Ciência e Religião

Salve, Pessoal!
O meu professor particular de Física de Altas Energias, Prof. Daniel Doro Ferrante (que, nas horas vagas – eu sou um aluno muito aplicado, portanto ele tem bastante delas – está tirando um PhD em Física de Altas Energias na Universidade de Brown, Providence, Rhode Island, USA, enquanto se diverte como Webmaster do Departamento de Física daquela pequena instiuição acadêmica) tem um irritante hábito de publicar em seu BLOG (o link está aí do lado) uma porção de links para assuntos extremamente interessantes e deixar de comentá-los, sob pretextos vagos de que tem que preparar alguns papers, ou torturar os undergraduates em cursos sobre assuntos triviais como Relatividade Geral (ou – risível – jogar basquete)…
Em 27 de outubro, sob o prosaico título de “As coisinhas interessantes de hoje“, entre outros links, ele deixou um para um artigo, republicado, sobre o tópico deste artigo. Embora o autor seja uma figura obscura, suas idéias me pareceram bastante razoáveis e, como eu adoro traduzir, lá vai:

Sobre ciência e Religião
Uma palestra proferida na Conferência sobre Ciência, Filosofia e Religião em 1941
Por Albert Einstein
Não deveria ser difícil chegar a um acordo sobre o que entendemos por ciência. Ciência é o empreendimento centenário de arrebanhar, por meio do raciocínio sistemático, os fenômenos perceptíveis deste mundo, em uma associção tão abrangente quanto possível. Em uma definição ampla, é a tentativa de reconstruir, a postreriori, a existência, por meio de conceitualizações. Porém, quando me pergunto sobre o que é religião, eu não consigo pensar em uma resposta tão simples. E, mesmo depois de encontrar uma resposta que me satisfaça no momento, eu ainda permaneço convencido de que não posso, sob circunstância alguma, conciliar, nem mesmo um pouco, todos os que deram a esta questão uma consideração séria.
Em primeiro lugar, então, em vez de perguntar o que é religião, eu prefiro perguntar o que caracteriza as aspirações de uma pessoa que me dá a impressão de ser religiosa: uma pessoa que é religiosamente iluminada, me parece ser uma que, na melhor medida de suas habilidades, se libertou das limitações de seus desejos egoístas e se preocupa com pensamentos, sensações e aspirações aos quais se liga por causa de seus valores supra-pessoais. Me parece que o que realmente importa é a força desse contentamento supra-pessoal e a profundidade da convicção acerca de seu supremo significado, a despeito de qualquer tentativa de unir este conteúdo com um Ser Divino, porque, senão, seria impossível contar Buddha e Spinoza como personalidades religiosas. De acordo com esta ideía, uma pessoa religiosa é devota, no sentido de que não tem dúvida alguma sobre o significado e supremacia desses metas e objetivos supra-pessoais, que não necessitam, nem são adequados a fundamentos racionais. Eles existem com a mesma necessidade factual da pessoa. Neste sentido, a religião é o empreendimento da humanidade que se perde nas brumas dos tempos, em se tornar clara e completamente consciente desses valores e metas, e de reforçar e estender, constantemente, seus efeitos. Se alguém concebe religião e ciência de acordo com estas definições, então um conflito entre elas parece impossível. Porque a ciência só pode afirmar aquilo que é, mas não o que deveria ser, e, fora destes domínios, julgamentos de valores de todos os tipos permanecem necessários. A religião, por outro lado, lida apenas com avaliações dos pensamentos e ações humanos: ela não pode falar, justificavelmente, dos fatos e dos relacionamentos entre os fatos. De acordo com esta interpretação, os bem conhecidos conflitos entre religião e ciência, no passado, devem ser atribuídos a uma má compreensão da situação descrita.
Por exemplo, um conflito começa quando uma comunidade religiosa insiste na absoluta veracidade de todos os ensinamentos contidos na Bíblia. Isto significa uma intervenção, por parte da religião, na esfera da ciência; este é o campo no qual se travaram as lutas da Igreja contra as doutrinas de Galileu e Darwin. Por outro lado, representantes da ciência têm tentado chegar a julgamentos fundamentais a respeito de valores e finalidades, com base no método científico, e, deste modo, se colocaram em oposição à religião. Todos estes conflitos nasceram de erros fatais.
Agora, mesmo que os reinos da religião e da ciência, em si, estejam claramente definidos como separados entre si, ainda assim, existem entre os dois fortes vínculos e dependências recíprocos. Apesar da religião ser aquela que determina as metas, ela, não obstante, aprendeu com a ciência, em seu sentido mais abrangente, quais os meios podem contribuir para atingir as metas estabelecidas. Mas a ciência só pode ser criada por aqueles que estejam totalmente imbuídos da aspiração pela verdade e compreensão. A fonte deste sentimento, entretanto, nasce da esfera da religião. Daí vem, também, a fé na possibilidade de que as leis para o mundo da existência sejam racionais, ou seja, compreensíveis para a razão. Eu não consigo pensar em um genuíno cientista sem esta profunda fé. A situação pode ser expressa em uma imagem: a ciência sem religião é capenga; religião sem ciência é cega.
Embora eu tenha afirmado acima que, na verdade, um conflito legítimo entre religião e ciência não pode existir, eu devo, não obstante, qualificar essa assertiva mais uma vez, acerca de um ponto essencial, com referência ao real conteúdo das religiões históricas. Esta qualificação tem a ver com o conceito de Deus. Durante o período juvenil da evolução espiritual da humanidade, a fantasia humana criou deuses à imagem e semelhança dos homens, que, por força de suas vontades, supostamente determinavam, ou, pelo menos, influenciavam, o mundo dos fenômenos. O homem tentou alterar a disposição desses deuses, em seu próprio favor, por meio de mágica e da prece. A idéia de Deus nas religiões atualmente ensinadas é uma sublimação desta velha concepção dos deuses. Seu caráter antropomórfico é mostrado, por exemplo, pelo fato de que as pessoas apelam ao Ser Divino em orações e pedem pela satisfação de seus desejos.
Ninguém, certamente, negará que a idéia da existência de um Deus pessoal onipotente, justo e oni-beneficente, é adequada ao consolo, à ajuda e à orientação dos homens; igualmente, em virtude de sua simplicidade, ela é acessível à mente menos desenvolvida. Mas, por outro lado, existem fraquezas decisivas ligadas a essa idéia, em si, que se fazem sentir dolorosamente, desde o início da história. Isto é, se esse ser é onipotente, então qualquer acontecimento, inclusive todas as ações humanas, todos os pensamentos humanos, e cada sensação e aspiração humanas são, também, obra sua; como será possível, então, responsabilizar as pessoas por seus atos e pensamentos perante um Ser tão todo-poderoso? Ao distribuir punições e recompensas Ele estaria, de uma certa forma, julgando a Si próprio. Como isso pode ser combinado com a bondade e retidão que se Lhe atribuem?
A principal fonte de conflitos, nos dias de hoje, entre as esferas da religião e da ciência, repousa neste conceito de um Deus pessoal. O alvo da ciência é estabelecer regras gerais que determinem as conexões recíprocas entre objetos e eventos no tempo e no espaço. Para essas regras, ou leis da natureza, uma validade absoluta é necessária – não comprovada. Trata-se principalmente de um programa e a fé na possibilidade de seu cumprimento, em princípio é fundamentado somente em sucesso parcial. Mas dificilmente se poderá achar alguém que negue esses sucessos parciais e os atribua à auto-ilusão humana. O fato de que, com base nessas leis, nós sejamos aptos a prever o comportamento temporal dos fenômenos em certos domínios com grande precisão e certeza, está profundamente imbuído na consciência do homem moderno, muito embora ele possa ter compreendido muito pouco do conteúdo dessas leis. Ele só precisa considerar que as órbitas planetárias dentro do sistema solar podem ser calculadas com granda exatidão, com base em um número limitado de leis simples. De uma forma similar, embora não com a mesma precisão, é possível calcular, antecipadamente, o modo de operação de um motor elétrico, um sistema de transmissão, ou um aparelho sem-fio, mesmo quando se lida com um novo desenvolvimento.
Para ser franco, quando o número de fatores intervenientes em um complexo fenomenológico, é grande demais, o método científico, na maior parte das vezes, falha. Basta pensar nas condições climatológicas que são impossíveis de prever, apenas alguns dias à frente. Não obstante, ninguém duvida que estamos nos confrontando com uma conexão causal, cujos componentes causais são, em sua maioria, conhecidos. As ocorrências nesse domínio ficam além do alcance da predição exata, por causa da variedade dos fatores em operação, não por conta de qualquer falta de ordem na natureza.
Nós penentramos muito menos profundamente nas regularidades observáveis dentro do reino das coisas vivas, porém fundo o suficiente para sentir ao menos a regra das necessidades fixas. Só precisamos pensar na ordem sistemática da hereditariedade e nos efeitos dos venenos, como, por exemplo, o álcool, no comportamento dos seres orgânicos. O que ainda está faltando é uma compreensão de conexões de profunda generalidade, mas não o conhecimento da existência de uma ordem.
Quanto mais uma pessoa está imbuída da ordenada regularidade de todos os eventos, mais firme se torna sua convicção de que não existe espaço disponível do lado desta regularidade ordenada para causas de uma natureza diferente. Para esta pessoa, nem as regras humanas, nem as regras divinas poderão existir como uma causa de eventos naturais. Para ser franco, a idéia de um Deus pessoal que interfere nos eventos naturais, nunca pode ser refutada, no sentido real, pela ciência, porque esta doutrina sempre pode se refugiar naqueles domínios onde o conhecimento científico ainda não conseguiu firmar um pé.
Mas eu estou persuadido de que tal comportamento, por parte dos representantes da religião, não só seriam contraproducentes, mas também fatais. Porque uma doutrina que não consegue se manter na clar luz, mas somente na escuridão, perderá, necessariamente, seu efeito sobre a humanidade, com um incrível dano ao progresso humano. Em sua luta pelo bem ético, os professores de religião devem ter a estatura suficiente para desistir de uma doutrina de um Deus pessoal, isto é, desistir dessa fonte de medo e esperança que, no passado, colocou um poder tão vasto nas mãos dos padres. Em seus trabalhos, eles terão que se valer dessas forças que são capazes de cultivar a Bondade, a Verdade e a Beleza no próprio ser humano.
Esta é, certamente, uma tarefa mais difícl, mas incoparavelmente mais valiosa. (Este pensamento é convincentemente apresentado no livro “Crença e Ação” de Herbert Samuel). Depois que os professores de religião consigam obter o processo de refinamento indicado, eles seguramente reconhecerão com alegria que a verdadeira religião foi enorbrecida e tornada mais profunda com o conhecimento científico.
Se uma das metas da religião é libertar a humanidade, tanto quanto possível, dos grilhões das ânsias, dos desejos e dos medos egocêntricos, o raciocínio científico pode auxiliar a religião em ainda outro sentido. Embora seja verdade que a meta da ciência é descobrir regras que permitam a associação e a predição de fatos, este não é seu único alvo. Ela também busca reduzir as conexões descobertas ao menor número possível de elementos conceituais independentes. É nessa busca frenética da unificação racional dos diversos aspectos que ela tem encontrado seus maiores sucessos, embora seja precisamente por conta dessa tentativa que ela corre o maior risco de se tornar uma presa das ilusões. Mas qualquer um que tenha passado pela intensa experiência dos avanços bem sucedidos neste domínio, é movido por uma profunda reverência pela racionalidade que se manifesta na existência. Por meio da compreensão ele alcança uma emancipação de longo alcance das algemas das esperanças e desejos pessoais e, dessa forma, atinge a humilde atitude mental com respeito à grandeza da razão encarnada na existência e que, em suas maiores profundiades, é inacessível ao homem. Esta atitude me parece, entretanto, ser religiosa, no mais alto sentido da palavra. E, assim, me parece que a ciência não só purifica o impulso religioso do ranço de seu antropomorfismo, mas também contribui para uma espiritualização religiosa de nosso entendimento da vida.
Quanto mais a humanidade avançar espiritualmente, mais certo me parece que o caminho para a genuína religiosidade não reside no medo da vida e no medo da morte, e na fé cega, mas na perseguição do conhecimento racional. Neste sentido, eu acredito que o padre deve se tornar um professor, se ele quiser fazer justiça a sua elevada missão educacional.
Traduzido e divulgado sem a adequada permissão de “Science and Religion” in The Conference on Science, Philosophy and Religion © Jewish Theological Seminary, 1941.

Repercussões internacionais do referendo

Salve, Pessoal! Começam a aparecer as primeiras repercussões, dignas de nota, na imprensa internacional, sobre a vitória do “não” (hurra!) no referendo de domingo passado. Eu vou publicar, primeiro, os artigos do Le Monde e do Le Figaro. As notícias do Times de Londres (do sábado, 22 de outubro) e do New York Times e Washington Post (geradas em Buenos Aires), não merecem tradução.

Os brasileiros rejeitam massivamente a interdição das armas de fogo
LEMONDE.FR | 24.10.05 | 08h57 • Atualizado em 24.10.05 | 09h01
Os brasileiros se manifestaram, por ocasião de um referendo no domingo, contra a proibição da venda de armas de fogo, com uma grande maioria estimando que esta medida seria ineficaz para por fim à violência da qual sofre o país. Mais de 64% dos votantes responderam “não”, segundo os resultados preliminares de cerca de 75% dos votos.
O Brasil ocupa a segunda posição no mundo em mortes por tiros, com o macabro registro de 36.000 mortos em 2004. “Nós não perdemos porque os brasileiros gostem de armas. Nós perdemos porque as pessoas não têm confiança no governo e na polícia”, reagiu Denis Mizne, do grupo “Sou da Paz” que milita contra a violência.
“EU VI CRIANÇAS FERIDAS POR BALAS”
No decurso dos debates que precederam o referendo, diversas pessoas disseram que temiam que uma proibição as deixasse à mercê dos delinqüentes fortemente armados. “Esse referendo (…) não vai acabar com a violência”. predisse, ao votar contra a proibição, Assis Augusto Pires, 60 anos, que mora em um bairro cercado e protegido do Jardim Paulistano. Carlos Eduardo Ferreira, eletricista de 40 anos que mora na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, teatro de uma sangrenta guerra entre quadrilhas, não concorda com essa opinião. “Eu sou favorável à proibição, eu sou pela vida. Eu já vi meninos feridos por balas”, explica ele.
Antes do começo da campanha pelo rádio e televisão sobre o referendo, o “sim” apresentava 76% das intenções de voto. Mas, depois do lançamento da campanha, em 1° de outubro, a tendência se inverteu rapidamente. Os grupos favoráveis à proibição acusaram os fabricantes de armas e as associações em favor do porte de armas – tais como a “National Rifle Association” (nota do tradutor: associação americana que defende o porte irrestrito de armas de fogo, de todos os calibres) que acompanhou de perto a votação – de financiar uma grande campanha defendendo a livre circulação de armas e de jogar com os medos da população.
“Eu penso que, para o comum dos mortais, ter uma arma à mão não é uma garantia de segurança. Por isso eu votei ‘sim'”, declarou o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, ao votar. Enquanto isso, os partidários do “sim” reconheceram que a proibição do comércio das armas não seria o suficiente para contolar o problema da violência e que um aumento dos recursos para a segurança pública é necessário. Antonio Rangel, dirigente da “Viva Rio”, uma ONG de ponta na campanha pelo “sim”, reconheceu a concordância dos pontos de vista com os partidários do “não” acerca da insuficiencia da ação pública contra a violência.

Le Figaro

Os brasileiros querem manter suas armas
Brasil – Dois terços dos eleitores respondem “não” ao referendo, realizado no domingo, sobre a proibição da venda de armas.
L. 0.
[25 de outubro de 2005]
DESDE O ANÚNCIO dos resultados, os militantes da ONG “Sou da Paz” (segue-se, no original, a tradução literal do título da ONG) se desmancharam em lágrimas. Há dois meses, as pesquisas lhes prometiam que uma imensa maioria (80%) dos 122 milhões de eleitores brasileiros sustentaria a proposta do referendo de proibir a venda de armas e munições. Não aconteceu nada disso: no domingo, dois terços da população se pronunciaram contra esse projeto de Lei (sic), não obstante o apoio governamental.
“Foi uma coça, nós perdemos em todos os estados do país e, mesmo entre as mulheres, que são tradicionalmente contrárias à circulação das armas”, resumiu Ignacio Cano, professor especilista em questões de segurança na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
A Igreja, as ONG e o Ministro da Justiça acharam suficiente repetir que esta proibição seria um primeiro passo para limitar o número de mortes provocadas pelas armas de fogo – mais de 36.000 no ano passado, 550.000 entre 1979 e 2003 – e, progressivamente, foram perdendo o apoio da sociedade.
O pendão da auto-defesa.
Os partidários do “não” no referendo, financiados pela indústria de armamentos, uma das maiores do mundo (sic), explorou, com sucesso, o pendão da auto-defesa. Com tal Lei (sic), o governo não iria impedir os criminosos de se armarem ilegalmente, mas abandonaria o cidadão a sua triste sorte, sem possibilidade de se proteger. “Uma idéia absurda, porque a maioria das armas compradas pelos cidadãos comuns acaba nas mãos dos criminosos”, sublinha Ignacio Cano. Não obstante, o argumento pegou “na mosca”, enfatizando a exasperação e o desengano dos brasileiros em face dos problemas da segurança pública. “Este ‘não’ é um voto de censura a toda a classe política, incapaz de encontrar a menor solução para a violência”, prossegue Ignacio Cano, lamentando a ausência de engajamento de políticos de envergadura.
O Presidente Luiz Inacio Lula da Silva certamente insistiu, no domingo, sobre a necessidade de limitar a venda de armas, mas, receoso de sofrer as conseqüências políticas desse “cheque-mate”, apressou-se a relembrar que “o povo é soberano”. No seio de um governo envenenado (no original, “tétanisé”), somente o Ministro da Justiça, desconhecido do grande público, trabalhou como o bom diabo para a causa do “sim”. A principal organização de oposição, o Partido Social Democrata (PSDB), teóricamente a favor do “sim”, igualmente brilhou por sua ausência no debate. A começar por José Serra, o Prefeito de São Paulo, o provável adversário de Lula na eleição presidencial de outubro de 2006.
Repercussões nos Estados Unidos
O resultado deste referendo, inédito no mundo, se arrisca a ter conseqüências bém além das fronteiras do Brasil. “Esta reversão de opinião em algumas semanas é uma grande decepção”, diz, desolado, Benoît Muracciole, encarregado da Campanha Mundial em favor do desarmamento da Amnesty International. A ONG contava muito com um resultado positivo em um país americano. “Os fabricantes de armas vão se sentir “de barriga cheia” (no original, “requinqués”), em particular nos Estados Unidos”, acrescenta ele. No Congresso Americano, esses lobbies estão dando os últimos polimentos em seu último projeto de Lei: proibir aos parentes das vítimas de armas de fogo de processar os comerciantes de armas.

O curioso é que ambos os jornais franceses, pelo tom das notícias, pareciam estar torcendo veladamente pelo “sim” (observe-se que o jornalista do Le Figaro só cita as lamúrias dos derrotados e o sugestivo subtítulo, no meio da matéria, publicada no Le Monde). Considerando que as submetralhadoras francesas são as armas mais usadas no submundo europeu e que o país também tem uma importante indústria de armamento, como essas lágrimas parecem ser “de crocodilo”!
Aliás, o tom dos artigos do London Times (faça-me o favor! A Inglaterra, pacifista!?) e dos jornais americanos (bem mais comedidos: lá o lobby da indústria de armamentos é bastante poderoso para processar um jornal), é igualmente reprovativo… “Selvagens armados? Claro que não!…”
Que fique bem clara a minha posição sobre o assunto!
Eu não sou a favor da posse e muito menos do porte indiscriminado de armas, tal como era antes do Estatuto do Desarmamento. Pelo contrário, eu acho que a posse e o porte de armas têm que ser severamente vigiados. O que não acarreta que a comercialização legal de armas de fogo deva ser proibida. Eu só lamento que pessoas bem intencionadas, como, sem dúvida, o são o pessoal do “Viva Rio” e do “Sou da Paz” dê tanta importância a desarmar todos os cidadãos, usando um non-sequitur tão primário como “eu não gosto, portanto você não pode”.
Desde os 19 anos as armas de fogo passaram a fazer parte de meu dia-a-dia. E eu também já vi os funestos resultados do uso descuidado e irresponsável de armas de fogo (é!… isso acontece dentro dos quartéis, também!…). O mesmo se pode dizer de remédios, substâncias para limpeza doméstica, automóveis… até mesmo de telefones e da Internet.
Mas, como já diziam os romanos: Abusus non tolit usus.

Isso é mentira!

Salve, Pessoal! Mais uma tradução de artigo do Times de Londres (vou fingir que não ouvi o engraçadinho aí atrás dizer: mais uma!…). O artigo original é Liars, cheats? Join the club.

The Times 20 de outubro de 2005
Mentrosos, trapaceiros? Junte-se ao Clube
por Camilla Cavendish
Agora que se tornou aceitável dissimular à menor oportunidade, nós todos devemos ajudar a inverter essa maré.
EM UMA RECENTE manhã, no cafezinho da escola, uma mãe amiga fez uma pergunta espantosa. “Será que eu estou errada em ensinar meus filhos a serem honestos?”, foi o que ela perguntou. “Será que eu estou impedindo eles de abrirem seus caminhos no mundo?” Isto foi chocante. Será que nós nos tornamos, atualmente, tão mais mendazes que a dissimulação deveria passar a ser uma habilidade vital no currículo?
Essa mulher não era uma pobre coitada. Ela teve uma carreira de sucesso nos negócios. Ela tem visto como as pessoas contam pequenas mentiras e como outras, cada vez mais, aceitam-nas pelo valor de face. Ela uma vez monitorou o balcão de devoluções e reembolsos de um supermercado. As pessoas pediam reembolso, sem qualquer comprovante, por mercadorias que o mercado não tinha em estoque há algum tempo. Mas os funcionários freqüentemente pagavam. Eles não queriam confusão. Eles presumiam que as pessoas são desonestas e não pareciam se preocupar com isso.
Quando foi que nós começamos a esperar que as pessoas mintam? Nós passamos por um ponto sem retorno, para um mundo que é cheio de dissimuladores profissionais. “Marqueteiros”, pessoal de relações públicas, advogados, alguns “promotores de campanhas” e um, sempre mutante, elenco de “operadores de serviços de atendimento ao consumidor” que prometem ligar em retorno, prometem apagar aquele débito na sua conta, mas, na verdade, apagam todos os registros de sua conversa, de forma que, na próxima vez, você será tratado como o principal suspeito, em um jogo surrealista de gato e rato, no qual, subitamente, tudo é culpa sua. Mentir virou uma indústria em crescimento, na qual freqüentemente parece mais importante jogar a culpa, complicar e confundir do que simplesmente consertar a maldita conexão de banda larga.
Nosso cinismo tem conseqüências peculiares. A largamente difundida presunção de que políticos são mentirosos, faz com que alguns jornalistas imaginem “estórias de cobertura”, ao ponto de inventá-las, ao passo que assumem um ar blasé quando as verdadeiras mentiras são reveladas. Os tablóides sensacionalistas estavam tão desesperados por notícias escabrosas (para aumentar sua tiragem) sobre David Cameron, neste fim de semana, que eles publicaram uma foto, que eles tinham há pelo menos cinco meses, mas não usaram, porque sabiam que a “estória” era mais fraca do que macarrão molhado.
A foto dos tempos de estudante de George Osborne, Membro do Parlamento, em situação comprometedora, meramente fê-lo parecer quadrado demais para estar tramando algo escuso. O Sr. Osborne foi devidamente exposto – mas somente como um homem que tentou salvar um amigo das drogas e de de uma mulher que, claramente, achou editores tão ávidos quanto ela em exagerar a verdade.
O que poderíamos chamar de uma mentira Classe A, contada por Stephen Byers, o antigo Secretário de Transportes, gerou menos indignação. Levado aos tribunais pelos acionistas da “Railtrack”, que acusam o Governo de roubá-los, forçando a falência da companhia, o Sr. Byers admitiu que ele disse “inverdades” aos Membros do Parlamento, quanto à data em que ele começou a desenhar seus planos para falir a “Railtrack” e se tornar o Grande Patrão. Mas será que há algum jornalista querendo investigar qual foi a substância perturbadora da mente que fez o Sr. Byers perder a noção do tempo?
Mais fascinante é a nova definição de verdade e mentira que o Sr, Juiz Lindsay nos deu, achando na Alta Corte, na sexta-feira, que o Sr. Byers não era um “comprovado mentiroso”, a despeito dele ter admitido que mentiu para o Parlamento. “Ele aceitou para mim que ele disse uma inverdade. Mas isso, por si só, não o rotula como mentiroso, se definirmos como “mentiroso” uma pessoa que diz uma inverdade, sabendo que ela é uma inverdade, ou sendo leviano quando a sua veracidade ou inveracidade. Se ele é ou não um “mentiroso” nesta acepção, não é problema meu; eu devo deixar essa decisão para a Câmara dos Comuns”. Então, a Comissão de Padrões e Privilégios torna-se o árbitro final sobre a verdade; e os parlamentares podem aceitar uma visão edulcorada da declaração do Sr. Byers, nesta semana, na qual ele se desculpou pelo que ele rebaixou a um “ato falho”.
É da natureza humana fazer distinções bem sutís entre diferentes matizes de desonestidade, Existe uma hierarquia de mentiras, de “mentirinhas” para cima. O problema é que “mentira mesmo” é, geralmente, vista como uma coisa que outras pessoas fazem: a Enron, ou o Programa “Petróleo-por-comida” da ONU, ou Jaques Chirac, que prometeu 100 libras por dia para frutas e legumes. Existe uma categoria mental, totalmente diferente, para você não pagar suas dívidas, tirar um dia para ficar na cama, ou contestar aquela multa de trânsito, porque você acha que tem uma chance razoável de se livrar dela. Estas coisas ainda parcem um pouco desonestas para a maioria de nós. Mas a honestidade não está começando a parecer “fora-de-moda”, um pouco ingênua mesmo, quando todo o mundo “está levando vantagem”? Um ponto de vista bem difundido, mas um que é seriamente corrrosivo.
Uma pesquisa, realizada neste ano, mostrou que um em cada quatro estudantes britânicos adimite que “copia e cola” material da internet e apresenta como original seu. Tão chocante como a mentira é a honestidade brutal dos estudantes acerca do fato. Quase um em cada cinco disse encarar o plágio como uma prática aceitável. No entanto, as universidades ficam estranhamente embaraçadas em adotar uma linha moralizante contra a desonestidade. Na mesma Grã-Bretanha onde “grupos de pressão para a cortesia” tentam restaurar os “bons modos”, também há um Serviço de Assessoramento para Plágios que se empenha em “identificar exemplos dos melhores desempenhos”. Por que não dizer que plágio é errado e parar de inventar desculpas polidas?
A verdade é que, talvez, nós não valorizemos mais a honestidade como fazíamos, mas ainda valorizamos a aparência de honestidade. Nós traçamos uma distinção grande demais entre corrupção, que ainda provoca uma indignada tomada de fôlego, e a desonestidade que, mais e mais, parecemos encarar como algo natural, conquanto possamos nos livrar das conseqüências. As empresas estão contratando psicólogos e assessores de recrutamento para investigar os Curricula Vitae que não são mais confiáveis. E o fato de que as pessoas admitem mais prontamente suas desonestidades, é um sinal seguro de sua degradação moral.
Não é inevitável que um flerte com inverdades Classe C, venha a tentar os potoqueiros a contar mentiras Classe A. Mas ser complascente com a desonestidade, como as universidades e os empregados do supermercado parecem fazer, pode alimentar, seguramente, a impressão de que todo o mundo “está levando vantagem”. A Universidade de Virgínia achou falsidades em um quinto de todas as conversas de dez minutos, que aumentam para um terço entre os estudantes graduados. Se a educação está dando às pessoas confiança em tapear os outros, teremos que trabalhar especialmente duro para manter nossos filhos honestos.

Resta mais algo a dizer?…

Três artigos do The Sunday Times

Salve, Pessoal! Uma rápida vista no The Sunday Times (on line) de Londres, e três artigos de capa me chamaram a atenção. Eu não vou passar uma tradução completa dos três, primeiro porque são muito extensos, segundo porque eu dou os links (quem quizer conferir, vá lá e leia…)
O primeiro traz o auspicioso título “Chefe da Polícia Metropolitana: Eu posso ser forçado a pedir demissão” (Met boss: I may be forced to quit), escrito por Robert Winnett and David Leppard. Começa assim:

SIR IAN BLAIR, o Comissário da Polícia Metropolitana, admitiu que ele pode ser brevemente forçado a pedir demissão, por conta do caso do assassinato de um brasileiro inocente no Metrô de Londres.
O mais alto policial da Grã-Bretanha declarou, a uma reunião privada de líderes de negócios e altos funcionários que ele terá que ir embora “muito breve” por causa da morte de Jean Charles de Menezes.
Descrevendo a pressão que está sofrendo por causa da malfadada operação, ele disse: “Onde a demissão termina? É claro, ela pode terminar muito em breve”
Ele acrescentou: “Eu prefiro renunciar do que ser demitido”.
[….]
Oficiais do alto escalão da polícia disseram que o inquérito sobre a operação revelará um “conto de terror”, quando for completado antes do Natal. Uma dessas fontes internas disse: “Ele (Blair) ficou obviamente prejudicado. Sua auto-confiança ficou prejudicada. Vocês podem ver que ele parece visivelmente mais velho”.
Blair explicou, na reunião, que sua atuação pessoal no caso estava sendo agora investigada pela Comissão Independente de Queixas da Polícia (IPCC). Blair tentou bloquear uma investigação imediata da IPCC do tiroteio na estação de metrô de Stockwell.
Em uma carta enviada ao Home Office (nota do tradutor: O ministério Inglês da Justiça), escrita poucas horas depois do tiroteio, ele dizia que ele deveria ter o poder de suspender as investigações por questões de segurança nacional. Ele foi derrotado (no original: “overruled) por Sir John Gieve, o principal funcionário do Home Office.
[….]
Ao menos 10 oficiais envolvidos no tiroteio devem ter recebido notificações disciplinares da polícia. Inclusive os agentes especiais (no original: “marksmen”) do CO19, que dispararam 11 tiros em Menezes depois que ele embarcou em um trem em Stockwell. Oficiais superiores, até o grau de Comissário Assistente podem enfrentar acusações de assassinato.
[….]
À medida em que a IPCC examina se Blair realizou declarações falsas ao público, fica claro que alguns de seus oficiais mais graduados estavam cientes, na metade da tarde de 22 de julho, que Menezes era inocente. Um Oficial Superior disse ao Sunday Times que Blair estava em uma posição que lhe permitia saber aquilo que seus oficiais já tinham descoberto.
Outra fonte interior disse: “Sérias dúvidas acerca de se eles tinham atirado no homem certo, apareceram logo após o incidente. Tudo o que eles tinham a fazer era olhar os documentos de identidade na carteira dele para ver que ele não era um terrorista”.
O Comissário também deve encontrar dificuldades em justificar sua decisão de ativar a Operação Kratos, o “procedimento padrão” secreto que autoriza os “peritos” da polícia a atirar na cabeça dos suspeitos de serem “homens-bomba”.
Essa política foi estabelecida por um comitê especial sobre terrorismo da Associação de Chefes de Polícia em 2003. Muitos dos Chefes, entretanto, estão preocupados com a base legal para tal política.
Blair continua a defender esse “procedimento padrão” em público, mas vários outros Chefes de Polícia se afastaram dessa política e diversas forças planejam jamais utilizá-la.
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O segundo artigo tem o seguinte título: Oficial da RAF enfrenta a prisão por ser contra a “Guerra Ilegal” (RAF officer faces jail over ‘illegal war’). Artigo de David Leppard. O início do artigo diz assim:

Um oficial da RAF pode ser preso por se recusar a servir no Iraque, porque ele acredita que a guerra lá foi ilegal.
O Flight-Lieutenant (Primeiro-Tenente) Malcolm Kendall-Smith deve ser submetido à Corte Marcial por “se recusar a cumprir uma ordem legal”, após dizer a seu Comandante que ele não iria para Basra.
Ele é o primeiro oficial britânico a enfrentar acusações criminais por desafiar a legalidade da guerra.
Kendall-Smith, 37, oficial médico da unidade da RAF de Kinloss em Morayshire, foi condecorado por sua atuação no apoio às operações militares no Afeganistão e por duas passagens prévias no Iraque.
Entretanto, após estudar os aspectos legais, inclusive a orientação do Lord Goldsmith, o Advogado-Geral, ele decidiu, este ano, que a guerra era ilegal e, portanto, seria errado que ele retornasse.
[…]
O principal argumento da defesa de Kendall-Smith vai ser o manual da RAF que declara que um oficial, em serviço, pode se recusar a obedecer a uma ordem, se esta for ilegal. Seus advogados também argumentam que sua comissão, concedida pela Rainha, o obriga a agir de acordo com “as regras e disciplina de guerra”.
[…]

O terceiro artigo é mais uma crítica aos costumes britânicos. Se intitula Densas núvens de hipocrisia induzida pelas drogas (Dense clouds of drug-induced hypocrisy). Artigo de Minette Marrin.

“Não conhecemos outro espetáculo tão ridículo”, diz uma citação famosa de Lord Macaulay, “quanto o público britânico em um de seus periódicos ataques de moralismo”. Parece que estamos no meio de um particularmente absurdo agora mesmo. Embora existam muitas questões de grande importância na vida pública em geral e mesmo algumas poucas na luta pela liderança entre os Conservadores, a obsessão da mídia é a tentativa de forçar David Cameron a fazer algum tipo de confissão sobre o uso de drogas. É ridículo e vergonhoso.
Cameron já disse o bastante sobre isso para satisfazer qualquer um com um devido interesse em seu passado e tanto quanto se podia esperar de qualquer figura pública, no entanto tem sido assediado por dias. Questionado, mais uma vez, no programa “Question Time” da BBC1, ele admitiu que, como muitas pessoas, ele fez coisas em sua juventude que não deveria ter feito.
“Eu me permito ter tido uma vida privada, antes de entrar para a política, na qual cometemos erros e fazemos coisas que não devíamos”, disse ele. E prosseguiu, fazendo uma distinção perfeitamente razoável entre sua vida, antes da política e suas atuais responsabilidades. Para qualquer pessoa com a mente não deturpada, isso deveria ser tudo. Fica bem claro o que ele quer dizer.
Insistir em querer que ele diga mais – e eu fico impressionada com a quantidade de pessoas que se dizem liberais e libertárias que reclamam, aos gritos, que ele deveria – é por si só desonestidade. De fato, o que estamos vendo não é tanto um ataque periódico de moralismo, quanto é um, mais comum ainda, ataque de periódico de hipocrisia.
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O uso recreativo de drogas não é, em si próprio, uma matéria de moral. Isso sempre foi um dos maiores prazeres e grandes consolações da espécie humana, encontrado em todas as civilizações. Várias drogas “recreativas” são legais na Grã-Bretanha, a despeito de seus riscos reais.
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Sempre me pareceu que aqueles que se viciam, são impelidos a isso por outros problemas – alguns por suas personalidades dependentes, outros pela pobreza de suas vidas ou expectativas. Uma das grandes injustiças dessa vida que as pessoas mais inclinadas a se meterem em sérios problemas com drogas, são aquelas que já estão com algum outro problema sério e que a lei não parece preocupada em protegê-los.
Por isso é que eu, há vários anos, venho sendo firmemente a favor de descriminalizar as drogas. Eu penso que, a despeito dos altos riscos envolvidos – possivelmente, para alguns – isso poria fim ao tráfico [ilegal] de drogas, ao vício-apoiando-o-crime, a drogas contaminadas e ao vasto império do mal do tráfico ilegal de narcóticos.
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Comentando rapidamente essas três matérias (auto-explicativas, a meu ver…). A primeira, sobre o infame Chefe da Scotland Yard, mostra que em alguns lugares do mundo o comportamento criminoso das autoridades não acaba, necessariamente, em “pizza”. Mas também mostra que os “poderosos” são iguais, seja em Uganda, seja na Grã-Bretanha: querem todo o poder (inclusive o que a Lei não lhes confere) e não aceitam a responsabilidade por suas cagadas…
O segundo é uma outra faceta da mesma imbecilidade criminosa do governo britânico. O Tenente Kendall-Smith leva grandes chances de criar uma camisa de onze varas para o outro infame Blair. Mesmo que a Corte Marcial decida pela culpabilidade do Tenente, ele pode recorrer à Justiça Real e, como já foi dito, a posição do Advogado-Geral é de que a guerra do Iraque é ilegal, por ser baseada em mentiras comprovadas.
O terceiro, apesar de ser apenas um comentário sobre a disputa pela liderança do Partido Conservador, põe a nú toda a hipocrisia vitoriana dos britânicos e – já que eu estou falando nisso – de toda a subcultura WASP americana, na qual se apoia a camarilha do W. Bush.
Mas o mais importante é ver essas três matérias publicadas em uma mesma edição do The Sunday Times. É notável o quanto uma imprensa realmente independente pode esclarecer os cidadãos e mostrar que “o rei está nú”.
Bem diferente de um certo país da América do Sul, onde a imprensa que adora se fazer de “independente”, desavergonhadamente manipula a informação, para tentar conduzir a opinião pública na direção da “opinião que se publica”, com apelações ridículas e estatísticas distorcidas.
O caso Jean Charles de Menezes, parece estar caminhando para uma punição exemplar das “otoridades” da Scotland Yard. Já o caso Celso Daniel…

Mudei de idéia…

Este texto apareceu na Comunidade “Questões Militares – Brasil” do Orkut. Como o autor do post diz tê-lo recebido por email, eu vou, sem-vergonhamente, reproduzí-lo aqui:
MUDEI DE IDÉIA!!!! AGORA É SIM!!!
Antes, eu tinha certeza de que ia votar no NÃO e ninguém ia me convencer do contrário. Mas o tempo foi passando, entrei nas comunidades do SIM e do NAO no Orkut, ouvi propagandas no rádio e na TV e os argumentos do SIM me convenceram. Vou votar SIM. Sabe por que? Vou dar 18 motivos:
1. Descobri que a chance de se sair bem ao reagir a um assalto é de uma em 288.345.774.324.500. As estatísticas provam que nos outros 288.345.774.324.499 casos, a vítima que reagiu morreu.
2. Descobri que a arma legal alimenta os bandidos. Todas aquelas AR-15, AK-47, granadas e bazucas que os traficantes do Rio usam foram roubadas de cidadãos honestos que compraram as armas legalmente. Da minha casa mesmo, por exemplo: Ano passado me roubaram quatro mísseis STINGER.
3. Descobri que todos os pais que têm arma de fogo costumam deixá-las carregada e engatilhada em cima do sofá da sala. Por isso que 94 milhões de crianças brasileiras morrem brincando com armas de fogo todos os anos.
4. Descobri que todos os assaltantes de casa têm superpoderes. Eles atravessam portas e paredes e se materializam imediatamente na sua frente e apontam uma arma para a sua cabeça enquanto você ainda está deitado, tornando impossível qualquer reação. Eles não perdem tempo e não fazem barulho arrombando portas.
5. Descobri que se eu vir ou ouvir algum bandido pulando a cerca e entrando no meu quintal, eu não vou conseguir afugentá-lo com um tiro para cima ou para o chão. Se ele ouvir o tiro, aí sim, é que ele vai ficar excitado e vai querer de toda forma entrar em casa e trocar tiros comigo. Eles adoram fazer isso.
6. Descobri que se o NAO ganhar, as armas de fogo vão imediatamente ficar 90% mais baratas e vai acabar a burocracia para a compra de uma. No dia seguinte à vitória do NÃO, qualquer pessoa (bandido ou não) vai poder ir numa loja de armas, comprar uma 45 e oito caixas de munição, já vai sair armado e vai para o bar mais próximo para arrumar briga e me matar.
7. Descobri que delegados e policiais civis, militares e federais – que são em quase totalidade favoráveis ao NÃO – não entendem N-A-D-A de violência e criminalidade. Quem manja mesmo do assunto são atores, sociólogos e dirigentes de ONGs internacionais.
8. Descobri que estrangeiros que lideram ONGs como a Viva-Rio têm muita experiência no assunto. Afinal, todo mundo sabe que a situação social, econômica e de criminalidade da França, Inglaterra e Estados Unidos (que é de onde eles vêm) é IGUALZINHA à realidade do Brasil. Não tenho a menor dúvida de que as teorias que eles têm vão funcionar direitinho aqui.
9. Descobri que 90% dos casos de homicídios são cometidos pelos chamados cidadãos de bem. Claro que isso é só dos homicídios ESCLARECIDOS, que são menos de 5% dos casos. Mas pela lógica, os outros 95% dos homicídios, que não são esclarecidos, também deve ser causados pelos cidadãos de bem.
10. Descobri que o governo quer que a gente vote sim. E o governo sempre pensa no nosso bem. Afinal, todo mundo sabe que a qualidade da saúde pública, ensino público, segurança pública, e etc vêm melhorando cada vez mais, dia a dia.
11. Descobri que se o SIM ganhar, não vão mais acontecer mortes banais. Maridos ciumentos só vão agredir as mulheres com travesseiros, torcidas organizadas vão se dar às mãos, facas e canivetes vão perder o fio, tijolos e paus vão ficar macios e os pitboys vão todos se converter ao budismo.
12. Descobri que até agora, o desarmamento voluntário já deu resultados. É claro que a queda nos atendimentos dos postos do SUS em São Paulo nos últimos 12 meses foi devido à diminuição do número de armas, e não devido a maiores investimentos em segurança e educação.
13. Descobri que o jovem é a principal vítima da arma de fogo. Claro que isso não tem nada a ver com o fato de o jovem ser o maior usuário de drogas, e nem o fato de que quase 100% dos envolvidos no tráfico de drogas têm menos de 30 anos (porque morrem ou são presos antes). Isso é só coincidência.
14. Descobri que todo mundo que tem arma de fogo é um suicida em potencial. E a única causa do suicídio é a arma de fogo, e não a falta de perspectivas, falta de um ideal, falta de um sonho a buscar ou então distúrbios mentais como a depressão.
15. Descobri que se algum bandido invadir a minha casa, basta-me ligar para o 190. A polícia sempre tem homens e viaturas sobrando e levará menos de 3 minutos para me atender.
16. Caso isso não aconteça, basta-me fazer o sinalzinho do “sou da paz” com as mãos e o ladrão vai saber que eu sou um sujeito legal, e então ele vai embora em paz sem levar nada e sem violência nenhuma. Eles sempre agem assim quando descobrem que você é da paz, e não um daqueles psicopatas malvados que são a favor do NÃO.
17. Caso o ladrão seja muito, mas muito malvadão, eu só preciso gritar por socorro. Em cinco segundos vão aparecer a Fernanda Montenegro, a Maitê Proença e o Felipe Dylon para me salvar e prender o bandido. Sem usar armas.
18. Se o SIM ganhar, o Brasil vai ser um país mais feliz. Que nem na novela das oito.

Sabe qual é o problema com os imbecís?

É que eles não se acham imbecís! E eu não estou falando dos “corações de galinha” que vão votar “sim” no referendo porque têm “medinho” de arma de fogo. A coisa é muito mais séria.
Quando a imbecilidade se une à ganância, você ve coisas como uma matéria de seis páginas (de internet) na edição on line do New York Times (aqui — eu não vou me dar ao trabalho de traduzir seis páginas de sandices) falando das benesses da redução da Calota Polar Ártica. Vai facilitar a navegação do Ártico, trazer movimento para os portos da região e, o mais importante na cabeça desses consumistas de merda, os americanos: petróleo! Vai ser possível montar plataformas para exploração do petróleo ártico!
Puta que pariu! Tadinho do capeta: vai ter que arrumar um lugarzinho pior no inferno para acomodar esses infelizes que sabem que estão fudendo tudo para as próximas gerações, mas estão cagando e andando!
E eu aqui, me preocupando com o direito do brasileiro ter ou não uma arma de fogo… Não faz a menor diferença: tanto faz morrer assassinado por um bandido, como morrer afogado, quando o nível dos Oceanos subir e Araruama for riscada do mapa… (quem foi o engraçadinho aí atrás que gritou que “merda boia!”?)
É nessas horas em que a gente desanima da humanidade, da ciência e da religião… A primeira não presta, a segunda não sabe e a terceira não resolve…
Deus deve adorar os imbecís: fez um monte deles!…

P.S: por falar em imbecís, eu fui obrigado a botar aquele infeliz campo, onde você tem que digitar aquelas letrinhas tronxas que aparecem em um quadrinho, por causa dos imbecís que mandam spam disfarçado de comentário! Quosque tandem abutere patientia nostra?…

Acidificação dos Oceanos e diminuição das calotas polares

Salve, Pessoal! Mais uma notícia, desta vez do Le Monde, dando conta das lambanças climáticas. La vai:

A acidificação dos oceanos ameaça a cadeia alimentar do Oceano Austral LE MONDE | 01.10.05 | 14h20 • Atualizado em 01.10.05 | 14h20
A acidificação dos oceanos vai desestabilizar, de hoje a 2030-2050, os ecossistemas marinhos? Sem dúvida, se acreditarmos em um estudo internacional publicado na quinta-feira 29 de setembro na revista “Nature” e realizado por uma dezena de laboratórios alemães, americanos ou, ainda, franceses. Segundo eles, o crescimento da taxa de dióxido de carbono na atmosfera vai provocar, em um prazo mais ou menos breve, uma acidificação dos mares tal que certos organismos com esqueletos externos não poderão nele subsistir. No decurso do século XX, o pH médio dos oceanos despencou de 0,1 unidade. Esta tendência vai se acelerar no decorrer do século XXI e é prevista uma baixa do pH de 0,3 a 0,4 unidades de hoje até 2100.
“Em função de diferentes cenários de desenvolvimento”, explica Patrick Monfray, co-autor dessa publicação e pesquisador no Laboratório de Geofísica e Oceanografia Espaciais (CNRS, IRD, CNES e Universidade de Toulouse-III), “nós demonstramos que a acidez dos oceanos vai crescer até o ponto em que, nas altas latitudes polares, certos organismos dotados de conchas calcárias, vão estar em uma água tão ácida que ela será capaz de dissolver suas carapaças”. Se as emissões de CO2 não forem dominadas (cenário chamado “Business as usual”=”Negócios como os usuais”), esse pónto será atingido cerca de 2030, estima o Sr. Monfray. Se, ao contrário, a concentração de gás carbônico se estabilizar em 650 ppm (partes por milhão), chega-se a ele em torno de 2050.
Os organismos cujas conchas são formados de calcita não deverão ser os primeiros a serem afetados. Em contrapartida, aqueles com o esqueleto externo constituído de aragonita (CaCO3 ou carbonato de cálcio) estão particularmente ameaçados.
É notadamente o caso dos moluscos planctônicos chamados pterópodes. Ora, esses organismos se revestem de uma importância particular. “Eles formam um elo importante da cadeia alimentar do Oceano Austral”, explica Patrick Onfray. “Potencialmente, isso pode gerar fenômenos em cascata em grande escala”, que afetarão uma grande faixa de espécies (cetáceos, salmôes, etc.).
Estes fatos são ainda mais preocupantes já que, perdurando a tendência atual, o fenômeno vai atingir, em torno de 2100, não somente as altas latitudes, mas, igualmente, as zonas mais meridionais como o Pacífico Norte. A publicação destes trabalhos vem de encontro àquilo que diversas pesquisas recentemente puseram em evidência: importantes modificações na repartição da fauna planctônica.
ENXUGAR OS EXCESSOS
No Atlântico Norte, por exemplo, certos planctons migram para o norte, sob o efeito do reaquecimento das águas da superfície (ver matéria do Le Monde de 20 de setembro de 2004). Entre uma acidez crescente ao Norte e o aumento da temperatura mais ao Sul, a dinâmica dessas espécies será realmente profundamente perturbada a curto prazo.
Os recifes de coral – nichos de uma abundante biodiversidade – poderão sofrer também com a acidificação dos mares, acrescentam os pesquisadores. Ainda assim, este ponto continua em discussão. Um estudo controvertido, publicado em dezembro de 2004 na revista “Geophysical Research Letters”, concluía que os corais poderiam, ao contrário, se benefeiciar do aquecimento. Com efeito, se a baixa do pH tende a reduzir o conteúdo de aragonita na água do mar (e, portanto, desacelerar os fenômenos de calcificação) o aumento da temperatura da água contrabalancearia esta tendência.
Mesmo se estas discussões permaneçam na comunidade científica, a acidificação dos oceanos é objeto de inquietudes crescentes. Porque ela conduz, por outro lado, à redução da capacidade dos oceanos em absorver o CO2 produzido pela atividade humana. Quanto mais o oceano ficar ácido, menos será capaz de enxugar os excessos produzidos pelo homem.
Em suma, explica o Sr. Onfray, este é um caso de “realimentação positiva”, Ou seja, este efeito tampão do oceano não pode ser negligenciado porque as águas da superfície absorvem mais de um terço dos rejeitos de gás carbônico engendrados pela queima de combustíveis fósseis.
Stéphane Foucart
(Quadro anexo ao artigo)
Forte redução da calota glacial ártica
A calota glacial ártica ficou fortemente reduzida este ano e isso pelo quarto verão consecutivo, indicaram na quarta-feira 28 de setembro os cientistas americanos. Este fenômeno, atribuído ao aquecimento do clima vai, provavelmente, se acelerar. “Dado o baixo nível recorde dos gelos este ano, no fim de setembro, 2005 vai, praticamente com certeza, ultrapassar 2002 em ter a mais fraca calota de gelo no Ártico em um século”, declarou Julienne Stroeve do Centro Americano de Dados sobre Neves e Gelo (NSIDC). “Neste rítmo, o Ártico não terá mais gelo, durante a estação do Verão, bem antes do fim deste século”, acrescentou ela. A zona gelada do Oceano Ártico fica normalmente reduzida a seu mínimo em setembro, no fim do verão. Em 21 de setembro de 2005 a banquisa não tinha mais do que 5,32 milhões de km2, ou seja, a mais tênue superfície jamais medida pelos satélites, precisaram os cientistas em um comunicado. Os “experts” do NSIDC calcularam que a calota glacial do Ártico vai se reduzir em 8% em média, a cada decênio. – (AFP.)
Artigo publicado na edição de 02.10.05

Quando será que os idiotas vão ver que estão pondo fogo na própria casa???

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