Perigo! Gelo fino!
Via EurekAlert e Noticiário da Agência Espacial Européia:
Gelo do Mar Ártico está perdendo espessura em uma taxa recorde
28 de outubro de 2008
A espessura da calota de gelo marítima em grandes partes do Mar Ártico diminuiu até em 19% no último inverno, em comparação com os cinco invernos anteriores, de acordo com dados do satélite Envisat da Agência Espacial Européita (ESA).
Usando dados do radar-altímetro do Envisat, cientistas do Centro para Observação e Modelagem Polar no University College London (UCL) mediram a espessura do gelo marítimo sobre o Ártico de 2002 a 2008 e descobriram que ela vinha sendo razoavelmente constante, até a perda recorde de gelo no verão de 2007.
Condições climáticas incomumente quentes aconteceram sobre o Ártico em 2007, o que, explicam alguns cientistas, explica a perda de gelo no verão. Entretanto, este verão alcançou o segundo lugar em extensão jamais registrado, mesmo com condições climáticas mais frias.
A Dra Katharine Giles do UCL, que chefiou o estudo, declarou: “A extensão baixa do gelo neste verão não parece ter sido ditada por condições climáticas quentes, de forma que a pergunta é: a perda de espessura no inverno passado está por trás disso?”
Extensão da Calota Polar Ártica em setembro de 2007 e setembro de 2008. ©ESA
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A pesquisa, relatada em Geophysical Research Letters, mostrou que, no último inverno, a espessura média do gelo marítimo por sobre todo o Ártico caiu em 26 cm (10%), em comparação aos cinco invernos anteriores, mas a calota de gelo marítima do Ártico Ocidental perdeu cerca de 49 cm de espessura.
Giles declarou que a extensão da calota de gelo marítimo no Ártico está sujeita a uma série de fatores, que incluem temperaturas mais altas, correntes e ventos, o que torna importante saber como a espessura do gelo está mudando, bem como a extensão da calota de gelo.
“Uma vez que a calota polar do Mar Ártico está em constante movimento, os métodos convencionais só fornecem medições esparsas e intermitentes da espessura do gelo, a partir das quais fica difícil discernir se as mudanças são locais ou abrangem todo o Ártico”, explicou Giles.
“Os satélites são o único instrumento que permite determinar tendências e dão uma base consistente e de ampla área. O altímetro do Envisat forneceu a crítica terceira dimensão para as imagens de satélite que já haviam revelado um dramático declínio na área da Calota Polar no Ártico”.
Espessura da Calota Polar medida pelo altímetro do Envisat © ESA
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A equipe que incluiu os Drs Seymour Laxon e Andy Ridout, foi a primeira a medir a espessura do gelo durante o inverno no Ártico, de outubro a março, por sobre mais da metade do Ártico.
“Vamos continuar a usar o Envisat para monitorar a evolução da espessura da calota de gelo por todo este inverno, para ver se esta tendência de diminuição continua”, declarou Laxon. “No próximo ano nós teremos uma ferramenta ainda melhor para medir a espessura do gelo, na forma do CryoSat-2 da ESA que vai fornecer dados com maior resolução e uma cobertura quase completa do Polo”.
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“Por dentro da ciência” do Instituto Americano de Física (27/10/08)
Inside Science News Briefs
27 de outubro de 2008
Por Chris Gorski e Jim Dawson
Inside Science News Service
“Laptops” Vibrantes
Dois pesquisadores da Califórnia, tirando vantagem dos chips com acelerômetro dos novos modelos de computadores “laptop”, estão montando um link público atavés da Internet que usa esses chips para criar um amplo sistema de detecção de terremotos. Quando um terremoto balançar, por exemplo, o Sul da Califórnia, os “laptops” ligados através de um software especial à Quake-Catcher Network (“Rede Pega-Terremotos”) automaticamente vão reportar o tremor. Se os cientistas, de repente, receberem relatórios de muitos “laptops”, vão saber que provavelmente está acontecendo um terremoto. A rede é gerenciada por Elizabeth Cochran na Universidade da Califórnia, Riverside, e por Jesse Lawrence na Universidade Stanford.
Embora os detectores científicos de terremotos sejam muito mais sensíveis do que um “laptop” comum, são também muito mais caros, custando entre US$10.000 até US$100.000. E os detectores de verdade podem captar sinais sutis de terremotos distantes que ficam além da sensibilidade dos “laptops”. Porém, explica Lawrence, “com vários sensores mais baratos, em lugar de adivinhar onde os tremores mais fortes foram sentidos pela interpolação dos dados dos sensores, nós deveremos ser capazes de saber onde os tremores fortes estão sendo imediatamente sentidos, porque teremos sensores [na forma de computadores “laptop”] no local”.
Qualquer um com um computador do tipo “laptop” ou “desktop” que contenha um chip sensor de movimento pode se juntar à Quake-Catcher Network pelo site http://qcn.stanford.edu. O software necessário para transformar seus “laptop” em um detector de terremotos está disponível no site e é o mesmo software usado pela organização SETI [Search for Extra Terrestrial Intelligence] que permite que as pessoas usem seus computadores domésticos para ajudar a encontrar inteligência alienígena. A rede de terremotos tem filtros que podem distinguir entre um terremoto real e “mão pesada” na digitação.
Geo-biólogos que estudavam material extraído por uma broca de sondagem em Ancora, Nova Jersey, descobriram um aglomerado de cristais magnéticos com a forma de pontas de lança, formados por processos biológicos, que eles batizaram de “Estrela da Morte Magnética”. Esses cristais de óxido de ferro estavam agrupados em um formato esférico que parece ser diferente de qualquer organismo conhecido no registro fóssil.
“Imagine nossa surpresa em descobrir não só uma floração fóssil de bactérias que produziam magnetos de óxido de ferro dentro de suas células, mas também um conjunto inteiramente novo de organismos que construíam cristais magnéticos de tamanho gigantesco”, disse o estudante pós-doutorando do California Institute of Technology, Timothy Raub, que coletou as amostras de um núcleo extraído para a prospecção de petróleo que estava em um armazém da Universidade Rutgers em Nova Jersey.
As bactérias usam o material magnético em suas células para se orientarem com o campo magnético da Terra. Os pesquisadores, das Universidades McGill e Princeton, bem como do Caltech, declararam não saber se esse tipo de organismo está extinto atualmente, ou se simplesmente nunca tinha sido encontrado antes.
Os cristais magnéticos apareceram na rocha em tamanhos incomumente grandes, até oito vezes maiores do que os maiores cristais bacterianos de óxido de ferro até então encontrados. Na publicação na Proceedings of the National Academy of Sciences, os autores declaram que a parte intermediária da costa atlântica dos EUA deve ter sido um ambiente rico em ferro a 55 milhões de anos atrás, muito diferente do que é hoje. De acordo com o co-autor Robert Kopp, “Esses fósseis podem estar contando uma história acerca de uma modificação radical do ambiente: Imagine um rio como o Amazonas correndo, ao menos ocasionalmente, onde hoje está o Potomac”.
Hipnotizadores Induzem Experiências de Sinestesia e fazem a Letra “A” Sumir
Pesquisadores de Israel, Inglaterra e Espanha colaboraram em um projeto que demonstrou que pessoas com cérebros comuns são capazes de passar por experiências sinestésicas, o que significa que, estimulando um dos sentidos, se pode causar o uso involuntário de outro. Exemplos desse fenômeno incluem pessoas verem consistentemente um certo algarismo com um determinada cor, ou quando ouvir um certo som dispara a sensação de um determinado sabor. As descobertas, publicadas em Psychological Science, contradizem a crença, até então prevalescente, de que a sinestesia só acontecia com pessoas que tinham conexões sinápticas extra em seus cérebros.
Usando uma técnica chamada sugestão pós-hipnótica, os pesquisadores demonstraram que é possível induzir pessoas a terem experiências sinestésicas. Um dos testes feitos para confirmar que os participantes estavam realmente tendo experiências de sinestesia envolveu pessoas que tinham recebido a sugestão pós-hipnótica para ver o algarismo “7” na cor vermelha, se elas podiam ver o algarismo impresso em preto sobre um fundo vermelho. Se os participantes não fossem capazes de ver o algarismo, os pesquisadores concluiriam que a sinestesia induzida por hipnose era real. A pesquisa demonstrou que “conversas em paralelo” entre as células cerebrais podem causar experiências de sinestesia e não conexões extra no cérebro. O co-autor Cohen Kadosh declarou que “isso nos leva um passo adiante na compreensão das causas da sinestesia e das interações transcerebrais anormais”.
Este texto é fornecido para a media pelo Inside Science News Service, que é apoiado pelo Instituto Americano de Física (American Institute of Physics), uma editora sem fins lucrativos de periódicos de ciência. Contatos: Jim Dawson, editor de notícias, em jdawson@aip.org.
A juventude pobre em risco (no mundo inteiro…)
Para não batizar este post na mesma série “Lá, como cá…”, porque o assunto é de grande gravidade, eu optei por dar esse título mais piegas. Via EurekAlert:
Jovens de bairros pobres apresentam uma tendência 4 vezes maior para cometer suicídio
Pesquisadores canadenses e americanos publicam estudo em Psychological Medicine
Montreal, 24 de outubro de 2008 — Jovens no final da adolescência que vivem em bairros pobres apresentam uma tendência quatro vezes maior a tentar o suicídio do que seus pares que vivem em bairros mais abastados, de acordo com um novo estudo da Université de Montréal e do Centro de Pesquisas do Hospital Sainte-Justine, do Canadá, bem como da Universidade Tufts nos EUA. Os pesquisadores descobriram também que os jovens de bairros pobres relatam duas vezes mais pensamentos suicidas.
O estudo mostrou que os jovens no final da adolescência dos bairros mais carentes apresentam maiores níveis de sintomas de depressão, juntamente com níveis menores de apoio social, mas que esses fatores não explicam suficientemente o motivo desses correrem um maior risco de pensar em dar cabo das próprias vidas. “Em lugar disso, eles estão mais vulneráveis por causa de eventos difíceis, tais como conhecer pessoalmente alguém que tenha cometido suicídio, ou passado por uma experiência penosa de ruptura de laços amorosos com um parceiro, o que, aparentemente leva ao aumento de pensamentos sobre e até tentativas de suicídio”, diz Véronique Dupéré, autora principal e pór-doutorada na Universidade Tufts que completou a pesquisa na Université de Montréal. “Em outras palavras, eventos difíceis parecem ter tido um impacto mais dramático sobre esses adolescentes”.
Para este estudo, foram acompanhados 2779 adolescentes, como parte do Estudo Nacional Longitudinal de Crianças e Jovens do Canadá. Os níveis de pobreza nas vizinhanças foram medidos no início e nos meados da adolescência, com base nos dados do Censo. Os pensamentos e tentativas suicidas foram avaliados posteriormente, quando os participantes tinham 18 ou 19 anos. Perguntavam aos participantes: “Durante os últimos 12 meses, você pensou seriamente em cometer suicídio?” Aos que respondiam afirmativamente, era perguntado, então: “Durante os últimos 12 meses quantas vezes você tentou se suicidar?”
Entre os adolescentes de todos os perfis socioeconômicos, a equipe de pesquisa descobriu que hiperatividade e impulsividade, depressão, uso de substâncias, pouco apoio social, exposição ao suicídio e eventos negativos na vida aumentavam a vulnerabilidade aos pensamentos e impulsos suicidas. “Porém entre os jovens de comunidades carentes, a hiperatividade e impulsividade era ainda mais associada a comportamentos suicidas”, explica Éric Lacourse, autor-senior do estudo e professor de sociologia na Université de Montréal. “Nós observamos que a adversidade na comunidade podia amplificar a vulnerabilidade de um jovem a considerar o suicídio”.
O Dr. Lacourse, que também é um cientista do Centro de Pesquisas do Hospital Sainte-Justine, declara que ampliar o acesso a serviços de saúde ou comunitários em comunidades carentes pode reduzir o comportamento suicida entre os jovens. “Este é o primeiro estudo a examinar o papel independente que a vizinhança carente exerce como fator de risco no comportamento suicida de jovens”, acrescenta o Dr. Dupéré. “Nosso estudo sugere que os esforços de intervenção e prevenção, para serem eficazes, devem alcançar os adolescentes vulneráveis que vivem em comunidades pobres”.
Acerca do estudo: “Neighbourhood poverty and suicidal thoughts and attempts in late adolescence,” publicado em Psychological Medicine, autores: Véronique Dupéré e Eric Lacourse da Université de Montréal, e Tama Leventhal da Universidade Tufts.
Apoio à pesquisa: Véronique Dupéré recebeu apoio do Conselho de Ciências Sociais e Humanidades do Canadá (Social Sciences and Humanities Research Council of Canada = SSHRC).
Na Web:
Acerca da publicação Psychological Medicine: http://journals.cambridge.org/action/login
Acerca da Université de Montréal: www.umontreal.ca/english/index.htm
Acerca da Universidade Tufts: www.tufts.edu
Acerca do Centro de Pesquisas do Hospital Sainte-Justine: http://www.recherche-sainte-justine.qc.ca/en/
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Comentários do Tradutor:
Apesar de dizer o que já devia ser mais ou menos óbvio, o estudo põe em números algo que já era evidente: os adolescentes de comunidades pobres têm menos perspectivas de sucesso na vida e são mais vulneráveis, do ponto de vista psicológico. O número realmente importante que esta pesquisa traz em seu bojo é a constatação de que não é só uma questão de “perspectivas de vida”: o fator mais presente é a exposição a atos e situações onde há “desprezo pela vida”.
Em outras palavras, quando o ato de tirar a própria vida se torna comezinho, essa atitude é “contagiosa”. Os adolescentes — em função da tempestade hormonal a que estão sujeitos — já são mais propensos a atitudes extremadas e ousadas (vide “Adolescentes e Riscos”, neste mesmo Blog). A banalização da vida — aqui considerada apenas a própria vida, mas eu pergunto: quem despreza a própria vida, que valor dá à alheia?… — esse sentimento de ser “dispensável” em um mundo onde tudo é “descartável”, é um fator que estimula a violência.
E isso foi constatado no Canadá, onde os Serviços Públicos de Assistência Social são de qualidade infinitamente melhor do que no Brasil.
Ficou mais claro entender de onde surgem os “Lindembergs” da vida?…
Agora, comparem com o estudo da Universidade do Minnesota apresentado neste post aqui.
E me respondam se os pilantras que fizeram fortuna especulando com títulos podres em Wall Street não merecem a mesma acusação de “Crimes Contra a Humanidade” que imputaram aos nazistas…
Boas vibrações das estrelas (calma!… é astronomia, mesmo!)
Via EurekAlet:
American Association for the Advancement of Science
As boas vibrações das estrelas vizinhas
Dados de Satélite lançam novas luzes sobre a superfície do Sol na Science
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Alguns dos primeiros dados coletados pelo telescópio espacial CoRoT, lançado em desembro de 2006, trouxeram informações valiosas acerca das vibrações físicas e caracterísitcas das superfícies das estrelas próximas, que são similares às de nosso Sol, dizem os pesquisadores. Esta informação nova ilustra o grande valor das observações realizadas por observatórios espaciais e fornece aos astrônomos novas idéias sobre o interior de nosso Sol, de outras estrelas e sobre a evoclução geral de nossa galáxia.
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O relatório mencionado será publicado na edição de 24 de outubro da Science como matéria de capa. A Science é uma publicação da AAAS, a sociedade científica sem fins lucrativos.
O Dr. Eric Michel do Observatório de Paris-LESIA-CNRS e um grande grupo de colegas de toda a Europa e América do Sul analisaram os dados do satélite CoRoT para estabelecer que todas as três estrelas próximas, todas elas siginificativamente mais quentes que nosso Sol, também têm vibrações, ou oscilações. maiores also e uma textura de superfície, ou granulação, bem mais fina. Com esses dados nunca antes obtidos, os pesquisadores demonstram que as oscilações das estrelas são cerca de 1,5 vezes mais vigorosas do que as do Sol e sua granulação é cerca de três vezes mais fina. As oscilações observadas, embora muito mais intensas que as do Sol, ainda são cerca de 25% mais fracas do que a maioria dos modelos previam.
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Esses resultados (que são um novo marco) representam a primeira vez que os pesquisadores foram capazes de medir com precisão a amplitude das oscilações e obter as assinaturas granulares de estrelas do universo, além de nosso próprio Sol.
A descoberta inicial das oscilações de nosso Sol, no final da década de 1970, levou à criação da “sismologia solar”, que, desde então, foi usada para medir o movimento e o transporte do calor dentro do Sol. A sismologia solar levou a um rápido progresso na compreensão da estrutura interna do Sol, mas, com o tempo, os pesquisadores encontraram uma parede. Medições acuradas de oscilações do tipo Solar necessitam da coleta de dados precisos, vindos de longas e ininterruptas seqüências de observações, o que torna o estudo com base na superfície da Terra impraticável.
“Embora a energia vinda do Sol seja mais ou menos constante ao longo de nossas vidas, até variações muito pequenas em sua vazão podem ter importantes efeitos”, explica Brooks Hanson, editora-assistente de ciências fíicas da Revista Science . “Compreender essas variações pequenas é um passo crítico para, por exemplo, predizer tempestades solares e o clima espacial, bem como para a resolução das causas das mudanças no clima da Terra… Essas observações [feitas por Michel e seus colegas], e as que virão no futuro, vão fornecer dados essenciais para aumentar nossa compreensão do interior do Sol e das estrelas em geral”.
As descobertas apresentadas por Michel et al. são baseadas nas curvas de luz obtidas pelo satélite CoRoT por um período de 60 dias e auxiliam a refinar nossa compreensão das estrelas e do Sol. Esses resultados “nos permitem colocar nosso Sol dentro do quadro maior da evolução de nossa galáxia e do universo local”, declara Ian Osborne, editor-senior da Revista Science.
A Associação Americana para o Progresso da Ciência (American Association for the Advancement of Science = AAAS) é a maior sociedade científica do mundo e publica a revista Science (www.sciencemag.org).A AAAS foi fundada em 1848 e serve a 262 sociedades afiliadas e academias de ciências, alcançando 10 milhões de pessoas. Science tem o maior número de assinantes e eventuais leitores entre todas as publicações de ciências, com revisão-por-pares, em todo o mundo, com um número estimado de leitores na casa de 1 milhão. A AAAS (www.aaas.org) (organização sem fins lucrativos) está aberta a todos e raliza sua missão de “promover o avanço das ciências e servir à sociedade” através de iniciativas na política de ciências; programas internacionais; educação científica; e mais. Para as mais recentes notícias sobre pesquisas científicas, procure o EurekAlert!, www.eurekalert.org, o serviço de notícias científicas número um e um serviço da AAAS.
Physics News Update nº 876
POR DENTRO DA PESQUISA CIENTÍFICA — PHYSICS NEWS UPDATE
O Boletim de notícias sobre pesquisas do Instituto Americano de Física, nº 876 de 23 de outubro de 2008. www.aip.org/pnu
USANDO A LUZ SOLAR DE MANEIRA MAIS EFICIENTE.
Pesquisadores no Laboratório Nacional de Energia Renovável (National Renewable Energy Laboratory = NREL) em Golden, Colorado, desenvolveram uma maneira para que as células solares de baixo custo convertam a luz solar em eletricidade de maneira mais eficiente. A pesquisa, que aumenta a “vida útil” dos elétrons criados em uma célula solar, de forma a que eles possam produzir mais eletricidade, é um possível passo na direção de diminuir o custo relativamente alto das células solares. Reduzir os custos enquanto se mantém a eficiência é o principal fator para determinar quando a energia solar vai se tornar uma fonte de destaque no negócio de geração de energia.
Em geral, se pode ter boa eficiência ou baixo custo, mas não ambos. A eficiência se refere à fração da energia solar que incide sobre o painel, que realmente acaba convertida em eletricidade utilizável. E o custo se refere às despesas na produção em massa dos painéis em grandes folhas. Células solares já são usadas em mercados restritos, tais como geração de energia para sensores remotos ou naves espaciais. e vêm sendo cada vez mais empregados em aplicações domésticas e em aparelhos.
A maior parte dessas células solares são feitas de cristais de silício. Mas para que haja uma adoção em larga escala, o preço tem que diminuir. Atualmente, o custo do quilowatt-hora para a energia elétrica gerada por luz solar é várias vezes maior do que o custo de produzir a mesma energia com a queima de combustíveis fósseis. As células solares imitam a natureza na maneira com que convertem a energia solar em energia útil. Em uma folha verde, por exemplo, a luz solar incidente libera um elétron em uma molécula de clorofila. O elétron (e sua energia) são passados adiante pela molécula, eventualmente sendo incorporado na construção de moléculas maiores, tais como um carboidrato. Em uma célula solar, a luz solar incidente libera um elétron de um pedaço de semicondutor. Esse elétron “excitado”, se permanecer excitado, pode ser incorporado em uma corrente elétrica que alimenta um circuito externo, onde ele pode ser encaminhado a uma bateria ou à rede elétrica. Quanto maior for o tempo de vida do elétron excitado, maior será a eficiência da célula solar. Infelizmente, os elétrons tendem a perder energia quando encontram um defeito ou uma fronteira nos cristais que constituem a célula solar.
Até agora, para obter uma maior vida útil em estado excitado e obter maior eficiência, as células solares tinham que ser feitas de materiais cristalinos mais caros, tais como silício e arseniato de gálio. Essas células solares precisam de um processamento complexo para serem construídas e esses custos não parecem ter meios de serem reduzidos. Enquanto isso, células solares mais baratas, feitas de finas camadas de materiais multi-cristalinos, tais como compostos feitos de átomos de cobre, irídio, gálio e selênio (CIGS), não são nem de perto tão eficientes.
A pesquisa se focalizou em aumentar a vida útil dos elétrons em células solares feitos de multi-cristalinos CIGS, e no artigo sobre a pesquisa, os cientistas do NREL Wyatt Metzger, Ingrid Repins e Miguel Contreras anunciaram que conseguiram uma vida útil para os elétrons de 250 bilionésimos de segundo. Isso não soa como um tempo longo, mas é longo o bastante para que mais elétrons contribuam para a eletricidade da célula, tornando-a dramaticamente mais eficiente, embora ainda barata em comparação com as células solares de alta eficiência feitas de silício. Os resultados foram recentemente publicados em Applied Physics Letters. (Phillip F. Schewe)
FEIXES “BUCKY”.
Uma vez que os manufatores de nanochips tenham feito suas estruturas multi-camadas, é necessário que eles também verifiquem precisamente se as camadas estão dispostas da maneira adequada.. Uma maneira de o fazer é disparar feixes de íons que, como meteoritos que atingem a Lua, ejetem o material que está por baixo, dando as informações sobre as camadas abaixo da superfície. O material ejetado é analisado por espectrometria de massa. Parece que para fazer isso, moléculas grandes ou aglomerados de átomos funcionam melhor do que íons de um único átomo, uma vez que os aglomerados podem escavar mais claramente e fornecer sinais sem ambiguidade da estrutura profunda da amostra que está sendo imageada. O laboratório de Nick Winograd (nxw@psu.edu) da Universidade Penn State foi a pioneira no uso de feixes de moléculas de carbono-60 (buckyballs). (Veja este site para imagens que ilustram a diferença entre a sondagem feita com feixes de átomos isolados e com C60: http://nxw.chem.psu.edu/nxw/pdf%5C327.pdf). . Recentemente, Winograd e seus estudantes aumentaram muito a sensibilidade da detecção do material ejetado, usando um laser infravermelho para fotopolarização, antes da análise pelo espectrômetro de massa. O laser infravermelho é eficaz porque os elétrons podem ser retirados das moléculas com alta eficiência, através de tunelamento e sem uma fotofragmentação significativa. (Resultados apresentados nesta semana no encontro da AVS em Boston, http://www.avssymposium.org/overview.asp, Artigo AS-TuM10)
CAPTURAR MOLÉCULAS ISOLADAS,
a temperatura ambiente e estudar suas propriedades, foi o que conseguiu Adam Cohen e seus colegas em Harvard. Isolar uma molécula de cada vez já é difícil em temperaturas baixas, e mais ainda em temperaturas mais altas, onde as moléculas ficam mais agitadas. O feito foi realizado com o emprego de uma armadilha anti-browniana eletrocinética (Anti-Brownian Electrokinetic (ABEL). Neste dispositivo, a molécula rotulada com uma fosforescência é seguida por um microscópio e fluorescência e seu movimento instantâneo é freado mediante a aplicação, cuidadosamente temporizada, de pequenos pulsos elétricos, aplicados por a eletrodos que circundam a amostra. Na verdade, os eletrodos são mantidos a alguma distância da molécula, que é o melhor para não poluir o ambiente aquoso com efeitos químicos.
Os chutes eletrônicos são dados na molécula ao longo de micro-canais em um chip subjacente. Quanto mais rápido este processo puder ser aplicado, melhor será a captura. Uma armadilha ABEL pode segurar uma amostra menor, à temperatura ambiente, melhor do que qualquer outro tipo de armadilha. Para prender uma molécula ao mesmo diminuto volume de solução com um feixe de laser somente, precisa de uma enorme quantidade de energia, e isso iria “cozinhar” o objeto, mais do que aprisioná-lo. A armadilha ABEL é suave e precisa de meros microwatts de potência laser. Cohen (cohen@chemistry.harvard.edu) discorreu acerca da aplicação deste processo para a dinâmica de proteínas de membranas no encontro da AVS desta semana. (http://www.avssymposium.org/overview.asp — website de Cohen: https://www2.lsdiv.harvard.edu/labs/cohen/ Artigo IPF-MoM1 )
CORREÇÃO: No PNU nº 875, o trabalho de Jun Ye foi incorretamente chamado de o melhor relógio atômico do mundo. De fato, o relógio de estrôncio de Ye é um dos mais precisos jamais produzidos. Ele é o melhor relógio atômico neutro, porém os dois relógios iônicos do NIST (mercúrio e alumínio) são melhores.
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PHYSICS NEWS UPDATE é um apanhado de notícias vindas de congressos de física, publicações diversas de física e outras fontes de notícias. É distribuído de graça como um meio de disseminar informações sobre a física e os físicos. Por isso sua divulgação é livre, desde que devidamente concedido o crédito à Associação Americana de Física. Physics News Update é publicado mais ou menos uma vez por semana.
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Como divulgado no numero anterior, este boletim é traduzido por um curioso, com um domínio apenas razoável de inglês e menos ainda de física. Correções são bem-vindas.
“Comunicação” entre vegetais
Para não dizer que eu só pesco maluquices no EurekAlert, vai essa outra, bem “fringe” também:
University of Missouri-Columbia
Plantas fêmeas “comunicam” rejeição ou aceitação dos machos
Pesquisador da MU identifica proteínas no pólen que dão uma nova visão do processo de fertilização
COLUMBIA, Missouri. — Sem ter olhos ou ouvidos, as plantas têm que depender da interação de moléculas para reconhecer os parceiros apropriados e evitar misturas de espécies. Em um novo estudo, pesquisadores da Universidade do Missouri identificaram proteínas do pólen que podem contribuir para os processos de sinalização que determina se uma planta aceita ou rejeita grãos de pólen individuais para a reprodução.
Tal como para as pessoas, o jogo de acasalamento não é sempre fácil para as plantas. As plantas dependem de fatores externos, tais como o vento e animais para lhes trazer os parceiros em potencial na forma de grãos de pólen. Quando os grãos de pólen chegam, acontece uma “apresentação formal” por meio de uma “conversa” entre os grãos de pólen (a parte macha da flor) e o pistilo (a parte fêmea da flor). Nesta “conversa”, moléculas tomam o lugar das palavras e permitem que o pólen se identifique para o pistilo. Bisbilhotar essa “conversa” molecular pode fornecer meios para controlar o alastramento de transgenes de plantas geneticamente modificadas para seus parentes selvagens, oferecer maneiras melhores para controlar a fertilização entre espécies cruzadas e levar a uma maneira mais eficiente de cultivar árvores frutíferas.
“De forma diferente dos aspectos visuais relativos à seleção de parceiros, o reconhecimento dos parceiros para uma planta se dá em um nível molecular”, explica Bruce McClure, diretor associado do Centro de Ciências da Vida Christopher S. Bond e pesquisador da Divisão de Bioquímica e do Grupo Interdisciplinar para Plantas. “O pólen tem que, de alguma forma, anunciar sua identidade para o pistilo e o pistilo tem que poder interpretar essa identidade. Para fazer isso, proteínas do pólen e proteínas do pistilo interagem; isto determina a aceitação ou rejeição dos grãos de pólen individuais”.
Nesse estudo, os pesquisadores usaram duas proteínas específicas do pistilo, NaTTS e 120K, como “isca” para ver quais proteínas do pólen se ligariam a elas. Essas duas proteínas do pistilo foram usadas porque elas influenciam diretamente o acesso do pólen pistilo abaixo, até o ovário onde a fertilização acontece.
Três proteínas, a proteína de ligação S-RNase (SBP1), a proteína NaPCCP e uma enzima, se grudaram nas proteínas do pistilo. Esta ação sugere que essas proteínas provavelmente contribuem para o processo de sinalização que afeta o sucesso da condução do pólen.
“Nossa experiência foi assim como colocar um lado de uma fita de Velcro em duas proteínas do pistilo e confrontá-las com uma coleção de proteínas do pólen para ver quais tinham a outra metade da fita de Velcro para grudarem”, declarou McClure. “Se elas grudassem, seria um bom indício de que as proteínas do pólen trabalham em conjunto com as proteínas do pistilo para estabelecer o sucesso da reprodução”.
Em estudos anteirores, McClure demonstrou que a S-RNase, uma proteína do pistilo, causava a rejeição de pólen de parentes próximos, atuando como uma citotoxina, ou seja, uma substância tóxica, no tubo de pólen.
Para seu estudo, a equipe da MU usou a Nicotiana alata, uma espécie relativamente comum em jardins domésticos, conhecida como “tabaco florescente”. O estudo, “Pollen Proteins Bind to the C-Terminal Domain of Nicotiana Alata Pistil Arabinogalactan Proteins”, foi publicado no Journal of Biological Chemistry e teve como co-autores McClure; Kirby N. Swatek, estudante de pós-graduação em bioquímica; e Christopher B. Lee, pesquisador pór-doutoral no Centro Bond de Ciências da Vida.
Professores de seis Faculdades da MU realizam pesquisas interdisciplinares no Centro Christopher S. Bond de Ciências da Vida, com a intenção de se tornar um centro de excelência científica de reconhecimento mundial em ciências da vida e de liderança em pesquisas, inovações e ensino de ciências da vida. O Centro integra os potenciais de várias disciplinas, frequentemente dispares, para promover descobertas que possam melhorar a produção e a qualidade dos alimentos, melhoar a saúde de pessoas e animais e melhorias na qualidade do meio ambiente. O Centro enriquece o Estado de Missouri e seu povo gerando novos negócios e empregos, alimentando a economia através da criação e disseminação de novos conhecimentos, e do treinamento de jovens para a solução de problemas interdisciplinários complexos.
“Depressão” e “religião”
Também via EurekAlert:
Temple University
A “espiritualidade” é uma proteção melhor contra a depressão do que “ir à Igreja”
Aqueles que cultuam um “poder maior” freqüentemente o fazem de diversas maneiras. Existe uma diferença entre ser um membro ativo de uma comunidade religiosa, ou preferir apenas orar ou meditar, e uma nova pesquisa da Universidade Temple sugere que a religiosidade de uma pessoa pode dar indícios sobre os riscos dessa pessoa entrar em depressão.
A pesquisadora-chefe Joanna Maselko, Sc.D., caracterizou as religiosidade dos 918 participantes do estudo em termos de três domínios de religiosidade: participação em serviços religiosos, que se refere a estar envolvido com uma Igreja; bem-estar religioso, que se refere à qualidade do relacionamento da pessoa com esse “poder superior”; e bem-estar existencial, que se refere à sensação pessoal de ter um significado e um propósito na vida.
Em um estudo publicado on-line neste mês em Psychological Medicine, Maselko e seus colegas pesquisadores compararam cada domínio da religiosidade a seus riscos de depressão, e ficaram surpresos em descobrir que que os grupos com altos níveis de bem-estar religioso apresentavam 1,5 vezes mais riscos de apresentar depressão do que aqueles que se diziam com menos bem-estar religioso.
Maselko teoriza que isso se deve ao fato de pessoas com depressão tenderem a usar a religião como mecanismo de “ajuda”. Como resultado, elas se relacionam mais com Deus e rezam mais.
Os pesquisadores também descobriram que aqueles que freqüentam serviços religiosos tinham um risco 30% maior de passar por depressões durante suas vidas, e que aqueles que tinham altos níveis de bem-estar existencial tinham menos 70% de chance de entrarem em depressão do que os que tinham baixos níveis neste quesito.
Maselko diz que o envolvimento com uma Igreja fornece a oportunidade para a interação comunitária, o que pode ajudar a criar laços com outras pessoas, um fator importante na prevenção da depressão. Ela acrescentou que aqueles com maiores níveis de bem-estar existencial têm uma forte noção de seu lugar neste mundo.
“Pessoas com altos níveis de bem-estar existencial tendem a ter bases sólidas o que os torna emocionalmente bem centrados”, argumenta Maselko. “Pessoas que não têm essas coisas, correm um risco maior de depressão e essas mesmas pessoas podem se voltar para a religião como um meio de ajuda”.
Maselko admite que os pesquisadores ainda têm que estabelecer o que vem primeiro: a depressão ou a religiosidade, porém está, correntemente, investigando o histórico de vida dessas pessoas para descobrir a resposta.
“Para médicos, psiquiatras e psicólogos, é difícil desemaranhar esses elementos quando se está tratando de distúrbios mentais”, disse ela. “Não se pode apenas perguntar a um paciente se ele ia à Igreja, para medir seu grau de religiosidade e comportamentos de busca de ajuda. Existem outros componentes a considerar quando se trata pacientes e essa é uma informação importante para os terapeutas”.
Os outros autores do estudo são Stephen Gilman, Sc.D., e Stephen Buka, Sc.D., do Departamento de Saúde Pública da Universidade Harvard e da Escola de Medicina da Universidade Brown. A pesquisa foi patrocinada por verbas dos Institutos Nacionais de Saúde Mental e pelo Prêmio Jack Shand da Sociedade para o Estudo Científico da Religião.
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Comentário do tradutor: pessoas “bem resolvidas” são menos passíveis de cair em depressão?… Isso eu podia dizer de graça…
E eu bem gostaria de saber que instrumentos de medição foram usados na aferição de conceitos tais como “bem-estar religioso” (se é que isso quer dizer alguma coisa, além de: “você está em dia com seu dízimo, cara?…”)
Também gostaria de saber quais as “religiões” que os participantes dessa pesquisa professam, porque existe uma enorme diferença entre o “relacionamento com Deus” de um Buddhista (uma religião que não tem um “Deus”) e um “fundamentalista” bíblico ou islâmico… Ou uma bruxa Wiccan…
E – apenas para criar um “grupo de controle” – por que não foram acompanhados alguns ateus, também?… Eu acredito que conheço um monte de ateus com altíssimos níveis de “bem-estar existencial”.
Ah!… Sim, eu ia me esquecendo: o título do artigo fala que “espiritualidade é mais eficaz do que ‘ir à Igreja’ (no original: Spirituality protects against depression better than church attendance). De onde se infere isso no texto?
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“O que há em um nome?”
Via EurekAlert:
Association for Psychological Science
As iniciais de seu nome podem influenciar onde você escolhe trabalhar?
Um teste sistêmico do “efeito da inicial”
Uma das mais importantes decisões que podemos tomar é para qual empresa vamos trabalhar. Existem vários fatores que entram em consideração quando tomamos essa decisão, que incluem salário, benefícios e localização do trabalho. Entretanto, podem existir outros fatores menos óbvios que influenciam nossas decisões, sem que sequer saibamos disso. É um fato bem conhecido de que pensamentos inconscientes podem afetar certos aspectos de nosso comportamento. Um exemplo intrigante disso é o “efeito da inicial do nome”, um fenômeno que mostra que temos preferências por coisas que comecem com a mesma letra de nosso “nome de batismo”.
Os psicólogos Frederik Anseel e Wouter Duyck da Universidade de Ghent (Bélgica) ficaram interessados em verificar a extensão do “efeito da letra inicial” e se ele é suficientemente forte a ponto de influenciar nossa escolha de onde vamos trabalhar. Os psicólogos analisaram uma base de dados contendo informações sobre empregados belgas em regime de tempo integral. Mais especificamente, os pesquisadores compararam os nomes dos empregados para ver quantas vezes a letra inicial de seus nomes batia com a inicial do nome da firma. Os pesquisadores fizeram uma estimativa do número esperado de coincidências (usando cálculo de probabilidades) e compararam com os resultados efetivamente observados.
Em um novo estudo, publicado em Psychological Science, da Association for Psychological Science, os psicólogos descobriram que, com efeito, existe um “efeito da letra inicial” entre os empregados e as firmas para as quais trabalham. Ocorreram 12% mais coincidências do que se esperava na estimativa de probabilidades. Os pesquisadores observam que “portanto, para cerca de cada uma em nove pessoas cujas iniciais coincidiam com a da firma em que trabalhavam, a escolha da firma parece ter sido influenciada pelo fato de que as iniciais coincidiam”. Além disso, quando os psicólogos procuraram por todas as letras, eles descobriram que este efeito ocorria com cada uma das letras do alfabeto, mas ficava mais aparente para as iniciais mais raras.
Os autores concluíram “ter demonstrado que as pessoas tendem a trabalhar para companhias com as iniciais que coincidam com suas próprias, do que para firmas com outras iniciais”.
Contato com o autor: Frederik Anseel Frederik.Anseel@UGent.be
Artigo relacionado: http://www.psychologicalscience.org/media/releases/2007/nelson.cfm
Psychological Science está cotada entre as 10 principais publicações sobre psicologia geral em termos de impacto pelo Institute for Scientific Information. Para obter um cópia do artigo “Unconscious Applicants: A Systematic Test of the Name-Letter Effect” e acesso a outras pesquisas na Psychological Science, por favor entre em contato com Barbara Isanski pelo telefone 202-293-9300 ou bisanski@psychologicalscience.org.
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Nota do Tradutor: eu não tinha lido o título do “artigo relacionado”, até ter chegado a essa parte… Mera coincidência, ou, por me chamar João Carlos, eu deveria ter sido Jornalista Científico?… 😎 😆
Ciência e Ficção Científica (segundo o Instituto Americano de Física)
22 de outubro de 2008
OS “CARAS DA CIÊNCIA” DA SÉRIE “FRINGE” FALAM MAIS DE CIÊNCIA MESMO DO QUE DE FICÇÃO CIENTÍFICA
Por Emilie Lorditch
Contribuidor do ISNS
COLLEGE PARK, Maryland (21 de outubro de 2008) — Algumas vezes os fatos científicos são ainda mais estranhos do que a ficção científica… Como os “caras da ciência” da nova série de thriller de ficção científica da FOX, “FRINGE” (literalmente: “fímbria”), Rob Chiappetta e Glen Whitman, sabem melhor do qualquer um.
A série “FRINGE” levam os espectadores em viagens fantásticas se valendo de ciências que tradicionalmente ficam na “fímbria” da ciência tradicional, coisas como “controle da mente” e “teletransporte”. Porém, com toda a pesquisa que anda sendo realizada nesses campos, muitas das idéias para os roteiros da série são, na verdade, arrancadas de jornais e revistas de ciência.
“Nós começamos procurando por idéias a partir dos títulos de uma revista científica ou da notícia do estabelecimento de um novo fundo de pesquisas, e pensamos: qual seria o próximo passo ou até onde podemos esticar as fronteiras?”, explicou Whitman. “Por exemplo, no terceiro episódio, um dos personagens estava recebendo mensagens telepáticas em seu cérebro e, na segunda feira, antes do episódio ir ao ar, nós vimos um artigo no website da CNN que explicava como o Exército dos EUA estava desenvolvendo um capacete que usava ondas cerebrais para auxiliar a comunicação entre os soldados”.
Whitman e Chiappetta são “consultores de media”, não cientistas, e, embora eles já tenham sido consultores de várias séries de TV, eles observam que suas habilidades vêm da curiosidade e da pesquisa em publicações científicas e na imprensa popular, não de uma formação formal. Chiappetta é formado em Direito pela Universidade do Texas e Whitman é PhD em economia pela Universidade de Nova York.
“Ambos já fomos consultores para Roberto Orci [um dos co-criadores da série “FRINGE]” em vários projetos ao longo desses anos, da série “Alias”, passando por “Transformers”, até “Star Trek” ” , disse Whitman . “Para a série “FRINGE”, como parte de nossa estratégia para conseguir o emprego na série, nós criamos um arquivo artigos de ciência e tecnologia que pensamos que poderiam inspirar bons roteiros. Quando fomos empregados, o arquivo contava com várias centenas de artigos e nós nos tínhamos tornado familiarizados com os recentes desenvolvimentos no mundo da ciência. O papel de “caras da ciência” sobrou naturalmente para nós”.
Com uma série que muda a cada semana, os dois nunca sabem o que terão que aprender a seguir. “Em uma semana nós estávamos debruçados sobre as publicações e procurando tudo sobre neurociência e, na próxima, estávamos aprendendo tudo sobre hormônios”, relatou Chiappetta. “Temos que aprender um bocado e bem rápido, e grande parte da informação nem é usada, mas os roteiristas realmente apreciam nossas pesquisas, o que é bacana”.
“Várias vezes nós temos uma cena onde alguma coisa tem que acontecer e nós temos que bolar como isso poderia ser cientificamente explicado”, contou Whitman. “Então, nós aparecemos com três idéias e os roteiristas escolhem”.
Até os roteiristas da série estão entusiasmados com a pesquisa científica. “É claro que já tínhamos um certo interesse pelos tópicos da ciência para a série, mas, agora, os roteiristas realmente abraçaram o conceito da série”, contou Whitman. “Agora, as mesas estão cobertas de exemplares de Wired, Discover e Seed”.
Um dos roteiristas veio contar para a equipe sobre um cientista que estava usando células de cérebro de ratos para controlar um rato-robô por controle remoto. Embora a formação de Whitman tenha sido em economia, matemática e estatística, ele encontra uma forte afinidade com a neurociência. “Glen sabe dizer qual parte do cérebro regula qual função”, disse Chiappetta.
Por sua vez, Chiappetta diz ter crescido lendo Nature, Science e National Geographic, e focalizou seu trabalho mais sobre tecnologia e telecomunicações. “Nós encontramos exemplos, todos os dias, onde as fímbrias da ciência que aparecem na série são discutidas”, disse ele. “Como aquele físico do CERN no programa “60 Minutes” falando do Large Hadron Collider, e, quando perguntaram a ele qual poderia ser uma aplicação prática da pesquisa do LHC, ele respondeu que, talvez daqui a dez anos — teletransporte”.
Embora as idéias na série possam ir além da pesquisa científica corrente, essas idéias ainda têm que parecer plausíveis. “Se ainda não aconteceu, ainda tem que ser razoável”, disse Chiappetta. “Em tanto quanto a gente dê um pouco de explicação acerca da ciência e mostre a possibilidade”. “Nós conversamos muito acerca de ‘dar base sólida a uma idéia’ ”. declarou Whitman. “Isso quer dizer aparecer com uma explicação real para a coisa”.
Um dos temas subjacentes da série é que a ciência pode ser empregada para o bem ou para o mal e que o cientista tem uma responsabilidade para com esse poder. “A ciência é feita por pessoas e para pessoas; os cientistas lidam com problemas reais e aparecem com soluções reais”, argumenta Whitman. “Nossa esperança é podermos trazer esta ciência marginal para o centro das atenções, pelo menos nas mentes do público em geral e fazê-los conversar sobre o assunto na hora do cafezinho”.
Chiappetta e Whitman ambos admitem que o trabalho é sempre empolgante. “Nós descobrimos que podemos ter idéias grandes e malucas”, disse Whitman. “Nós adoramos isso”.
Este texto é fornecido para a media pelo Inside Science News Service, que é apoiado pelo Instituto Americano de Física (American Institute of Physics), uma editora sem fins lucrativos de periódicos de ciência. Contatos: Jim Dawson, editor de notícias, em jdawson@aip.org.
Ficção Científica e Divulgação das Ciências
Três dias antes de meu 7º aniversário uma notícia espantosa correu o mundo: a União Soviética tinha colocado um satélite artificial em órbita!… Em um mundo ainda sob os efeitos da perplexidade das armas atômicas e dos horrores da 2ª Guerra Mundial (e da recente Guerra da Coréia), havia um campo fértil para as lendas sobre “Discos Voadores” (o Projeto “Blue Book” estava, ainda, a plena carga) e começavam a surgir, na esteira de previsões sombrias de “1984”, os temores de que os “Cérebros Eletrônicos” (a versão em “estado-da-arte” do monstro de Frankenstein) pudessem “dominar o mundo” (embora não esclarecessem bem para que uma máquina “inteligente” iria se preocupar em dominar um mundo habitado por uma espécie tão idiota a ponto de deixar de instalar um interruptor “liga/desliga” em algo tão perigoso…)
Como os editores portugueses ainda tinham preferência e exclusividade na obtenção de “direitos de tradução para a lingua portuguesa”, o jeito que eu arrumei foi aprender a ler na lígua da família de minha mãe e tentar saber mais sobre os “Oceanos de Vênus” e a “Moribunda Civilização de Marte”…
Ainda era a época em que o Projeto “Bluebook” andava a pleno vapor e os “cinemas-poeiras” exibiam “trashes” como “Plan 9 from outer space”…
É de espantar que a Ficção Científica tenha tido uma influência tão grande na minha vida?…
Entretanto eu me confesso decepcionado em ter tido razão, quando respondi ao Osame, no post dele, que achava que “cientistas detestam sic-fi“. Os autores de Ficção Científica geralmente são cientistas, mas escrevem sob pseudônimos (existem as honrosas exceções tais como Sagan e Hoyle, mas esses tinham adquirido, antes, uma sólida reputação como pesquisadores, depois como divulgadores de “ciência séria” e só depois se aventuraram na sci-fi…)
E, é claro, como em todo gênero artístico, a Ficção Científica produz 99% de lixo para cada “obra prima”. O raio é que “Ficção Científica” virou um termo portemanteau, onde cabe desde um “futurismo” a lá Orwell (1984) e Huxley (Admirável Mundo Novo), até as mais palermas space operas (de boa qualidade, com a série Star Wars) e filmes trash, como Invasion of Body Snatchers.
E tudo se resume em um “não pode” que continua não podendo: viagens em velocidades superiores à da luz. (Lá se foram os “Impérios Galáticos” e a “Federação dos Planetas” da série Star Trek).
Os “Cérebros Eletrônicos” não metem mais medo em niguém e nem são mais chamdos de “computadores”: viraram coisinhas triviais que atendem por nomes prosáicos como “PC”, “Laptop”, “Ipod”, etc.
E até os tour-de-force dos imaginativos escritores que “inventavam” coisas “impossíveis” para a época, viraram lana caprina. Eu nem sei dizer se batizar o primeiro submarino atômico de “Nautilus” foi uma homenagem ou uma gozação com Jules Vernes. O fato é que você encontra nos EurekAlert da vida argumentações perfeitamente cientificamente embasadas que dizem que o “dispositivo Klingon de invisibilidade” não é absolutamente impossível com a atual tecnologia…
Como supunha (meu “Guru”) Robert Heinlein, em breve a tecnologia iria tornar a sci-fi obsoleta. As inovações tecnológicas tornam o “impossível” de ontem no “corriqueiro” de hoje (no meio do século passado, uma das “modas” da sci-fi eram os “videofones” — ou “teletelas” de Orwell — coisa que qualquer celular pode fazer atualmente e qualquer um com uma webcam pode fazer há muito tempo…)
Uma coisa que nenhum escritor de sci-fi (que eu conheça) jamais poderia imaginar é o brutal desenvolvimento da nano-tecnologia: quem imaginaria que as “fullerenes” iriam se mostrar tão inúteis, mas um Carbeno iria revolucionar toda a nano-eletrônica?…
A Ficção Científica ficou relegada a uma “Ficção Histórica de um Futuro Possível” (Stand on Zanzibar e The Squares of the City, de John Brunner) e a mais prosáica “Aldeia Global” de McLuhan é mais atual do que nunca nos Orkut, Facebook e MSN da vida… Os “Jetsons” são tão prováveis quanto os “Flintstones”…
E a ciência se tornou tão “esotérica” com seus “genomas” e “quarks” (“saborosos” e “coloridos”) que se dissociou totalmente do dia-a-dia do Joe, the Plumber (nosso famoso Zé Ninguém). Simplesmente não dá para explicar a um secundarista uma “trama” que tenha como base as “quebras de simetria” derivadas de uma “quiralidade”. Restam as profundamente chatas especulações moralistas sobre “engenharia genética”, de resto antigas como Frankenstein de Shelley…
Será que a Ficção Científica ainda é capaz de estimular a imaginação de algum jovem e fazê-lo sonhar com “viajar para as estrelas e entrar em contato com raças alienígenas”?…
Ou será que os vetustos “rigores científicos” que levam os “cientistas sérios” a enaltecer o chatíssimo “Profeta Dawkins” estão matando, de uma vez, os sonhos de muita gente?
Eu já ando com sérias dúvidas se a Ficção Científica é um meio válido para promover a divulgação das ciências, porque o que empolga na Ficção é, exatamente, uma “momentânea aceitação do impossível” (assim como nos desenhos animados ninguém estranha um rato usando roupas e luvas que é amigo de um cachorro humanizado que usa chapéu, mas tem um cão de estimação)
(Este post faz parte da discussão do corrente mês do “Roda de Ciência. Por favor, comentários aqui.)