Corre um boato de que é possível localizar a fonte de uma fofoca

Inside Science News Service
Link para o original: Rumor Has It An Algorithim Could Scope Out Gossip

Crédito da imagem: coolio-claire via flickr | http://bit.ly/1WeI3JF. Partilhada por Creative Commons.

Para localizar a fonte de uma fofoca, as redes sociais precisam ser complexas.

11 de março de 2016
Autor: Marcus Woo, Contribuidor do ISNS

(Inside Science) – Lembra daquelas fofocas que corriam soltas no seu tempo de secundário? Pode ser que agora você possa descobrir quem as espalhava.

As pesquisas nos últimos anos têm explorado meios para identificar a origem de um rumor que se espalhou por uma rede, armada tão somente da informação sobre quem ouviu. Este tipo de estudos matemáticos têm outras utilidades além de descobrir as fontes de fofocas. Eles podem achar as fontes de memes nas redes sociais, tendências, virus de computador e epidemias.

Porém, segundo um estudo recentemente publicado, se você vai conseguir achar a fonte de um rumor, depende da complexidade da rede.

“A estrutura da rede define basicamente quando se pode ou não descobrir o autor”, declara Tauhid Zaman do the Massachusetts Institute of Technology (MIT) em Cambridge. “As pessoas ainda não se deram conta de que a complexidade da rede diz quando e se você pode ficar oculto”.

Se a rede for bem simples — uma onde todos se conheçam entre si, ou uma que for linear, onde Maria só conhece João que só conhece José que só conhece David, e por aí afora — é impossível descobrir a origem de um rumor. Se todos nessa rede ouviram o rumor, é impossível descobrir qual o caminho mais provável do rumor e chegar a sua origem; todos os caminhos são possíveis. Em uma rede mais complexa e realística, entretanto, há uma boa chance de descobrir a fonte.

“Se a rede não for suficientemente complexa, jamais encontraremos a fonte do rumor”, explica ele. “Mas se for só um pouco complexa, há uma chance de uma em três de encontrar”.

E se quisermos restringir a fonte do rumor para oito suspeitos, então, segundo a análise, a probabilidade de encontrar o culpado sobre para 99%.

O estudo, publicado em Operations Research, expande o trabalho de 2010 no qual  Zaman e Devavrat Shah, também do MIT, foram uns dos primeiros a explorar o problema de encontrar a fonte de um rumor e destrinchar a matemática relativa em detalhe.

Muito embora outras pesquisas tenham se debruçado sobre como a informação se espalha ao longo do tempo, o busilis aqui é que não se sabe quando alguém ouviu o rumor em primeiro lugar. “Só sabemos que eles ouviram e que são ligados entre si”, explica Zaman. “A questão é descobrir quem foi a pessoa que começou com o rumor”.

Para descobrir a resposta – eles demonstram – se pode contar de quantas maneiras o rumor pode ter se propagado para cada uma das pessoas. Aquele que poderia espalhar o rumor pela maior quantidade de maneiras, é provavelmente aquele que começou com ele e os pesquisadores podem calcular a probabilidade.

O estudo de 2010 se focou em uma rede em árvore, cuja estrutura tem ramos, mas nenhum laço; onde ninguém tem um círculo de amizades. Por exemplo Alice conhece Bob, que conhece Carla, David e Emílio — mas nenhum desses últimos conhece Alice. Era um caso mais simples, específico, onde cada pessoa tinha a mesma probabilidade de passar o rumor para a pessoa seguinte.

Mas a análise é generalizante. Ela se estende para redes mais aleatórias, comprovando matematicamente que o método funciona para todas as redes em árvore. Uma vez que redes mais complexas e realísticas são mais difíceis de provar com matemática, segundo Zaman, os pesquisadores usaram simulações em computador para demonstrar que seus resultados se aplicam à maioria das outras redes.

Existe outra limitação. Se o rumor ainda não se espalhou muito e a rede contém algumas celebridades com um número enorme de amigos, o algorítimo apresenta a tendência de indicar essas pessoas populares. Porém, quando se leva em conta o número de amigos, os pesquisadores podem corrigir um pouco desta tendência, afirma Zaman. Embora não conseguissem comporvar matematicamente coisa alguma, suas simulações mostraram que o algorítimo ajustado trabalhava melhor com cenários realísticos

“Eu nem finjo que é um algorítimo revolucionário”, diz Zaman. “É uma ideia legal, mas de natureza teórica”.

Com efeito, outros pesquisadores vêm desenvolvendo algorítimos para descobrir fontes de rumores em cenários mais realísticos, contou Lei Ying  da Arizona State University em Tempe, o qual, juntamente com Kai Zhu, desenvolveu  um algorítimo que lida com uma rede mais realística, chamado de gráfico aleatório Erdos-Renyi.

“Claro que os resultados são ainda iniciais”, comentoui Ying acerca do trabalho de Shah e Zaman. “Dada sua rede, eles são capazes de quantificar a probabilidade de detecção — o que é uma contribuição muito significativa para a teoria”.

De fato, o estudo de 2010 ajudou a inspirar toda esta área de pesquisa referente a rumores, inclusive seu próprio trabalho, declarou Ying.

“Quando li o artigo pela primeira vez, imediatamente fiquei interessado pelo problema. Agora eu tenho vários estudantes debruçados sobre isto”, disse ele. Por exemplo, Ying está explorando casos ainda mais realísticos, como aqueles onde não se sabe o quanto o rumor se espalhou.

“São aplicações muito importantes”, diz ele. “Vivemos em um mundo cada vez mais conectado. A difusão de informações acontece todos os dias”.


Marcus Woo é um escritor de ciências freelance, residente na área da Baía de San Francisco, que já escreveu para Wired, BBC Earth, BBC Future, National Geographic News e outras publicações. Seu Tweeter é @sucramoow.

O sistema em rede quebrou?… Sem problemas: quebre mais um pouco.

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Traduzido de: If A Network Is Broken, Break It More

Publicado originalmente em 16 de julho de 2013.
Por: Sophie Bushwick, contribuidora do ISNS
Crédito da Imagem:

Andrew Imanaka via flickr | http://bit.ly/1aM9uH0
Informações sobre direitos: 

Pequenos ajustes podem melhoram o estado de todo um sistema.

(ISNS) — Desde a World Wide Web até a rede de distribuição de energia elétrica, todas as redes são notoriamente difíceis de controlar. Um defeito em um único ponto do sistema pode se espalhar rapidamente e afetar a porcaria toda. Mas este problema pode ser sua própria solução: causar seletivamente mais danos a outras partes da rede, pode trazer todo o sistema a um estado melhor.
Qual é a grande importância em ser capaz de manipular redes? Esses sistemas complexos são onipresentes em nosso dia-a-dia, desde sistemas de telecomunicações, até as redes de neurônios que formam as memórias em nossos cérebros.
Infelizmente, um tranco que atinja uns poucos nodos de uma rede pode fazer o sistema todo dar defeito. Por exemplo, a rede de energia elétrica: umas poucas linhas de cabos de energia interrompidas podem desencadear um apagão de grandes proporções. E são precisos um bocado de trabalho e materiais caros para consertar os componentes quebrados.
E se, em lugar de substituir os cabos quebrados, nós pudéssemos restaurar toda a rede, desligando estrategicamente mais algumas linhas? É justamente isto que os pesquisadores da Universidade Northwestern em Evanston, Illinois, pretendem fazer, porém em mais coisas do que somente na rede elétrica. Em um artigo publicado na Nature Communications, os cientistas delineiam um novo método para controlar qualquer rede complexa.
A técnica tira vantagem do quanto uma rede é interconectada. “Como esses sistemas são conectados, uma perturbação que poderia ser deletéria, tal como uma doença, pode se espalhar pelo sistema e afetar coisas além daquela inicialmente atacada”, explica o autor principal do artigo, o estudante de pós-graduação da Northwestern, Sean Cornelius.
Entretanto, são essas próprias conexões que tornam a manipulação de uma rede muito mais fácil. “Em geral, é possível combater fogo com fogo”, prossegue Cornelius. “Da mesma forma que se pode cutucar um sistema de forma errada e causar danos, que tal se pudéssemos perturbá-lo de uma forma a curá-lo?”
Tomemos como exemplo a rede de interações dentro de uma célula. Se você inibir um gene importante, pode danificar a taxa de crescimento da célula. No entanto, é possível reparar esse dano, não pela substituição do gene perdido, o que é uma tarefa próxima do impossível, mas através da remoção de outros genes.
A chave reside em encontrar as modificações específicas que levem uma rede de um estado indesejável A a um estado preferível B. O modelo matemático de Cornelius fornece um método genérico para descobrir estas mudanças em qualquer rede, desde o metabolismo de uma única célula, até toda uma cadeia alimentar.
Por exemplo, quando uma espécie invasora entra em um ecossistema, ela compete com as espécies nativas pelos recursos disponíveis. A solução óbvia seria eliminar os invasores – só que isso pode ser incrivelmente difícil. Em lugar disto, sugere Cornelius, se pode exterminar a fonte de alimento dos invasores, levando-os à extinção. Neste caso, umas poucas espécies seriam sacrificadas para salvar o ecossistema como um todo.
Pesquisas anteriores aplicaram métodos similares para sistemas específicos, tais como células e ecossistemas, porém o novo estudo visa as redes em geral. “Anteriormente, nossa pesquisa se focalizou em sistemas particulares”, conta Cornelius, “mas não havia uma teoria unificadora que demonstrasse que isso seria possível em redes genéricas”. Esperamos que nosso método seja amplamente aplicável a qualquer que seja sua rede escolhida”.
Para aumentar sua precisão, o novo método emprega um modelo complexo de rede. “Eles acharam algumas novidades, empregando análise não-linear”, comentou um outro pesquisador de redes, Frank Doyle da Universidade da Califórnia em Santa Barbara. Redes são sistemas não-lineares, porém Doyle e vários outros pesquisadores as abordam como se fossem lineares.
Em um sistema linear, uma pequena mudança produz uma pequena resposta. Por exemplo, se você aumentar um pouco um termostato, seu ambiente supostamente deve se aquecer um pouco. No entanto, em certos prédios de escritórios, parece que ajustar o termostato um pouquinho para cima faz a temperatura passar de um tremendo frio para um calor insuportável. Esta resposta desproporcionalmente grande é típica de um sistema não-linear e é que os torna muito difíceis de modelar matematicamente.
Outra característica de um sistema não-linear é que ele pode conseguir estabilidade em mais do que um estado possível, coisa que vem a calhar para a equipe de Cornelius. “Já que são possíveis vários resultados, podemos, mediante ajustes judiciosos, levar a rede de um estado ruim para um bom”, sublinhou Cornelius. “Muito embora a não-linearidade complique as coisas, ela também fornece um mecanismo para controlar a rede”.
Porém tanto faz você escolher um modelo linear ou não-linear: ambos simplificam as circunstâncias do mundo real. “A não-linearidade é um passo na direção certa, mas existem outras complexidades nessas redes na natureza que realmente tornam as coisas muito difíceis”, enfatizou Doyle. “Um método que emprega modelos matemáticos é, por definição, um método aproximativo”.

Sophie Bushwick é uma escritora de ciências freelance da cidade de Nova York. Seus trabalhos foram publicados em diversos meios impressos e online.

As espumas de bolhas e você


University of Bath

Um novo estudo sobre bolhas e espumas da Universidade de Bath

 


IMAGEM:
Ilustração do formato proposto po
Ruggero
Gabbrielli (Universidade de Bath) para solucionar o “Problema de Kelvin”.

Créditos e imagem original.

Um pesquisador da Universidade de Bath descobriu um novo método para solucionar um velho problema de geometria: a modelagem de formas geométricas para obter os formatos de maior eficiência para aproveitar um espaço.

A descoberta está causando ondas não só no mundo da matemática, como também pode levar a avanços na medicina quanto à criação de novas próteses de quadril e outras próteses para pacientes com câncer ósseo.

O “Problema de Kelvin”, colocado por Lord Kelvin em 1887, é encontrar a maneira mais eficiente de dividir o espaço em células de volume igual com a menor área de superfície entre elas.

A solução de Kelvin para o problema foi um favo de octaedros truncados – formas com seis faces quadradas e oito faces hexagonais.

Os físicos Weaire e Phelan do Trinity
College Dublin encontraram uma solução melhor com uma estrutura de favos que inspirou a arquitetura revolucionária do “Cubo d’água” que fez sensação na Olimpíada de Pequim em 2008.


IMAGEM:
Ilustração do formato proposto po
Ruggero
Gabbrielli (Universidade de Bath) para solucionar o “Problema de Kelvin”.
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Créditos e imagem original.

A estrutura de Weaire-Phelan é composta de duas formas diferentes: um dodecaedro (um poliedro com 12 faces) pentagonal irregular e outro poliedro com 14 faces.

Enquanto estudava as estruturas em forma de favos para próteses ósseas para seu PhD em Engenharia Mecânica na Universidade de Bath, Ruggero Gabbrielli
engendrou uma maneira diferente de modelar matematicamente espumas. A estrutura proposta por ele é composta de quatro formatos diferentes que se encaixam entre si.

Embora esses novos formatos não sejam superiores à estrutura
Weaire-Phelan em termos de eficiência de compactação, os processos que ele usou contituem uma maneira inteiramente nova de abordar o problema e podem levar até mesmo à descoberta de uma solução melhor para o Problema de Kelvin.

Ruggero, que completou seu PhD e continua sua pesquisa na Universidade de Swansea, explica:

— Eu espero que o processo leve a uma solução ainda melhor do Problema de Kelvin, ou então a uma prova de que a estrutura
Weaire-Phelan é a melhor solução.

— O processo emprega uma equação diferencial parcial, bem conhecida na formação de padrões bi-dimensionais.
A novidade está em que eu a usei no problema da modelagem de espumas em três dimensões.

E as estruturas criadas por ele também são bem mais próximas daquelas criadas pela natureza. Sua estrutura e seu processo, publicados em Philosophical Magazine Letters, já chamaram a atenção de matemáticos, químicos e físicos pelo mundo inteiro.

Como diz Ruggero:

— Não se trata apenas de uma espuma de bolhas. Padrões tri-dimensionais aparecem espontaneamente em várias obras da natureza.


Média e Mediana

Eu me meto em cada uma… O Daniel, muito lampeiro, meteu no “It’s Equal but it’s different” um link para um artigo muito interessante. E eu, todo bobo, pensei: vale a pena traduzir!…
Realmente vale… Mas vai ficar cheio de “notas do tradutor” porque é cheio de trocadilhos (a começar pelo título).

Who’s Counting: It’s Mean to Ignore the Median
[e lá vai a primeira N.T: “Who’s counting” pode ser traduzido tanto por “Quem está fazendo as contas?”, como por “Quem se importa?”; “mean” tanto pode ser “média, meio”, como, no sentido implícito no título, “mesquinho”; e “median” pode ser tanto “mediana”, como “medíocre”]
Fazendo a leitura dos números da economia pelos pontos de vista dos Democráticos e dos Republicanos.
6Ago2006 — Acreditem ou não, a maneira diferente com que os Democratas e os Republicanos reagem ao desempenho da economia dos EUA, é esclarecida por uma distinção matemática ensinada no 1º grau. A distinção é entre a média, que é onde os republicanos põem ênfase, enquanto que os democratas preferem a mediana. Antes de passarmos à economia, deixem-me revisar um pouco de matemática de 4ª série.
A Média e a Mediana
A média de um conjunto de valores numéricos é, simplesmente, um valor intermediário e é obtida somando-se todos os valores e dividindo o valor total pela quantidade de valores. A mediana de um conjunto de valores é obtida listando-se os valores em ordem crescente e localizando o valor que fica no meio da lista. O mesmo conjunto de valores pode ter uma média e uma mediana extremamente diferentes.
Um corretor de imóveis, por exemplo, lhe diz que o preço médio de uma casa em um determinado bairro é de $ 500.000, deixando implícito que não existem muitas casas acima desse preço no bairro. Não necessariamente. Se a maior parte das casas valerem entre $ 100.000 e $ 200.000, e existam umas poucas mega-mansões multimilionárias, o preço médio no bairro pode ser $ 500.000, mesmo que a mediana seja, por exemplo, $ 160.000.
Ou se um vendedor lhe disser que a comissão mediana dele, em nove vendas efetuadas nesta semana, foi de $ 80, deixa implícito que ele faturou, portanto, $ 720 nessas vendas. Pode ser, mas ele pode ter faturado milhões, se uma dessas vendas foi enorme, ou ele pode ter faturado pouco mais de $ 400 se quatro das vendas derem uma comissão perto de $ 0 e as outras cinco forem $ 80, ou pouco mais.
A economia
A relevância desta distinção fica aparente nos recém-liberados números sobre a economia dos EUA para 2004, o último ano para os quais existem dados completos. Os republicanos apregoam que a economia cresceu a saudáveis 4,2% (desaqueceu, desde então). Os democratas apontam para os dados do Bureau do Censo [N.T: o IBGE deles] para o mesmo ano (e também nos anteriores), indicando que a renda mediana das famílias caiu e aumentou a pobreza.
Os economistas Thomas Piketty e Emmanuel Saez, que estudaram longamente a distribuição de renda, viram recentemente os dados e calcularam que, durante este período de apenas um ano, os rendimentos reais dos 1% mais ricos (aqueles que ganham caima de US$ 315.000 por ano), cresceu de quase 17%. Mais ainda, este crescimento na renda, não só ultrapassou o das classes baixa e média, mas ultrapassou, e muito, o da alta-classe-média, também.
O aumento da renda destes 5% cujas rendas são maiores do que 95% dos demais americanos, foi quase mínima. Os enormes aumentos de renda foram para aqueles que já tinham rendas enormes. De fato, metade do crescimento da renda desses 1% do topo, foi para o os 0,1% no topo deste 1%!
E o salário mínimo? O menor poder aquisitivo real desde a década de 1950. E a renda do típico recém-formado em curso superior? Caiu em 2004.
Esta dinâmica de ricos-ficam-mais-ricos não é coisa nova. A tendência de crescimento de “surfeiros” de Internet, motoristas de fim de semana, pequenos investidores no mercado, bem como uma pletora de medidas de qualidade-de-vida, sociais e financeiras sugerem um fenômeno generalizado, usualmente descrito como progressões potenciais em matemática.
Ao longo de diversas dimensões sociais, a dinâmica subjacente a essas progressões pode levar ao desenvolvimento de flagrantes deisgualdades, que parecem estar crescendo, não só aqui, mas em todo o mundo. As Nações Unidas emitiram um relatório, poucos anos atrás, dizendo que o valor líquido das três famíliar mais ricas do mundo – as famílias Gates, o Sultão de Brunei e os Waltons da Wal-Mart – superava o PIB das 43 nações mais pobres.
Filosofia e um Pequeno Jogo
Ainda assim, esse desnível não é necessário, nem inevitável, e traz males para a sociedade civil. Há quase 2.400 anos atrás, Aristóteles, ao ver a discordia entre os ricos e pobres da Grécia Antiga, aplicou sua idéia da regra áurea para uma distribuição equitativa (mas não igualitária) da renda. Para trazer estabilidade, ele favorecia o estabelecimento de uma forte classe média e políticas governamentais para auxiliar esse estabelecimento.
Um pequeno jogo do campo do comportamento financeiro ilustra o que é o ressentimento de classe que Aristóteles descrevia. O assim chamado “Jogo do Ultimato” geralmente envolve dois jogadores. A um, o experimentador dá uma certa quantia em dinheiro, digamos $ 100, e ao outro se dá uma espécie de poder de veto. O primeiro jogador pode oferecer qualquer fração diferente de zero dos $ 100 ao segundo jogador. Se ele aceitar, recebe qualquer quantia que o primeiro jogador tenha oferecido e o primeiro fica com o troco. Se ele rejeitar, o experimentador toma o dinheiro de volta.
Em termos racionais de teoria dos jogos, se poderia pensar que é do interesse do segundo jogador aceitar qualquer oferta, uma vez que qualquer soma é melhor do que nada. Não é o que acontece, entretanto. As ofertas costumam variar de 5 a 50% do dinheiro envolvido, porém, quando julgadas muito pequenas, as ofertas costumam ser rejeitadas. Melhor não receber nada, dizem os rejeitantes ressentidos, do que ser humlhado. Noções tais como justiça e eqüidade, bem como raiva e vingança, parecem ter seu papel.
Como se eu tivesse pedido uma ilustração, logo que acabei de escrever este artigo, a Câmara aprovou um modesto salário-mínimo, mas, tipicamente, ligado a um significativo corte no imposto sobre propriedades. Mais uma vez, um para você, dez para mim (parece que a Lei não deve passar no Senado, entretanto).
Então será que Aristóteles era um Democrata de carteirinha? Não. Eu acho que ele só estava expressando um bom senso econômico, cada vez menos comum. É mesquinharia ignorar os medíocres. [no original: “It’s mean to ignore the median.”]
O Professor de Matemática na Universidade Temple, John Allen Paulos é autor de best-sellers tais como “Innumeracy” (N.T: uma possível tradução seria “Analgaritimia”, por semelhança com “analfabetismo”) e “A Mathematician Plays the Stock Market” (“Um matemático joga no mercado de ações”) . Sua coluna “Who’s Counting?” em ABCNEWS.com é publicada no primeiro fim de semana de cada mês.
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E ainda fazem esse escarcéu todo sobre a desigualdade da distribuição de renda no Brasil. Agora, considere que quem ganha entre R$ 1.000 e R$ 1.400 no Brasil, é “classe média” (eu sou um “Marajá”…); daí para cima, são os 10% de “privilegiados” que pagam Imposto de Renda, nas módicas alíquotas de 15 e 27,6% (era para ser 25%, mas ficou “definitivamente provisório”, tal como a maldita CPMF…).
Eu acho muita sacanagem equiparar quem ganha R$ 5.000 e R$ 50.000, principalmente porque certas deduções têm limites ridículos, tais como educação e dependentes. E, em um país onde falta emprego formal, não se poder deduzir integralmente todo o custo de um trabalhador doméstico, enquanto as empresas deduzem os salários como “custo operacional”, já nem é sacanagem: é falta de vergonha na cara, mesmo!
Mas o pior é o “imposto embutido” (porque não é só ICMS e quejandos sobre o produto final que você compra no mercado ou na papelaria… cada vaca e a terra onde ela pasta, pagam impostos; a usina onde o leite é processado, paga impostos e as infames “contribuições sociais”; o transporte do leite paga IPVA, todos os impostos sobre combustíveis e, de vez em quando, um pedágio ou outro; fora os impostos em outros insumos indiretos tais como 33% em cima das contas de energia elétrica, em cada prédio por onde o leite passou, 33% em cima das contas de telefonia, “Alvarás Municipais” para o estabelecimento comercial; PIS, COFINS e CPMF durante todo o trajeto do dinheiro que paga cada etapa; e mais algumas que não me vêm a memória): este xorrilho de impostos acaba batendo no bolso de quem vai comprar uma lata de ervilhas, seja eu, seja o Bill Gates, ou seja o Zé Mané que trabalha de auxiliar de pedreiro, durante o dia, e vigia, durante a noite – sem carteira assinada, é claro (qual é o empregador pobre como o dono de uma quitanda ou síndico de condomínio que pode se dar ao luxo de assinar carteira?…)
Mas nossos Partidos de “esquerda” e “centro-esquerda” acham que arrancar o couro da classe média (enquanto pagam os juros mais altos do mundo para os pobrezinhos dos banqueiros) é “redistribuição de renda”… Nós pagamos impostos, o Valério enche a mala e o Duda Mendonça manda para as Ilhas Virgens (que deve ter um povo paupérrimo, já que os brasileiros não param de mandar dinheiro para lá…)

Pit-bulls e outras generalizações erradas…

Salve, Pessoal!
Eu não acredito que levei desde o dia 02 de fevereiro para traduzir este artigo… Está bem… ele é longo e escrito em um inglês extremamente idiomático… mas não era para ter demorado tanto.
Eu cheguei a este artigo da revista The New Yorker por um link no Blog do Daniel, em 2 de fevereiro, na matéria geral The Interesting Bits of Yesterday. O interesse dele no artigo é mais dirigido à intodução do fator “tempo” na própria coleta de dados estatísticos e dos aspectos matemáticos envolvidos na atividade conhecida como “profiling”. A tradução literal em português seria “estabelecer um perfil”, ou eu poderia recorrer a um neologismo, tal como “perfilizar”. Mas, como eu não sou um purista e falo “deletar” e outros estrangeirismos, vou deixar “profiling” sem tradução.
O artigo me chamou particularmente a atenção porque trata da imbecilidade com que se costuma fazer os “profilings”, e guarda correlação direta com dois outros assuntos que já foram tratados neste Blog: o “profiling” criminosamente errado que levou ao assassinato de Jean Charles de Menezes pela, supostamente eficiente, Scotland Yard, e as considerações tecidas pelo autor de “Por que pessoas espertas defendem más idéias”. E também porque trata de generalizações apressadas, feitas por idiotas assustados, sobre a periculosidade de coisas sobre as quais elas não conhecem sequer a orelha do livro. O link para o artigo original eu já publiquei. Então, lá vai a tradução:

Criadores de Problemas
O que os pit-bulls podem nos ensinar sobre “profiling”.
por MALCOLM GLADWELL
Edição de 06/02/2006
Postado em 30/01/2006
Em uma tarde de Fevereiro passado, Guy Clairoux pegou seu filho de dois anos e meio, Jayden, da creche e o trouxe pela mão para sua casa na zona oeste de Ottawa, Ontario. Eles estavam quase em casa. Jayden ia se arrastando atrás do pai e, quando seu pai vriou-lhe as costas, um pit-bull saltou a cerca de um quintal e atacou Jayden. «O cão tinha a cabeça dele entre os dentes e começou a balançá-la», disse mais tarde a mulher de Clarioux, JoAnn Hartley. Enquanto ela via horrorizada, mais dois pit-bulls saltaram a cerca, juntando-se ao ataque. Ela e Clarioux vieram correndo e ele socou a cabeça do primeiro cachorro, até que ele largasse Jayden, e então jogou o menino para a mãe. Hartley caiu por cima de seu filho, protegendo-o com seu corpo. Clarioux gritou «JoAnn!» – enquanto os três cães se lançavam sobre sua mulher – «Cubra seu pescoço, cubra seu pescoço!» Uma vizinha, que assistia pela janela, gritou por socorro e seu parceiro e um amigo, Mario Gauthier, correram para fora. Um garoto das vizinhanças pegou em seu taco de hockey e jogou-o para Gauthier. Ele começou a bater com o taco na cabeça de um dos cachorros, até que o taco quebrou. «Eles não paravam», disse Gauthier, «Assim que você parava, eles atacavam de novo. Eu nunca vi um cachorro tão louco. Eles pareciam Diabos da Tasmânia». A polícia chegou. Os cães forram arrastados para longe e os Clarioux e um dos salvadores foram levados a um hospital. Cinco dias após, o Legislativo de Ontário proibiu a propriedade de pit-bulls. «Do mesmo jeito que não permitiríamos que um grande tubarão branco ficasse em uma piscina», declarou o Procurador Geral da Província, Michael Bryant, «talvez não devesemos ter esse tipo de animal em ruas civilizadas».
Os pit-bulls, descendentes dos bulldogs usados no século dezenove para lutas com touros e com outros cães, foram criados para serem “competitivos” e, assim, terem uma menor inibição contra a agressão. A maioria dos cachorros brigam como último recurso, quando encarar e rosnar falha. Um pit-bull quer brigar com pouca ou nenhuma provocação. Pit-bulls parecem ter uma grande tolerância à dor, tornando possível lutarem até a exaustão. Enquanto os cães de guarda, tais como pastores alemães, usualmente tentam conter aqueles que eles percebem como uma ameaça, mordendo e segurando, os pit-bulls tentam inflingir máximo de danos a seus oponentes. Eles mordem, prendem, sacodem e rasgam. Eles não rosnam ou arreganham os dentes, como aviso. Eles simplesmente atacam. «Eles freqüentemente são insensíveis a comportamentos que, usualmente, param com a agressão», diz um relatório científico sobre a raça. «Por exemplo, cães que não são criados para a luta, geralmente mostram sua desistência de brigar, rolando de costas e exibindo sua barriga. Em várias ocasiões foram relatados casos em que os pit-bulls esventraram outros cachorros que davam este sinal de submissão». Em estudos epidemiológicos de mordidas de cachorros, o pit-bull é o mais conhecido cão que se sabe que matou ou feriu seriamente seres humanos e, como resultado, os pit-bulls foram banidos ou restritos em muitos países do Oeste Europeu, na China e várias cidades por toda a América do Norte. Pit-bulls são perigosos.
É claro, nem todos os pit-bulls são perigosos. A maioria não morde ninguém. Enquanto isso, Dobermans, Dinamarqueses, Pastores Alemães e Rottweilers são também freqüentes mordedores, e o cachorro que recentemente desfigurou o rosto de uma mulher francesa a tal ponto que ela teve que receber o primeiro transplante de rosto do mundo, de todas as raças, era um Retriever do Labrador. Quando dizemos que pit-bulls são perigosos, nós estamos fazendo uma generalização, justamente como companhias de seguros usam generalizações quando cobram mais de pessoas jovens pelo seguro de automóveis do que do restante das pessoas (muito embora muitos jovens sejam motoristas perfeitamente bons), e os doutores usam generalizações quando dizem a homens de meia-idade acima do peso para manterem seu colesterol sob controle (embora muitos homens de meia-idade acima do peso não tenham problemas cardíacos). Porque não sabemos qual cachorro vai morder alguém, quem vai ter um ataque cardíaco, ou quem vai se envolver em um acidente, nós podemos fazer previsões somente mediante o uso de generalizações. Como o jurista Frederick Schauer observou, «pintar com largas pinceladas é uma quase sempre inevitável, e freqüentemente desejável, dimensão de nossas vidas em termos de tomada de decisões».
Uma outra palavra para generalização, entretanto, é “estereótipo” e estereótipos não são, usualmente, considerados dimensionamentos desejáveis para a tomada de decisões em nossas vidas. O processo de passar do específico ao genérico é tanto necessário quanto perigoso. Um médico poderia, com um certo apoio estatístico, fazer generalizações acerca de homens com uma certa idade e peso. Mas e se a generalização feita a partir de outras causas – tais como pressão sangüínea alta, histórico familiar e tabagismo – salvar mais vidas? Por trás de cada generalização, há uma escolha de fatores a considerar e outros a descartar, e essa escolha pode se provar surpreendentemente complicada. Depois do ataque sofrido por Jayden Clarioux, o governo de Ontario escolheu fazer uma generalização sobre pit-bulls. Mas poderia ter escolhido fazer uma generalização sobre cães poderosos, ou sobre o tipo de pessoas que têm cães poderosos, ou acerca de crianças pequenas, ou sobre cercas de quintais, ou, na verdade, sobre qualquer número de coisas relacionadas com cães, pessoas e lugares. Como podemos saber se fizemos o tipo certo de generalização?
Em Julho do ano passado, após os atentados a bomba nos transportes londrinos, o Departamento de Polícia da Cidade de Nova York anunciou que ia mandar policiais para dentro dos metros para realizarem revistas aleatórias em volumes conduzidos por passageiros. A primeira vista, realizar buscas aleatórias para descobrir terroristas – em oposição a se guiar por generalizações – parece uma idéia tola. Como escreveu um colunista de Nova York, na época, «Não somente “a maior parte”, mas quase todos os jihadi que cometeram atentados contra alvos Europeus ou Americanos, foram jovens homens Árabes ou Paquistaneses. Em outras palavras, você pode prever, com um bom grau de certeza, como se parece um terrorista da Al Qaeda. Do mesmo modo como sempre soubemos como se parece um mafioso – embora compreendamos que somente uma fração infinitesimal dos ítalo-americanos sejam membros da quadrilha.
Mas, espere aí: será que nós realmente sabemos como “se parecem” os mafiosos? No filme “O Poderoso Chefão”, onde a maioria de nós tirou seu conhecimento sobre a Máfia, os homens da família Corleone foram interpretados por Marlon Brando, de ascendência irlandesa e francesa, James Caan, que é judeu, e dois ítalo-americanos, Al Pacino e John Cazale. Se nos basearmos em “O Poderoso Chefão”, os mafiosos se parcem com homens brancos descendentes de europeus. o que, em termos de generalizações, não é de grande ajuda. Imaginar com o que se parece um terorrista islâmico, não parece ser mais fácil. Muçulmanos não são como os Amishes: eles não se vestem com roupas identificáveis. E eles não se parecem com jogadores de basquete; não vêm em formatos e tamanhos predizíveis. O Islam é uma religião que abrange todo o globo.
«Nós temos uma política contrária ao “profiling” racial», me disse Raymond Kelly, Comissário de Polícia da Cidade de Nova York. «Eu puz isso em vigor em Março do primeiro ano desde que cheguei aqui. É a coisa errada a fazer e também é ineficaz. Se você for ver os ataques a bomba em Londres, você vai ver três cidadãos britânicos de origem paquistanesa. Você tem Germaine Linday que é jamaicano. Você tem a próxima equipe, de 21 de julho, que eram do Leste Africano. Você tem uma mulher chechena, no início de 2004 que se explodiu em uma estação de metro em Moscou. Então de quem você vai fazer o “profile”? Olhe para a Cidade de Nova York. Quarenta por cento dos novayorquinos nasceram fora deste país. Veja a diversidade aqui. De quem eu devo fazer um perfil?»
Kelly estava evidenciando o que se pode chamar de “problema de categorização” no “profiling”. Generalizações envolvem enquadrar um categoria de pessoas com um comportamento, ou “homens de meia idade acima do peso” com “risco de ataque cardíaco”, ou “homens jovens” com “dirigir perigosamente”. Mas, para que esse processo funcione, você tem que saber tanto definir, como identificar a categoria que você está generalizando sobre. «Você pensa que os terroristas não sabem como é fácil ser caracterizado pela sua entia?» prossegue Kelly. «Veja os sequestradores de 11 de setembro. Eles vieram para cá. Eles rasparam as barbas. Eles frequentaram bares de “topless”. Eles queriam “se misturar”. Eles queriam parecer com pessoas que fizessem parte do “sonho americano”. Estas não são pessoas tolas. Poderia um terrorista se vestir como um Judeu Ortodoxo, entrar no metro e não se encaixar no “profiling”? Sim. Eu acredito que tentar um tal “profiling” é pura loucura».
Proibições de pit-bulls envolvem um problema de categorias, também, porque pit-bulls, como se sabe, não são uma única raça. O nome se refere a cães que pertencem a várias raças próximas, tais como o Stafforshire Terrier Americano, o Staffordshire Bull Terrier e o Pit Bull Terrier Americano, todos eles com um corpo quadrado e musculoso, um focinho curto e uma pelagem lisa e curta. Assim, a proibição de Ontário proíbe não só essas raças, mas “qualquer cão que tenha uma aparência e características físicas substancialmente similares” às mesmas; o termo empregado é “cães do tipo pit-bull”. Mas o que isso significa? Um mestiço de de American Pit Bull Terrier com Golden Retriever é um cão do “tipo pit-bull” ou do tipo “golden retriever”? Se pensar que terriers musculosos é uma generalização, então pensar que cães perigosos são qualquer cão substancialmente parecidos com um pit-bull, é uma generalização sobre uma generalização. «Do jeito que essas leis são redigidas, pit-bulls são o que eles disserem que é um», diz Lora Brashears, uma gerente de canil na Pennsylvania. «E, para a maior parte das pessoas, isso significa apenas grandes, malvados e assustadores cachorros que mordem».
O objetivo dessas proibições de pit-bulls, obviamente, não é proibir cães que pareçam com pit-bulls. A aparência é uma personagem para o “temperamento de pit-bull” – para alguns traços que esses cães partilham. Mas essa “pit-bulleza” é algo indefinido, também. As caracterísitcas supostamente problemáticas do tipo pit-bull – sua disposição, sua determinação, sua insensibilidade à dor – são especialmente dirigidas a outros cães. Pit-bulls não foram criados para lutar com pessoas. Ao contrário: um cão que se voltasse contra os espectadores, ou seu “handler”, ou treinador, ou qualquer uma das várias pessoas envolvidas no processo de tornar um cão de briga em um bom cão de briga, usualmente era sacrificado. (A regra no mundo dos pit-bulls era: “Comedores de pessoas morrem”).
Um grupo, com sede na Georgia, chamado “American Temperament Test Society” (Sociedade Americana de Verificação de Temperamentos) fez vinte e cinco mil cães passarem por um teste padronizado, com dez etapas, projetado para avaliar a estabilidade, timidez, agressividade e amistosidade dos cães, na companhia de pessoas. Um “handler” traz um cachorro por uma guia de dois metros e julga sua reação a estímulos, tais como disparos de armas, a abertura de um guarda-chuva e um estranho, vestido de maneira esquisita, aproximando-se de maneira ameaçadora. Oitenta e quatro por cento dos pit-bulls submetidos ao teste passaram, o que os coloca a frente de beagles, Airedales, collies e todas, menos uma, variedades de daschund. «Nós testamos cerca de mil cães do tipo pit-bull», diz Carl Herkstroeter, presidente da ATTS. «Eu próprio testei metade deles. E, de todos os que eu testei, eu desqualifiquei apenas umpor causa de sua tendência agressiva. Eles se sairam extremamente bem. Eles têm um bom temperamento. Eles se dão muito bem com crianças». Pode-se até argumentar que os mesmos comportamentos que os tornam tão agressivos com outros cães, são os que os tornam tão adequados aos humanos. «Há, hoje em dia, vários pit-bulls licenciados como cães de terapia», enfatiza a escritora Vicki Hearne. «Sua estabilidade e resolução tornam-no excelente para trabalhar com pessoas que poderiam não gostar de um cachorro mais brincalhão e travesso. Quando os pit-bulls se resolvem a prover conforto, eles o fazem com a mesma determinação com que lutam, mas o que eles estão resolutos a fazer é serem gentís. E, como eles são destemidos, eles podem ser gentís com qualquer pessoa».
Então quais são os pit-bulls que se metem em confusão? «Os que a legislação pretende atingir são aqueles cujas tendências agressivas são selecionadas pelo criador, treinadas pelo adestrador, ou reforçadas pelo proprietário», diz Herkstroeter. Um pit-bull malvado é um cão tornado malvado, por reprodução seletiva, sendo cruzado com uma raça maior e capaz de agredir pessoas, como Rottweilers ou Pastores Alemães, ou por ser condicionado de maneira a que comece a exibir hostilidade para com pessoas. Um pit-bull só é perigoso para pessoas, não na medida em que expressa sua “pit-bulleza”, mas na medida em que se desvia dela. Uma proibição de pitbulls é uma generalização sobre uma generalização, acerca de uma característica que não é, na verdade, geral. Isso é um problema de categorização.
Uma das coisas que causam perplexidade na Cidade de Nova York é que, após as enormes e bem divulgadas reduções da criminalidade nos meados da década de 90, a taxa de criminalidade continuou a cair. Nos últimos dois anos, por exemplo, os assassinatos em Nova York diminuiram em quase dez por cento, os estupros em doze por cento e os assaltos em mais de dezoito por cento. Somente no ano passado, o furto de carros diminuiu em 11,8%. Em uma lista de duzentas e quarenta cidades nos Estados Unidos com uma população de cem mil ou mais habitantes, Nova York ocupa a ducentésima vigésima segunda colocação em crimes, lá no fundo da lista, junto com Fontana, Califórnia, e Port St. Lucie, Florida. Na década de 90, a redução da criminalidade foi atribuída a grandes e óbvias modificações na vida e no governo da cidade – o declínio do tráfico de drogas, à revitalização do Brooklin, à implementação da política de “tolerância zero” de policiamento. Mas todas essas grandes mudanças ocorreram há uma década atrás. Por que a criminalidade ainda está caindo?
A explicação pode ter a ver com uma mudança nas tática policiais. O NYPD (Departamento de Polícia de Nova York) tem um mapa computadorizado que exibe, em tempo real, precisamente onde estão sendo relatados crimes sérios, e, a qualquer momento, o mapa tipicamente mostra alguns pontos, constantemente em mutação, das zonas “quentes”, algumas tão pequenas como dois ou três quarteirões. O que o NYPD tem feito, sob o comando do Comissáro Kelly, é usar esse mapa para criar “zonas de impacto” e para enviar policiais recém-formados – que, usualmente, eram distribuídos eqüanimemente entre os distritos policiais – para essas zonas, em certos casos chegando a duplicar o número de policiais na vizinhança imediata. «Nós pegamos dois terços dos recém-formados e juntamo-os a policiais experientes, e nos focalizamos nessas áreas», declarou Kelly. «Bom, o que aconteceu é que, com o tempo, nós conseguimos uma média de redução da criminalidade de 35%, em média, nessas “zonas de impacto”».
Ao longo dos anos, os experts sustentaram que a incidência do crime era “inelástica” com relação à presença da polícia – que as pessoas cometiam crimes por causa de pobreza e psicopatologia e disfunções culturais, ao par com motivos e oportunidades espontâneos. A presença de mais alguns policiais extras no quarteirão, pensava-se, não faria muita diferença. Mas a experiência do NYPD sugere o contrário. Mais policiais significa que alguns crimes são evitados, outros resolvidos com mais facilidade, e que outros, ainda, são deslocados para outros lugares – o que Kelly acha algo positivo, porque rompe com os padrões e práticas e as redes sociais que servem como base para a contravenção. Em outras palavras, a relação entre a Cidade de Nova York (uma categoria) e a criminalidade (uma característica) é instável, e esse tipo de instabilidade é outro motivo pelo qual nossas generalizações descarrilham.
Por que será que, por exemplo, uma generalização do tipo “todo o mundo sabe que” “os Kenyanos são bons fundistas” é boa? Não só porque é estatisticamente comprovável hoje em dia. Isso é verdade há mais de meio século e a corrida de fundo no Kenya é uma tradição tão arraigada que seria necessário um fato cataclísmico para mudar isso. Em contraste, a generalização de que “Nova York é uma cidade de alta criminalidade” já foi verdade e agora, manisfestamente, não é mais. Pessoas que se mudaram para Port St. Lucie, porque pensavam que ficariam muito mais seguras do que em Nova York, podem estar, de repente, na situação de terem feito a aposta errada.
A questão da instabilidade é um problema para o “profiling” no combate ao crime, também. O professor de Direito David Cole uma vez realizou um levantamento dos traços que os agentes da Agência de Narcóticos (Drug Enforcement Agency – DEA), vinham usando, há anos, para fazer generalizações sobre suspeitos de tráfico. Eis um exemplo:
Chega tarde da noite; chega cedo de manhã; chegou de tarde; foi um dos primeiros a descer o avião; um dos últimos a descer do avião; saiu do avião no meio; comprou a passagem no aeroporto; fez reservas na última hora; comprou passagem da classe econômica; comprou passagem de primeira classe; usou uma passagem só de ida; comprou uma passagem de ida-e-volta; pagou a passagem com dinheiro vivo; pagou a passagem com notas de baixo valor; pagou a passagem com notas de alto valor; fez ligações locais após o desembarque; fez ligações interurbanas após o desembarque; fingiu estar fazendo ligações; viajou de Nova York a Los Angeles; viajou para Houston; não levava bagagem; usava bagagem recém-adquirida; levava uma pequena bagagem de mão; portava uma bagagem de mão de tamanho médio; carregava duas sacolas de roupa volumosas; portava duas malas pesadas; carregava quatro peças de bagagens; tomava cuidado demasiado com a bagagem; deixava a bagagem de lado; viajava sozinho; viajava acompanhado; parecia muito nervoso; parecia calmo demais; encarou o policial; evitou encarar o policial; usava roupas e adereços caros; vestia-se de modo casual; foi para o banheiro após desembarcar; caminhou apressadamente através do aeroporto; caminhou bem devagar através do aeroporto; perambulou pelo aeroporto; deixou o aeroporto de taxi; deixou o aeroporto de limousine; deixou o aeroporto em carro particular; deixou o aeroporto na Van do Hotel.
Alguns desses “motivos para suspeita” são evidentemente absurdos, sugerindo que os agentes da DEA não seguiam qualquer padrão para deter os suspeitos de tráfico de drogas. Uma maneira de fazer pé-com-cabeça dessa lista, entretanto, é pensar nela como um catálogo de características instáveis. Os traficantes podem ter tido, algum dia, a tendência de comprar passagens só de ida, em dinheiro vivo e carregar duas grandes malas. Mas eles não têm que continuar fazendo isso. Aí, eles podem facilmente ter mudado para passagens de ida e volta, compradas com cartão de crédito, ou portar apenas uma maleta de mão, sem, com isso, perder sua capacidade de transportar as drogas. Existe um segundo tipo de instabilidade nisso, também. Pode ser que a razão para alguns deles terem mudado de passagens só de ida e duas malas pesadas, seja o fato de que os agentes da lei passaram a ficar de olho nesses procedimentos, de forma que os traficantes fizeram o equivalente aos jihadis parecem ter feito em Londres, quando mudaram para Africanos do Leste, porque a vigilância sobre homens jovens árabes e paquistaneses ficou muito intensa. Não funciona usar uma generalização entre uma categoria e uma tendência, quando este relacionamento é instável – ou quando o ato de generalizar pode, por si próprio, mudar as bases dessa generalização.
Antes de Kelly se tornar o Comissário de Polícia de Nova York, ele trabalhou como chefe do Serviço Aduaneiro dos EUA (U. S, Customs Service) e, enquanto ele esteve lá, reformulou os critérios usados pelos agentes de controle de fronteiras para identificar e revistar suspeitos de contrabando. Existia uma lista de 34 características suspeitas. Ele a substituiu por uma lista com seis critérios abrangentes. Existe algo suspeito quanto à aparência física? A pessoa parece estar nervosa? Existe alguma informação específica sobre essa pessoa? Os cães farejadores deram algum alarme? Existe algo que não bate na documentação e nas explicações? Houve alguma apreensão de contrabando que pudesse envolver essa pessoa?
Você não vai encontrar coisa alguma aqui que fale de raça, gênero ou etnia, nem coisa alguma sobre jóias caras ou desembarcar no meio ou no fim, ou andar rapidamente ou perambular. Kelly removeu todas as generalizações instáveis, forçando os fiscais aduaneiros a fazer generalizações sobre coisas que não mudam de um dia, ou de um mês para o outro. Alguma porcentagem dos contrabandistas sempre fica nervosa, sempre contarão uma história cheia de inconsistências e sempre serão apanhados pelos cães. É por isso que esses tipos de inferência são mais confiáveis do que aquelas onde o contrabandista seria branco ou negro, carregue uma mala ou duas. Depois das reformas de Kelly, o número de revistas feitas pelos agentes aduaneiros caiu em cerca de 75%, mas o número de apreensões bem sucedidas aumentou em 25%. Os agentes deixaram de tomar decisões porcas acerca de possíveis contrabandistas e passaram a tomar algumas muito boas. «Nós os tornamos mais eficientes e mais eficazes naquilo que estavam fazendo», disse Kelly.
Será que a noção da “ameaça dos pit-bulls” se apoia em uma generalização estável ou instável? O melhor dado que possuimos sobre a criação de cães perigosos são os registros de ataques fatais, que servem como indicador de quanto dano certos tipos de cachorro estão causando. Entre o final da década de 70 e o final da década de 90, mais de 25 raças estiveram envolvidas em ataques fatais nos Estados Unidos. Os pit-bulls estiveram à frente da matilha, mas a variação de ano para ano é considerável. Por exemplo, no período de 1981 a 1982 as baixas foram causadas por cinco pit-bulls, três vira-latas, dois São Bernardos, dois mestiços de Pastor Alemão, um Pastor Alemão puro sangue, um do tipo Husky, um Dobreman, um Chow Chow, um Grande Dinamarquês, um híbrido de cão-lobo, um mestiço de Husky e um mestiço de pit-bull, mas nenhum Rottweiler. Em 1995 e 1996, a lista incluia dez Rottweilers, quatro pit-bulls, dois Pastores Alemães, dois Huskies, dois Chow Chow, dois híbridos cão-lobo, dois mestiços de pastor, um mestiço de Rottweiler, um vira latas, um mestiço de Chow Chow e um Grande Dinamarquês. Os tipos de cachorros que matam pessoas muda com o tempo. O que não muda é o número total de pessoas mortas por cães. Quando temos mais problemas com pit-bulls, não é necessariamente um sinal de que os pit-bulls sejam mais perigosos do que os outros cães. Pode ser somente um sinal de que os pit-bulls se tornaram mais numerosos.
«Eu já vi praticamente todas as raças envolvidas em mortes, inclusive Lulus da Pomerânia e todos os outros, exceto Beagles e Bassets», disse-me Randall Lockwood, um vice-presidente sênior da ASPCA e um dos principais experts em ataques caninos. «E sempre há uma ou duas mortes atribuíveis a Malamutes ou Huskies, e você não vê ninguém propondo o banimento dessas raças. Quando eu comecei a pesquisar sobre ataques fatais de cachorros, eles envolviam grandemente cães tais como Pastores Alemães e mestiços deles, e São Bernardos – provavelmente por isso Stephen King escolheu um São Bernardo para o personagem Cujo, não um pit-bull. Eu não vi uma morte causada por um Doberman por décadas, enquanto que nos anos 70 elas eram muito comuns. Se você quizesse um cachorro malvado, naquela época, você iria procurar um Doberman. Eu acredito que só fui ver o meu primeiro caso envolvendo um pit-bull nos meados da década de 80, e não comecei a ver ataques de Rottweilers antes de ver, pelo menos, algumas centenas de ataques fatais de cães. Agora, esses cachorros são os preponderantes nas mortes. O fato é que isso muda com o tempo. É um reflexo da escolha por uma raça por parte de pessoas que querem um cachorro agressivo».
Não existe qualquer carência de generalizações mais estáveis acerca de cães perigosos, no entanto. Um estudo feito em 1991 em Denver, por exemplo, comparou 178 cães com histórico de morder pessoas, com uma amostra aleatória de 178 cães sem histórico de mordidas. As raças eram espalhadas: Pastores Alemães, Akitas e Chow Chows estavam entre os mais fortemente representados (não havia pit-bulls entre os cachorros mordedores, porque Denver baniu os pit-bulls em 1989). Mas vários outros fatores, mais estáveis, vêm à luz. Os mordedores são 6,2 vezes mais machos do que fêmeas, e 2,6 mais cães inteiros do que castrados. O estudo de Denver também descobriu que os mordedores eram 2,8 vezes mais freqüentes entre os cães acorrentados, do que entre os não-acorrentados. «Cerca de 20% dos cães envolvidos em casos fatais estavam acorrentados e tinham uma história de estarem acorrentados por longo tempo», disse Lockwood. «Agora: eles estavam acorrentados porque eram agresivos, ou eram agressivos porque estavam acorrentados? É um pouco de cada. Esses são animais que não tiveram uma oportunidade de se tornarem sociáveis com pessoas. Eles nem sabem, necessariamente, que crianças são pequenos seres humanos. Eles tendem a vê-las como presas».
Em muitos casos, cães perigosos eram famintos ou carentes de cuidados médicos. Freqüentemente, os cães tinham um histórico de inidentes de agressão e, majoritariamente, as vítimas de mordidas de cahorros eram crianças (particularmente meninos pequenos) que são fisicamente vulneráveis a ataques e podem ter, sem querer, feito coisas que provocassem o cachorro, tais como implicar com eles, ou aborrecê-los quando os cães estavam comendo. A conexão mais forte entre todas, entretanto, é a ligação entre a periculosidade dos cães e um certo tipo de proprietários de cães. Em um quarto dos casos fatais de mordidas de cachorro, os donos eram anteriormente envolvidos em brigas ilegais. Os cães que mordem pessoas são, em muitos casos, isolados socialmente porque seus donos são socialmente isolados, e são perigosos porque seus donos queriam um cachorro perigoso. O Pastor Alemão no ferro-velho que parece querer saltar sobre seu pecoço, e o Pastor Alemão guia de um cego, são a mesma raça. Mas não são o mesmo cachorro, porque seus donos têm diferentes intenções.
«Um ataque fatal de um cão não é somente uma mordida de cachorro dada por um cão grande e agressivo», prossegue Lockwood. «É usualmente uma perfeita combinação viciada de interações prejudiciais humano-caninas – o cão errado, o ambiente errado, a história errada, nas mãos da pessoa errada, nas condições ambientais erradas. Eu já me envolvi em muitos casos judiciais envolvendo ataques fatais de cães e, certamente, minha impressão é que estes são casos, geralmente, em que as culpas recaem sobre todos. Você encontra o garotinho de três anos perambulando sem supervisão pela vizinhança, morto por um cão faminto e maltratado, propriedade do namorado (criador de cães de briga) de alguma mulher que não sabe onde sua criança está. Não é o velho Totó que dorme perto da lareira que, subitamente, fica maluco. Usualmente todos os sinais de alerta estão presentes».
Jayden Clarioux foi atacado por Jada, uma Pitbull Terrier, e seus dois filhotes Agua e Akasha, mestiços com Bull Mastiff. Os cães eram da propriedade de um homem de 21 anos chamado Shridev Café, que trabalhava em construção e fazia biscates. Cinco semanas antes do ataque aos Clarioux, os três cães de Café se soltaram e atacaram um rapaz de dezesseis anos e seu meio-irmão de quatro anos que estavam patinando no gelo. Os garotos bateram nos animais com uma pá de neve e escaparam para a casa de um vizinho. Café foi multado e removeu seus cães para a casa de sua namorada de 17 anos. Não era a primeira vez que ele se metia em confusão no último ano; alguns meses antes, ele tinha sido acusado de agressão doméstica e, em outro incidente, uma discussão de rua, por lesão corporal grave. «Shridev tinha problemas pessoais», disse Cheryl Smith, uma especialista em comportamento canino que foi consultada no caso. «Ele certamente não é uma pessoa muito madura». Agua e Akasha não tinham ainda sete meses. A ordem da Corte, ao julgar o primeiro caso de ataque, initmava que eles portassem focinheiras quando saíssem de casa e fossem mantidos em um pátio fechado. Mas Café não os amordaçou, porque, disse ele depois, não podia comprar focinheiras, e, aparentemente, ninguém na cidade apareceu para forçá-lo a cumprir a sentença. Algumas vezes ele falou em levar seus cachorros a aulas de obediência, mas nunca o fez. O assunto de castrá-los também foi considerado – particularmente Agua, o macho – mas a castração custa cem dólares, o que ele evidentemente considerava um monte de dinheiro, e, quando a cidade confiscou temporariamente seus cães, depois do primeiro ataque, não os castrou também, porque Ottawa não tem uma política de castrar preventivamente cães que mordem pessoas.
No dia do segundo ataque, de acordo com alguns relatos, um visitante apareceu na casa da nemorada de Café e os cachorros foram confinados. Eles foram postos do lado de fora, onde os bancos de neve estavam altos o suficiente para que a cerca dos fundos pudesse ser facilmente pulada. Jayden Clarioux parou e encarou os cães, dizendo “cachorrinhos, cachorrinhos”. Sua mãe chamou seu pai. Seu pai saiu correndo, o que é o tipo de coisa que atiça um cão agressivo. Os cães pularam a cerca e Agua pegou a cabeça de Jayden em sua boca e começou a sacudir. É um caso do “Manual de Mordidas de Cachorro”: cães não-castrados, mal treinados e nervosos, com um histórico de agressão e um dono irresponsável, soltarm-se de alguma forma e atacaram uma criança pequena. Os cães já tinham passado pela burocracia de administração de animais de Ottawa e a cidade poderia ter impedido o segundo ataque se tivesse usado o tipo certo de generalização – uma generalização não baseada em raça, mas na conhecida e significativa conexão entre cães perigosos e donos negligentes. Mas isso teria requerido que alguém seguisse Shridev Café e verificar se ele tinha comprado as focinheiras, e alguém que mandasse esterilizar os cachorros depois do primeiro ataque, e uma lei de controle de animais que assegurasse que aqueles cujos cachorros atacam crianças pequenas, sejam impedidos de ter um cachoro. Teria sido necessário, quer dizer, um conjunto mais eficaz de generalizações para ser mais eficazmente aplicado. Sempre é mais fácil banir uma raça.

Quem sabe que eu crio cães, já percebeu porque eu me motivei tanto com este artigo. Recentemente a mídia (irresponsável como sempre…) fez um grande alarido sobre os pit-bulls no Rio de Janeiro, que levou a Prefeitura e a Câmara Municipal a passar uma legislação caça-níqueis, obrigando os donos de cães de grande porte a fazê-los circular pelas ruas com focinheiras (que seriam melhor aplicadas a politiqueiros que produzem “factóides”…), e só não os impediram de circular à luz do dia porque a SUIPA provou que isso contraria a Lei, por prejudicar a saúde dos animais. Da mesma forma que todos falam pelos cotovelos sobre o perigo de manter cães de guarda, mas ninguém parece preocupado em tomar conta de criancinhas xeretas que vão se meter nos terrenos guardados por esses cães…
Por outro lado, o artigo ataca a fundo – embora jamais use o termo – a xenofobia que vem se alastrando pelos EUA e Europa. Sob o (mau) disfarce de secularismo, a França proibiu as meninas muçulmanas de portar o véu previsto por sua religião, nas escolas. O próximo passo deve ser – por uma questão de eqüanimidade – mandar os judeus fazerem operações plásticas para remover os vestígios da circuncisão…
Como diz o autor, no encerramento do artigo, “sempre é mais fácil banir uma raça”… Só que, quando no lugar de “uma raça de cães”, se coloca “minorias étnicas”, o efeito já é sobejamente conhecido… E não presta!

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