Como se cria um universo (versão digital)

EurekAlert

Pesquisadores modelam o nascimento do universo em uma das maiores simulações cosmológicas jamais processadas

DOE/ARGONNE NATIONAL LABORATORY

Os pesquisadores estão peneirando uma avalanche de dados produzidos por uma das maiores simulações cosmológicas jamais realizadas, liderada pelos cientistas do Laboratório Nacional Argonne do Departamento de Energia (DOE) do Governo dos EUA..

A simulação, processada no supercomputador Titan do Laboratório Nacional Oak Ridge do DOE,  modelou a evolução do universo desde apenas 50 milhões de anos após o Big Bang até os dias atuais – de sua primeira infância até sua atual maturidade. Durante o curso de 13,8 bilhões de anos, a matéria do universo se agregou, formando galáxias, estrelas e planetas, mas não sabemos exatamente como isso se deu

Este tipo de simulação auxilia os cientistas a compreender a energia escura, uma forma de energia que afeta a taxa de expansão do universo, inclusive a distribuição das galáxias, compostas por matéria comum e matéria escura, um tipo misterioso de matéria que nenhum instrumento foi capaz de medir até agora,

Levantamentos celestes Intensivos com poderosos telescópios, tais como o Sloan Digital Sky Survey e o novo Dark Energy Survey  mostram aos cientistas onde as galáxias e estrelas estavam quando sua luz foi inicialmente emitida. E os levantamentos da Radiação cósmica de fundo em micro-ondas (CMB, na sigla em inglês), a luz remanescente de quando o universo tinha apenas 300.000 anos de idade, nos mostra como o universo começou – “muito uniforme, com a matéria se agregando ao longo do tempo”, nas palavras de Katrin Heitmann, uma física do Argonne que liderou a simulação.

A simulação visa a preencher a lacuna temporal para mostrar como o universo deve ter evoluido nesse intervalo: “A gravidade atua sobre a matéria escura que começa a se aglomerar cada vez mais e, nesses aglomerados, se formam as galáxias”, diz Heitmann.

Chamada de “Q Continuum”, a simulação envolveu meio trilhão de partículas – dividindo o universo em cubos de 100.000 km de aresta. Isso a torna uma das maiores simulações cosmológicas em uma definição tão grande. Ela rodou usando mais de 90% da capacidade do supercomputador. Para dar uma ideia, normalmente menos de 1% dos trabalhos usam 90% da capacidade do suprcomputador Mira no Argonne, disseram os administradores da Argonne Leadership Computing Facility, do DOE  Pessoal de computação, tanto do Argonne, quanto do Oak Ridge, auxiliou a adaptar o programa para rodar no Titan.

“Esta é uma simulação muito detalhada”, afirma Heitmann. “Podemos usar esses dados para examinar por que as galáxias se aglomeram desta forma, assim como estudar a física fundamental da própria formação da estrutura”.

A análise dos dois e meio petabytes de dados gerados já começou e vai continuar por vários anos, diz ela. Os cientistas podem extrair dados de fenômenos astrofísicos tais como lentes gravitacionais fortes, lentes gravitacionais fracas, lentes de aglomerados e lentes galáxia-galáxia.

O programa para rodar a simulação é chamado de Hardware/Hybrid Accelerated Cosmology Code (HACC), inicialmente escrito em 2008, mais ou menos quando os supercomputadores científicos romperam a barreira do petaflop (um quatrilhão de operações por segundo). O HACC foi projetado com uma flexibilidade inerente que permite que ele rode em supercomputadores com diferentes arquiteturas

###

Os detalhes do trabalho estão contidos no estudo “The Q continuum simulation: harnessing the power of GPU accelerated supercomputers,” publcado em agosto em Astrophysical Journal Supplement Series pela American Astronomical Society. Os outros cientistas do Argonne neste estudo são Nicholas Frontiere, Salman Habib, Adrian Pope, Hal Finkel, Silvio Rizzi, Joe Insley e Suman Bhattacharya, além de Chris Sewell do Laboratório Nacional de Los Alamos (também do DOE).

 

Existe água líquida em Marte!… (e dai?…)

Animação que ilustra um sobrevoo das encostas da Cratera Hale, um dos lugares onde os rastros que parecem indicar a presença de água líquida em Marte, foram observados

A NASA anunciou hoje, com grande estardalhaço, ter encontrado fortes indícios da ocorrência de água no estado líquido no nosso vizinho de Sistema Solar, Marte. A imprensa, convocada desde a última sexta feira para uma coletiva onde se prometia algum tipo de “solução para um velho mistério sobre Marte”, já publicou com fanfarras esta notícia. Então, o que realmente podemos tirar de conclusões sobre a bombástica “descoberta” da NASA?

A primeira coisa a considerar é que os exobiólogos vêm falando, há tempos, sobre a tal “Zona Cachinhos Dourados” (“Goldylocks Zone”) – “não muito quente, nem muito frio” – uma faixa de distância entre um planeta e sua estrela-mãe que permitiria a existência de água em estado líquido e, por consequência, de vida (tal como a existente na Terra).

Entretanto, aqui mesmo na Terra, já foram encontrados organismos vivos em ambientes que, se pensava, eram totalmente hostís e inviáveis para a vida. Tais organismos foram chamados de extremófilos. Um dos tipos mais sofisticados de extremófilo é o bastante popular urso d’água, capazes de resistir à exposição prolongada ao espaço exterior em estado de hibernação e “ressuscitarem”. Isso me sugere que a tal “Zona Cachinhos Dourados” deveria ser um pouco extendida, mas… vá lá!…

Um urso d’água seria perfeitamente capaz de sobreviver nas condições que a NASA sugere que existem em Marte (e eu – que sou fã incondicional de Fred Hoyle – adoraria que as sondas terrestres encontrassem alguns ursos d’água em Marte, mas… deixa pra lá!…)

O que, efetivamente, a NASA observou? Do press-release linkado acima, extraímos o seguinte trecho;

Usando um espectrômetro de imageamento no Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), os pesquisadores detectaram as assinaturas de minerais hidratados nas encostas onde se vê rastros misteriosos no Planeta Vermelho. Esses rastros mais escuros parecem brotar e sumir ao longo do tempo. Eles ficam mais escuros e parecem escorrer pelas íngremes encostas durante as estações quentes e então esmaecerem durante as estações mais frias. Eles aparecem em diversos lugares em Marte quando as temperaturas sobem acimade -23°C e desaparecem em temperaturas mais baixas.

Esses rastros de sais hidratados foram identificados como percloratos (uma mistura de perclorato de magnésio, clorato de magnésio e perclorato de sódio, para ser mais exato). E alguns percloratos são conhecidos como anti-congelantes, mantendo a solução deles em estado líquido em temperaturas da ordem de -70°C. Na Terra, são frequentemente encontrados em desertos (onde deixam rastros muito parecidos nas encostas). Ah!… Sim… E – a título de bonus – os percloratos são usados para fazer combustível de foguetes.

Então – a menos que ocorra algum tipo de reação química desconhecido na Terra – é perfeitamente possível que uma salmoura escorra pelas encostas e até que algum tipo de extremófilo viva nelas (e hiberne, tal como um urso d’água, até a próxima estação “quente”).

Mas parece que os homenzinhos verdes não andam por lá…

Em cada buraco negro, um universo inteiro

Photobucket

Traduzido de: Every Black Hole Contains a New Universe

 

Um físico apresenta uma solução para os atuais mistérios do cosmos.

17 de maio de 2012

 

Por Nikodem Poplawski, Colunista Convidado do Inside Science Minds 
Inside Science Minds

Inside Science Minds apresenta uma série de colunistas convidados e perspectivas pessoais apresentadas por cientistas, engenheiros, matemáticos e outros membros da comunidade científica que expõem as ideias mais interessantes na ciência atual. 


 

Nikodem Poplawski

Imagem em tamanho original
Nikodem Poplawski exibe um “tornado em um tubo”. A garrafa de cima simboliza um buraco negro, os gargalos conectados representam um “buraco de verme” e a garrafa de baixo simboliza o universo em expansão no recém-formado outro lado do buraco de verme.
Crédito: Cortesia da Universidade de Indiana.


(ISM) – Nosso universo pode existir dentro de um buraco negro. Isso pode soar estranho, mas pode ser realmente a melhor explicação de como o universo começou e daquilo que observamos hoje. É uma teoria que vem sendo explorada nas últimas décadas por um pequeno grupo de cientistas, inclusive eu.

Em que pese seu sucesso, existem questões importantes não solucionadas pela teoria-padrão do Big Bang, a qual implica que o universo começou em uma “singularidade” aparentemente impossível, um ponto infinitamente pequeno que continha uma concentração de matéria infinitamente grande, que se expandiu até o tamanho que observamos hoje. A teoria da inflação, uma expansão super-rápida do espaço que foi proposta nas recentes décadas, preenche várias lacunas importantes, tais como por que pequenas irregularidades na concentração da matéria do universo primordial coalesceram em grandes corpos celestes tais como galáxias e aglomerados de galáxias.

No entanto, essas teorias deixam algumas importantes perguntas sem respostas. Por exemplo: O que deu início ao Big Bang? O que fez a inflação terminar? Qual é a fonte da misteriosa energia escura que aparentemente está fazendo o universo acelerar sua expansão?

A ideia de que nosso universo está contido inteiramente em um buraco negro, fornece respostas para esses problemas e muitos outros. Ela elimina a noção de singularidades fisicamente impossíveis em nosso universo. E ela é compatível com as duas principais teorias na física.

A primeira é a Relatividade Geral, a moderna teoria da gravidade. Ela descreve o universo nas maiores escalas. Qualquer evento no universo acontece em um ponto do espaço e do tempo, ou espaço-tempo. Um objeto maciço como o Sol distorce ou “curva” o espaço-tempo, tal como uma bola de boliche em repouso sobre uma lona. A mossa gravitacional causada pelo Sol altera o movimento da Terra e dos outros planetas que o orbitam. Esse “puxão” do Sol é percebido por nós como a força da gravidade.

A segunda é a mecânica quântica, que descreve o universo nas menores escalas, tais como o nível dos átomos. No entanto, a mecânica quântica e a relatividade geral são, atualmente, duas teorias separadas. Os físicos se esforçam em tentar combinar as duas em uma única teoria de “gravidade quântica”, de forma a descrever adequadamente fenômenos importantes, inclusive o comportamento de partículas subatômicas dentro dos buracos negros.

Uma adaptação, da década de 1960, da relatividade geral, chamada a teoria da gravidade Einstein-Cartan-Sciama-Kibble, leva em conta os efeitos da mecânica quântica. Ela não só representa um passo na direção da gravidade quântica, como também leva a um quadro alternativo do universo. Esta variante da relatividade geral incorpora uma importante propriedade quântica, conhecida como spin. As partículas tais como elétrons e átomos possuem spin, o momento angular interno que é análogo à rotação de um patinador que gira no gelo.

Neste quadro, os spins das partículas interagem com o espaço-tempo e o dotam de uma propriedade chamada “torção”. Para entender o que é “torção”, imagine o espaço-tempo não como uma lona bidimensional, mas como uma haste flexível unidimensional. Dobrar a haste corresponder a encurvar o espaço-tempo e torcer a haste corresponde a uma torção no espaço-tempo. Se haste for fina, você pode ver ela dobrada, mas é muito difícil saber se a haste está ou não torcida.

A torção no espaço-tempo só seria significativa no universo primordial, ou em buracos negros. Nesses ambientes extremos, a torção do espaço-tempo se manifestaria como uma força repulsiva que atuaria em sentido contrário à força gravitacional da curvatura do espaço. Tal como na versão padrão da relatividade geral, as estrelas muito maciças acabam colapsando em buracos negros: regiões do espaço de onde nada, nem mesmo a luz, pode escapar.

Então, aqui está como a torção funcionaria nos momentos inciais de nosso universo dentro de um buraco negro. Inicialmente, a atração gravitacional entre as partículas suplantaria as forças repulsivas da torção, fazendo com que a matéria colapsasse em uma região menor ainda do espaço. Mas eventualmente a torção se tornaria muito forte e impediria que a matéria se comprimisse até um ponto de densidade infinita. Não obstante, a matéria ainda estaria aglomerada em um estado de alta densidade. A enormemente alta energia gravitacional neste estado altamente aglomerado da matéria causaria uma intensa produção de partículas, uma vez que a energia pode ser convertida em matéria. Esse processo aumentaria ainda mais a massa no interior do buraco negro.

O número crescente de partículas com spin resultaria em níveis maiores de torção do espaço-tempo. A torção repulsiva frearia o colapso e criaria um big-bounce [nota do tradutor: não dá para traduzir… “bounce” é o “quique”, o movimento de volta de, por exemplo, uma bola que bate em uma parede], tal como uma bola de futebol que tenha sido espremida e escape. O rápido recuo depois de um tal big bounce poderia ser o que levou à nosso universo em expansão. O resultado desse recuo é compatível com as observações sobre o formato, a geometria e a distribuição de massas do universo.

Por sua vez, o mecanismo de torção sugere um espantoso cenário: cada buraco negro produziria um novo universo dentro dele. Se isso for verdade, então a primeira matéria de nosso universo veio de algum outro lugar. Então, nosso universo pode estar no interior de um buraco negro que existe em outro universo. Da mesma forma que não podemos ver o que acontece dentro de um buraco negro no cosmos, quaisquer observadores no universo original não poderiam observar o que acontece no nosso.

O movimento da matéria através da fronteira do buraco negro, chamada de “horizonte de eventos”, somente aconteceria em uma direção, o que forneceria uma direção para o tempo que nós percebemos como se movendo “para a frente”. A seta do tempo em nosso universo, portanto, seria herdada, através da torção, de nosso universo original.

A torção também pode explicar o desequilíbrio observado entre matéria e antimatéria no universo. Por causa da torção, a matéria sempre decairia nos familiares quarks e elétrons, e a antimatéria decairia em “matéria escura”, uma forma misteriosa e invisível de matéria que parece ser responsável pela maior parte da matéria do universo.

Black Hole IMage

Imagem em tamnho original
No centro da galáxia espiral M81 fica um buraco negro super maciço com cerca de 70 milhões de vezes a massa de nosso Sol. Crédito: X-ray: NASA / CXC / Wisconsin /D.Pooley & CfA / .Zezas; Optical: NASA/ESA/CfA/A.Zezas; UV: NASA/JPL-Caltech/CfA/J.Huchra et al.; IR: NASA/JPL-Caltech/CfA
Credit: NASA et al.


Finalmente, a torção pode ser a fonte da “energia escura”, uma forma misteriosa de energia que permeia todo o espaço e aumenta a taxa de expansão de nosso universo. Uma geometria com torção produz naturalmente uma “constante cosmológica”, um tipo de força adicional que é a maneira mais simples de  explicar a energia escura. Dessa forma, a observada aceleração da expansão do universo pode acabar sendo o maior indício em favor da torção.

Portanto a torção propicia um fundamento teórico para um cenário onde o interior de cada buraco negro se torna um novo universo. Ela também parece um remédio para vários dos maiores problemas atuais da teoria da gravidade e da cosmologia. Os físicos ainda precisam combinar a teoria Einstein-Cartan-Sciama-Kibble inteiramente com a mecânica quântica, para formar uma teoria da gravidade quântica. E, embora resolva algumas questões importantes, ela levanta outras novas. Por exemplo, o que o que sabemos sobre o universo original e o buraco negro dentro do qual nosso universo reside? Quantas camadas de universos originais poderíamos ter? Como podemos verificar se nosso universo existe dentro de um buraco negro?

Essa última pergunta pode potencialmente ser investigada: uma vez que todas as estrelas e, por consequência, todos os buracos negros giram, nosso universo teria herdado a direção de rotação de nosso buraco negro como “direção preferencial”. Existem indícios recentemente revelados, a partir da observação de mais de 15.000 galáxias, que em um hemisfério do universo a maioria das galáxias espirais é “levógira” (gira para a esquerda), ou seja: gira no sentido dos ponteiros do relógio, enquanto que no outro hemisfério existem mais galáxias “destrógiras” – giram no sentido anti-horário. Seja qual for o caso, eu acredito que incluir a torção na geometria do espaço-tempo é um passo correto na direção de uma teoria cosmológica bem sucedida.

Nikodem Poplawski é um físico teórico da Universidade de Indiana.

Não encontramos coisa alguma! Bom… Isso já é uma descoberta!

Três press-releases no EurekAlert hoje trombeteiam mais ou menos isso sobre as pesquisas referentes ao suposto Fundo Cósmico Gravitacional.

A Universidade da Flórida diz: Observatório de Ondas Gravitacionais busca os ecos do nascimento do Universo. O Instituto de Tecnologia da Califórnia, sobre um tom: LIGO busca os ecos gravitacionais do nascimento do Universo. E a Penn State escancara: Grande avanço na compreensão do nascimento e do início da infância do Universo. Esse terceiro é acompanhado de figuras, portanto, foi o escolhido para ser traduzido (o texto é mais ou menos o mesmo, diferindo apenas na listagem dos cientistas envolvidos: cada universidade “puxa a brasa para a sardinha” dos seus…). Lá vai:


IMAGEM:
 
Vista aérea das instalações do LIGO em Livingston, Louisiana.

Clique aqui para mais informações.

Um significativo progresso para nossa compreensão da evolução inicial do universo foi obtida por uma equipe de cientistas associada com a Colaboração Científica LIGO (Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory, Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferometria a Laser) e a Colaboração Virgo. Os resultados da equipe serão publicados na edição de 20 de agosto de 2009 da Nature.

Os cientistas que estudam as ondas
gravitacionais, inclusive Lee Samuel Finn,
professor de física e astronomia e astrofísica na Penn State e Benjamin
Owen, professor de física da Penn State, estabeleceram novos limites para os detalhes de como o universo se parecia em seus primeiros momentos. A análise dos dados obridos pela equipe, colhidos durante um período de dois anos entre 2005 e 2007, estabeleceu os limites mais restringentes até agora obtidos quanto a quantidade de ondas gravitacionais que podem ser oriundas do Big Bang.

Finn que é membro da Colaboração Científica LIGO desde sua criação, declara:

— Nossos resultados são um importante passo para a detecção das ondas gravitacionais primordiais – enrugamentos na tessitura do espaço-tempo – que foram criadas quando o universo se expandiu em seus momentos iniciais. Este tipo de informação deve fornecer pistas importantes para a compreensão sobre como a estrutura do universo evoluiu. Por exemplo: por que nosso universo se aglomerou em galáxias? Essa informação também poderia nos dizer algo acerca de algumas das fantásticas proposições sobre como nosso universo veio a acontecer, se são plausíveis ou não.


IMAGEM:

Outra imagem aérea das instalações do LIGO em Hanford, Washington.

Clique aqui para mais informações.

Acredita-se que o Big Bang criou uma enxurrada de ondas gravitacionais que ainda preenchem o universo e portam informações sobre o mesmo nos instantes imediatamente subsequentes ao Big
Bang. Essas ondas seriam observadas na forma de um “fundo estocástico”, análogo a uma superposição de várias ondas de diferentes tamanhos e direções na superfície de um lago. A amplitude desse fundo é diretamente relacionado com os parâmetros que governam o comportamento do universo durante o primeiro minuto após o Big Bang.

De acordo com Finn:

— O espaço-tempo é o palco vivo onde o drama do universo se desenrola. As ondas gravitacionais primordiais são as dobras, rugas e amassões no espaço-tempo que se estabeleceram quando o universo se expandiu, desde o início até o presente. As observações que relatamos nesse artigo são as observações mais estreitas do arcabouço do universo vivo em ação.

A pesquisa também restringe os modelos de cordas cósmicas, objetos que, segundo a proposição, sobraram do começo do universo e foram subsequentemente esticadas a enormes comprimentos pela expansão do universo. As cordas, dizem alguns cosmologistas, podem formar laços (loops) que produzem ondas gravitacionais quando oscilam, decaem e, eventualmente, desaparecem.

As ondas gravitacionais portam com elas informação acerca de suas violentas origens e sobre a natureza da gravidade que não podem ser obtidas pelas ferramentas convencionais da astronomia. A existência das ondas foi prevista por Albert
Einstein em 1916 em sua teoria da relatividade geral. Indícios da existência dessas ondas foram relatados pela primeira vez na Nature
por J.H Taylor, L.A Fowler e P.M. McCulloch em 1979. O LIGO tem estado ativamente à procura das ondas desde 2002 e o interferômetro
Virgo se juntou à busca em 2007.

Os autores do artigo relatam que o fundo estocástico de ondas gravitacionais ainda não foi descoberto. Mas a própria não-descoberta, descrita no artigo da Nature,  por si só é um dado de conhecimento sobre a história do início do universo.

A análise foi feita sobre os dados coletados pelos interferômetros do LIGO, um detector de 2 km e outro de 4 km em Hanford, Washington, e um instrumento de 4 km em
Livingston, Louisiana. Cada um dos interferômetros em forma de L usa um laser, dividido em dois feixes, que vai e volta através dos longos braços do interferômetro. Os dois feixes são usados para monitorar a diferença entre os comprimentos dos braços do interferômetro. De acordo com a teoria da relatividade geral, um dos braços do interferômetro seria ligeiramente esticado, enquanto o outro seria ligeiramente comprimido, quando da passagem de uma onda gravitacional. O interferômetro é construído de forma a poder detectar uma mudança menor do que um milésimo do diâmetro de um núcleo atômico no comprimento comparado dos braços.

David
Reitze, professor de física da Universidade da Flórida e porta-voz da Colaboração Científica LIGO, declara:

— Ondas gravitacionais são a única maneira de sondar diretamente o universo no momento de seu nascimento – elas são absolutamente sem ingual nesse ponto. Nós simplesmente não podemos obter essas informações de nenhuma outra prática astronômica. Isto é o que torna este resultado em particular e a astronomia de ondas gravitacionais em geral, algo tão empolgante.

De acordo com Francesco Fidecaro,
professor de física da Universidade de Pisa e do Istituto
Nazionale di Fisica Nucleare, e porta-voz da Colaboração Virgo:

— Os cientistas das Colaborações LIGO e Virgo juntaram seus esforços para fazer o melhor uso de seus instrumentos. A combinação de dados simultâneos dos interferômetros LIGO e Virgo fornece informações sobre fontes de ondas gravitacionais não acessíveis por outros meios. É algo bastante sugestivo que o primeiro resultado dessa aliança faça uso do fato dessas ondas gravitacionais serem capazes de sondar o universo muito jovem. Isso promete muito para o futuro.

Maria Alessandra
Papa, cientista senior no Instituto Max Planck para Física Gravitacional e chefe do esforço de análise de dados de todo o projeto, acrescenta:

— Centenas de cientistas trabalharam muito duro para produzir resultados fundamentais como este: os cientistas que projetam, montam e operam os detectores, as equipes que preparam os dados para as pesquisas astrofísicas e os analistas de dados que desnvolvem e implementam técnicas bem sensíveis para procurar por esses sinais muito fracos e elusivos nos dados.

O próximo marco para o LIGO é o Projeto Avançado
LIGO, previsto para entrar em funcionamento em 2014.  O LIGO Avançado vai incorporar melhoramentos nos projetos e nas tecnologias desenvolvidos pela Colaboração Científica LIGO. Ele tem o apoio da Fundação Nacional de Ciências dos EUA. do Conselho de Instalações Científicas e Tecnológicas do Reino Unido e da Sociedade Max Planck da Alemanha.


Eu não costumo comentar as matérias que traduzo, mas vou abrir uma exceção…

Afinal, que dados tão preciosos e merecedores de tantas fanfarras são esses?… De tudo que eu li, eu tiro que os cientistas descobriram algo que – em linguagem chula – se descreve como “o buraco é mais embaixo”. Dito de outra forma: eles já sabem onde o tal fundo estocástico não está. Claro que isso é um dado importante, mas será que merece mesmo todas essas declarações grandilouquentes (e totalmente vazias) dos porta-vozes? E três press-releases simultâneos que descrevem um  resultado proeminentemente negativo, como se fosse (eu não resisto a usar o lugar-comum…) o Santo Graal da astrofísica?…

Marketing demais acaba atrapalhando…

O tamanho do Universo: uma pegunta difícil (parte 3)

Atenção! Este post é uma tradução expressamente autorizada pelo
autor. A reprodução total ou parcial do mesmo pode ser considerada
violação de direitos autorais. O link para o post original de Ethan
Siegel em “Starts with a Bang” vai aí abaixo.

Desvio para o vermelho (redshift) e Distância no Universo em Expansão

Category: AstronomyDark EnergyGalaxiesGravityrelativity
Posted on: August 5, 2009 4:23 PM, by Ethan Siegel

Na semana passada [NT: eu me atrasei com a tradução – este post é de 5 de agosto], começamos a falar sobre como entender o tamanho do Universo e continuamos nesta com algumas informações sobre distâncias e movimento no Universo. Isto nos traz a meu caso particular favorito que nos leva à expansão de Hubble.

20061007165757!Schema_Redshift.png

Desvio para o vermelho (redshift). Como se pode ver, sempre que um átomo ou uma molécula emite luz, o faz em uns poucos comprimentos de onda específicos. Por exemplo, se for hidrogênio, teremos sempre luz nos comprimentos de 656 nanômetros (vermelho), 486 nm (ciano), 434 nm (indigo), 410 nm
(violeta) e 397 nm (na fronteira entre o violeta/ultravioleta):

hydrogen-spectra.jpg

Agora, existem três coisas — e somente três (a menos que você queira entrar em detalhes realmente técnicos) — que podem acontecer que mudam os comprimentos dessa luz. Senão vejamos:

grav_z.jpg

1. Desvio para o vermelho gravitacional.  Se estivermos nas profundezas de um campo gravitacional (tal como próximo de um buraco negro), temos que usar energia para sair dele. Para luz de todos os tipos, a energia e o comprimento de onda são intimamente relacionados. Menor comprimento de onda = maior energia e maior comprimento de onda = menor energia. De forma que, se precisar escapar de um campo gravitacional forte, a luz perde energia e, assim, seu comprimento de onda é desviado para o vermelho. Isso é o que chamamos de desvio para o vermelho, quando acontece algo que torna o comprimento de onda mais longo e com menor energia. Mas o desvio para o vermelho gravitacional raramente é significativo: dois outros efeitos são muito mais importantes.

hydredsh.gif

2. Desvio para o vermelho causado pelo movimento. Se um objeto que emite luz, se move para longe de você, a luz fica desviada para o vermelho. É exatamente o mesmo efeito – o Efeito Doppler – que faz com que a sirene de uma ambulância fique mais grave quando ela se afasta de você. Quer saber? Se um objeto que emite luz, se mover em sua direção, a luz sofre um desvio para o azul e fica mais energética! (É o que vemos com relação à luz vinda da galáxia de Andrômeda, uma das pouquíssimas no Universo que se move em nossa direção). E, embora esse dado seja extremamente útil, não é o que acontece em geral com a luz no Universo. Lembre-se: eu disse que essas galáxias distantes não estão se movendo o espaço entre elas está simplesmente se expandindo. Então, adivinhe só!… 

expansion.gif

3. O Espaço em expansão causa um desvio para o vermelho! (E obrigado a av8n.com pela imagem!) Como você pode ver, na medida em que o espaço se expande (acima), os comprimentos de onda da luz nele também se expandem, como se pode ver abaixo.

exp_photon.gif

E este último efeito é que é importante para o Universo em expansão. Por que? Bem, se medirmos a luz de vários objetos distante e calcularmos suas distâncias, podemos – apenas com base no desvio para o vermelho dos objetos – aprender toda a história de como o Universo se expandiu. E o desvio para o vermelho também é fácil de medir.

qso_redshift.gif

É a partir de literalmente milhões e milhões dessas medições individuais que conseguimos estabelecer toda a história de como o Universo se expandiu. Entre outras coisas, foi assim que descobrimos a energia escura e o Universo em aceleração! Uma coisinha notável e, no entanto, nem um pouco intuitiva.  

Então, o que se deve tirar disso? Que, na medida em que a luz atravessa o espaço e esse espaço se expande, ele (o espaço) faz com que a própria luz se expanda, também. Assim é que aprendemos a história da expansão cósmica em nosso Universo. Repito: é a expansão que causa esse desvio para o vermelho, não o movimento. Espero que isso clareie esse negócio meio complicado apresentado até agora! 


O tamanho do Universo: uma pegunta difícil (parte 2)

Atenção! Este post é uma tradução expressamente autorizada pelo
autor. A reprodução total ou parcial do mesmo pode ser considerada
violação de direitos autorais. O link para o post original de Ethan
Siegel em “Starts with a Bang” vai aí abaixo.

Distâncias, Posição e Movimento no Universo.

Distances, Position, and Motion in the Universe

Category: AstronomyGravityPhysicsrelativity
Posted on: August 3, 2009 2:13 PM, by Ethan Siegel

No fim da semana passada, eu [Ethan Siegel] escrevi um post explicando como o Universo pode ser tão grande (93 bilhões de anos-luz de diâmetro), quando tem apenas 13,7 bilhões de anos de idade. A chave para a visualização é pensar no espaço como sendo a superfície de um balão que se expande, enquanto todas as coisas nesse Universo (estrelas, galáxias, etc) são como formigas nessa superfície.

ant_flat.jpg

Bom… Eu expliquei que duas formigas parecerão estarem se afastando uma da outra devido à expansão do Universo, muito embora nenhuma das duas formigas esteja se movendo com relação à superfície do balão. Se eu for uma das formigas e usar a luz para medir se a outra formiga está ou não se afastando de mim, eu vou descobrir que ela está: a luz que vem dela apresenta um desvio para o vermelho, da mesma forma que um automóvel em alta velocidade e que se afasta da gente, faz um barulho mais grave.

doppler.gif

No entanto, na semana passada, eu disse que:

É somente o espaço (isto é, o balão) que está se expandindo; não há
matéria alguma se movendo. Portanto, em princípio, o espaço pode se
expandir tão rapidamente quanto quiser, até mais rápido do que a velocidade da luz, porque não há coisa alguma se movendo.

Essa afirmação causa confusão e eu percebo isso. Ao fim e ao cabo, você mede quão rápido aquela outra formiga está se afastando de você e, ainda assim, eu estou aqui dizendo que nenhuma das duas está se movendo. Este é um problema muito profundo. Vamos tentar fazer algum sentido disso.

Quando se pensa na palavra “movimento” ou em algo “se movendo”, provavelmente a ideia que vem à cabeça é de algo que está em algum lugar em um certo ponto no tempo e estará em um lugar diferente em outro ponto no tempo. É com esse sentido que empregamos essas palavras em nossa conversa habitual. O ato de ir de um lugar no espaço e no tempo para outro é o que chamamos de “movimento”.

 vec2dPoint.png

Porém, quando pensamos sobre isso, nós partimos de um pressuposto implícito. Nós pressupomos que nós somos capazes de traçar uma grade – ou, em linhas gerais, estabelecer um sistema de coordenadas – e medir nossas mudanças de posição com relação a essas coordenadas.

tinyspace.gif

Parece uma suposição razoável, não é?… Afinal é o que fazemos na Terra. De fato, é o que fazemos dentro de toda a nossa galáxia e nunca tivemos um problema com isso.

Mas, quando vamos além de nossa galáxia, há um problema com isso. Por que?… Porque a “grade” que podemos traçar para medir nosso Universo não é constante no tempo.

Quer uma analogia?… Imagine a seguinte situação hipotética: imagine que a Terra esteja se expandindo. Imaginemos até que ela esteja se expandindo rapidamente: daqui a um ano, a Terra terá o dobro do raio atual.

Marc_Reiter_Expanding_Earth.290105809_large.jpg
(Crédito da Imagem: Marc Reiter.)

Vista de New York, Los Angeles parece estar a 3.900 km e vice-versa. Porém, um ano mais tarde, medem novamente a distância e descobrem que a distância entre elas é de 7.800 km. Em New York, acusam Los Angeles de estar se afastando. Em Los
Angeles, eles acusam New York pelo afastamento. Enquanto isso, ambas as cidades insistem em que não saíram do lugar o tempo todo.

As coisas só fazem piorar quando eles começam a medir as velocidades. Em New
York, usam a luz para medir a que velocidade Los Angeles está se afastando de New York, e descobrem que Los Angeles está fugindo a 0,44 km/h. Em Los Angeles, eles fazem a mesma medição com relação a New York e descobrem que New York, também, parece estar se afastando a 0,44 km/h.

SphereRadAnimation.gif

Porém, na verdade, nenhuma das duas está se movendo. O que está acontecendo é que o mundo onde essas duas cidades estão, está crescendo e isso faz com que todos “vejam” que estão se afastando entre si. E quanto mais distante, pior: Shanghai, China, fica, atualmente, a 11.900 km de New York. Mas, daqui a um ano se a Terra estivesse se expandindo, estaria a 23.800 km e pareceria estar se afastando (em nosso exemplo de Terra em expansão) a 1,36 km/h. No entanto, Shanghai, Los Angeles e New York não estão se movendo. Elas apenas parecem estar se movendo em relação às outras.

Assim é com o Universo, com um Universo em expansão, em lugar de uma Terra em expansão e com galáxias sem mudanças, em lugar de cidades sem mudanças. E esta é – provavelmente – a parte esquisita: a expansão é restrita ao Universo nas escalas mais largas. Galáxias, estrelas, planetas, células e átomos não se expandem como o Universo; a expansão do Universo é fraca demais para afetar qualquer parte da dinâmica desses objetos relativamente pequenos. (Sim… Em comparação com o Universo em expansão, até uma galáxia é pequena demais para ser levada em conta). 

Então?… Isso clareia as coisas?… Ou torna tudo mais confuso ainda?… Algo tão fundamental e aparentemente simples tal como distâncias, posições e velocidades são – até mesmo entre cosmologistas profissionais – uma das coisas mais confusas (e mal entendidas) que se pode discutir. Não é, de modo algum, algo intuitivo, porque contraria totalmente nossa experiência diária. E isso é um dos motivos que torna a coisa tão interessante.


O tamanho do Universo: uma pergunta difícil

Atenção! Este post é uma tradução expressamente autorizada pelo autor. A reprodução total ou parcial do mesmo pode ser considerada violação de direitos autorais. O link para o post original de Ethan Siegel em “Starts with a Bang” vai aí abaixo.

The Size of the Universe: A Hard Question

Category: AstronomyGalaxiesPhysicsQ & Abig bangrelativity
Posted on: July 31, 2009 3:19 PM, by Ethan Siegel

Me fazem uma mesma pergunta frequentemente e ela é uma das perguntas mais difíceis para qualquer cosmologista responder. Hoje, vou tentar encará-la. Ela é mais ou menos assim:

Se o Universo tem 13,7 bilhões de anos de idade e nada pode viajar mais rápido do que a velocidade da luz, como é que podemos ver coisas que estão a 46,5 bilhões de anos-luz de distância?

Em primeiro lugar – e eu quero deixar isto bem claro – tudo nesta pergunta é uma dúvida legítima.

ageztextmed.jpg

1.)  O Universo tem mesmo 13,7 bilhões de anos de idade. Existe um pequeno erro de aproximação aqui – ninguém ficaria surpreso de ele tivesse 13,5 ou 14,0 bilhões de anos – mas certamente não são 12 bilhões ou menos de anos, nem 16 ou mais bilhões de anos.

image004.jpg

2.) Nada pode se mover mais rápido do que a velocidade da luz. Se você tiver massa, seja você uma galáxia, uma nave espacial, uma bala ou um neutrino, você terá que ir mais lentamente do que a velocidade da luz. E, se você não tiver massa, vai ter que andar exatamente na velocidade da luz. Sem exceções.

600px-Hubble_ultra_deep_field_high_rez_edit1.jpg

3.) As coisas mais distantes no Universo – coisas que emitiram suas luzes a 13,7 bilhões de anos atrás – estão a 46,5 bilhões de anos-luz de distância de nós agora.

Então, como foi que isso aconteceu? De duas maneiras, uma simples e outra nem tanto. A parte simples é que o Universo vem se expandindo todo esse tempo. Imagine que você tem uma formiga sobre um balão murcho e essa formiga se move a 1 cm/seg. Quando o balão está totalmente murcho, a formiga está a apenas 2 cm do topo do balão, seu destino. Porém, na medida em que ela caminha em direção ao topo, ela percebe que o balão em volta dela está se expandindo.

ant_flat.jpg

Como é que acontece essa expansão? Bem, essa é parte não tão simples assim… Expansão não é uma velocidade. É uma velocidade por unidade de distância. Digamos que ela seja de 0,4 cm/seg por centímetro. Isto significa que, se a formiga estiver a 1 cm de alguma coisa, essa coisa se expande para longe dela a 0,4 cm/seg. O topo do balão, que estava inicialmente a 2 cm de distância, se expande para longe a 0,8 cm/seg. E qualquer coisa que estiver a 15 cm de distância, estaria se expandindo para longe a 6 cm/seg.

Então, se eu fizer os cálculos dessa formiga caminhando a 1 cm/seg para um ponto a 2 cm de distância neste balão em expansão, não leva 2 segundos para ela chegar lá. Na verdade – fazendo corretamente os cálculos – leva um pouquinho de nada mais do que 3 segundos para a formiga alcançar seu destino. Além disso, o balão continuou a se expandir, de forma que, quando ela olha de volta para o ponto de partida, você sabe a que distância ele está?… A mais de 6 centímetros! Quando ela olha de volta para o ponto de partida, não só ele está três vezes mais distante do que quando ela começou a viagem, como todo o balão está maior do que era antes.

tlp706977.jpg

E é isso que o Universo está fazendo: se expandindo enquanto a luz está viajando em nossa direção, vinda de fontes distantes. Existe, é claro, mais um “busilis” em nosso Universo. A taxa de expansão é abestalhantemente lenta: 72 km por segundo por Megaparsec. Nos termos da formiga, isso é 2,3 x 10-18 cm / segundo / cm. Acontece apenas que nosso Universo é tão grande que, se você se afastar bastante – pouco menos do que 13 bilhões de anos-luz – a taxa de expansão eventualmente fica maior do que a velocidade da luz.

Mas está tudo bem. É somente o espaço (isto é, o balão) que está se expandindo; não há matéria alguma se movendo. Portanto, em princípio, o espaço pode se expandir tão rapidamente quanto quiser, até mais rápido do que a velocidade da luz, porque não há coisa alguma se movendo. E é por isso que, muito embora o
Universo tenha apenas 13,7 bilhões de anos, nós podemos ver coisas a 46,5 bilhões de anos-luz de distância.

Alguma pergunta?


Galáxias atingem a “maioridade”

Chandra X-ray Center

Galáxias chegam à “maioridade” em bolhas cósmicas


IMAGEM:

Imagem composta do campo estudado. Em amarelo, a imagem da radiação Lyman-alfa, do telescópio Subaru. Em branco, a imagem visível de uma galáxia, do Hubble, combinada com uma em infravermelho (em vermelho) do Spitzer. Em azul, o buraco negro visto pelo Spitzer.  

Imagem ampliada e mais informações.

A “maioridade” de galáxias e buracos negros foi identificada, graças aos novos dados do Observatório de Raios-X Chandra da NASA e outros telescópios. Esta descoberta ajuda a compreender a verdadeira natureza das gigan­tescas bolhas de gás observadas em torno de galáxias muito jovens.

Cerca de uma década atrás, os astrônomos descobriram imensos reservatórios de hidro­gênio – que eles batizaram de “bolhas” – ao explorarem jovens galáxias distantes. As bo­lhas brilham luminosas no espectro visível, po­rém a fonte da imensa energia necessária para esse brilho e a natureza desses objetos não es­­tavam claras.

Uma longa observação do Chandra identificou, pela primeira vez, a fonte dessa energia. Os dados de raios-X mostram que uma fonte significativa de energia dentro dessas estru­turas colossais vem de buracos negros super-maciços que ficam parcialmente obscurecidos por densas camadas de poeira e gás. A piro­tecnia da formação de estrelas também parece desempenhar um importante papel – dizem o Telescópio Espacial Spitzer e obser­vações feitas do solo.

“Por dez anos os segredos das bolhas ficou escondido das vistas, mas agora des­cobrimos sua fonte de energia”, declarou James Geach da Universidade Durham University do Reino Unido que chefiou o estudo. “Agora podemos con­cluir algumas importantes discussões acerca do papel que elas desempenham na construção original das galáxias e buracos negros”.


IMAGEM:
Concepção artística de uma galáxia dentro da bolha, vista de perto. As seguidas explosões de supernovas e a ejeção de massa por estrelas em fim de vida geram um poderoso vento que aquece e ilumina as nuvens de gás. 

Acredita-se que as galáxias se formam quando o gás flui para dentro sob a ação da gravidade e resfria pela emissão de radiação. Esse pro­cesso deveria terminar quando o gás fosse aquecido pela radiação e escapasse das galá­xias e seus buracos negros. As bolhas pode­riam ser um sinal desse primeiro estágio, ou do segundo.

Com base nos novos dados e em argumentos teóricos, Geach e seus colegas mostram que o aquecimento do gás pelos buracos negros su­per-maciços e as emissões das estrelas em formação, em lugar de resfriar o gás, mais provavelmente energiza as bolhas. Isso implica em que as bolhas representam um estágio on­de as galáxias e os buracos negros estão ape­nas começando a desligar seu rápido cres­ci­mento por causa desses processos de aqueci­mento. Este é um estágio crucial da evolução de galáxias e buracos negros – conhecido como “feedback” – e um que os astrônomos faz tempo tentam compreender.

“Nós estamos vendo sinais de que as galáxias e buracos negros dentro dessas bolhas que es­tão atingindo a maioridade e agora estão empurrando o gás para fora para impedir um futuro crescimento”, diz o co-autor Bret Lehmer, também de Durham. “As galá­xias maciças têm que passar por um estágio assim, ou elas formariam estrelas de­mais e acabariam ficando ridiculamente grandes nos dias atuais”.

O Chandra e uma coleção de outros telescópios, inclusive o Spitzer, observaram 29
bolhas em um grande campo nos céus, batizado de “SSA22.” Essas bolhas, que medem centenas de milhares de anos-luz, são vistas como eram quando o Universo tinha apenas cerca de dois bilhões de anos, ou seja: aproximadamente 15% de sua idade atual.


IMAGEM:
Outra concepção artística de uma galáxia dentro da bolha. Os braços espirais da galáxia aparecem em amarelo e branco. Em amarelo vivo, as emissões do buraco negro gigante o centro da mesma.

Em cinco dessas bolhas, os dados do Chandra revelaram a assinatura de buracos negros su­per-maciços em desenvolvimento – uma fonte puntual que brilha fortemente na faixa dos raios-X. Acredita-se que existam esses buracos negros gigantes nos centros da maio­ria das galáxias, inclusive a nossa. Outras três bolhas nesse campo mostram prováveis indí­cios desses buracos negros. Com base em outras observações, inclusive do Spitzer, a equi­pe de pesquisadores foi capaz de esta­belecer que várias dessas galáxias também são dominadas por notáveis níveis de forma­ção de estrelas.

De acordo com os cálculos, a radiação e os poderosos fluxos vindos desses buracos ne­gros e estrelas em formação são suficiente­mente energéticos para causar o brilho do gás de hidrogênio nas bolhas onde residem. Nos casos onde as assinaturas desses buracos ne­gros não foram detectadas, as bolhas são, em geral, menos luminosas. Os autores mostram que buracos negros com energia suficiente para “iluminar” essas bolhas ainda seriam muito fra­cos para serem detectados, dada a exten­são das observações feitas pelo Chandra.

Além de explicar a fonte de energia dessas bolhas, esses resultados ajudam a explicar seu futuro. Dentro do cenário de aquecimento, o gás nessas bolhas não se resfriaria para formar estrelas e iria se somar ao gás aquecido que se en­contra nos espaços intergaláticos. A própria SSA22 pode evoluir para um maciço aglomerado galático.

Segundo Geach: “No início, as bolhas devem ter alimentado suas galáxias, mas o que vemos agora parecem mais ser sobras. Isso quer dizer que teremos que procurar ainda mais atrás no tempo para flagrar as galáxias e buracos negros no ato de formarem bolhas”.

###

Esses resultados serão publicados na edição de 10 de julho da Astrophysical Journal. O Centro de Voo Espacial Marshall da NASA, em Huntsville, Alabama, gerencia o programa Chandra para a Diretoria de Missões Científicas da NASA em Washington.
O Smithsonian Astrophysical Observatory controla as opera­ções científicas e de voo do Chandra desde Cambridge, Massachusets.


Super-sensores do NIST medirão a “assinatura” do universo inflacionário

O que aconteceu no primeiro trilionésimo de trilionésimo de trilionésimo de segundo após o Big Bang?

Detectores de micro-ondas super-sensíveis, construídos no National Institute of Standards and Technology (NIST), podem ajudar os cientistas a descobrir em breve.

Os novos sensores, descritos hoje no encontro da Sociedade Americana de Física (Ameri­can Physical Society = APS) em Denver, foram fabricados para uma experiência potencial­mente revolucionária – a Busca pelo Modo-B em Atacama, Atacama B-mode Search (ABS) – realizada por uma colaboração que envolve o NIST, a Universidade de Princeton, a Univer­sidade do Colorado em Boulder e a Universidade de Chicago.

Embora o NIST seja mais conhecido por suas medições na Terra, um projeto já antigo que funciona no campus de Boulder desempenha um papel de relevo no estudo do Fundo Cós­mico de Micro-ondas (cosmic microwave background = CMB) — o apagado resquício da lu­minosidade do Big Bang que ainda permeia o universo. Esse projeto construiu anteriormen­te amplificadores super-condutivos e câmeras para experiências com o CMB no Polo Sul, em observatórios a bordo de balões, e no Planalto de Atacama no
Chile.

A nova experiência vai começar em aproximadamente um ano no deserto chileno e consisti­rá da colocação de um grande dispositivo de sensores do NIST em um telescópio montado em um contêiner de carga adaptado.

Os detectores vão procurar por pequenas “impressões digitais” sutís no CMB, causados por ondas gravitacionais primevas — ondulações na tessitura do espaço-tempo nascidas do par­to violento do universo, há mais de 13 bilhões de anos. Acredita-se que essas ondas te­­nham deixado uma marca, tênue porém inconfundível, na direção do campo elétrico do CMB, chamadas de “polarização modo-B”. Essas ondas — cuja existência jamais foi con­firmada por meio de medições — ainda são potencialmente detectáveis, contanto que se empregue equipamento suficientemente sensível.

“Este é um dos grandes desafios de medição que confrontam a comunidade científica nos próximos 20 anos e também um dos mais excitantes”, disse Kent Irwin, o físico do NIST en­carregado do projeto.

Caso descobertas, essas ondas seriam o indício mais claro já encontrado em apoio à “teo­ria da inflação”, que propõe que todo o universo atualmente observável se expandiu rapida­mente a partir de um volume subatômico, deixando um rastro de ondas gravitacionais no fun­do cósmico de micro-ondas.

“A polarização em modo-B é a mais significativa peça de indícios a ser observada em todos os tempos”, declarou Ki Won Yoon,  pós-graduado do NIST, encarregado de apresentar o projeto na reunião da APS. “A detecção de ondas gravitacionais primordiais através da pola­rização do CMB seria um enorme passo para colocar a teoria da inflação sobre bases sóli­das”.

Os dados também podem dar aos cientistas novas perspectivas sobre diferentes modelos de teoria das cordas para o universo e outras teorias “unificadas” da física.

Esse tipo de experiência só pode ser realizado se estudarmos o universo como um todo, já que as partículas e os campos eletromagnéticos, no início da era inflacionária, eram apro­ximadamente 10 bilhões de vezes mais quentes do que as energias alcançáveis pelo mais poderoso colisor de partículas existente na Terra. Nessa escala de energia, é previsto que as forças fundamentais, atualmente identificadas como coisas distintas, se unifiquem.

Irwin disse: “O universo é um laboratório de física: se olharmos para longe, na verdade esta­remos olhando para trás no tempo, podendo observar interações que aconteceram em ní­veis de energias que estão para sempre fora do alcance das experiências terrestres”.

Estudos recentes sobre o CMB vinham se focalizando na medição de ligeiras variações es­paciais na temperatura ou na energia existentes cerca de 380.000 anos após o Big Bang. Esses padrões de radiação permitem aos cientistas caracterizar as primeiras distribuições de matéria e energia que evoluíram para formar as estrelas e galáxias que vemos hoje.

Comparando as medições realizadas às previsões feitas pelas várias teorias, os cientistas tornam cada vez mais precisa a história do universo, por exemplo, estreitando sua possível idade (hoje estimada em 13,7 bilhões de anos).

Em contraste, os novos detectores do NIST são projetados para medir não só a temperatu­ra, mas também a polarização. Os sinais da polarização em modo-B podem ser mais de um milhão de vezes mais tênues do que os sinais da temperatura.

Para conseguir detectar padrões tão sutís, os detectores do NIST vão coletar significativas quantidades de radiação de modo eficiente e não terão partes móveis e outras fontes tradi­cionais de erros sistemáticos, tais como vibrações e interferência magnética, segundo Irwin. Além disso, serão necessários um avançado sistema de processamento de sinais e contro­le de erros.

Os novos sensores são protótipos para dispositivos polarímetros do NIST que aumentarão grandemente a sensibilidade de experiências futuras, com a construção de milhares de de­tectores em unidades monolíticas que podem ser instalados em câmeras de telescópio crio­gênicas. Os novos detectores do NIST também podem ter aplicações mais domésticas, tais como a redução do clarão em sistemas de imageamento da faixa dos terahertz para a de­tec­ção de armas e outros contrabandos.

###

Sobre ScienceBlogs Brasil | Anuncie com ScienceBlogs Brasil | Política de Privacidade | Termos e Condições | Contato


ScienceBlogs por Seed Media Group. Group. ©2006-2011 Seed Media Group LLC. Todos direitos garantidos.


Páginas da Seed Media Group Seed Media Group | ScienceBlogs | SEEDMAGAZINE.COM