido chamado Camcorder), nós seguimos as aventuras dos protagonistas pré-adolescentes durante a produção de um filme de zumbi em 1979 (inspirados pelo excelente Dawn of the Dead, de 1978) que é interrompido bruscamente quando um monstro chega à cidade. Nenhum spoiler até aqui porque a premissa do filme é essa: um monstro aparece.

Abundância de lens flares à parte, o filme é realmente muito envolvente (por motivos que ficam óbvios na meta-análise de um dos personagens) e extremamente bem feito, mamando nas tetas de Tubarão e Alien, o 8º Passageiro na forma como o monstro é apresentado.

Cientificamente (que é mais ou menos do que deveria tratar este blog) a trama é, digamos assim, facilmente desconstruível. O material alienígena mostrado é meio mágico demais para ser analisado criticamente e a telepatia entre estruturas de reinos distintos não é muito confortável para um chato catador de pelo em ovo, mas quando eu vejo um filme eu dou todos os descontos que o filme precise, desde que a estória me atraia. E Super 8 me atraiu deveras.

O fim, no entanto, poderia não ter sido tão açucarado (mas, aparentemente, as plateias humanas não gostam de ver crianças morrendo).

Destaque aqui para a irmã de Dakota Fanning, Elle. Excelente e galeguíssima atriz infantil que desejo fortemente que não caia na espiral lohanica de autodestruição anorética e venha a se tornar uma adulta igualmente bela e talentosa.

E, apesar da quantidade inaceitável de crianças, a obra é realmente boa. Especialmente considerando que o contraste dos efeitos especiais foi corrigido para TV, não deixando aquele preto-casaco-de-Matrix esquisito que só fica bonito projetado numa tela cinza e não se dá bem num RGB domiciliar. Nota dez pelo cuidado.

Eu assisti também a uns cinco filmes de Hitchcock durante o fim de semana estendido e recomendo que vocês vejam Festim Diabólico, que revolucionou o cinema (em 1948!) com o conceito de uma só cena durante a integralidade da película (sério!) e que resolve o problema do “quem terá cometido o crime?” mostrando o assassinato logo na primeira cena.

Agora, voltem lá em cima e cliquem nas outras duas resenhas e tentem adivinhar qual é mais interessante que o filme e vice versa. Dica: mandem carne.

Cadela dá à luz gato na China

Imagem de arquivo

Não, não dá.

Cachorros têm 78 cromossomos enquanto gatos têm 38. E, neste caso, matemática já é motivo suficiente.

A foto provavelmente mostra um gato recém-nascido adotado por uma cadela parturiente. Ou então alguém simplesmente colocou um gatinho no meio de uma ninhada de cachorrinhos.

Se liberarem o casamento gay, daqui a pouco tem gente querendo casar com cachorro

, diz o sujeito que acha normal e completamente lícito se aproveitar dos instintos gregários de um cachorro para mantê-lo no quintal arriscando a vida como cão de guarda. Ou diz a madama que nunca deu uma só hora de expediente na vida e tem um Lasha Apso que recebe mais atenção que suas próprias filhas, incluindo bolo com velas e festa no dia do seu aniversário.

Esse mesmo casal hipotético (mentira, ambos existem) não enxerga qualquer abominação no ato de levar seu animal para ser cruzado com outro, completamente desconhecido, de onde sairão filhotes que virarão rapidamente mercadoria (mais sobre isso adiante).

Creio que essas mesmas pessoas que dizem que a gayzada não pode se casar são as mesmas que estão se revoltando contra os direitos das empregadas domésticas (às quais se referem apenas por “domésticas”, para não deixarem cair no esquecimento os “bons tempos de antigamente” em que escravos se dividiam entre os de lida e os domésticos). Ou seja, essas pessoas ainda acreditam na noção bíblica (uns quatro ou cinco mil anos defasada, modernizada apenas pela influência europeia bimilenar por conveniência cromática) de que as pessoas podem ser divididas em níveis, ou subclasses; brancos ricos > brancos pobres > animais domésticos > animais de produção > pretos e pobres em geral > animais selvagens > abominações perante deus.

Essas mesmas pessoas respeitam a dignidade de animais da carne vermelha (em homenagem à lenda do Hércules hebraico) enquanto, ops!, esquecem de respeitar o dia de descanso da empregada já que “esse bacalhau não vai se dessalgar sozinho e você faz bem melhor que eu e não precisa ficar até tarde, pode sair assim que servir o almoço e tirar a mesa, não precisa vir amanhã mais cedo, pode lavar os pratos antes de sair”. O potencial de enganar a si mesmo com desculpas esfarrapadas é quase tão ilimitado quanto a hipocrisia humana. “Afinal, ela só trabalha aqui por que gosta, se não gostar pede demissão, tem uma fila de gente querendo trabalhar de doméstica e ainda estou provendo para a minha família” – que só se reúne nos almoços de domingo porque ninguém se aguenta com uma frequência maior que essa. E se o restaurante aceitar cachorros, ele vai junto.

Eu até me perguntava “o que diabo essas pessoas têm para se importarem tanto se um cara quiser realmente casar com seu cachorro” até lembrar que já ouvi de uma sujeita que os animais são inocentes (“menos gatos; gatos são dissimulados” e altamente antropomorfizados) e precisam ser protegidos. Para uma pessoa assim, o bem estar dos animais (que não são Os Animais, mas especificamente o seu cachorro) está tão acima dos direitos de um colega de humanidade que ela cria uma ponte lógica que vai de [casamento gay] até [casamento zoofílico], passando apenas por uma etapa, aquela onde os animais criam consciência momentânea apenas para serem contra seu próprio casamento com um humano, possivelmente gay.

Lembram do casal lá no começo do texto que levou seu cachorro para cruzar para que eles e os donos da cadela pudessem vender os filhotes? Se os animais são tão inocentes e precisam tanto de proteção e não entendem o que está acontecendo e não podem casar com gays, por que então, ó demônios que assombram o caráter dos cristãos, eles podem ser forçados a fazer sexo com um outro animal que nunca viram na vida e podem ser vendidos a qualquer um com dinheiro suficiente logo após tomarem a primeira vacina (e terem orelhas e rabos decepados, outro comportamento completamente adequado na cabeça mal formada desses retardados evolutivos com seus cérebros e capacidade cognitiva de lagartos)? Hein? Alguém tem uma resposta?

Ou a resposta é “animais só devem ser defendidos em situações que envolvem indivíduos dos degraus mais baixos da escala de importância – onde aqueles dos quais tenho medo são os mais rebaixados”?

Eu tenho das certezas a mais absoluta que aquele mesmo casal tradicional, em algum momento (talvez numa época de vacas magras, quando a madama achou que deveria pular do barco antes deste afundar ou quando o sujeito conheceu uma dona na Internet e viu crisedemeiaidademente um futuro melhor e mais sexualmente ativo com ela) já chegou ao limite do matrimônio e, enquanto considerava se valeria mais a pena vender o carro agora ou dividir o valor depois, jamais algum achou ruim a existência do divórcio. Que, junto com morte, é a principal ameaça à sagrada instituição do casamento que tanto querem proteger – desde que seja o dos outros.

Porque só um muito profundo desejo freudiano de controlar os outros explicaria esse tipo de atitude, já que existe tanta gente que se sente agredida quando me vê na rua andando descalço, como se o fato de eu ter uma postura altiva ao mesmo tempo em que tenho pés de agricultor fosse uma ofensa pessoal àquele indivíduo que, obviamente, é o centro de todo o universo e pode, não, DEVE!, ter poder de controlar a tudo e a todos.

Desde que seu poder não possa ser aplicado nele mesmo e nunca interfira nos seu desejo de castrar, mutilar e estuprar por procuração animais, nem no seu direito sagrado de não pagar hora extra para a empregada porque ela precisa trabalhar no dia que é sagrado e de descanso para você e para mais ninguém que se intrometa na sua comodidade.

A única “feliz páscoa” aceitável por aqui.

Num certo dia… (conto)

Eu estava revirando minhas coisas por causa de uma reforma e achei um caderno que, pelo conteúdo de algumas poucas páginas decifráveis, parece ser de 1999.

Além de desenhos aleatórios, símbolos musicais e algo que eu seriamente julgo ser um estudo numérico do alfabeto cuneiforme (sério!), achei o texto abaixo. Eu sei que parece completamente aleatório e inconsequente, mas ele tem uma razão de ser que, depois de apontada, se torna incrivelmente óbvia. Será que vocês conseguem decifrar?

Ei-lo, ipsis litteris, em toda a sua aleatoriedade de um Igor aos 18 anos:

A goteira da bica no quintal de Maria, a mulher de Pedro que trabalha com ferro, já tinha escavocado o piso de pedra quando o acidente se repetiu; a mesma chapa metálica que serve de apoio para os espetos portugueses de figueira e que já tinha ferido Pedro na coxa quando Maria distraiu-se e a deixou cair, caiu novamente, desta vez inexplicavelmente, em cima do dedão do pé de Maria, inchando-o imediatamente.

E isso tudo como se já não bastasse Nino, filho mais velho do casal, quase ter quebrado a perna quando caiu da goiabeira por ter se aventurado nos galhos mais finos atrás das melhores goiabas do pé. Nesse dia, o olhar de desespero dos pais era tão intenso que, apesar da imensa fila, o garoto foi atendido de imediato. O mesmo, porém, não aconteceria com Maria. Mas, como estava chovendo, muitos que preferem não se molhar, nem sairam de casa e a fila do pronto socorro estava até pequena. Em casa, Cascudinho, apelido para Pedro Cascudo Júnior, o filho mais novo, decidiu por manter a fêmea de pardal na gaiola, apesar do macho ter fugido pela manhã depois que ele esqueceu a gaiola aberta por causa do barulho da mãe gritando pelo pé ferido e dos latidos infindáveis e estridentes do cachorro do vizinho, que de tão velho já está banguelo.

Se alguém se interessar realmente acerca da chave decifratória e não conseguir descobrir qualé, eu escrevo a resposta em algum lugar.

LGBT pela Família

NOTA PÚBLICA DE REPÚDIO¹

Nós, representantes autonomeados da causa LGBT, vimos, por meio desta nota pública, declarar repúdio às manifestações em favor da retirada de certas propagandas do ar, em especial a da Gillette, estrelando a modelo brasileira Sabrina Sato e o cantor coreano Psy, que afirma que homens devem se depilar.

Nós, integrantes da sociedade LGBT, acreditamos que a evolução natural do ser humano tem em mente levar a espécie a um padrão corporal completamente desprovido de pêlos (excetuando-se sobrancelhas – ver abaixo o motivo), onde todos seremos mais limpos e asseados.

angelinadavid

Repudiamos veementemente os conclamantes das ditas “liberdades individuais” que são, em verdade, indivíduos sem qualquer organização formal (diferentemente de nós da LGBT) que apenas desejam tumultuar estruturalmente a sociedade contemporânea, esta baseada em asseio e boa imagem.

Somos também contra os cidadãos (cidadãs, em sua maior parte) que levantam a bandeira do “anti-patriarcado”, que visa estabelecer uma femiocracia fundamentada principalmente no acúmulo de sebo e outras secreções dérmicas repugnantes em desnecessários pêlos que escolhem cultivar em locais inadequados, como pernas e axilas – ambos já bem estabelecidos como indesejáveis pela maioria da sociedade, como bem devem ser.

A organização LGBT apóia incondicionalmente esforços visando a extinção definitiva de pêlos corporais (à exceção de cabelos propriamente ditos, sobrancelhas e, possivelmente, dependendo do caso, cílios) na humanidade, sem distinção de sexo (ou seja, homens e mulheres), sejam eles em forma de pôsteres, cartazes, propagandas televisivas ou em rádio, campanhas de Internet (ou Rede Mundial de Computadores) e ações de grupos organizados em redes sociais (p.ex. Orkut, Friendster, MySpace, Facebook, MSN, Lattes ou Twitter).

Esforços assim são extremamente necessários para garantir a perpetuação da espécie e ajudar a levar a cabo o plano que a evolução tem reservado para nós, humanos.

Porta-vozes LGBT que somos, orgulhosamente defendemos nossas idéias a ferro e a fogo, independentemente do que possam apresentar como evidências em contrário, pois acreditamos piamente que tudo isso é para a proteção da Família e fortalecimento do Núcleo Familiar, visto que as atitudes dos grupos pró-sebo servem um único propósito: diminuir as proles por meio de repulsão mútua (afinal, ninguém aceitaria se casar, e conseqüentemente procriar, com um representante peludo do sexo oposto), dificultando o serviço da evolução em sua meta de nos tornar uma espécie melhor, completamente pelados.

Ao tirar nossa liberdade em não ver cabelos saindo pelas mangas das camisas, nossa liberdade de ir à praia sem precisar aturar pernas cabeludas ou calcinhas e calções estufados, nossa sagrada liberdade em não precisar pensar naqueles que são diferentes de nós, representantes LGBT, os apologistas da causa do culto ao pêlo estão inadvertidamente caindo em contradição, pois apóiam as “liberdades individuais”, desde que elas sejam as deles.

Se essa situação de preconceito anti-depilação vier a se estabelecer, corremos um sério risco como sociedade, pois cairemos num declive escorregadio. Começaremos com a perseguição daqueles que sabem que o correto é raspar seus pêlos, daí passaremos à proibição de utensílios de corte, raspagem ou depilação (que, ao contrário do que pensam os pró-barba-feminina com seus dreadlocks mofados e pêlos pubianos transcendendo a linha da cintura, aqueles são instrumentos úteis em outras situações e para outros fins que não a eliminação de pêlos) por parte da ditadura capilar. O próximo passo lógico daqueles que admiram e desejam o excesso de pêlos mal cuidados é sair por aí fedendo ou, pior ainda, feios. Disso para quererem casar com cachorros é um passo, já que a diferença entre uma bola de pêlos e outra é mínima.

Essas pessoas não pensam nas pobres crianças que se assustarão com suas aparências e sem dúvida se traumatizarão ao ver nós em barbas e mulheres de bigode; as mesmas crianças que crescerão sendo oprimidas, com medo de dizer o que realmente sentem e quem realmente são, sendo forçadas a andar por aí com pêlos escorrendo pelas orelhas e narizes, como se isso fosse um comportamento normal.

Essas pessoas que desejam atrasar o processo evolucionário buscam a estagnação do crescimento vegetativo, onde as poucas crianças que por sorte nascerão – frutos de encontros inconseqüentes entre cabeludos drogados – passarão suas vidas com tanto medo de se assumirem peladas que fugirão do convívio social, diminuindo ainda mais as chances da sociedade de se recuperar.

Powder, Energia Pura - documentário futurista sobre o preconceito anti-pelado numa sociedade cabeluda.

Powder, Energia Pura – documentário futurista sobre o preconceito anti-pelado numa sociedade cabeluda intransigente.

Portanto, pedimos cordialmente que sigam os seguintes pontos:

  • Ao invés de alisar os cabelos, corte-os;

  • No lugar de desenhar um “bigodinho de Hitler”, mostre seu amor à Pátria e peça uma brazillian;

  • Não pare o barbeador no joelho ou no pescoço, continue até o alto da coxa (em ambos os casos, subindo e descendo, respectivamente);

  • Ao ir à manicure, peça uma depilação dos braços;

  • Na cadeira do barbeiro, tire a camisa e peça para fazer seus ombros.

  • Lembre-se que somente criaturas horripilantes têm pés cabeludos.

  • Repudie também os esforços dos que pensam em criar uma comunidade cabeluda. Lute conosco!

Nós, LGBT, agradecemos em nome de toda a sociedade.

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¹ Post patrocinado pela organização LGBT – Laserpilados, Glabros, Barbeados e Tricofóbicos.

InterCiência – entregando o jogo

Nosso ano começou aqui no Scienceblogs com uma excelente iniciativa (mesmo que voltada para um nicho específico), o Interciência, onde blogueiros trocariam posts com seus amigos-secretos em duplo-cego, pois somente o organizador, Kentaro, sabia quem eram todos os participantes e ele se negou a revelar as identidades dos presenteantes.

Eu, no entanto, sei exatamente quem escreveu cada texto, me utilizando de apenas três critérios: eficiência (prazo x volume), tema (assunto do blog presenteado e especialidade do presenteante) e gramática (principalmente vírgulas e espaçamento de parágrafos). Mas isso não é importante. O que importa é dizer qual dos textos listados abaixo foi escrito por mim.

Quem me acompanha no Twitter deve ter se dado conta de que eu sou devoto de apenas um santo; São MJ.

Daí, se torna óbvio que o texto “São Michael, padroeiro dos inventores” foi escrito por mim, para minha colega Ana Arantes.

Eu consegui enganar muita gente com dois artifícios: usando a palavra “inventores” e falando de patentes, fazendo alguns acharem que o texto era de Renato Pincelli, do Hypercubic, e; escrevendo o parágrafo introdutório como alguém que sofre de empatia e não conhece etimologia.

Pois bem, já está entregue. Eu sou o autor do texto publicado n’O Divã de Einstein (e não no Rainha Vermelha, como alguns sugeriram no bolão).

Amém.

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