Síndrome do Titanic

Salve, Gente! Deixa o Lula pra lá… (gente melhor do que eu, já escreveu o suficiente sobre a “mosca azul” que picou nosso Presidente).

Mais uma vez, eu encontrei um link interessante no BLOG do Daniel, sob o título “Are you being served?” (The Economist). Se você não sabe (ou tem preguiça de) ler em inglês, eu dou um breve resumo: a partir da análise da necessidade de reflorestar as nascentes que abastecem de água o Canal do Panamá, o articulista chega à brilhante conclusão que gastar dinheiro com restauração da natureza, é um investimento economicamente compensador! E discute diversos outros exemplos pelo mundo a fora. (“Abstract” mais abstrato do que esse, vai ser difícil encontrar…)

O ponto importante é que até os “Porcos Capitalistas” estão vendo o óbvio. Poluição, gasto desenfreado de recursos naturais não-renováveis, desmatamento indiscriminado, impermeabilização do solo (via super-conurbações), tudo isso tem efeitos economicamente indesejáveis e em prazos não tão longos assim. O que está assustando os nossos vizinhos do hemisfério Norte é que o processo está se acelerando! Afinal, durante séculos eles destruíram suas florestas, poluíram seus rios e lagos, extinguiram um sem-número de espécies animais, exauriram seus solos e lançaram toneladas de poluentes na atmosfera, e, aparentemente, nada aconteceu!

Mas, será isso verdade? Qualquer inglês que tenha conhecimento do custo da despoluição do Tâmisa, sabe que isso envolve catadupas de dinheiro e tecnologia de ponta. Exatamente o que, cá no hemisfério Sul, faz falta. O articulista do The Economist propõe (usando o exemplo do Canal do Panamá) que os capitalistas do Norte, cujos interesses sejam afetados pelas agressões à natureza no Sul, “façam uma vaquinha” para financiar esses projetos. Uma espécie de “pedágio ecológico”… Bom… Pode ser que, no caso específico do Canal do Panamá, seja fácil mostrar àqueles que se beneficiam da redução nos custos do transporte marítimo, que isso é um investimento com retorno garantido (afinal, fica muito mais caro usar a rota do Estreito de Magalhães…). E quanto aos assuntos menos evidentes? Como é que fica? E o tal Protocolo de Kioto? (se você duvida que alguém duvide, dê uma olhada na página JunkScience…)

Por outro lado, é muito fácil ficar jogando a culpa da degradação do meio-ambiente para cima do Norte rico e persistir em práticas agrícolas superadas, desperdício de recursos naturais (renováveis ou não) e em todas as práticas condenáveis que herdamos, junto com nossa cultura de colônia, dos modelos europeus de nossa cultura.

O que é que nós estamos, realmente, fazendo para preservar os recursos naturais de nosso país? A resposta aparece, de maneira eloquente, quando se olha para o Rio Paraíba do Sul!… Muita falação, muito discurso, muita Lei, muito Decreto, muito Grupo de Trabalho, e xongas de ação! A desculpa é a de sempre: falta dinheiro…

Estão pensando que o caso é novidade? Lêdo engano d’alma… Basta ler Monteiro Lobato (Urupês, Cidades Mortas, Idéias de Jeca Tatu…) e ver que, no início do século passado, algumas pessoas de visão menos estreita já enxergavam o problema! (“Muita saúva e pouca saúde, os males do Brasil são…”. Isso é de Macunaíma!)

Então, se falta dinheiro para meio-ambiente, educação, saúde pública, segurança pública, e infraestrutura de transportes (e não é por falta de arrecadação de impostos, que já os temos em demasia!), como é que temos dinheiro para enriquecer os Bancos? (Já imaginou: que beleza se fosse você quem dissesse ao Gerente do seu Banco o quanto você estaria disposto a pagar de juros por seu “cheque especial”? Pois é… A famosa “Taxa SELIC”, que o Banco Central anda mandando para os cornos da Lua, é exatamente isso!)

E é um partido que se intitula de “Partido dos Trabalhadores”, que está promovendo essa lambança!

Enquanto isso, nós, os cidadãos que elegemos esse governo, fazemos como os passageiros do Titanic: cada um por si, que os botes salva-vidas são poucos, enquanto que o governo faz a parte da orquestra do Titanic: toca musiquinhas bonitinhas, enquanto o navio vai a pique…
“Chi pó, non vó…”

Para começar…

Seja bem-vindo! Eu pensava em começar (atendendo aos pedidos insistentes do meu incontável número de leitores), com alguns cometários acerca dos efeitos desastrosos que o deslumbramento pelo poder causam nas pessoas (…é…eu ia dar uma desancada no atual Governo brasileiro…).

Mas, no BLOG do Daniel Doro Ferrante, eu encontrei uma matéria mais adequada ao propósito principal deste BLOG: um link para um site chamado do your best to a better world.

Praticamente qualquer pessoa que se encontre navegando pela Net, atualmente, vai sentir um certo complexo de culpa, por se enquadrar entre os poucos privilegiados do mundo. Aí é que eu começo a questionar a coisa… Eu não acredito que apelar para sentimentos de solidariedade, compaixão e amor-ao-próximo, sejam a abordagem correta para o problema das desigualdades sociais.

Eu me irrito com toda e qualquer forma de assistencialismo, seja uma esmola a um mendigo, seja um “Programa Fome Zero”, passando pelos “Médicos sem fronteiras” e outras ONGs. Entendam bem: eu não sou contrário à atuação dessas entidades assistenciais, nem as acho desnecessárias. Muito ao contrário! Minha irritação vem do fato delas serem necessárias! “Seu doutor uma esmola / para um pobre que é são / ou o mata de vergonha / ou vicia o cidadão”.

Como eu comentei no BLOG do Daniel, a verdadeira vergonha é que, nestes tempos atuais, com as tecnologias que estão aí, ainda haja tantas pessoas miseráveis. Se você reduz seres humanos a condições sub-humanas, é claro que eles vão se comportar mais animalmente. Daí, o instinto de “preservação da espécie” passa a se fundamentar em números: quanto mais filhos, maior a chance de alguns deles chegarem à idade reprodutiva, e assim por diante…

Qualquer argumento que tenha por base diferenças genéticas/raciais, culturais, geográficas, ou qualquer variação de “vontade divina”, “karma”, etc, pode ser usado como supositório por quem pretendia usá-lo, porque é falso! Os seres da espécie homo sapiens são muito mais parecidos entre si, geneticamente, do que quaisquer duas raças de cão doméstico! Se as condições de gestação, parto e primeira infância forem semelhantes, desafio qualquer um a encontrar qualquer diferença entre o potencial para educação de um somali, um sueco, um mulatinho brasileiro, um “chigro” jamaicano, ou qualquer vira-latas racial, oriundo de qualquer parte do mundo. Se o sujeito vai ou não desenvolver esse potencial, vai depender de uma série de fatores ambientais, culturais, sociais, etc, que não vêm ao caso!

Também não estou afirmando que “somos todos iguais”. Não somos e ainda bem que não somos! Somos todos diferentes, únicos, cada qual com suas (in)habilidades e potenciais natos, e as impressões digitais estão aí para demonstrar isso. Eu estou falando de oportunidades. Comparar Stephen Hawking com Ronaldinho não leva a lugar algum. Mas a maior benção da raça humana é exatamente essa diversidade.

Só que essa maravilhosa diversidade está sendo assassinada pela sub-humanização da maior parte da espécie homo sapiens, em nome do desperdício, da ganância, da arrogância e até por motivos religiosos!…

A ameaça imediata de aniquilação da humanidade por meio de um conflito termonuclear, no século passado, levou-nos a esquecer essa outra forma de veneno social. Mas aqueles que acharam que podiam ir dormir tranqüilos depois da queda do Muro de Berlim, podem acordar assustados novamente… Não porque um bin Laden da vida possa tacar um avião na sua cabeça, mas porque a “Aldeia Global” que Marshall MacLuhan falava na década de 1960, está aí. E ela se parece muito com a minha cidade do Rio de Janeiro: linda, marvilhosa, e cheia de favelas miseráveis, onde lobo come lobo e se olha, cheio de ressentimento, para o “asfalto” desmiolado, onde as crianças são criadas em jaulas (cujas grades são o Play-Ground do prédio, o Shopping Center, o colégio e o carro da família, sempre com os vidros fechados e portas trancadas).

O que é necessário para resolver esse estado de coisas, todo o mundo sabe. Mas, como diz o título deste BLOG, “chi vó, non pó…”


P.S: se eu quizesse uma ilustração, não encotrava uma melhor. Vide a notícia “Aprés le tsunami à Aceh, l’aide rongée para la corruption” (Le Figaro, 14/05/05)

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