A vitória dos Trolls

University of Wisconsin-Madison

A vitória dos trolls: comentários rudes nos blogs ofuscam o brilho da ciência online

BOSTON – Os trolls estão ganhando.

Escolha um post acerca de qualquer aspecto da ciência – qualquer um – role até os comentários do blog e deixe o pau cantar:

  • “Eu fico imaginando quanto dinheiro de impostos foi gasto com este estudo ‘profundo’?”
  • “Eu acho que se pode pegar todos esses estudos feitos por cientistas da cabeça grande, 99% deles socialistas e comunistas, e enfiar eles onde o sol não brilha.”
  • “Bah!… Lá vêm os histéricos do mito das mudanças climáticas de novo…”
  • “Este artigo é 100% propaganda babaca.”
  • “Falando de palermas, se você existisse nos anos 70, quando também havia cientistas, a grande novidade era a chegada de uma nova era glacial. E não me venha com essas m€Ʀ** de emissões de carbono.”

Essas grosserias, gostem ou não, são agora o prato principal de nossa dieta de notícias e, no reino das notícias de ciência online, as diatribes, esculachos e insultos estão cobrando seu pedágio sobre a percepção pública da ciência e da tecnologia, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison.

Dirigindo-se aos cientistas presentes aqui hoje (14 Fev 2013) na reunião anual da Associação Americana para o Progresso da Ciência (American Association for the Advancement of Science – AAAS), a pesquisadora de comunicação científica da UW-Madison, Dominique Brossard, relatou os resultados de um estudo que mostram que o tom dos comentários pode, por si só, influenciar a percepção dos riscos advindos da nanotecnologia, a ciência da manipulação de materiais nas menores escalas.

O estudo, agora publicado no Journal of Computer Mediated Communication, foi financiado pela Fundação Nacional de Ciências (National Science Foundation – NSF). A amostragem foi tomada em um segmento representativo de 2.338 americanos em uma experiência online, onde a civilidade dos comentários no blog foi manipulada. Por exemplo, o estudo mostrou que a introdução de xingamentos nos comentários pré-existentes em um post de um blog de um jornal – originalmente com comentários equilibrados – podia exacerbar para cima ou para baixo as percepções do risco, dependendo da predisposição individual quanto à ciência da nanotecnologia.

“Parece que nós não temos realmente uma clara norma social acerca do que se espera [em termos de civilidade] online,” declara Brossard, professor de Comunicação de Ciências da via da UW-Madison, em contraste com fóruns públicos online, onde normas prescritas para decoro ajudam a manter a civilidade das discussões. “No caso dos posts dos blogs, é um velho-oeste”.

Para a nanotecnologia, que se desenvolve rapidamente e já faz parte de mais de 1.300 produtos comerciais, a exposição a comentários grosseiros online é uma das muitas variáveis que podem influenciar a percepção de risco associada à mesma.

“Quando as pessoas se deparam com um assunto pouco familiar, tal como a nanotecnologia, elas frequentemente se baseiam em outro valor existente – tais como a religiosidade ou a deferência pela ciência – para fazerem um julgamento”, explica Ashley Anderson, uma doutora associada ao Centro de Comunicação sobre Mudanças Climáticas na Universidade George Mason e a principal autora do recém-publicado estudo no Journal of Computer Mediated Communication.

Leitores muito religiosos – revela o estudo – eram levados a ver a nanotecnologia como algo arriscado quando expostos a comentários rudes, em comparação com leitores menos religiosos, observou Brossard.

“Os Blogs já fazem parte da nova paisagem da mídia há algum tempo, mas nosso estudo é o primeiro a examinar os efeitos potenciais dos comentários dos blogs sobre a percepção do público sobre a ciência”, diz Brossard.

Enquanto que o tom dos comentários em um blog podem ter um impacto, a simples discordância em posts pode também fazer oscilar a percepção: “A discordância aberta adiciona outra camada. Ela influencia a conversação”, explica ela.

O Professor Dietram Scheufele de Comunicação de Ciências da Vida na UW-Madison, outro coautor do estudo, observa que a Web é o primeiro lugar onde as pessoas buscam informações detalhadas e discussões sobre os aspectos da ciência e da tecnologia. Por conta desta tendência, “os estudos sobre a mídia online estão se tornando cada vez mais importantes, porém compreender o ambiente da informação online é particularmente importante para as questões de ciência e tecnologia”.

 

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trollface

 

Monteiro Lobato é racista? Pior: é obsoleto

O que motiva este post é outro post do meu querido Declev no Diário de um Professor, a respeito da discussão (que chegou ao Supremo) sobre supostos conteúdos racistas na obra de Monteiro Lobato, mais exatamente no livro “Caçadas de Pedrinho”, livro este proposto como livro-texto para estudantes.

A primeira constatação que se deve fazer é que Lobato – como, de resto, a elite intelectual brasileira de sua época – é racista, sim. É racista e eurocentrista como todos os “bem-pensantes” da primeira metade do século passado. Antes de sair me xingando de iconoclasta, burro, ou qualquer outro epiteto, é sempre bom lembrar que “preconceito” é exatamente o que a origem etimológica sugere: um “conceito” (uma ideia) que uma pessoa absorve de uma cultura existente, sem que essa ideia passe pelo crivo de uma análise lógica. E eu me confesso racista: a todo momento tenho que fazer minha razão protestar contra os preconceitos que eu adquiri quando era criança e que eram tidos como “verdades por si só evidentes”.

Será, então, que o livro “Caçadas de Pedrinho” deve ser banido da bibliografia escolar?… Eu opino que sim. Não só pelas duas ou três referências derrisórias à personagem “Tia Nastácia” por ser negra, mas, principalmente, por deixar subentendido que caçar animais silvestres (especialmente a onça-pintada – espécie ameaçada de extinção) é algo digno de louvor.

Na época em que Lobato escreveu o livro, nada disso era tido como pernicioso. Nenhum negro iria se manifestar ofendido pela caracterização de Tia Nastácia como analfabeta, ignorante, supersticiosa, porque isso não era ficção; era a realidade para a esmagadora maioria dos negros no Brasil, recém saídos da escravidão e sem a menor chance de progresso social. Para ser mais enfático, quando eu era criança, quase metade dos brasileiros eram analfabetos e dava para contar nos dedos quantos dos alfabetizados eram negros ou mestiços de negro (e, para apresentar a exceção que confirma a regra, um dos meus colegas de infância era filho de um desses negros, um deputado federal e sociólogo de boa cepa).

Igualmente, uma das oportunidades que um menino tinha de “se mostrar homem-feito”, era exatamente participar de caçadas – coisa que grande parte daqueles que moravam no interior faziam até mesmo por questão de subsistência. Onça, ainda tinha muita…

O caso é que a sociedade que Lobato descreve e onde ambienta suas obras é coisa do passado. As crianças de hoje não vivem mais em um mundo onde o meio de comunicação mais rápido é o telegrama. As fazendas das Vovós “Benta Encerrabodes de Oliveira” não são mais vizinhas de matas onde se encontre um mísero cachorro-vinagre; estes e outros animais silvestres são, cada vez com mais frequência, encontrados vagando atônitos por bairros de cidades que invadiram seu habitat.

Eu cresci lendo Lobato e meus filhos ainda curtiram Lobato adaptado para a televisão. E a própria versão para televisão já fazia algumas concessões. Por exemplo, “pirlimpimpim” tinha deixado de ser um pó (com conotações óbvias) e passado a ser uma palavra-mágica… Ah!… Sim… Na primeira metade do século passado, cocaína era algo que se comprava na farmácia para dor de dentes.

Hoje, eu não consigo fazer meu neto largar os “animes” e “mangas” e se interessar por um sabugo de milho com ares de fidalgo e filósofo.

Se é com esses textos de (nas palavras de Lobato) uma sensaboria relambória que pretendem ensinar o português a nossas crianças de hoje, boa sorte!… Talvez seja possível cativar ainda algum futuro (sempre nas palavras de Lobato) “Sr. Coisado Pereira, intelectual de Pilão Arcado, onde vive tísico e todo caspas” que venha a escrever outra obra como “A Mulatinha do Caroço no Pescoço” (obra e autor fictícios, extraídos de um texto de Lobato defendendo a tradução dos clássicos estrangeiros).

Fica para o Supremo descascar este abacaxi… E, para os que são incapazes de reconhecer as limitações de uma “vaca-sagrada”, acreditar na máxima: “O que foi bom para meu avô e meu pai, foi também bom para mim e será bom para meus filhos e netos”.

Lobato estaria corado de vergonha…

Fazer comparações: a arte de raciocinar

Esta merece ser incluída na série “Isso todo o mundo já sabia”… Mas, como todas as questões tipo “todo o mundo já sabia”, nada melhor do que botar a coisa em termos de dados controlados em uma pesquisa científica.
Sob o título: “Vale a pena comparar: a comparação ajuda as crianças a entender conceitos matemáticos”, o EurekAlert traz a notícia de que os pesquisadores Bethany Rittle-Johnson, professora assistente de psicologia e desenvolvimento humano no Peabody College da Universidade Vanderbilt, e Jon Star, professor assistente da Escola de Pós-Graduação em Educação da Universidade Harvard, constataram que alunos que aprendem mais de um método para resolver equações, têm maior facilidade para resolver problemas que envolvem cálculos com essas equações. [Atualizando: há um segundo press-release sobre o assunto, com o título: “Você faz os cálculos — explicar os conceitos básicos por trás dos cálculos melhora o aprendizado das crianças”]
Parece óbvio, mas não é o que se vê nas salas de aula, de modo geral. Normalmente, os professores demonstram uma maneira de efetuar os cálculos e deixam por isso mesmo. O resultado é que esse ensino ex-catedra é absorvido sem que os alunos tenham que raciocinar — mal comparando: os alunos aprendem a abrir um furo com uma furadeira, mas não quando e onde um furo é necessário (o que leva ao ditado: “Para quem só tem um martelo, todo problema se parece com um prego”).
O mal é que muitos “professores” despreparados podem confundir “ensinar mais de uma maneira para solucionar um problema” com “encher a cabeça dos alunos com questões filosóficas”… Infelizmente, o bom-senso não é moeda corrente…

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