Ilusões

Ilusões são enganos dos sentidos, ora percebendo coisas que não existem, outra não notando coisas reais. Todos somos suscetíveis a erros de percepção – alguns mais que outros.

Abaixo, uma lista das ilusões mais conhecidas (e outras nem tanto).

Quando você enxerga o que não está lá: ilusão de ótica.

Quando você não enxerga o que está realmente lá: ilusão idiótica.

Quando você só enxerga os símbolos que representam o que deveria estar: ilusão semiótica.

Quando você enxerga o que não está lá apenas com visão monocular: ilusão semi-ótica.

Quando você enxerga um macaco que não está lá: ilusão simiótica.

Quando você percebe uma coexistência entre o que está e o que não está: ilusão simbiótica.

Quando você só enxerga a vermelhidão da raiva a lhe incitar: ilusão psicótica.

Quando você ouve uma seqüência de notas que não estão a tocar: ilusão dó ré mi sol si fá.

Quando você enxerga uma reta que se aproxima infinitamente de uma curva sem jamais a tocar: ilusão assintótica.

Quando você enxerga desordem onde ela não está: ilusão caótica.

caos?

Quando você vê o branco dos olhos de quem não está a lhe mirar: ilusão esclerótica.

Quando você aspira o excesso de gás carbônico que está no ar: ilusão cianótica.

Quando você está num dos extremos políticos e acha que suas idéias vão fazer o país melhorar: ilusão patriótica.

Quando você se vê como um autômato obrigado a trabalhar: ilusão robótica.

Quando você calcula uma deformação contínua mesmo não tendo como provar: ilusão topológica.

Quando você encontra uma igreja anglicana do século 19 onde ela não pode funcionar: ilusão neogótica.

Quando você se vê em outro país apesar de lá não estar: ilusão exótica.

Quando você ouve uma lira tocando uma balada numa escala medieval que aquela não pode alcançar: ilusão em dórica.

Quando você acha que vive bem mesmo quando está a ponto de quebrar: ilusão eubiótica

Quando você lê palavras completas onde abreviações estão a dominar: ilusão estenógrafa.

Quando você acha que assistiu a um filme de Zé do Caixão que jamais iria ao ar: ilusão do Mojica.

Quando você percebe atos inocentes como libidinosos a ponto de se excitar: ilusão erótica.

Quando você ouve a voz de um físico teórico que não pode mais andar: ilusão lateral amiotrófica.

Quando você enxerga uma ameaça à liberdade do país enquanto livremente vocifera sua opinião sem ninguém lhe encarcerar: ilusão despótica.

Quando algo lhe induz ao sono mesmo não tendo mecanismos para funcionar: ilusão narcótica.

Quando você acha que está na Itália mas na verdade está na França, no meio do mar: ilusão de Córsega.

Quando você ouve zunir um carro feio que mal consegue acelerar: ilusão de Ford Ka

Quando você bebe suco de laranja puro e acha que está a se embriagar: ilusão de vodca.

Quando você cheira no forno um bacalhau com batatas, ovo, cebolas e azeitonas que não está a cozinhar: ilusão a Gomes de Sá.

Quando você enxerga várias críticas em um texto que não há: ilusão ecdótica.

Quando você glorifica uma janela suja ou uma torrada queimada por enxergar uma imagem que precisa de altar: ilusão apoteótica.

Quando você lê um tratado ultrapassado e acha que sabe diagnosticar: ilusão neurótica.

Quando você é um homeopata dizendo que vacinas se baseiam nos princípios da diluição infinita, chacoalhada para ativar: ilusão antibiótica.

Quando você é um auto-hemoterapeuta dizendo que se curou de uma doença sem conseguir provar: ilusão anedótica.

Miriam Rita Moro Mine, a Presidenta da República e vinte e dois segundos no Google

Penso que você acha a vida tão problemática porque acredita que existem as pessoas boas e as pessoas más. Você está, é claro, errado. Existem, somente e sempre, as pessoas más; sendo que algumas delas estão em lados opostos.

– Lord Havelock Vetinari

Política não é meu filão. Como eu não sou programador, a ideia de um mundo binário me escapa e eu tento me afastar um pouco dos que só enxergam o “eu” e o “eles” e isso inclui futebol, religião, cara-ou-coroa, esquizofrênicos bipolares e, especialmente, política.

Esclareça-se: meu uso da palavra “política” neste texto diz respeito ao entendimento popular, ou a “definição do torcedor”, como só eu chamo. No Brasil (e aqui uso a palavra “Brasil” para designar aqueles que estão perto de mim com a boca constantemente mexendo para evitar que o cérebro comece a funcionar), a palavra “política” significa “PT vs. PSDB, e eu estou de um lado e odeio qualquer um que se declare apoiar o outro”. Comportamento típico de torcedor, daí minha definição.

Quanto à definição de “política” como “princípios que visam guiar decisões para alcançar resultados racionais”, sou 100% partidário. Mas eu possuo um dicionário em casa então posso estar um pouco desconectado da realidade.

Arranjem um quarto, vocês dois!

Arranjem um quarto, vocês dois!

Eu, como já deixei claro em algumas ocasiões (de batons com chumbo ao letal caso do camarão com vitamina C, passando pelo alarde dos “espelhos falsos”), não sou imune a spams pseudocientíficos mas, agora, parecem estar expandindo a área de mensagens indesejadas na minha caixa de entrada. Passei recentemente a receber emails com críticas ao governo (ou, melhor dizendo, emails dizendo que o PT é feio e bobo). Um deles discorre sobre a (não-) polêmica do uso (não-) inadequado da palavra “presidenta” pela corrente (Girino maldito!) atual ocupante da cadeira principal de Presidência da República Federativa do Brasil.

Contendo inúmeras mudanças de tamanho e cores de letra e toda sorte de ênfases inapropriadas, o texto, aparentemente escrito por Miriam Rita Moro Mine (mais sobre ela daqui a pouco), nos conta como a “presidenta” já foi estudanta quando adolescenta e representanta de ‘etc’, ETC, ~etc~, etc, e minha paciência é muito pouca para textos nojentamente escritos e peço perdão por ter feito vocês provarem um pouco da orgia gráfica que é aquilo que me mandaram.

O original é bem pior, acredite.

Imagem representativa do estado dos meus olhos e da minha saúde mental após ler o email da “presidenta”.

Uma belíssima aula de português.

Foi elaborado para acabar de vez com toda e qualquer dúvida se tem presidente ou presidenta.

Será que está certo?

Acho interessante para acabar com a polêmica de “Presidente ou Presidenta”

A melhor forma de acabar com a “polêmica” citada é admitir que ela nunca existiu e quem escreveu isso é só muito afetado e precisa cuspir em alguém para se sentir bem.
Uma coisa que vou dizer logo agora, estragando a surpresa vindoura: obviamente quem escreveu o trecho transcrito acima não foi a mesma pessoa que elaborou a “belíssima aula de português”, considerando a falta de ligação entre frases sem sujeito. Só faltou um “#comôfas” ali depois da interrogação.

Isso e a incapacidade de saber que o gênero de “aula” é feminino e que um substantivo mulher nunca poderia ser “elaborado”. O resto da frase eu não consegui entender, então não vou comentar.

A imbecilidade toupeirice tapadez suposta “aula de português” começa da seguinte maneira:

A presidenta foi estudanta?

Existe a palavra: PRESIDENTA?

Que tal colocarmos um “BASTA” no assunto?

É. Que tal?

Segundo o Loogan/Houaiss – Enciclopédia e Dicionário (ano de 1998 – ISBN 85-86185-01-9), na página 1299 temos o verbete:

PRESIDENTA s.f. Mulher que exerce função de presidente.

Ou seja, essa definição existe numa cópia física (a única que tem perto de mim no momento em que escrevo isto) desde que a ré, Mônica Dilma, era apenas uma estudante de doutorado em economia (durante uma pausa que fez em sua carreira política entre 1995 e 1999).

Segundo o FLiP (Ferramentas para a Língua Portuguesa), que abriga o dicionário on-line Priberam (vejam aqui o verbete “presidenta”):

A palavra presidenta pertence à língua portuguesa.

Podemos fazer esta afirmação, por um lado, porque a palavra tem indesmentivelmente curso na língua (o que é possível aferir através da pesquisa em corpora e em motores de busca) e, por outro lado, porque está registada em todos os dicionários e vocabulários contemporâneos consultados, nomeadamente nas principais obras de referência da lexicografia portuguesa e brasileira, como o Vocabulário da Língua Portuguesa de Rebelo Gonçalves (1966) ou o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras (5.ª edição, 2009). Não sabemos ao certo desde quando é que este registo lexicográfico é feito, mas a palavra constava já do Novo Dicionário da Língua Portuguesa de Cândido de Figueiredo (1913) ou do Vocabulário Ortográfico e Remissivo da Língua Portuguesa de Gonçalves Viana (1914).

Desde 1913, hein?

Pronto. Basta dado.

E bem dado.

Se tivesse que chutar, não diria que Dilma está a elogiar a gravata de Fernandinho.

Se tivesse que chutar, não diria que Dilma está a elogiar a gravata de Fernandinho.

Mas calma, o que é isso aqui?

Meu espirito deu um salto para traz, como se descobrisse uma serpente deante do si. Encarei o Lobo Neves, fixamente, imperiosamente, a ver se lhe apanhava algum pensamento occulto… Nem sombra disso; o olhar vinha direito e franco, a placidez do rosto era natural, não violenta, uma’placidez salpicada de alegria. Respirei, e não tive animo de olhar para Virgilia; senti por cima da pagina o olhar delia, que me pedia também a mesma cousa, e disse que sim, que iria. Na verdade, um presidente, uma presidenta, um secretario, era resolver as cousas de um modo administrativo.

Uai!? Quem terá sido o analfabeto comunista safado e moderno que escreveu tamanha besteira?

Ora, meus caros, ele não é analfabeto, apenas de outra época. Mais especificamente 1880, durante o Império do Brasil. Mais especificamente ainda, Machado de Assis, no capítulo 80 do seu livro Memórias Póstumas de Brás Cubas (ou, no português original do século retrasado, “Memorias Posthumas de Braz Cubas”).

Então agora já chega, né? O verbete tem pelo menos 133 anos.

Mas nãããããããããããão, o spammeiro não quer saber de basta, para satisfazer sua doença mental ele quer agredir a figura pública que representa o outro time, objeto do seu ódio.

Baixinha, dentuça, gorducha (menos na época do câncer), sempre de vermelho, andando com um amigo que fala errado e outro que é bem sujo.

A mensagem indesejada continua, incluindo agora um nome e um título: Miriam Rita Moro Mine – Universidade Federal do Paraná.

Excelente! Um ponto objetivo para a nossa análise.

Antes de qualquer outra coisa, vejo no Currículo Lattes que Miriam (que é doutora e passará a ser denominada doravante Dra. Mine) é realmente da Universidade Federal do Paraná.

Em seguida, alguns poucos segundos no Google me devolvem um post chamado Esclarecimento, de um sub-blog do Blog do Noblat (tudo bem, não chamaria essa fonte de “confiável”, mas…), onde a autora diz ter recebido um (sic) “desmentido formal” da doutora, que diz:

Prezada Sra Maria Helena

Nunca escrevi absolutamente nada sobre a existência ou não da palavra “presidenta”. Meu nome está sendo usado indevidamente como autora de um texto que circula na internet e na imprensa.

Sou professora da Universidade Federal do Paraná – UFPR, Departamento de Hidráulica e Saneamento, graduada em “Engenharia Civil “ e com pós-graduação em cursos de “Engenharia“ (Mestrado e Doutorado) e professora de cursos de “Engenharia” na UFPR (ver meu Curriculum Lattes – www.cnpq.br – plataforma lattes)

Eu jamais escreveria um texto que não fosse da minha área de atuação.

Miriam Rita Moro Mine

Miriam Rita Moro Mine

Universidade Federal do Paraná

Departamento de Hidráulica e Saneamento

Caixa Postal 19011

81531-990 Curitiba – PR

Como Maria Helena (a autora do blog citado) diz que havia publicado o spam “coberto de elogios”, acho que não haveria de se retratar tão facilmente por causa de uma mensagem anônima.

Bom, eu realmente não sei. O que sei é que no blog de Juca Kfouri, aparentemente a propósito de nada, encontro um comentário que lê (sic):

Prezados Circula na internet um e-mail sobre a palavra presidenta como se fosse de minha autoria. Nunca escrevi nada sobre este assunto. Sou professora de cursos de Engenharia e não de Gramática da Língua Portuguesa. Miriam Rita Moro Mine

Renan Calheiros está pegando na aliança. O que será que Lula está cochichando?

Renan Calheiros está pegando na aliança. O que será que Lula está cochichando?

Novamente, como não posso confirmar a identidade da comentarista, não posso afirmar que ela não escreveu o texto que virou spam.

O que posso confirmar é que existem versões mais antigas que não contam com a assinatura dela (cuja primeira referência é justamente em outro post do blog de Maria Helena, em 14 de outubro de 2010).

Por exemplo: em 16 de junho de 2010, no blog webartigos, foi publicado o texto Espelho, espelho meu, existe redação mais bela do que eu? que inclui uma versão do spam afirmando explicitamente que “no e-mail não há identificação do autor”.

E, em primeiro de novembro de 2010, um comentarista do blog Palavras e origens – Considerações Etimológicas cola o texto referido e é prontamente respondido pelo autor do blog com a mensagem: “Prezado, esse texto que você envia (sem autoria) apareceu pela primeira vez no site Levante-se Brasil, cujos organizadores mantêm essa comunidade no Orkut — http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=73197065.”

Eu juro que tentei entrar na tal comunidade (desde agosto do ano passado, de fato, quando primeiro pesquisei a respeito) mas não consegui. Mais um beco sem saída.

Por outro lado, mais uma confirmação de que o texto não é de autoria da Dra. Mine (digo “confirmação” porque quem sai por aí colando esse tipo de besteira não tem capacidade intelectual suficiente para editar informações – que o digam os comentaristas de um texto meu).

O líquido na taça está numa posição esquisita. Estariam os dois deitados?

O líquido na taça está numa posição esquisita. Estariam os dois deitados?

Continuar minha barragem (ver 4) a partir daqui seria bater em quem está no chão.

Mas como eu só luto sujo, deixo o golpe final para o senhor Juscelino Kubitchesk

LEI Nº 2.749, DE 2 DE ABRIL DE 1956

Dá norma ao gênero dos nomes designativos das funções públicas.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Será invariàvelmente observada a seguinte norma no emprêgo oficial de nome designativo de cargo público:

“O gênero gramatical dêsse nome, em seu natural acolhimento ao sexo do funcionário a quem se refira, tem que obedecer aos tradicionais preceitos pertinentes ao assunto e consagrados na lexeologia do idioma. Devem portanto, acompanhá-lo neste particular, se forem genèricamente variáveis, assumindo, conforme o caso, eleição masculina ou feminina, quaisquer adjetivos ou expressões pronominais sintàticamente relacionadas com o dito nome”.

E, desta página, concluo da situação que: NÃO CONSTA REVOGAÇÃO EXPRESSA.

É presidenta. E quem disse foi um homem, o que significa que está certo e deve ser obedecido.

Agora morram todos de hemorroida explosiva.

Finalizando e esclarecendo: eu acho que o mundo só vai ser um lugar bom quando Lula morrer enforcado nas tripas de FHC (ou equivalentes). Mas eu odeio extremistas e acho que todos eles devem morrer da forma mais brutal possível, principalmente os violentos. [1]

Uma frase ótima que achei durante minha pesquisa e vou, daqui em diante, passar como minha (mantendo a tradição dos spams): Não misture vernáculo com ideologia.

2 x 3 = 6. Se esse não foi o sinal da besta, eu não sei o que é.

2 x 3 = 6. Se esse não foi o sinal da besta, eu não sei o que é.

São todos iguais, pessoal. Parem de se enganar achando que existe “o outro lado”.

Concluo com uma frase do próprio spam:

Por favor, pelo amor à língua portuguesa, repasse essa informação..

Essa frase lembra alguma outra?

Texto original do spam para fins de pescar paraquedistas e misturar analogias (sem a bizarra edição gráfica pois sou bonzinho):

A presidenta foi estudanta?Uma belíssima aula de português.
Foi elaborado para acabar de vez com toda e qualquer dúvida se tem presidente ou presidenta.
Será que está certo?
Acho interessante para acabar com a polêmica de “Presidente ou Presidenta”
A presidenta foi estudanta?
Existe a palavra: PRESIDENTA?
Que tal colocarmos um “BASTA” no assunto?
Miriam Rita Moro Mine – Universidade Federal do Paraná.
No português existem os particípios ativos como derivativos verbais. Por exemplo: o particípio ativo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendicar é mendicante… Qual é o particípio ativo do verbo ser? O particípio ativo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade.
Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo, há que se adicionarem à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte.
Portanto, à pessoa que preside é PRESIDENTE, e não “presidenta”, independentemente do sexo que tenha.
Diz-se: capela ardente, e não capela “ardenta”; se diz estudante, e não “estudanta”; se diz adolescente, e não “adolescenta”; se diz paciente, e não “pacienta”.
Um bom exemplo do erro grosseiro seria:
“A candidata a presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta.
Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizentas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta”.
Por favor, pelo amor à língua portuguesa, repasse essa informação..

P.S. Mas eu achei o texto massa. Queria eu tê-lo escrito, pois é bem meu filão. Só jamais o faria pelas falhas gramaticais aberrantes.

[1] Para os mais lentos de raciocínio, isso foi uma piada do tipo autorreferente de propósito autoderrotado.

O lens flare como forma de expressão

Muito se discute atualmente acerca do uso do efeito de reflexo de lente, ou lens flare, pelo diretor de Super 8 e criador de Felicity, J.J. Abrams.

Mas o que diabos é esse tal de lens flare que parece irritar tanto os neo-nerds? [1]

Se você tentou fotografar alguma coisa contra o sol, provavelmente já percebeu como a imagem não fica exatamente cristalina. Por causa do excesso de luz, a imagem aparece esbranquiçada, com pouco contraste ou simplesmente ruim demais para ser aproveitada até no Instagram, repositório de tudo que não presta em termos de efeitos visuais.

lens-flare-wiki

O efeito pode ser também o de escurecer a imagem enquanto o software da câmera se concentra em proteger seus filtros regulando o obturador para uma velocidade mais rápida, captando praticamente apenas a luz do sol.

lens-flare

Outra manifestação do efeito são círculos (ou, por vezes, outras formas geométricas [3]) psicodélicos, como os da primeira foto lá em cima, causados quando a fonte de luz não está diretamente no campo da lente mas ainda assim a afeta, infiltrando raios fora de eixo, como no diagrama abaixo.

lente

Ou seja, para um lens flare ocorrer, são necessárias duas coisas: uma lente e uma fonte de luz intrusa.

Nos sets completamente verdes e inexistentes dos filmes grandiosos de hoje em dia não existem acidentes. Não existe uma lâmpada pendurada num lugar errado dando interferência no resto da cena. Se a imagem estiver estourada, com ruído ou com pouco contraste, tenha certeza de que foi proposital.

Então, vem a pergunta: por que usar, num filme milionário, um (d)efeito tão amador que geralmente é causado por um erro de preparação?

A resposta: preservação da suspensão de descrença. Mais sobre isso adiante.

George Lucas, por exemplo, é fortemente criticado pelo uso excessivo do chroma key, abandonando a técnica antiga de animatronics e modelos em escala reduzida em busca de maior flexibilidade (um boneco do tipo Gizmo, de Gremlins, não pode dar saltos e piruetas de forma convincente, como o faz Jar Jar Binks) mas, segundo alguns, em detrimento do senso de realidade que a interação de humanos com objetos físicos e reais proporciona. Mas logo ele, que um dia foi multado pela Directors Guild of America (Associação Americana de Diretores) por não incluir créditos no começo de Star Wars justamente para não destruir a suspensão de descrença ao dizer claramente aos espectadores que aquilo era um filme feito por atores!?

O revolucionário (nem tanto) O Hobbit causa frisson com sua alta taxa de quadros (48fps, o dobro do comum) mas Peter Jackson pré-resolveu o problema da suspensão de descrença usando mais locações (cenários reais) do que sets verdes (o famoso chroma key já citado). Ou seja, é mais difícil o espectador sair do mundo fantástico no qual está imerso porque percebeu algum artefato visual que o lembrou de que aquilo na tela não é um documentário de verdade.

Nada de computação. Apenas uma câmera deslizando sobre um papel.

George Lucas está sendo julgado pelas pessoas que sabem que existe um anão dentro de R2-D2 e que o movimento quebradiço dos olhos e lábios de Jabba são controlados por um técnico com um controle remoto na mão. Ou seja, essas mesmas pessoas conseguem identificar que o ator está contracenando com uma bola de tênis pendurada numa vara de pescar na frente de um fundo verde ou azul ao invés de realmente defletindo raios laser de um flutuante módulo de treinamento Jedi. Para quem não assistiu ao primeiro Jurassic Park no cinema (o principal filme de transição entre as técnicas de marionetes e computação) porque não era ainda nascido, isso não faz diferença. A cara esquisita de Falcor com sua língua obviamente mecanicovertebrada parece ridícula e antiquada para a geração que já cresceu com computadores de alta eficiência e capacidade de processamento.

Eles querem mais é mergulhar junto com Anakin na lava enquanto ele perde permanentemente o braço. A nova trilogia de Star Wars é para eles, não para nós.

Mas, se depender de J.J. Abrams, teremos nossa doce, doce vingança geriátrica em breve. E graças aos lens flares.

A geração para qual Jar Jar Binks foi criado sempre viu filmes digitais de alto orçamento com cenários e personagens virtuais, onde cada costura no bolso da bermuda do terceiro figurante sem fala numa cena de pânico é planejada e calculada. Música não tem mais chiado de fita (silêncio digital é absoluto, já que não existem mais cabeçotes roçando em plástico magneticamente embebido), o preto não é mais mofado (deixou de ser a representação de uma cor que foi filmada, processada e projetada – três passos envolvendo luz -, para ser a absoluta falta de estímulo luminoso) e a imagem não tem mais riscos e marcas de cortes (não existe mais fita para desgastar no projetor a cada sessão nem para ser recortada e colada para depois ser copiada – agora é tudo um arquivo digital incorruptível).

Como o sol no plano de fundo não é mais o Sol, estrela primária do nosso sistema planetário, mas sim uma série de uns e zeros, as lentes não são mais sobre-estimuladas e não distorcem o que estão captando (que está sendo perfeitamente iluminado por trás, com luz indireta e difusa, etc, etc termos técnicos, etc). A única coisa que o reflexo na lente faz para os representantes da corrente geração consumidora de blockbusters é tirá-los da trama, fazendo-os lembrar que aquilo é um efeito incluido na pós-produção.

“No espaço, ninguém ouve você reclamar do lens flare…”

Ao usar o tão previamente evitado reflexo de lente, Abrams inteligentemente reconecta os fãs antigos com os filmes contemporâneos.

Ao mostrar a USS Enterprise envolta num clarão supostamente indesejado, ela fica contextualizada num universo onde ela existe, é real e está sendo filmada! O diretor se utiliza de um truque para enganar nosso cérebro e fazê-lo crer ainda mais na existência daquele universo do qual ele (o cérebro do espectador) não deve sair, pois ao lembrar que o lens flare ocorre com lentes e uma fonte de luz intrusa, a associação com “esta cena foi filmada por uma câmera in loco” é praticamente inevitável. Mas só para quem assistia a Os Trapalhões Nas Minas do Rei Salomão num assento de madeira numa sala com ventilação ambiente e já viu o efeito ocorrendo naturalmente nas mãos de um operador de câmera inexperiente seguindo as orientações orgânicas de um diretor mal pago num filme de baixo orçamento.

Ou seja, ao tirar os espectadores jovens da ilusão de que aquilo é real pois foi filmado, o diretor paradoxalmente coloca os mais velhos ainda mais dentro do mundo onde aquilo é real pois foi filmado! No espaço sideral! HÁ MUITO, MUITO TEMPO!

E isso é genial!

Mal posso esperar o novo filme da terceira trilogia de Star Wars. [2]

———

[1] – Aqueles que cresceram sem saber muita coisa mas hoje em dia gostam de dizer “bazinga” e se autodenominam “nerds” por gostarem de ver TV e por nunca terem calçado um sapato social.

[2] – Mentira, posso esperar até bem confortavelmente. Não sou exatamente um cinéfilo.

[3] – Tem ainda o efeito como o da imagem abaixo, onde o reflexo não forma círculos mas cortes horizontais, por causa da distorção anamórfica usada para projeções em telas largas (widescreen). Sugiro que leiam a respeito, pois é bem interessante.

A única coisa real nessa cena é a má atuação.

Uma elegia a um dinossauro

Para os que talvez ainda não saibam, sinto informar que Carlos Hotta, do Brontossauros em meu Jardim se foi.

Não sei exatamente por onde começar, então começarei do começo e deixarei o fluxo de consciência tomar conta (e se parecer que estou fazendo piada, estou mesmo. É assim que lido com as coisas no dia a dia).

Até abril de 2008, parte da minha rotina consistia em responder/corrigir (com informações, na medida do possível, corretas) a correntes de email e, aproveitando a imensa quantidade de endereços que vinham atrelados a tais mensagens, espalhar algumas gotinhas de conhecimento da Natureza e apreciação da Ciência.

Quando vi uma imensa quantidade de emails retornando, percebi que estava sendo, na maior parte, mandado para a caixa de spam dos outros a quem tentava convencer de que o mundo é fascinante e que tomate não dá nem cura câncer.

Então, um dia após o meu aniversário, aproveitei alguns textos que já havia escrito (e mandado por email para pessoas mal agradecidas) e resolvi iniciar um blog (ou “blogue”, como eu pedantemente chamava, até perceber que não faz diferença) que, à época, se chamava “Não Acredite no que Eu Digo, Pois Minto Tanto Quanto Você” e que, por motivos óbvios, rapidamente foi mudado para “42”, ainda sem o ponto final que adorna o cabeçalho deste.

Pouco mais de um mês e meio depois, um mundo completamente novo apareceu diante dos meus olhos: blogs especializados em ciência (o meu era do que quer que estivesse na minha cabeça no momento em que sentava para escrever) e, principalmente, em português (pois já conhecia alguns em inglês). Por ocasião de um comentário, conheci em poucos minutos Atila Iamarino, Rafael Soares e Carlos Hotta.

Mais ou menos um mês depois, sozinho e carente, escrevo um texto especificando nos mínimos detalhes o tipo de mulher com quem desejo passar meus dias (e que demoraria ainda dois anos e meio para finalmente conseguir), finalizando com “se você se identificou com o texto, me procure”.

O primeiro comentário, poucos minutos após a publicação do post foi esse aí:

Carlos Hotta

Sem saber muito bem como reagir nem para que lado a interação penderia, mandei um email para Carlos da forma mais neutra possível. Algo como “que foi?”.

Ao responder, ele me tranquilizou e disse que me queria para um projeto que ele e Atila estariam montando e que seria um “condomínio” de blogs de ciência, chamado Lablogatórios.

Logo original do Lablogatórios

Logo original do Lablogatórios

Cinquenta dias após aquela primeira notícia, entrava no ar o portal com o melhor nome de todos os tempos até hoje e que, apenas sete meses depois, viraria o Scienceblogs Brasil.

Toda essa celeridade que não me deixa lembrar de como era ser blogueiro sem ser scienceblogueiro foi, em grande parte, por causa de Hotta.

Foi por causa dele que eu estou aqui hoje, falando para as milhares de pessoas que leem diariamente as insanidades que eu escrevo vez por outra.

Se uma mulher passou batom despreocupada por causa de um texto meu, agradeçam a Carlos.

Se alguém pesquisou por auto-hemoterapia, viu o comportamento animalesco de seus defensores e pensou duas vezes antes de abandonar um tratamento sério em busca de alternativas potencialmente arriscadas, os louros são de Carlos.

Se um médico deixou de usar seu jaleco na rua e uma infecção não piorou por causa disso, esse não-evento é devido, em parte, a Carlos.

Quando alguém conseguiu entender o motivo de espirrar sob luz forte; soube pela primeira vez que homeopatia é só água, açúcar e pensamento mágico; descobriu que a chamada “medicina ortomolecular” só cura a falta de pedras nos rins; se divertiu com meus enigmas ou aprendeu o conceito de “napalm caseiro”, parte de tudo isso foi graças à falta de tato de Carlos Hotta em me abordar num momento constrangedor.

Foi também por causa de sua influência que conheci outros seres, com os quais interajo quase diariamente, que foram e são muito importantes em minha formação intelectual e identidade pessoal, como Karl, que me ensinou que eu posso, ao mesmo tempo, estar correto mas ainda errado; Fafá, que se tornou meu amigo, ocasional hospedeiro e acessório em crimes companheiro em projetos extra-blogs; Fernanda e Bessa, que me mostraram, de pontos de vista diferentes, que um passeio pela universidade pode ser a mais fascinante jornada de conhecimento (certamente as duas pessoas que serviram de estopim para a minha saída do armário não-religioso); até mesmo Meire, a minha confidente e companheira esposa a quem eu provavelmente não teria conhecido caso não tivesse ainda a auto-bibliografia atrelada e on-line do 42. e que se encaixou como uma luva feita sob medida e com talco no texto tão rudemente epilogado por Hotta.

(Atila também é responsável por muito disso, mas como ele ainda está aqui não preciso falar bem dele. E Kentaro também é um que pertence à lista acima, mas eu já o conhecia antes, então não conta. Outros também deveriam aparecer, mas FOCO!)

Também ainda por causa dele, em uma reunião onde decidimos os rumos do condomínio, realizei um sonho e criei meu próprio podcast (que não durou o suficiente, mas isso é culpa minha).

Até um restaurante japonês excelente em São Paulo (quem diria que eles existissem…) me foi apresentado por ele.

Um jeito tranquilo de falar (com um leve problema nos fonemas PR e FR) mas sempre com algo relevante a dizer, com uma genialidade do tipo que sabe o que importa e sabe que chamar atenção para o fato é uma das que não importam e com uma maturidade psicológica muito além dos seus 45 anos (eu acho que nascemos no mesmo ano, mas ele adquiriu tantas realizações ao longo da vida que trinta e poucos anos não seria tempo suficiente para um ser que vive na mesma velocidade dos outros).

Semana passada eu gravei uma entrevista com ele – talvez sua última. Quarta-feira que vem ela sairá na página do Dispersando e por lá deverá ficar até que as circunstâncias permitam, nos fazendo lembrar como ele foi um dia; tranquilo e sábio.

Este texto é dedicado (caso não tenha ficado extremamente óbvio ainda) a Carlos Hotta.

Sentirei, além de imensa e eterna gratidão, enormes saudades.

———

Antes que alguém se confunda com alguma coisa, Carlos Hotta não morreu. Apenas seu blog deixou o Scienceblogs.

A dança do sexo (com vídeos!)

No começo deste ano, o Scienceblogs Brasil desenvolveu o primeiro amigo secreto científico da blogosfera internacional do qual eu tenho notícia e participação. Pessoas interessadas se inscreveram (vocês ainda podem participar, seguindo o link ao final do texto) e foram secretamente sorteadas pelo nosso sofisticado software Emulador Kochiano de Algoritmos Não-Triviais e Objetividade Confiável (Kochian Emulation of Non-Trivial Algorithms and Reliable Objectivity, em inglês). Abaixo, vocês conferem a produção do meu amigo secreto (não para mim, que já descobri quem é) cuja identidade é dever de vocês adivinhar.

Oh well… vejam só quem para quem será meu presente de amigo secreto…

Nada mais, nada menos que Igor Santos. O cara que mantém sei lá quantos blogues (de qualidade, diga-se de passagem) e um tumblr de sacanagem. He.

Pensando na gama curiosa de assuntos abordados pelo autor deste blog e também para homenagear e reconhecer o trabalho deste querido blogueiro, nada mais interessante do que falar cientificamente de… sexo!

No mundo animal, especialmente na vida selvagem, encontrar uma parceira para reproduzir-se é um assunto sério, é a única chance de passar adiante seus genes em busca do sucesso evolutivo.

Para tal, os machos são capazes de tudo, até mesmo de oferecer sua própria vida em busca de uma fêmea que os queira.

Esta seleção por parte das fêmeas tem um nome na ciência: Seleção Sexual. Conceito introduzido primeiramente por Charles Darwin e Wallace em seus manuscritos sobre a Teoria da Seleção Natural (1859). Como uma parte importante dessa teoria, a seleção sexual propõe que a seleção de características morfológicas ou comportamentais que levam ao cruzamento bem sucedido oferecem vantagens reprodutivas em contraste com as vantagens de sobrevivência. Com a seleção sexual pretende-se explicar por que determinadas características que não fazem a menor diferença para a questão sobrevivência, continuam sendo mantidas em determinados grupos de animais.

Quer vantagem reprodutiva e um harem só para você? Pergunte ao mundo animal: como?

Chamar a atenção da fêmea é o objetivo dos caras, então desfile, mostre seus ornamentos coloridos, dance na frente delas! Ahh a dança… dentre as técnicas atrativas do mundo animal, esta é a minha predileta! Para cada cruzamento, um show!

Abaixo alguns exemplos dentre os pássaros:

Birds of Paradise, exibem suas penas e pulam alegremente na frente da fêmea, como se dissesse: “Oi estou aqui, me escolhe? Me escolhe? Veja o que meus genes fizeram por mim e poderá vê-los em suas crias, que tal?”

Se sozinho você não se acha capaz, convide os amigos! Veja abaixo o ritual para conseguir uma fêmea utilizado pelos Flamingos:

Mas, a dança não é só habilidade dos penosos, vejam só este “break” da aranha:

Dada a importância dos rituais de acasalamento, o estudo do sexo e dos diferentes comportamentos acerca dos animais foi transformado em uma série vídeos da Earth Touch TV, uma “web emissora” engajada em transformar as histórias da natureza em coisas emocionantes e cheias de imaginação.

O vídeo abaixo, que infelizmente não tem legendas em português, é um dos episódios da série Wild Sex, protagonizada pela bióloga Dra. Carin Bondar.

Neste episódio ela comenta a respeito dos diferentes rituais de dança que envolvem o mundo animal. Vale a pena conferir!

Como uma parte do InterCiência, este texto deixa algumas dicas de quem sou, porquê tenho uma forma característica de postar. Deixa dicas sobre minha profissão, porquê não me arriscaria a falar sobre espaçonaves. Mas não deixa muitas dicas a respeito do meu blog, nem mesmo a respeito do assunto tratado por ele.
Alguém tem ideia de quem sou?

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[Este texto é parte da primeira rodada do InterCiência, o intercâmbio de divulgação científica. Saiba mais e participe em: http://scienceblogs.com.br/raiox/2013/01/interciencia/]

Entrevista com o presidente do CREMERN, Jeancarlo Cavalcante

Uma semana atrás, um vídeo surgiu e foi apresentado pelas redes nacionais de televisão mostrando o médico cirurgião Jeancarlo Cavalcante ao fim de uma cirurgia, perguntando a uma enfermeira onde estava o fio de aço para fechar o tórax de um paciente do Hospital Walfredo Gurgel, maior hospital de emergência do estado do Rio Grande do Norte. O fio em questão, no entanto, havia acabado, fazendo com que o cirurgião não pudesse finalizar corretamente a cirurgia, o que o levou a fazer a denúncia em vídeo

Três dias atrás, no mesmo hospital, não havia antibióticos, remédios para pressão ou sequer soro fisiológico, demonstrando o quão grave é a situação da rede de saúde pública do estado do Rio Grande do Norte, representados pela governadora (formada em Medicina) Rosalba Ciarlini Rosado e seu secretário estadual de saúde, o cirurgião Isaú Gerino. Este, declarando publica e sarcasticamente que prolene é o material mais usado (o que não é verdade, nem de longe) e abrindo um processo contra Jeancarlo por “falta de ética”, enquanto aquela indagou “se não tinha o fio de aço, por que então começou a cirurgia?”, criando uma situação abstrata onde o cirurgião deveria ter um rol dos equipamentos e suprimentos sempre memorizado (devendo também conferir um por um, ao invés de iniciar a cirurgia de emergência o quanto antes) e, no lugar de tentar salvar a vida do paciente, deixá-lo morrer por omissão.

Nenhum dos dois, até agora, pediu desculpas à população pela falta de insumos pelos quais nós, contribuintes do estado, já pagamos. Sequer admitiram que a situação é insustentável e irresponsável, preferindo desviar o foco da própria irresponsabilidade usando o Dr. Jeancarlo como alvo, futilmente o processando por uma suposta falta de ética da qual tanto Rosalba quanto Isaú são os mais culpados.

Após a denúncia, surgiram fotos de uma mulher dando à luz na calçada de outro hospital (Santa Catarina, segundo maior do estado) e vídeo de um outro paciente (estava numa maca! Que sortudo!) bombeando a ventilação mecânica nele mesmo. É difícil de entender, mas assista ao vídeo neste link.

Falta soro e sutura nos hospitais, mas dinheiro para queimar existe. Mais precisamente trezentos mil reais gastos três semanas atrás na queima de fogos da madrugada do dia primeiro deste.

R$ 300 mil queimados enquanto falta antibiótico em salas cirúrgicas.

Secretário Isaú Gerino, governadora Rosalba: vocês são dois irresponsáveis. Não adianta culpar um médico que não tem como trabalhar decentemente nem dizer que o problema vem de outras administrações. No momento em que, ao invés de tentar resolver, vocês atacam publicamente e processam futilmente o denunciante, vocês estão mostrando o verdadeiro caráter de vocês para a população.

Pena que não existe conselho de ética para políticos. Mas aguardem um processo civil assim mesmo. Cansei de ver o descaso, desdém e a indecência com os quais vocês tratam o meu estado e sua população.

Isaú Gerino - um dos culpados.

Isaú Gerino – um dos culpados.

Enquanto isso, caríssimos leitores, vejam aqui a entrevista que fiz ontem a noite com o médico Jeancarlo Cavalcante (e visitem o Dispersando para mais informações e contexto):

Agradecimentos especiais a outro doutor, Karl, pela pronta ajuda.

N/g·ma

Suponha que você está trancado num quarto sem portas ou janelas nem qualquer meio de comunicação com o mundo externo. Suponha também que você não tenha claustrofobia, o que calharia bem nesta situação.

À sua frente se encontram: um bilhete escrito em letras médias com uma caligrafia confortável e pontuação impecável, uma balança precariamente suspensa por um fio, e dez caixas de sapatos (nenhuma delas, no entanto, é azul ou amarela) contendo itens variados. E você, além de usar óculos, tem uma caneta no bolso. Apesar de estar sem meias.

O conteúdo de uma das caixas.

O conteúdo de uma das caixas.

O bilhete lê:

Caro(a) Senhor(a), saudações.

Este quarto onde Vossa Senhoria se encontra tem 0,276458 m.n.³ (milhas náuticas cúbicas) de volume, estando o teto exatamente a vinte e seis e um quarto pés acima do topo da vossa cabeça, de onde pende um fino fiapo fibroso fixado firmemente a fitilhos filamentosos fincados em filetes enfileirados no frágil forro facilmente fraturável. Fitai! E não vos firais, pois ao fim de seu comprimento, o fio sustenta um sofisticado sistema de sensores satisfatoriamente precisos que medem, ao mesmo tempo, tanto a massa quanto o peso de um objeto apoiado sobre si – no entanto, tal ação só poderá ocorrer uma única vez, e rapidamente, visto que o sistema já está bem próximo de seu limite de colapso, que acontecerá inexoravelmente nos próximos cinco (05) minutos.

Das caixas ao vosso lado, cada uma contém pelo menos 631 itens de tamanhos e formatos diversos sendo – todos eles em cada uma – sempre com exatamente meio ou um grama. Antes do tempo limite expirar (evento que se dará inequivocamente com a queda do instrumento), para sair desse impossível aposento no qual vos encontra, precisareis, com uma só pesagem, descobrir quais caixas contêm itens com 0,5g e quais as com os de 1g.

Para os de aprendizado visual.

Para os de aprendizado visual.

Apesar da saudação genericamente neutra e a pessoa verbal impessoal contradizerem o implícito conhecimento preciso da sua altura, é de se esperar que você esteja sendo observado e que o tempo só passe a valer quando você acabar de ler o bilhete.

Passados cento e oitenta segundos, você finalmente consegue decifrar que em algumas caixas todos os objetos pesam 0,5 e, em outras, todos pesam 1 grama.

Você precisa descobrir quais caixas têm pesos de meio e quais têm pesos de um grama. Lembre-se, só lhe resta pouco mais de 3 minutos (o que não é tempo suficiente para contar o número de objeto em cada uma). Como você procede?

Dica: existem várias formas de resolver o problema e muitos dos dados dados são irrelevantes.

Previsões cientificamente estáveis para 2013

Alguns anos atrás eu previ várias coisas e conseguir errar 100% delas. Isso só prova como meu poder é forte, já que estatisticamente eu deveria ter acertado pelo menos uma ou duas (ou seja, eu sou mais poderoso que a Estatística (ou algo assim – não consigo construir uma frase positiva com dados negativos envolvendo flutuações numéricas) ou então preciso ser mais conciso e direto (o que não é difícil para mim, acreditem. Eu sei ser bastante direto e focado (como semana passada, por exemplo, quando fui resolver um negócio com meu plano de saúde e precisei passar em seis locais diferentes e falar com, literalmente, oito pessoas distintas (imagine só quem não tem plano de saúde e/ou um carro. O que me remete ao meu desejo de vender o meu (o que seria uma imensa economia, tanto de combustível quanto de manutenção (e até mesmo uma economia emocional, já que está cada vez mais difícil dirigir sem se aborrecer nesta cidade (e, pior ainda, está estacionar. Na rua já é impossível (apesar de eu achar que deve haver algum momento em que existam vagas, já que não creio que todos aqueles carros passem semanas estacionados (eu sei que eles não passam, a verdade é essa, vez por outra eu consigo uma vaga (algumas vezes (mas não sempre) até perto de algum estabelecimento que eu pretendo visitar) mas ou estaciono imediatamente ou perco a vez) ocupando os mesmos lugares, entra dia, sai dia) e os estacionamentos pagos estão ficando cada vez mais ridiculamente caros, o que aumenta ainda mais meu gasto com o carro) porque o motorista atual é só um pouco menos selvagem que um demônio-da-Tasmânia (especialmente os motoqueiros, que parecem ter algum fetiche com espaços apertados (e até mesmo quando não existem carros na frente eles andam costurando um trânsito virtual (o que só aumenta o desgaste do veículo (ou, como é mais costumeiro, ficam mirando a moto nas faixas pintadas no chão (o que me lembra uma criança tentando andar na ponta da calçada, se equilibrando) mesmo tendo toda uma rua livre para transitar) e os custos de manutenção de algo que deveria ser bem barato) que só existe na parte de seus cérebros que cria a expectativa e a recompensa (acho que às vezes até sexual (se bem que talvez “emocional” fosse uma palavra mais adequada para o contexto), se bem que não posso ter certeza do que se passa na cabeça de alguém assim), realizando a proeza de atrapalhar o trânsito preventivamente), talvez até causado pelo enclausuramento dos capacetes que usam (será que existe alguma correlação com isso? Pode ser que sim, vou pesquisar a respeito (nota mental: pesquisar o efeito do aumento da temperatura do capacete num cérebro já debilitado (ou seria o contrário, esse tipo de mente já seria predisposto?) pelo desejo de andar no meio de transporte mais arriscado já produzido) e talvez renda um post interessante) ou pela adrenalina constante que recebem na circulação) raivoso e acuado) e ainda eu deixaria de me preocupar em tê-lo roubado (a violência só piora, só piora), arranhado, etc) e investir o dinheiro em alguma coisa mais rentável), não contando as que confrontei por engano (porque, obviamente, os endereços nas guias estavam errados e desatualizados) e que não sabiam do que eu estava falando (não que as outras partes diretamente envolvidas também soubessem) nem como me direcionar ao lugar correto, mesmo assim não me tirando a concentração) em praticamente todos os momentos, jamais perdendo o fio da meada) para não confundir tanto os meus leitores com divagações aleatórias) ao invés do meu placar perfeitamente zerado.

Então, sem mais delongas, vamos às previsões para 2013!

Ao longo deste ano, terremotos inesperados ocorrerão na Europa e na Ásia, surpreendendo os moradores da região E virando notícia em vários locais ao redor do globo. Pessoas predispostas a esse tipo de comportamento se compadecerão e demonstrarão apoio (nunca se saberá ao quê exatamente).

Lá pelo meio do ano – prevejo que entre julho e agosto -, uma chuva de meteoros aparecerá no céu do norte, anunciando mudanças. A este fenômeno será dado o nome genérico referente aos filhos do primeiro grande herói. Visiono ainda que está herói teria cortado a cabeça de um terrível monstro com cabelos de serpente e que seu nome rima com a frase “ter seu“, que pode ser completada com coisas bonitas como “coração”, “número de telefone” ou “cachorro na minha casa nunca mais! Da próxima vez que você viajar, deixo-o num hotel”.

Um artista famoso vai fazer algo que chocará o mundo, enquanto alguns o defenderão, chamando de “arte” qualquer que seja a bizarrice que aquele venha a fazer. Trocadilhos com seu nome surgirão e seu nome virará um meme nas redes sociais. O termo “celebridade” será inadequadamente utilizado.

Em 2013, o planeta ficará em trevas. Pelo menos parte dele. E no dia 3 de novembro.

As noites de 25 de abril, 25 de maio (COINCIDÊNCIA???) e 18 de outubro também ficarão ligeiramente mais escuras. Isto é, nos locais com pouca iluminação artificial e dentro da região afetada pelos eclipses lunares.

Você que está lendo isto agora também está sendo pré-lido. Você (ou algum familiar ou alguém próximo) terá algum sintoma em pelo menos uma das regiões especificadas no diagrama abaixo:

Se você é mulher, as chances aumentam significativamente naquela parte mais abaixo. Aquela bem vermelha que parece está escorrendo. Viu qual é?

Um centenário morrerá. Seja literalmente ou apenas semanticamente, completando 101 anos e ultrapassando o título de “centenário”. De toda forma, prevejo que um centenário morrerá.

Em previsões relacionadas, antevejo o nascimento de um(a) futuro(a) centenário(a) e ainda acrescento que este(a) viverá até depois do fim deste século(a).

Vejo ainda futuramente que os homeopatas continuarão dizendo que o conceito científico de vacina confirma seus conceitos mágicos de ultradiluições de água com água² enquanto denunciam que toda a ciência médica está errada e mata milhões de pessoas. É também certeza que eles dirão que homeopatia é boa porque não muda há 200 anos (errado, mas já que estamos ignorando uma realidade, vamos ignorar todas as outras – menos as que nos beneficiam) e citarão, sempre que possível, a Talidomida.

O Sol mostrará toda a sua indiferença pela raça humana aumentando a incidência de casos de cânceres de pele e, mesmo com todo o calor que vem fazendo, continuará a brilhar normalmente, jamais diminuindo a temperatura terrestre.

Ele também vai mostrar sua indiferença a tudo, continuando a ser uma estrela inanimada e desprovida de consciência.

Para o meu prazer, continuarei a ser xingado pelos pseudocientistas que passam tanto tempo insistindo em me mandar estudar que ficam sem tempo de estudar eles mesmos. Qualquer coisa, não só o assunto sobre o qual eles dominam exatamente zero.

Este ano será o primeiro em vinte e seis cujos dígitos não se repetem.

Antecipo ainda que os calendários de outras culturas continuarão a ser um mistério para a maioria eurocêntrica que não entende porque os judeus dizem que estamos em 5773 ou qual motivo levaria os chineses a contar os anos em animais. Sério, como eles esperam obter alguma vantagem com isso?

E que Alá nos proteja!

E, finalmente, em 2013, alguns post ficarão inacabados, possivelmente causando tensã

2012 no 42. em uma imagem que vale, literalmente, mil palavras

Clique na imagem para explorá-la.

Que 2013 nos traga saúde (ou, Uma Ode aos Mediconomistas)

Neste arbitrário ponto em nossa órbita ao redor de uma estrela mais-ou-menos, me pego esperançoso, desejando que mais de nós – humanos – fôssemos de uma classe rara mas imprescindível e cuja falta é cada vez mais sentida; a dos mediconomistas.

É função desses pro(-bono)fissionais nos nortear em direção a investimentos físicos seguros que nos amealhem riquezas de modo a não nos preocuparmos indevidamente com a perda de bônus e tônus, empregando corretamente nossa suada ATP e evitando a longo prazo ações que desvalorizem nossa circulação (sanguínea ou monetária), como depósitos de gordura (até na poupança) que podem reduzir a liquidez das nossas artérias, elevando as taxas e aumentando perigosamente o nosso débito cardíaco, nos levando a uma possível falência respiratória.

Mediconomia

É também de sua responsabilidade nos recomendar movimentar os fundos visando evitar a necessidade de aplicações de risco cirúrgico (passando longe tanto do Tesouro quanto da tesoura), monitorando regularmente nossa conta corrente sanguínea para que fiquem seguros todos os nossos bens – incluindo o bem-estar, sem deixarmos de considerar todas aquelas siglas (HDL, CDB, TGP, DOC, T4, CC) que tanto nos esvaziam os bolsos das calças quanto nos criam bolsas nos olhos.

À maioria de nós, pessoas comuns, falta experiência para lidarmos com o balanço de nossas contas e as balanças dos nossos cantos. Temos também dificuldade em seguir as orientações da Receita e as instruções de receitas mesmo geralmente quando bem-sucedidos em evitar colapsos – emocionais e econômicos.

Precisamos que esses profissionais nos mostrem que a única promoção que nos é realmente essencial é aquela da saúde. E que esta não deve vir com descontos ou prestações, mas sempre à vista de todos.

Toda riqueza consiste de coisas desejáveis, isto é, coisas que satisfazem as necessidades humanas, direta ou indiretamente. Mas nem todas as coisas desejáveis são contadas como riqueza.

– Alfred Marshall

Tudo em excesso é contrário à Natureza.

– Hipócrates

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